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Depressão: Características e História

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Depressão 
Depressão é o transtorno mental relacionado ao humor e ao afeto. A depressão tem sido caracterizada como um episódio patológico no qual existe a perda de interesse, de prazer, de apetite, de sentimento de culpa, de inutilidade, de falta de energia e de pensamento de morte (FUREGATO, 2008).
A depressão é comum, afetando cerca de 121 milhões de pessoas no mundo inteiro, sendo a principal causa de incapacidade e a segunda causa de perda de anos de vida saudáveis entre as 107 doenças e problemas de saúde mais relevantes. Os custos pessoais e sociais da doença é muito elevados. Estima-se que uma em cada quatro pessoas em todo o mundo sofre, sofreu ou vai sofrer de depressão (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2009).
Sua incidência é estimada em, aproximadamente, 17% da população mundial. Algumas de suas principais características é a perda de peso, sentimento de culpa, ideação suicida, hipocondria, queixa de dores e, eventualmente, o desenvolvimento de psicose (DESLANDES, 2007).
Cordeiro (2002) afirma que é possível isolar um conjunto de fatores associados a depressão, entre eles, podemos ressaltar os seguintes: a incidência maior no sexo feminino, as mulheres casadas, homens vivendo sozinhos, idade compreendida entre 20 e 40 anos, perdas parentais antes da adolescência, depressão na história familiar, puerpério, ausência de um confidente, acontecimentos vitais negativos e residência em área urbana.
A depressão pode ser vista como um mal que se enraíza no eu do indivíduo, bloqueando suas vontades e dirigindo de forma negativa o curso de seus pensamentos, prejudicando o sujeito tanto no contexto psicossocial como individual (COUTINHO, 2006). 
A depressão também pode afetar as funções do corpo além de efeitos sobre o comportamento, alguns dos quais são, interferência nas chances de sucesso no aprendizado e no trabalho, aumento da possibilidade de ter filhos problemáticos, dependência nicotínica, alcoolismo e suicídio (NEDLEY, 2010). 
História 
A condição hoje chamada de depressão foi descrita por alguns autores antigos sob a categoria de “melancolia”. As primeiras referências à melancolia são atribuídas a Homero, que na Ilíada a descreve em Belerofonte: “Errou, sozinho, através da planície Aleia, consumindo o seu coração, evitando as pegadas dos homens”.
 Em textos de Culturas antigas, já há a descrição das mudanças de humor de indivíduos que hoje são enquadrados no espectro psicopatológico-clínico da depressão. Naqueles tempos, prevalecia uma visão ético-religiosa que não só atribuía a melancolia à intervenção de forças sobrenaturais malévolas ou divinas, mas a considerava uma forma de punição.
 A primeira descrição clínica de melancolia foi feita pelo médico grego Hipócrates no século IV a.C., que formulou uma hipótese etiopatogênica “científica”, descrevendo de forma aprimorada as características clínicas e a evolução do quadro melancólico. Hipócrates propôs que o cérebro seria a sede de todas as emoções e atribuiu a depressão à ação de uma substância endógena nesse órgão, a bile negra (daí o termo “melancolia”: mélas – “negro” e cholé - “bile negra”). Sua presença no organismo seria determinada pela umidade e pelas estações. 
No início do século XIX, Pinel descreveu a melancolia da seguinte maneira: Os sintomas geralmente abarcados pelo termo melancolia são taciturnidade, um ar pensativo sério, suspeitas soturnas e amor à solidão. Esses traços, sem dúvida, parecem distinguir a personalidade de alguns homens com boa saúde e frequentemente em circunstâncias prósperas. Contudo, nada pode ser mais abominável do que a figura do melancólico remoendo seus imaginários infortúnios. Se ademais possuído de poder, e dotado de uma disposição perversa e de um coração sanguinário, a imagem torna-se ainda mais repulsiva.
O termo depressão só passou a ser utilizado na Medicina a partir do século XVIII, para designar um estado ligado a melancolia.
