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aula 5 - Descartes

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Aula 05 História da Psicologia 1 
1 
Instituto de Psicologia - Universidade Federal do Rio Grande do Sul 
Aula 05 ? História de Psicologia - Prof. William B. Gomes, PhD - 2005 
 
 
Descartes (1596 - 1650) 
 
Excerto do texto: 
Hearnshaw, L. S. (1987). O Renascimento Filosófico. 
The shaping of modern psychology 
(Capítulo 6, pp. 63-88). London: Routledge. 
(Colaboram na tradução deste texto: 
 Luis Rafael Ribeiro e Elisângela Zaniol 
Revisão e edição de W. B. Gomes.) 
 Traduzindo para fins de ensino. 
 
 
A influência de Descartes (1596 - 1650) na psicologia foi tanto mais extensa que a de 
Hobbes quanto mais maléfica - maléfica porque, apesar de suas contribuições para áreas 
específicas, ele direcionou a psicologia para um beco-sem-saída, do qual levou mais que dois 
séculos e meio para retirá-la desta situação. Entretanto, Descartes foi melhor filósofo, cientista 
e muito melhor matemático que Hobbes. Suas reflexões foram marcadas pelo frescor, 
honestidade e uma mentalidade aberta, seu intelecto era penetrante e claro, e ele podia expor 
seus pensamentos em estilo direto, simples e atraente. Por preservar Deus e alma ao centro de 
seu sistema, ele, ao menos parcialmente, satisfez os conservadores, e por fundamentar sua 
filosofia física em uma base material e matemática ele satisfez a emergente comunidade 
científ ica. O novo conhecimento não poderia mais ser explicado pelo decadente sistema 
aristotélico; era necessário para a filosofia recomeçar desde os princípios básicos, e foi isto que 
Descartes fez. ‘Como para as opiniões que até aquele momento eu abracei, eu pensava que não 
poderia fazer coisa melhor que resolver de uma vez, de vasculhá-las por inteiro, pois eu 
desejava estar em uma posição de poder admitir outras posições mais corretamente, ou talvez as 
mesmas quando elas tivessem sido submetidas ao julgamento da razão’.23 
 A decisão de Descartes de começar tudo novamente e de duvidar de tudo na procura 
por certezas das quais fosse impossível duvidar levaram-no a concluir que em última análise ele 
teve de aceitar sua própria existência, e a existência de Deus. Ele escreveu: 
Enquanto eu, até este ponto, desejei pensar que tudo era falso, era 
absolutamente necessário que eu, que conseqüentemente pensei, deveria ser 
alguma coisa; e como eu observei que esta verdade, ‘Penso, logo existo’ 
(Cogito ergo sum) seria então correta, e se tal evidência, sem nenhum grau 
de dúvida, embora extravagante, poderia ser afirmada pelos céticos capazes 
de darem-se uma sacudida, eu conclui que poderia, sem escrúpulos, aceitá-la 
como o princípio básico da filosofia pela qual eu procurava.24 
Em relação a Deus ‘a idéia de Deus, que está fundamentada em nós, requer Deus como 
causador de si mesmo’25 Além e acima destas certezas básicas haviam também indubitáveis 
verdades matemáticas e, porque Deus não poderia iludir, os objetos corpóreos deveriam existir, 
embora, como fossem resultado da incerteza das sensações corporais, nós nunca poderíamos 
alcançar conclusões seguras sobre sua natureza.26 A conseqüência desta linha de argumentação 
era que a ‘idéia que eu tenho da mente humana ... é incomparavelmente mais distinta que a 
idéia de qualquer objeto corporal’.27
 
