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Introdução à Psicologia Cognitiva CAPITULO i EXPLORANDO A PSICOLOGIA COGNITIVA 1. O que é Psicologia Cognitiva? 2. De que modo a Psicologia evoluiu como ciência? 3. De que modo a Psicologia Cognitiva evoluiu a partir da Psicologia? 4. De que modo as outras disciplinas contribuíram para o desenvolvimento da teoria e da pesquisa na Psicologia Cognitiva? 5. De quais métodos a Psicologia Cognitiva se utiliza para estudar a maneira como as pessoas pensam? 6. Quais são as questões atuais e os vários campos de estudo dentro da Psicologia Cognitiva? Definindo Psicologia Cognitiva O que você vai estudar em um livro sobre Psicologia Cognitiva? 1. Cognição: as pessoas pensam. 2. Psicologia Cognitiva: os cientistas pensam sobre como as pessoas pensam. 3. Estudantes de Psicologia Cognitiva: as pessoas pensam sobre o que os cientistas pen sam sobre como as pessoas pensam. 4. Professores que lecionam Psicologia Cognitiva: releia os itens anteriores. Para sermosmais específicos, a Psicologia Cognitiva é o estudo de como as pessoas perce bem, aprendem, lembram-se e pensam sobrea informação. Um psicólogo cognitivopoderá estudar comoas pessoas percebem várias formas, porquese lembram de alguns fatos e se es quecemde outros, ou mesmo porque aprendemuma língua. Vejamos alguns exemplos: • Por que os objetos parecem estar mais distantes do que realmente estão em dias ne bulosos? Essa discrepância pode ser perigosa, inclusive enganando motoristas e cau sando acidentes. • Por que muitas pessoas conseguem se lembrar de uma experiência em especial, por exemplo de um momento muito feliz ou algumconstrangimento na infância, mas es quecem os nomes de pessoas que conhecem há muitos anos? 2 Psicologia Cognitiva • Porquemuitas pessoas têmmais medo de viajar de avião do que de carro? Afinal, as chances de acidente e morte são muito maiores no carro do que no avião. • Por que sempre me lembromais de alguém da minha infância do que de alguém que conheci na semana passada? • Porqueos políticos gastam tanto dinheiro comsuas campanhas na televisão? Consideremos apenas a última dessas perguntas: Por que os políticos gastam tanto di nheiro com suas campanhasna televisão? Afinal, quantas pessoas conseguem se lembrar dos detalhes das propostas políticas dos candidatos oudequemaneira essas propostas diferem das dos outros candidatos? Uma das razões pelasquais os políticos gastam tanto é a disponibili dade heurística, que vamos estudar, no Capítulo 12, em "Raciocínio e tomada de decisão". Com a utilização da heurística, podemos fazer julgamentos baseados em quão facilmente recordamos algo percebidocomo instâncias relevantesde um fenômeno (Tversky, Kahne- man, 1973). Tais julgamentos constituema questão: em quem se deve votar em umaelei ção. A tendência é votaremnomes familiares. Tom Vilsack, governador do estado de Iowa, Estados Unidos, na ocasião da campanha pelas primárias em 2008, iniciou, mas rapida mente desistiu, da competição para ser indicado como candidato à presidência dosEstados Unidos. Sua desistência não ocorreu porque suas idéias diferiamdas do partido. Ao contrá rio, o PartidoDemocratagostava muitode suaplataforma. Na verdade, Vilsack desistiu por que a falta de reconhecimento de seu nome inviabilizou o levantamento de recursos para sua campanha. Ao final, os possíveis doadores sentiram que o nome de Vilsack não tinha disponibilidade suficiente para que os eleitores votassem nele. Mitt Romney, outro candi dato republicano não tão conhecido, entrou na disputa das primárias com John McCain e Rudy Giuliani. Investiu muito dinheiro apenas para fazer comque seu nome pudesse ficar psicologicamente disponível ao grande público. A verdade é que com a compreensão da Psicologia Cognitiva, as pessoas conseguem entender muito daquilo que acontece no dia- -a-dia de suas vidas. Este capítulo introduz o campoda Psicologia Cognitiva. Descreve um pouco da histó ria intelectual do estudo do pensamento humano. Dá ênfase especial a algumas questões que surgem sempre que pensamos em como as pessoas pensam. A seguir, um breve resumo dos métodos mais importantes, das questões e das áreas temáticas da Psicologia Cognitiva. Por que estudamos a história deste campo ou de qualquer outro, então? De um lado, quando sesabe deonde se vem, pode-se compreender melhor o percurso da jornada. Porou tro, o ser humano aprende com os erros passados. Dessa forma, quando se comete algumerro, este é novo, ou seja, já não é mais igual ao anterior. Mudou-se muito a maneira de lidar com as questões fundamentais da vida. Contudo, algumas permanecem iguais. Em última análise, pode-se aprender alguma coisa sobre como aspessoas pensam estudando como pensam sobre o pensar. O avanço das idéias, muitas vezes, implica uma dialética. Dialética é umprocesso de in cremento emqueas idéias evoluem como passar do tempo pormeio de umpadrão de trans formação. Qual é este padrão?Em uma dialética: • Propõe-se uma tese. Uma tese é o enunciado de uma opinião. Por exemplo, muita gente acredita que a natureza humana governa muitos aspectos do comportamento humano, como a inteligência ou a personalidade (Sternberg, 1999). Entretanto, de pois de algum tempo, alguns indivíduos observam falhas nessa tese. • Cedo ou tarde, ou talvez logo em seguida, surge uma antítese. Uma antítese é um enunciado que contraria a primeira opinião. Por exemplo, uma visão alternativa é Capítulo 1 • Introdução à PsicologiaCognitiva 3 que nossa criação (o contexto ambiental em que somos criados) determina quase inteiramente muitos aspectos do comportamento humano. • Impreterivelmente, o debate entre a tese e a antítese conduz a uma síntese. Uma síntese integra os aspectos mais confiáveis de cada uma das duas (ou mais) visões. Por exemplo, no debate sobre a relação entre inato e adquirido, a interação entre a nossa natureza inata e o contexto ambiental pode reger a natureza humana. E importante compreender a dialética porque, às vezes, podemos pensar que, se uma opinião está certa, outra, aparentemente contrastante, então, deverá estar errada. Por exemplo, no meu próprio campo de conhecimento, ocorreu, muitas vezes, uma tendência a se acreditar que a inteligência tanto pode ser inteira ou quase totalmente determinada pela genética, ou então, que é completa ou quase inteiramente determinada pelo am biente. Um debate similar também surgiu no campo de aquisição da linguagem. Embora quase sempre, para nós, é melhor acreditar que tais assuntos não são questões excludentes por si só, mas que são apenas exames de como as forças diferentes variam e interagem umas com as outras. Na verdade, a mais recente controvérsia é que as opiniões sobre "natureza" e "criação" são incompletas. Em nosso desenvolvimento, natureza e criação operam de ma neira conjunta. Se uma síntese fizer avançar o conhecimento sobre um determinado assunto, então ser virá como uma tese nova. Emseguida, surgiráuma nova antítese, e assim por diante. Georg Hegel (1770-1831) observou essaprogressão dialética de idéias. Hegel foi um filósofo ale mão que chegou às próprias idéiaspor intermédio da dialética, sintetizando algumas das opi niões de seus antecessores e contemporâneos. Antecedentes Filosóficos da Psicologia: Racionalismo versus Empirismo Onde e como começou o estudo da Psicologia Cognitiva? Normalmente, os historiadores da Psicologia identificam suas primeiras raízes em duas abordagens diferentes para a com preensão da mente humana: • A Filosofia busca entender a natureza geral de muitos aspectos do mundo, parte por meio da introspecção, ou seja, o exame das idéias e experiências internas (íntro = para dentro; spectione = olhar, inspecionar). • A Fisiologia busca um estudo científico das funções vitais dos organismos vivos, basi camente por meio de métodos empíricos (baseados na observação). O Racionalismo e o Empirismo são duas abordagens para o estudo da mente. O racionalista acredita que o caminho para o conhecimento se dá por meio da análise lógica. Em contrapartida, Aristóteles (naturalista e biólogo, além de filósofo) foi um empirista. O em- pirista acredita que se adquire conhecimento por meio da evidência empírica, ou seja, esta evidência é obtida por intermédio da experiência e da observação (Figura 1.1). O Empirismo orienta diretamente à investigaçãoempírica da Psicologia. Ao contrário, o Racionalismo é muito importante no desenvolvimento da fundamentação teórica. As teo rias racionalistas, semqualquer ligação com a observação, não podem ser, portanto, válidas. Entretanto, grandesquantidadesde dadosempíricos, semuma estrutura teórica organizadora, também podem não fazer sentido. Podemos considerar a visão racionalista do mundo como uma tese, enquanto a visão empirista seria a antítese. A maioria dos psicólogos, atualmente, Psicologia Cognitiva FIGURA 1.1 (a) (a) Segundo oracionalista, o único caminho para a verdade éa reflexão contemplativa; (b)Segundo o empirista, oúnico caminho para a verdade é a observação meticulosa. A Psicologia Cognitiva, assim como outras ciências, depende do trabalho tanto dos racionaiistas comodos empiristas. buscam a síntese dessas duas teses. Fundamentam suas observações empíricas na teoria. Por outro lado, usam essas observações para revisar suas próprias teorias. As idéias contrastantes do Racionalismo e do Empirismo tomaram-se notórias a partir do racionalista francês René Descartes (1596-1650) e do empirista inglês John Locke (1632-1704). Descartes considerava o método introspectivo e reflexivo superior aos méto dos empíricos paraseencontrar a verdade. Locke, porsuavez, eramuitoentusiasmado com o método da observação empírica (Leahey, 2003). Locke acreditava que os seres humanos nascem sem qualquer conhecimento e, por tanto, precisam buscá-lo por meioda observação empírica. O conceito de Locke para isso é o termo tabula rasa (que