Buscar

Semiologia Feitosa - Sistema digestório

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 141 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 141 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 141 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

Sistema Dtóestório 
"O POUCO QUE SEI DEVO-O A MINHA IGNORÂNCIA." 
(Sacha Guitry) 
 
Considerações Preliminares 
FRANCISCO LEYDSON F. FEITOSA 
Semiologia do Sistema Digestório de 
Ruminantes 
FRANCISCO LEYDSON F. FEITOSA 
 
Semiologia do Sistema Digestório de Equinos 
Luiz CLÁUDIO NOGUEIRA MENDES 
JULIANA REGINA PEIRÓ 
Semiologia do Sistema Digestório de Cães e Gatos 
FLÁVIA TOLEDO 
PEDRO Luiz DE CAMARGO 
 
Considerações Preliminares 
•FRANCISCO LEYDSON F. FEITOSA 
CONSIDERAÇÕES INICIAIS 
Aparelho ou sistema digestório é o nome dado ao conjunto de órgãos 
responsáveis pela captação, digestão e absorção de substâncias nu-
tritivas. É composto por um tubo digestivo (boca, esôfago, estômago 
- pré-estômagos e abomaso, em animais ruminantes - alças intesti-
nais, reto e ânus) e de órgãos anexos (glândulas salivares, pâncreas, 
fígado e vesícula biliar). A cavidade abdominal, intermediária entre 
a torácica e a pélvica, é a maior cavidade corporal, separada anterior-
mente pelo diafragma e, em sentido caudal, pelas estruturas que cons-
tituem a pelve. 
 Fome e Apetite 
Há diferença semiológica no significado dos termos fome c ape-
tite, pois são duas sensações diferentes: o apetite é o desejo do alimen-
to, faz supor preferência por determinado alimento. A fome, por sua 
vez, é a desagradável sensação de vazio no estômago, é a necessidade 
do alimento. A fome, de maneira geral, refere-se ao estômago e o apetite, 
ao paladar. Para saciar a fome o que interessa é a quantidade de ali-
mento e não a qualidade. Já o apetite independe da sensação de ple-
nitude e sim da qualidade e palatabilidade do alimento. 
"A fome é um fenómeno físico, enquanto o apetite é um fenómeno 
psíquico, mental." 
No momento da avaliação do apetite do animal, deve-se levar cm 
consideração o tipo de alimento, modo de preparo, forma de adminis-
tração e frequência. 
O apetite pode ser checado pela anamnese e/ou oferecendo dife-
rentes alimentos ao animal. O apetite normal é denominado de normorexia. 
Em algumas circunstâncias o apetite pode se encontrar altera-
do: aumentado, diminuído ou pervertido, como demonstrado na 
Tabela 5.1. 
106 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico 
Tabela 5.1 - Alterações no apetite e suas modalidades. 
Apetite Classificação 
Aumentado • Polifagia, bulimia (grau máximo). 
• Fisiológico: reparação de perdas (diarreias, parasitismo), como nos casos de recuperação de doen 
ças, após exercícios ou trabalho, gestação (maior taxa metabólica), fase de crescimento, amamen 
tação, dietas pobres (animal tem que ingerir uma maior quantidade de alimentos para compensar 
a menor porcentagem de algum nutriente). 
• Patológico: parasitismo (helmintíases gastrointestinais), perda de material nutritivo (diabetes melito). 
• Inapetência, anorexia (ausência de ingestão - grau máximo). 
• Aparente: lesões da mucosa bucal ou faríngea (devido a sensação dolorosa na fase de mastigação 
e deglutição. O animal tem fome mas não consegue alimentar-se - tétano). 
• Real: Processos enfermos, principalmente aqueles acompanhados de episódios tóxicos e/ou febris, 
acompanhados ou não de dor. 
Pervertido • Ingestão de substâncias estranhas à alimentação habitual do animal. 
• Parorexia, pica ou alotriofagia (allotrio: estranho; phagem: comer). Dependendo do tipo de material 
ingerido, podem ser denominadas: 
Osteofagia (ossos): sugere deficiência de minerais tais como cálcio e fósforo. 
Infantofagia (canibalismo, geralmente filhotes): sugere deficiência de proteínas, estresse (coelhas 
e porcas). 
Fitofagia: (plantas) muitas vezes serve de estímulo para centro emético desencadear o reflexo 
do vómito em cães e gatos. 
Pilofagia, tricofagia (pêlos e lã - gatos tendem a ter tricobezoares). 
Pterofagia (pteron - penas): sugere deficiência proteica. 
Xilofagia, lignofagia (xilon: madeira): sugere deficiência de cobalto em ruminantes. 
Ceofagia (geo - terra, areia, pedras): sugere deficiência de minerais. 
Aerofagia (ar): ocorre mais em equinos estabulados em virtude do estresse. 
Coprofagia (fezes): sugere verminose; é comum em cães jovens. 
Ingestão de Água 
O consumo de água é controlado pelo centro da 
sede no hipotálamo, através de osmorreceptores. A 
quantidade de água ingerida varia de acordo com a 
temperatura ambiente (estação do ano), espécie animal, 
tipo de trabalho, idade e quantidade de água contida 
nos alimentos (ver Quadro 5.1). A ingestão normal 
de água é denominada de normodipsia. O aumento 
no consumo de água (polidipsia) ocorre quando há 
perda excessiva de líquido corporal (desidratação), 
que pode se dever a vómitos constantes, diabetes, 
nefrite intersticial aguda, diarreia, etc. Às vezes, os 
animais apresentam uma sede excessiva, apenas tem- 
porária, durante os estágios iniciais de muitas doen-
ças febris. A diminuição da quantidade de água ingerida 
é caracterizada semiologicamente como hipodipsia ou 
oligodipsia, sendo o seu grau máximo chamado de 
adipsia (insuficiência renal). 
Em equinos a quantidade de água necessá-
ria pode aumentar de 300 a 400% com trabalho 
intenso sendo executado em temperaturas am-
bientais elevadas. Os equinos, após a execução 
de trabalho moderado sozinho (temperatura mo-
derada), podem ter um aumento do consumo diário 
em torno de 60 a 80% e, após execução de traba-
lho árduo (sem elevação intensa na temperatu-
ra), em torno de 120% acima da ingestão normal. 
 