 Contudo, a mente que Descartes intuiu com tanta certeza era muito diferente da alma de 
Aristóteles e dos escolásticos. Não era a forma do corpo, ou um princípio de vida; era 
pensamento, substância consciente. A mente foi simplesmente igualada à consciência, e, desta 
forma a mente não teria nenhuma semelhança com o corpo, ‘pelo fato de que o corpo, por sua 
natureza, é sempre divisível, e a mente é inteiramente indivisível.28 Disto, ‘a mente ou alma do 
homem é inteiramente diferente do corpo.29 Em princípio, ‘a mente pode existir sem o corpo, e 
o corpo sem a mente’30. Nesta vida, entretanto, mente e corpo interagem, e eles o fazem, como 
acreditava Descartes, através da glândula pineal, um pequeno órgão vestigial no cérebro. Ele 
Aula 05 História da Psicologia 2 
2 
fez esta relação porque acreditava que as funções integradoras da mente poderiam ser melhor 
atribuídas a uma das poucas partes não duplicadas do cérebro. Não apenas era esta uma escolha 
infeliz, mas a própria idéia da interação entre duas substâncias inteiramente distintas estava 
carregada de dificuldades. Não obstante a doutrina de dois mundos do dualismo cartesiano se 
tornou a crença comumente aceita dos pensadores europeus. 
 Haviam conseqüências decisivas para ambas, física e psicologia, nestas teorias de 
Descartes. A física se emancipou de toda a influência ocultista e animística, e os pontos de vista 
mecânicos e matemáticos receberam toda a atenção. Por outro lado, a psicologia foi dividida 
em duas; houve o domínio da consciência pura, pensamento e vontade, totalmente desligados 
da corporalidade e matéria; e havia a misteriosa área da sensação, movimento e emoção, na 
qual mente e corpo interagiam. Só o homem possuía consciência e pensamento; todos os 
animais menores eram simplesmente máquinas. Não seria: ‘os selvagens têm menos raciocínio 
que o homem, eles não o possuem inteiramemtente’.31 A parte mais característica do homem, 
totalmente não-biológica, não estava relacionada a qualquer outra coisa no reino animal. Era 
esta peculiarmente humana que Descartes definiu como substância pensante; a essência da 
mente ‘consiste somente no pensamento’.32 E uma coisa pensante ‘é algo que duvida, 
compreende, afirma, nega, deseja, recusa, imagina e também percebe’.33 Estas diversas funções 
poderiam ser classificadas sob duas categorias principais, quais sejam a compreensão e a 
vontade. A compreensão envolvia ‘idéias’; a vontade implicava volições; enquanto a 
compreensão e a vontade juntas estavam envolvidas com julgamentos. O termo ‘idéia’, 
Descartes definiu não da maneira platônica ou aristotélica, mas como ‘aquela forma de 
qualquer pensamento pela percepção imediata de que eu estou consciente do mesmo 
pensamento’34 - uma importante transformação no sentido do termo, que se tornou, assim, um 
termo-chave na nova psicologia. Idéias poderiam ser inatas, adventícias (que são derivadas da 
experiências) ou artificiais (que são puramente invenções humanas). Idéias inatas consistiam, 
de acordo com Descartes, em coisas tais como as verdades matemáticas e os princípios 
universais, ou como a lei da não-contradição, e eram ingredientes essenciais para a 
compreensão.35 Percepções, por outro lado, derivam dos objetos, mas diferiam das simples 
sensações por envolverem julgamentos mentais ativos. ‘Eu compreendo somente pela faculdade 
do julgamento, a qual está na mente; o que eu acredito eu vi com meus olhos’.36 Apesar destas 
diferentes funções, a mente era essencialmente individual (diferentemente das substâncias 
corpóreas e materiais) e assim o vis cognescens (poder do conhecimento) seria também, em 
última análise, simples, idêntico a si mesmo e absoluto. ‘Ele retém suas características 
singulares em cada campo. Alguém pode chamá-la de “humano ou sabedoria universal” ou 
bom senso (bona mens) ou “a luz natural da razão”’37 Desta maneira, Descartes transmitiu o 
conceito de inteligência para o mundo moderno. 
 Estas doutrinas de Descartes, em efeito, colocaram grandes áreas da psicologia, e talvez 
as mais importantes, fora do alcance da ciência que ele mesmo havia concebido, visto que 
Descartes acreditava que a ciência era necessariamente quantitativa e matemática. A mente, 
pelo contrário, em sua natureza essencial apenas poderia ser conhecida intuitivamente, e sendo 
individual, não poderia ser analisada apenas pelos métodos da ciência. Esta, entretanto, não se 
aplicava às áreas confusas em que estão localizadas ‘certas coisas das quais nós temos uma 
experiência interna que não deve estar relacionada à mente por si própria ou ao corpo somente, 
mas à secreta e íntima união entre eles’.38 Estes poderiamser submetidos ao julgamento 
científico, e foi para esta área que Descartes fez suas mais importantes e positivas contribuições 