em latim significa "folha de papel em branco"). Sua idéia é de que a vida e a experiência"escrevem" o conhecimento no indivíduo. Sendo assim, para Locke, o estudo da aprendizagem era fundamental para a compreensão da mente humana. Ele acre ditava que não existiamde forma alguma idéias inatas. No século XVIII, o filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804) sintetizou dialeticamente as idéias de Descartes e Locke argu mentando que tanto o Racionalismo como o Empirismo têm seu lugar e que ambos devem trabalhar juntos na buscapela verdade. Atualmente, a maioriados psicólogos aceita a sín tese de Kant. Antecedentes Psicológicos da Psicologia Cognitiva As Primeiras Dialéticas na Psicologia da Cognição Estruturalismo Uma das primeiras dialéticas na história da Psicologia ocorreu entre o Estruturalismo e o Funcionalismo (Leahey, 2003; Morawski, 2000). O Estruturalismo foi a primeira grande es coladepensamento na Psicologia, quebusca entendera estrutura (configuração dos elemen tos) da mente e suas percepções pela análise dessas percepções em seus componentes constitutivos. Consideremos, por exemplo, a percepção de uma flor. Os estruturalistas analisam essapercepção em termosde cor, forma geométrica, relações de tamanho e assim por diante. Capítulo 1 • Introdução à Psicologia Cognitiva 5 Um psicólogo alemão cujas ídeias mais tarde contribuiriam para o desenvolvimento do Estruturalismo foi Wilhelm Wundt (1832-1920). Wundt nem sempre foi considerado o fun dador da Psicologia Experimental e usava uma grande variedade de métodos em suas pesqui sas. Um deles era a introspecção. Introspecção é um olhar interior para as informações que passam pela consciência. Um exemplo são as sensações experimentadas quando se olha para uma flor. Com efeito, analisamos nossas própriaspercepções.Wundt defendia o estudo das ex periências sensoriais por meio da introspecção. Wundt teve muitos seguidores, sendo um deles o norte-americano Edward Titche- ner (1867-1927). Titchener (1910) ajudou a trazer o Estruturalismo para os Estados Uni dos. Outros psicólogos pioneiros criticaram tanto o método (introspecção) como o foco (estruturas elementares da sensação) do Estruturalismo. Funcionalismo: Uma Alternativa para o Estruturalismo Uma alternativa para o Estruturalismo sugeriaque os psicólogos deveriam concentrar-se mais nos processos do pensamento do que nos conteúdos. O Funcionalismo busca entender o que as pessoas fazem e por que o fazem. Esta pergunta principal estava em desacordo com os estru- turalistas, que queriam saber quais eram os conteúdos elementares (estruturas) da mente humana. Os funcionalistas sustentavam que a chave para o entendimento da mente humana e dos comportamentos era o estudo dos processos de como e por que a mente funciona como funciona, em vez de estudar os conteúdos e os elementos estruturais da mente. Os funcionalistas estavam unidos pelos tipos de perguntas que faziam, mas não necessa riamente pelas respostas que encontravam ou pelos métodos que utilizavam para chegar a es sas respostas. Como os funcionalistas acreditavam no uso de qualquer método que melhor respondesse às perguntas de um determinado pesquisador, parece natural que o Funcionalismo tenha levado ao Pragmatismo. Os pragmatistas acreditam que o conhecimento só pode ser va lidado por sua utilidade: o que se pode fazer com isto?Estão interessados não apenas em sa ber o que as pessoasfazem, mas também querem descobrir o que podemos fazer com o nosso conhecimento sobre o que as pessoas fazem. Por exemplo, eles acreditam na importância da Psicologiado Aprendizado e da Memória. Por quê? Porque pode nos ajudar a melhorar o de sempenho das crianças na escola. O Pragmatismo também pode nos auxiliar a lembrar o nome de pessoas que conhecemos, mas do qual nos esquecemos rapidamente. Agora, imagine-se colocando a idéia do Pragmatismo em prática. Pense so bre asmaneiras de tornar a infonnação que você está aprendendo neste livro de modo que sejam mais úteis a você. Parte desse trabalho já foi feito - veja que o capítulo começa com questões que tornam as informações mais coerentes e úteis, e o resumo retorna a essas perguntas. O texto responde de modo satisfatório às questões apresentadas no início do capítulo? Ela bore suasperguntas e suas anotações sob a formade respostas. Além disso, tente estabelecer uma relação deste material com o de outros cursos ou atividades das quais participa. Por exemplo, você pode ser chamado a ex plicar a um amigocomo funciona um programade computador. Uma boa formade começar seria perguntar a essapessoa se ela tem algumapergunta a respeito. Assim, as informações que você oferecer serão mais úteis ao seu amigo, em vezde obrigá-lo a buscar a informação de que necessita em uma exposição longa e unilateral. APLICAÇÕES PRÁTICAS DA PSICOLOGIA COGNITIVA 6 Psicologia Cognitiva Um líder na condução do Funcionalismo em direção ao Pragmatismo foiWilliam James (1842-1910). Sua principal contribuição ao campo da Psicologia foi um único livro: Prin cípios da Psicologia (1890/1970). Ainda hoje, os psicólogos cognitivos apontam, com fre qüência, os escritos de James nas discussões de questões centrais em seu campo de conhecimento, como atenção, consciência e percepção. John Dewey (1859-1952) foi mais um dos primeiros pragmatistas que influenciaram de maneira profunda o pensamento con temporâneo na Psicologia Cognitiva. Dewey é lembrado basicamente por sua abordagem pragmática acerca do pensamento e da educação. Associacionismo: Uma Síntese Integradora O Associacionismo, assim como o Funcionalismo, foi menos uma escola sistemática de Psicologia e mais uma forma de pensar influente. O Associacionismo investiga como os even tos e as idéias podem se associar na mente propiciando a aprendizagem. Por exemplo, as associações podem resultar da contiguidade (associar informações que tendem a ocorrer jun tas ou quase ao mesmo tempo), da similaridade (associarassuntoscom traços ou propriedadessemelhantes) ou do contraste (associar assuntos que parecem apresentar polaridades, como quente/frio, claro/escuro, dia/noite). No fim dos anos 1800, o associacionista Hermann Ebbinghaus (1850-1909) foi o pri meiro pesquisador a aplicar os princípios associacionistas de maneira sistemática. Ebbin ghaus estudou e observou especificamente seus próprios processos mentais. Contou os próprios erros e registrou seus tempos de resposta. Por meio de autoobservações, estudou como as pessoas aprendem e se lembram dos conteúdos por meio da repetição consciente do material a ser aprendido. Entre outras conclusões, descobriu que a repetição possibilita fi xar as associaçõesmentais de maneira mais consistente na memória. Dessa forma, a repeti ção auxilia o aprendizado (ver o Capítulo 6). Outro associacionista influente, Edward Lee Thorndike (1874-1949), sustentava que o papel da "satisfação" é a chave para a formação de associações. Thorndike chamou esse princípio de Lei doEfeito (1905): um estímulo tenderá a produzir uma determinada resposta ao longo do tempo se o organismo for recompensado com essa resposta. Ele acreditava que um organismo aprendia a responder de uma determinada maneira (o efeito) em uma dada situação se fosse constantemente recompensado por isso (a satisfação, que serve como estí mulo para ações futuras). Assim, uma criança que recebe uma recompensa por resolver cor retamente problemas de aritmética, irá aprender a fazê-lo sempre assim, porque estabelece uma associação entre a solução válida e a recompensa. Do Associacionismo ao Behaviorismo Outros pesquisadores contemporâneos de Thorndike conduziram experimentos com ani mais para investigar as relações de estímulo e resposta com métodos diferentes dos utilizados por Thorndike e seus colegas associacionistas. Esses cientistas transpuseram a linha entre o Associacionismoe o campo emergente do Behaviorismo. O Behaviorismo é uma perspectiva teórica segundo a qual a Psicologia deveria se concentrar apenas na relação entre o com portamento observável, de um lado, e os eventos ou estímulos ambientais, de outro. A idéia era materializar o que quer que tenha sido denominado de "mental" (Lycan, 2003). Alguns desses pesquisadores, como Thorndike e outros associacionistas, estudaram respostas volun tárias (embora, talvez, carecessem de algum pensamento consciente, como no trabalho de Thorndike). Outros estudaram respostas desencadeadas involuntariamente em resposta ao que parecem ter sido eventos externos não relacionados. Capítulo 1 • Introdução à Psicologia Cognitiva 7 Na Rússia,o fisiologista ganhador do Prêmio Nobel, Ivan Pavlov (1849-1936) pesquisou esse tipo de comportamento de aprendizado involuntário, começando com a observação de cachorros salivando ao, simplesmente, verem o técnico do laboratório que os alimentava. Essa respostaocorria antes mesmoque os cachorros vissem se o técnico lhes trazia comida ou não. Para Pavlov, essa resposta indicava uma forma de aprendizado: o aprendizado clássico condicionado, sobre o qual os cachorros não tinham qualquer controle consciente..Na mente deles, algum tipo de aprendizado involuntário relacionava o técnico à comida (Pavlov, 1955). O extraordinário trabalho de Pavlov abriu caminho para o desenvolvimento do Behaviorismo. O condicionamento clássico compreende mais do que uma simples associa ção combasena contiguidade temporal, por exemplo, a comidae o estímulo condicionado que ocorriam quase ao mesmo tempo (Rescorla, 1967). O condicionamento eficaz requer contingência, por exemplo, a apresentação de comida sendo contingente com a apresenta ção do estímulo condicionado (Rescorla e Wagner, 1972;Wagner e Rescorla, 1972). O Behaviorismo pode ser interpretado como uma versão extrema do Associacionismo, que se concentra inteiramente na associação entre o ambiente e umcomportamento obser vável. Segundo alguns behavioristas