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Cap. 1 - Introdução à Psicologia Cognitiva

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Introdução à Psicologia
Cognitiva
CAPITULO
i
EXPLORANDO A PSICOLOGIA COGNITIVA
1. O que é Psicologia Cognitiva?
2. De que modo a Psicologia evoluiu como ciência?
3. De que modo a Psicologia Cognitiva evoluiu a partir da Psicologia?
4. De que modo as outras disciplinas contribuíram para o desenvolvimento da teoria e
da pesquisa na Psicologia Cognitiva?
5. De quais métodos a Psicologia Cognitiva se utiliza para estudar a maneira como as
pessoas pensam?
6. Quais são as questões atuais e os vários campos de estudo dentro da Psicologia
Cognitiva?
Definindo Psicologia Cognitiva
O que você vai estudar em um livro sobre Psicologia Cognitiva?
1. Cognição: as pessoas pensam.
2. Psicologia Cognitiva: os cientistas pensam sobre como as pessoas pensam.
3. Estudantes de Psicologia Cognitiva: as pessoas pensam sobre o que os cientistas pen
sam sobre como as pessoas pensam.
4. Professores que lecionam Psicologia Cognitiva: releia os itens anteriores.
Para sermosmais específicos, a Psicologia Cognitiva é o estudo de como as pessoas perce
bem, aprendem, lembram-se e pensam sobrea informação. Um psicólogo cognitivopoderá
estudar comoas pessoas percebem várias formas, porquese lembram de alguns fatos e se es
quecemde outros, ou mesmo porque aprendemuma língua. Vejamos alguns exemplos:
• Por que os objetos parecem estar mais distantes do que realmente estão em dias ne
bulosos? Essa discrepância pode ser perigosa, inclusive enganando motoristas e cau
sando acidentes.
• Por que muitas pessoas conseguem se lembrar de uma experiência em especial, por
exemplo de um momento muito feliz ou algumconstrangimento na infância, mas es
quecem os nomes de pessoas que conhecem há muitos anos?
2 Psicologia Cognitiva
• Porquemuitas pessoas têmmais medo de viajar de avião do que de carro? Afinal, as
chances de acidente e morte são muito maiores no carro do que no avião.
• Por que sempre me lembromais de alguém da minha infância do que de alguém que
conheci na semana passada?
• Porqueos políticos gastam tanto dinheiro comsuas campanhas na televisão?
Consideremos apenas a última dessas perguntas: Por que os políticos gastam tanto di
nheiro com suas campanhasna televisão? Afinal, quantas pessoas conseguem se lembrar dos
detalhes das propostas políticas dos candidatos oudequemaneira essas propostas diferem das
dos outros candidatos? Uma das razões pelasquais os políticos gastam tanto é a disponibili
dade heurística, que vamos estudar, no Capítulo 12, em "Raciocínio e tomada de decisão".
Com a utilização da heurística, podemos fazer julgamentos baseados em quão facilmente
recordamos algo percebidocomo instâncias relevantesde um fenômeno (Tversky, Kahne-
man, 1973). Tais julgamentos constituema questão: em quem se deve votar em umaelei
ção. A tendência é votaremnomes familiares. Tom Vilsack, governador do estado de Iowa,
Estados Unidos, na ocasião da campanha pelas primárias em 2008, iniciou, mas rapida
mente desistiu, da competição para ser indicado como candidato à presidência dosEstados
Unidos. Sua desistência não ocorreu porque suas idéias diferiamdas do partido. Ao contrá
rio, o PartidoDemocratagostava muitode suaplataforma. Na verdade, Vilsack desistiu por
que a falta de reconhecimento de seu nome inviabilizou o levantamento de recursos para
sua campanha. Ao final, os possíveis doadores sentiram que o nome de Vilsack não tinha
disponibilidade suficiente para que os eleitores votassem nele. Mitt Romney, outro candi
dato republicano não tão conhecido, entrou na disputa das primárias com John McCain e
Rudy Giuliani. Investiu muito dinheiro apenas para fazer comque seu nome pudesse ficar
psicologicamente disponível ao grande público. A verdade é que com a compreensão da
Psicologia Cognitiva, as pessoas conseguem entender muito daquilo que acontece no dia-
-a-dia de suas vidas.
Este capítulo introduz o campoda Psicologia Cognitiva. Descreve um pouco da histó
ria intelectual do estudo do pensamento humano. Dá ênfase especial a algumas questões
que surgem sempre que pensamos em como as pessoas pensam. A seguir, um breve resumo
dos métodos mais importantes, das questões e das áreas temáticas da Psicologia Cognitiva.
Por que estudamos a história deste campo ou de qualquer outro, então? De um lado,
quando sesabe deonde se vem, pode-se compreender melhor o percurso da jornada. Porou
tro, o ser humano aprende com os erros passados. Dessa forma, quando se comete algumerro,
este é novo, ou seja, já não é mais igual ao anterior. Mudou-se muito a maneira de lidar com
as questões fundamentais da vida. Contudo, algumas permanecem iguais. Em última análise,
pode-se aprender alguma coisa sobre como aspessoas pensam estudando como pensam sobre
o pensar.
O avanço das idéias, muitas vezes, implica uma dialética. Dialética é umprocesso de in
cremento emqueas idéias evoluem como passar do tempo pormeio de umpadrão de trans
formação. Qual é este padrão?Em uma dialética:
• Propõe-se uma tese. Uma tese é o enunciado de uma opinião. Por exemplo, muita
gente acredita que a natureza humana governa muitos aspectos do comportamento
humano, como a inteligência ou a personalidade (Sternberg, 1999). Entretanto, de
pois de algum tempo, alguns indivíduos observam falhas nessa tese.
• Cedo ou tarde, ou talvez logo em seguida, surge uma antítese. Uma antítese é um
enunciado que contraria a primeira opinião. Por exemplo, uma visão alternativa é
Capítulo 1 • Introdução à PsicologiaCognitiva 3
que nossa criação (o contexto ambiental em que somos criados) determina quase
inteiramente muitos aspectos do comportamento humano.
• Impreterivelmente, o debate entre a tese e a antítese conduz a uma síntese. Uma
síntese integra os aspectos mais confiáveis de cada uma das duas (ou mais) visões.
Por exemplo, no debate sobre a relação entre inato e adquirido, a interação entre
a nossa natureza inata e o contexto ambiental pode reger a natureza humana.
E importante compreender a dialética porque, às vezes, podemos pensar que, se uma
opinião está certa, outra, aparentemente contrastante, então, deverá estar errada. Por
exemplo, no meu próprio campo de conhecimento, ocorreu, muitas vezes, uma tendência
a se acreditar que a inteligência tanto pode ser inteira ou quase totalmente determinada
pela genética, ou então, que é completa ou quase inteiramente determinada pelo am
biente. Um debate similar também surgiu no campo de aquisição da linguagem. Embora
quase sempre, para nós, é melhor acreditar que tais assuntos não são questões excludentes
por si só, mas que são apenas exames de como as forças diferentes variam e interagem umas
com as outras. Na verdade, a mais recente controvérsia é que as opiniões sobre "natureza"
e "criação" são incompletas. Em nosso desenvolvimento, natureza e criação operam de ma
neira conjunta.
Se uma síntese fizer avançar o conhecimento sobre um determinado assunto, então ser
virá como uma tese nova. Emseguida, surgiráuma nova antítese, e assim por diante. Georg
Hegel (1770-1831) observou essaprogressão dialética de idéias. Hegel foi um filósofo ale
mão que chegou às próprias idéiaspor intermédio da dialética, sintetizando algumas das opi
niões de seus antecessores e contemporâneos.
Antecedentes Filosóficos da Psicologia:
Racionalismo versus Empirismo
Onde e como começou o estudo da Psicologia Cognitiva? Normalmente, os historiadores
da Psicologia identificam suas primeiras raízes em duas abordagens diferentes para a com
preensão da mente humana:
• A Filosofia busca entender a natureza geral de muitos aspectos do mundo, parte por
meio da introspecção, ou seja, o exame das idéias e experiências internas (íntro = para
dentro; spectione = olhar, inspecionar).
• A Fisiologia busca um estudo científico das funções vitais dos organismos vivos, basi
camente por meio de métodos empíricos (baseados na observação).
O Racionalismo e o Empirismo são duas abordagens para o estudo da mente. O racionalista acredita que o caminho para o conhecimento se dá por meio da análise lógica. Em
contrapartida, Aristóteles (naturalista e biólogo, além de filósofo) foi um empirista. O em-
pirista acredita que se adquire conhecimento por meio da evidência empírica, ou seja, esta
evidência é obtida por intermédio da experiência e da observação (Figura 1.1).
O Empirismo orienta diretamente à investigaçãoempírica da Psicologia. Ao contrário,
o Racionalismo é muito importante no desenvolvimento da fundamentação teórica. As teo
rias racionalistas, semqualquer ligação com a observação, não podem ser, portanto, válidas.
Entretanto, grandesquantidadesde dadosempíricos, semuma estrutura teórica organizadora,
também podem não fazer sentido. Podemos considerar a visão racionalista do mundo como
uma tese, enquanto a visão empirista seria a antítese. A maioria dos psicólogos, atualmente,
Psicologia Cognitiva
FIGURA 1.1
(a)
(a) Segundo oracionalista, o único caminho para a verdade éa reflexão contemplativa; (b)Segundo o empirista, oúnico
caminho para a verdade é a observação meticulosa. A Psicologia Cognitiva, assim como outras ciências, depende do
trabalho tanto dos racionaiistas comodos empiristas.
buscam a síntese dessas duas teses. Fundamentam suas observações empíricas na teoria. Por
outro lado, usam essas observações para revisar suas próprias teorias.
As idéias contrastantes do Racionalismo e do Empirismo tomaram-se notórias a partir
do racionalista francês René Descartes (1596-1650) e do empirista inglês John Locke
(1632-1704). Descartes considerava o método introspectivo e reflexivo superior aos méto
dos empíricos paraseencontrar a verdade. Locke, porsuavez, eramuitoentusiasmado com
o método da observação empírica (Leahey, 2003).
