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6. Emoção e Motivação – Holmes & Rahe VIDA, MUDANÇA E ESTRESSE Holmes, T. H., & Rahe, R. H. (1967). The social readjustment rating scale. Journal of Psychosomatic Research, 11, 213-218. Todos conhecem o estresse. Para a maioria de vocês, na maioria das vezes, o estresse é uma experiência negativa, desagradável. Não é fácil definir o estresse, mas uma maneira de encará-lo é pensar no estresse como qualquer emoção em sua forma extrema. Neste sentido, extremos de medo, raiva, tristeza ou mesmo felicidade poderiam produzir estresse. Pense um momento sobre a última vez em que você esteve sob uma grande quantidade de estresse: o tipo de estresse que dura mais do que umas poucas horas ou mesmo uns poucos dias. Pode ser que você tenha se mudado para uma nova cidade, tenha tido um problema judicial, dificuldades no relacionamento com outra pessoa, uma mudança de emprego, tenha perdido seu emprego, experienciado a morte de uma pessoa muito ligada a você, sofrido um ferimento ou experienciado alguma outra mudança estressante de importância. Você sabe de que tipo de estresse eu estou falando – ele se prolonga por um certo tempo e você tem que enfrentá-lo a cada dia. O que aconteceu com você? Com que grau de sucesso você o enfrentou? Você notou que a sua saúde se deteriorou de alguma maneira? O foco deste capítulo, e deste artigo famoso de Thomas Holmes e Richard Rahe, é a conexão entre estresse e doença. Pense por um momento para responder a esta questão: Você acredita que haja verdadeiramente um vínculo entre estresse e doença? Aposto que você respondeu com um sonoro “sim!” Mas, se eu tivesse feito a mesma pergunta há 20 ou 30 anos atrás, poucos teriam acreditado na existência de um tal vínculo. Ao longo das últimas duas décadas, a Psicologia e a Medicina estabeleceram, com um alto grau de certeza, que esta conexão de fato existe, e elas têm trabalhado para compreendê-la e intervir sobre ela. Para as ciências do comportamento, aqueles que estão prioritariamente preocupados com esta questão são denominados psicólogos da saúde. Note que o periódico em que apareceu o artigo de Holmes e Rahe trata da doença psicossomática. Doenças psicossomáticas são problemas de saúde causados principalmente por fatores psicológicos. Estas são doenças de verdade; o sofrimento, dor e desconforto existem, do ponto de vista médico. As vítimas de problemas psicossomáticos não devem ser confundidas com “hipocondríacos”, que sofrem de doenças imaginárias ou exageradas. 26 6. Emoção e Motivação – Holmes & Rahe Muitos estudos feitos pelos psicólogos da saúde mostraram que, quando ocorrem na vida das pessoas certas mudanças externas exigindo que elas façam importantes ajustes internos, psicológicos, há uma tendência de maior incidência de doença. Estas mudanças têm sido denominadas “estresse da vida”. A quantidade de estresse da vida que você experiencia varia com o tempo. Pode ter havido alguns períodos no seu passado (ou presente) em que muitas mudanças estavam ocorrendo, enquanto em outros períodos as coisas estiveram relativamente estáveis. O estresse da vida também varia muito de pessoa para pessoa. O numero total de mudanças que ocorrem na sua vida é diferente do número na vida de uma outra pessoa. Então, se eu perguntasse a você quanto estresse da vida você experienciou no ano passado, o que você diria? Muito? Não muito? Mais ou menos? Estes tipos de julgamentos vagos não tinham muita utilidade para cientistas que quisessem estudar a relação entre estresse da vida e doença. Portanto, a primeira questão nesta área de pesquisa que precisava ser respondida era: Como se pode medir o estresse da vida? Obviamente, os pesquisadores não poderiam trazer pessoas para um laboratório, expô-las por um curto período a eventos estressantes e então esperar pelo súbito aparecimento de doença. Em primeiro lugar, isto seria anti-ético e, em segundo lugar, isto não seria representativo de como