radicais, quaisquer hipóteses a respeito de pensamen tos e formas de pensar internas são mera especulação. Os Proponentes do Behaviorismo O "pai" do Behaviorismo radical foi John Watson (1878-1958). Watson não via qualquer utilidade para os conteúdos ou mecanismos mentais internos e acreditava que os psicólogos deveriam se concentrar apenas no estudo do comportamento observável (Doyle, 2000). Eledescartouo pensamento como fala subvocalizado. O Behaviorismo era tambémdiferente dos movimentos anteriores da Psicologia por redirecionar a ênfase da pesquisa experimental em animais ao invés de humanos. Historicamente, grande parte do trabalho behaviorista tem sido até hoje realizada com animais de laboratório, como ratos, por possibilitarem um controle muito maior sobre os relacionamentos entre o ambiente e o comportamento em relação a ele. Contudo, um problema com relação à utilização de animais é determinar se a pesquisa pode sergeneralizada em seres humanos (ou seja, aplicada de forma mais geral a seres humanos ao invés de apenas aos tipos de animais estudados). B. F. Skinner (1904-1990), behaviorista radical, acreditava que quase todas as formas do comportamento humano, e não apenas o aprendizado, podiam ser explicadas por compor tamentos emitidos em resposta ao ambiente. Skinner desenvolveu pesquisas basicamente com animais não-humanos e rejeitou os mecanismos mentais, acreditando, por outro lado, que o condicionamento operante - que envolvia o fortalecimento ou o enfraquecimento do comportamento, dependente da presença ou ausência de reforço (recompensa) ou punição - pudessem explicar todas as formas do comportamento humano. Skinner aplicou sua aná liseexperimental do comportamento a muitos fenômenos psicológicos, tais como a aprendi zagem, a aquisição da linguagem e a resolução de problemas. Principalmente por causa da presença intensa de Skinner, o Behaviorismo dominou o campo de estudosda Psicologia por muitas décadas. Os Behavioristas se Atrevem a Espiar Dentro da Caixa Preta Alguns psicólogos rejeitaram o Behaviorismo radical. Tinham muita curiosidade em saber o que havia nessa caixa misteriosa. Por exemplo, Edward Tolman (1886-1959) acreditava que, para entender o comportamento, era necessáriose levar em conta o propósitoe o plano para o comportamento. Tolman (1932) acreditava que todo comportamento era dirigido a algum objetivo. Por exemplo: o objetivo de um rato em um labirinto de laboratório seria o de encontrar comida dentro desse labirinto. Tolman é tido, por vezes, como um precursor da moderna Psicologia Cognitiva. 8 PsicologiaCognitiva Outra crítica ao Behaviorismo (Bandura, 1977b) é que, nele, o aprendizado surge não apenas em função de recompensas diretas pelo comportamento. Também pode ser social, resultando de observações das recompensas ou punições dadas aos outros. A capacidade para aprender por meio da observação está bem documentada e pode ser comprovada em seres humanos, macacos, cães, pássaros e até mesmo em peixes (Brown, Laland, 2001; La- land, 2004; Nagell, Olguin, Tomasello, 1993). No ser humano, essa habilidade está pre sente em todas as idades, sendo observada tanto em crianças como em adultos (Mejia-Arauz, Rogoff, Paradise, 2005). Essa teoria dá ênfase à maneira como se observa, se modela, o pró prio comportamento a partir do comportamento dos outros. Aprendemos pelo exemplo. Esta consideração de aprendizado social abre caminho para se examinar o que está aconte cendo na mente do indivíduo. Psicologia da Gestalt Dentre os inúmeros críticos do Behaviorismo, os psicólogos da Gestalt certamente estão entre os mais ávidos. A Psicologia daGestalt afirma que se compreende melhor os fenôme nos psicológicos quando se olha para eles como todos organizados e estruturados. Se gundo essa visão, não se pode compreender totalmente o comportamento quando se desmembram os fenômenos em partes menores. Por exemplo, os behavioristas têm a ten dência de estudar a resolução de problemas buscando o processamento subvocal - eles buscam o comportamento observávelpor meio do qual a resolução do problema pode ser compreendida. Os gestaltistas, ao contrário, estudam o insight, buscando entender o evento mental não observável por meio do qual alguém vai do ponto em que não tem idéia de como resolver um problema até o ponto em que entende completamente em um simples instante de tempo. A máxima "o todo é diferente da soma de suas partes" resume muito bem a perspectiva gestaltista. Para entender a percepção de uma flor, por exemplo, teríamos de levar em conta o todo da experiência. Não se poderia entender essa percepção em termos de uma descri ção de formas, cores, tamanhos e assim por diante. Da mesma forma, como mencionado no parágrafo anterior, não poderíamos entender a resolução de problemas simplesmente exa minando os elementos isolados do comportamento observável (Kõhler, 1927, 1940; Wer- theimer, 1945/1959). O Surgimento da Psicologia Cognitiva Uma abordagem mais recente é o Cognitifismo, ou seja, a crença de que grande parte do comportamento humano pode ser compreendida a partir de como as pessoas pensam. O Cognitivismo é, em parte, uma síntese das formas anteriores de análise, como o Behavio rismo e o Gestaltismo. Da mesma forma que o Gestaltismo, a Psicologia Cognitiva utiliza uma análise quantitativa precisa para estudar como as pessoas aprendem e pensam. O Papel Inicial da Psicobiologia Ironicamente, um dos ex-alunos de Watson, Karl Spencer Lashley (1890-1958), questionou de forma contundente a teoria behaviorista de que o cérebro é um órgão passivo que simples mente reage às contingências comportamentais fora do indivíduo (Gardner, 1985). Ao con trário, Lashleyconsidera o cérebro como um organizadorativo e dinâmico do comportamento. Capítulo 1 • Introdução à Psicologia Cognitiva 9 Lashley buscavaentender de que maneira a macro-organização do cérebro humano tomava possível a execução de atividades planejadas tão complexas como apresentações musicais, jogos e o uso da linguagem. Nenhuma delas, em sua opinião, poderia ser prontamente explicável em termos de condicionamento simples. Na mesma linha, mas em um nível de análise diferente, Donald Hebb (1949) propôs o conceito de conjuntos de células como base para o aprendizado no cérebro. Esses conjuntos são estruturas neurais coordenadas que se desenvolvem por meio da estimulação freqüente. Eles se desenvolvem ao passar do tempocoma capacidade de um neurônio (célulanervosa), ao ser estimulado, disparar outro neurônio conectado. Os behavioristas não aproveitaram esta rara oportunidade para concordar com Lashley e Hebb. Na verdade, o behaviorista B. F. Skinner (1957) escreveu um livro inteiro descrevendo como a aquisição e o uso da lingua gem poderiam serexplicados unicamente em termos de contingências ambientais. Esse tra balho levoua estrutura teórica de Skinner longedemais, deixando-o livrepara sercontestado. E tal contestaçãoestavaa caminho.O lingüista NoamChomsky (1959) fez duras críticas às idéias deSkinner.Emseuartigo, Chomsky ressaltou tanto a basebiológica comoo potencial criativoda linguagem, apontando para a infinitaquantidade de sentençasque podemos pro duzir com facilidade. Sendo assim, desafiou as teorias behavioristas de que a linguagem é aprendidapor intermédio do reforçamento: até mesmo crianças bem jovensproduzem novas sentençasa todo o momento,asquais não poderiam ter sidoreforçadas no passado. Chomsky afirmou que o entendimento da linguagem não está condicionado tanto pelo que já se ou viu, mas, ao contrário, pelo Dispositivo InatodeAquisição de Linguagem (DAL) que todos os seres humanos possuem. Esse dispositivo possibilita ao bebê utilizar o que escuta para inferir a gramática de seu ambiente lingüístico. Em especial, o DAL limita ativamente o númerode construções gramaticais possíveis. Assim sendo, é a estruturada mente, e não a estrutura das contingências ambientais, que orienta a nossa aquisiçãoda linguagem. Acrescentando uma Pitada de Tecnologia: Engenharia/ Computação e Psicologia Cognitiva Aplicada No fim da décadade 1950, alguns psicólogos estavam intrigados pela incômoda idéiade que as máquinas poderiam serprogramadas parademonstrar o processamento inteligente da in formação (Rychlak, Struckman, 2000). Turing (1950) sugeriu que, em pouco tempo, seria difícil distinguir a comunicação das máquinas da dos seres humanos. Ele sugeriu um teste, atualmente chamado de Teste de Turing, pelo qual um programade computador poderia ser consideradobem-sucedido à medidaque o seu resultadofosse indistinguível, peloserhumano, do resultado de testes realizados com seres humanos (Cummins, Cummins, 2000). Em outras palavras, suponhaque você se comunicasse com umcomputador e não soubesse que este era umcomputador. O computador, então, teria passado noTeste deTuring (Schonbein, Betchel, 2003). Por volta de 1956,um novo termo entrou para o nosso vocabulário: Inteligência Arti ficial (IA), queé a tentativado ser humano de construir sistemas quedemonstrem inteligên cia, em especial, o processamento inteligente da informação (Merriam-Websters Colkgiate Dictionary, 1993). Exemplos de IA sãoosprogramas de jogo de xadrez, queconseguem vencer os seres humanos, na grande maioria das vezes. Muitos dos psicólogos cognitivos interessaram-se pela Psicologia Cognitiva pormeiode problemas aplicados. Por exemplo, segundo Berry (2000), Donald Broadbent (1926-1993) dizia ter desenvolvido o interesse pela PsicologiaCognitiva por causa de um problema re lacionado a aeronave AT6. Estes aviões possuíam duas alavancas quase idênticas sob o 10 Psicologia Cognitiva assento. Uma servia para erguer as rodas e a outra, para levantar os aerofólios. Aparente mente, quase todos os pilotos confundiam as duas e, consequentemente, acabaram cau sando enormes prejuízos com acidentes na decolagem de seus aviões. Durante a Segunda Guerra