à psicologia. A confusa área continha três tipos principais de fenômenos: (i) sensação, (ii) 
movimentos, e (iii) apetites e emoções. Descartes foi um dos primeiros a propor uma 
explicação detalhada dos mecanismos da sensação visual,39 e se costuma dizer que ‘ele 
influenciou todas as maiores teorias desde o século XVII até os dias de hoje’.40 Apesar de sua 
explicação ter sido em grande parte especulativa, porque ele carecia dos conhecimentos físicos, 
químicos e fisiológicos, haviam muitos aspectos interesses no que ele estava propondo. Fez 
observações inéditas nos olhos dos animais; postulou uma correlação entre sensações e eventos 
cerebrais; e reconheceu o envolvimento necessário dos movimentos oculares nas informações 
essenciais ao julgamento de distâncias. Sua explicação inaugura a investigação naturalista dos 
Aula 05 História da Psicologia 3 
3 
processos visuais. Apesar disso, ele insistiu, por fim , que era ‘a alma e não o olho que 
realizava a visão’.41 
 No campo do movimento, Descartes foi o primeiro a providenciar uma explicação clara 
dos atos-reflexos e embora, outra vez ele tenha carecido de conhecimento fisiológico apurado, 
os princípios básicos do reflexo, exemplificados pelo retraimento do pé ante uma fonte de 
calor, ficou claramente estabelecido.42 Finalmente em seu último livro, Les Passions de L’âme 
(1650) ele assentou os fundamentos para o estudo científico da vida emocional. Paixões ou 
emoções eram essencialmente um produto da interação da mente com o corpo. Elas seriam 
causadas por estímulos externos que produziriam repercussões psíquicas e seus concomitantes 
fisiológicos. Embora as paixões tivessem sido associados aos humores corporais desde épocas 
antigas, e embora Harvey tivesse notado a influência das emoções no coração, as tentativas de 
Descartes em descrever sistematicamente as bases fisiológicas da emoção inauguram o estudo 
moderno do tema. Nós podemos mesmo encontrar antecipações da teoria de James-Lange, em 
cujo vôo precede a experiência do medo.43 A classificação cartesiana das emoções foi menos 
bem-sucedida. Rejeitando a divisão tomista em irascível e corruptível, Descartes propôs seis 
emoções primárias (admiração, amor, ódio, desejo, alegria e tristeza), das quais as restantes 
seriam combinadas. Sua principal preocupação foi médica.44 Ele entendia que o controle 
apropriado das emoções era necessário para a saúde da mente.45 Contudo, as paixões sont touts 
bonnes de leur nature46 eram úteis biologicamente. Eram as emoções descontroladas que 
exerciam uma influência nociva. Paixões, entretanto, não estavam diretamente sob o controle 
da vontade, e poderiam apenas ser controladas pelo hábito e treino. 
 Descartes foi um personagem ambivalente e sua filosofia dualista refletiu sua 
ambivalência. Por um lado ele não podia separar-se dos principais dogmas da fé pela qual ele 
foi educado. Faltou-lhe coragem para assumir suas convicções e admitiu como último recurso 
‘Eu submeto minhas opiniões à autoridade da Igreja’.47 Por outro lado, ele igualmente não 
poderia duvidar das claras e distintas conclusões de uma mente precisa e matemática. Sua 
psicologia, como sua filosofia foram estraçalhadas. Em tópicos específicos seu progresso para 
uma psicologia científica foi notável, mas em questões centrais seu dualismo retardou e 
restringiu em vez de avançar o conhecimento da disciplina. A unidade psicossomática do 
modelo aristotélico foi destruída, e a psicologia foi selada com os problemas impossíveis da 
interação mente-corpo. A consciência, em vez de personalidade humana em toda sua plenitude, 
se tornou o objeto da psicologia. A consciência foi identificada com o pensamento, e 
pensamento consistia em idéias, volições e julgamentos. Todos os processos mentais poderiam 
ser considerados tanto como ações quanto como paixões, dependendo se eles fossem ou não 
determinados pela vontade. Em vez dos pensamentos dependerem e derivarem de disposições e 
estruturas, as disposições e estruturas foram reduzidas aos pensamentos, desde que ‘todas as 
propriedades que descobrimos na mente são apenas modos diferentes de pensar48 A 
identificação da mente com consciência e clareza excluiu a possibilidade de existirem 
processos mentais inconscientes. A mente humana foi então separada não apenas de sua própria 
natureza profunda e de sua substrutura fisiológica, mas separada do restante do reino animal. 
Entre o homem e os "selvagens" não havia meios de comparação. Assim, a psicologia perdeu as 
raízes biológicas indicadas por Aristóteles e ficou encapsulada na consciência. Apesar destes 
enormes retrocessos foram, entretanto, as idéias de Descartes, que em grande parte dirigiram o 
desenvolvimento da psicologia durante os séculos imediatamente seguintes. 
Aula 05 História da Psicologia 4 
4 
Descartes (1596-1650) 
 