o estresse atua na vida real. Para atacar este problema, Holmes e Rahe desenvolveram uma escala escrita para medir o estresse da vida. Eles reconheceram, no artigo deles, que as tentativas anteriores de examinar o nível de estresse de uma pessoa só haviam determinado o número e os tipos de eventos estressantes. Eles se propuseram a levar esta linha de raciocínio um passo adiante e desenvolver uma maneira de medir o tamanho, ou a magnitude, das várias experiências de vida estressantes. A idéia por trás disso foi a de que, se uma tal medida pudesse ser desenvolvida, então seria possível obter o escore de uma pessoa em termos de estresse de vida e relacionar isto ao estado de saúde da pessoa. MÉTODO A partir da experiência clínica deles, Holmes e Rahe compilaram uma lista de 43 eventos da vida que as pessoas, comumente, sentem que são estressntes, na medida em que requerem que a pessoa faça ajustamentos psicológicos a fim de se adaptar ao evento. Esta 27 6. Emoção e Motivação – Holmes & Rahe lista foi apresentada a cerca de 394 sujeitos, aos quais se pediu para avaliar cada evento na lista de acordo com a quantidade de estresse produzida pelo evento. Uma parte das instruções dadas aos sujeitos dizia o seguinte: Na avaliação, use toda a sua experiência para chegar à sua resposta. Isto quer dizer a experiência pessoal, quando ela se aplicar, assim como o que você tiver aprendido com outros. Algumas pessoas acomodam-se a mudanças mais facilmente do que outras; algumas pessoas ajustam-se com particular facilidade ou dificuldade apenas a certos eventos. Portanto, faça um esforço para dar sua opinião sobre o grau médio (em vez do grau extremo) de ajustamento necessário a cada evento… Atribuiu-se ao “casamento” um valor arbitrário de 500. Ao responder sobre cada um dos demais eventos, pense consigo mesmo: “Comparado com o casamento, este evento é indicativo de mais ou menos reajustamento? Para conseguir o reajustamento, seria necessário um tempo maior ou menor? Os sujeitos foram, então, instruídos a atribuir, a cada evento, um valor em pontos, tomando como base os 500 pontos atribuídos ao casamento. Se, na visão deles, um evento requeresse mais reajustamento do que o casamento, o seu valor em pontos seria maior, e vice versa. Para se obter escores para os itens separados, foi feita a média das avaliações dados pelos sujeitos a cada item e o valor foi dividido por 10. Este foi um estudo com um método bem simples e direto. A importância e o valor da pesquisa está nos resultados e nas aplicações do dispositivo de mensuração, que os autores denominaram “Escala de Avaliação do Reajustamento Social” (SRRS1). RESULTADOS A Tabela 1 enumera 43 eventos da vida, ordenados do mais ao menos estressante, bem como o valor em pontos atribuído a cada um deles pelos sujeitos do estudo. Você verá que “morte do cônjuge” foi avaliado como o mais estressante, enquanto “pequenas violações da lei” foi avaliado como o menos estressante dos itens incluídos na lista. À medida que você examinar a lista, notará que dois dos itens precisariam ser significativamente atualizados para acompanhar as mudanças econômicas ocorridas desde 1967: “financiamnto de casa própria acima de U$ 10.000,00” e “financiamento de 28 6. Emoção e Motivação – Holmes & Rahe casa própria abaixo de U$ 10.000,00”. Você também notará que nem todos os itens da lista são o que você consideraria como negativos. Contudo, eventos como Natal, casamento e, sim, até mesmo férias podem ser estressantes de acordo com a definição de estresse dada por Holmes e Rahe: necessidade de reajustamento psicológico ao evento. A fim de verificar a consistência das avaliações, os pesquisadores dividiram os sujeitosem vários subgrupos e correlacionaram as avaliações dadas por eles para alguns dos itens. Alguns destes subgrupos comparados foram homes vs. mulheres, solteiros vs. casados, com instrução superior vs. sem instrução superior, brancos vs. negros, mais jovens vs. mais velhos, nível