Mundial, muitos psicólogos cognitivos, inclusive um de meus mentores, Wendell Garner, reuniu-se com os militares para resolver problemas práticos da aviação e de ou tras áreas, especialmente por causa da guerra contra forças inimigas. A teoria da informa ção, que buscavaentender o comportamento das pessoas sobre como elas elaboram os tipos de elementos de informação processada pelos computadores (Shannon, Weaver, 1963), cresceu também em decorrência dos problemas de engenharia e da informática. A Psicologia Cognitiva Aplicada também foi de grande utilidade para a publicidade. John Watson, apósdeixar o cargo de professor na Johns Hopkins University, tornou-se um executivo extremamente bem-sucedido em uma agência de propaganda, tendo utilizado os seus conhecimentos de Psicologia para alcançar o sucesso. Na realidade, na propaganda, utiliza-se muito, diretamente, os princípios da Psicologia Cognitiva para atrair clientes para os produtos, às vezes suspeitos, outros não (Benjamin, Baker, 2004). No início da década de 1960,os avanços na Psicologia, na Lingüística, na Antropologia e na IA, bem como as reações ao Behaviorismo por parte de muitos profissionais renomados da área de Psicologia, convergiram para criar uma atmosfera madura para a revolução. Os primeiros cognitivistas (como Miller, Galanter, Pribram, 1960; Newell, Shaw, Si- mon, 1957b) afirmavam que as teorias behavioristas tradicionais sobre o comportamento eram inadequadas, principalmente porque não falam sobre como as pessoas pensam. Um dos primeiros e mais famosos artigos sobre Psicologia Cognitiva foi sobre "o mágico nú mero sete". George Miller (1956) pontuou que o número sete aparecia em diferentes mo mentos da Psicologia Cognitiva, como na literatura sobre a percepção e a memória, e, assim, imaginou se havia algum significado oculto nessas freqüentes ocorrências. Por exem plo, descobriu que a maioria das pessoas é capaz de se lembrar de cerca de sete itens de informação. Nesse trabalho, Miller introduziu também o conceito da capacidade de canal, ou seja, o limite superior no qual um observador consegue combinara resposta para a informa ção que lhe for oferecida. Por exemplo, caso você consiga se lembrar de sete dígitos que lhe sejam apresentados em seqüência, nesse caso sua capacidade de canal para memorizar números será o "sete". O li vro de Ulric Neisser, Cognitive Psychology (Neisser, 1967), foi bas tante importante ao divulgar a importância do Cognitivismo —que estava em desenvolvimento - aos alunos de graduação, pós-gradua ção e ao ambiente acadêmico em geral. Neisser definiu a Psicologia Cognitiva como o estudo de como as pessoas aprendem, organi zam, armazenam e utilizam o conhecimento. Posteriormente, Allen Newell e Herbert Simon (1972) acabaram por propor modelos deta lhados do pensamento humano, bem como da resolução de proble mas, desde os mais simples até os mais complexos. Por volta de 1970, a Psicologia Cognitiva já era reconhecida como importante campo de estudos da Psicologia, dispondo de um conjunto específico de mé todos de pesquisa. Na década de 1970, Jerry Fodor (1973) popularizou o conceito da modularidade de mente. Argumentava que a mente possui módu losdistintos ou sistemas de escopos diversos para tratar da linguagem Ulric Neisseré profes sor emérito da Cometi University. Seu livro, Cognitive Psychology, foi fundamental para o lançamento darevolução cognitivista na Psicologia. Neisser foi também umdos grandes defensores de uma abordagem ecológica da cognição, tendodemons trado a importância do estudo doprocessamento cognitiuo em contextos ecologicamente válidos. (Foto: Cortesia de Dr. Ulric Neisser) Capítulo 1 • Introdução à Psicologia Cognitiva 11 e, possivelmente, de outros tipos de informação. A modularidade implicaque os processos que sãousados em umdomínio de processamento, como o da linguagem (Fodor, 1973), ou da percepção (Marr, 1982), operam independentemente dosprocessos em outrosdomínios. Uma opiniãocontrária seria a do processamento de domínio geral, segundo a qual ospro cessos que se aplicam a um domínio - como a percepção ou a linguagem - aplicam-se a muitos outros domínios também. As abordagens modulares são úteis no estudo de alguns fenômenos cognitivos, como a linguagem, mas não sãocomprovadamente úteis no estudo de outros fenômenos, como a inteligência, que parece estar ligada às inúmeras e diferen tes áreas do cérebro em intrincados inter-relacionamentos. Métodos de Pesquisa em Psicologia Cognitiva Objetivos da Pesquisa Para melhor entender osmétodos específicos usados pelospsicólogos cognitivosdeve-se, em primeiro lugar, compreender os objetivos da pesquisa em Psicologia Cognitiva, alguns dos quais destacamos aqui. Demodo resumido, esses objetivos compreendem a coleta e a aná lise de dados, o desenvolvimento de teorias, a formulação e a testagem de hipóteses, e até mesmo a aplicação em ambientes fora do contexto da pesquisa. Com freqüência, os pesqui sadores buscam apenas coletara maior quantidade possível de informações a respeito de um determinado fenômeno, podendo ter ou não noções preconcebidas em relação àquilo que poderão encontrar durante a coleta dos dados. Tal pesquisa concen tra-se na descrição de determinados fenômenos cognitivos como, por exemplo, a maneira como as pessoas reconhecem fisionomias ou de senvolvem habilidades. A coleta de dados e a análise estatística auxiliam os pesquisado res na descrição dos fenômenos cognitivos. Nenhuma empreitada científica iria muito longe sem essas descrições. Todavia, a maioria dos psicólogos cognitivos deseja entender mais do que o que da cog nição. A maioria deles também procura entender o como e o porquê do pensamento. Ou seja, os pesquisadores buscam formas de expli car e de descrever a cognição. Para ir além das descrições, os psicó logos cognitivos precisam dar um salto, passando daquilo que se observa diretamente para aquilo que pode ser inferido com relação às observações. Suponha que se queira estudar um determinado aspecto da cog nição. Um exemplo seria o modo como as pessoas compreendem a informação contida em um livro didático. Geralmente, inicia-se com uma teoria. Uma teoria é um corpo organizado de princípios expla- natórios relativos a um fenômeno com base na observação. Busca-se testar uma teoria e, por meio desta, verificar se tem o poderde pre ver determinados aspectos do fenômeno em questão. Em outras pa lavras, nosso processo de pensamento é "se nossa teoria for correta, então sempre que 'x' ocorrer, o resultado deverá ser 'y"\ Esse pro cesso resulta na geração de hipóteses, proposições experimentais em relação às conseqüências empíricas esperadas dessa teoria, como os resultados da pesquisa. Herbert. A. Simonfoi professor deCiênciada Computação e Psicolo giana Camcgie-bÁetion University. E famoso por seu trabalho pioneirocom Ailen Newell e outros na construção e na testagemde modelos de computador que simulavam o pensamento humano,bemcomo pelos testes experimentais desses modelos. Foi também importante defensor dos protocolos "de pensar em vozalta" parao estudo do processamento cognitivo. Símonfaleceu em2001. (Foto: Cortesia deCamegie- -Melíon University Arckives) 12 Psicologia Cognitiva A seguir, testam-se as hipóteses por meio da experimentação. Mesmoque determi nadas conclusões pareçam confirmar uma hipótese dada, elas deverão ser submetidas à análise para determinar sua significância estatística. A significância estatística indica a probabilidade de que umdeterminado conjunto de resultados venha a serobtido apenas se houver fatores aleatórios em ação. Por exemplo, um nível 05 de significância estatís tica significaria que a probabilidade de um determinado conjunto de dados seria de ape nas 5%, se somente fatores aleatórios estivessem operando. Assim sendo, os resultados não parecem ser apenas em virtude do acaso. Por meio desse método, pode-se decidir aceitar ou rejeitar hipóteses. Uma vez que as previsões hipotéticas tenham sido testadas experimentalmente e ana lisadas estatisticamente, as conclusões desses experimentos poderão conduzir a outros tra balhos. Por exemplo, um psicólogo pode se engajar em mais coletas e análises de dados, desenvolvimento de teorias, formulação de hipóteses e testagem de hipóteses. Com base nas hipóteses que tenham sido aceitas e/ou rejeitadas, a teoria deverá ser revista. Além disso, muitos psicólogos cognitivos têm esperança de usar os conhecimentos obtidos por meioda pesquisa para auxiliar as pessoas a utilizarem a cognição em situações reais. Algumas pesquisas em Psicologia Cognitiva são aplicadas, desdeo seu início, na tentativa de ajudar as pessoas a melhorarem as próprias vidas, assim como as condições emque vivem. Assimsendo, a pesquisa básica pode conduzir às aplicações cotidianas. Para cada um desses propósitos, existem diferentes métodos de pesquisa que oferecem vantagens e desvanta gens diferenciadas. Métodos de Pesquisa Característicos Os psicólogos cognitivos usam vários métodos para explorar como os seres humanos pen sam. Esses métodos são: (a) experimentos de laboratórioou outros experimentos controla dos; (b) pesquisa psicobiológica; (c) autoavaliações; (d) estudos de caso; (e) observação NO LABORATÓRIO DE GORDON BOWER ESPECIALISTAS EM DIVIDIR PARA CONQUISTAR Cresci numa pequena ci dade do estado de Ohio, onde passei centenas de horas jogando beisebol. Meu treinador mais ve lho, Dean Harrah, con seguia lembrar - com admirável precisão - de todos os jogos de beisebol de todos os tempos. Dean conseguia se lembrar até mesmo de jo gadas insignificantes de uma partida, como o turno, o número de eliminações, contagem de arremessos, de lances e até da localização dos interceptadores, enquanto vislumbrava todas as sinalizações de "bate-e-corre" (hit-and-run) de uma partida jogada há três semanas. Sua capacidade para recordar detalhes dos jogos era