Locke acreditava que os seres humanos nascem sem qualquer conhecimento e, por
tanto, precisam buscá-lo por meioda observação empírica. O conceito de Locke para isso é
o termo tabula rasa (que em latim significa "folha de papel em branco"). Sua idéia é de que
a vida e a experiência"escrevem" o conhecimento no indivíduo. Sendo assim, para Locke,
o estudo da aprendizagem era fundamental para a compreensão da mente humana. Ele acre
ditava que não existiamde forma alguma idéias inatas. No século XVIII, o filósofo alemão
Immanuel Kant (1724-1804) sintetizou dialeticamente as idéias de Descartes e Locke argu
mentando que tanto o Racionalismo como o Empirismo têm seu lugar e que ambos devem
trabalhar juntos na buscapela verdade. Atualmente, a maioriados psicólogos aceita a sín
tese de Kant.
Antecedentes Psicológicos da Psicologia Cognitiva
As Primeiras Dialéticas na Psicologia da Cognição
Estruturalismo
Uma das primeiras dialéticas na história da Psicologia ocorreu entre o Estruturalismo e o
Funcionalismo (Leahey, 2003; Morawski, 2000). O Estruturalismo foi a primeira grande es
coladepensamento na Psicologia, quebusca entendera estrutura (configuração dos elemen
tos) da mente e suas percepções pela análise dessas percepções em seus componentes
constitutivos. Consideremos, por exemplo, a percepção de uma flor.
Os estruturalistas analisam essapercepção em termosde cor, forma geométrica, relações
de tamanho e assim por diante.
Capítulo 1 • Introdução à Psicologia Cognitiva 5
Um psicólogo alemão cujas ídeias mais tarde contribuiriam para o desenvolvimento do
Estruturalismo foi Wilhelm Wundt (1832-1920). Wundt nem sempre foi considerado o fun
dador da Psicologia Experimental e usava uma grande variedade de métodos em suas pesqui
sas. Um deles era a introspecção. Introspecção é um olhar interior para as informações que
passam pela consciência. Um exemplo são as sensações experimentadas quando se olha para
uma flor. Com efeito, analisamos nossas própriaspercepções.Wundt defendia o estudo das ex
periências sensoriais por meio da introspecção.
Wundt teve muitos seguidores, sendo um deles o norte-americano Edward Titche-
ner (1867-1927). Titchener (1910) ajudou a trazer o Estruturalismo para os Estados Uni
dos. Outros psicólogos pioneiros criticaram tanto o método (introspecção) como o foco
(estruturas elementares da sensação) do Estruturalismo.
Funcionalismo: Uma Alternativa para
o Estruturalismo
Uma alternativa para o Estruturalismo sugeriaque os psicólogos deveriam concentrar-se mais
nos processos do pensamento do que nos conteúdos. O Funcionalismo busca entender o que as
pessoas fazem e por que o fazem. Esta pergunta principal estava em desacordo com os estru-
turalistas, que queriam saber quais eram os conteúdos elementares (estruturas) da mente
humana. Os funcionalistas sustentavam que a chave para o entendimento da mente humana
e dos comportamentos era o estudo dos processos de como e por que a mente funciona como
funciona, em vez de estudar os conteúdos e os elementos estruturais da mente.
Os funcionalistas estavam unidos pelos tipos de perguntas que faziam, mas não necessa
riamente pelas respostas que encontravam ou pelos métodos que utilizavam para chegar a es
sas respostas. Como os funcionalistas acreditavam no uso de qualquer método que melhor
respondesse às perguntas de um determinado pesquisador, parece natural que o Funcionalismo
tenha levado ao Pragmatismo. Os pragmatistas acreditam que o conhecimento só pode ser va
lidado por sua utilidade: o que se pode fazer com isto?Estão interessados não apenas em sa
ber o que as pessoasfazem, mas também querem descobrir o que podemos fazer com o nosso
conhecimento sobre o que as pessoas fazem. Por exemplo, eles acreditam na importância da
Psicologiado Aprendizado e da Memória. Por quê? Porque pode nos ajudar a melhorar o de
sempenho das crianças na escola. O Pragmatismo também pode nos auxiliar a lembrar o
nome de pessoas que conhecemos, mas do qual nos esquecemos rapidamente.
Agora, imagine-se colocando a idéia do Pragmatismo em prática. Pense so
bre asmaneiras de tornar a infonnação que você está aprendendo neste livro
de modo que sejam mais úteis a você. Parte desse trabalho já foi feito - veja
que o capítulo começa com questões que tornam as informações mais
coerentes e úteis, e o resumo retorna a essas perguntas. O texto responde
de modo satisfatório às questões apresentadas no início do capítulo? Ela
bore suasperguntas e suas anotações sob a formade respostas. Além disso,
tente estabelecer uma relação deste material com o de outros cursos ou
atividades das quais participa. Por exemplo, você pode ser chamado a ex
plicar a um amigocomo funciona um programade computador. Uma boa
formade começar seria perguntar a essapessoa se ela tem algumapergunta
a respeito. Assim, as informações que você oferecer serão mais úteis ao seu
amigo, em vezde obrigá-lo a buscar a informação de que necessita em uma
exposição longa e unilateral.
APLICAÇÕES
PRÁTICAS DA
PSICOLOGIA
COGNITIVA
6 Psicologia Cognitiva
Um líder na condução do Funcionalismo em direção ao Pragmatismo foiWilliam James
(1842-1910). Sua principal contribuição ao campo da Psicologia foi um único livro: Prin
cípios da Psicologia (1890/1970). Ainda hoje, os psicólogos cognitivos apontam, com fre
qüência, os escritos de James nas discussões de questões centrais em seu campo de
conhecimento, como atenção, consciência e percepção. John Dewey (1859-1952) foi mais
um dos primeiros pragmatistas que influenciaram de maneira profunda o pensamento con
temporâneo na Psicologia Cognitiva. Dewey é lembrado basicamente por sua abordagem
pragmática acerca do pensamento e da educação.
Associacionismo: Uma Síntese Integradora
O Associacionismo, assim como o Funcionalismo, foi menos uma escola sistemática de
Psicologia e mais uma forma de pensar influente. O Associacionismo investiga como os even
tos e as idéias podem se associar na mente propiciando a aprendizagem. Por exemplo, as
associações podem resultar da contiguidade (associar informações que tendem a ocorrer jun
tas ou quase ao mesmo tempo), da similaridade (associarassuntoscom traços ou propriedadessemelhantes) ou do contraste (associar assuntos que parecem apresentar polaridades, como
quente/frio, claro/escuro, dia/noite).
No fim dos anos 1800, o associacionista Hermann Ebbinghaus (1850-1909) foi o pri
meiro pesquisador a aplicar os princípios associacionistas de maneira sistemática. Ebbin
ghaus estudou e observou especificamente seus próprios processos mentais. Contou os
próprios erros e registrou seus tempos de resposta. Por meio de autoobservações, estudou
como as pessoas aprendem e se lembram dos conteúdos por meio da repetição consciente do
material a ser aprendido. Entre outras conclusões, descobriu que a repetição possibilita fi
xar as associaçõesmentais de maneira mais consistente na memória. Dessa forma, a repeti
ção auxilia o aprendizado (ver o Capítulo 6).
Outro associacionista influente, Edward Lee Thorndike (1874-1949), sustentava que
o papel da "satisfação" é a chave para a formação de associações. Thorndike chamou esse
princípio de Lei doEfeito (1905): um estímulo tenderá a produzir uma determinada resposta
ao longo do tempo se o organismo for recompensado com essa resposta. Ele acreditava que
um organismo aprendia a responder de uma determinada maneira (o efeito) em uma dada
situação se fosse constantemente recompensado por isso (a satisfação, que serve como estí
mulo para ações futuras). Assim, uma criança que recebe uma recompensa por resolver cor
retamente problemas de aritmética, irá aprender a fazê-lo sempre assim, porque estabelece
uma associação entre a solução válida e a recompensa.
Do Associacionismo ao Behaviorismo
Outros pesquisadores contemporâneos de Thorndike conduziram experimentos com ani
mais para investigar as relações de estímulo e resposta com métodos diferentes dos utilizados
por Thorndike e seus colegas associacionistas. Esses cientistas transpuseram a linha entre o
Associacionismoe o campo emergente do Behaviorismo. O Behaviorismo é uma perspectiva
teórica segundo a qual a Psicologia deveria se concentrar apenas na relação entre o com
portamento observável, de um lado, e os eventos ou estímulos ambientais, de outro. A idéia
era materializar o que quer que tenha sido denominado de "mental" (Lycan, 2003). Alguns
desses pesquisadores, como Thorndike e outros associacionistas, estudaram respostas volun
tárias (embora, talvez, carecessem de algum pensamento consciente, como no trabalho de
Thorndike). Outros estudaram respostas desencadeadas involuntariamente em resposta ao
que parecem ter sido eventos externos não relacionados.
Capítulo 1 • Introdução à Psicologia Cognitiva 7
Na Rússia,o fisiologista ganhador do Prêmio Nobel, Ivan Pavlov (1849-1936) pesquisou
esse tipo de comportamento de aprendizado involuntário, começando com a observação de
cachorros salivando ao, simplesmente, verem o técnico do laboratório que os alimentava.
Essa respostaocorria antes mesmoque os cachorros vissem se o técnico lhes trazia comida ou
não. Para Pavlov, essa resposta indicava uma forma de aprendizado: o aprendizado clássico
condicionado, sobre o qual os cachorros não tinham qualquer controle consciente..Na mente
deles, algum tipo de aprendizado involuntário relacionava o técnico à comida (Pavlov,
1955). O extraordinário trabalho de Pavlov abriu caminho para o desenvolvimento do
Behaviorismo. O condicionamento clássico compreende mais do que uma simples associa
ção combasena contiguidade temporal, por exemplo, a comidae o estímulo condicionado
que ocorriam quase ao mesmo tempo (Rescorla, 1967). O condicionamento eficaz requer
contingência, por exemplo, a apresentação de comida sendo contingente com a apresenta
ção do estímulo condicionado (Rescorla e Wagner, 1972;Wagner e Rescorla, 1972).