Etiopatogenia 
As descrições da depressão mencionadas incluem as características típicas dessa condição. Poucas são as síndromes psiquiátricas que têm descrições clínicas tão constantes ao longo de sucessivas épocas da história. Percebe-se que as descrições históricas da depressão indicam que se observam manifestações desse transtorno em todos os aspectos do comportamento, incluindo as divisões psicológicas tradicionais de afeição e cognição.
Ainda que a depressão seja reconhecida como uma síndrome clínica há mais de dois mil anos, até hoje não foi encontrada uma explicação plenamente satisfatória de suas características intrigantes e paradoxais. Ainda existem importantes questões não resolvidas sobre sua natureza, classificação e etiologia. Entre essas questões estão as seguintes: 
A depressão é o exagero de um estado de humor vivenciado por indivíduos normais, ou é qualitativa e quantitativamente diferente de um estado de humor normal?
Quais são as causas, as características definidoras, os resultados e os tratamentos efetivos da depressão? 
A depressão é um tipo de reação ou uma doença? 
A depressão é causada principalmente por estresse psicológico e conflito, ou está basicamente relacionada a uma desordem biológica?
 “Alguns pesquisadores afirmam que a depressão é, sobretudo, um transtorno psicogênico; outras afirmam que ela é causada por fatores orgânicos. Um terceiro grupo defende o conceito de dois tipos diferentes de depressão: um psicogênico e outro orgânico”.
 Os aspectos biológicos da depressão têm recebido bastante atenção, milhares de estudos foram feitos com quase todos os constituintes do sangue, da urina e do líquido cefalorraquidiano, foram realizados também estudos patológicos do cérebro e de outros órgãos. Alguns estudos demonstraram relação entre o tamanho reduzido do hipocampo e a depressão, bem como um tamanho aumentado da amígdala e a propensão a episódios depressivos. 
Apesar dos inúmeros estudos existentes sobre o assunto, existe pouco conhecimento sólido a respeito do substrato biológico específico da depressão. Nenhum achado laboratorial que diagnostique com certeza um episódio depressivo maior foi identificado. 
Os resultados positivos que têm sido associados à depressão incluem níveis excessivos de esteróides, retenção de sódio e alterações nos padrões de EEG, evidenciando déficit nos níveis mais profundos do sono. 
Há muitas opiniões sobre a possível natureza e etiologia da depressão e muito ainda há de se pesquisar, mas com o crescente número de casos de pessoas apresentando este transtorno no mundo contemporâneo, percebe-se a necessidade de maior atenção aos sinais e sintomas característicos da depressão.
A teoria mais aceita atualmente para explicar a etiopatogenia da depressão, propõe que um episódio depressivo resultaria da interação de fatores biológicos (resposta ao estresse, fatores neurotróficos), psicológicos (personalidade e relacionamentos pessoais), ambientais (dieta, álcool, ritmos biológicos) e genéticos.
Já se sabe que o transtorno de humor depressivo tem um componente hereditário, e os familiares de primeiro grau de pessoas deprimidas, apresentam um risco aumentado 1,5 a 3 - 10 - vezes ao da população geral, para o desenvolvimento da depressão. Estima-se que o componente genético represente cerca de 40% da susceptibilidade do indivíduo desenvolver depressão. Além disso, a exposição a estressores tem papel muito importante no desenvolvimento de quadros depressivos.
 As pesquisas sobre a neurobiologia da depressão têm encontrado alterações a nível macroscópico e molecular embasando a proposição de alguns modelos para tentar explicar a fisiopatologia da depressão: o modelo monoaminérgico e a teoria da supra-regulação póssináptica.
Segundo a hipótese monoaminérgica da depressão, haveria uma diminuição da função monoaminérgica no encéfalo, incluindo a neurotransmissão dopaminérgica, além da diminuição de receptores de serotonina (5-HT) e norepinefrina no córtex pré-frontal e sistema límbico.
 Essa hipótese porém, não explica o surgimento do efeito clínico dos antidepressivos somente algumassemanas depois do início de seu uso, assim foi proposta uma nova hipótese para tentar explicar essa latência, denominada, hipótese da regulação pós-sináptica, que propõe que o atraso no surgimento dos efeitos dos antidepressivos, se deve a alterações no número e sensibilidade dos receptores monoaminérgicos.