Quadro 5.1 - Estimativa da quantidade de água 
ingerida pelas diferentes espécies domésticas. 
Cães e gatos 100ml_/kg/dia 
25-70ml_ /kg/dia (5,4L/100kg) - criação 
extensiva: 38-45L/dia -criação intensiva: 3-
4L/cada litro de leite/dia 
3-5,7L/dia 
Preensao dos Alimentos 
A maneira de se levar o alimento à boca varia 
de acordo com a espécie animal. 
Equinos, ovinos e caprinos prendem o alimen-
to com os lábios e os dentes incisivos e arrancam-
no com movimento brusco de cabeça. 
Nos bovinos, a língua é o principal órgão preênsil 
ao pastar, devido ao seu comprimento, mobilida-
de e superfície áspera. 
Equinos 
Bovinos 
Ovinos e 
caprinos 
Considerações Preliminares 107 
Cães e gatos utilizam-se dos dentes, usando, 
algumas vezes, os membros anteriores para ajudá-
los a partir os alimentos em tamanhos menores 
(carne, ossos). 
Mastigação 
A mastigação é de enorme importância para 
reduzir o tamanho dos alimentos e umedecê-los, 
visando facilitar a deglutição. O grau de tritura-
ção varia entre carnívoros e herbívoros. Os car-
nívoros quase não mastigam os alimentos; ape-
nas laceram, fracionam e depois engolem. Nos 
herbívoros, a articulação temporomandibular per-
mite amplos movimentos de lateralidade, deter -
minando maior deslizamento dos molares, sob a 
ação dos quais os alimentos sofrem trituração ade-
quada. A velocidade da mastigação varia, também, 
de espécie para espécie e dentro de uma mesma 
espécie, dependendo da idade. Há animais que 
deglutem sem a realização de uma mastigação 
adequada. Tal fato acontece principalmente nos 
animais jovens, ocorrendo o inverso em animais 
velhos, em virtude do desgaste excessivo dos 
dentes. 
Tempo faríngeo. Ao atravessar a faringe, os 
pilares anteriores da faringe se contraem, impul-
sionando o alimento em direção ao esôfago. Du-
rante o tempo faríngeo, a respiração é cessada e 
ocorre o levantamento da epiglote e contração da 
glote, impedindo a entrada do alimento nas vias 
aéreas superiores. 
Tempo esofágico. Chegando ao esôfago, os ali-
mentos são transportados por movimentos pe-
ristálticos que ocorrem desde a faringe até o es-
tômago. 
A disfagia é definida como uma dificuldade 
duranteo ato da deglutição. A odinofagia refere-
se a dor durante a deglutição. Por exemplo, nos 
processos inflamatórios da faringe (faringite), o 
tempo faríngeo é demorado, caracterizado por uma 
mastigação lenta e relutância em deglutir. Essa 
fase é ajudada pela ação da gravidade (geralmen-
te o animal ergue a cabeça para deglutir) e, se o 
processo for unilateral - infarto, por exemplo, do 
linfonodo retrofarínge -, o animal desvia a cabeça 
contralateralmente, evitando compressão da área 
afetada. A disfagia é utilizada como um termo-
padrão para caracterizar a deglutição laboriosa, 
dolorosa e, geralmente, é confundida com anore-
xia e relatada pelo cliente como tal. 
 
Deglutição 
É a passagem de líquidos e/ou sólidos da boca, 
pela faringe e pelo esôfago, para o estômago e, em 
ruminantes adultos, para o rúmen. E costume di-
vidir didaticamente esse processo em três fases: 
Tempo bucal. Após mastigação e lubrificação, 
o alimento na forma de um bolo é colocado sobre 
o dorso da língua, sendo então propelido para trás, 
alcançando a parede posterior da faringe. 
BIBLIOGRAFIA 
CHURCH, C.D. El Ruminante. Fisiologia digestiva y 
nutricion. Zaragoza: Editorial Acribia, 1993. 641p. 
CUNNINGHAM, J.G. Tratado de Fisiologia Veterinária. 2.ed. 
Editora Guanabara Koogan, 1999, 528p. KELLY, W.R. 
Diagnóstico Clínico Veterinário. 3.ed. Rio de 
Janeiro: Interamericana, 1986. 364p. RADOSTITS, 
O.M., JOE MAYHEW, I.G., HOUSTON, 
D.M. Veterinary Clinicai Kxamination andDiagnosis. WB 
Saunders, 2000. 771p. 
 
 
Semiologia do Sistema 
Digestório de Ruminantes 
•FRANCISCO LEYDSON F. FEITOSA 
INTRODUÇÃO 
Os ruminantes domésticos (bovinos, caprinos e ovinos) encontram-se 
em uma posição de destaque em relação a outros animais de produ-
ção, pois são capazes de utilizar e converter a celulose em produtos 
que podem ser facilmente assimilados pelo homem. Muito provavel-
mente, os problemas digestivos eram raros ou mesmo inexistentes quan-
do os ruminantes viviam em liberdade e se alimentavam exclusiva-
mente com alimentos fibrosos ao longo do dia, albergando, em seu 
rúmen, uma população microbiana estável e ativa. Atualmente, os animais 
ruminantes domésticos têm sido alimentados cada vez mais com ra-
ções concentradas, tendo à disposição cada vez menos alimentos fi-
brosos de alta qualidade. Em decorrência dessa intensificação dos 
processos de produção, as enfermidades digestivas se tornaram mais 
frequentes e bem mais conhecidas. Em virtude da maioria dos órgãos 
contidos na cavidade abdominal, principalmente em animais de gran-
de porte, ser volumosa e inacessível por sua localização, em geral é 
mais difícil detectar a localização e a natureza do processo patológico 
dos mesmos que em outros sistemas ou partes do corpo. Por essa ra-
zão, c importante considerar com atenção todos os aspectos compor-
tamentais associados à função das vias digestivas, como também cor-
relacionar a história com os sintomas apresentados pelo animal. 
DESENVOLVIMENTO DOS PRÉ-ESTÔMAGOS 
Embriologicamente, os pré-estômagos dos ruminantes se desenvol-
vem como uma bolsa acessória do fundo do abomaso. A diferença 
anatómica entre retículo, rúmen e omaso ocorre posteriormente, na 
organogênese. 
Anatomicamente, os pré-estômagos podem ser considerados como 
duas estruturas primárias: o compartimento ruminorreticular e omasal, 
que são, funcionalmente, separados por uma prega que forma o óstio 
reticuloomasal. Ao nascer, o bezerro já apresenta os quatro comparti-
mentos gástricos, quais sejam: o rúmen, o retículo, o omaso e o abomaso 
(Fig. 5.1). Contudo, o compartimento ruminorreticular é pouco desen-
volvido nessa fase, ocupando cerca de 30% do volume total dos 
Semiologia do Sistema Digestório de Ruminantes 109 
reservatórios, ao passo que omaso e abomaso ficam 
com os 70% restantes. Em um animal adulto, essas 
proporções se encontram invertidas, com o rúmen 
e o retículo perfazendo mais de 80% e omaso e 
abomaso menos de 20% do volume total. O de-
senvolvimento do rúmen, desde a fase de neonato 
até o seu pleno desenvolvimento, depende, qua-
se exclusivamente, de quão cedo o animal manterá 
o seu primeiro contato com alimentos fibrosos. 
Os ruminantes alimentados exclusivamente com 
leite podem persistir em uma situação de pré-ru-
minante por um longo período e apresentam um 
menor desenvolvimento dos pré-estômagos, ca-
racterizado por: a) capacidade física do rúmen di-
minuída; b) paredes ruminais finas; c) mucosa e 
papilas ruminais com reduzido poder de absorção. 
O interesse por alimentos sólidos (feno, capim) 
já pode ser observado por volta de duas semanas 
de idade e a sua ingestão, em pequenas quanti-
dades e em poucas "bocadas" por vez, desenca-
deia o início do desenvolvimento funcional de 
forma mais intensa dos pré-estômagos que em 
outros órgãos viscerais. O estímulo mecânico da 
alimentação fibrosa é, sem dúvida, o principal 
responsável pelo aumento do tamanho dos pré-
estômagos e de sua musculatura, ao passo que 
estímulos químicos, tais como aqueles ocasiona-
dos pelos ácidos butírico e propiônico, resultan-
tes da fermentação de alimentos ricos em carboi-
dratos, por exemplo, promovem o desenvolvimento 
da mucosa e das papilas ruminais, as quais são 
responsáveis pela capacidade absortiva. O com-
partimento rumenal ocupa, em animais adultos, 
quase todo o lado esquerdo da cavidade abdomi-
nal. De maneira geral, a proporção média do rúmen 
para o abomaso mostra-se como na Tabela 5.2. 
Na fase de animais considerados adultos, o 
rúmen e o retículo contêm, quando os comparti-
mentos estão repletos, cerca de 70 a 75% do con-
teúdo digestivo total, sendo o rúmen o órgão mais 
importante da digestão. Em todas as espécies de 
ruminantes, o rúmen é o maior dos quatro com-
partimentos. A capacidade real dos reservatórios 
dos ruminantes tem sido, em muitos casos, supe-
restimada, já que as medidas dos diferentes com- 
partimentos foram realizadas pela infusão de água 
seguida da distensão artificial dos mesmos. Uma 
capacidade de até 235 litros para o compartimen-
to ruminorreticular tem sido descrita e, raras ve-
zes, a capacidade do referido compartimento em 
bovinos de grande porte ultrapassa os 100 litros. 
Da mesma forma, o abomaso dos bovinos, que 
dificilmente é preenchido por completo, contém, 
no máximo, 8 litros e não 20 como descrito na 
literatura (ver Tabela 5.3). 
A digestão dos animais lactantes e dos futu-
ros ruminantes assemelha-se à dos animais 
monogástricos. Contudo, esses animais possuem 
o sulco reticular ou goteira reticuloomasal, que é 
um sulco ou canal que se estende desde o orifício 
do óstio até o omaso, fazendo com que a alimen-
tação líquida, quando ingerida, ultrapasse o 
compartimento rumenal, não sofrendo, dessa for-
ma, a degradação microbiana, já que o leite atra-
vessa rapidamente o omaso e chega ao abomaso. 
O fechamento desse sulco é um ato reflexo com 
impulsos eferentes que atingem o tronco cere-
bral e estímulos aferentes que nascem central-
mente e na faringe, pela inervação vagai. O estímu-
lo central é desencadeado pela simples percep-
ção do ato de mamar, ao passo que o faríngeo ocorre 
quando a dieta líquida entra em contato com os 
\ 
 