O Behaviorismo pode ser interpretado como uma versão extrema do Associacionismo,
que se concentra inteiramente na associação entre o ambiente e umcomportamento obser
vável. Segundo alguns behavioristas radicais, quaisquer hipóteses a respeito de pensamen
tos e formas de pensar internas são mera especulação.
Os Proponentes do Behaviorismo
O "pai" do Behaviorismo radical foi John Watson (1878-1958). Watson não via qualquer
utilidade para os conteúdos ou mecanismos mentais internos e acreditava que os psicólogos
deveriam se concentrar apenas no estudo do comportamento observável (Doyle, 2000).
Eledescartouo pensamento como fala subvocalizado. O Behaviorismo era tambémdiferente
dos movimentos anteriores da Psicologia por redirecionar a ênfase da pesquisa experimental
em animais ao invés de humanos. Historicamente, grande parte do trabalho behaviorista
tem sido até hoje realizada com animais de laboratório, como ratos, por possibilitarem um
controle muito maior sobre os relacionamentos entre o ambiente e o comportamento em
relação a ele. Contudo, um problema com relação à utilização de animais é determinar se a
pesquisa pode sergeneralizada em seres humanos (ou seja, aplicada de forma mais geral a seres
humanos ao invés de apenas aos tipos de animais estudados).
B. F. Skinner (1904-1990), behaviorista radical, acreditava que quase todas as formas do
comportamento humano, e não apenas o aprendizado, podiam ser explicadas por compor
tamentos emitidos em resposta ao ambiente. Skinner desenvolveu pesquisas basicamente
com animais não-humanos e rejeitou os mecanismos mentais, acreditando, por outro lado,
que o condicionamento operante - que envolvia o fortalecimento ou o enfraquecimento do
comportamento, dependente da presença ou ausência de reforço (recompensa) ou punição
- pudessem explicar todas as formas do comportamento humano. Skinner aplicou sua aná
liseexperimental do comportamento a muitos fenômenos psicológicos, tais como a aprendi
zagem, a aquisição da linguagem e a resolução de problemas. Principalmente por causa da
presença intensa de Skinner, o Behaviorismo dominou o campo de estudosda Psicologia por
muitas décadas.
Os Behavioristas se Atrevem a Espiar Dentro da Caixa Preta
Alguns psicólogos rejeitaram o Behaviorismo radical. Tinham muita curiosidade em saber
o que havia nessa caixa misteriosa. Por exemplo, Edward Tolman (1886-1959) acreditava
que, para entender o comportamento, era necessáriose levar em conta o propósitoe o plano
para o comportamento. Tolman (1932) acreditava que todo comportamento era dirigido a
algum objetivo. Por exemplo: o objetivo de um rato em um labirinto de laboratório seria o
de encontrar comida dentro desse labirinto. Tolman é tido, por vezes, como um precursor
da moderna Psicologia Cognitiva.
8 PsicologiaCognitiva
Outra crítica ao Behaviorismo (Bandura, 1977b) é que, nele, o aprendizado surge não
apenas em função de recompensas diretas pelo comportamento. Também pode ser social,
resultando de observações das recompensas ou punições dadas aos outros. A capacidade
para aprender por meio da observação está bem documentada e pode ser comprovada em
seres humanos, macacos, cães, pássaros e até mesmo em peixes (Brown, Laland, 2001; La-
land, 2004; Nagell, Olguin, Tomasello, 1993). No ser humano, essa habilidade está pre
sente em todas as idades, sendo observada tanto em crianças como em adultos (Mejia-Arauz,
Rogoff, Paradise, 2005). Essa teoria dá ênfase à maneira como se observa, se modela, o pró
prio comportamento a partir do comportamento dos outros. Aprendemos pelo exemplo.
Esta consideração de aprendizado social abre caminho para se examinar o que está aconte
cendo na mente do indivíduo.
Psicologia da Gestalt
Dentre os inúmeros críticos do Behaviorismo, os psicólogos da Gestalt certamente estão
entre os mais ávidos. A Psicologia daGestalt afirma que se compreende melhor os fenôme
nos psicológicos quando se olha para eles como todos organizados e estruturados. Se
gundo essa visão, não se pode compreender totalmente o comportamento quando se
desmembram os fenômenos em partes menores. Por exemplo, os behavioristas têm a ten
dência de estudar a resolução de problemas buscando o processamento subvocal - eles
buscam o comportamento observávelpor meio do qual a resolução do problema pode ser
compreendida. Os gestaltistas, ao contrário, estudam o insight, buscando entender o
evento mental não observável por meio do qual alguém vai do ponto em que não tem
idéia de como resolver um problema até o ponto em que entende completamente em um
simples instante de tempo.
A máxima "o todo é diferente da soma de suas partes" resume muito bem a perspectiva
gestaltista. Para entender a percepção de uma flor, por exemplo, teríamos de levar em conta
o todo da experiência. Não se poderia entender essa percepção em termos de uma descri
ção de formas, cores, tamanhos e assim por diante. Da mesma forma, como mencionado no
parágrafo anterior, não poderíamos entender a resolução de problemas simplesmente exa
minando os elementos isolados do comportamento observável (Kõhler, 1927, 1940; Wer-
theimer, 1945/1959).
O Surgimento da Psicologia Cognitiva
Uma abordagem mais recente é o Cognitifismo, ou seja, a crença de que grande parte do
comportamento humano pode ser compreendida a partir de como as pessoas pensam. O
Cognitivismo é, em parte, uma síntese das formas anteriores de análise, como o Behavio
rismo e o Gestaltismo. Da mesma forma que o Gestaltismo, a Psicologia Cognitiva utiliza
uma análise quantitativa precisa para estudar como as pessoas aprendem e pensam.
O Papel Inicial da Psicobiologia
Ironicamente, um dos ex-alunos de Watson, Karl Spencer Lashley (1890-1958), questionou
de forma contundente a teoria behaviorista de que o cérebro é um órgão passivo que simples
mente reage às contingências comportamentais fora do indivíduo (Gardner, 1985). Ao con
trário, Lashleyconsidera o cérebro como um organizadorativo e dinâmico do comportamento.
Capítulo 1 • Introdução à Psicologia Cognitiva 9
Lashley buscavaentender de que maneira a macro-organização do cérebro humano tomava
possível a execução de atividades planejadas tão complexas como apresentações musicais,
jogos e o uso da linguagem. Nenhuma delas, em sua opinião, poderia ser prontamente
explicável em termos de condicionamento simples.
Na mesma linha, mas em um nível de análise diferente, Donald Hebb (1949) propôs o
conceito de conjuntos de células como base para o aprendizado no cérebro. Esses conjuntos
são estruturas neurais coordenadas que se desenvolvem por meio da estimulação freqüente.
Eles se desenvolvem ao passar do tempocoma capacidade de um neurônio (célulanervosa),
ao ser estimulado, disparar outro neurônio conectado. Os behavioristas não aproveitaram
esta rara oportunidade para concordar com Lashley e Hebb. Na verdade, o behaviorista B. F.
Skinner (1957) escreveu um livro inteiro descrevendo como a aquisição e o uso da lingua
gem poderiam serexplicados unicamente em termos de contingências ambientais. Esse tra
balho levoua estrutura teórica de Skinner longedemais, deixando-o livrepara sercontestado.
E tal contestaçãoestavaa caminho.O lingüista NoamChomsky (1959) fez duras críticas às
idéias deSkinner.Emseuartigo, Chomsky ressaltou tanto a basebiológica comoo potencial
criativoda linguagem, apontando para a infinitaquantidade de sentençasque podemos pro
duzir com facilidade. Sendo assim, desafiou as teorias behavioristas de que a linguagem é
aprendidapor intermédio do reforçamento: até mesmo crianças bem jovensproduzem novas
sentençasa todo o momento,asquais não poderiam ter sidoreforçadas no passado. Chomsky
afirmou que o entendimento da linguagem não está condicionado tanto pelo que já se ou
viu, mas, ao contrário, pelo Dispositivo InatodeAquisição de Linguagem (DAL) que todos
os seres humanos possuem. Esse dispositivo possibilita ao bebê utilizar o que escuta para
inferir a gramática de seu ambiente lingüístico. Em especial, o DAL limita ativamente o
númerode construções gramaticais possíveis. Assim sendo, é a estruturada mente, e não a
estrutura das contingências ambientais, que orienta a nossa aquisiçãoda linguagem.
Acrescentando uma Pitada de Tecnologia: Engenharia/
Computação e Psicologia Cognitiva Aplicada
No fim da décadade 1950, alguns psicólogos estavam intrigados pela incômoda idéiade que
as máquinas poderiam serprogramadas parademonstrar o processamento inteligente da in
formação (Rychlak, Struckman, 2000). Turing (1950) sugeriu que, em pouco tempo, seria
difícil distinguir a comunicação das máquinas da dos seres humanos. Ele sugeriu um teste,
atualmente chamado de Teste de Turing, pelo qual um programade computador poderia ser
consideradobem-sucedido à medidaque o seu resultadofosse indistinguível, peloserhumano,
do resultado de testes realizados com seres humanos (Cummins, Cummins, 2000). Em outras
palavras, suponhaque você se comunicasse com umcomputador e não soubesse que este era
umcomputador. O computador, então, teria passado noTeste deTuring (Schonbein, Betchel,
2003). Por volta de 1956,um novo termo entrou para o nosso vocabulário: Inteligência Arti
ficial (IA), queé a tentativado ser humano de construir sistemas quedemonstrem inteligên
cia, em especial, o processamento inteligente da informação (Merriam-Websters Colkgiate
Dictionary, 1993). Exemplos de IA sãoosprogramas de jogo de xadrez, queconseguem vencer
os seres humanos, na grande maioria das vezes.