Atualmente, considera-se que as alterações nos níveis de serotonina e cortisol seriam conseqüência de estresse celular e não a principal etiologia da depressão. As pesquisas realizadas nas últimas décadas,apontaram o envolvimento de processos inflamatórios e interações imunoneuronais na patogênese, essa hipótese é conhecida como a das citocinas para a depressão.
A alta comorbidade com doenças inflamatórias, como esclerose múltipla, HIV, doença inflamatória intestinal e artrite reumatoide, reforçam esta hipótese. Foram descritas associações entre depressão e ativação das células T, além do aumento dos níveis de várias citocinas pró-inflamatórias, como por exemplo, interleucinas, fator de necrose tumoral alfa e interferon gama.
Na depressão, também ocorre desregulação do eixos hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA), tireoidiano e envolvendo o hormônio do crescimento, alterações do padrão de sono, do ritmo circadiano, anormalidades do sistema imunológico e alterações morfofisiológicas cerebrais.
Tanto o estresse, quanto a depressão e a ansiedade tem em comum a ativação do sistema nervoso simpático (SNS) e do eixo neuroendócrino HHA. O hipotálamo controla as respostas orgânicas às alterações no meio ambiente externo e interno, como por exemplo, aquelas provocadas por agentes estressores, permitindo ao organismo a adaptação afim de manter o equilíbrio. O hipotálamo consegue desempenhar este papel, através do estímulo do sistema nervoso autônomo (SNA) e ativação do eixo HHA7 . 
A constante ativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal e do SNS e a liberação de adrenalina, levam a uma situação crônica de estresse e depressão que provocam alterações na integridade do cérebro.
Macroscopicamente, são encontradas alterações no córtex pré-frontal, na amígdala, no córtex anterior do cíngulo, no hipocampo, entre outros. Estudos com tomografia por emissão de pósitrons (PET scan) demonstram a diminuição do fluxo sanguíneo no córtex pré-frontal ao longo da linha média e do metabolismo. Sendo que este último é restabelecido com o uso de antidepressivos, enquanto o primeiro teria um caráter persistente mesmo após uso de medicação. O córtex pré-frontal mantém fortes conexões com as vias paralímbicas, que são relacionadas com aspectos emocionais do indivíduo.
O hipocampo apresenta alterações volumétricas, redução da sua massa, segmentares ou da sua forma, indicando importante papel na fisiopatologia da depressão. Além disso, o hipocampo é bastante susceptível à neurotoxicidade provocada por eventos estressores, devido ao seu papel de interligação entre as vias de resposta ao mesmo.
A amígdala, por sua vez, aumenta de atividade e de tamanho, logo no início de episódio de depressão maior. Esta área do cérebro está relacionada ao aprendizado emocional, e estudos têm demonstrado que na depressão, parece haver uma redução do metabolismo cerebral anterior e um aumento do metabolismo de glicose em várias regiões límbicas, principalmente na amígdala. Este hipermetabolismo amigdaliano funcionaria como um amplificador emocional que distorceria o grau de determinado problema, tornando maiores os sinais de estressores relativamente menores em pessoas vulneráveis. O uso de medicação adequada reverteria esse quadro. 
O córtex temporal, também parece estar envolvido nas depressões, devido em grande parte pela correlação entre a depressão e a alteração do eixo hipotálamo-hipófise- adrenal, que resulta em efeitos adversos do estresse sobre o hipocampo e a amígdala, que são áreas fortemente relacionadas com o córtex pré-frontal. 
O córtex anterior do cíngulo organiza o comportamento com base em “pré- concepções” de origem emocional . Quanto menor a atividade de sua porção dorsal, a qual está relacionada com as vias cognitivas, maior a severidade da depressão. Já a porção ventral do cíngulo parece estar relacionada com a desregulação da motivação e da resposta autônoma simpática.
Diagnóstico e tratamento 
Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais IV (DSM IV, 2000), a classificação dos tipos de depressão é: depressão reativa ou secundária, depressão menor ou distinta, depressão maior ou unipolar e depressão maior ou psicose maníaco-depressivo. 
