Baixe o app para aproveitar ainda mais
Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
THE POST-POSITIVIST DEBATE: RECONSTRUCTING SCIENTIFIC ENQUIRY AND INTERNATIONAL RELATIONS THEORY AFTER ENLIGHTENMENT’S FALL – JOHN VASQUEZ Juntos, os pós-empiricistas e os pós-modernistas colocaram a ciencia social na era pós- positivista. AS PROMESSAS E ARMADILHAS DO PÓS-MODERNISMO Consideraremos que a principal diferença do pós-modernismo e do pós-estruturalismo é o o foco da analise na preocupação com a questão do relativismo. Os pós-estruturalistas, inspirados em Foucault, flertam com o relativismo, os pós-modernistas, o incorpora. Apesar disso, o uso dessas teorias promete importantes contribuições para o campo e para as teorias de relações internacionais especificamente. Uma das principais armadilhas é que algumas dessas percepções, se tomadas como reivindicações universais, se tornam generalizações exageradas que não são a verdade. A natureza arbitrária da modernidade Os pós-modernistas discordam dos iluministas e dois aspectos: 1) negam a ideia de progresso, e, em seu lugar, pregam a ideia de descontinuidades; 2) rejeita a noção de que o fim do Iluminismo, a modernidade, é o fim da historia, a perfeição humana. Para os pós- modernistas não existe uma maneira certa de se fazer as coisas, existem varias maneiras, e uma não é necessariamente melhor que as outras. Além disso, não existe uma verdade, existem várias verdades. A modernidade e seus anseios não têm que ser produtos da historia, embora sejam produtos da historia do oeste europeu. A modernidade não é um modelo, é simplesmente uma instancia; não é inevitável nem necessária, é um projeto, e é arbitrária. As ideias de desenvolvimento politico e econômico são apenas conceitos modernos impostos aos mais fracos e derrotados. A modernidade é culturalmente e etnicamente arbitraria. O pós-modernismo não se refere apenas a uma posição filosófica, mas à era historia que entramos. A realidade é uma construção social A realidade é uma construção social. É criada e construída pelas crenças e comportamentos. Estruturas moldam os valores e o comportamento assim como alguns positivistas pensam, entretanto, essas estruturas são produto da ação humana. Ou seja, a realidade é uma imposição humana. Linguagem e conceitos são propensos a ser profecias autô-realizâveis. certas regras e normas são obedecidas, institucionalizadas e impostas por vários mecanismos de controle social, e assim a realidade é formada. Uma vez que as pessoas muitas vezes se adequam a essa cultura, é possível termos uma ciência, para explicar e prever padrões. Por causa desse efeito, a ciência social não pode ser considerada livre ou neutra, pois ajuda a construir as estruturas que suportam e nutrem alguns estilos de vida e desestimulam e outros. A ciência não é apenas uma ferramenta, mas uma prática que cria modelos de vida que conscientemente destroem outras formas de pensar e viver. A escolha racional é vista como um conceito moderno que faz a escolha parecer verdade. para a analise da escolha racional se torna uma ciência rigorosa dependerá de quanto as pessoas ou lideres aceitam as regras que guiam seu comportamento. Assim, não criará apenas a realidades, mas pessoas que são indivíduos calculadamente racionais. Nas relações internacionais podemos nos perguntar como a política de poder e o paradigma realista claramente constroem a realidade… O processo de identificação e a construção da identidade são formas de poder e atos de violação A identidade é provavelmente uma das formas mais intimas da construção social imposta aos indivíduos. Não há duvidas de que a identidade é uma construção social. Quem controlar a identidade obviamente tem profunda influencia sobre o destino e a vida de um indivíduo, grupo ou sociedade, por causa disso é um ato de poder. Como a identidade normalmente não é escolhida, é uma violação da liberdade humana. Os pós modernistas tiveram um profundo impacto na teoria literária. Os teóricos literais, depois de tudo, passaram a lidar com a ficção, então, para eles a verdade empírica nunca é uma preocupação, para eles existe apenas a verdade metafísica ou construções de significado. Para eles a humanidade e seu mundo é plástico, onde qualquer leitor pode construir seu próprio significado. O pós-modernismo é uma alternativa da epistemologia e da visão de mundo. É uma maneira de reconstruir a pesquisa cientifica abordando algumas criticas pós-empirica que fazem a