Muitos dos psicólogos cognitivos interessaram-se pela Psicologia Cognitiva pormeiode
problemas aplicados. Por exemplo, segundo Berry (2000), Donald Broadbent (1926-1993)
dizia ter desenvolvido o interesse pela PsicologiaCognitiva por causa de um problema re
lacionado a aeronave AT6. Estes aviões possuíam duas alavancas quase idênticas sob o
10 Psicologia Cognitiva
assento. Uma servia para erguer as rodas e a outra, para levantar os aerofólios. Aparente
mente, quase todos os pilotos confundiam as duas e, consequentemente, acabaram cau
sando enormes prejuízos com acidentes na decolagem de seus aviões. Durante a Segunda
Guerra Mundial, muitos psicólogos cognitivos, inclusive um de meus mentores, Wendell
Garner, reuniu-se com os militares para resolver problemas práticos da aviação e de ou
tras áreas, especialmente por causa da guerra contra forças inimigas. A teoria da informa
ção, que buscavaentender o comportamento das pessoas sobre como elas elaboram os tipos
de elementos de informação processada pelos computadores (Shannon, Weaver, 1963),
cresceu também em decorrência dos problemas de engenharia e da informática.
A Psicologia Cognitiva Aplicada também foi de grande utilidade para a publicidade.
John Watson, apósdeixar o cargo de professor na Johns Hopkins University, tornou-se um
executivo extremamente bem-sucedido em uma agência de propaganda, tendo utilizado os
seus conhecimentos de Psicologia para alcançar o sucesso. Na realidade, na propaganda,
utiliza-se muito, diretamente, os princípios da Psicologia Cognitiva para atrair clientes para
os produtos, às vezes suspeitos, outros não (Benjamin, Baker, 2004).
No início da década de 1960,os avanços na Psicologia, na Lingüística, na Antropologia
e na IA, bem como as reações ao Behaviorismo por parte de muitos profissionais renomados
da área de Psicologia, convergiram para criar uma atmosfera madura para a revolução.
Os primeiros cognitivistas (como Miller, Galanter, Pribram, 1960; Newell, Shaw, Si-
mon, 1957b) afirmavam que as teorias behavioristas tradicionais sobre o comportamento
eram inadequadas, principalmente porque não falam sobre como as pessoas pensam. Um
dos primeiros e mais famosos artigos sobre Psicologia Cognitiva foi sobre "o mágico nú
mero sete". George Miller (1956) pontuou que o número sete aparecia em diferentes mo
mentos da Psicologia Cognitiva, como na literatura sobre a percepção e a memória, e,
assim, imaginou se havia algum significado oculto nessas freqüentes ocorrências. Por exem
plo, descobriu que a maioria das pessoas é capaz de se lembrar de
cerca de sete itens de informação. Nesse trabalho, Miller introduziu
também o conceito da capacidade de canal, ou seja, o limite superior
no qual um observador consegue combinara resposta para a informa
ção que lhe for oferecida. Por exemplo, caso você consiga se lembrar
de sete dígitos que lhe sejam apresentados em seqüência, nesse caso
sua capacidade de canal para memorizar números será o "sete". O li
vro de Ulric Neisser, Cognitive Psychology (Neisser, 1967), foi bas
tante importante ao divulgar a importância do Cognitivismo —que
estava em desenvolvimento - aos alunos de graduação, pós-gradua
ção e ao ambiente acadêmico em geral. Neisser definiu a Psicologia
Cognitiva como o estudo de como as pessoas aprendem, organi
zam, armazenam e utilizam o conhecimento. Posteriormente, Allen
Newell e Herbert Simon (1972) acabaram por propor modelos deta
lhados do pensamento humano, bem como da resolução de proble
mas, desde os mais simples até os mais complexos. Por volta de 1970,
a Psicologia Cognitiva já era reconhecida como importante campo
de estudos da Psicologia, dispondo de um conjunto específico de mé
todos de pesquisa.
Na década de 1970, Jerry Fodor (1973) popularizou o conceito
da modularidade de mente. Argumentava que a mente possui módu
losdistintos ou sistemas de escopos diversos para tratar da linguagem
Ulric Neisseré profes
sor emérito da Cometi
University. Seu livro,
Cognitive Psychology,
foi fundamental para o
lançamento darevolução
cognitivista na Psicologia.
Neisser foi também umdos
grandes defensores de uma
abordagem ecológica da
cognição, tendodemons
trado a importância do
estudo doprocessamento
cognitiuo em contextos
ecologicamente válidos.
(Foto: Cortesia de Dr.
Ulric Neisser)
Capítulo 1 • Introdução à Psicologia Cognitiva 11
e, possivelmente, de outros tipos de informação. A modularidade implicaque os processos
que sãousados em umdomínio de processamento, como o da linguagem (Fodor, 1973), ou
da percepção (Marr, 1982), operam independentemente dosprocessos em outrosdomínios.
Uma opiniãocontrária seria a do processamento de domínio geral, segundo a qual ospro
cessos que se aplicam a um domínio - como a percepção ou a linguagem - aplicam-se a
muitos outros domínios também. As abordagens modulares são úteis no estudo de alguns
fenômenos cognitivos, como a linguagem, mas não sãocomprovadamente úteis no estudo
de outros fenômenos, como a inteligência, que parece estar ligada às inúmeras e diferen
tes áreas do cérebro em intrincados inter-relacionamentos.
Métodos de Pesquisa em Psicologia Cognitiva
Objetivos da Pesquisa
Para melhor entender osmétodos específicos usados pelospsicólogos cognitivosdeve-se, em
primeiro lugar, compreender os objetivos da pesquisa em Psicologia Cognitiva, alguns dos
quais destacamos aqui. Demodo resumido, esses objetivos compreendem a coleta e a aná
lise de dados, o desenvolvimento de teorias, a formulação e a testagem de hipóteses, e até
mesmo a aplicação em ambientes fora do contexto da pesquisa. Com freqüência, os pesqui
sadores buscam apenas coletara maior quantidade possível de informações a respeito de um
determinado fenômeno, podendo ter ou não noções preconcebidas em relação àquilo que
poderão encontrar durante a coleta dos dados. Tal pesquisa concen
tra-se na descrição de determinados fenômenos cognitivos como, por
exemplo, a maneira como as pessoas reconhecem fisionomias ou de
senvolvem habilidades.
A coleta de dados e a análise estatística auxiliam os pesquisado
res na descrição dos fenômenos cognitivos. Nenhuma empreitada
científica iria muito longe sem essas descrições. Todavia, a maioria
dos psicólogos cognitivos deseja entender mais do que o que da cog
nição. A maioria deles também procura entender o como e o porquê
do pensamento. Ou seja, os pesquisadores buscam formas de expli
car e de descrever a cognição. Para ir além das descrições, os psicó
logos cognitivos precisam dar um salto, passando daquilo que se
observa diretamente para aquilo que pode ser inferido com relação
às observações.
Suponha que se queira estudar um determinado aspecto da cog
nição. Um exemplo seria o modo como as pessoas compreendem a
informação contida em um livro didático. Geralmente, inicia-se com
uma teoria. Uma teoria é um corpo organizado de princípios expla-
natórios relativos a um fenômeno com base na observação. Busca-se
testar uma teoria e, por meio desta, verificar se tem o poderde pre
ver determinados aspectos do fenômeno em questão. Em outras pa
lavras, nosso processo de pensamento é "se nossa teoria for correta,
então sempre que 'x' ocorrer, o resultado deverá ser 'y"\ Esse pro
cesso resulta na geração de hipóteses, proposições experimentais em
relação às conseqüências empíricas esperadas dessa teoria, como os
resultados da pesquisa.
Herbert. A. Simonfoi
professor deCiênciada
Computação e Psicolo
giana Camcgie-bÁetion
University. E famoso por
seu trabalho pioneirocom
Ailen Newell e outros na
construção e na testagemde
modelos de computador que
simulavam o pensamento
humano,bemcomo pelos
testes experimentais desses
modelos. Foi também
importante defensor dos
protocolos "de pensar em
vozalta" parao estudo do
processamento cognitivo.
Símonfaleceu em2001.
(Foto: Cortesia deCamegie-
-Melíon University
Arckives)
12 Psicologia Cognitiva
A seguir, testam-se as hipóteses por meio da experimentação. Mesmoque determi
nadas conclusões pareçam confirmar uma hipótese dada, elas deverão ser submetidas à
análise para determinar sua significância estatística. A significância estatística indica a
probabilidade de que umdeterminado conjunto de resultados venha a serobtido apenas
se houver fatores aleatórios em ação. Por exemplo, um nível 05 de significância estatís
tica significaria que a probabilidade de um determinado conjunto de dados seria de ape
nas 5%, se somente fatores aleatórios estivessem operando. Assim sendo, os resultados
não parecem ser apenas em virtude do acaso. Por meio desse método, pode-se decidir
aceitar ou rejeitar hipóteses.
Uma vez que as previsões hipotéticas tenham sido testadas experimentalmente e ana
lisadas estatisticamente, as conclusões desses experimentos poderão conduzir a outros tra
balhos. Por exemplo, um psicólogo pode se engajar em mais coletas e análises de dados,
desenvolvimento de teorias, formulação de hipóteses e testagem de hipóteses. Com base
nas hipóteses que tenham sido aceitas e/ou rejeitadas, a teoria deverá ser revista. Além
disso, muitos psicólogos cognitivos têm esperança de usar os conhecimentos obtidos
por meioda pesquisa para auxiliar as pessoas a utilizarem a cognição em situações reais.
Algumas pesquisas em Psicologia Cognitiva são aplicadas, desdeo seu início, na tentativa
de ajudar as pessoas a melhorarem as próprias vidas, assim como as condições emque vivem.
Assimsendo, a pesquisa básica pode conduzir às aplicações cotidianas. Para cada um desses
propósitos, existem diferentes métodos de pesquisa que oferecem vantagens e desvanta
gens diferenciadas.
Métodos de Pesquisa Característicos
Os psicólogos cognitivos usam vários métodos para explorar como os seres humanos pen
sam. Esses métodos são: (a) experimentos de laboratórioou outros experimentos controla
dos; (b) pesquisa psicobiológica; (c) autoavaliações; (d) estudos de caso; (e) observação
NO LABORATÓRIO DE GORDON BOWER
ESPECIALISTAS EM DIVIDIR PARA CONQUISTAR
Cresci numa pequena ci
dade do estado de Ohio,
onde passei centenas de
horas jogando beisebol.