No que diz respeito ao diagnóstico, segundo (DSM IV, 2000), os critérios são cinco ou mais dos sintomas estiverem presentes durante o período de duas semanas e representam uma alteração no funcionamento anterior, 
relacionando humor deprimido na maior parte do dia, 
interesse ou prazer acentuadamente diminuído por todas ou quase todas as atividades na maior parte do dia, 
perda ou ganho significativo de peso sem estar em dieta, 
distúrbio do sono (insônia ou hiper-Sonia), 
agitação ou letargia, 
fadiga ou perda de energia quase todos os dias e entre outros. 
Outros critérios também podem ser levados em consideração tais como: os sintomas não satisfazem os critérios para um Episódio Misto, os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional, os sintomas não se devem aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância ou de uma condição médica geral, os sintomas não são mais bem explicados por luto, ou seja, perda de um ente querido.
E, como formas de tratamento, a literatura (BAHLS, 2003; KAPLAN et al 1997; RUBIO, 2002) apresenta as mais conhecidas: a utilização de medicações, a psicoterapia e a associação das duas formas anteriores. 
Os antidepressivos tricíclicos (imipramina, desipramina, amitriptilina e nortriptilina) são os fármacos mais frequentemente utilizados na depressão. Para os pacientes que apresentam sintomas de agitação e ansiedade, os antidepressivos sedativos, como a imipramina, parecem ser mais adequados (WENDER; MAGNO, 2002). 
Nos transtornos do ajustamento com humor depressivo, distimia e depressão maior, pode-se usar antidepressivos como os tricíclicos: imipramina, clomipramina, amitriptina ou nortriptilina. Essas drogas são as mais antigas e as mais usadas em crianças e jovens. Os inibidores seletivos da recaptura da serotonina (ISRS) mais usados são o: cloridrato de sertralina seguro e eficaz, tem sido muito usado nos transtornos obsessivo-compulsivos em crianças e adolescentes; e fluoxetina bastante usada, demanda dose inicial baixa, dada à sua eliminação lenta e porque pode interferir também com outras drogas. Essas drogas apresentam um bom resultado e poucos efeitos colaterais. Ainda entre os ISRS, há a paroxetina, cuja utilização na depressão é bastante vantajosa (ARNOLD,1999). 
A posologia e a duração do tratamento devem ser adequadas para as necessidades de cada paciente. De forma geral, a indicação para o uso de psicofármacos irá depender do diagnóstico, considerando fatores como o tipo de droga, a dosagem, a farmacocinética e a sensibilidade individual (ARNOLD,1999). 
Mudanças no estilo de vida deverão ser debatidas com cada paciente, objetivando uma melhor qualidade de vida. Os antidepressivos produzem, em média, uma melhora dos sintomas depressivos de 60% a 70% no prazo de um mês (THASE, 1995). 
Segundo Anderson (1993) a resposta ao antidepressivo não é imediata e costuma ocorrer entre a segunda e a quarta semana de uso. Melhoras nas primeiras semanas de tratamento estão associadas com maior chance de resposta. Ausência de resposta em quatro semanas diminui a chance de haver resposta posterior com o mesmo tratamento, embora alguns pacientes possam vir a responder seis semanas. Quando um paciente não reage ao tratamento, a recomendação é revisar os fatores relacionados a não resposta: Diagnóstico correto, avaliando a possibilidade de doença médica ou psiquiátrica concorrente, longa duração da doença, dificuldades sociais crônicas e eventos de vida persistentes,episódio grave ou com sintomas psicóticos, distimia e transtorno de personalidade grave.
Com relação à psicoterapia, Coutinho (2006) afirma ser o tratamento mais escolhido na maioria dos casos de depressão. Este tratamento, na visão dos autores, deve ter um suporte psicológico contínuo, auxiliando a desmembrar sentimentos e percepções não saudáveis presentes nos quadros depressivos. 
