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Direito Constitucional - Aula 12 - Remédios Constitucionais 2

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CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR 
PROFESSOR GUSTAVO BARCHET 
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AULA 12: REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS – PARTE II 
 
 
 
VI. AÇÃO POPULAR 
 
 
1) NOÇÕES GERAIS 
 
Segundo Maria Sylvia Zanella di Pietro, ação popular "é a ação civil pela qual 
qualquer cidadão pode pleitear a invalidação de atos praticados pelo poder 
público ou entidades de que participe, lesivos ao patrimônio público, ao 
meio ambiente, à moralidade administrativa ou ao patrimônio histórico e 
cultural, bem como a condenação por perdas e danos dos responsáveis pela 
lesão". 
A Constituição Federal trata desse relevantíssimo remédio constitucional no 
art. 5o, LXXIII, nos termos do qual: 
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular 
que vise anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que 
o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e 
ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada 
má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência; 
Desmembrando-se a definição constitucional, temos que a ação popular, 
remédio judicial de natureza civil e rito sumário, pode ser interposta (1) por 
qualquer brasileiro, nato ou naturalizado, no gozo de seus direitos políticos 
(bem como os portugueses equiparados), (2) de forma preventiva ou 
repressiva, (3) com o objetivo de anular ato lesivo (4) ao patrimônio público 
ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao 
meio ambiente e ao patrimônio histórico-cultural, (5) não respondendo seu 
autor pelas despesas processuais e pelos encargos advocatícios em caso de 
improcedência da ação, salvo se comprovada sua má-fé. 
Ao lado do direitos de sufrágio, de iniciativa popular de leis e participação em 
partidos políticos, dentre outros, constitui a ação popular um instrumento de 
participação política, representando um meio de exercício direto da 
soberania popular, que permite ao cidadão exercer um efetivo controle 
sobre o Poder Público, objetivando a proteção do patrimônio publico e dos 
valores consagrados no dispositivo constitucional transcrito acima. Como 
assinala Vicente Paulo, a ação popular visa a assegurar ao cidadão seu 
direito subjetivo ao "governo honesto", que deve conduzir a coisa pública em 
estrita consonância com os princípios da legalidade e da moralidade. 
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É, enfim, um instrumento de natureza democrática que permite ao cidadão 
exercer uma fiscalização direta da coisa pública. 
Pode ela ser acionada de forma preventiva, antes da prática do ato lesivo 
ao patrimônio publico, objetivando impedir sua consumação; ou de forma 
repressiva, após a consumação do ato, visando à reparação dos danos por 
ele causados. Embora seja mais comum a propositura da ação após a 
efetivação da lesão, é plena a possibilidade de sua interposição preventiva, 
antes da consumação da lesão, até porque há certos valores por ela 
albergados, a exemplo do meio-ambiente e do patrimônio histórico e cultural, 
que impõem uma atuação preventiva, pois quando lesionados é 
sobremaneira difícil ou mesmo impossível sua plena reparação. 
De se notar que a Constituição outorgou ao cidadão legitimidade para a 
propositura de uma ação popular de natureza civil, não existindo previsão, a 
nível constitucional ou infraconstitucional, de uma ação popular de natureza 
penal. 
A doutrina e a jurisprudência não são pacificas quanto à natureza jurídica da 
ação popular. Para Hely Lopes Meirelles, a ação popular é um "instrumento 
de defesa da coletividade, por meio do qual não se amparam direitos 
individuais próprios, mas sim interesses da coletividade, sendo o 
beneficiário da ação não o autor, mas a coletividade, o povo". Outros, como 
Alexandre de Moraes e José Afonso da Silva, consideram que por meio da 
ação popular o cidadão está atuando não na defesa de um direito da 
coletividade, mas de um direito próprio, qual seja, o direito de fiscalização 
do patrimônio público e de participação no processo político do Estado. 
Alexandre de Moraes, por exemplo, afirma que a ação popular, "enquanto 
instrumento de exercício da soberania popular (CF, arts. 1° e 14), pertence 
ao cidadão, que em face de expressa previsão constitucional teve sua 
legitimação ordinária ampliada, e, em nome próprio e na defesa de seu 
próprio direito - participação na vida política do Estado e fiscalização da 
gerência do patrimônio público -, poderá ingressar em juízo". 
Embora a segunda corrente seja a mais atual, prepondera em âmbito 
doutrinário e jurisprudencial a primeira, que vislumbra a ação popular como 
um instrumento pelo qual o cidadão age não em defesa de seus interesses, 
mas em defesa dos interesses da coletividade. 
Desde logo deve-se esclarecer que a ação popular não pode ser utilizada 
como substitutiva do mandado de segurança, e vice versa. 
Como analisaremos posteriormente, o mandado de segurança destina-se à 
proteção de direito próprio, líquido e certo, seja ele individual ou coletivo, ao 
passo que mediante ação popular, na posição predominante, defendem-se os 
interesses da coletividade. Logo, são inconfundíveis os objetos desses dois 
remédios constitucionais, sendo absolutamente inviável a utilização de um 
deles em hipótese constitucionalmente prevista para outro. 
Esse entendimento há muito está consolidado no STF, que, ao editar a 
Súmula 101, afastou qualquer dúvida na matéria. 
 
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2) LEGITIMIDADE ATIVA 
 
A legitimidade ativa para a propositura da ação foi outorgada privativamente 
ao cidadão, ou seja, ao brasileiro, nato ou naturalizado, no pleno gozo 
de seus direitos políticos, bem como ao português equiparado (aquele 
que obteve o certificado de equiparação e está em pleno gozo de seus 
direitos políticos no Brasil). Alexandre de Moraes ressalta que o brasileiro 
maior de 16 e menor de 18 anos não necessita de assistência para propor a 
ação. 
É irrelevante, para fins de propositura de ação popular, se o cidadão reside 
ou não comarca onde ocorreu ou está preste a ocorrer o ato lesivo, se ele 
tem algum interesse, ainda que indireto, relacionado ao ato impugnado. 
Basta, pois, sua condição de cidadão, de brasileiro no pleno gozo de direitos 
políticos (ou a condição de português equiparado), e considera-se satisfeito o 
requisito de legitimidade ativa. 
Por sua vez, não possuem legitimidade para impetrar a ação os brasileiros 
não-alistados e não-alistáveis, os estrangeiros, os brasileiros que perderam 
ou tiveram suspensos seus direitos políticos, as pessoas jurídicas em geral, 
os partidos políticos e, até mesmo, o Ministério Público a quem compete “a 
defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e 
individuais indisponíveis”, nos termos da Constituição, art 127, caput. 
Na verdade, como analisaremos com mais detalhes adiante, o Ministério 
Público ocupa uma posição sui generis na ação popular, pois, embora não 
possua legitimidade para propor a ação, pode dar prosseguimento ao 
processo já instaurado, no caso de seu autor abandoná-lo. Além disso, é 
indispensável, sob pena de nulidade absoluta do processo, que o MP nele 
intervenha, no gozo de sua independência funcional, a fim de assegurar seu 
transcurso regular. 
Como assinalamos acima, alguns consideram que por intermédio da ação 
popular o cidadão defende os direitos da coletividade, ao passo que outros 
consideram que nela os interesses defendidos são do próprio cidadão. Para 
os que se filiam à segunda corrente o autor da ação popular, ao propô-la, 
está agindo em nome próprio na defesa de direito próprio (participação no 
processo políticodo Estado); para os partidários da segunda, que é 
predominante, o cidadão propõe a ação popular na qualidade de substituto 
processual, agindo, pois, em nome próprio, mas na defesa de direito alheio 
(da coletividade). 
 