 
 Tabela 5.2 - Proporção média do rúmen para o abomaso. 
 
Rúmen 
Abomaso 
4 semanas 
0,5 
1 
6 a 8 semanas 
1 
12 semanas 
2 a 3 
1 
12 meses 
9 1 
Adulto 
10 
1 
Figura 5.1 -Anatomia topográfica direita dos reservatórios 
gástricos de bovinos. 
110 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico 
Tabela 5.3 - Estimativa da capacidade física dos reservatórios gástricos de bovinos, caprinos e ovinos adultos. 
n e retículo Omaso 
Espécies/reservatórios 
Bovinos Caprinos e ovinos 
NE = não encontrado. 
receptores existentes cmregião faríngea. No 
entanto, para que ocorra o seu adequado fecha-
mento, c necessário: 
a) Que o leite seja ingerido voluntária e tran 
quilamente pelo animal; 
b) Que a dieta líquida não esteja estragada, com 
odor e/ou sabor alterados; 
c) Que o volume administrado não ultrapasse a 
capacidade física abomasal. 
Quando esses pré-requisitos não são obede-
cidos, há um inadequado fechamento do sulco 
reticular e o leite é desviado para a cavidade ru-
minorreticular, o que causará a putrefação do con-
teúdo (Fig. 5.2). O reflexo do fechamento é mais 
fortemente induzido pelo leite, mas pode ser de-
sencadeado por água ou outras substâncias que 
contenham sais de sódio. Entretanto, quando a 
dieta do animal é modificada para alimentação só-
lida, o reflexo para a água é imediatamente per-
dido. Em caprinos, o mesmo pode ser estimula-
do em animais mantidos em jejum hídrico pro-
longado ou pela administração intravenosa de va-
sopressina. Por volta de doze semanas de idade, 
observa-se um menor estímulo para o fechamen-
to do sulco reticular em animais alimentados na 
mamadeira ou no balde. Da mesma forma, a 
Quadro 5.2 - Principais funções dos reservatórios 
~ 
gástricos. 
• Rúmen: fermentação microbiana e maceração. 
• Retículo: separação dos alimentos. 
• Omaso: absorção de água, minerais e maceração 
dos alimentos. 
• Abomaso: digestão química. 
administração de leite e de outros fluidos via sonda 
esofágica faz com que não haja um adequado 
fechamento do sulco reticular, já que aqueles não 
entram em contato com os receptores da faringe. 
Não se deve esquecer, também, da importância 
do sistema digestório para a proteção imuno-
lógica e, consequentemente, da sobrevivência de 
ruminantes neonatos, já que recebem proteção 
imune exclusivamente após o nascimento pela 
absorção de imunoglobulinas presentes no colos-
tro materno, em virtude do tipo de placenta das 
fêmeas dessas espécies não permitir a passagem 
de proteínas do sangue materno para a circulação 
fetal, pela existência de um grande número de 
camadas musculares. A imunização passiva, pela 
absorção de imunoglobulinas presentes no colos-
tro pela mucosa intestinal, consequentemente, c 
considerada como o processo natural mais signi-
ficativo para conferir uma proteção imunitária 
eficaz, nas fases iniciais da vida do bezerro. 
 
 
Figura 5.2 - Fornecimento incorreto de leite para bezerro 
(posicionamento muito baixo da cabeça), levando a um 
fechamento insatisfatório da goteira esofágica e desvio do 
leite para o rúmen. 
FUNÇÃO MOTORA 
O sistema nervoso autonômico (SNA) é respon-
sável pela inervação motora dos reservatórios 
gástricos, participando, dessa forma, o contingente 
simpático e o parassimpático. No entanto, o ciclo 
motor dos reservatórios gástricos é dirigido prin-
cipalmente pelo nervo vago, que é, sem sombra 
de dúvidas, o maior responsável pela movimen-
tação da musculatura gástrica que promove o trans-
porte dos alimentos por meio dos vários compar-
timentos digestivos (Quadro 5.3). A inervação 
simpática para os pré-estômagos consiste de 
inúmeras fibras pré-ganglionares que se originam 
até 100L 
até 18L 
5 a 8L 
até 2 L 
NE 
0,75 a 1,2 L 
Semiologia do Sistema Digestório de Ruminantes 111 
 
do segmento toracolombar. Essas fibras se juntam ao plexo celíaco para formar o nervo esplâncnico. 
Esse nervo pode, eventualmente, inibir a motilidade mas, normalmente, a participação simpática nas 
contrações dos reservatórios gástricos dos animais ruminantes é fugaz. O nervo vago na cavidade 
torácica é composto por dois feixes principais: o nervo vago direito e o nervo vago esquerdo, 
dispostos lateralmente ao esôfago. No nível da sexta vértebra torácica, próximo ao arco aórtico, esses 
ramos se bipartem ou se dividem e se unem com os ramos do lado oposto, o dorsal com o ventral de 
cada lado, apresentando, a seguir, feixes com trajeto dorsal e ventral em relação ao esôfago (Eig. 5.3). 
Após atravessarem o hiato esofágico do diafragma, esses ramos penetram na cavidade abdominal e se 
distribuem em vários outros ramos nervosos que irão inervar as diferentes porções dos reservatórios 
gástricos. O nervo vago ventral contribui para a formação de um plexo nervoso na face cranial do 
retículo, logo abaixo do esôfago, e inerva, preferencialmente, o retículo, o omaso e o cárdia, mas atinge, 
também, o abomaso e o piloro. Alguns feixes do vago ventral atingem o saco ventral do rúmen. O nervo 
vago dorsal, apesar de inervar, preferencialmente, o saco dorsal do rúmen, atinge o cárdia, o retículo, o 
omaso e o abomaso. Os ruminantes submetidos a uma desnervação completa do vago não 
sobrevivem por muito tempo, o que demonstra a importância e a complexidade da inervação 
parassimpática para a sobrevivência dos animais ruminantes. 
Os movimentos iniciais do rúmen são irregulares e discretos e ocorrem por volta da segunda ou 
terceira semana de vida. As contrações cíclicas são observadas entre seis a oito semanas de ida- 
Vago cervical Esôfago direito 
Vago cervical 
esquerdo/ Vago abdminal 
 