Meu treinador mais ve
lho, Dean Harrah, con
seguia lembrar - com
admirável precisão - de
todos os jogos de beisebol de todos os tempos.
Dean conseguia se lembrar até mesmo de jo
gadas insignificantes de uma partida, como o
turno, o número de eliminações, contagem de
arremessos, de lances e até da localização dos
interceptadores, enquanto vislumbrava todas
as sinalizações de "bate-e-corre" (hit-and-run)
de uma partida jogada há três semanas. Sua
capacidade para recordar detalhes dos jogos
era simplesmente assombrosa. Entretanto, era
conhecido por esquecer-se da maioria das
outras coisas, como seus compromissospes
soais, as compras de supermercado e tudo o
mais que a sua esposa lhe pedia. Dean tinha
um amigo, Claude, enxadrista fanático que,
como ele, possuía uma memória espantosa.
Claude jogava xadrez muitíssimo bem e tam
bém conseguia se lembrar de todas as jogadas
de todos as partidas que havia jogado em me
ses. Todavia, Claude não conseguia se lembrar
de coisassimples, como a tabela periódica de
elementos das aulas de química durante o
colegial. Deane Claudenão sabiam me expli
car como faziam o que faziam, apenas que
ambos "enxergavam" eventossignificativos em
sua totalidade durante o desenrolar de uma
partida. Tais lembranças prodigiosas convi
vendo na mesma cabeça ao lado de péssimas
Capítulo 1 • Introdução à Psicologia Cognitiva 13
NO LABORATÓRIO DE GORDON BOWER (continuação)
recordações sempre me fascinaram. Foi este
um dos inúmerosquebra-cabeças da vida coti
diana que me motivaram para o estudo da Psi
cologia da memória humana.
Meu espanto aumentou ainda mais quan
do pesquisadores me informaram o quão, ge
ralmente, é limitada a memória das pessoas.
Especificamente, o ser humano é seriamente
limitado com relação à quantidade de coisas
que pode absorver e reter na memória, mesmo
que por pouco tempo, e, consequentemente,
de como consegue rapidamente absorver uma
nova informação na memória permanente.
Mas, o que são essas "coisas" que se absorve?
O psicólogo George Miller (1956) batizou-as
de "pedaços" (chunks) de informação e propôs
que a memória imediata das pessoas está limi
tada pelo número de "pedaços"que conseguem
absorver e recordar. Sempre me perguntei se
as prodigiosas memórias de Dean e Claude
estavam associadas com um conhecimento
interno de como fracionar a informação que
tivesse significado especial para eles.
A afirmação de Miller me levou a ques
tionar: O que é um "pedaço" de informação?
Qual o tamanho desses "pedaços"? O que de
termina o seu tamanho e suas propriedades?
Os seus "pedaços" são iguais aos meus? Como
mensurar os "pedaços"?
A noção intuitiva é de que um "pedaço"
é um padrão de elementos básicos que o indi
víduo aprendeu anteriormente. Essespadrões
podem ser identificados em vários níveis de
complexidade —de pequenos a grandes. Por
exemplo, a frase "feliz ano-novo" (happy new
year) é, para a maioria das pessoas que falam
inglês, nada mais do que um pedaço composto
de três subpedaços familiares (palavras), que,
por sua vez, são compostos de 12 subpedaços
familiares (letras) e dois espaços - 14 símbolos
ao todo. Suponhamos, todavia, que os 14 sím
bolos sejam dispostos em uma página como
"Feli-ianono-vo" (ha-ppyyne-wyear). Esta sé
rie de letras agora parece não ter sentido e
seria muito difícil de ser aprendida. Contudo,
qualquer indivíduo que fale outra língua e que
não tenha qualquer conhecimento do alfa
beto inglês, diria que ambas as séries não têm
sentido e são difíceis de memorizar. O que
um pedaço é só depende do aprendizado an
terior de um indivíduo.
Assim sendo, a dificuldade de se recordar
de algumacoisadepende de como ela é perce
bida, como é dividida em pedaços. Porém, que
princípios o cérebro humano utiliza para divi
dir elementos em grupos perceptivos?
Um.importante princípio de agrupamento
é o quanto esses pedaços estão próximos em
termos de tempo e de espaço. Assim, os espa
ços vazios (traços) em IC-BMIC-IAF-BI fazem
com que as pessoas vejam a série de pedaços
de 2, 4, 3 e 2 letras, respectivamente. Esses
agrupamentos apreendem a percepção e são
copiados na memória imediata do indivíduo.
Além disso, se um estudante precisasse es
tudar e tentar reproduzir um número de tais
seqüências repetidamente, ele(a) iria, ao final,
recordar a série em pedaços "tudo-ou-nada".
Ou seja, a maioria dos erros de recordação
iria surgir enquanto se tentasse mover a re
cordação entre os pedaços (nas transições C
para B, C para I e F para B).
Um segundo princípio do agrupamento é
que os elementos assemelhados ou com sono
ridade parecida serão agrupados juntos. Por
exemplo, letras em tamanho, forma (fonte) e
cor semelhante serão agrupadas juntas e lem
bradas enquanto unidades.
Assim como a proximidade no espaço e a
aparência influenciam o agrupamento visual,
a proximidade no tempo e a qualidade dos
sons influenciam o agrupamento de palavras
faladas e das notas musicais. Dessa maneira,
ouvir a série de letras acima serem ditas com
pausas entre os grupos fará com que as pessoas
adotem o fracionamento e se recordem desses
grupos. Agrupamentos semelhantes viriam à
tona caso os pedaços fossem semelhantes ao
serem falados por vozes distintas ou vindos de
locais diferentes. Esses agrupamentos auditivos
expressam o hábito das pessoasde falar núme
ros de telefones em uma cadência - 3-3-4, por
exemplo, em 555-123-4567 - e são trazidas a
uma complexidade magnífica nos sofisticados
tempos e ritmos da música.
Então, o que esse fracionamento tem a
ver com a aprendizagem e a memória? Tudo.
Elaborei uma hipótese de que a maneira mais
rápida para se aprender alguma coisa é estu
dá-la e reproduzi-la repetidamente usando
a mesma estrutura de fracionamento de um
momento para o outro. Desse modo, para
{continua)
14 Psicologia Cognitiva
NO LABORATÓRIO DE GORDON BOWER (continuação)
aprender a reproduzir a seqüência IC-BMCI-
AFB-I, o melhor é estudar exatamente esses
pedaços na mesma ordem a cada vez. Nossas
experiências com estudantes universitários
mostraram que eles acumulam muito pouco ou
nenhum ensinamento de uma série de seqüên
cias diferentes, caso mudássemos os agrupa
mentos toda vez que eles fossem estudá-los.
Assim sendo, para a nossa série de exemplos
anteriores, os estudantes iriam provavelmente
perceber um agrupamento diferente das letras,
como por exemplo I-CBM-CI-AF-B1 ou ICB-
MC-IAFB-I, enquanto uma nova seqüência de
letras, fazendo com que se lembrassem ime
diatamente dela, quase tão sofrível quanto no
momento em que a seqüência foi apresentada
pela primeira vez. Essa falha seria devida ao
fato de estarem confusos sobre onde colocar os
espaços ou pausas no momento em que repro
duziamas séries? Claro que não, porque sabiam
que precisavam se lembrar apenas das letras e
não dosespaços. Além do mais, o déficit foimais
ou menos igual quando simplesmente conta
mos as letras corretas, independentemente da
ordem em que os estudantes as lembravam.
Em suma, o estudo repetitivo só auxilia, prin
cipalmente quandoo material é fracionado da
mesma maneira de uma ocasião para a outra.
Uma das implicações do resultado deste
fracionamento constante é que as pessoas irão
rapidamente reconhecer e reproduzir qualquer
seqüênciade símbolos que se ajuste aos pedaços
que elas já sabem ou que lhes sejam "familia
res". Por exemplo, se nosso modelo de seqüên
cia de letras for agrupado como ICBM-CIA-FBI,
os alunos reconhecerão com facilidade as abre
viações familiares e prontamente relembrarão
de toda a série. (Alguns leitores poderão já
ter reconhecido esses acrônimos). Esta obser
vação ilustra um princípiosimples e muito po
deroso: a memória humana opera com muito
mais eficiência quando usa o aprendizado ante
rior para reconhecer pedaçossemelhantes con
tidos nos materiais a serem aprendidos. Ao
reconhecer e explorar pedaços familiares, um
indivíduo experiente reduz enormemente o
volume do novo aprendizado requerido para
dominar o novo material. Grande parte da pe
rícia em muitos domínios de habilidades - da
leitura de palavras à compreensão de fórmulas
químicas, equações matemáticas, fragmentos
musicais, sub-rotinasde programação de com
putadores e, sim, até mesmoaos fatos ocorri
dos nas partidas de beisebol de Dean ou das
posições das peças de xadrezde Claude - tudo
isso dependeda capacidadedo cérebrode reco
nhecer e explorar os pedaços previamente
aprendidos e rapidamente acessara nova situa
ção que se apresenta. Essa técnica se desen
volve lentamente durante centenas de horas de
estudo concentradodos padrões recorrentes
em determinados domínios. O benefício dessa
prática muito específica explicade que modo a
memória hábil em um domínio, tal como o
beisebol para Dean ou o xadrez para Claude,
podem facilmentecoexistirao ladode recorda
ções débeis domínios não relacionados, como
compromissosdiários ou aulas de química.
O valor do fracionamento consistente
aplica-se ao "aprendizado reprodutivo", quan
do se tenta reproduziruma série de itens arbi
trários. Esse aprendizado nos é geralmente
solicitado. Por outro lado, para o aprendizado
superior de domínios conceitualmente mais
ricos, há as vantagens em se inter-relacionar
os agrupamentos em classificações por cortes
transversais. Por exemplo, embora os agrupa
mentos constantes de fatos sobre categorias
como política, economia e o exército possam
auxiliar um aluno a lembrar de fatos sobre a
Guerra Civil Americana, uma melhoria no
entendimento e na memória poderia advir
pelo inter-relacionamento e pela interassocia-
ção de fatos por meio dos domínios, por exem
plo, observar os objetivos políticos utilizados
por uma campanha militar, como a famosa
"Marcha para o Mar",que o General Sherman
conduziu pelos estados do sul. O benefício
dessas inter-relações conceituais será um tó
pico abordado mais adiante.