ciência positivista tão vulnerável. RECONSTRUINDO A PESQUISA CIENTÍFICA: LIDANDO COM A CRÍTICA PÓS-EMPIRICA. A realidade do mundo se refere a resistência do mundo em estar em conformidade com todas as concepções imagináveis que os humanos criam. As diferenças entre a precisão e o erro, realidade e ficção, verdade e falsidade são de fato conceitos construídos. Das varias criticas feitas pelos pós-empíricos existem duas questões que possivelmente rejeitam conceitos ou teorias de qualquer base cientifica: 1) olha para a base empírica para a teoria de testes e argumenta que não há fatos independentes, bases de dados ou realidade para testar teorias; 2) olha para o processo de fazer inferências sobre a inadequação da teoria e argumenta que a ciência não é baseada na lógica, mas em um ato de poder que impõe os seus critérios para determinar a verdade sobre a cultura. Se discute que os fatos não são independentes das teorias, e por isso não podem ser usados para testá-las. Uma vez que as teorias criam fatos, fatos sempre podem dar suporte a teoria. Essas alegações filosóficas pós-positivistas não são definitivas, mas são normalmente tratadas de maneira a negar os achados empíricos. Os pós-positivistas argumentam que porque os conceitos criam fatos, qualquer definição operacional derivada dos conceitos não criam uma base de dados independente. Para os pós- empíricos, qualquer base de dados será sempre feita a favor da teoria que a revelou. Os dados não são independentes no sentido de que não possuem vínculos com os conceitos, mas são independentes no sentido de que não asseguram a confirmação das teorias. A preocupação com a verdade e a procura dessa como os valores mais altos são mais que apenas preferências, são os compromissos de valor fundamentais do positivismo. Dizer que a verdade é o valor primordial significa que as teorias e crenças devem ser aceitas ou rejeitadas somente baseadas em sua habilidade de ser consistente com a evidencia, e não porque sua aceitação trará consequências benéficas; ser consistente com a doutrina preconcebida, ou promover uma função que permita a sociedade moldar o mundo, controlando as pessoas e os recursos. Ciência, assim, é uma ação de poder que impõe critérios para a determinação da verdade na sociedade. SUPERANDO O RELATIVISMO NA TEORIA CIENTIFICA E PRÁTICA Nas relações internacionais, a questão da superação do relativismo é uma preocupação crucial por causa do pós-positivismo e por causa do debate interparadigmático. Existem seis critérios (padrões na filosofia da ciência) relevantes para a pesquisa das relações internacionais: precisão, falseabilidade, explicação do poder, progressividade, consistência e parcimônia. Vasquez estabeleceu sete criterios para a adequação; um manual para a prática: ter boas propostas e consequências; ser capaz de implementá-la da pratica; prover conselhos completos e precisos sobre o que deve ser feito; ser relevante para as dificuldades dos problemas politicos atuais; antecipar os custos é melhor que antecipar os benefícios; obter sucesso; uma teoria empírica da teoria pratica deve ser cientifica. Uma das principais diferenças entre a analise normativa e a empírica está no critério utilizado para aceitar ou rejeitar discursos. Uma vez que a analise normativa envolve uma serie de valores da definição do que é “bom” e a analise cientifica assume que a verdade é o maior valor; Os critérios para a teoria prática aceitará varias posições, abordagens e estilos de vida adequados. Nas areas de significado, interpretação e estilo de vida, variedade pode ser visto como algo intrinsicamente bom – a diversidade que muitos pós-modernistas celebrariam. Entretanto, esse critério gera base para discussões sobre alternativas. Para as preocupações empíricas o comprometimento com a verdade é o critério mais rigoroso, especialmente aquele com exatidão, que faz com que a rejeição de teorias seja mais possível. Apesar de os critérios fazerem com que a verdade seja mais parte do processo do que um produto final, a ideia de verdade implica na explicação singular e exata, ao invés de um grande numero de teorias igualmente verdadeiras. Esses criterios empíricos podem ser usados para colocar a investigação cientifica numa nova base, respondendo algumas das maiores criticas do pós-empiricismo, e evitando o potencial relativismo do pós-modernismo. O PÓS-POSITIVISMO E O FUTURO DA TEORIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS Para o Vasquez, a crise