1. Preserva Deus e com isso agrada aos conservadores. 
2. Assume o materialismo e a física mecânica e com isso agrada aos modernos. 
3. Necessita de retornar aos princípios básicos: duvidar de tudo. 
4. Preserva o dualismo entre alma e corpo. 
 
Esquema básico de acordo com os pressupostos analíticos da disciplina. 
 
Ontologia 
- Mente --- pensamento --- substância consciente 
 
 consciência --- res cogitans 
- Dualismo 
 corpo ---------- res extensa 
 
- Conseqüências para a física: livra-se do ocultismo e do animismo. 
- Conseqüências para a psicologia: divisão entre alma e corpo. 
 
Psicologia Corpo 
- consciência pura 
- pensamento 
- vontade 
- sensações 
- movimentos 
- emoções e paixões 
- não biológica - biológica (máquina) 
Compreensão Vontade 
Idéias 
(Conceitos) 
Volição 
Área confusa entre mente e corpo que 
poderia ser estudada pela ciência; 
Julgamentos Estudou emoções e percepções 
 
 
Epistemologia 
 
- Conhecimento - o poder de conhecer um todo indivisível funcionando de modo simples, idêntico e 
absoluto 
- idéias adventícias (da experiência) 
- idéias factícias ou combinatórias (inventadas) 
- idéias inatas (colocadas por Deus) 
"eu pensante imperfeito e infinito é dotado da idéia de perfeição e infinitude." Em "Meditações" (1641) 
prova a existência de Deus como 
fundamento da objetividade. 
 
Lógica 
 
1. "Não aceitar coisa alguma por verdadeira que eu não conheça como evidentemente verdadeira." 
Trata-se do critério da evidência, graças ao qual Descartes pensa abolir de seu espírito tudo o que não lhe 
parece claro e distinto. 
2. "Dividir as dificuldades em tantas partes quanto possível" 
Trata-se do método de análise que decompõe o todo em vários elementos 
3. "Conduzir por ordem seus pensamentos, indo por etapas, do simples para o composto" 
Trata-se do método sintético, que permite estabelecer uma dedução. 
4. "Fazer enumerações tão completas e revisões tão gerais que eu tenha a certeza de nada omitir." 
 
Ética 
Livre arbítrio como regulador das paixões pela sabedoria do desenvolvimento racional. 
 
 
 
Aula 05 História da Psicologia 5 
5 
Guia de estudo Capítulo XV de Mueller (1968) 
 
Mueller, F-L (1968) História da Psicologia (L. L. Oliveira & M. A. Blandy, Trad.). São Paulo: 
Companhia Editora Nacional / Editora da Universidade de São Paulo. (Original publicado em francês, 
1960) 
 
A filosofia de Descartes não pode ser reduzida, como às vezes acontece, à metodologia. É, na verdade, 
um conjunto complexo de diversos elementos: método, metafísica, antropologia filosófica, 
desenvolvimentos científicos (especialmente matemáticos), preocupações religiosas, etc. 
 
1. O método 
Este não dever ser, segundo Descartes, como o silogismo aristotélico, mera ordenação e demonstração 
lógica de princípios estabelecidos, senão um caminho para a invenção e o descobrimento. Este caminho 
deve estar aberto a todos, ou seja,a todos que participam igualmente da razão e do “bom sentido”. O 
exemplo da matemática, de onde a análise constitui uma arte inventiva, representa o principal incentivo 
do método cartesiano. 
 
As condições do método: (Fonte: Discurso do Método. Edição da UnB) 
 
Evidência 
1. “Não aceitar coisa alguma por verdadeira que eu não conheça como evidentemente verdadeira.” 
Trata-se do critério da evidência, graças ao qual Descartes pensou abolir de seu espírito tudo o que 
não lhe parece claro e distinto. 
 
Anális e 
2. “Dividir as dificuldades em tantas partes quanto possível” 
Trata-se do método de análise que decompõe o todo em vários elementos. 
 