Capítulo 1 • Introdução à Psicologia Cognitiva 15
naturalística; e (0 simulações por computador e IA (ver Quadro 1.1 para descrições e exem
plos da cada método).
Como mostra o Quadro 1.1, cada método oferece vantagens e desvantagens.
Experimentos com o Comportamento Humano
Nos projetos experimentais controlados, o pesquisador conduz a pesquisa geralmente em
um ambiente laboratorial. Ele controla o maior número possível de aspectos da situação
experimental. Basicamente, existem dois tipos de variáveis em um determinado experi
mento. As variáveis independentes são aspectos de uma investigação, manipulados de modo
individual ou cuidadosamente regulados pelo experimentador, ao mesmo tempo em que
outros aspectos da investigação são mantidos constantes (ou seja, não sujeitos a variação).
As variáveis dependentes são respostas de resultados, os valores dos quais dependem da forma
que uma ou mais variáveis independentes venham a influenciar ou afetar os participantes
do experimento. Sempre que se diz a alunos participantes da pesquisa que se sairão muito
bem em uma tarefa, mas não se diz algo aos outros participantes, a variável independente é
o volume de informaçãodada aos alunos a respeito de seu esperadodesempenho.A variável
dependente é a maneira como quão bem ambos os grupos se saem em suas tarefas, ou seja,
suas notas na prova de matemática.
Sempre que o pesquisador manipula as variáveis independentes, ele controla os efeitos
das variáveis irrelevantes e observa os efeitos das variáveis dependentes (resultados). Tais
variáveis irrelevantes mantidas constantes são chamadas de variáveis decontrole. Outro tipo
de variável é a variável expúria, um tipo de variável irrelevante que não tenha sido contro
lada durante um experimento. Por exemplo, imagine que se queira examinar a eficáciade
duas técnicas de resolução de problemas. Treina-se e testa-se um grupo sob a primeira estra
tégia às 6 horas e, um segundo grupo, sob a segunda estratégia, às 18 horas. Nesse experi
mento, o horário do dia seria uma variável expúria. Em outras palavras, a hora do dia pode
causar diferenças no desempenho que não têm nada a ver com a estratégia de resolução do
problema. Obviamente, quando se conduz uma pesquisa, todo cuidado é necessário para se
evitar a influência das variáveis expúrias.
Ao implementar um método experimental, o pesquisador precisa utilizar uma amostra
aleatória e representativa da população de interesse. Deve exercer controle rigoroso sobre
as condições do experimento bem como designar, também de maneira aleatória, os partici
pantes para o tratamento e as condições de controle. Se esses requisitos para o método ex
perimental forem preenchidos, o pesquisador poderá inferir causalidade provável. Esta é a
inferência dos efeitos da variável ou variáveis independentes (tratamento) sobre as variá
veis dependentes (resultado) para uma determinada população.
Muitas e diferentes variáveis dependentes são utilizadas em pesquisa cognitivo-psicoló-
gica. Duasdas mais comuns são o percentual de correlação (ou seu elemento inverso, a taxa
de erro) e o tempo de reação. E importante selecionar, com muito cuidado, os dois tipos de
variáveis, porque independente de qual processo se esteja observando, o que se apreende
de um experimento dependerá quase que exclusivamente das variáveis escolhidas para iso
lar o comportamento que está sendo observado.
Os psicólogos que estudam os processos cognitivos, como o tempo de reação, geral
mente utilizam-se do método da subtração, que compreende estimar o tempo que um pro
cesso cognitivo leva pela subtração da quantidade de tempo que o processamento da
informação leva com o processo a partir do tempo que ele leva sem o processo (Donders,
1868/1869). Por exemplo, quando se é solicitado a examinar as palavrascachorro, gato, rato,
hamster, esquilo e informar se a palavra esquilo aparece no exame para depois examinar as
16 Psicologia Cognitiva
QUADRO 1.1 Métodos de pesquisa
Os psicólogos cognitivos usamexperimentos controlados, pesquisapsicobiológica, autoavaliações,
observação naturalista e simulações por computador e IA para estudar os fenômenos cognitivos.
MÉTODO
Descrição do método
Experimentos Controlados em
Laboratório Pesquisa Psicobiológica
Obter amostras do desempenho
em tempo e local determinados
Estudar os cérebros humanos
e animais, usando estudos
post-mortem e várias medidas
psicobiológicasou técnicas de
imagem {ver "Neurociência
Cognitiva")
autoavauações, como
Protocolos Verbais,
autqclassificaçòes, dlários
Obter relatórios dos participantes
sobre a própria cognição em
andamento ou a partir de
lembranças
Validade de inferências
causais: atribuição aleatória
de sujeitos
Geralmente Geralmente não Não se aplica
Validade de inferências
causais: controle experimenta
de variáveis independentes
Geralmente Varia muito, dependendo da
técnica específica
Provavelmente não
Amostras: tamanho Podem ser de qualquer tamanho Geralmente pequenas Provavelmente pequenas
Amostras: representaiividade Podem ser representativas Geralmente, não são
representativas
Podem ser representativas
Validade ecológica Não é improvável; depende da
tarefa e do contexto a que está
sendo aplicada
Improvável sob certas
circunstâncias
Talvez; ver pontos fortes e fracos
Informação acerca de
diferenças individuais
Geralmente pouco enfatizadas Sim Sim
Pontos fortes
Pontos fracos
Exemplos
Facilidade de administração, de
contagem e de análise estatística
torna relativamente fácil aplicar
as amostras representativas de
uma população; probabilidade
relativamente alta de fazer
inferências causais válidas
Proporciona evidências
"contundentes" das funções
cognitivas ao relacioná-las à
atividade fisiológica: oferece uma
visão alternativa do processo que
não está disponível por outros
meios; pode levar a possibilidades
para o tratamento de pessoas com
deficits: cognitivos sérios
Acesso aos íns/gfits introspectivos
a partir do ponto de vista dos
participantes, não podendo ser
acessada por outros meios
Nem sempre é possível generalizar
resultados além de um local
específico, tempo e contexto
da tarefa; discrepâncias entre
comportamento na vida real
e no laboratório
David Meyer e Roger
Schvaneveldt(1971)
desenvolveram uma tarefa de
laboratório na qual apresentavam
resumidamente duas seqüências
de letras (palavras ou
pseudopalavras) aos sujeitos e, em
seguida, pediam-lhes que
tomassem uma decisão sobre
cada seqüência de letras, tal
como decidir se as letras
formavam uma palavra legítima
ou se uma palavra pertencia a
uma categoria pré-designadaAcessibilidade limitada para a
maioria dos pesquisadores: requer
acesso tanto para os sujeitos
apropriados como para o
equipamento que pode ser caro
demais e difícil de obter; amostras
pequenas; muitos estudos têm
como base estudos de cérebros
anormais ou de cérebros
de animais, a generalização das
conclusões para as populações
humanas normais pode será
problemática
Elizabeth Warrington e Tim
Shallice{1972;Shallice,
Warrington, 1970) observaram
que as lesões (áreas de ferimento)
no lobo parietal esquerdo do
cérebro estão associadas a deficits
de memória de curto prazo
(breve, ativa), mas não há
qualquer dano à memória de
longo prazo. Contudo, pessoas
com lesões nas regiões temporais
(mediais) do cérebro apresentam
memória de curto prazo
relativamente normal, mas têm
graves deficits na memória de
longo prazo (Shallice, 1979;
Warrington, 1982)
Incapacidade para reportar
processos que ocorrem fora da
consciência
Protocolos verbais e
autocIassificações: a coleta de
dados pode influenciar os
processos cognitivos que estão
sendo relatados
Recordações: possíveis
discrepâncias entre cognição real
e processos e produtos cognitivos
recordados
Durante um estudo de imagens
mentais, Stephen Kosslyne seus
colegas (Kosslyn, Seger, Pani,
Hillger, 1990) pediram a seus
alunos que registrassem em um
diário durante uma semana todas
as suas imagens mentais em cada
modalidade sensorial
Estudos de Caso
Desenvolver estudos intensivos de
indivíduos, tirando conclusões gerais sobre
comportamento
Altamente improvável
Altamente improvável
Quase certamente pequeno
Capítulo 1 • Introdução à Psicologia Cognitiva 17
Observações Naturalísticas Simulações por Computador IA
Observar situações da vida real, como, Simulações: tentar fazero
por exemplo, em salas de aula,
ambientes de trabalho ou em casa
computador simular o desempenho
cognitivo em várias tarefas
IA: tentativa de fazer o computador
demonstrar o desempenho cognitivo
inteligente, independente do
processo ser semelhante ao processo
cognitivo humano
Não se aplica
Não
Provavelmente pequeno
Não se aplica
Controle total de variáveis de
interesse
Não se aplica
Não é provável que seja representativo Pode ser representativo Não se aplica
Alta validade ecológica para casos Sim
individuais; baixa generalização para outros
Não se aplica
Sim; informações ricas em detalhes com
relação a indivíduos
Acesso a informações ricas em detalhes
sobre indivíduos, inclusive contextos
históricos e atuais, que podem não estar
disponíveis por outros meios; pode levar a
aplicações especializadas para grupos de
indivíduos excepcionais (ex.: prodígios,
pessoas com lesões cerebrais)
Aplicável em outras pessoas; o tamanho
reduzido e a não-representatividade da
amostra normalmente limita a
generalização para a população
Howard Gruber (1974/1981) conduziu um
estudo de caso sobre Charles Darwin,
explorando a fundo o contexto psicológico
da criatividade intelectual
É possível, masa ênfase reside
nas distinções ambientais e não nas
diferençasindividuais
Acesso a informações contextuais
abundantes que podem não estar
disponíveis por outros meios
Não se aplica
Permite explorar ampla gama de
possibilidades para modelar processos
cognitivos; permite testar claramente
para verificar se as hipóteses previram
com precisão os resultados; pode
levar a grande variedade de
aplicações práticas (ex.: robótica para
o desempenho de tarefas perigosas ou
em ambientes de risco)
Falta de controle experimental;
possível influência no comportamento
naturalista em decorrência da presença
do observador
Limitações impostas por limites de
hardware (ex.: circuito do
computador) e de software
(ex.: programas criados pelos
pesquisadores); distinções entre
inteligência humana e inteligência
da máquina - mesmo em simulações
com técnicas sofisticadas
de modelagem, as simulações
podem modelar imperfeitamente
a forma como o cérebro humano
pensa
Michael Cole (Cole, Clay, Glick,
Sharp, 1971) pesquisou membros da
triboKpelle na África, observando de
que maneira as definições de
inteligência dos Kpelle se comparavam
com as definições tradicionais da
inteligência ocidental, bem como de
que modo as definições culturais
de inteligência podem governar o
comportamento inteligente
Simulações: por meio de
computações minuciosas, David Marr
(1982) tentou simular a percepção
visual humana e propôs uma teoria
de percepção visual baseada em seus
modelos computacionais
IA: váriosprogramas de IA foram
criados para demonstrar perícias
(ex.: jogar xadrez), mas esses
programas resolvem problemas
provavelmente ao utilizar processos
diferentes daqueles utilizados por
peritos humanos
18 PsicologiaCognitiva
palavras cachorro, gato, rato, hamster, esquilo, leão e informar se a palavra leão aparece, a di
ferença na reação dos tempos pode indicar, grosso modo, a quantidade de tempo que se
gasta para processar cada um dos estímulos.