real na investigação das relações internacionais é a ausência de uma analise séria, tanto empírica como normativa, sustentada por uma avaliação rigorosa da teoria. O estudo cientifico da política mundial foi uma perda de recursos e energia, sendo que nada importante foi encontrado. Parte do problema está na base de dados dos estudiosos que não prestaram atenção suficiente nas descobertas da integração. A construção teórica baseada nos achados e/ou comprometimentos a testar suas reivindicações com base em evidências é parte do processo científico. Dizer a principal contribuição teoria dos behavioristas foi quando eles atuaram como metafísicos ao invés de positivistas é negar que a construção teórica não é uma parte essencial do processo cientifico. A teoria sempre parecerá mais valiosa, mas teorias que não são baseadas na pesquisa são doutrinas, e qualquer um que viveu no período do pensamento uni-dimensional realista dos anos 50 deve saber os perigos disso. Uma das mensagens que a pesquisa cientifica tem nos dado é que o paradigma realista dominante não está promovendo um guia muito proveitoso e progressivo à pesquisa. Se os neo-tradicionalistas preferirem estudos de caso históricos para a base de dados, não tem problema, mas deve haver alguns esforços para comparar as reivindicações teorias com uma revisão sistemática da evidência, e num contexto mais abrangente do outro critério de adequação. A habilidade do paradigma realista em se reformular explica sua persistência no campo, mas ao contrário deles, o autor não vê esse fato como indicador de progresso no programa de pesquisa. Ao contrário, a proliferação de emendas expõem a degeneração do caráter do programa de pesquisa do paradigma realista. A aplicação do critério de adequação da teoria pratica é o que pode resolver os problemas da agenda do debate inter-paradigmático, além de colocar uma base mais rigorosa na teoria normativa. Além disso, o foco no debate inter-paradigmático pode ajudar a trazer os neo- tradicionalistas e a base de dados dos estudiosos juntas para trabalhar uma agenda comum sem compromisso com as ênfases nas divergências metodológicas. Tratar a ciencia como um sistema autónomo com suas próprias regras e normas baseadas nas convenções dos estudiosos e razão, ao invés de princípios de lógica irrefutáveis coloca a abordagem cientifica numa epistemologia mais adequada. ______________________________________________________________________________ RESENHA CRÍTICA “The Post-Positivist Debate: Reconstructing Scientific Enquiry and International Relations Theory After Enlightenment’s Fall” John A. Vasquez PROMESSAS E FALHAS DO PÓS-MODERNISMO Ao fazer uma análise mais aprofundada do pós-modernismo, consegue-se perceber que essa corrente é mais uma atitude do que uma posição, podendo ter significados diferentes nos diversos campos de conhecimento. No campo das Relações Internacionais, o pós-modernismo ainda não tem uma crítica bem desenvolvida e pode ser que nem se desenvolva em detrimento a uma visão mais crítica da corrente pós-estruturalista, a qual contém diversas diferenças do pós- modernismo, porém, a propósito de análise desse assunto, a diferença está mais focada na questão do relativismo. Vasquez argumenta que enquanto os pós-estruturalistas apenas flertam com o Relativismo, os pós-modernistas o abraçam, de maneira que aqueles que fazem uma produção teórica na base pós-estruturalista são muito influenciados pela teoria crítica e ainda resistem à carga do relativismo. Esse uso das correntes pós-modernistas e pós-estruturalistas é visto como uma promessa de boas contribuições para o campo teórico das Relações Internacionais. A promessa do pós-modernismo baseia-se em cinco perspectivas, as quais todas, de alguma maneira, envolvem uma forma de nos libertar de nossos objetivos conceituais. Porém, são nessas perspectivas que podem encontrar falhas potências na corrente pós-modernista, uma vez que esses têm que ser vistos com certas reservas nas suas reivindicações. Uma das falhas principais é que algumas dessas perspectivas, se tomadas como universais, facilmente tornam-se generalizações que simplesmente não são verdadeiras. A primeira das perspectivas discorre sobre a natureza arbitrária da modernidade, a qual nega a idéia de progresso do iluminismo alegando que a modernidade não é um fim e sim um modelo como outro qualquer. A segunda perspectiva diz que as escolhas se portam como verdade, em que tudo que existe é uma criação