3) OBJETO DA AÇÃO POPULAR 
 
Segundo entendimento predominante, dois são os requisitos do ato para que 
possa ser combatido pela ação popular: ilegalidade e lesividade. 
Por ato ilegal considera-se aquele que viola os diplomas legais que regulam 
sua produção, ou algum dos diversos princípios que lhe sejam aplicáveis, em 
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especial os princípios administrativos, a exemplo da moralidade, da 
impessoalidade e da razoabilidade. 
Essencialmente, são dois os tipos de ilegalidade: a formal, que se verifica 
quando ocorre vício no processo de produção do ato; e a material, que incide 
sobre seu conteúdo, abrangendo também o ato praticado com desvio de 
finalidade. 
Ato lesivo, para fins de ação popular, é toda ação ou omissão do Poder 
Público que ofende o patrimônio público, numa acepção econômica, ou algum 
dos valores ou bens inscritos no inc. LXXIII do art. 5° da Constituição. Do 
conceito sobressai que a lesividade pode existir não só em ações, mas 
também em omissões do Poder Público; ademais, compreende não só o 
dano financeiramente aferível, mas também a ofensa aos demais 
bens e valores protegidos pela Constituição. 
Como esclarece Hely Lopes Meirelles, 
(...) tanto é lesiva ao patrimônio público a alienação de um imóvel por 
preço vil, realizada por favoritismo, quanto a destruição de um recanto 
ou de objetos sem valor econômico, mas de alto valor histórico, 
cultural, ecológico ou artístico para a coletividade local. Por igual, 
tanto lesa o patrimônio público o ato de uma autoridade que abre mão 
de um privilégio do Estado, ou deixa perecer um direito por incúria 
administrativa, como o daquela que, sem vantagem para a 
Administração, contrai empréstimo ilegais e onerosos para a Fazenda 
Pública. 
O inc. LXXIII do art. 5° da CF não deixa dúvidas quanto à abrangência dos 
danos de natureza não-pecuniária pela ação popular, ao prever que a ação é 
passível de exercício também para a defesa da moralidade administrativa, do 
meio ambiente e do patrimônio histórico e cultural. 
O fato de a ação popular poder ser utilizada no combate às omissões do 
Poder Público faz com que ela pode ser interposta com fins corretivos ou 
supletivos: no primeiro caso, uma ação foi praticada, e praticada com vício, 
visando a ação popular sua correção; no segundo, uma ação que deveria ter 
sido praticada não foi, visando à ação popular o suprimento dessa omissão. 
A Lei 4.717/65, que trata da ação popular, apresenta um rol exemplificativo 
de atos presumivelmente ilegais e lesivos em seu art. 4°, estatuindo que o 
vício de legalidade pode estar presente em qualquer elemento de validade do 
ato administrativo, ao mencionar, no art. 1°, os defeitos de vício de forma, 
ilegalidade do objeto, inexistência dos motivos, desvio de finalidade e 
incompetência. 
A expressão ato, para fins de ação popular, compreende quaisquer 
manifestações do Poder Público que tenham efeitos concretos, aí 
abrangidas as leis de efeitos concretos (com conteúdo específico e que 
atingem destinatários determinados); os decretos, resoluções e portarias 
sem caráter normativo; os atos administrativos em geral; os contratos 
celebrados pela Administração etc; enfim, as manifestações do Poder Público 
que incidam especificamente sobre certa situação. 
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É, possível, por exemplo, o uso da ação popular para a anulação de (a) 
autorização para desmatamento de área sobre proteção ambiental; (b) 
contrato superfaturado de prestação de serviços à Administração; (c) venda 
fraudulenta de imóvel integrante do patrimônio publico; (d) edital de licitação 
por violação ao principio da isonomia; (e) aumento abusivo no valor de 
subsídio de vereadores etc. 
Não se exige, entretanto que o ato tenha efetivamente causado danos, basta 
que tenha potencial para causá-los. Basta, pois, sua potencialidade lesiva. 
Como ensina Vicente Paulo: 
Ademais, não há necessidade de que o dano seja efetivo, bastando a 
sua potencialidade lesiva. Tanto pode ser reprimida por meio de ação 
popular a efetiva celebração e execução de um contrato lesivo ao 
patrimônio público, quanto a publicação de edital tendencioso, 
fraudulento, que potencialmente poderia levar ao favorecimento de 
certa empresa, com ofensa aos princípios da livre concorrência e da 
moralidade. 
Atos de conteúdo jurisdicional (sentenças, acórdãos, decisões 
interlocutórias), por sua vez, não podem ser discutidos em ação popular. 
Sobre a questão, decidiu o STF (Ação Originária no 672/DF): 
Os atos de conteúdo jurisdicional – precisamente por não se 
revestirem de caráter administrativo – estão excluídos do âmbito de 
incidência da ação popular, porque se acham sujeitos a um sistema 
específico de contestação, quer por via recursal, quer mediante 
utilização de ação rescisória. 
Da mesma forma, não cabe ação popular contra leis em tese (leis 
propriamente ditas, com conteúdo normativo). A ação popular é passível de 
incidência sobre atos de efeitos concretos, não alcançando atos gerais e 
abstratos. Ensina Hely Lopes Meirelles que "é necessário que a lei renda 
ensejo a algum ato concreto de execução, para ser atacado pela via popular 
e declarado ilegítimo e lesivo ao patrimônio público, se assim o for". 
A impossibilidade de ser utilizada ação popular para a discussão em tese de 
leis traz a inviabilidade da sua utilização como substitutivo da ação direta de 
inconstitucionalidade para se discutir a constitucionalidade de leis. 
A jurisprudência do STF é absolutamente pacífica neste ponto, como 
podemos observar na seguinte decisão: 
"O julgamento de lei em tese, em sede de ação popular, por juiz de 
primeiro grau, implica usurpação da competência do Supremo Tribunal 
Federal para o controle concentrado, acarretando a nulidade do 
respectivo processo" (STF, Recl. 434-1). 
A ação popular pode apenas ser utilizada para a discussão das denominadas 
leis de efeitos concretos, que são atos com forma de lei mas com conteúdo 
administrativo, por terem objeto específico e destinatário certo. Uma lei que 
declara um imóvel de utilidade pública para fins de desapropriação, por 
exemplo, é uma lei de efeitos concretos; logo, é passível sua impugnação em 
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ação popular. Uma lei que concede uma isenção a certo e determinado 
contribuinte também possui objeto certo e destinatário específico, logo, 
também é admissível sua impugnação em ação popular. 
Da mesma forma, poderá por seu intermédio ser impugnado um ato concreto 
praticado com base em certo dispositivo de lei, sob a justificativa de que tal 
dispositivo é inconstitucional. Nesse caso, se procedente a ação, o 
magistrado anulará o ato, tendo por fundamento o reconhecimento da 
inconstitucionalidade do dispositivo legal em que se baseou sua produção. O 
que é absolutamente vedado é levar-se à discussão em sede de ação popular 
uma lei em tese, com a finalidade de se obter o reconhecimento de sua 
inconstitucionalidade com efeitos erga omnes. 
 
4) LEGITIMAÇÃO PASSIVA 
 
O sujeito ativo da ação popular será, sempre, um nacional no pleno gozo de 
seus direitos políticos ou um português equiparado. 
No pólo passivo, por usa vez, devem obrigatoriamente figurar, nos termos 
da Lei 4.717, de 1965, que regula a ação: 
a) todas as pessoas jurídicas, públicas ou privadas, em nome das quais foi 
produzidoo ato ou contrato cuja anulação é intentada na ação popular; 
b) todas as autoridades, funcionários e administradores que tiverem 
autorizado, aprovado, ratificado ou praticado pessoalmente o ato ou firmado 
o contrato impugnado, ou que, por omissão, permitiram a lesão; 
c) todos os beneficiários diretos do ato ou contrato impugnado. 
Esses são os sujeitos passivos, os réus da ação popular. Como já teve 
oportunidade de decidir o STJ (REsp13.493-0/RS), todos os beneficiários do 
ato ou contrato em discussão na ação são litisconsortes passivos necessários, 
sendo a ausência da sua citação causa de nulidade absoluta do processo. 
O Ministério Público, como analisamos anteriormente, não possui 
legitimidade para a propositura da ação. A Lei 4.717, de 1965, traça regras 
próprias para sua participação na ação popular. 
O Professor Vicente Paulo apresenta uma síntese das possíveis atuações do 
MP no âmbito da ação popular, afirmar que o órgão, cumulativamente, atua: 
a) como parte pública autônoma, incumbindo-lhe, nesse papel, velar 
para regularidade do processo e correta aplicação da lei, podendo 
opinar pela procedência ou improcedência da ação; 
b) como ativador das provas e auxiliar do autor, cabendo-lhe apressar 
a produção de provas pelo sujeito ativo da ação popular; 
c) como responsável pela promoção da responsabilidade dos réus, seja 
na esfera civil ou criminal; 
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d) como substituto e sucessor do autor, na hipótese de omissão ou 
abandono da ação pelo sujeito ativo, se reputar de interesse público 
seu prosseguimento, até o julgamento. 
 
5) COMPETÊNCIA PARA JULGAR AÇÃO POPULAR 
 
A competência para o julgamento da ação popular é determinada pela 
conjugação de dois critérios: (a) origem do ato ou contrato impugnado; e (b) 
local onde se deu sua produção ou celebração (ou onde deveria ter se dado, 
em se tratando de omissão). A partir desses dois critérios aplicam-se as 
normas constitucionais e legais de competência. 
O mais relevante, em tema de competência para o julgamento da ação 
popular, é que, segundo entendimento pacífico do STF, os Tribunais 
que integram o Poder Judiciário não têm competência originária para o 
julgamento de ação popular. Assim, mesmo que a ação envolva atos 
praticados por autoridades que na esfera penal tenham foro privilegiado 
(Presidente da República, Ministros de Estados, Governadores, Prefeitos, 
membros do Poder Legislativo etc), será ela processada e decidida, 
originariamente, pelo juiz competente do primeiro grau de jurisdição 
(lembrando que a ação tem natureza cível). 
Uma ação popular contra um prefeito, por exemplo, será proposta no juízo 
estadual de primeiro grau, e não no Tribunal de Justiça respectivo; contra o 
Presidente da República, no juízo federal de primeira instância, conforme a 
competência territorial, e não no Tribunal Regional Federal ou no Supremo 
Tribunal Federal. 
O STF faz apenas uma ressalva a esta regra, entendendo ser sua a 
competência originária para o julgamento de ação popular que, em virtude 
de suas especificidades, puder resultar num conflito entre a União e um 
Estado-membro (STF, Recl. 424-4/RJ). 
Mais uma vez valendo-nos do Professor Vicente Paulo, define o Autor: 
a) se o ato impugnado foi praticado, aprovado ou ratificado por 
autoridade, funcionário ou administrador de órgão da União e de suas 
entidades ou por ela subvencionado, a competência será do juiz 
federal da Seção Judiciária em que se consumou o ato; 
b) se o ato impugnado foi produzido por órgão, repartição, serviço ou 
entidade do Estado ou por ele subvencionado, a competência será do 
juiz estadual que a organização judiciária do Estado indicar; 
c) se o ato impugnado foi produzido por órgão, repartição, serviço ou 
entidade de Município ou por este subvencionado, a competência será 
do juiz estadual da comarca a que o Município interessado pertencer, 
de acordo com a organização judiciária do Estado; 
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d) se a ação interessar simultaneamente à União e a qualquer outra 
pessoa ou entidade, será competente o juiz das causas da União 
(Justiça Federal). 
Para fins de competência para julgamento da ação popular, 
equiparam-se aos atos da União, do Distrito Federal, dos Estados e 
dos Municípios os atos das pessoas criadas ou mantidas por essas 
pessoas jurídicas de direito público, bem como os atos das sociedades 
de que elas sejam acionistas e os das pessoas ou entidades por elas 
subvencionadas em relação às quais tenham interesse patrimonial. 
O juízo da ação popular é universal: a interposição da ação popular prevenirá 
a jurisdição do juízo para todas as eventuais ações populares que foram 
instauradas contra os mesmos sujeitos passivos e sob os mesmos 
fundamentos. Em caso de interposição de uma segunda ação popular em 
juízo diverso daquele em foi proposta a primeira (considerando-se que os 
sujeitos passivos e os fundamentos coincidem), o princípio da universalidade 
impõe a reunião das ações populares no primeiro juízo. 
 