Supõe-se que os resultados nas condições experimentais mostrem uma diferença esta
tisticamente significante dos resultados na condição de controle. O pesquisador poderá en
tão inferir a probabilidade de uma ligação causai entre as variáveis independentes e as
dependentes. Uma vezque o pesquisadot puder estabelecer uma provável ligação causai en
tre as variáveis independentes e dependentes oferecidas, os experimentos controlados em
laboratório oferecem um excelente método para se testar hipóteses.
Por exemplo, supondo que se quisesse verificar se ruídos altos e perturbadores exercem
influência na capacidade de se desempenhar bem uma determinada tarefa cognitiva (ex.:
ler um capítulo de um livro didático e responder aos exercícios de fixação). Em termos ide
ais, se deveria selecionar uma amostra aleatótia de participantes do total da população de
interesse. A seguir, se designaria aleatoriamente a cada participante às condições de trata
mento ou de controle. Depois, se introduziriam alguns ruídos altos aos participantes na con
dição de ttatamento. Em seguida, se apresentaria uma tarefa cognitiva aos participantes das
duas condições: experimental e de controle. Seria possível, então, medir seus desempenhos
por meio de alguns meios (ex.: velocidade e precisão das respostas às perguntas de compre
ensão). Finalmente, os resultados seriam analisados estatisticamente. A partir disso, seria
possível examinar se a diferença entre os dois grupos atingiu significância estatística. Su
pondo que os participantes na condição experimental tenham mostrado desempenho infe
rior àquele dos participantes na condição de controle, em termos de significância estatística,
dessa maneira, seria possível inferir que ruídos altos e distrativos certamente influenciaram
a capacidade de um bom desempenho nessa tarefa cognitiva específica.
Na pesquisa cognitivo-psicológica, as variáveis dependentes podem ser muito diversifica
das, mas geralmente compreendem várias medidas de resultados de precisão (ex.: freqüên
cia de erros), de tempos de resposta ou de ambos. Dentte as inúmeras possibilidades para as
variáveis dependentes estão as características da situação, da tarefa ou dos participantes.
Por exemplo, as características da situação podem compreender a presença versus a ausên
cia de determinados estímulos ou certas pistas no decorrer de uma tarefa de resolução
de problemas. As características da tarefa podem envolver leitura versus escuta de uma sé
rie de palavras e, em seguida, responder às perguntas de compreensão. As características dos
participantes podem incluir diferenças etárias, diferenças na situação de escolaridade ou até
baseadas em classificação em testes.
De um lado, as características da situação ou tarefa podem ser manipuladas por meio de
atribuição aleatória dos participantes tanto do grupo de tratamento como do grupo de con
trole e, de outro, as características do participante não sãofacilmente manipuláveis em ter
mos experimentais. Por exemplo, supondo que o pesquisador queira estudar os efeitos do
envelhecimento sobre a velocidade e a precisão na resolução de problemas. O pesquisador
não poderá atribuir de modo aleatório a váriosgruposetários porque a idade das pessoas não
pode ser manipulada (embora participantes de vários grupos etários possam ser distribuídos
aleatoriamente nas várias condições experimentais). Nesses casos, o pesquisador sempre
pode usar outros tipos de estudos, como aqueles que compreendem correlação (relação esta
tística entre dois ou mais atributos, por exemplo as características dos participantes ou as da
situação). As correlações normalmente se expressam por meio de coeficientes de correlação
conhecidos como r de Pearson, que é um número que pode ir de -1.00 (correlação negativa)
passando por 0 (sem correlação) até 1.00 (correlação positiva).
Capítulo 1 • Introdução à Psicologia Cognitiva 19
A correlação é a descrição de uma relação. O coeficiente de correlação descreve a força
dessa relação. Quanto mais próximo do 1 estiver o coeficiente (tanto positivo quanto ne
gativo), mais forte será a relação entre as variáveis. O sinal (positivo ou negativo) do coe
ficiente descreve a direção dessa relação. Uma relação positiva indica que, enquanto uma
variável aumenta (ex.: tamanho do vocabulário), outra variável também aumenta (ex.:
compreensão de leitura). Uma relação negativa indica que à medida que uma variável au
menta (ex.: fadiga), a medida da outra diminui (ex.: vigilância). Quando não há correla
ção, ou seja, quando o coeficiente é 0, indica que não existe padrão ou relação na alteração
das duas variáveis {ex.: inteligência e o comprimento do lobo da orelha). Nesse caso, am
bas as variáveis podem mudar, mas não variam juntas dentro de um padrão consistente.
Conclusões sobre relações estatísticas são altamente informativas. Seu valor não deve
ser subestimado. Além disso, uma vez que os estudos correlacionais não exigem atribuição
aleatória de participantes nas condições experimental ou de controle, esses métodos podem
ser aplicados com flexibilidade. Entretanto, tais estudos geralmente não permitem inferên
cias inequívocas com relação à causalidade. Como conseqüência, muitos psicólogos cogni
tivos, na maioria das vezes, preferem utilizar dados experimentais a dados corre lacionais.
Pesquisa Psicobiológica
Por meio da pesquisa psicobiológica, os cientistas estudam a relação entre desempenho cog
nitivo, eventos e estruturas cerebrais. O Capítulo 2 descreve várias técnicas específicas
utilizadas na pesquisa psicobiológica, que em geral são classificadas em três categorias. A
primeira é a das técnicas de estudo do cérebro de um indivíduo post-mortem, estabelecendo
relações da função cognitiva deste indivíduo antes da morte para a observação das caracte
rísticas do cérebro. A segunda categoria compreende as técnicas de estudo das imagens que
mostram estruturas ou atividades no cérebro de um indivíduo sabidamente com déficit cog
nitivo. A terceira categoria compreende as técnicas para obtenção de informação à respeito
dos processos cerebrais durante o desempenho normal de uma atividade cognitiva.
Os estudos post-mortem ofereceram os primeiros insights a respeito de como lesões espe
cíficas podem estar associadas a determinados deficits cognitivos. Esses estudos continuam a
oferecer insights de grande utilidade, de como o cérebro influencia a função cognitiva. Re
centes avanços tecnológicos também estão possibilitando, cada vezmais, o estudo de indi
víduos com reconhecidos deficits cognitivos in vivo (enquanto o indivíduo ainda está vivo).
O estudo de indivíduos com funções cognitivas disfuncionais vinculadas a lesões cerebrais,
geralmente, possibilita a compreensão das funções cognitivas normais.
Além disso, os psicobiologistas estão estudando alguns aspectos do funcionamento cog
nitivo normal por meio do estudo da atividade cerebral em sujeitos animais. Emgeral, a pes
quisa é feita com sujeitos animais para experimentos que compreendem procedimentos
neurocirúrgicos que não poderiam ser realizados com seres humanos por serem difíceis, an-
tiéticos ou até mesmo impraticáveis. Por exemplo, estudos mapeando a atividade neural no
córtex são realizados em gatos e macacos (ex.: à pesquisa psicobiológica sobre como o cére
bro responde a estímulos visuais; ver Capítulo 3).
O funcionamento cognitivo e cerebral dos animais e de humanos com deficits pode ser
generalizado e aplicado ao funcionamento cognitivo e cerebral de humanos normais? Os
psicólogos responderam a essas questões de várias maneiras. A maioria vai além do escopo
deste capítulo (ver Capítulo 2). Apenas como exemplo, para alguns tipos de atividade cog
nitiva, a tecnologia disponível permite aos pesquisadores estudar a atividade cerebral dinâ
mica dos participantes humanos normais durante o processamento cognitivo (ver técnicas
de imagem do cérebro descritas no Capítulo 2).
20 Psicologia Cognitiva
Autoavaliações, Estudos de Caso e Observação Naturalística
Geralmente, os experimentos individuais e estudos psicológicos concentram-se na especifi
cação dos aspectos discretos da cognição nos indivíduos. Para se obter informações ricas em
detalhes sobre a maneira como determinados indivíduos pensam - dentro de uma ampla
gama de contextos - os pesquisadorespoderão usar outros métodos, que incluem as autoava
liações (relato dos processos cognitivos feito pelo próprio indivíduo), os estudos decaso (estu
dos individuais profundos) e a observação naturalística (estudos detalhados do desempenho
cognitivo em situações cotidianas e contextos fora do laboratório). De um lado, a pesquisa
experimental é extremamente útil para testar hipóteses. Por outro, a pesquisa com base nas
autoavaliações, estudos de caso e observação naturalística, são, geralmente, úteis na formulação
das hipóteses. Esses métodos também são muito úteis na geração de descrições sobre eventos
raros ou de processos em que não se disponha de outra forma de mensuração.