humana, frutos de uma escolha consciente ou não. Já a terceira perspectiva é conseqüência da segunda, que alega que se tudo que existe é arbitrário e produto da escolha humana então tudo é produto de uma construção social das pessoas, ou seja, a realidade é uma construção social. Os pós-modernistas, na quarta perspectiva, nos levam a pensar em como a linguagem, os quadros conceituais e os paradigmas moldam o mundo, alegando que a ciência não é somente uma ferramenta útil, mas é também uma prática que conscientemente destrói outras formas de pensar e viver. Já na quinta perspectiva, é discutido a maneira em que uma identificação e a construção de uma identidade é uma forma de poder e um ato de violação, uma vez que quem tem controle de identidades tem profunda influência sobre o destino e vida de um individuo grupo ou sociedade. RECONSTRUINDO A PESQUISA CIENTÍFICA: LIDANDO COM A CRÍTICA PÓS- EMPIRICISTA A primeira questão a qual devemos nos ater ao analisar as possibilidades de reconstrução do projeto científico é a existência ou não de maneiras não arbitrárias de distinção entre conceitos quanto a sua veracidade. Considerando que a palavra “realidade” refere-se à resistência do mundo em se conformar com determinados conceitos imaginários criados por humanos, concluímos que nem todas as narrativas imaginárias podem ser impostas ao mundo. Dentre as críticas pós-empiricistas quanto à possibilidade de se determinar a realidade por meio de bases científicas, duas merecem particular destaque: a primeira afirma que não há fatos, base de dados, ou realidades “independentes” onde se possa testar as teorias; a segunda afirma não ser a ciência baseada em uma lógica neutra, mas um ato de poder que impõe seus critérios para determinar verdades. Os pós-empiricistas afirmam, em sua primeira crítica, que fatos não podem ser usados para testar teorias, pois não são independentes destas, mas sim produtos de conceitos que, por sua vez, estão atrelados às teorias. Fatos podem, assim, ser encontrados para provar teorias. Segundo o autor, no entanto, tal perspectiva não significa que não existiam observações e quebra-cabeças anteriores à teoria. Além disso, teorias e conceitos muitas vezes seguem observações em busca de padrões, que se mostram, em diversos casos, mais importantes que os próprios fatos. Outro detalhe levantado por Vasquez é que, se os fatos só servissem para confirmar as teorias que os criaram, então só seriam produzidas confirmações. O que se observa, no entanto, é justamente o contrário. Podemos ainda afirmar que duas bases de dados são consideradas independentes se as duas explicações que competem acerca de um mesmo comportamento têm as mesmas chances de serem rejeitadas, existindo a possibilidade de identificação dessa independência. Os antigos positivistas lógicos esperavam que a ciência e seus métodos pudessem ser estabelecidos na lógica, mas essa epistemologia não se estabeleceu. Daí surge a segunda crítica da pós-empiricistas, a qual afirma que a ciência nada mais é do que uma escolha, um acordo arbitrário. Nesse caso, o que se deve observar é que essas regras e critérios científicos são elaborados de modo rigoroso, visando limitar a intrusão de preferências pessoais. Vasquez afirma que a ciência é mais do que uma mera ferramenta, ela tem valores próprios e práticas que a tornam uma maneira de pensar. O compromisso com a verdade é seu mais alto valor, isso significa que teorias e crenças devem ser aceitas ou rejeitadas somente com base na sua habilidade de ser consistente com as evidências e não porque sua aceitação será benéfica por algum motivo particular. SUPERANDO O RELATIVISMO NA TEORIA CIENTÍFICA E PRÁTICA Vasquez inicia o texto argumentando que vários foram os esforços para superar o relativismo encontrado na questão do estabelecimento de critérios par aa avaliação teórica e que esta é área de preocupação do pós-positivismo e do debate interparagmático, em Relações Internacionais. O autor entende que, para vários estudiosos, o pluralismo teórico é algo benéfico, mas que deve-se tomar cuidado sobre o que se produz. Assim, ele traça parâmetros para a avaliação das crenças, explicações, teorias e paradigmas, baseando-se na suposição de que uma boa teoria deve ser verdade. Ademais, Vasquez argumenta que a utilização de tais critérios diminui as chances de que o objeto em questão seja falso, em relação a um que não as use, e que o objeto estará mais propenso a atinger seu objetivo final - objetivo final da ciência -, que é a aquisição de conhecimento. Ele então apresenta seis critérios, sendo que os dois primeiros são essenciais. Uma “boa” teoria deve portanto ser: precisa; refutável; capaz de evidencias grande poder explicativo; progressiva, em oposição a degenerativa em termo de seu(s) programa(s) de pesquisa(s); consistente com o que é sabido em outras áreas; e apropriadamente parcimoniosa e elegante. Neste ponto, o autor discute cada ponto adotado por ele como qualidade de uma boa teoria e alega que o que é crucial é que ela seja capaz de passar em testes, primeiro em princípio e depois em fato. Vasquez depende que estes critérios devem ser interpretados como objetivos a se lutar, mas que a aplicação deles não deve ser feita num estágio prematuro da teoria. Pós-modernismo e pós-empiricismo têm ganho espaço para a investigação de uma análise normativa, mas o autor argumenta que esse trabalho não tem sido rigoroso, e que se é respeito que se busca, que, então deve-se também ter mais critérios de avaliação. O propósito da teoria pratica é guiar a prática. Então pode ser avaliado em termos da extensão em que ela fornece uma função que a permite, isto é, quão bem guia os profissionais. E isso pode ser feito verificando se a teoria de fato provem informação que os profissionais precisam saber e podem usar. Uma filosofia e teoria da prática também podem ser testadas pelas políticas e ações a quais elas cedem lugar. Assim, teoria prática pode ser avaliadas por tanto observar suas características intrínsecas (ex.: tipo de informação que ela provém), quanto pela qualidade das prescrições políticas que produz. Neste momento, Vasquez traça sete critérios de adequação. Um “bom” guia de prática deve: ter um bom propósito e conseqüências - e este é um critério essencial; ser capaz de ser implementado na prática; prover comparativamente conselho completo e preciso para o que deveria ser feito; ser relevante para os problemas de política mais difíceis do dia; ter antecipado custos (incluindo o custos morais) que valem os benefícios esperados; alcançar sucesso e evitar falha; e, finalmente, a teoria empírica latente de uma teoria prática deve ser cientificamente válida. Tendo colocado esses critérios, Vasquez alega que a chave está em definir “bom”, que pode só pode ser feito - ou constestado - pelos maiores grupos éticos, religiosos, profissionais, ou, no caso de política externa, pelo Estado. No final desta secção, Vasquez propõe que estes critérios empíricos podem ser utilizados para colocar questionamentos científicos num novo patamar, respondendo a uma das maiores críticas ao pós-empiricismo e evitando um potencial relativismo do pós-modernismo. PÓSPOSITIVISMO E O FUTURO DA TEORIA DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS Na conclusão de seu capítulo, Vasquez critica o modo de fazer ciência empregado pelos Realistas, corrente que ele admite dominar a construção teórica no campo de Relações Internacionais, e propõe uma nova forma de fazer ciência, delineada por seus critérios citados na sessão anterior. Para tal, o autor começa indicando que o Pós-Positivismo guiou as ciências sociais, em especial, as Relações Internacionais para uma grave crise. A verdadeira crise da pesquisa em relações internacionais está na ausência de uma análise empírica e normativa com base em uma apreciação teórica séria, sustentável e rigorosa. Sendo que a razão para essa falta de apreciação está em dois pontos: a) a escassez de critérios; b) a falta de disciplina ao empregar os critérios existentes. Ou seja, na argumentação de Vasquez, os critérios são usados somente quando se ajustam aos resultados perseguidos pelo cientista. Na sua visão os cientistas têm, nas Relações Internacionais, orientações políticas e ideológicas que determinam decisivamente as suas pesquisas e os resultados que elas geram. Por esse motivo, ele não admite que existam no campo várias teorias que competem, como afirma Lapid (1989). Vê, contrariamente, vários sistemas conceituais que convivem e não competem, já que explicam diferentes fenômenos. O grande desafio das Relações Internacionais não consiste em escolher entre esses sistemas, mas sintetizá-los e integrá-los em um todo coerente. O problema é a construção de teorias e não a apreciação delas. Outro grande problema é o da construção teórica que confere demasiada importância aos dados. Há uma crítica massiva aos estudiosos que não conseguem integrar os dados de forma