6) PECULIARIDADES PROCESSUAIS 
 
A Lei 4.717, de 1965, regula a ação popular, definindo, entre outros temas, 
suas regras processuais. 
Nosso objetivo, nesse tópico, é apresentar, em termos singelos, as principais 
regras contidas neste diploma legal, as quais podem ser sintetizadas nos 
seguintes termos: 
a) inicialmente, uma regra que consta na própria Constituição, qual seja, a 
isenção do pagamento de custas judiciais e do ônus da sucumbência 
para o autor da ação, salvo em caso de comprovada má-fé: para 
facilitar a utilização da ação popular, a Constituição isenta seu autor, quando 
derrotado, do pagamento de custas judiciais (taxas e emolumentos devidos 
para iniciar-se o processo judicial e dar-lhe prosseguimento) e do ônus da 
sucumbência (obrigação de a parte vencida ressarcir à outra pelas despesas 
com honorários advocatícios e outros gastos relacionados com o processo). A 
isenção não se aplica apenas no caso de comprovada má-fé do autor 
(quando ele tinha ciência de inexistir fundamento para a ação), como forma 
de evitar-se que o benefício possa ser distorcido para propósitos alheios ao 
interesse público (em regra, para fins eleitorais). 
b) medida liminar: a Lei prevê a possibilidade de concessão de medida 
liminar na ação popular, tendo por objeto a imediata sustação da eficácia do 
ato ou contrato impugnado, até o julgamento final de mérito. Assim, desde 
que preenchidos os requisitos processuais da medida (periculum in mora e 
fumus boni iuris), é admitida a concessão de liminar, seja a ação popular 
preventiva ou repressiva. 
A liminar concedida pode ser cassada pelo Presidente do Tribunal com 
competência para a apreciação do recuso contra a decisão final, por meio de 
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despacho fundamentado, a requerimento do Ministério Público ou da pessoa 
jurídica de direito público interessada (pedido de cassação), em caso de 
manifesto interesse público ou de flagrante ilegitimidade, e para evitar grave 
lesão à ordem, à saúde, à segurança ou economia pública. Antes de apreciar 
o pedido de cassação o Presidente do Tribunal, discricionariamente, poderá 
oportunizar a manifestação do autor da ação popular e do MP, em cinco dias; 
c) a ação popular segue o rito ordinário. O magistrado, se recepcionar a 
ação, (a) determinará a citação de todos os responsáveis pelo ato impugnado 
e a intimação do Ministério Público, que atua como interveniente obrigatório 
na ação (a citação é pessoal para aqueles que autorizaram, aprovaram, 
ratificaram ou praticaram pessoalmenteo ato, e sob a forma de edital 
nominal para seus beneficiários, se assim o requerer o autor; (b) requisitará 
os documentos necessários , marcando o prazo de entrega entre quinze e 
trinta dias; e (c) decidirá sobre a concessão da medida liminar, se houver 
sido requerida a medida. 
O prazo para a contestação é de vinte dias, prorrogável por igual período, a 
pedido dos interessados. Uma vez conclusos os autos, após o termino da 
instrução, o magistrado tem o prazo de quinze dias para proferir sua decisão, 
sob pena de, salvo motivo justificado para o atraso, ficar impedido de obter 
promoção pelo período de dois anos e, na lista de antigüidade, ter 
descontados tantos dias quantos forem os do retardamento da decisão; 
d) em uma de suas disposições mais peculiares, a Lei autoriza que a pessoa 
jurídica de direito público ou privado citada para contestar a ação deixe de 
fazê-lo ou mesmo una-se ao autor da ação no pólo ativo. Assim, em 
vista dessa prescrição legal, a entidade de direito público ou privado pode 
optar por (a) contestar a ação, integrando o pólo passivo; (b) simplesmente 
deixar escoar o prazo de resposta sem se manifestar; ou (c) unir-se ao autor 
da ação no pólo ativo, colaborando para a anulação do ato impugnado e para 
a responsabilização dos seus autores, partícipes e beneficiários; 
e) eficácia erga omnes da decisão: a decisão proferida na ação popular, seja 
pela procedência ou improcedência da ação, faz coisa julgada erga omnes, 
salvo quando a ação for julgada improcedente por insuficiência de provas, 
quando então poderá ser proposta idêntica ação por qualquer cidadão 
(inclusive pelo que ingressou pela primeira vez), desde que instruída com 
provas novas. 
Em outros termos, quando a decisão apreciar o mérito da ação, considere-a 
procedente ou improcedente, faz coisa julgada com efeitos erga omnes; se 
não apreciar o mérito, declarando a improcedência da ação por insuficiência 
de suporte probatório, não produz coisa julgada material, podendo ser 
proposta novamente, desde que com base em novos elementos de prova; 
f) a natureza da sentença proferida na ação popular é predominantemente 
desconstitutiva, pois tem por conteúdo a anulação do ato impugnado. 
Subsidiariamente, seus efeitos são condenatórios, pois o magistrado 
imputará aos condenados a reparação do dano oriundo de seu ato lesivo e 
ilegal. Para Alexandre de Moraes esse duplo conteúdo legitima a qualificação 
da decisão como desconstitutiva-condenatória; 
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g) se o magistrado declarar a procedência da ação, conforme o caso em 
concreto, na decisão constará, (a) a anulação do ato impugnado; (b) a 
determinação das reparações devidas, pelos prejuízos decorrentes do ato 
ilegal e lesivo; (c) a condenação dos réus ao pagamento das custas, das 
demais despesas processuais e dos honorários do advogado da parte 
vencedora (lembrando-se que a isenção dessas despesas aplica-se somente 
ao autor de boa-fé, não aos réus na ação). 
Devemos notar que, no caso de procedência, são esses os efeitos da decisão 
proferida na ação popular. Nela não poderão ser aplicadas sanções de 
natureza administrativa (como a perda da função pública), política 
(suspensão dos direitos políticos) ou penal, as quais, se for o caso, exigem 
ação própria, inconfundível com a ação popular. 
Nem mesmo outras sanções de natureza civil, como a aplicação de multas, 
podem ser impostas na ação popular. Em caso de procedência, seu conteúdo 
possível é o descrito acima: anulação do ato, condenação à reparação dos 
danos dele oriundos e determinação do pagamento das custas, honorários 
advocatícios e demais despesas processuais. Se eventualmente, pelos 
elementos revelados na ação, houver indícios de infração penal ou 
administrativa, caberá ao magistrado que proferir a decisão, de ofício, 
determinar a remessa das pecas processuais necessárias para o Ministério 
Público, para fins de apuração da responsabilidade criminal, e para a 
autoridade competente, para fins de apuração da responsabilidade 
administrativa. 
h) duplo grau de ofício: quando o magistrado decidir pela improcedência ou 
pela carência da ação sua decisão sujeita-se ao duplo grau obrigatório ou de 
ofício, só adquirindo eficácia após a manifestação do tribunal competente; 
No caso de procedência a Lei não prevê o duplo grau obrigatório. 
Sobre o ponto, esclarece Hely Lopes Meirelles: 
O recurso de oficio só será interposto quando a sentença concluir pela 
improcedência ou pela carência da ação. Inverteu-se, assim, a 
tradicional orientação desse recurso (que nas outras ações é interposto 
quando julgadas procedentes), para a melhor preservação do interesse 
público, visto que a rejeição da ação popular é que poderá prejudicar o 
patrimônio da coletividade, lesado pelo ato impugnado. 
Em função do duplo grau de ofício, em tais hipóteses deve o magistrado de 
primeiro grau, encerrada sua participação no processo, remeter os autos ao 
Tribunal competente, cabendo a este determinar a avocação quando o juiz 
monocrático omitir-se no cumprimento de seu dever. 
i) apelação voluntária: o recurso de ofício só é previsto na hipótese de 
improcedência da ação, mas a apelação voluntária é cabível tanto nas 
sentenças de procedência como nas de improcedência, sendo dotada de 
duplo efeito, devolutivo e suspensivo. As regras de interposição e 
processamento da apelação voluntária são as regras gerais, prescritas no 
Código de Processo Civil. 
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j) execução da sentença: se procedente a ação popular, sua execução poderá 
ser promovida (a) pelo autor da ação, (b) por qualquer outro cidadão, (c) 
pelo Ministério Público ou (d) pelas entidades participantes da ação, mesmo 
que a tenham contestado. A legitimação do MP para a execução da decisão 
proferida na ação popular é subsidiária, pois pressupõe a inércia do autor da 
ação e dos demais cidadãos por sessenta dias, a contar da publicação da 
decisão transitada em julgado. Porém, ultrapassado este prazo e inerte o 
autor e os demais cidadãos, é o MP obrigado a interpor a ação de execução, 
nos trinta dias seguintes ao final do período, sob pena de incorrer em falta 
grave o membro omisso. 
VII. MANDADO DE SEGURANÇA 
 