socioeconômico alto vs. nível socioeconômico baixo; com religião vs. sem religião, etc. As correlações foram muito altas para todas as comparações entre subgrupos, indicando um forte grau de concordância entre os sujeitos. Isto significa que Holmes e Rahe podiam concluir, com um grau razoável de confiança, que esta escala podia ser aplicada a todas as pessoas com um grau de acurácia aproximadamente igual. TABELA 1 A Escala de Avaliação do Reajustamento Social POSIÇÃO EVENTO DE VIDA VALOR MÉDIO 1 Morte de cônjuge 100 2 Divórcio 73 3 Separação conjugal 65 4 Condenação à prisão 63 5 Morte de um membro próximo da família 63 6 Doença ou ferimento pessoal 53 7 Casamento 50 8 Demitido do emprego 47 9 Reconciliação conjugal 45 10 Aposentadoria 45 11 Alteração na saúde de um membro da família 44 12 Gravidez 40 13 Dificuldades sexuais 39 14 Ganho de um novo membro na família 39 15 Reorganização nos negócios 39 16 Mudança na situação financeira 38 17 Morte de um amigo chegado 37 18 Mudança para uma linha diferente de trabalho 36 19 Mudança no número de discussões com cônjuge 35 20 Financiamento de casa própria acima de U$ 10.000,00 31 21 Quitação antecipada de financiamento de casa própria ou dívida 30 22 Mudança das responsabilidades no trabalho 29 23 Filho ou filha indo morar fora de casa 29 24 Problemas com sogro, sogra, genro, nora ou cunhados 29 25 Excepcional conquista pessoal 28 26 Esposa começa a trabalhar ou pára de trabalhar 26 27 Início ou final de curso 26 1 Iniciais do nome em Inglês, Social Readjustment Rating Scale. (Nota do tradutor). 29 6. Emoção e Motivação – Holmes & Rahe 28 Mudança nas condições de vida 25 29 Revisão dos hábitos pessoais 24 30 Problema com patrão 23 31 Mudança de horário ou condições de trabalho 20 32 Mudança de domicílio 20 33 Mudança de escola 20 34 Mudança de atividades recreativas 19 35 Alteração de atividades na igreja 19 36 Mudança de atividades sociais 18 37 Financiamento de casa própria menor que U$ 10.000,00 17 38 Alteração nos hábitos de sono 16 39 Mudança no número de reuniões de família 15 40 Alteração nos hábitos alimentares 15 41 Férias 13 42 Natal 12 43 Pequenas violações da lei 11 DISCUSSÃO Holmes e Rahe observaram, em sua discussão, que havia claramento um tema comum a todos os eventos da vida enumerados na escala deles. Cada vez que um destes eventos estressantes ocorria na vida de alguma pessoa, explicaram eles, ele requeria algum grau de adaptação, mudança ou enfrentamento. “A ênfase”, escreveram eles, “está na mudança a partir de um determinado estado, e não no significado psicológico, na emoção ou no quanto um evento seria socialmente desejável” (p. 217). Isto explica porque alguns dos itens podem ser interpretados como positivos por algumas pessoas e negativos por outras, mas de qualquer modo, a mudança é requerida e o estresse é produzido. Lembre-se de que este artigo explica a pesquisa por trás do desenvolvimento de um método para a mensuração do estresse de vida. Se você quiser tentar por si mesmo, simplesmente examine a lista de cima até embaixo e faça um círculo em volta daquelas mudanças que ocorreram na sua vida ao longos dos últimos 12 meses. Cada mudança tem um certo número de pontos atribuído a ela, sendo estes pontos denominados “unidades de mudança de vida” (UMVs2). Calcule o seu total de UMVs. Isto dá a você uma estimativa da sua quantidade total de estresse de vida. Agora, calcule o seu escore. Tendo feito isto, parece que falta alguma coisa, não é mesmo? Bem, o que está faltando é o que o seu escore significa sobre sua saúde. Esta foi, afinal, a razão pela qual os pesquisadores desenvolveram a escala. 