Em situações muito específicas, esses métodos são a única forma de se coletar informa
ção. Um exemplo é o caso de Genie, uma menina que ficou trancada em um quarto até os
13 anos, apresentando graves e limitadas experiências sociais e sensoriais. Como conseqüên
cia do aprisionamento, ela apresentava graves deficits físicos e nenhuma habilidade lingüís
tica. Por meio de métodos de estudos de caso, coletou-se informação a respeito de como ela
conseguiu aprender a linguagem mais tarde (Fromkin et ai, 1974; Jones, 1995; La Pointe,
2005). Não seria ético, do ponto de vista experimental, privar uma pessoa de estimulações
lingüísticas em seus primeiros 13 anos de vida. Assim sendo, os métodos de estudos de caso
são a única maneira razoável de se avaliar os resultados de alguém a quem.foi negada a ex
posição ao ambiente social e à linguagem.
Da mesma maneira, uma lesão cerebral traumática não pode ser manipulada em huma
nos no contexto laboratorial. Assim sendo, sempre que uma lesão cerebral traumática ocorre,
os estudos de caso são a única forma de se coletar informação. Por exemplo, o caso de Phi-
neas Gage, um operário de ferrovia que, em 1848, foi atingido, durante um acidente, no lobo
frontal por uma enorme ponta de metal (Damasio et ai., 1994). Surpreendentemente, Gage
sobreviveu, mas seu comportamento bem como seus processos mentais foram drasticamente
alterados. Certamente, não é possível inserir-se uma ponta de metal no cérebro dos partici
pantes em um experimento. Portanto, no caso de uma lesão cerebral traumática, pode-se
confiar unicamente nos métodos de estudos de caso para a coleta de informações.
A confiabilidade dos dados com base nos vários tipos de autoavaliações depende da
franqueza dos participantes ao oferecer os relatos. É possível queumparticipante não relate
corretamente a informação sobre seus processos cognitivos por vários motivos. Esses moti
vospodem ser tanto intencionais como não intencionais. Os relatos incorretos do tipo
intencionais podem incluir a tentativa de editar informações desagradáveis. Os relatos in
corretos do tipo não intencionais podem ocorrer pelo não-entendímento das perguntas ou
mesmo da impossibilidade de se lembrar corretamente da informação. Por exemplo, sempre
que o participante é solicitado a dizer quais estratégias para resolução de problemas utili
zavaquando estava no ensino médio, é possívelque ele (ou ela) não lembre. O participante
pode tentar ser completamente honesto em seus relatos. Entretanto, telatos que contêm in
formação rememorada (ex.: diários, relatos retrospectivos, questionários e surveys) são no-
tadamente menos confiáveis do que os relatos provenientes durante o processamento
cognitivo que está sob investigação. A razão é que os participantes, por vezes, se esquecem
do que fizeram. Quando estudam processos cognitivos complexos, tais como a resoluçãode
problemas ou a tomada de decisão, os pesquisadores geralmente usam um protocolo verbal.
No protocolo verbal os participantes desctevem seus pensamentos e idéias em voz alta du
rante o desempenho de uma determinada tarefa cognitiva (ex.: "Gosto mais do aparta
mento com piscina, mas não posso pagar por ele e, portanto, eu talvez escolha outro.")-
Capitulo 1 • Introdução à PsicologiaCognitiva 21
Uma alternativa para o protocolo verbal é que os participantes relatem informações es
pecíficas com relação a um determinado aspecto de seu funcionamento cognitivo. Por
exemplo, o estudo de uma criteriosa resolução de problemas (ver o Capítulo 11 - "Resolu
ção de problemas e criatividade"). Os sujeitos foram solicitados a relatar - em intervalos de
15 segundos -, em ordem numérica, o quão sentiam-se próximos de alcançar uma solução
para um determinado problema. Infelizmente, até mesmo essesmétodos de autorrelatos têm
suas limitações. Por exemplo, o funcionamento cognitivo pode ser alterado pelo ato de en
trega do relatório (ex.: processos envolvendo formas sucintas de memória; ver o Capítulo
5). Outro exemplo são processos cognitivos que ocorrem fora da conscientização (ex.: pro
cessosque não exigem atenção consciente ou que ocorrem tão rapidamente que passamdes
percebidos; ver Capítulo 4). Para se ter uma idéia de algumas das dificuldades com os
autorrelatos, exercite as tarefas apresentadas no quadro "Investigando a Psicologia Cogni
tiva". Reflita a respeito de suas próprias experiências com autorrelatos.
Tarefas INVESTIGANDO
1. Sem olhar para os sapatos, tente relatar - em voz alta - as várias A PSICOLOGIA
etapas envolvidas no ato de amarrá-los. COGNITIVA
2. Lembre-se - em voz alta - do que você fez em seu último aniversário.
3. Agora, amarre os sapatos (ou qualquer outra coisa, como um
barbante em volta do pé da mesa), relatando —em voz alta - todas
as etapas que isso demanda. Você percebe as diferenças entre a
tarefa 1 e a tarefa 3 ?
4- Relate - em voz alta - como você trouxe à consciência todas as
etapas necessárias para amarrar o sapato ou as lembranças do seu
último aniversário. Você consegue relatar exatamente de que
forma trouxe as informações até o nível consciente? Consegue
relatar que parte do seu cérebro estava mais ativa durante a
execução da cada tarefa?
Faça com a metade de um grupo de amigos —um por um —uma das séries de pergun
tas abaixo, e com a outra metade, a outra série. Peça-lhes que respondam o mais rápido
possível.
Grupo l:
O que o bicho-da-seda tece?
Qual o tecido famoso que vem do bicho-da-seda?
O que as vacas bebem?
Grupo 2:
O que as abelhas fazem?
O que cresce no campo e depois se transforma em tecido?
O que as vacas bebem?
Muitos dos seus amigos, ao chegarem à pergunta 3 do grupo 1, dirão "leite", quando
todo mundo sabe que as vacas bebem água. A maioria das pessoas que responde às questões
do grupo 2 dirá "água", e não "leite". Você conduziu um experimento. O método experi
mental divide as pessoas em grupos iguais, altera um aspecto entre os dois grupos (no seu
caso, você fez uma série de perguntas antes de fazer a pergunta crítica) e, em seguida, mede
as diferenças entre os dois grupos. O que você estará medindo é a quantidade de erros, e,
22 Psicologia Cognitiva
é possível, que os seus amigos do grupo 1 apresentem mais erros do que os do grupo 2, pois
estabeleceram o conjunto errado de suposições para responderem às perguntas.
Os estudos de caso poderão ser utilizados como conclusões complementares de experi
mentos laboratoriais, por exemplo, o estudo de indivíduos excepcionalmente dotados e as
observações naturalísticas, ou seja, a observação de indivíduos que trabalham em usinas nu
cleares. Esses dois métodos de pesquisa cognitiva oferecem alta validade ecológica, o grau no
qual as conclusões específicas em um contexto ambiental podem ser consideradas relevan
tes fora daquele contexto. Como se sabe, a ecologia é o estudo da interação entre um ou mais
organismos e o seu ambiente. Muitos psicólogos cognitivos buscam entender a interação
entre o funcionamento do pensamento humano e os ambientes nos quais os seres humanos
estão pensando. Às vezes, processos cognitivos que comumente são observados em outro
contexto (ex.: no laboratório) não são idênticos àqueles observados em outro (ex.: uma
torre de controle de tráfego aéreo ou uma sala de aula).
Simulações por Computador e IA
Os computadores digitais desempenharam importante papel no surgimento do estudo da
Psicologia Cognitiva. Um tipo de influência é a indireta - por meio de modelos da cognição
humana que tomam por base a maneira como os computadores processam informações.
Outro tipo é a influência direta - por meio de simulações por computador e IA.
Nas simulações por computador, os pesquisadores programam computadores para imi
tarem uma determinada função ou um determinado processo humano. Entre os exemplos
estão o desempenho em tarefas cognitivas específicas (ex.: manipulação de objetos no es
paço tridimensional) e o desempenho de determinados processos cognitivos (ex.: reconhe
cimento de padrões). Alguns pesquisadores, inclusive, já tentaram criar modelos de
computador envolvendo toda a arquitetura cognitiva da mente humana. Essesmodelos pro
piciaram acaloradas discussões sobre o funcionameto da mente humana como um todo (ver
o Capítulo8). Àsvezes, a difetença entre a simulação e a IA é difícil de serdelimitada. Por
exemplo, certos programas que são projetados, simultaneamente, para simular o desempe
nho humano e maximizar o seu funcionamento.
Consideremos, por exemplo, um programa que jogue xadrez. Existem duas maneiras to
talmente diferentes para conceituar a escrita desse programa. Uma delas é chamada de força
bruta, ou seja, constrói-se um algoritmo que considere jogadas muito importantes em pe
quenos períodos, potencialmente vencendo jogadores humanos simplesmente por conta do
número de jogadas que o programa possui e as probabilidades das futuras conseqüências des
sas jogadas. O programa seria considerado um sucesso à medida que vencesse os melhores
jogadores humanos. Esse tipo de IA não busca representar como os seres humanos funcio
nam, mas, se bem feito, ele poderá produzir um programa que joga xadrez em altíssimo ní
vel. Uma abordagem alternativa, a da simulação, leva em conta a maneira como os grandes
mestres solucionam seus problemas de xadrez e, em seguida, busca funcionar à maneira da
queles. O programa seria considerado um sucesso se conseguisse escolher, numa seqüência
de jogadas em uma partida, as mesmas jogadasque um grande mestre escolheria.
Também é possível a combinação de duas abordagens para produzir um programa que,
de modo geral, simula o desempenho humano, mas também usa da força bruta para, se ne
cessário, vencer o jogo.
Juntando Tudo
Os psicólogos cognitivos geralmente ampliam e aprofundam o conhecimento por meio
de pesquisas em Ciência Cognitiva. A Ciência Cognitiva é um campo multidisciplinar

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