 
 
1) CONCEITO 
 
Dispõe o art. 5°, LXIX, da Constituição: 
LXIX – Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito 
líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, 
quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for 
autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de 
atribuições do Poder Público 
Segundo Hely Lopes Meirelles, o mandado de segurança "é o meio 
constitucional posto à disposição de toda pessoa física ou jurídica, órgão com 
capacidade processual, ou universalidade reconhecida por lei, para a 
proteção de direito individual ou coletivo, líquido e certo, não amparado por 
habeas corpus ou habeas data, lesado ou ameaçado de lesão, por ato de 
autoridade, seja de que categoria for e sejam quais forem as funções que 
exerçam". 
Trata-se de um instrumento judicial, de natureza civil e de rito especial e 
sumaríssimo, que se volta contra os atos legais e abusivos das autoridades 
públicas ou daqueles que exerçam atribuições próprias do Poder Público. 
Presta-se o mandado de segurança ao controle do que se denomina 
"obrigação negativa do Estado", assim compreendida a obrigação imputada 
Estado e seus agentes, bem como aos particulares que exercem funções 
tipicamente públicas, de não atuarem de forma ilegal, contrariando as leis e 
princípios jurídicos que regulam sua atuação, ou com abuso de poder, 
praticando atos para os quais não gozam de competência ou com desvio definalidade. 
Quatro são, pois, os requisitos para a utilização do mandado de segurança, 
que serão trabalhados ao longo da explanação: 
- ato comissivo ou omissivo de autoridade pública ou de particular que 
exerça atribuições próprias do Poder Público; 
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- ilegalidade ou abuso de poder; 
- lesão ou ameaça de lesão a direito líquido e certo; 
- tratar-se de direito líquido e certo não amparado por habeas corpus ou 
habeas data. 
 
2) NATUREZA RESIDUAL DO MANDADO DE SEGURANÇA 
 
O mandado de segurança é ação de natureza residual, pois passível de 
utilização para a defesa de qualquer direito líquido e certo, desde que não se 
trate do direito de locomoção, protegido por habeas corpus; e o direito de 
conhecimento, retificação, contestação e justificação de informações pessoais 
constante de registros ou banco de dados de entidades governamentais ou 
de caráter público, protegido pelo habeas data. 
Além disso, entende o STF que o mandado de segurança não pode ser 
utilizado em lugar da ação popular, pois nesta ação busca-se a satisfação de 
um interesse difuso, pertinente à coletividade como um todo, a saber, a 
anulação de um ato lesivo ao patrimônio público, à moralidade 
administrativa, ao meio ambiente ou ao patrimônio histórico e cultural, não 
resultando da anulação nenhum benefício próprio para o impetrante. Já no 
mandado de segurança busca-se a satisfação de um direito líquido e certo 
próprio, do impetrante, que pode ter caráter individual, por referir-se a uma 
pessoa ou a um grupo de pessoas, ou coletivo, por abranger toda uma 
categoria de beneficiários (mandado de segurança individual ou coletivo). 
O STF, na Súmula no 101, firmou esse entendimento, declarando que “o 
mandado de segurança não substitui a ação popular”. 
Podemos, assim, concluir que o mandado de segurança é o remédio 
apropriado para a defesa de todos os direitos líquidos e certos, à exceção 
daqueles que se situam no âmbito de abrangência do habeas corpus e do 
habeas data, não sendo de se admitir seu uso, também, para a defesa dos 
interesses difusos resguardados por ação popular. 
Deve-se atentar para o fato de que o direito à obtenção de certidões é 
direito líquido e certo compreendido no âmbito do mandado de segurança, 
mesmo que a certidão verse sobre informações de interesse pessoal relativas 
à própria pessoa do requerente. O direito às informações pessoais é 
protegido por habeas data, mas o direito às certidões sobre tais informações 
é defendido no mandado de segurança. 
 
3) PARTES NO MANDADO DE SEGURANÇA 
 
3.1) SUJETO ATIVO: IMPETRANTE 
O impetrante do mandado de segurança é o titular do direito líquido e 
certo não protegido por habeas corpus ou habeas data. É aquele que 
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teve seu direito líquido e certo violado ou ameaçado de violação por 
ilegalidade ou abuso de poder resultante de ato comissivo ou omissivo de 
autoridade pública ou de agente de pessoa jurídica que exerça atribuições 
próprias do Poder Público. Enfim, o titular do direito líquido e certo é o 
sujeito ativo, o impetrante, aquele que ajuíza o mandado de segurança. 
Segundo o magistério de Hely Lopes Meirelles, tem legitimidade para 
impetrar mandado de segurança: 
a) as pessoas físicas ou jurídicas em geral, sejam nacionais ou 
estrangeiras, sejam ou não domiciliadas no Brasil; 
b) as universalidades reconhecidas por lei que, apesar de não gozarem 
de personalidade jurídica, têm reconhecida pelo ordenamento jurídico a 
capacidade processual, para atuarem em juízo na defesa de seus direitos. 
Podemos citar, como exemplos de universalidades que se amoldam à 
definição o espólio, o condomínio de apartamentos, a sociedade de fato, a 
massa falida, entre outras; 
c) os órgãos públicos independentes, na defesa de suas prerrogativas 
e atribuições: órgãos públicos, genericamente falando, são meros centros 
de competência sem personalidade jurídica, cuja atuação é imputada à 
entidade política ou administrativa que integram. Esta, a entidade, é um ente 
com personalidade jurídica, capaz, portanto, de, em nome próprio, adquirir 
direitos e contrair obrigações. 
Os órgãos por sua vez, não possuem personalidade jurídica, não passando de 
meros centros de competência das entidades que integram. Na esfera federal 
podemos citar, exemplificativamente, os Ministérios, órgãos integrantes da 
estrutura da União, que atuam, portanto, em seu nome. 
O fato de não possuírem personalidade jurídica traz como conseqüência, em 
regra, a inexistência de capacidade processual, a capacidade para a atuação 
em juízo, para a produção de atos no transcurso de um processo judicial e 
para a própria interposição da ação. 
Esta regra – os órgãos públicos não possuem capacidade processual – só é 
excepcionada no caso do mandado de segurança, e apenas para uma 
categoria especifica de órgãos públicos: os órgãos independentes, que são os 
órgãos representativos dos Três Poderes, bem como o Ministério Público e os 
Tribunais de Contas. Alexandre de Moraes, exemplificativamente, cita como 
órgãos independentes as chefias do Poder Executivo, as Mesas do Congresso, 
o Senado, a Câmara, as Assembléias Legislativas e o Ministério Público. 
Poderíamos acrescentar ao elenco as Presidenciais do Tribunais e os 
Tribunais de Contas. 
Tais órgãos, e apenas eles, possuem capacidade processual para impetrar 
mandado de segurança na defesa de suas prerrogativas e atribuições, 
quando estas estão sendo desrespeitadas por outro ente qualquer, órgão ou 
entidade. 
d) os agentes políticos, na defesa de suas atribuições e 
prerrogativas: os agentes políticos são aqueles atuam nos órgãos 
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independentes, sendo suas competências outorgadas pela própria 
Constituição e exercidas com independência funcional. 
Tais agentes, e apenas eles, dentre todos os agentes públicos, possuem 
legitimidade para impetrar mandado de segurança, quando suas atribuições 
e prerrogativas estiverem sendo violadas por outro agente, órgão ou 
entidade. Possuem, assim, legitimação ad causam para, na sua área de 
atuação, impetrarem mandado de segurança em defesa de suas atribuições 
institucionais. 
São exemplos de agentes políticos os chefes de Poder Executivo e seus 
auxiliares diretos, os Ministros e Secretários, os membros do Poder 
Legislativo, os magistrados, os membros do Ministério Público e os 
Conselheiros e Ministros de Tribunais de Contas. 
Quanto ao Ministério Público, o STF já teve oportunidade de afirmar que os 
seus membros que atuam em primeira instancia judicial têm legitimidade 
para a interposição de mandado de segurança, nos processos em que atuem, 
quando entenderem que o magistrado de primeiro grau está por ação ou 
omissão violando direito líquido e certo, devendo a impetração ser feita 
perante o respectivo Tribunal local ( HC 69.802-6). 
 