2 Em inglês, “life change units” (LCUs). (Nota do tradutor) 30 6. Emoção e Motivação – Holmes & Rahe Para tratar disto, Holmes e Rahe não pararam com o desenvolvimento da SRRS, mas continuaram a examinar, juntos e separadamente, a relação entre a escala deles e a probabilidade de doença. PESQUISA SUBSEQUENTE No final dos anos 60, a SRRS começou a ser usada em muitos estudos, como um instrumento para o exame da relação entre estresse e doença. O valor da escala residia na sua capacidade de predição da doença com base nos escores de UMVs das pessoas. Nos estudos iniciais, milhares de pessoas preencheram as SRRS e relataram seus históricos de doença. A Figura 1 ilustra graficamente os resultados gerais destes estudos (ver Holmes & Masuda, 1974). Em um outro estudo com 2500 pessoas da marinha, a SRRS foi usada para registrar UMVs para os seis meses que antecediam o embarque em viagens de serviço. Durante os seis meses de viagem, aqueles com menos de 100 UMVs relataram uma média de 1,4 doenças; aqueles com UMVs entre 300 e 400 tiveram em média 1,9 doenças; e aqueles com UMVs entre 500 e 600 sofreram 2,1 doenças (Rahe, Mahan, & Arthur, 1970). Estes e outros estudos ao longo dos anos têm, de modo geral, apoiado a afirmação de Holmes e Rahe de que a SRRS pode ajudar a predizer doenças relacionadas a estresse. Os resultados relatados aqui também darão a você uma idéia do significado do seu escore na escala. Pense a respeito do seu escore (especialmente se for alto) como um indicador importante do quanto a sua vida tem sido estressante e do impacto que o estresse poderia ter sobre sua saúde. Contudo, antes que você fique muito preocupado, precisamos discutir muitas críticas importantes que têm sido feitas à SRRS e sua capacidade de predizer doença. CRÎTICAS Desde que Holmes e Rahe desenvolveram a sua SRRS, muitos pesquisadores têm manifestado preocupações sérias sobre a acurácia e utilidade dela (ver Taylor, 1991, pp. 214-216, para uma revisão completa destas críticas). Uma das críticas feitas com mais frequência diz respeito à inclusão, na mesma escala, tanto de eventos da vida positivos e negativos, assim como à inclusão tanto de eventos que estejam sob seu controle (eventos 31 6. Emoção e Motivação – Holmes & Rahe de escolha, tais como casamento) quanto de eventos for a do seu controle (tais como a morte de um amigo). Pesquisas têm demonstrado que eventos que sejam súbitos, negativos e fora do seu controle são muito mais preditivos de doença do que mudanças de vida positivas e controláveis. Além disto, outros têm afirmado que a escala é falha porque não leva em consideração a sua interpretação de um evento particular. Por exemplo, a aposentadoria pode significar, para uma pessoa, o fim de uma carreira, ser levado para “fora do pasto”, e pode significar, para outra pessoa, a fuga da escravidão para a liberdade. Uma crítica relacionada a esta é a de que muitos dos itens são vagos, como “doença ou ferimento pessoal” (qual a severidade? qual o grau de incapacitação?) ou “mudança nas condições de vida” (para melhor? para pior? que condições?). Tem sido sugerido que uma escala mais acurada seria uma que permitisse às pessoas marcar um evento e também avaliá-lo em alguma medida de severidade. (Cohen, 1983, desenvolveu, de fato, uma escala para fazer isto, denominada “escala de estresse percebido”.) Também tem sido questionada a maneira através da qual a pesquisa tem relacionado a SRRS à doença. Quando submetida a uma análise estatísticacuidadosa, a relação preditiva entre seu escore de UMVs e doença mostra-se pequena. De fato, ela dá conta de apenas cerca de 10 por cento da variação total entre as pessoas que ficam doentes. Em outras palavras, se você examinar 1000 pessoas para ver quem fica doente em um período de seis meses, haverá uma grande variação nos fatores individuais que os levam a ficar doentes ou não. Se, então, você obtiver respostas deles à SRRS, os escores de UMVs vão explicar apenas 10% destes fatores. Esta é uma correlação estatisticamente significativa, que confirma a capacidade da SRRS de predizer doença. Contudo, esta correlação também mostra que a capacidade preditiva não é muito boa. Uma outra maneira de encarar isto é que suas chances de prever o futuro da saúde de uma pessoa serão melhores se você conhecer o