Thomé (2003) enfatiza que a ajuda de um psicoterapeuta é muito importante, pois auxilia o indivíduo a elaborar os conteúdos ambíguos e confusos e ainda, todos seus sentimentos contraditórios de amor e ódio, medo, culpa, alegria, tristeza, onipotência, indiferença e insegurança.
Transtorno de Ansiedade 
Dado os graus de ansiedade, o grau leve é útil por possibilitar a procura de novos meios de adaptação, sendo assim, bioadaptativa. O grau moderado diminui a percepção, mas ainda dá a oportunidade de fazer escolhas, podendo ter dificuldades na tomada de decisões. O nível intenso é bastante prejudicial às capacidades de percepção e concentração, o que dificulta as escolhas. Nesta fase, a energia pessoal está exclusivamente voltada para fugir da situação de perigo (MELLO, 2008). 
Os transtornos de ansiedade são os mais frequentemente encontrados nos sistemas de saúde e comunidades. Foram bastante subestimados até pouco tempo atrás, com a maioria dos portadores não identificados, diagnosticados e recebendo o tratamento adequado (MELLO, 2008). 
O Estudo Americano de Comorbidade (National Comorbirty Study) identificou que uma em cada quatro pessoas apresenta critério diagnóstico de pelo menos um transtorno de ansiedade e que há uma taxa de prevalência de 17,7% em 12 meses. Identificou, também, que as mulheres, com prevalência durante a vida de 30,5%, possuem uma maior probabilidade de ter um transtorno de ansiedade do que os homens, cuja prevalência é de 19,2%. Entretanto, sua incidência diminui com o status socioeconômico mais elevado (SADOCK; SADOCK, 2007). Suas causas são de ordem biológica, psicológica, ambiental e social. Foram classificados em grupos, sendo os principais: fobias, ansiedade generalizada, estresse pós-traumático, transtorno do pânico e obsessivo-compulsivo (FLAHERTY, CHANNON, & DAVIS, 1990). 
Entretanto, abordaremos neste estudo a ansiedade patológica, não especificando um transtorno. A ansiedade pode ser normal ou patológica. A normal é a cotidiana que faz parte da vida. A patológica é sintoma básico de vários transtornos e estado de estresse. Costuma aparecer sem causa aparente, de modo frequente, sendo excessiva e causadora de sofrimento psíquico (MELLO, 2008).
 A maneira prática de se diferenciar a ansiedade patológica da ansiedade normal é, basicamente, quando a intensidade ou frequência da resposta não corresponde a um estímulo, e/ou quando pessoa fica ansiosa sem um motivo, objeto ou situação aparente (BRAGA et al., 2010). 
 É importante destacar que, todo mundo experimenta ansiedade, frente a uma prova, por exemplo. Perante este quadro de estresse, é possível surgir uma sensação difusa, desagradável e vaga de apreensão, por vezes acompanhada de sintomas autonômicos como cefaleia, perspiração, palpitações, aperto no peito, leve mal-estar epigástrico e inquietação, representado pela incapacidade de ficar sentado ou de pé quieto por muito tempo. A gama de sintomas presentes durante a ansiedade tende a variar entre as pessoas (SADOCK; SADOCK, 2007). 
A experiência de ansiedade apresenta, normalmente, dois componentes: a percepção das sensações fisiológicas e a percepção do estar nervoso ou assustado, podendo um sentimento de vergonha aumentar a ansiedade. Muitas pessoas ficam atônitas ao verificar que os outros não se dão conta de sua ansiedade, ou se percebem, não entendem sua intensidade.
 Além dos efeitos motores e fisiológicos, a forma como o indivíduo percebe o mundo ao seu redor, como desenvolve o seu pensamento e, inclusive, o aprendizado são afetados, com tendência a confusões e distorções da percepção recorrentes, no campo do tempo e espaço, bem como pessoas e acontecimentos. Com isso, aumenta-se o risco de interferir no aprendizado ao diminuir a concentração, reduzir a capacidade de memória e tornar prejudicada a capacidade de fazer relações (SADOCK; SADOCK, 2008). 