simplesmente assombrosa. Entretanto, era conhecido por esquecer-se da maioria das outras coisas, como seus compromissospes soais, as compras de supermercado e tudo o mais que a sua esposa lhe pedia. Dean tinha um amigo, Claude, enxadrista fanático que, como ele, possuía uma memória espantosa. Claude jogava xadrez muitíssimo bem e tam bém conseguia se lembrar de todas as jogadas de todos as partidas que havia jogado em me ses. Todavia, Claude não conseguia se lembrar de coisassimples, como a tabela periódica de elementos das aulas de química durante o colegial. Deane Claudenão sabiam me expli car como faziam o que faziam, apenas que ambos "enxergavam" eventossignificativos em sua totalidade durante o desenrolar de uma partida. Tais lembranças prodigiosas convi vendo na mesma cabeça ao lado de péssimas Capítulo 1 • Introdução à Psicologia Cognitiva 13 NO LABORATÓRIO DE GORDON BOWER (continuação) recordações sempre me fascinaram. Foi este um dos inúmerosquebra-cabeças da vida coti diana que me motivaram para o estudo da Psi cologia da memória humana. Meu espanto aumentou ainda mais quan do pesquisadores me informaram o quão, ge ralmente, é limitada a memória das pessoas. Especificamente, o ser humano é seriamente limitado com relação à quantidade de coisas que pode absorver e reter na memória, mesmo que por pouco tempo, e, consequentemente, de como consegue rapidamente absorver uma nova informação na memória permanente. Mas, o que são essas "coisas" que se absorve? O psicólogo George Miller (1956) batizou-as de "pedaços" (chunks) de informação e propôs que a memória imediata das pessoas está limi tada pelo número de "pedaços"que conseguem absorver e recordar. Sempre me perguntei se as prodigiosas memórias de Dean e Claude estavam associadas com um conhecimento interno de como fracionar a informação que tivesse significado especial para eles. A afirmação de Miller me levou a ques tionar: O que é um "pedaço" de informação? Qual o tamanho desses "pedaços"? O que de termina o seu tamanho e suas propriedades? Os seus "pedaços" são iguais aos meus? Como mensurar os "pedaços"? A noção intuitiva é de que um "pedaço" é um padrão de elementos básicos que o indi víduo aprendeu anteriormente. Essespadrões podem ser identificados em vários níveis de complexidade —de pequenos a grandes. Por exemplo, a frase "feliz ano-novo" (happy new year) é, para a maioria das pessoas que falam inglês, nada mais do que um pedaço composto de três subpedaços familiares (palavras), que, por sua vez, são compostos de 12 subpedaços familiares (letras) e dois espaços - 14 símbolos ao todo. Suponhamos, todavia, que os 14 sím bolos sejam dispostos em uma página como "Feli-ianono-vo" (ha-ppyyne-wyear). Esta sé rie de letras agora parece não ter sentido e seria muito difícil de ser aprendida. Contudo, qualquer indivíduo que fale outra língua e que não tenha qualquer conhecimento do alfa beto inglês, diria que ambas as séries não têm sentido e são difíceis de memorizar. O que um pedaço é só depende do aprendizado an terior de um indivíduo. Assim sendo, a dificuldade de se recordar de algumacoisadepende de como ela é perce bida, como é dividida em pedaços. Porém, que princípios o cérebro humano utiliza para divi dir elementos em grupos perceptivos? Um.importante princípio de agrupamento é o quanto esses pedaços estão próximos em termos de tempo e de espaço. Assim, os espa ços vazios (traços) em IC-BMIC-IAF-BI fazem com que as pessoas vejam a série de pedaços de 2, 4, 3 e 2 letras, respectivamente. Esses agrupamentos apreendem a percepção e são copiados na memória imediata do indivíduo. Além disso, se um estudante precisasse es tudar e tentar reproduzir um número de tais seqüências repetidamente, ele(a) iria, ao final, recordar a série em pedaços "tudo-ou-nada". Ou seja, a maioria dos erros de recordação iria surgir enquanto se tentasse mover a re cordação entre os pedaços (nas transições C para B, C para I e F para B). Um segundo princípio do agrupamento é que os elementos assemelhados ou com sono ridade parecida serão agrupados juntos. Por exemplo, letras em tamanho, forma (fonte) e cor semelhante serão agrupadas juntas e lem bradas enquanto unidades. Assim como a proximidade no espaço e a aparência influenciam o agrupamento visual, a proximidade no tempo e a qualidade dos sons influenciam o agrupamento de palavras faladas e das notas musicais. Dessa maneira, ouvir a série de letras acima serem ditas com pausas entre os grupos fará com que as pessoas adotem o fracionamento e se recordem desses grupos. Agrupamentos semelhantes viriam à tona caso os pedaços fossem semelhantes ao serem falados por vozes distintas ou vindos de locais diferentes. Esses agrupamentos auditivos expressam o hábito das pessoasde falar núme ros de telefones em uma cadência - 3-3-4, por exemplo, em 555-123-4567 - e são trazidas a uma complexidade magnífica nos sofisticados tempos e ritmos da música. Então, o que esse fracionamento tem a ver com a aprendizagem e a memória? Tudo. Elaborei uma hipótese de que a maneira mais rápida para se aprender alguma coisa é estu dá-la e reproduzi-la repetidamente usando a mesma estrutura de fracionamento de um momento para o outro. Desse modo, para {continua) 14 Psicologia Cognitiva NO LABORATÓRIO DE GORDON BOWER (continuação) aprender a reproduzir a seqüência IC-BMCI- AFB-I, o melhor é estudar exatamente esses pedaços na mesma ordem a cada vez. Nossas experiências com estudantes universitários mostraram que eles acumulam muito pouco ou nenhum ensinamento de uma série de seqüên cias diferentes, caso mudássemos os agrupa mentos toda vez que eles fossem estudá-los. Assim sendo, para a nossa série de exemplos anteriores, os estudantes iriam provavelmente perceber um agrupamento diferente das letras, como por exemplo I-CBM-CI-AF-B1 ou ICB- MC-IAFB-I, enquanto uma nova seqüência de letras, fazendo com que se lembrassem ime diatamente dela, quase tão sofrível quanto no momento em que a seqüência foi apresentada pela primeira vez. Essa falha seria devida ao fato de estarem confusos sobre onde colocar os espaços ou pausas no momento em que repro duziamas séries? Claro que não, porque sabiam que precisavam se lembrar apenas das letras e não dosespaços. Além do mais, o déficit foimais ou menos igual quando simplesmente conta mos as letras corretas, independentemente da ordem em que os estudantes as lembravam. Em suma, o estudo repetitivo só auxilia, prin cipalmente quandoo material é fracionado da mesma maneira de uma ocasião para a outra. Uma das implicações do resultado deste fracionamento constante é que as pessoas irão rapidamente reconhecer e reproduzir qualquer seqüênciade símbolos que se ajuste aos pedaços que elas já sabem ou que lhes sejam "familia res". Por exemplo, se nosso modelo de seqüên cia de letras for agrupado como ICBM-CIA-FBI, os alunos reconhecerão com facilidade as abre viações familiares e prontamente relembrarão de toda a série. (Alguns leitores poderão já ter reconhecido esses acrônimos). Esta obser vação ilustra um princípiosimples e muito po deroso: a memória humana opera com muito mais eficiência quando usa o aprendizado ante rior para reconhecer pedaçossemelhantes con tidos nos materiais a serem aprendidos. Ao reconhecer e explorar pedaços familiares, um indivíduo experiente reduz enormemente o volume do novo aprendizado requerido para dominar o novo material. Grande parte da pe rícia em muitos domínios de habilidades - da leitura de palavras à compreensão de fórmulas químicas, equações matemáticas, fragmentos musicais, sub-rotinasde programação de com putadores e, sim, até mesmoaos fatos ocorri dos nas partidas de beisebol de Dean ou das posições das peças de xadrezde Claude - tudo isso dependeda capacidadedo cérebrode reco nhecer e explorar os pedaços previamente aprendidos e rapidamente acessara nova situa ção que se apresenta. Essa técnica se desen volve lentamente durante centenas de horas de estudo concentradodos padrões recorrentes em determinados domínios. O benefício dessa prática muito específica explicade que modo a memória hábil em um domínio, tal como o beisebol para Dean ou o xadrez para Claude, podem facilmentecoexistirao ladode recorda ções débeis domínios não relacionados, como compromissosdiários ou aulas de química. O valor do fracionamento consistente aplica-se ao "aprendizado reprodutivo", quan do se tenta reproduziruma série de itens arbi trários. Esse aprendizado nos é geralmente solicitado. Por outro lado, para o aprendizado superior de domínios conceitualmente mais ricos, há as vantagens em se inter-relacionar os agrupamentos em classificações por cortes transversais. Por exemplo, embora os agrupa mentos constantes de fatos sobre categorias como política, economia e o exército possam auxiliar um aluno a lembrar de fatos sobre a Guerra Civil Americana, uma melhoria no entendimento e na memória poderia advir pelo inter-relacionamento e pela interassocia- ção de fatos por meio dos domínios, por exem plo, observar os objetivos políticos utilizados por uma campanha militar, como a famosa "Marcha para o Mar",que o General Sherman conduziu pelos estados do sul. O benefício dessas inter-relações conceituais será um tó pico abordado mais adiante. Capítulo 1 • Introdução à Psicologia Cognitiva 15 naturalística; e (0 simulações por computador e IA (ver Quadro 1.1 para descrições e exem plos da cada método). Como mostra o Quadro 1.1, cada método oferece vantagens e desvantagens. Experimentos com o Comportamento Humano Nos projetos experimentais controlados, o pesquisador conduz a pesquisa geralmente em um ambiente laboratorial. Ele controla o maior número possível de aspectos da situação experimental. Basicamente, existem dois tipos de variáveis em um determinado experi mento. As variáveis independentes são aspectos de uma investigação, manipulados de modo individual