escore de UMVs dela, mas serão apenas um pouco melhores. Finalmente, os estudos usando a SRRS não têm levado em consideração o número de doenças, a seriedade das doenças e nem a duração delas. Você poderia perguntar, então: se a SRRS têm sido tão severamente criticada, porque ela é tão importante e porque está neste livro? Boa pergunta. Lembre-se que 32 6. Emoção e Motivação – Holmes & Rahe alguns avanços marcantes na história da psicologia revelaram, posteriormente, algum tipo de falha ou deficiência, mas isto não diminui o impacto que eles tiveram sobre nossa visão do comportamento humano. Com relação a este trabalho de Holmes e Rahe, quem melhor se expressou foi Shelly Taylor, uma das mais importantes entre os pesquisadores em psicologia da saúde, quando escreveu, “A SRRS foi um dos avanços metodológicos marcantes no estudo do estresse; se as suas limitações estão se tornando cada vez mais evidentes, isto é porque ela é um instrumento de pesquisa extremamente necessário e que tem tido ampla utilização” (Taylor, 1991, p. 216). APLICAÇÕES RECENTES A observação de Taylor, no parágrafo anterior, não poderia ter sido mais acurada, especialmente no que se refere ao amplo e frequente uso, na literatura científica, da SRRS. É óbvio que, apesar de outros instrumentos de medida terem sido e estarem sendo desenvolvidos, a SRRS continua a ser o preferido dos pesquisadores. Pode-se dizer com segurança que, com poucas exceções, quando pesquisadores estudam estresse crônico, eles usam a SRRS. Como prova da popularidade da escala, uma enumeração dos estudos que citaram a escala de Holmes e Rahe, durante o ano mais recente para o qual esta lista estava disponível, totalizou 138 artigos! Há, neste livro, apenas um outro estudo que foi mais frequentemente citado naquele ano (ver a discussão do trabalho de Rotter na próxima seção, sobre personalidade), e estatísticas similares podem ser encontradas para virtualmente qualquer ano da última década. É impossível discutir aqui sequer uma amostra representativa destes estudos, de tal modo que uma breve menção será feita a vários artigos recentes para dar uma idéia do “sabor” da variedade de áreas de pesquisa em que se utiliza a SRRS. Um estudo que incorporava a SRRS examinou a relação entre estresse de vida e habilidades de enfrentamento de uma pessoa à maior probabilidade de lesões (Williams, 1996). Verificou-se que uma compreensão maior do vínculo entre estresse e lesão pode favorecer o desenvolvimento de estratégias para prevenir ou reduzir o risco de acidentes e lesões no esporte e outras atividades de vida. Um outro estudo muito amplo, com mais de 5000 mulheres grávidas dinamarquesas, descobriu que eventos de vida altamente estressantes aumentavam significativamente o risco de parto prematuro (Hedegaard, 33 6. Emoção e Motivação – Holmes & Rahe Henriksen, Secher, Hatch, & Sabroe, 1996). O estudo descobriu que o período da gravidez mais perigoso quanto à ocorrência de eventos estressantes situava-se entre a 16a e a 30a semana. Eles descobriram que “mulheres que tiveram um ou mais eventos de vida altamente estressantes tiveram um risco de parto prematuro 1,76 vezes maior do que aquelas que não tiveram eventos estressantes” (p. 339). É interessante que, ao contrário de muitos outros estudos, os pesquisadores não encontraram evidência de que o apoio social ajudava a reduzir este efeito específico dos eventos de vida estressantes. Finalmente, um importante estudo transcultural questionou a validade da aplicação, a outras culturas diversas, de definições e teorias ocidentais sobre o estresse (Laungani, 1996). Usando a India como um exemplo, o autor descobriu que a própria palavra “estresse” não se traduz facilmente para outras linguas, o que cria um problema para pesquisadores em culturas não ocidentais (p. 25). Ele argumenta, ainda, que a tentativa de aplicar conceitualizações ocidentais do estresse, tais como a que é revelada pela SRRS, podem não fornecer um quadro