Os indivíduos ansiosos, então, ficam predispostos a selecionar certos aspectos de seu ambiente e subestima outros em seu esforço para provar que se justifica considerar sua situação aterroradora. Então, se, de maneira equivocada, justificam seus medos e anseios, aumentam a ansiedade pela atenção seletiva e estabelecem um círculo vicioso de com percepções distorcidas e aumento da ansiedade. Entretanto, se asseguram com pensamentos seletivos, a ansiedade apropriada pode ser reduzida e podem deixar de tomar as precauções necessárias (SADOCK; SADOCK, 2007). Por isso a importância do envolvimento social e de terapias de grupo para o tratamento da ansiedade patológica. 
Depressão e sua relação com a ansiedade 
A depressão é conhecida há séculos. Hipócrates, considerado o pai da medicina. a descreveu com o nome de “estado de melancolia”. Entretanto, a depressão é um estado de humor depressivo e aversão à atividade que pode, inclusive, afetar os pensamentos, sentimentos e sensação de bem-estar de uma 21 pessoa (SALMANS, 1997). Em resumo, as pessoas deprimidas podem sentir-se tristes, vazias, desesperadas, preocupadas, culpadas, impotentes, inúteis, irritadas, magoadas e inquietas. Podem, também, perder o interesse por atividades que antes eram prazerosas, o apetite pode estar diminuído, ausente ou podem comer demais, apresentam problemas de concentração, o que afeta sua rotina, para lembrar detalhes e podem sentir dificuldade em tomar decisões. Além disso, a pessoa depressiva pode se sentir ansiosa (NIMH, 2014). 
Ainda que os manuais atuais de classificação de doenças (incluindo o CID-10) tratem os transtornos ansiosos dos afetivos de modo separado (BALLONE, MOURA, 2014a) há uma tendência de estas duas doenças estarem mais próximas ou interligadas. Kendell (1982) constatou, ao longo de 5 anos de estudo, que o diagnóstico de depressão para ansiedade ocorre em 2% dos casos, porém, no sentido contrário, o diagnóstico de ansiedade passa para depressão em 24% dos casos.
Em outros estudos, foram encontrados sintomas depressivos em 65% de pacientes ansiosos (FAWCETT, KRAVITZ, 1983) e detectado em grande número de pacientes com presença de sintomas depressivos, de forma simultânea, como agarofobia, ansiedade, culpa e agitação (ROTH, 1972). Sadock e Sadock (2007) afirma que a ansiedade é um sintoma comum da depressão, afetando até 90% dos pacientes deprimidos.
Depressão, exercício da Medicina e estudantes de Medicina 
Uma categoria profissional em particular, a médica, que é preparada para reconhecer os sintomas depressivos na população, entre outras patologias, tem chamado a atenção de pesquisadores, por aparecer em estudos como um grupo extremamente vulnerável ao desenvolvimento de tais sintomas, e com prevalência significativa dos mesmos quando comparada a população em geral.
Estudos realizados em diversas partes do mundo têm mostrado situações estressantes na vida do médico que comprometem a sua qualidade de vida. Segundo o Conselho Federal de Medicina, em pesquisa divulgada em 2007, mais da metade dos médicos apresentam distúrbios psiquiátricos como, depressão e ansiedade. Alguns destes estudos apontam para a existência de fatores estressantes ainda no período da graduação. 
O aprendizado do exercício da medicina há muito é conhecido como fonte de estresse, para os graduandos nesta área. Os estudantes são pressionados pela grande quantidade de conteúdo que precisam aprender, pela dificuldade de aquisição de livros, pelo contato com doentes graves, com a morte e, portanto, com o sofrimento, pela competição entre os colegas e pela cobrança da própria instituição de ensino e da sociedade e pela falta de tempo para as atividades sociais .
 O interesse pelos aspectos psicológicos dos estudantes de medicina e domédico é bastante antigo. Hipócrates (460-377 a.C.) já chamava a atenção para o risco do médico tornar-se onipotente: “o sábio é aquele que procura aprender; quem acredita que a tudo conhece é ignorante”. Fazendo referência a característica do médico e daquele que aspira um dia sê-lo, de acreditar ser um semideus.