ou cuidadosamente regulados pelo experimentador, ao mesmo tempo em que outros aspectos da investigação são mantidos constantes (ou seja, não sujeitos a variação). As variáveis dependentes são respostas de resultados, os valores dos quais dependem da forma que uma ou mais variáveis independentes venham a influenciar ou afetar os participantes do experimento. Sempre que se diz a alunos participantes da pesquisa que se sairão muito bem em uma tarefa, mas não se diz algo aos outros participantes, a variável independente é o volume de informaçãodada aos alunos a respeito de seu esperadodesempenho.A variável dependente é a maneira como quão bem ambos os grupos se saem em suas tarefas, ou seja, suas notas na prova de matemática. Sempre que o pesquisador manipula as variáveis independentes, ele controla os efeitos das variáveis irrelevantes e observa os efeitos das variáveis dependentes (resultados). Tais variáveis irrelevantes mantidas constantes são chamadas de variáveis decontrole. Outro tipo de variável é a variável expúria, um tipo de variável irrelevante que não tenha sido contro lada durante um experimento. Por exemplo, imagine que se queira examinar a eficáciade duas técnicas de resolução de problemas. Treina-se e testa-se um grupo sob a primeira estra tégia às 6 horas e, um segundo grupo, sob a segunda estratégia, às 18 horas. Nesse experi mento, o horário do dia seria uma variável expúria. Em outras palavras, a hora do dia pode causar diferenças no desempenho que não têm nada a ver com a estratégia de resolução do problema. Obviamente, quando se conduz uma pesquisa, todo cuidado é necessário para se evitar a influência das variáveis expúrias. Ao implementar um método experimental, o pesquisador precisa utilizar uma amostra aleatória e representativa da população de interesse. Deve exercer controle rigoroso sobre as condições do experimento bem como designar, também de maneira aleatória, os partici pantes para o tratamento e as condições de controle. Se esses requisitos para o método ex perimental forem preenchidos, o pesquisador poderá inferir causalidade provável. Esta é a inferência dos efeitos da variável ou variáveis independentes (tratamento) sobre as variá veis dependentes (resultado) para uma determinada população. Muitas e diferentes variáveis dependentes são utilizadas em pesquisa cognitivo-psicoló- gica. Duasdas mais comuns são o percentual de correlação (ou seu elemento inverso, a taxa de erro) e o tempo de reação. E importante selecionar, com muito cuidado, os dois tipos de variáveis, porque independente de qual processo se esteja observando, o que se apreende de um experimento dependerá quase que exclusivamente das variáveis escolhidas para iso lar o comportamento que está sendo observado. Os psicólogos que estudam os processos cognitivos, como o tempo de reação, geral mente utilizam-se do método da subtração, que compreende estimar o tempo que um pro cesso cognitivo leva pela subtração da quantidade de tempo que o processamento da informação leva com o processo a partir do tempo que ele leva sem o processo (Donders, 1868/1869). Por exemplo, quando se é solicitado a examinar as palavrascachorro, gato, rato, hamster, esquilo e informar se a palavra esquilo aparece no exame para depois examinar as 16 Psicologia Cognitiva QUADRO 1.1 Métodos de pesquisa Os psicólogos cognitivos usamexperimentos controlados, pesquisapsicobiológica, autoavaliações, observação naturalista e simulações por computador e IA para estudar os fenômenos cognitivos. MÉTODO Descrição do método Experimentos Controlados em Laboratório Pesquisa Psicobiológica Obter amostras do desempenho em tempo e local determinados Estudar os cérebros humanos e animais, usando estudos post-mortem e várias medidas psicobiológicasou técnicas de imagem {ver "Neurociência Cognitiva") autoavauações, como Protocolos Verbais, autqclassificaçòes, dlários Obter relatórios dos participantes sobre a própria cognição em andamento ou a partir de lembranças Validade de inferências causais: atribuição aleatória de sujeitos Geralmente Geralmente não Não se aplica Validade de inferências causais: controle experimenta de variáveis independentes Geralmente Varia muito, dependendo da técnica específica Provavelmente não Amostras: tamanho Podem ser de qualquer tamanho Geralmente pequenas Provavelmente pequenas Amostras: representaiividade Podem ser representativas Geralmente, não são representativas Podem ser representativas Validade ecológica Não é improvável; depende da tarefa e do contexto a que está sendo aplicada Improvável sob certas circunstâncias Talvez; ver pontos fortes e fracos Informação acerca de diferenças individuais Geralmente pouco enfatizadas Sim Sim Pontos fortes Pontos fracos Exemplos Facilidade de administração, de contagem e de análise estatística torna relativamente fácil aplicar as amostras representativas de uma população; probabilidade relativamente alta de fazer inferências causais válidas Proporciona evidências "contundentes" das funções cognitivas ao relacioná-las à atividade fisiológica: oferece uma visão alternativa do processo que não está disponível por outros meios; pode levar a possibilidades para o tratamento de pessoas com deficits: cognitivos sérios Acesso aos íns/gfits introspectivos a partir do ponto de vista dos participantes, não podendo ser acessada por outros meios Nem sempre é possível generalizar resultados além de um local específico, tempo e contexto da tarefa; discrepâncias entre comportamento na vida real e no laboratório David Meyer e Roger Schvaneveldt(1971) desenvolveram uma tarefa de laboratório na qual apresentavam resumidamente duas seqüências de letras (palavras ou pseudopalavras) aos sujeitos e, em seguida, pediam-lhes que tomassem uma decisão sobre cada seqüência de letras, tal como decidir se as letras formavam uma palavra legítima ou se uma palavra pertencia a uma categoria pré-designadaAcessibilidade limitada para a maioria dos pesquisadores: requer acesso tanto para os sujeitos apropriados como para o equipamento que pode ser caro demais e difícil de obter; amostras pequenas; muitos estudos têm como base estudos de cérebros anormais ou de cérebros de animais, a generalização das conclusões para as populações humanas normais pode será problemática Elizabeth Warrington e Tim Shallice{1972;Shallice, Warrington, 1970) observaram que as lesões (áreas de ferimento) no lobo parietal esquerdo do cérebro estão associadas a deficits de memória de curto prazo (breve, ativa), mas não há qualquer dano à memória de longo prazo. Contudo, pessoas com lesões nas regiões temporais (mediais) do cérebro apresentam memória de curto prazo relativamente normal, mas têm graves deficits na memória de longo prazo (Shallice, 1979; Warrington, 1982) Incapacidade para reportar processos que ocorrem fora da consciência Protocolos verbais e autocIassificações: a coleta de dados pode influenciar os processos cognitivos que estão sendo relatados Recordações: possíveis discrepâncias entre cognição real e processos e produtos cognitivos recordados Durante um estudo de imagens mentais, Stephen Kosslyne seus colegas (Kosslyn, Seger, Pani, Hillger, 1990) pediram a seus alunos que registrassem em um diário durante uma semana todas as suas imagens mentais em cada modalidade sensorial Estudos de Caso Desenvolver estudos intensivos de indivíduos, tirando conclusões gerais sobre comportamento Altamente improvável Altamente improvável Quase certamente pequeno Capítulo 1 • Introdução à Psicologia Cognitiva 17 Observações Naturalísticas Simulações por Computador IA Observar situações da vida real, como, Simulações: tentar fazero por exemplo, em salas de aula, ambientes de trabalho ou em casa computador simular o desempenho cognitivo em várias tarefas IA: tentativa de fazer o computador demonstrar o desempenho cognitivo inteligente, independente do processo ser semelhante ao processo cognitivo humano Não se aplica Não Provavelmente pequeno Não se aplica Controle total de variáveis de interesse Não se aplica Não é provável que seja representativo Pode ser representativo Não se aplica Alta validade ecológica para casos Sim individuais; baixa generalização para outros Não se aplica Sim; informações ricas em detalhes com relação a indivíduos Acesso a informações ricas em detalhes sobre indivíduos, inclusive contextos históricos e atuais, que podem não estar disponíveis por outros meios; pode levar a aplicações especializadas para grupos de indivíduos excepcionais (ex.: prodígios, pessoas com lesões cerebrais) Aplicável em outras pessoas; o tamanho reduzido e a não-representatividade da amostra normalmente limita a generalização para a população Howard Gruber (1974/1981) conduziu um estudo de caso sobre Charles Darwin, explorando a fundo o contexto psicológico da criatividade intelectual É possível, masa ênfase reside nas distinções ambientais e não nas diferençasindividuais Acesso a informações contextuais abundantes que podem não estar disponíveis por outros meios Não se aplica Permite explorar ampla gama de possibilidades para modelar processos cognitivos; permite testar claramente para verificar se as hipóteses previram com precisão os resultados; pode levar a grande variedade de aplicações práticas (ex.: robótica para o desempenho de tarefas perigosas ou em ambientes de risco) Falta de controle experimental; possível influência no comportamento naturalista em decorrência da presença do observador Limitações impostas por limites de hardware (ex.: circuito do computador) e de software (ex.: programas criados pelos pesquisadores); distinções entre inteligência humana e inteligência da máquina - mesmo em simulações com técnicas sofisticadas de modelagem, as simulações podem modelar imperfeitamente a forma como o cérebro humano pensa Michael Cole (Cole, Clay, Glick, Sharp, 1971) pesquisou membros da triboKpelle