Figura 5.3 - Disposição do nervo vago em relação ao esôfago. 
Quadro 5.3 - funções das contrações motoras dos reservatórios gástricos. 
• Mistura do líquido a alimentos sólidos. 
• Maceração dos alimentos fibrosos. 
Distribuição do material alimentar para que haja 
absorção dos ácidos graxos voláteis no contato do 
líquido ru112 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico 
Quadro 5.4 - Causas da redução ou ausência 
de ruminação. 
• Hipomotilidade ou atonia rumenal. 
• Depressão do Sistema Nervoso Central. 
• Dor. 
• Dano mecânico ao retículo (peritonite). 
por seus predadores. Essa característica é manti-
da até os dias atuais, sendo imprescindível para a 
digestão dos alimentos fibrosos. 
A eliminação, pela boca e pelas narinas, dos 
gases produzidos no rúmen pelos processos 
fermentativos, é chamada de eructação. Os prin-
cipais gases formados e expulsos do compartimento 
ruminorreticular são dióxido de carbono, metano 
e nitrogénio. O estímulo primário para a eructação 
é a presença de gás no saco dorsal que, pelo au-
mento de pressão na região dorsal do rúmen, faz 
com que haja maior frequência e maior volume 
do gás eliminado. O volume de gás produzido vai 
sempre depender do tipo e da quantidade de 
alimento ingerido; dessa forma, quanto maior for 
a porcentagem de grãos na alimentação, maior será 
sua taxa de formação e vice-versa. A média de 
eructação, em uma hora, oscila entre 17 e 20 nos 
bovinos, 9 e 11 nos ovinos e 9 e 10 nos caprinos. 
De maneira geral, a eructação ocorre nos animais 
ruminantes a cada dois minutos. Essa taxa aumenta 
ou diminui em proporção na dependência do grau 
de fermentação rumenal. Também, como estra-
tégia contra predadores (para que não fossem lo-
calizados pela sonoridade produzida), os ruminan-
tes desenvolveram um mecanismo de cinco está-
gios, pelos quais a eructação ocorre de maneira 
discreta e silenciosa: 
• Estágio de separação: as bolhas separam-se da 
ingesta. 
• Estágio de deslocamento: o gás move-se em di- 
reção ao cárdia por contrações do saco dorsal. 
• Estágio de transferência: o cárdia relaxa e o gás 
passa para a região esofágica. 
Estágio esofágico: por meio de contração antipe-
ristáltica do esôfago, o gás passa para a faringe. 
Estágio faringo-puImanar, da faringe, o gás 
chega aos pulmões, onde é absorvido e/ou exa-
lado pela expiração. 
O timpanismo (na forma gasosa ou espumosa) 
é um problema frequentemente observado na 
espécie bovina e ocorre pelas mais variadas cau-
sas: obstruções, estenoses esofágicas, alteração no 
posicionamento do cárdia (animais em decúbito 
lateral, por exemplo), ingestão de feno, legumi-
nosas ou de forragens muito jovens.ESTABELECIMENTO DA 
MICROBIOTA RUMENAL 
Os diferentes microorganismos que se desenvol-
vem e conseguem se manter no compartimento 
rumenal são aqueles que melhor se adaptaram às 
condições específicas do seu ecossistcma. Exis-
tem microorganismos que crescem somente na 
ausência de oxigénio ou quando a concentração 
de oxigénio é mínima (anaeróbicos obrigatórios). 
Poucas bactérias são capazes de se desenvolver 
mesmo quando condições consideradas aeróbicas 
estão presentes (anaeróbicos facultativos). As po-
pulações microbianas mais importantes que ha-
bitam o rúmen são as bactérias, os protozoários c 
as leveduras. Durante o parto e após o nascimento, 
os animais ruminantes são expostos a urna gran-
de variedade de microorganismos diferentes, que 
contribuem para o estabelecimento da população 
microbiana. Esses microorganismos têm sua ori-
gem na saliva da mãe, nas fezes, no ambiente, no 
úbere e em outras fontes alimentares. Logo após 
o nascimento, uma discreta população bacteria-
na, composta de bactérias anaeróbicas facultati-
vas, do Tipo Gram-positivo (lactobacilos), se ins-
tala e se fixa sobre a mucosa do rúmen. Essas 
bactérias utilizam o oxigénio que se difunde a partir 
do sangue circulante na parede rumenal, para atin- 
Tabela 5.4 - Características da ruminação de bovinos, caprinos e ovinos. 
Caprinos e ovinos 
 