Porém foi apenas no século XX que os aspectos psicológicos dos médicos passaram a ser estudados de forma sistemática. No Brasil, desde a década de 50, a saúde mental dos estudantes de medicina tem sido tema de estudos. 
A admissão a uma escola médica no Brasil, assim como em outros países, como Portugal, por exemplo, requer que o aspirante a carreira médica, tenha disposição para enfrentar uma disputa acirrada por uma das vagas no curso pretendido, precisando dedicar-se mais que os vestibulandos de outras cursos para o ingresso na universidade. 
O vestibular para o curso médico é extremamente concorrido, os estudantes precisam abdicar do convívio com amigos e familiares, assim como se privar de horas de descanso, do lazer e de atividades físicas para conseguir alcançar o tão sonhado objetivo da aprovação. 
Os alunos que conseguem ingressar no curso médico, já o fazem desta maneira, com grande nível de estresse, decorrente do período que passaram se preparando para a concorrida seleção. A maioria destes acadêmicos é constituída por jovens que recentemente deixaram a adolescência e logo tiveram que decidir pela carreira que irão seguir pelo resto de suas vidas, o que contribui para aumentar a expectativa quanto ao futuro, a auto-cobrança e o risco de desenvolvimento de quadros depressivos e ansiosos.
 Entre os transtornos mentais comuns mais encontrados nos acadêmicos de medicina descritos na literatura, estão a depressão e a ansiedade. 
Os estudantes que ingressam nas Faculdades de Medicina tem um perfil descrito em muitos estudos como competitivo, perfeccionista, exigentes com eles mesmos e mais susceptíveis a depressão, por não admitirem falhas. 
As alunas apresentam prevalência de depressão duas vezes maior que seus colegas do sexo masculino, assim como as mulheres da população em geral.
Determinados períodos do curso são apontados como mais favoráveis ao desenvolvimento de transtornos do humor. O estudante de Medicina passa por basicamente três fases psicológicas ao longo do curso médico: a primeira fase corresponde a euforia inicial, resultado do ingresso na Universidade, da conquista de um sonho; a segunda corresponde a decepção, decorrente de toda a cobrança experimentada no curso, na mudança de hábitos e às vezes no desempenho insatisfatório nas disciplinas; a terceira fase é representada pelo internato composto por um período de adaptação e ao mesmo tempo de preocupação com competição pelas vagas da residência médica.
ARNOLD, L.E.; JENSEN, P.S. Transtorno de déficit de atenção. In: KAPLAN, H.I.; SADOCK, B.J. Tratado de Psiquiatria. Porto Alegre: Artes Médicas; 1999. p. 2495- 2511.
BAHLS, S-C. Aspectos clínicos da depressão em crianças e adolescentes. Jornal da pediatria, Porto Alegre, v.78, n.5, p. 359-366, set./out. 2003
COUTINHO, M. P. L. Depressão infantil e representação social. Psicologia da saúde, v.14, n.2, p. 160-170, jul./dez. 2006.
DESLANDES. H.M.A. et. al.. O exercício físico no tratamento da depressão em idosos: revisão temática. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul-Porto Alegre, v.29, n.1,p.70 -79, jun./nov., 2007.
FUREGATO, A. R. F.; et. al.. Depressão entre estudantes de enfermagem relacionada à auto-estima, à percepção da sua saúde e interesse por saúde mental. Revista Latino-americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 16, n.2, p. 1-3, mar./abr. 2008.
WENDER,M.C.O; MAGNO, V.A. Depressão puerperal: atualização. Femina, v.30, n.7, p.439-444, ago. 2002.
NEDLEY, N. Como sair da depressão. Prevenção, tratamento e cura. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira. 2009.
THASE, M.E.; RUSH, A.J. Psychopharmacology the fourth generation of progress. In: BLOOM, F.E.; KUPFER, D.J. Treatment-resistant depression. New York: Raven Press, 1995.
THOMÉ, C. A. Depressão pós-parto e a identidade materna. Psicologia Corporal,São Paulo. v.3, n.4, p.48-51, sep. 2003.

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