3.2) SUJEITO PASSIVO: IMPETRADO 
O sujeito passivo em mandado de segurança é denominado impetrado ou 
autoridade coatora, assim considerado aquele que, por ilegalidade ou abuso 
de poder, violou ou ameaça violar direito líquido e certo do impetrante. 
Em mandado de segurança o sujeito passivo é a própria autoridade, a 
pessoa física que praticou ou deixou de praticar o ato e que tem 
competência para a correção do abuso ou da ilegalidade, e não a entidade 
em nome da qual ela exerce suas funções ou o órgão em que atua. É, enfim, 
aquela que produz ou ordena concreta e especificamente a execução ou a 
inexecução do atos impugnado. 
Por exemplo, um delegado da Policia Federal, na condição de agentepúblico, 
exerce suas funções não em nome próprio, mas em nome da União. Se ele 
eventualmente atuar com ilegalidade ou abuso de poder, e em função disso 
causar dano a um terceiro, pode este, segundo seu livre critério, mover um 
mandado de segurança para fazer cessar a ofensa, e uma ação indenizatória, 
buscando a reparação do dano sofrido. 
A ação de indenização será interposta não contra o próprio delegado, contra 
a autoridade, mas contra a entidade em nome da qual ele atuava quando se 
conduziu de forma abusiva ou ilegal. A ação de indenização, assim, terá 
como sujeito passivo a União. O mandado de segurança, ao contrário, terá 
como sujeito passivo o próprio delegado, e não a União, a entidade em nome 
da qual ele exerce suas funções, e nem o órgão em que ele atua, o 
Departamento de Polícia Federal. 
Assim, a autora coatora em mandado de segurança sempre é a própria 
pessoa física, o indivíduo que atou ilegal ou abusivamente, jamais o órgão 
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em que atua ou a entidade em nome do qual atua. Nada obsta que a 
entidade interessada, em qualquer fase do processo, ingresse na ação na 
qualidade de litisconsorte, por meio de seu representante judicial, uma vez 
que suportará o ônus da decisão proferida no mandado de segurança. Mas 
jamais será ela a autoridade coatora, e sim o seu agente. 
Na verdade, há entendimento doutrinário no sentido de que a legitimação 
passiva é da entidade e não do agente, ou de que, no caso, tanto o agente 
quanto a entidade seriam sujeitos passivos, em litisconsórcio necessário. Mas 
prevalece largamente o entendimento de que a legitimidade passiva é 
exclusivamente do agente público. 
Apreendida essa peculiaridade do mandado de segurança, podem ser sujeitos 
passivos na ação, num primeiro plano, toda e qualquer autoridade pública, 
seja qual o Poder em que ela atue e seja qual for a esfera de Governo a que 
pertença, compreendidas no conceito todas as autoridades da Administração 
direta e indireta (autarquias, empresas públicas, fundações públicas e 
sociedades de economia mista). 
Num segundo plano, podem responder em mandado de segurança os 
agentes de entidades privadas que desempenhem atribuições típicas do 
Poder Público, exclusivamente no que toca a tais atribuições. 
Essencialmente, aqui estão compreendidos os agentes das pessoas jurídicas 
privadas delegatárias de serviço público, ou seja, as concessionárias, 
permissionárias e autorizatárias de serviços públicos, que exercem atividade 
tipicamente pública em virtude de delegação de poderes efetuada pelo Poder 
Público, por contrato ou ato unilateral. 
Por exemplo, se o dirigente de uma empresa concessionária do serviço de 
transporte coletivo urbano intramunicipal (serviço público de titularidade dos 
Municípios e do DF) de modo ilegal negar o acesso ao serviço a um indivíduo, 
poderá este combater a negativa ilegal mediante a interposição de mandado 
de segurança. 
É importante frisar que os agentes de entidades privadas exercentes de 
atividades tipicamente públicas só estão sujeitos a mandado de segurança 
no que toca a essas atividades. Apenas quando as estão desempenhando 
são consideradas autoridade pública para fins de mandado de segurança. Por 
exemplo, se o dirigente da concessionária de transporte coletivo urbano 
celebrar um contrato com outra empresa para a aquisição de material de 
consumo, tal ato não é por ele praticado na condição de autoridade pública, 
não sendo qualquer omissão ou ação sua relativa a este contrato atacável em 
mandado de segurança. Trata-se de um contrato de direito privado, 
celebrado usualmente entre particulares, não de uma atribuição 
propriamente pública. 
Já os agentes das entidades privadas que são somente autorizadas a atuar 
pelo Poder Público, inexistente qualquer delegação de poderes, não são 
considerados autoridade pública para fins de mandado de segurança. 
Exemplificativamente, podemos citar, aqui, as instituições de ensino, os 
hospitais privados, as entidades financeiras etc. Todavia, deve-se ressaltar 
que a jurisprudência reconhece legitimidade passiva em mandado de 
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segurança aos diretores de estabelecimentos particulares de ensino, apesar 
de tais estabelecimentos não serem considerados delegatários de serviços 
públicos em sentido próprio 
É importante ressaltar que os agentes públicos - de qualquer e esfera de 
Governo - somente são suscetíveis de impugnação em mandado de 
segurança quanto atuam ou deixam de atuar na qualidade de autoridade 
pública, no desempenho de certa parcela das atribuições próprias do Poder 
Público. 
Por exemplo, se um reitor de uma universidade federal nega ilegalmente 
matrícula a um candidato aprovado no vestibular, tal atuação se deu na 
qualidade de autoridade pública, logo, é combatível via mandado de 
segurança. Mas, por outro lado, se este reitor celebrar em nome da 
instituição um contrato de fornecimento ou um contrato de trabalho, ou 
mesmo dispensar um empregado, tais atos não são reputados atos de 
autoridade. São atos regidos essencialmente pelo Direito Privado e 
praticados ordinariamente pelos indivíduos em geral. Assim sendo, são 
insuscetíveis de gerar uma situação que possa ser discutida em mandado de 
segurança. 
É de fundamental importância a definição da autoridade coatora, pois é a 
partir da sua qualificação que será definida a competência para o julgamento 
do mandado de segurança. 
É comum, na esfera administrativa, que um ato resulte da participação direta 
ou indireta de diversos agentes, em diferentes níveis. Em regra, há o 
dirigente do órgão ou entidade, que expede os atos normativos necessários à 
aplicação das leis, a exemplo das portarias e das instruções normativas. Em 
segundo plano, há os agentes que, a partir desse ato normativo, possuem 
competência decisória para praticar os atos concretos por ele abrangidos ou 
para determinar que outros o façam. Por fim, no final da cadeia hierárquica, 
há os agentes subalternos, com funções meramente executivas, que 
simplesmente cumprem as determinações dos órgãos superiores, e que, no 
cumprimento dessas determinações, praticam os atos administrativos. 
Exposta a matéria nesses termos, quem seria a autoridade coatora na 
situação? O agente que edita o ato normativo, aquele que tem poder 
decisório para produzi-lo concretamente ou para determinar que outros o 
façam, ou aquele que simplesmente produz o ato em cumprimento às 
determinações superiores? 
A jurisprudência e a doutrina, face à ausência de regramento legal na 
matéria, já fixaram o entendimento nessa situação: autoridade coatora, para 
fins de mandado de segurança, é aquela que, munida de poder decisório, 
produz ou ordena concretamente a produção (ou a não produção) do 
ato impugnado. Aplicando essa lição na situação que apresentamos, a 
autoridade coatora no mandado de segurança será a que ocupa o segundo 
nível no escalão hierárquico: não o dirigente do órgão, que expede as 
normas gerais com base nas quais os atos concretos são produzidos, e nem 
os agentes subalternos que simplesmente produzem ou não o ato, sem 
qualquer poder decisório, mas o agente competente para, uma vez editado o 
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ato normativo, decidir pela produção ou não do ato concreto, irrelevante se 
ele mesmo diretamente o produziu ou se determinou que um agente 
subalterno o fizesse. 
Prosseguindo na matéria, mesmo presente esta regra geral, em algumas 
situações pode haver certa dúvida quanto à correta definição da autoridade 
coatora. Com base na lição de Hely Lopes Meirelles, trazemos algumassituações em que essa incerteza pode se verificar: 
a) autoridade coatora no caso de delegação de competência: a legitimidade 
passiva para responder em mandado de segurança é da autoridade 
delegada, não da autoridade delegante. A autoridade delegante é aquela 
que transitoriamente transfere à autoridade delegada o exercício de certa 
competência que a lei lhe conferiu. Apesar de ser a autoridade delegante a 
titular da competência, nos termos da lei, e de ter sido ela que tomou a 
decisão de proceder à delegação, quem praticou os atos concretos, a partir 
da delegação, foi a autoridade delegada. Logo, é ela que tem legitimidade 
para ocupar o pólo passivo num eventual mandado de segurança. 
Por exemplo, se um delegado da Polícia Federal delega o exercício de parcela 
de suas competências a um agente da Polícia Federal, o que é possível se a 
competência não for privativa do delegado, será o próprio agente que 
ocupará o pólo passivo num eventual mandado de segurança, pois ele que 
efetivamente produziu ou deixou de produzir o ato. 
b) autoridade coatora nos órgãos colegiados: para fins de mandado de 
segurança considera-se autoridade coatora o Presidente do órgão 
colegiado, mesmo se o ato impugnado tiver sido praticado conjuntamente 
por todos os membros do órgao; 
c) autoridade coatora nos atos complexos: nesse contexto, atos complexos 
são aqueles para cuja produção concorre mais de uma autoridade. Logo, 
todas as autoridades que participaram da produção do ato complexo 
impugnado são consideradas autoridade coatora; 
d) autoridade coatora nos atos compostos: nesse contexto, atos compostos 
são aqueles cujo conteúdo é definido por uma autoridade – dita principal –, 
mas que se sujeitam à aprovação, homologação ou ratificação de outra para 
adquirirem eficácia. Considera-se que nesses atos a autoridade coatora é 
somente a autoridade principal. 
 