Sistemática 
3. “Conduzir por ordem seus pensamentos, indo por etapas, do simples para o composto.” 
Trata-se do método sintético, que permite estabelecer uma dedução. 
 
Exaustivo 
4. “Fazer enumerações tão completas e revisões tão gerais que eu tenha certeza de nada omitir.” 
Trata-se da verificação das etapas da dedução que permite concluir a demonstração, assim como 
enumeração heurística dos elementos necessários à resolução da questão. 
 
2. Qual a importância da proposição metodológica de Descartes na História da Filosofia? 
 
Descartes é considerado o verdadeiro iniciador da filosofia moderna (de acordo com Hegel, apud Mueller, 
198). “Sabe-se que ele manifesta a exigência de um novo racionalismo, baseado na apreensão direta do 
sujeito pensante por si mesmo”. 
(Mueller, 1968) 
 
3. Qual a posição de Descartes a respeito da relação corpo-espírito? 
(Atenção para a conceituação ontológica) 
Defende um dualismo semelhante ao de Platão: o corpo é concebido como substância material (res 
extensa), e o espírito como substância não extensa (res cogitans). 
“É assim que o cartesianismo põe sobre crua luz o dualismo do espírito e da matéria; e a dualidade do 
homem, na medida em que é, a um tempo, corpo e espírito; sujeito apenas o primeiro à necessidade e 
destruição. A interpretação mecanicista da ação do corpo em Descartes decorre logicamente de sua 
concepção dos processos naturais, tão racionais – como a totalidade das coisas da natureza.” 
 
Exemplos da polêmica de Descartes com os seus contemporâneos. 
 
Opositores: “Como provais que um corpo não pode pensar, ou que os movimentos corporais não são o 
próprio pensamento? E porque todo o sistema de vosso corpo, que credes haver refutado, ou algumas 
partes deste, por exemplo, as do cérebro, não poderiam contribuir para formar essas espécies de 
movimentos que chamamos de pensamento? Eu sou, dizeis, uma coisa que pensa; mas como sabeis vós se 
não sois também um movimento corporal ou um corpo movido?” 
Aula 05 História da Psicologia 6 
6 
Descartes: “Uma vez que o corpo e o espírito são realmente distintos, nenhum corpo é espírito, e, 
portanto, nenhum corpo pode pensar.” 
“Que a sua opinião, de que as partes do cérebro concorrem com o espírito para formar nossos 
pensamentos, não se funda em nenhuma razão positiva, mas apenas no fato de que jamais 
experimentaram ter estado sem corpo” 
Mueller, 200-201 
 
Descartes continua elaborando sobre outra crítica que questionava que se alma pensa então porque não 
pensa sempre, referindo a ausência desta alma pensante enquanto feto, criança, etc. 
 
Com relação aos termos alma e espírito, Descartes diz: 
“por isso o mais das vezes o chamei de espírito, para evitar equívoco e ambigüidade. Pois considero o 
espírito parte da alma, mas como essa alma toda inteira que pensa.” 
 
4. Como Descartes distinguia as idéias? 
Epistemologia (no sentido gnosiológico de gênese do conhecimento) 
“Sem insistir na distinção que estabelece entre as idéias adventícias (oriundas do conhecimento sensível), 
factícias (produzida pela nossa faculdade combinatória) e inatas (depostas em nós por Deus e 
constitutivas de nosso entendimento), convém observar que a lógica do sistema leva a reconhecer à alma 
sem o corpo a concepção das únicas idéias puras de substância, de espaço, de infinito..., absolutamente 
independentes das sensações. Mas a dificuldade encontrada em Aristóteles, a de compreender como a 
atualização progressiva da alma individual se articula com o Nous, ato eterno que lhe vem do exterior, 
encontra-se aqui, agravada pelo hiato introduzido por Descartes entre a res cogitans e a res extensa. 
Mueller,202. 
 
5. Como Descartes explica a experiência sensível? 
 
- Distinguia as percepções das quais a alma é a causa e que se relacionam com nossa atividade 
voluntária ou imaginária (exemplo: percebemos o que queremos, um castelo encantado, etc.) 
- Distinguia as percepções cuja causa é o corpo devida à agitação dos espíritos animais e às quais se 
relacionam os sonhos e as alucinações. 
- Distinguia as percepções que chegam à alma por intermédio dos nervos, das quais umas se 
relacionam a objetos exteriores que nos impressionam os sentidos. 
- Distinguia as percepções do próprio corpo (sensação de fome, de sede) 
- Distinguia as percepções próprias da alma e são suas verdadeiras paixões (alegria, cólera, etc.) 
 