Número de ruminações/dia 4 a 20 15 
Tempo diário de ruminação/h 4 a 9 8 a 10 
Duração de cada ruminação/min 40 a 50 até 120 
Características Bovinos 
Movimentos mastigatórios/min 50 a 70 70a 100 
Duração da mastigação por bolo alimentar/s 53 61 a 70 
Semiologia do Sistema Oigestório de Ruminantes 113 
girem um rendimento máximo dos processos 
rermentativos e para protegerem, no futuro, as 
bactérias que não suportam a presença de oxigé-
nio, mesmo que em quantidades mínimas. Com 
a introdução de fermentações anaeróbicas como 
consequência da ingestão de alimentos sólidos, no-
vas condições ruminais são estabelecidas e uma nova 
7'ipulação bacteriana, do Tipo Gram-negativo, se 
estabelece no conteúdo do compartimento rumenal. 
Uma vez estabelecida, a população rumenal é 
estável, alterando-se apenas quando há uma 
modificação nos constituintes da dieta fornecida. 
O número de bactérias que se encontram presen-
tes no rúmen oscila entre IO
10
e IO
11
 células/g. 
Seguindo as bactérias, os próximos microor-
ganismos a se estabelecer no rúmen são as leve-
duras. Esses organismos aparecem no rúmen 
durante a segunda semana de vida. A sua mani-
:rotação parece não depender do contato direto 
de animal com animal, já que as leveduras foram 
encontradas no rúmen de ovinos isolados de ani-
mais adultos. No entanto, o regime alimentar 
influencia de maneira decisiva na manutenção e 
no crescimento de leveduras no rúmen, já que os 
fungos desaparecem quando os animais se alimen-
tam com concentrados, ao passo que persistem 
em ovinos alimentados com feno. Em geral, a 
população fúngica no rúmen é proporcional ao 
conteúdo de fibras na dieta. 
A população protozoária é a última que se ins-
tala no rúmen. Seu estabelecimento dependerá, ex-
clusivamente, da presença de outros animais que 
possuam protozoários no seu conteúdo rumenal. A 
população protozoária é estimada em IO
5
 a IO
6
 cé-
/jlas/mL de conteúdo rumenal. Alguns ovinos têm 
se mantido livres de protozoários por um longo tempo, 
pelo simples fato de não terem tido contato com 
outros animais. Esses microorganismos são raramente 
encontrados antes de duas semanas de vida, reque-
rendo, usualmente, de duas a quatro semanas para 
que ocorra a colonização. A transferência normal de 
protozoários de um animal para o outro ocorre pela 
saliva, ou seja, do contato boca a boca com outros 
animais, ou pelo alimento recentemente contami-
nado pela saliva de animais com populações micro-
bianas estabelecidas no rúmen. O estabelecimento 
dos protozoários no rúmen também depende do pH 
desse compartimento, já que, quando se encontra 
muito baixo (< 6), observa-se uma redução acentuada 
na concentração dos mesmos. Os protozoários são 
muito menos numerosos que as bactérias mas, por 
serem maiores, ocupam volume equivalente àquele 
ocupado pelas bactérias. 
Os microorganismos localizam-se em três par-
tes distintas: 1. muitos aderem-se firmemente às 
paredes do rúmen; 2. outros, às partículas alimenta-
res; e 3. a\gunsf/ufuam livremente no líquido rumenal. 
Um fato interessante ocorre com a população 
protozoária. Como o tempo requerido para a maio-
ria das espécies de protozoários para reprodução é 
maior que a duração do trânsito do conteúdo ali-
mentar pelo compartimento rumenal, os protozoá-
rios atacam e aderem-se às grandes partículas ali-
mentares ou às paredes do rúmen e do retículo para 
evitar sua lavagem ou sua expulsão para os demais 
compartimentos. Um razoável número de bactérias 
(1-10%) também se encontra aderido à superfície 
dos protozoários e as vantagens dessa associação ainda 
estão sendo investigadas. 
IDENTIFICAÇÃO 
O paciente é identificado por suas características 
externas, utilizando-se aspectos como idade, sexo, 
cor, raça, entre outros. A idade é, sem dúvida, um 
dos dados mais importantes na identificação do 
animal, tendo em vista a forte correlação entre o 
desenvolvimento anatomofuncional do sistema 
digestório e a faixa etária do animal. Assim sendo, 
os processos entéricos e abomasais são mais fre-
quentes em animais lactentes e, inversamente, os 
distúrbios fermentativos e traumáticos localizados 
no compartimento ruminorreticular são quase ex-
clusivos de animais adultos. A espécie do animal 
deve ser levada em consideração, mesmo sendo a 
dinâmica do funcionamento do sistema digestório 
de bovinos, ovinos e caprinos, bastante semelhan-
te, pela inexistência de uma característica anató-
mica ou fisiológica do referido sistema que dife-
rencie, efetivamcntc, essas espécies entre si. As-
sim sendo, as doenças do sistema digestório são 
comuns a todas elas, variando, no entanto, a fre-
quência de ocorrência. Por exemplo, o deslocamento 
abomasal e a reticulite traumática são comumente 
encontrados em vacas de leite, mas raramente 
diagnosticados em bovinos de corte, caprinos e ovi-
nos. Deve-se levar em consideração, também, o 
comportamento alimentar e o grau de adaptação 
aos diferentes ambientes de cada uma delas. 
ANAMNESE (HISTÓRIA CLÍNICA) 
Uma das etapas mais importantes para o diagnósti-
co envolve a colheita e a avaliação de todos os dados 
114 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico 
Tabela 5.5 - Resumo da sequência do exame clínico do sistema digestorio de ruminantes. 
 
Identificação do paciente 
Anamnese 
Exame físico: - 
Geral 
- Específico 
Exames complementares 
 
- Raça, idade, sexo, procedência. 
- Emagrecimento, tempo de evolução, tipo de alimentação, características ma 
croscópicas das fezes. 
-Condição nutricional. 
-Comportamento e postura (se possível, durante alimentação e defecação). 
- Estado dos pêlos e pele. 
-Tipo de respiração. 
-Assimetria abdominal, gemidos. 
-Corrimentos (boca, ânus, etc.). 
-Coloração de mucosas, linfonodos. 
- Parâmetros vitais: temperatura corporal, frequência cardíaca, frequência res 
piratória, frequência dos ruídos ruminais. 
-Natureza das contrações ruminais. 
-Grau de preenchimento e consistência do conteúdo rumenal. 
- Presença de sons anormais (metálicos, maciço, rechaço, etc.). 
- Presença de dor na região abdominal anterior (xifóide). 
- Outros: apetite, mastigação, deglutição, defecação, etc. 
- Exame do líquido rumenal e peritoneal, laparotomia,ferroscopia, fezes, etc. 
- Outros: hemograma, bioquímico, etc. 
 