 
4) ESPÉCIES DE MANDADO DE SEGURANÇA 
 
Levando-se em conta o momento de sua interposição, o mandado de 
segurança pode ser repressivo ou preventivo. 
O mandado de segurança repressivo tem por objetivo fazer cessar uma 
violação a direito liquido e certo já perpetrada pela autoridade coatora. 
A autoridade coatora, por ação ou omissão, já se conduziu de forma ilegal 
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ou abusiva, ofendendo o direito liquido e certo do impetrante, e o mandado é 
interposto para impedir a continuidade dessa violação. 
Como exposto, a violação pode decorrer de uma conduta omissiva ou 
comissiva da autoridade. 
No primeiro caso – omissão – a autoridade deixa de produzir um ato em 
situação na qual por lei estava obrigada a fazê-lo. Seria o caso, por 
exemplo, da lei fixar um prazo para que a autoridade responda certo 
requerimento do administrado, e elasimplesmente deixe transcorrer o prazo 
sem emitir qualquer resposta. Há um direito líquido e certo do administrado 
à resposta – seja negativa ou positiva – dentro do prazo prescrito em lei, e 
este direito foi violado pela omissão da autoridade ao não respeitar o prazo 
legal. 
No segundo caso a autoridade produz um ato com ilegalidade ou abuso de 
poder, de tal modo que vem ele a ferir direito líquido e certo do sujeito 
passivo. Seria o caso, por exemplo, de uma autoridade fiscal efetuar o 
lançamento de um tributo que foi instituído por decreto do chefe do Poder 
Executivo. Trata-se de uma ação manifestamente ilegal, uma vez que a 
instituição de tributos é matéria reservada à lei, sendo, portanto, cabível a 
impetração do mandado de segurança repressivo (o direito já foi violado, 
uma vez que o lançamento já foi efetivado) para fazer cessar a ofensa. 
O mandado de segurança preventivo, por sua vez, tem por finalidade 
impedir a lesão a direito líquido e certo do impetrante. Ao contrário do 
mandado de segurança repressivo, que é interposto após a lesão para fazê-la 
cessar, o mandado de segurança preventivo busca impedir que a ameaça 
de lesão transforme-se em uma efetiva lesão. Nesse caso, não há ainda 
um efetivo ato lesionando direito líquido e certo, mas há um risco real, uma 
ameaça concreta, de que isto venha a ocorrer, o que justifica a interposição 
do mandado de segurança. 
Aproveitando o exemplo anterior, seria o caso do contribuinte interpor um 
mandado de segurança para impedir que a autoridade fiscal efetuasse o 
lançamento do tributo instituído por decreto. Não há ainda qualquer ato 
efetivo de lançamento, mas apenas o decreto ilegalmente (melhor dizendo, 
inconstitucionalmente) instituindo o tributo, mas é plenamente justificada a 
interposição do mandado de segurança, na modalidade preventiva, pois, uma 
vez que a atividade fiscal é plenamente vinculada, a autoridade competente, 
frente à instituição do tributo por decreto, fatalmente efetuará o lançamento 
do tributo, lesionando concretamente o direito líquido e certo do impetrante 
de não se sujeitar a tributos que não tenham sido regularmente instituídos 
por lei. Nesse caso, é possível a interposição do mandado de segurança 
preventivo, justamente para evitar que a ameaça concreta de lesão (que se 
configurou quando o decreto foi editado) transforme-se numa efetiva lesão 
(o que ocorrerá se a autoridade fiscal efetuar o lançamento do tributo). 
 
5) DIREITO LÍQUIDO E CERTO 
 
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O mandado de segurança tem objeto certo: proteção a direito líquido e certo 
do impetrante. 
Direito líquido e certo, segundo Hely Lopes Meirelles, “é o que se 
apresenta manifesto na sua existência, delimitado na sua extensão e apto a 
ser exercitado no momento da impetração”. 
Apesar da expressão consagrada – direito líquido e certo -, os atributos de 
liquidez e certeza não se referem à matéria jurídica, ao próprio direito, mas 
sim aos fatos alegados como seu fundamento. 
Assim, direito líquido e certo, para fins de mandado de segurança, é aquele 
baseado em fatos incontestáveis, comprovados de pronto pelo 
impetrante por meio de documentos apresentados na interposição da ação, 
mesmo que existam divergências sobre a matéria jurídica em discussão ou 
que ela seja caracterizada por grande complexidade. Desde que os fatos 
estejam cabalmente demonstrados no início da ação qualquer direito, por 
mais complexidade que envolva e por maiores que sejam as discussões a seu 
respeito, pode justificar a propositura do mandado de segurança. 
Por exemplo, se uma lei cria certo tributo e a autoriza efetiva sua cobrança 
pelo lançamento, pode o contribuinte impugnar a exação por entender que 
ela afronta, por exemplo, o princípio do não-confisco. Inegavelmente, será 
intensa a discussão acerca da constitucionalidade ou não da tributo, uma vez 
que o princípio em questão é de extrema subjetividade, mas é inegável que 
cabe mandado de segurança na hipótese, pois o fato é incontroverso, 
comprovável de plano no início da ação: o fato é o lançamento do tributo que 
o contribuinte e entende inconstitucional, e sua comprovação se dará pela 
apresentação do documento onde conste o lançamento realizado pela 
autoridade fiscal. 
Enfim, desde que os fatos sejam incontestáveis, incontroversos, passíveis de 
comprovação documental no momento da interposição da ação, configura-se 
o requisito do direito líquido e certo. 
Reforçando esse entendimento, trazemos a lição de Vicente Paulo na 
matéria: 
(...) há que se destacar que a doutrina e a jurisprudência firmaram 
orientação no sentido de que a exigência de certeza e liquidez recai 
sobre a matéria de fato, e não sobre a de direito. Os fatos alegados 
pelo impetrante é que carecem de certeza e liquidez, que precisam ser 
comprovados. O autor, para ter direito à utilização do mandado de 
segurança, deve comprovar, deplano, a certeza e liquidez sobre a 
materialidade, sobre a existência fática da situação jurídica por ele 
suscitada. 
Quanto ao direito, este é sempre líquido e certo. Eventuais dúvidas 
acerca da interpretação do direito sempre podem existir, mas esse 
fato não afasta a possibilidade de utilização do mandado de segurança. 
Da mesma forma, a simples alegação de "grande complexidade 
jurídica" do direito invocado não é motivo para .obstar a utilização da 
via do mandado de segurança. 
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A necessidade de certeza quanto aos fatos ocorridos traz como conseqüência 
a inexistência, como regra geral, da fase probatória no mandado de 
segurança. Este remédio constitucional exige a chamada prova pré-
constituída, assim considerada aquela já apresentada com a petição inicial, 
não sendo produzida durante o transcurso de uma instrução probatória. Tal 
prova, eminentemente documental, afasta a necessidade de instrução 
probatória no processo do mandado de segurança, pois essa fase processual, 
quando existente, objetiva justamente a elucidação dos fatos em discussão 
no processo judicial. Como estes já estão elucidados, cabalmente 
comprovados de plano mediante a anexação de documentos à petição inicial 
do processo de mandado de segurança, podemos concluir que, em linhas 
gerais, que inexiste fase de instrução probatória nessa ação constitucional. 
 
6) NATUREZA JURÍDICA DO MANDADO DE SEGURANÇA 
 
Esclarece Alexandre de Moraes que "o mandado de segurança é uma ação 
constitucional, de natureza civil, cujo objeto é a proteção de direito líquido e 
certo, lesado ou ameaçado de lesão, por ato ou omissão de autoridade 
pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder 
Público". Em complemento, assevera que "a natureza civil não se altera, nem 
tampouco impede o ajuizamento de mandado de segurança em matéria 
criminal, inclusive contra ato de juiz criminal, praticado no processo penal". 
O mandado de segurança é, assim, uma ação de natureza civil, irrelevante a 
matéria que está sendo objeto de discussão, se integrante do Direito Civil ou 
de outros ramos jurídicos, a exemplo do Direito Administrativo ou do Direito 
Penal.A natureza do mandado de segurança, do processo em si mesmo, é 
sempre civil. 
O STF inúmeras vezes se pronunciou neste sentido, afirmando que o 
mandado de segurança é uma ação de natureza civil mesmo quando 
interposto contra ação ou omissão de juiz criminal verificada em processo 
penal. 
Em conseqüência, sua tramitação, em qualquer hipótese, segue as regras da 
legislação processual civil. A própria Lei que disciplina este remédio 
constitucional, a Lei 1.533, de 1951, após trazer algumas regras processuais, 
determina a aplicação subsidiária das regras do Código de Processo Civil 
(CPC). Da mesma forma, a competência para a apreciação e julgado do 
mandado de segurança tem suas regras básicas traçadas na Constituição, 
aplicando-se, no mais, as disposições sobre a matéria contidas no Código de 
Processo Civil. 
Enfim, qualquer que seja a natureza ou a origem do ato impugnado, 
qualquer que seja a qualificação ou a hierarquia da autoridade coatora, 
qualquer que seja o direito material em, discussão na ação (Civil, Comercial, 
Trabalhista, Penal etc) a natureza do mandado de segurança não se altera: 
trata-se sempre de uma ação civil, com as conseqüências indicadas acima. 
 