na África, observando de que maneira as definições de inteligência dos Kpelle se comparavam com as definições tradicionais da inteligência ocidental, bem como de que modo as definições culturais de inteligência podem governar o comportamento inteligente Simulações: por meio de computações minuciosas, David Marr (1982) tentou simular a percepção visual humana e propôs uma teoria de percepção visual baseada em seus modelos computacionais IA: váriosprogramas de IA foram criados para demonstrar perícias (ex.: jogar xadrez), mas esses programas resolvem problemas provavelmente ao utilizar processos diferentes daqueles utilizados por peritos humanos 18 PsicologiaCognitiva palavras cachorro, gato, rato, hamster, esquilo, leão e informar se a palavra leão aparece, a di ferença na reação dos tempos pode indicar, grosso modo, a quantidade de tempo que se gasta para processar cada um dos estímulos. Supõe-se que os resultados nas condições experimentais mostrem uma diferença esta tisticamente significante dos resultados na condição de controle. O pesquisador poderá en tão inferir a probabilidade de uma ligação causai entre as variáveis independentes e as dependentes. Uma vezque o pesquisadot puder estabelecer uma provável ligação causai en tre as variáveis independentes e dependentes oferecidas, os experimentos controlados em laboratório oferecem um excelente método para se testar hipóteses. Por exemplo, supondo que se quisesse verificar se ruídos altos e perturbadores exercem influência na capacidade de se desempenhar bem uma determinada tarefa cognitiva (ex.: ler um capítulo de um livro didático e responder aos exercícios de fixação). Em termos ide ais, se deveria selecionar uma amostra aleatótia de participantes do total da população de interesse. A seguir, se designaria aleatoriamente a cada participante às condições de trata mento ou de controle. Depois, se introduziriam alguns ruídos altos aos participantes na con dição de ttatamento. Em seguida, se apresentaria uma tarefa cognitiva aos participantes das duas condições: experimental e de controle. Seria possível, então, medir seus desempenhos por meio de alguns meios (ex.: velocidade e precisão das respostas às perguntas de compre ensão). Finalmente, os resultados seriam analisados estatisticamente. A partir disso, seria possível examinar se a diferença entre os dois grupos atingiu significância estatística. Su pondo que os participantes na condição experimental tenham mostrado desempenho infe rior àquele dos participantes na condição de controle, em termos de significância estatística, dessa maneira, seria possível inferir que ruídos altos e distrativos certamente influenciaram a capacidade de um bom desempenho nessa tarefa cognitiva específica. Na pesquisa cognitivo-psicológica, as variáveis dependentes podem ser muito diversifica das, mas geralmente compreendem várias medidas de resultados de precisão (ex.: freqüên cia de erros), de tempos de resposta ou de ambos. Dentte as inúmeras possibilidades para as variáveis dependentes estão as características da situação, da tarefa ou dos participantes. Por exemplo, as características da situação podem compreender a presença versus a ausên cia de determinados estímulos ou certas pistas no decorrer de uma tarefa de resolução de problemas. As características da tarefa podem envolver leitura versus escuta de uma sé rie de palavras e, em seguida, responder às perguntas de compreensão. As características dos participantes podem incluir diferenças etárias, diferenças na situação de escolaridade ou até baseadas em classificação em testes. De um lado, as características da situação ou tarefa podem ser manipuladas por meio de atribuição aleatória dos participantes tanto do grupo de tratamento como do grupo de con trole e, de outro, as características do participante não sãofacilmente manipuláveis em ter mos experimentais. Por exemplo, supondo que o pesquisador queira estudar os efeitos do envelhecimento sobre a velocidade e a precisão na resolução de problemas. O pesquisador não poderá atribuir de modo aleatório a váriosgruposetários porque a idade das pessoas não pode ser manipulada (embora participantes de vários grupos etários possam ser distribuídos aleatoriamente nas várias condições experimentais). Nesses casos, o pesquisador sempre pode usar outros tipos de estudos, como aqueles que compreendem correlação (relação esta tística entre dois ou mais atributos, por exemplo as características dos participantes ou as da situação). As correlações normalmente se expressam por meio de coeficientes de correlação conhecidos como r de Pearson, que é um número que pode ir de -1.00 (correlação negativa) passando por 0 (sem correlação) até 1.00 (correlação positiva). Capítulo 1 • Introdução à Psicologia Cognitiva 19 A correlação é a descrição de uma relação. O coeficiente de correlação descreve a força dessa relação. Quanto mais próximo do 1 estiver o coeficiente (tanto positivo quanto ne gativo), mais forte será a relação entre as variáveis. O sinal (positivo ou negativo) do coe ficiente descreve a direção dessa relação. Uma relação positiva indica que, enquanto uma variável aumenta (ex.: tamanho do vocabulário), outra variável também aumenta (ex.: compreensão de leitura). Uma relação negativa indica que à medida que uma variável au menta (ex.: fadiga), a medida da outra diminui (ex.: vigilância). Quando não há correla ção, ou seja, quando o coeficiente é 0, indica que não existe padrão ou relação na alteração das duas variáveis {ex.: inteligência e o comprimento do lobo da orelha). Nesse caso, am bas as variáveis podem mudar, mas não variam juntas dentro de um padrão consistente. Conclusões sobre relações estatísticas são altamente informativas. Seu valor não deve ser subestimado. Além disso, uma vez que os estudos correlacionais não exigem atribuição aleatória de participantes nas condições experimental ou de controle, esses métodos podem ser aplicados com flexibilidade. Entretanto, tais estudos geralmente não permitem inferên cias inequívocas com relação à causalidade. Como conseqüência, muitos psicólogos cogni tivos, na maioria das vezes, preferem utilizar dados experimentais a dados corre lacionais. Pesquisa Psicobiológica Por meio da pesquisa psicobiológica, os cientistas estudam a relação entre desempenho cog nitivo, eventos e estruturas cerebrais. O Capítulo 2 descreve várias técnicas específicas utilizadas na pesquisa psicobiológica, que em geral são classificadas em três categorias. A primeira é a das técnicas de estudo do cérebro de um indivíduo post-mortem, estabelecendo relações da função cognitiva deste indivíduo antes da morte para a observação das caracte rísticas do cérebro. A segunda categoria compreende as técnicas de estudo das imagens que mostram estruturas ou atividades no cérebro de um indivíduo sabidamente com déficit cog nitivo. A terceira categoria compreende as técnicas para obtenção de informação à respeito dos processos cerebrais durante o desempenho normal de uma atividade cognitiva. Os estudos post-mortem ofereceram os primeiros insights a respeito de como lesões espe cíficas podem estar associadas a determinados deficits cognitivos. Esses estudos continuam a oferecer insights de grande utilidade, de como o cérebro influencia a função cognitiva. Re centes avanços tecnológicos também estão possibilitando, cada vezmais, o estudo de indi víduos com reconhecidos deficits cognitivos in vivo (enquanto o indivíduo ainda está vivo). O estudo de indivíduos com funções cognitivas disfuncionais vinculadas a lesões cerebrais, geralmente, possibilita a compreensão das funções cognitivas normais. Além disso, os psicobiologistas estão estudando alguns aspectos do funcionamento cog nitivo normal por meio do estudo da atividade cerebral em sujeitos animais. Emgeral, a pes quisa é feita com sujeitos animais para experimentos que compreendem procedimentos neurocirúrgicos que não poderiam ser realizados com seres humanos por serem difíceis, an- tiéticos ou até mesmo impraticáveis. Por exemplo, estudos mapeando a atividade neural no córtex são realizados em gatos e macacos (ex.: à pesquisa psicobiológica sobre como o cére bro responde a estímulos visuais; ver Capítulo 3). O funcionamento cognitivo e cerebral dos animais e de humanos com deficits pode ser generalizado e aplicado ao funcionamento cognitivo e cerebral de humanos normais? Os psicólogos responderam a essas questões de várias maneiras. A maioria vai além do escopo deste capítulo (ver Capítulo 2). Apenas como exemplo, para alguns tipos de atividade cog nitiva, a tecnologia disponível permite aos pesquisadores estudar a atividade cerebral dinâ mica dos participantes humanos normais durante o processamento cognitivo (ver técnicas de imagem do cérebro descritas no Capítulo 2). 