a concluir algo sobre a realidade a partir deles. Para esses críticos, a pesquisa baseada em dados é pouco produtiva. Vasquez, entretanto, admite que esse tipo de pesquisa é parte do processo científico. O grande problema o uso de dados específicos para confirmar fatos esperados, ou seja, usá-los com base em uma intenção pré-determinada. Parte da falta de rigor científico do campo é, para o autor, conseqüência de se dispensar facilmente o método em função da teoria. Esse argumento corresponde ao cerne da crítica do autor ao Realismo. A falta de acumulação de conhecimento nas RI é resultado de o conjunto de abordagens teóricas que estão sendo testadas, ou seja, o próprio Realismo, ser provavelmente errado. Isso decorre do fato de o Realismo ter um problema com a manipulação de evidências. Desde Morgenthau podemos observar exemplos de dados históricos que foram apropriados para ilustrar e afirmar algum ponto de vista. Vasquez também critica os Neotradicionalistas, que se abstêm de todos os dados e constatações e adotam apenas evidências casuais. Os estudiosos que adotam esse ponto de vista apenas constroem bons argumentos sem a preocupação de testá-los, ou seja, escrevem sobre vários temas sem conhecer nenhum dado quantitativo ou histórico que sustentem suas afirmações. As baseiam apenas no senso comum. Vasquez afirma que eles agem com essa liberdade frente aos dados por dois motivos: a) a noção de que a pesquisa é contraditória e não muito informativa; b) a crença que o trabalho quantitativo não é realmente uma evidência e que pode ser colhidos após questionarem medidas, padrões de pesquisa, etc. A falha consiste em empregar apenas evidências casuais e em ignorar programas de pesquisas inteiros, ou seja, não apresentam nenhum critério para a pesquisa. Com base nessas críticas, o autor propõe, finalmente, uma série de soluções para a construção de uma “boa” ciência das relações internacionais. Afirma, em primeiro lugar, que os critérios apresentados na sessão anterior devem ser seguidos com o objetivo de substituir esse procedimento sombrio que domina as Relações Internacionais por um procedimento mais rigoroso. Deve-se, portanto, aliar casos históricos ao trabalho baseado em dados quantitativos. Além disso, deve-se comparar reivindicações teóricas com uma revisão sistemática das evidências e com o contexto maior do critério da adequação. Apenas aliando todos os critérios e chegando a um meio-termo que se pode fazer algum progresso científico e acumular conhecimento. Como forma de fortalecer o discurso científico de Relações Internacionais de modo geral, é necessária a observância ao rigor científico e a obediência ao método. Além disso, há uma necessidade de aplicação sistemática dos critérios para progredir com o debate interparadigmático. Lakatos e Kuhn apontam que os paradigmas não podem ser falsificados através de uma aplicação do seu critério da precisão (ou da exatidão). Parte da razão pela qual o Realismo é dominante até hoje é que ele foi constantemente reformulado ao ter que enfrentar anomalias e resultados discrepantes. A violação do critério da precisão explica porque o Realismo ainda vigora e é tão criticado. Essa capacidade do Realismo se reformular contribui para a sua persistência no campo, mas, segundo ele, não é indicador de que ele é um programa de pesquisa progressivo. O debate interparadigmático só pode ser resolvido através da aplicação de todos os critérios de adequação de forma sistemática e do modelamento da pesquisa de acordo com a agenda de apreciação da teoria. Além disso, um foco nesse debate pode ajudar a unir Neotradicionalistas e estudiosos que se baseiam em dados em torno de uma agenda comum, sem comprometer as ênfases metodológicas divergentes. A aplicação do critério da adequação da teoria prática pode ajudar a localizar a teoria normativa em uma nova fundamentação de rigor. O debate Pós-positivista nos leva a escolher a avaliar de forma mais conscientes as teorias científicas, assim como restaura a teoria normativa prática ao seu lugar de direito dentro do discurso de Relações Internacionais. Além disso, o Terceiro Debate induziu as Relações Internacionais a reconstruir sua fundamentação filosófica, sem necessariamente por em perigo suas abordagens de pesquisa. Ao tratar a ciência como um sistema com suas próprias regras e normas baseadas em convenções e na razão, ao invés da lógica, situa a abordagem científica numa epistemologia mais adequada.
Compartilhar