relevantes do histórico do animal (Tabela 5.5). Deve-
se considerar durante a obtenção da anamnese, além 
das informações habituais, três aspectos fundamentais 
com relação aos transtornos digestivos: 
1. O animal. 
2. O ambiente. 
3. A alimentação. 
Animal. Os fatos atuais e passados do animal 
ou do rebanho devem ser lembrados. E geralmente 
aceito que a história da enfermidade é um dos 
mais importantes fatorcs no diagnóstico clínico. 
Entretanto, uma história pormenorizada do caso 
em questão nem sempre é possível de ser obtida em 
virtude dos diferentes tipos de criação a que os 
animais são submetidos. Obviamente, os proprie-
tários de animais produtores de leite apresentam, 
na grande maioria das vezes, uma narrativa mais 
rica em informações, pela facilidade de observa-
ção rotineira. Deve-se perguntar se o animal apre-
sentou o mesmo problema antes, se foi feita alguma 
medicação e a resposta obtida após a sua realização. 
O tempo de evolução do processo patológico 
é bastante útil no estabelecimento do diagnóstico. 
Pode-se caracterizar a duração da doença em 
superaguda (O a 24 horas), aguda (24 a 96 horas), 
subaguda (4 a 14 dias) e crónica (> 14 dias). 
De maneira geral, os transtornos fermentativos 
aparecem e se desenvolvem de forma rápida e 
assustadora (acidose, timpanismo espumoso), ao 
passo que alguns distúrbios motores e de origem 
parasitária apresentam um quadro mais longo e 
de intensidade branda. 
Ambiente. Os animais são criados em regime 
extensivo de pastagem ou são confinados? Esse 
questionamento é importante, já que os animais 
podem apresentar problemas digestivos por di-
ferentes causas, tais como uma suplementação 
inadequada de concentrados, fornecimento de 
alimentos mofados ou estragados, ingestão de sal 
mineral molhado ou úmido, ingestão de plantas 
tóxicas, de água ou pasto contaminados por her-
bicidas e/ou outros produtos tóxicos. Áreas íngre-
mes e irregulares são apontadas como uma das 
causas de ectopia abomasal. 
Alimentação. Os dados sobre a alimentação do 
animal são imprescindíveis para o diagnóstico, já 
que as suas características determinam o tipo de 
fermentação realizada no compartimento rumenal. 
Sem dúvida, a pergunta mais importante que deve 
ser feita com relação ao fator alimentar é: houve 
mudança no manejo alimentar? Em caso de respos-
ta positiva deve-se estabelecer o tipo de altera-
ção (qualidade e/ou quantidade) e há quanto tempo 
o fato ocorreu. De maneira geral, os alimentos 
altamente fermentescíveis (grãos, capins jovens, 
sorgo, milho, torta de algodão) conduzem a uma 
Semiologia do Sistema Digestório de Ruminantes 115 
elevada atividade microbiana, resultando, quan-
do em excesso, em processos fermentativos anor-
mais (timpanismo espumoso, acidose), ao passo 
que alimentos de baixa digestibilidade (palha, ca-
pim seco), geram uma atividade microbiana mui-
to aquém do desejado, promovendo, paulatina-
mente, um acúmulo desse material não digerido 
no compartimento ruminorrcticular (indigestão 
simples, compactação). 
A história do paciente com alterações fermen-
tativas inclui, principalmente, o rápido acesso (aci-
dental ou proposital) a uma grande quantidade de 
alimentos altamente fermentescívcis de uma só vez. 
As alterações físicas, químicas e microbiológicas 
do compartimento rumenal estão intrinsecamente 
correlacionadas com a intensidade da mudança de 
manejo alimentar, ocasionada, principalmente 
pela apresentação abrupta ou inesperada de um 
novo componente alimentar à população bacteria-
na. Quanto maior for o desafio alimentar, mais in-
tensos serão os distúrbios fermentativos. Deve-se, 
então, estabelecer a provável implicação clínica 
promovida pela chegada de um tipo desconhecido 
de alimento e/ou de um alimento conhecido pela 
população rumenal, só que em maior quantidade. 
Na prática, o mínimo de duas semanas é suficiente 
para que ocorra uma modificação adequada da po-
pulação rumenal. No entanto, essa mudança deve 
ser sempre gradativa, respeitando o período míni-
mo mencionado. Cabe ressaltar que as alterações 
fermentativas ocorrem não só quando a mudança 
é de volumoso para concentrado, mas quando o 
inverso também c observado. No caso de suple-
mentação com fontes de nitrogénio não proteico 
como ureia, nitrato e sais de amónia, por exemplo, 
essa adaptação microrgânica é rapidamente perdida; 
mesmo quando deixa de ser feita por um curto pe-
ríodo (cerca de três dias), uma nova adaptação deve 
ser iniciada, como se a suplementação com esse 
tipo de componente alimentar nunca tivesse sido 
fornecida anteriormente. 
São, também, dados de grande valor a rela-
ção de volumoso/concentrado fornecido e •à frequên-
cia diária da alimentação administrada. Deve-se 
verificar a existência de novos trabalhadores na 
propriedade e a sua participação no manejo dos 
animais, já que, por desconhecerem os hábitos do 
rebanho e/ou da capacidade digestiva de cada 
animal, podem fornecer maior quantidade de um 
determinado tipo de alimento. A quantidade e a 
consistência das fezes também devem ser lem-
bradas e provêm a evidência da quantidade e do 
tipo de material recentemente consumido. 
AVALIAÇÃO FÍSICA GERAL 
Muitos problemas digestivos ocorrem em decor-
rência do comprometimento de outros sistemas 
do corpo. Por isso, é necessário que se faça uma 
avaliação geral do paciente e que se determine 
com exatidão, o que nem sempre é possível, se a 
origem do problema primário reside efetivamen-
te no sistema digestório. O exame físico geral deve 
incluir, principalmente, o sistema circulatório 
(frequência cardíaca, qualidade do pulso arterial, 
presença de pulso venoso patológico e tempo de 
preenchimento capilar), já que a avaliação desse 
sistema fornece dados consistentes sobre o estado 
geral do animal e auxilia sobremaneira a diferenciar 
uma condição atual temerosa (choque circulatório) 
de uma outra de menor gravidade. De maneira 
geral, a taxa cardíaca entre 100 a IZObpm quase 
sempre indica prognóstico reservado em bovinos 
adultos. Uma elevação na frequência cardíaca 
juntamente com respiração profunda, quando 
associadas a problemas digestivos, sugerem 
distúrbios hidroeletrolíticos. Por outro lado, 
diminuição da frequência cardíaca em bovinos (40 
a 55bpm) é, na maioria das vezes, associada a um 
dano parassimpático. Contudo, a bradicardia não 
é um achado frequente dos distúrbios motores. 
As orelhas ou as partes inferiores dos membros 
podem, também, ser utilizadas como indicadoras 
de perfusão periférica. Normalmente, são quentes 
à palpação. Os casos de colapso circulatório, 
secundário à septicemia, anemias ou distúrbios 
metabólicos (hipocalcemia), fazem com que as 
orelhas fiquem frias, indicando um prognóstico 
duvidoso. A desidratação do animal pode ser 
evidente avaliando-se a elasticidade da sua pele 
ou pela retração do globo ocular na órbita. O 
desenvolvimento de uma desidratação acentuada 
e rápida é visto comumente nos casos de acidose 
rumenal, em virtude do grande acúmulo de fluido 
no compartimento ruminorreticular, já que o 
conteúdo se torna hipertônico em relação ao plasma 
pelo acúmulo de lactato de sódio, fazendo com 
que uma grande quantidade de líquido seja 
desviada para o referido reservatório. A temperatura 
corporal encontra-se, na grande maioria dos casos 
de problemas digestivos, dentro dos limites de 
normalidade (38 a 39,5°C), exceto cm alguns casos 
de reticulites traumáticas e, menos comumente, 
nas ruminites, quando estará elevada emvirtude 
do desenvolvimento de um processo inflamató-
rio de intensidade variável. O inverso é observa-
do naqueles animais comatosos ou próximos ao 
116 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico 
óbito, cuja temperatura se encontra abaixo dos 
valores de referência. Durante a aferição da 
temperatura, deve-se observar a cauda e a porção 
distai dos membros pélvicos para verificar a 
presença de fezes, sangue e/ou muco. Fezes 
enegrecidas por sangue (melena) indicam hemor-
ragia na porção próxima! ou anterior do sistema 
digestório. como os pré-estômagos, abomaso e 
>deno. Quando as fezes se encontrarem reco-
bertas ou entremeadas com sangue (hematoque-
ziaK sugerem perda de sangue na porção distai 
ou final do sistema digestório, tais como intesti-
no grosso e reto. A coloração de mucosas também 
é um item importante, já que vasos episclerais 
injetados ou ingurgitados, caracterizados por va-
sos distendidos e vermelho-escuros, podem su-
gerir condições gastrointestinais septicêmicas, tais 
como salmonelose ou peritonite difusa secundá-
ria a bacteremia ou endotoxemia. A palidez é 
verificada quando há um distúrbio hemorrágico 
do sistema digestório ocasionado por úlceras abo-
masais, parasitismo (coccidiose, haemonchus}, en-
tre outras. Sua associação com a tonalidade da cor 
das fezes pode ser de valia para se estabelecer 
com certa precisão a porção do sistema gastroin-
testinal envolvido no processo hemorrágico. Se, 
após a realização desses procedimentos, não se 
denotar o envolvimento primário de algum outro 
sistema ou partes do corpo, deve-se realizar um 
exame sistemático do sistema digestório. 
Após o término da avaliação física geral, três 
considerações básicas devem ser esclarecidas: 
1. O problema é agudo ou crónico? 
2. A disfunção digestiva é primária ou secundá 
ria à outra enfermidade? 
3. O problema digestivo é brando, moderado ou 
grave? 
SINAIS E/OU SINTOMAS 
INDICADORES DE PROBLEMAS 
DIGESTIVOS EM RUMINANTES 
Vale '- :?ena ressaltar que, da mesma forma que 
-temas orgânicos, não existem sintomas e ou 
sinais patognomônicos que determinem i 
exatidão o comprometimento primário do 
sistema digestório. Os ovinos, de maneira geral, 
raramente apresentam sinais indicativos de anor-
malidade, a não ser quando estão gravemente 
doentes. Em vacas produtoras de leite, a dimi- 
nuição drástica da média diária produzida frequen-
temente estimula o proprietário a procurar ajuda. 
No entanto, alguns indicadores de anormalida-
des ocorrem com maior ou menor frequência na 
maioria dos processos enfermos do sistema gas-
trointestinal dos ruminantes e, com isso, ajudam 
sobremaneira no diagnóstico das enfermidades 
desse sistema. 
Assimetria do contorno abdominal. A inspeção 
do animal a distância é o primeiro passo na con-
duta do exame do sistema digestório, porém é um 
procedimento frequentemente omitido pelo clí-
nico. À exceção da cavidade bucal, faringe e esô-
fago, todos os demais órgãos do referido sistema 
se encontram na cavidade abdominal. O exame 
dessa região representa, assim, um dos principais 
pontos a serem observados para o diagnóstico das 
afecções do referido sistema. A observação de um 
aumento de volume da cavidade abdominal em 
um animal com história de anorexia ou inapetên-
cia há dois dias é indicativo de envolvimento do 
sistema digestório. É importante observar o ani-
mal em ambos os lados e determinar o contorno 
geral do corpo, o grau de simetria de lado a lado, 
definindo se é unilateral (lado esquerdo ou direi-
to do abdome) ou bilateral. Da mesma forma, se 
é dorsal, ventral ou ambos, se a distensão está 
restrita única e exclusivamente à fossa paralom-
bar ou se está comprometendo outras partes do 
corpo (gradil costal, por exemplo). Normalmen-
te, um ruminante adulto tem um contorno oval 
ou com forma de pêra, quando observado pela 
região posterior em direção a sua cabeça. Exis-
tem várias condições anormais que promovem uma 
alteração do contorno abdominal e que, quando 
reconhecidas e adequadamente avaliadas, permi-
tem ao veterinário uma suposição lógica e de grande 
valia para o diagnóstico sobre qual órgão ou por-
ção está anormalmente preenchido. A silhueta ab-
dominal é facilmente avaliada com o clínico po-
sicionado a uma certa distância que permanecendo 
muito próximo ao animal, já que as modificações 
discretas de contorno dificilmente serão percebi-
das. Os principais promotores de alteração do 
contorno abdominal de ruminantes são indicados 
na Tabela 5.6. 
Vale a pena lembrar que, em bovinos sadios, 
o lado esquerdo é mais proeminente que o lado 
direito. Aumentos localizados e discretos, promo-
vendo pouca ou nenhuma alteração do contorno, 
também podem ser vistos na cavidade abdominal, 
como é o caso de hérnia umbilical, hematoma e 
abscessos. Uma diminuição do volume abdominal 
11 6 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico 
óbito, cuja temperatura se encontra abaixo dos 
valores de referência. Durante a aferição da 
temperatura, deve-se observar a cauda e a porção 
distai dos membros pélvicos para verificar a 
presença de fezes, sangue e/ou muco. Fezes 
enegrecidas por sangue (melena) indicam hemor-
ragia na porção próxima! ou anterior do sistema 
digcstório, como os pré-cstômagos, abomaso e 
duodeno. Quando as fezes se encontrarem reco-
bertas ou entremeadas com sangue (hematoque-
zia), sugerem perda de sangue na porção distai 
ou final do sistema digestório, tais como intesti-
no grosso e reto. A coloração de mucosas também 
é um item importante, já que vasos episclerais 
injetados ou ingurgitados, caracterizados por va-
sos distendidos e vermelho-escuros, podem su-
gerir condições gastrointestinais septicêmicas, tais 
como salmonelose ou peritonite difusa secundá-
ria a bacteremia ou endotoxemia. A palidez é 
verificada quando há um distúrbio hemorrágico 
do sistema digestório ocasionado por úlceras abo-
masais, parasitismo (coccidiose, kaemonchus), en-
tre outras. Sua associação com a tonalidade da cor 
das fezes pode ser de valia para se estabelecer 
com certa precisão a porção do sistema gastroin-
testinal envolvido no processo hemorrágico. Se, 
após a realização desses procedimentos, não se 
denotar o envolvimento primário de algum outro 
sistema ou partes do corpo, deve-se realizar um 
exame sistemático do sistema digestório. 
Após o término da avaliação física geral, três 
considerações básicas devem ser esclarecidas: 
1. O problema é agudo ou crónico? 
2. A disfunção digestiva é primária ou secundá 
ria à outra enfermidade? 
3. O problema digestivo é brando, moderado ou 
grave? 
SINAIS E/OU SINTOMAS 
INDICADORES DE PROBLEMAS 
DIGESTIVOS EM RUMINANTES 
Vale a pena ressaltar que, da mesma forma que 
em outros sistemas orgânicos, não existem sinto-
mas e/ou sinais patognomônicos que determinem 
com exatidão o comprometimento primário do 
sistema digestório. Os ovinos, de maneira geral, 
raramente apresentam sinais indicativos de anor-
malidade, a não ser quando estão gravemente 
doentes. Em vacas produtoras de leite, a dimi- 
nuição drástica da média diária produzida frequen-
temente estimula o proprietário a procurar ajuda. 
No entanto, alguns indicadores de anormalida-
des ocorrem com maior ou menor frequência na 
maioria dos processos enfermos do sistema gas-
trointestinal dos ruminantes e, com isso, ajudam 
sobremaneira no diagnóstico das enfermidades 
desse sistema. 
Assimetria do contorno abdominal. A inspeção 
do animal a distância é o primeiro passo na con-
duta do exame do sistema digestório, porém é um 
procedimento frequentementeomitido pelo clí-
nico. À exceção da cavidade bucal, faringe e esô-
fago, todos os demais órgãos do referido sistema 
se encontram na cavidade abdominal. O exame 
dessa região representa, assim, um dos principais 
pontos a serem observados para o diagnóstico das 
afecções do referido sistema. A observação de um 
aumento de volume da cavidade abdominal em 
um animal com história de anorexia ou inapetên-
cia há dois dias é indicativo de envolvimento do 
sistema digestório. É importante observar o ani-
mal em ambos os lados e determinar o contorno 
geral do corpo, o grau de simetria de lado a lado, 
definindo se é unilateral (lado esquerdo ou direi-
to do abdome) ou bilateral. Da mesma forma, se 
é dorsal, ventral ou ambos, se a distensão está 
restrita única e exclusivamente à fossa paralom-
bar ou se está comprometendo outras partes do 
corpo (gradil costal, por exemplo). Normalmen-
te, um ruminante adulto tem um contorno oval 
ou com forma de pêra, quando observado pela 
região posterior em direção a sua cabeça. Exis-
tem várias condições anormais que promovem uma 
alteração do contorno abdominal e que, quando 
reconhecidas e adequadamente avaliadas, permi-
tem ao veterinário uma suposição lógica e de grande 
valia para o diagnóstico sobre qual órgão ou por-
ção está anormalmente preenchido. A silhueta ab-
dominal é facilmente avaliada com o clínico po-
sicionado a uma certa distância que permanecendo 
muito próximo ao animal, já que as modificações 
discretas de contorno dificilmente serão percebi-
das. Os principais promotores de alteração do 
contorno abdominal de ruminantes são indicados 
na Tabela 5.6. 
Vale a pena lembrar que, em bovinos sadios, 
o lado esquerdo é mais proeminente que o lado 
direito. Aumentos localizados e discretos, promo-
vendo pouca ou nenhuma alteração do contorno, 
também podem ser vistos na cavidade abdominal, 
como é o caso de hérnia umbilical, hematoma e 
abscessos. Uma diminuição do volume abdominal 
Semiologia do Sistema Digestório de Ruminantes 117 
Tabela 5.6 - Principais promotores de alteração do contorno abdominal de ruminantes. 
r ------ -— 
eza do mat€ 
Gás - Comumente localiza-se no compartimento ruminorreticular, principalmente nos 
casos de timpanismo. Na fase inicial, tende a abaular as porções superiores do 
flanco esquerdo, mas com o acúmulo gradativo do gás, vai deformando, também, 
as porções ventrais e a cavidade abdominal direita. 
Líquido - Como observado nos casos de ascite (verminose, insuficiência cardíaca conges- 
tiva), uroperitônio (urolitíases em pequenos ruminantes com rompimento de be-
xiga e/ou uretra), fazendo com que o abdome adquira um aspecto de abdome 
caído e nas hidropisias dos anexos fetais, levando a um contorno piriforme. A 
característica física do conteúdo pode ser verificada por meio de abdominocen-
tese. Nos casos de acidose láctica, ocorre um grande desvio de líquido para o 
rúmen na tentativa de neutralizar o seu conteúdo hipertônico. 
Sólido - Principalmente nos casos de ingestão acidental de grandes quantidades de 
grãos de uma só vez, alterando toda a microbiota rumenal (acidose rumenal) 
e nas alterações motoras por lesão do nervo vago. Tende a deformar a porção 
mais ventral do abdome esquerdo nas fases iniciais. Com a intensificação da 
fermentação, produção contínua de gás e sua insatisfatória eliminação, o abau-
lamento pode atingir, também, a porção superior do flanco esquerdo e o lado 
direito do abdome. A presença de um feto grande ou de dois fetos no útero, 
principalmente no terço final da gestação, tende a abaular o abdome de forma 
assimétrica, particularmente em sua porção ventral direita. A palpação transretal 
esclarecerá tal condição. 
 