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7) CABIMENTO DO MANDADO DE SEGURANÇA 
 
Já analisamos, em linhas genéricas, que o mandado de segurança é passível 
de interposição contra as (a) ações ou omissões ilegais ou abusivas (b) das 
autoridades públicas ou dos agentes de entidades privadas que exerçam 
atribuições próprias do Poder Público, (c) no que se refere às situações em 
que a atuação se deu no âmbito de atribuições próprias do Poder Público. É 
isso que se entende por ato de autoridade para fins de impetração de 
mandado de segurança. 
Nesse tópico nosso objetivo é apenas apresentar alguns desses atos de 
autoridade que justificam a interposição do remédio constitucional: 
a) atos produzidos durante o transcurso do processo de elaboração das leis: 
os atos praticados pelos membros do Poder Legislativo durante o processo de 
elaboração das leis em geral (emendas à Constituição, leis complementares, 
leis ordinárias, decretos legislativos, medidas provisória etc), quando 
afrontosos à Constituição ou ao Regimento Interno da respectivo Casa 
legislativa, podem ser impugnados pelos parlamentares integrantes da Casa 
mediante a interposição de mandado de segurança, pois eles têm direito à 
tramitação de um processo legislativo em conformidade com a Constituição e 
os atos normativos primários que o regulam; 
b) leis de efeitos concretos: como ensina Vicente Paulo, 
Por "leis de efeitos concretos" entende-se aquelas que são desprovidas 
de generalidade e abstração, que já regulam concretamente certas 
situações, com destinatários certos ou determinados. Enfim, são todas 
as leis "meramente formais", que têm forma de lei (pois aprovadas 
pelos órgãos legislativos) mas conteúdo de ato administrativo (pois, 
desprovidas de normatividade, generalidade e abstração, visam a 
regular situações específicas). 
Como assinala o Autor ao final, a lei de efeito concreto é um ato produzido 
segundo as regras do processo legislativo (portanto, tem a forma de lei), 
mas que tem conteúdo típico de ato administrativo, pois aplica-se a uma 
hipótese específica, atingindo destinatários determinados. Uma lei que 
declare um imóvel de utilidade pública para fins de desapropriação é exemplo 
de lei de efeito concreto; 
c) atos administrativos: os atos administrativos, ou seja, as manifestações 
unilaterais de vontade do Poder Público ou daqueles que exercem atribuições 
tipicamente públicas, são os atos que ensejam a maioria das impetrações de 
mandado de segurança. 
Assim, os atos das autoridades dos Poderes Executivo, Legislativo e 
Judiciário, produzidos no exercício da função administrativa (bem como suas 
omissões) com ilegalidade ou abuso de poder, sejam vinculados ou 
discricionários, justificam plenamente a interposição de mandado de 
segurança quando ferem ou ameaçam ferir direito líquido e certo dos 
administrados. 
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d) atos jurisdicionais: os atos jurisdicionais em geral, pelo qual os membros 
do poder Judiciário, monocrática ou coletivamente, aplicam o Direito aos 
casos em concretos, são passíveis de impugnação via mandado de 
segurança, desde que não exista recurso judicial específico contra a decisão 
que se pretende impugnar, ou que, mesmo havendo recurso, não seja ele 
dotado de efeitos suspensivos. 
Desde modo, as sentenças, acórdãos e decisões interlocutórias proferidas 
nas mais diversas matérias (Direito Civil, Comercial do Trabalho, penal etc), 
no âmbito da justiça federal, estadual, militar, do trabalho ou eleitoral 
justificam a interposição de mandado de segurança, desde que inexista 
recurso dotado de efeitos suspensivos aplicável à hipótese. 
 
8) DESCABIMENTO DO MANDADO DE SEGURANÇA 
 
Em contraposição ao tópico anterior, neste relacionamos alguns atos que não 
dão margem à interposição de mandado de segurança. 
São eles: 
a) lei em tese: não é cabível mandado de segurança contra lei em tese, salvo 
se produtora de efeitos jurídicos concretos (STF, súmula 266). 
Lei, em termos próprios, é um ato normativo que inova na ordem jurídica, ou 
seja, um ato genérico e abstrato que cria Direito novo, editado com a 
finalidade de regular certa situação jurídica. 
A edição da lei,do ato normativo, por si só não fere qualquer direito. O que 
poderá ofendê-lo eventualmente são atos concretos praticados com base nos 
dispositivos legais, que, caso se enquadrem no conceito de ato de 
autoridade, podem ser discutidos em mandado de segurança. 
Mas não cabe a impugnação direta da própria lei – sua impugnação em tese -
, pois para isso o instrumento adequado são as ações integrantes do controle 
concentrado de constitucionalidade. 
b) atos interna corporis: atos interna corporis, segundo Vicente Paulo, são 
atos "praticados pelas casas Legislativas e Tribunais do Poder Judiciário, no 
tocante à matéria direta e exclusivamente relacionada com as atribuições e 
prerrogativas de tais corporações". Tais atos, que envolvem ampla análise 
discricionária das autoridades judiciárias e legislativas, não podem ser 
impugnados em mandado de segurança. 
Não devemos, contudo, considerar que são imunes ao remédio constitucional 
os atos (ou omissões) produzidos por tais autoridades com violação à 
Constituição, ou com ofensa literal aos regimentos internos que os regulam, 
estes, diga-se de passagem, editados pelos próprios Tribunais e Casas 
legislativas (Regimento Interno do STF, Regimento Interno da Câmara dos 
Deputados). 
Tais atos, como analisamos no tópico anterior, justificam a propositura de 
mandado de segurança. 
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c) decisão judicial transitada em julgado: o STF, na Súmula 268, declarou 
que "não cabe mandado de segurança contra decisão judicial com trânsito 
em julgado". 
Se o processo foi definitivamente julgado por decisão que lhe tenha 
apreciado o mérito, configura-se a denominada coisa julgada em sentido 
formal e material, que impede a reapreciação da decisão em sede de 
mandado de segurança. 
Na verdade, o único remédio cabível contra uma decisão com trânsito em 
julgado, na esfera civil, é a ação rescisória, nos termos dispostos no Código 
de Processo Civil. 
d) ato contra o qual caiba recurso administrativo com efeito suspensivo: a 
Lei 1.533, de 1951, que regula o mandado de segurança, taxativamente 
veda sua aplicação contra "ato de que caiba recurso administrativo com 
efeito suspensivo, independentemente de caução" (art. 50, I). 
Expressiva parte dos doutrinadores – entre eles Hely Lopes Meirelles e 
Alexandre de Moraes – entende que esta restrição legal deve ser interpretada 
com ponderação, não podendo ser-lhe conferida um sentido absoluto. Deve-
se, pois, admitir a propositura do mandado de segurança mesmo em 
hipótese para a qual é previsto recurso administrativo com efeito suspensivo, 
independentemente de caução (garantia), desde que o interessado deixe 
transcorrer o prazo para sua apresentação ou expressamente renuncie ao 
direito do apresentá-lo. 
O que não se admite é, pois, o uso simultâneo dos dois instrumentos – o 
mandado de segurança e o recurso administrativo com efeito suspensivo, 
independentemente de caução -, pois, se apresentado o recurso 
administrativo, e tendo este suspendido os efeitos do ato impugnado, não há 
qualquer lesão ou ameaça de lesão a justificar a propositura do mandado de 
segurança. 
Além disso, se há recurso administrativo previsto mas ele não é dotado de 
efeito suspensivo ou se, apesar de possuir tal efeito, sua propositura está 
condicionada ao oferecimento de garantia, é indiscutível que cabe a 
propositura de mandado de segurança. 
e) ato judicial passível de recurso: mais uma vedação expressa da lei 
1.533/51, que não admite, no art. 50, II, a interposição de mandado de 
segurança contra"despacho ou decisão judicial, quando haja recurso previsto 
nas leis processuais ou possa ser modificado por via de correição". 
Em primeiro lugar, deve-se atentar para o fato de que a doutrina é unânime 
em alertar que a Lei, aqui, disse menos do que queria, devendo-se 
interpretar o dispositivo em questão no sentido de que ele veda a 
interposição de mandado de segurança se contra a decisão ou o despacho 
judicial houver recurso judicial com efeito suspensivo. 
Em havendo recurso judicial com efeito suspensivo não é caso, realmente, de 
mandado de segurança, uma vez que a propositura do recurso, por si só, faz 
cessar os efeitos do ato impugnado, até a decisão do recurso. Segundo 
entende a doutrina, não pode o interessado desistir de apresentar o recurso 
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cabível para, após o transcurso do prazo para sua propositura, valer-se do 
mandado de segurança. 
Por outro lado, plenamente cabível o mandado de segurança se contra o 
despacho ou decisão não houver recurso judicial previsto nas leis processuais 
ou se, mesmo havendo, ele não for dotado de efeito suspensivo. Nesse caso 
o interessado deve apresentar simultaneamente o recurso e o mandado de 
segurança. Com a interposição do primeiro busca ele uma nova apreciação 
da decisão ou do despacho impugnado; com a propositura do segundo, a 
suspensão de seus efeitos até a decisão do recurso. É ponto pacífico que o 
mandado de segurança não substitui o recurso específico na hipótese, sendo 
a apresentação deste, concomitantemente com o ajuizamento do mandado 
de segurança, indispensável. 
f) ato disciplinar: novamente, outra restrição diretamente prescrita na Lei 
1.533/51, que em seu artigo 50, III, veda a propositura de mandado de 
segurança contra "ato disciplinar, salvo quando praticado por autoridade 
incompetente ou com inobservância de formalidade essencial". 
Essa prescrição legal também não é vista com bons olhos pela doutrina. Hely 
Lopes Meirelles, por exemplo, é taxativo ao afirmar que "não se legitima a 
exclusão dos atos disciplinares, que, embora formalmente corretos e 
expedidos por autoridade competente, podem ser ilegais e abusivos no 
mérito, a exigir pronta correção mandamental". O Autor, portanto, entende 
que em sede de mandado de segurança cabe até mesmo a análise do mérito 
do ato disciplinar, para fins de verificação se, no caso, não houve ilegalidade 
ou abuso de poder. 
Bem, de qualquer modo, devemos no mínimo alargar os elementos do ato 
disciplinar que podem ser apreciados em mandado de segurança. O ato 
disciplinar é, inegavelmente, um ato administrativo, e todo ato 
administrativo possui cinco elementos de validade: competência, finalidade, 
forma, motivo e objeto. Logo, qualquer desses elementos, quanto à sua 
conformidade com a lei e os princípios jurídicos, pode ser questionado em 
mandado de segurança. 
Alexandre de Moraes, entre muitos outros, defende esse posicionamento, 
como se percebe quando ele afirma que "em relação ao ato disciplinar, 
sempre será possível ao Judiciário, inclusive através do mandado de 
segurança, analisar os elementos do ato administrativo: sujeito, objeto, 
forma, motivo e finalidade". 
Por exemplo, se uma lei permite, frente a certa falta, a aplicação de uma 
pena de suspensão de 10 a 30 dias, a aplicação, num caso em concreto, de 
uma penalidade de 45 dias, é ato manifestamente ilegal com relação ao 
elemento objeto. É possível, portanto, sua discussão em mandado de 
segurança. 
g) segundo entendimento do STF, não cabe mandado de segurança contra 
suas decisões de conteúdo jurisdicional, tenham sido elas proferidas pelo 
Pleno, por uma de suas turmas ou monocraticamente pelos seus membros. 
Qualquer decisão jurisdicional proferida no âmbito do STF só pode ser 
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impugnada mediante a utilização dos recursos específicos previstos para essa 
finalidade na legislação e, quando transitadas em julgado, por meio da 
interposição de ação rescisória perante o próprio Tribunal; 
h) o mandado de segurançanão pode ser impetrado como ação substitutiva 
de cobrança (STF, Súmula 269). O STF afirmou reiteradamente que o 
provimento de um mandado de segurança não produz efeitos patrimoniais 
retroativos, de modo a abranger o período anterior à sua propositura. 
Por exemplo, imaginemos que um contribuinte está desde janeiro de 2000 
pagando um tributo que entende inconstitucional, mas apenas em fevereiro 
de 2004 decide interpor um mandado de segurança para combater a 
exigência, obtendo uma decisão definitiva favorável em julho de 2005. Tal 
decisão produzirá efeitos somente desde a data da propositura da ação, não 
alcançando o período anterior a fevereiro de 2004, uma vez que o mandado 
de segurança não produz efeitos patrimoniais em relação a período anterior à 
sua impetração. 
 