acurado da natureza e experiência do estresse para vastas porções da população mundial. Outras aplicações da SRRS para as quais podem ser encontrados estudos profissionais incluem, mas não se restringem a, consumo de cigarros, resposta imunológica, síndrome de estresse pós-traumático, esgotamento profissional3 de policiais, abuso infantil, câncer de seio, diabetes, sucesso em faculdades de medicina, doenças crônicas, efeitos da Guerra do Golfo sobre cônjuges e filhos de militares mobilizados, infecção por HIV e AIDS, efeitos psicológicos de desastres naturais, divórcio e processo de envelhecimento. CONCLUSÃO A relação entre estresse e doença, embora seja real, é complexa e não é um assunto simples de ser estudado. O próprio Rahe sugeriu que vários outros fatores presentes em cada indivíduo, além do simples escore de UMVs, devem ser considerados para predizer doença psicossomática: 1. O quanto de experiência passada você teve com eventos estressantes. 3 Em Inglês, burnout, que literalmente significa “queimar completamente”, e passou a ser usada metaforicamente para referir-se ao profissional que foi “queimado” pela profissão, ou seja, completamente 34 6. Emoção e Motivação – Holmes & Rahe 2. Suas habilidades de enfrentamento; ou seja, sua habilidade de se defender psicologicamente em momentos de estresse de vida. 3. A força de seus sistemas fisiológicos (tais como o sistema imunológico) para defendê-lo contra o estresse de vida que você não tenha capacidade de enfrentar psicologicamente. 4. Como você lida com a doença quando ela ocorre (tais como a prática de comportamentos de recuperação e de busca de ajuda médica). A psicologia e a medicina, trabalhando em conjunto, estão compreendendo melhor o componente psicológico das doenças. Tem se tornado claro para ambos os campos que o tratamento bem sucedido da doença deve envolver a pessoa inteira: mente e corpo. Amato, P. (1993). Children’s adjustment to divorce: Theories, hypotheses, and empirical support. Journal of Marriage and the Family, 55, 23-38. Cohen, S., Kamarck, T., & Mermelstein, R. (1983). A global measure of perceived stress. Journal of Health and Social Behavior, 24, 385-396. Gala, C., Pergami, A., Catalan, J., Durbano, F., Musicco, M., Riccio, M., Baldeweg, T., & Invernizzi, G. (1993). The psychosocial impact of HIV-infection in gay men, drug- users, and heterosexuals: Controlled investigation. British Journal of Psychiatry, 163, 651-659. Hedegaard, M., Henriksen, T., Secher, N., Hatch, M., & Sabroe, S. (1996). Do stressful life events affect duration of gestation and preterm delivery? Epidemiology, 7(4), 339-345. Holmes, T. H., & Matsuda, M. (1974). Life change and illness susceptibility. In B. S. Dohrenwend & B. P. Dohrenwend (Orgs.), Stressful life events: Their natureand effects. New York: Wiley. Laungani, P. (1996). Cross-cultural investigations of stress: Conceptual and methodological considerations. International Journal of Stress Management, 3(1), 25-35. Norris, F., & Uhl, G. (1993). Chronic stress as a mediator of acute stress: The case of Hurricane Hugo. Journal of Applied Social Psychology, 23, 1263-1284. Rahe, R. H., Mahan, J., & Arthur, R. (1970). Prediction of near-future health change from subject’s preceding life changes. Journal of Psychosomatic Research, 14, 401-406. Taylor, S. (1991). Health Psychology. New York: McGraw-Hill. Williams, J. (1996). Stress, coping resources, and injury risk. International Journal of Stress Management, 3(4), 209-221. desgastado ou esgotado. (Nota do tradutor) 35 6. Emoção e Motivação – Holmes & Rahe 36 0 10 20 30 40 50 60 70 80 150-199 200-299 300 ou mais Número de UMVs acumuladas no ano anterior 37% 51% 79% FIGURA 1 Relação entre unidades de mudança de vida e doença. VIDA, MUDANÇA E ESTRESSE MÉTODO RESULTADOS TABELA 1 A Escala de Avaliação do Reajustamento Social DISCUSSÃO PESQUISA SUBSEQUENTE CRÎTICAS APLICAÇÕES RECENTES CONCLUSÃO
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