20 Psicologia Cognitiva Autoavaliações, Estudos de Caso e Observação Naturalística Geralmente, os experimentos individuais e estudos psicológicos concentram-se na especifi cação dos aspectos discretos da cognição nos indivíduos. Para se obter informações ricas em detalhes sobre a maneira como determinados indivíduos pensam - dentro de uma ampla gama de contextos - os pesquisadorespoderão usar outros métodos, que incluem as autoava liações (relato dos processos cognitivos feito pelo próprio indivíduo), os estudos decaso (estu dos individuais profundos) e a observação naturalística (estudos detalhados do desempenho cognitivo em situações cotidianas e contextos fora do laboratório). De um lado, a pesquisa experimental é extremamente útil para testar hipóteses. Por outro, a pesquisa com base nas autoavaliações, estudos de caso e observação naturalística, são, geralmente, úteis na formulação das hipóteses. Esses métodos também são muito úteis na geração de descrições sobre eventos raros ou de processos em que não se disponha de outra forma de mensuração. Em situações muito específicas, esses métodos são a única forma de se coletar informa ção. Um exemplo é o caso de Genie, uma menina que ficou trancada em um quarto até os 13 anos, apresentando graves e limitadas experiências sociais e sensoriais. Como conseqüên cia do aprisionamento, ela apresentava graves deficits físicos e nenhuma habilidade lingüís tica. Por meio de métodos de estudos de caso, coletou-se informação a respeito de como ela conseguiu aprender a linguagem mais tarde (Fromkin et ai, 1974; Jones, 1995; La Pointe, 2005). Não seria ético, do ponto de vista experimental, privar uma pessoa de estimulações lingüísticas em seus primeiros 13 anos de vida. Assim sendo, os métodos de estudos de caso são a única maneira razoável de se avaliar os resultados de alguém a quem.foi negada a ex posição ao ambiente social e à linguagem. Da mesma maneira, uma lesão cerebral traumática não pode ser manipulada em huma nos no contexto laboratorial. Assim sendo, sempre que uma lesão cerebral traumática ocorre, os estudos de caso são a única forma de se coletar informação. Por exemplo, o caso de Phi- neas Gage, um operário de ferrovia que, em 1848, foi atingido, durante um acidente, no lobo frontal por uma enorme ponta de metal (Damasio et ai., 1994). Surpreendentemente, Gage sobreviveu, mas seu comportamento bem como seus processos mentais foram drasticamente alterados. Certamente, não é possível inserir-se uma ponta de metal no cérebro dos partici pantes em um experimento. Portanto, no caso de uma lesão cerebral traumática, pode-se confiar unicamente nos métodos de estudos de caso para a coleta de informações. A confiabilidade dos dados com base nos vários tipos de autoavaliações depende da franqueza dos participantes ao oferecer os relatos. É possível queumparticipante não relate corretamente a informação sobre seus processos cognitivos por vários motivos. Esses moti vospodem ser tanto intencionais como não intencionais. Os relatos incorretos do tipo intencionais podem incluir a tentativa de editar informações desagradáveis. Os relatos in corretos do tipo não intencionais podem ocorrer pelo não-entendímento das perguntas ou mesmo da impossibilidade de se lembrar corretamente da informação. Por exemplo, sempre que o participante é solicitado a dizer quais estratégias para resolução de problemas utili zavaquando estava no ensino médio, é possívelque ele (ou ela) não lembre. O participante pode tentar ser completamente honesto em seus relatos. Entretanto, telatos que contêm in formação rememorada (ex.: diários, relatos retrospectivos, questionários e surveys) são no- tadamente menos confiáveis do que os relatos provenientes durante o processamento cognitivo que está sob investigação. A razão é que os participantes, por vezes, se esquecem do que fizeram. Quando estudam processos cognitivos complexos, tais como a resoluçãode problemas ou a tomada de decisão, os pesquisadores geralmente usam um protocolo verbal. No protocolo verbal os participantes desctevem seus pensamentos e idéias em voz alta du rante o desempenho de uma determinada tarefa cognitiva (ex.: "Gosto mais do aparta mento com piscina, mas não posso pagar por ele e, portanto, eu talvez escolha outro.")- Capitulo 1 • Introdução à PsicologiaCognitiva 21 Uma alternativa para o protocolo verbal é que os participantes relatem informações es pecíficas com relação a um determinado aspecto de seu funcionamento cognitivo. Por exemplo, o estudo de uma criteriosa resolução de problemas (ver o Capítulo 11 - "Resolu ção de problemas e criatividade"). Os sujeitos foram solicitados a relatar - em intervalos de 15 segundos -, em ordem numérica, o quão sentiam-se próximos de alcançar uma solução para um determinado problema. Infelizmente, até mesmo essesmétodos de autorrelatos têm suas limitações. Por exemplo, o funcionamento cognitivo pode ser alterado pelo ato de en trega do relatório (ex.: processos envolvendo formas sucintas de memória; ver o Capítulo 5). Outro exemplo são processos cognitivos que ocorrem fora da conscientização (ex.: pro cessosque não exigem atenção consciente ou que ocorrem tão rapidamente que passamdes percebidos; ver Capítulo 4). Para se ter uma idéia de algumas das dificuldades com os autorrelatos, exercite as tarefas apresentadas no quadro "Investigando a Psicologia Cogni tiva". Reflita a respeito de suas próprias experiências com autorrelatos. Tarefas INVESTIGANDO 1. Sem olhar para os sapatos, tente relatar - em voz alta - as várias A PSICOLOGIA etapas envolvidas no ato de amarrá-los. COGNITIVA 2. Lembre-se - em voz alta - do que você fez em seu último aniversário. 3. Agora, amarre os sapatos (ou qualquer outra coisa, como um barbante em volta do pé da mesa), relatando —em voz alta - todas as etapas que isso demanda. Você percebe as diferenças entre a tarefa 1 e a tarefa 3 ? 4- Relate - em voz alta - como você trouxe à consciência todas as etapas necessárias para amarrar o sapato ou as lembranças do seu último aniversário. Você consegue relatar exatamente de que forma trouxe as informações até o nível consciente? Consegue relatar que parte do seu cérebro estava mais ativa durante a execução da cada tarefa? Faça com a metade de um grupo de amigos —um por um —uma das séries de pergun tas abaixo, e com a outra metade, a outra série. Peça-lhes que respondam o mais rápido possível. Grupo l: O que o bicho-da-seda tece? Qual o tecido famoso que vem do bicho-da-seda? O que as vacas bebem? Grupo 2: O que as abelhas fazem? O que cresce no campo e depois se transforma em tecido? O que as vacas bebem? Muitos dos seus amigos, ao chegarem à pergunta 3 do grupo 1, dirão "leite", quando todo mundo sabe que as vacas bebem água. A maioria das pessoas que responde às questões do grupo 2 dirá "água", e não "leite". Você conduziu um experimento. O método experi mental divide as pessoas em grupos iguais, altera um aspecto entre os dois grupos (no seu caso, você fez uma série de perguntas antes de fazer a pergunta crítica) e, em seguida, mede as diferenças entre os dois grupos. O que você estará medindo é a quantidade de erros, e, 22 Psicologia Cognitiva é possível, que os seus amigos do grupo 1 apresentem mais erros do que os do grupo 2, pois estabeleceram o conjunto errado de suposições para responderem às perguntas. Os estudos de caso poderão ser utilizados como conclusões complementares de experi mentos laboratoriais, por exemplo, o estudo de indivíduos excepcionalmente dotados e as observações naturalísticas, ou seja, a observação de indivíduos que trabalham em usinas nu cleares. Esses dois métodos de pesquisa cognitiva oferecem alta validade ecológica, o grau no qual as conclusões específicas em um contexto ambiental podem ser consideradas relevan tes fora daquele contexto. Como se sabe, a ecologia é o estudo da interação entre um ou mais organismos e o seu ambiente. Muitos psicólogos cognitivos buscam entender a interação entre o funcionamento do pensamento humano e os ambientes nos quais os seres humanos estão pensando. Às vezes, processos cognitivos que comumente são observados em outro contexto (ex.: no laboratório) não são idênticos àqueles observados em outro (ex.: uma torre de controle de tráfego aéreo ou uma sala de aula). Simulações por Computador e IA Os computadores digitais desempenharam importante papel no surgimento do estudo da Psicologia Cognitiva. Um tipo de influência é a indireta - por meio de modelos da cognição humana que tomam por base a maneira como os computadores processam informações. Outro tipo é a influência direta - por meio de simulações por computador e IA. Nas simulações por computador, os pesquisadores programam computadores para imi tarem uma determinada função ou um determinado processo humano. Entre os exemplos estão o desempenho em tarefas cognitivas específicas (ex.: manipulação de objetos no es paço tridimensional) e o desempenho de determinados processos cognitivos (ex.: reconhe cimento de padrões). Alguns pesquisadores, inclusive, já tentaram criar modelos de computador envolvendo toda a arquitetura cognitiva da mente humana. Essesmodelos pro piciaram acaloradas discussões sobre o funcionameto da mente humana como um todo (ver o Capítulo8). Àsvezes, a difetença entre a simulação e a IA é difícil de serdelimitada. Por exemplo, certos programas que são projetados, simultaneamente, para simular o desempe nho humano e maximizar o seu funcionamento. Consideremos, por exemplo, um programa que jogue xadrez. Existem duas maneiras to talmente diferentes para conceituar a escrita desse programa. Uma delas é chamada de força bruta, ou seja, constrói-se um algoritmo que considere jogadas muito importantes em pe quenos períodos, potencialmente vencendo jogadores humanos simplesmente por conta do número de jogadas que o programa possui e as probabilidades das futuras conseqüências des sas jogadas. O programa seria considerado um sucesso à medida que vencesse os melhores jogadores humanos. Esse tipo de IA não busca representar como os seres humanos funcio nam, mas, se bem feito, ele poderá produzir um programa que joga xadrez em altíssimo ní vel. Uma abordagem alternativa, a da simulação, leva em conta a maneira como os grandes mestres solucionam seus problemas de xadrez e, em seguida, busca funcionar à maneira da queles. O programa seria considerado um sucesso se conseguisse escolher, numa seqüência de jogadas em uma partida, as mesmas jogadasque um grande mestre escolheria. Também é possível a combinação de duas abordagens para produzir um programa que, de modo geral, simula o desempenho humano, mas também usa da força bruta para, se ne cessário, vencer o jogo. Juntando Tudo Os psicólogos cognitivos geralmente ampliam e aprofundam o conhecimento por meio de pesquisas em Ciência Cognitiva. A Ciência Cognitiva é um campo multidisciplinar
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