ocorre, principalmente, nas doenças promotoras de 
processos febris, pelo desenvolvimento de anorexia 
e. também, nos casos de doenças caquetizantes, 
tais como verminose, pela diminuição da capaci-
dade absortiva, tuberculose, peritonite e diarreia 
em virtude do desenvolvimento de desidratação. 
A/gia abdominal. A atitude do animal em posição 
quadrupedal ou locomoção pode ser avaliada para 
verificar se o animal sente dor abdominal. A 
demonstração voluntária de dor pelos ruminantes 
é, sem dúvida, bem mais discreta e suave que a 
dos equinos com dor visceral. Os ovinos reagem às 
sensações dolorosas da mesma forma que os bovinos, 
mas os caprinos não são tão calmos e discretos. A 
dor nessa espécie é frequentemente associada a 
vocalizações (berros). A manifestação de dor em 
bovinos adultos e em bezerros varia considera-
velmente. Dor abdominal aguda ocorre em bovinos 
adultos nos casos de reticulopericardite traumáti-
ca e, menos frequentemente, na ocorrência de 
úlceras abomasais. A acidose pode ser manifesta-
da por andar vagaroso, dorso arqueado, pescoço dis-
tendido, acompanhado de expressão facial pensativa 
ou ansiosa (Fig. 5.4). Em bezerros com dor abdo-
minal aguda, as manifestações são mais dramáti-
cas, exteriorizadas por berros, inquietação e repe-
titivos movimentos de deitar e levantar. Às vezes, 
um gemido discreto pode ser manifestado com 
movimentos naturais como se levantar ou se deitar 
e/ou defecação, micção ou locomoção. 
Perda parcial de apetite - Anorexia. São duas 
condições observadas com certa frequência nos 
distúrbios digestivos, sejam eles agudos ou cró-
nicos. Uma história de inapetência conduz o clíni-
co, invariavelmente, a presumir que o problema 
se encontra no sistema digestório. Entretanto, 
algumas doenças, principalmente as promotoras 
de febre, podem também levar a redução do 
apetite. A falta de interesse pelo alimento pode 
ser total (anorexia) ou parcial (quando o animal 
ingere uma quantidade reduzida de alimentos -
inapetência), levando-se em consideração o 
tamanho do animal e suas necessidades diárias 
básicas ou, ainda, seletiva ou caprichosa, como 
observado, por exemplo, nos casos de deslo-
camento abomasal, pelo nítido interesse que o 
animal demonstra por volumoso e, pouco ou ne-
nhum, por grãos. 
EXAME FÍSICO ESPECÍFICO 
O sistema digestório dos animais ruminantes 
pode ser dividido, topograficamente, em duas 
porções: pré-diafragmática (boca, faringe e esô-
fago) e pós-diafragmática, constituída pelos pré-
estômagos (rúmen, retículo e omaso); estôma-
go verdadeiro (abomaso), intestinos (delgado e 
grosso) e, finalmente, pelas glândulas anexas 
(fígado e pâncreas). 
118 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico 
 