9) COMPETÊNCIA 
 
Em linhas gerais, a competência para o julgamento de mandado de 
segurança é definida com base em dois critérios: (a) a qualificação da 
autoridade coatora (federal, estadual, distrital ou municipal); e a (b) 
hierarquia desta autoridade. Alexandre de Moraes frisa que não há 
alteração de competência em caso de elevação funcional da autoridade 
durante o transcorrer do mandado de segurança. 
Na ações judiciais ordinárias movidas contra o Poder Público a competência é 
definida não a partir de qualificações pessoais da autoridade envolvida, mas 
com base na espécie e nível de governo da entidade, seja política ou 
administrativa (empresa pública federal, Município, autarquia estadual e 
assim por diante). No mandado de segurança, como exposto acima, a 
competência, a grosso modo, é definida pela qualificação e hierarquia da 
autoridade coatora, desprezando-se as características próprias da entidade. 
Para fins ilustrativos, imaginemos que o Procurador-Geral da República, no 
exercício de funções administrativa, ilegalmente negou certo documento a 
uma empresa, impedindo-a, em função disso, de praticar certo ato, em 
conseqüência do que a empresa suportou um prejuízo de R$ 10.000,00. 
Se a empresa quiser obter o documento ilegalmente negado pelo chefe do 
Ministério Público da União mediante a interposição de um mandado de 
segurança, deverá fazê-lo perante o STF, a quem compete o julgamento dos 
mandados de segurança interpostos contra esta autoridade. 
Ao contrário, se a empresa quiser obter a reparação dos prejuízos oriundos 
da negativa do documento, mediante a interposição da devida ação 
indenizatória, deverá instaurá-la perante a Justiça Federal de primeira 
instância, pois é desta a competência originária para o julgamento das ações 
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indenizatórias movidas contra a União (lembrando que o MPU é um órgão 
independente integrante da estrutura desta entidade política). 
O que releva, assim, ressaltar, é que a competência, no caso da ação 
indenizatória (bem como das demais ações ordinárias), é definida a partir da 
qualificação da própria entidade (no caso, a União), ao passo que, para o 
mandado de segurança, geralmente definimos a competência pelas 
características da autoridade coatora. 
Também é irrelevante, em linha de principio, a matéria que será discutida no 
mandado de segurança (tributária, cível, penal, eleitoral etc). Mas uma vez 
aplicam-se os mesmos critérios: a competência será definida pela sede da 
autoridade coatora (federal, estadual, distrital ou municipal) e pela sua 
categoria funcional. 
Um ato de autoridade estadual, portanto, será julgado em mandado de 
segurança pela Justiça Estadual respectiva, definindo-se o órgão jurisdicional 
específico pela categoria funcional da autoridade. Atos de autoridades 
municipais serão analisados em sede de mandado de segurança pela Justiça 
do Estado em que se localiza o Município, e assim por diante. 
Isto posto, passamos a apresentar as normas sobre competência em 
mandado de segurança trazidas na Constituição Federal: 
Contempla a Carta as seguintes regras na matéria: 
a) é de competência do STF processar e julgar, originariamente, o mandado 
de segurança contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara 
dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do 
Procurador-Geral da República e do próprio Supremo Tribunal Federal (CF, 
art. 102, I, d); 
b) é de competência do STJ processar e julgar, originariamente, o mandado 
de segurança contra ato de Ministro de Estado, dos Comandantes da 
Marinha, do Exército e da Aeronáutica ou do próprio Tribunal (CF, art. 105, I, 
b); 
c) é de competência da Justiça do Trabalho processar e julgar os mandados 
de segurança quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua 
jurisdição (CF, art. 114, IV, acrescentado pela 45/2004); 
d) é de competência dos TRF processar e julgar, originariamente, o mandado 
de segurança contra ato do próprio Tribunal ou de juiz federal (CF, art. 108, 
I, c); 
e) é de competência dos juízes federais processar e julgar o mandado de 
segurança contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de 
competência dos demais tribunais federais; 
Ademais, se a União, uma de suas empresas públicas ou autarquias intervir 
em mandado de segurança processado originalmente perante a Justiça 
Estadual, sua presença no feito acarreta seu deslocamento para a Justiça 
Federal. 
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Apesar de inexistente regra expressa na Constituição, entende-se que 
também é de competência da Justiça Federal o julgamento de mandados de 
segurança interpostos contra agentes de pessoas privadas que 
desempenham atribuições próprias do Poder Público, ou mesmo agentes de 
outras esferas de Governo, quando sua atuação se deve à delegação de 
poderes feita na esfera federal. 
Como antes analisamos, atos produzidos em decorrência de delegação 
consideram-se produzidos pela autoridade delegada, sendo esta, pois, a 
autoridade coatora para fins de mandado de segurança. A definição da 
competência, porém, se dá pela entidade da qual se originou a delegação. 
f) a competência da Justiça Estadual é definida pelos próprios Estados, 
respeitadas as regras de competência prescritas na Constituição (CF, art. 
125). Por uma interpretação a contrario sensu do art. 109, I, da CF, caberá 
também à Justiça Estadual o julgamento de mandado de segurança contra 
dirigentes de sociedades de economia mista federais, uma vez que o 
dispositivo em questão não as inclui na competência da Justiça Federal; 
g) todos os Tribunais têm competência originária para julgar os mandados 
de segurança interpostos contra seus atos, aqueles produzidos por seus 
respectivos presidentes ou por seus órgãos colegiados (seções, câmaras, 
turmas). Desse modo, cabe ao próprio TJ o julgamento de mandado de 
segurança interposto contra ato praticado pelo Tribunal, por suas Turmas ou 
Câmaras ou por seu presidente, sendo tal raciocínio válido para todos os 
demais Tribunais integrantes da estrutura do Poder Judiciário; 
Tal entendimento é pacífico no âmbito do STF. Assim, mesmos os mandados 
de segurança impetrados contra atos dos Tribunais Superiores (Superior 
Tribunal de Justiça, Tribunal Superior Eleitoral, Tribunal Superior do 
Trabalho, Superior Tribunal Militar) estão excluídos da competência originária 
do STF, devendo ser apreciados pelo próprio Tribunal do qual o ato emanou. 
O STJ, na sua Súmula 41, também adotou o mesmo posicionamento, ao 
declarar que "o Superior Tribunal de Justiça não tem competência para 
processar e julgar, originariamente, mandado de segurança contra ato de 
outros Tribunais ou dos respectivos órgãos". 
h) segundo o STF, os mandados de segurança propostos contra atos de 
Turma Recursal de Juizado Especial são julgados pela própria Turma (MS 
24691, de 4/12/2003);

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