6. Como Descartes descreve a transferência dos estímulos sensoriais para os órgãos perceptivos? 
 
Na verdade, relação objeto-idéia x significação 
As imagens são meros sinais da realidade exterior e correspondem a movimentos percebidos pelo espírito. 
Insiste na dessemelhança entre as idéias que o espírito percebe e os movimentos que as causam. Prova 
seus argumentos com as caracerísticas da fala onde o que se percebe são sons articulados e o que se vai 
recordar depois é o sentido do que foi dito. 
 
Julgamento. 
 
Descartes também se preocupa com o papel do julgamento na percepção: muitas vezes cremos naquilo 
que julgamos existir. 
 
Preocupa-se com a diferenciação entre objetos e idéias. As impressões que os objetos causam podem ser 
diferentes das idéias suscitadas. 
 
 
7. Qual a postura de Descartes em relação ao estudo do corpo e da natureza? 
Era mecanicista e materialista (pressuposto lógico) 
Era um homem ardentemente voltado para a experiência e as ciências da observação. Era um gênio em 
matemática, e tinha conhecimento aprofundado em medicina, psicologia, química e anatomia. Estudava 
os seres vivos numa perspectiva físico-química. Foi quem traçou os primeiros esquemas do ato reflexo, 
que permanecem, grosso modo, válidos até hoje. 
 
Aula 05 História da Psicologia 7 
7 
A PSICOLOGIA CONCRETA DE DESCARTES (Ética – Práxis) 
Atividade espiritual = vida intelectual/ dinâmica psicofísica 
 
a) Nota-se em Descartes que ele reduz a atividade espiritual do homem e sua atividade intelectual. 
b) Esboça um conceito de inconsciente 
c) Centraliza sua psicologia no estudo das paixões da alma 
- apresenta inicialmente uma espécie de fisiologia das paixões sob a dependência dos 
movimentos pelos quais o organismo cresce e se conserva. 
- propõe uma teoria do livre arbítrio e de seu papel como moderador e regulador das 
paixões, orientando o conjunto pelo olhar da sabedoria que é o desenvolvimento racional 
da personalidade humana. 
 
 
 Sabedoria Desenvolvimento racional 
Livre arbítrio 
(Vontade) Moderador 
 Paixões 
 Regulador 
 
 
d) As seis paixões fundamentais ou primitivas 
 
 1. admiração atenção 
 2. amor atração 
 3. ódio repulsa 
 4. desejo orientado para o futuro 
 5. alegria satisfação do desejo 
 6. tristeza não satisfação do desejo 
 
e) Implicações da paixão para a relação espírito-corpo 
 
É problema para Descartes: 
“Pretende-se que os músculos não são diretamente influenciados pela alma, mas pelos “espíritos animais” 
– considerados como corpo material – nem por isso deixa de ser levado a admitir que o movimento e a 
direção dos espíritos animais são, pelo menos em parte, causados pela ação da alma sobre eles e que, por 
sua vez, exercem efeito direto nas experiências da alma. 
 
 
8. A psicoterapia Cartesiana 
 
a) Sugereuma psicoterapia racional no tratado Les passions de l’alma. 
 
“Tende a demonstrar que o pensamento e a vontade podem assegurar a libertação interior do homem, cuja 
capacidade de formar juízos constitui o mais alto sinal de liberdade. Exercê-la,... sinal de sabedoria e 
juízo.” 
 
b) O casuísmo das paixões 
- perversões 
- erros 
- abusos 
c) Os hábitos – condicionamentos 
- Se os movimentos da glândula e “dos espíritos do cérebro que representam para a alma certos 
objetos”, observa, estão naturalmente juntos com os que nela excitam certas paixões, podem também ser 
separados deles e unidos a outros muito diferentes, pelo hábito. Mueller, 210 
d) O homem é capaz, por sua liberdade, de introduzir, no próprio coração da paixão, juízos que 
retificam aqueles que ele deforma. 
e) Indicações fisiológicas que acompanham as paixões. 
 
Pergunta final 
Localizar o racionalismo, o empirismo e o inatismo na teoria de Descartes.

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