 
m Figura 5.4 - Alteração de postura (cifose) em animal com algia abdominal. 
 
Boca, Faringe e Esôfago 
Independentemente da queixa principal do 
proprietário, a avaliação do sistema digestório dos 
animais ruminantes deve ser sempre iniciada pelo 
exame da cavidade bucal (Quadro 5.5). Na boca, 
operam-se três funções de extrema importância para 
a digestão: apreensão, mastigação e insalivação dos 
alimentos. A inspcção externa permitirá observar 
se a boca está ou não adequadamente fechada, se 
existem lesões aparentes como fístulas, feridas, 
edemas, bem como assimetria dos lábios ou da rima 
 
 
 
f Exsudato J MTransudato *\ 
 
LÍQUIDO f sÓLIDOj 
 
Meteorismo 
(Timpanismo) 
Gasoso 
Meteorismo 
(Timpanismo) 
Espumoso 
Acidose 
Rumenal 
Aguda 
Acidose 
Rumenal 
Latente 
Empanzinamento 
por Sobrecarga 
Síndromc de 
Hoflund 
Figura 5.5 - Dilatação abdominal e suas manifestações clínicas (esquema gentilmente cedido pelo Prof. Dr. Maurício Garcia). 
Semiologia do Sistema Digestório de Ruminantes 119 
 
 
 
i^ ( Gestação Avançada 
Dilatação Abomaso Pneumoperitônio Ascite 
 
Quadro 5.5 -Principais indícios de envolvimento 
2ã boca e/ou faringe. 
• Extravasamento de saliva pela boca (sialorréia). 
• Boca entreaberta com exteriorização de alimentos 
descartar tétano e raiva). 
• Protrusão da língua associada à inflamação. 
• Dificuldade de apreensão e/ou mastigação e/ou de 
glutição (disfagia). 
• Emagrecimento progressivo. 
• Odor repugnante (necrose). 
labial. O fechamento incompleto da cavidade bucal, 
acompanhado, muitas vezes, da eliminação de fi-
letes de saliva (sialorréia) e/ou de alimentos, pode 
indicativo de processos inflamatórios de toda a 
cavidade bucal (estomatite) ou de uma de suas 
•.•uniras como, por exemplo, da língua (glossite), 
de fratura de mandíbula, ou mesmo, de luxação 
da articulação temporomandibular. De fato, as 
mesmas causas podem acarretar alterações na 
mastigação dos alimentos que conseguiram ser 
eendidos, sendo realizada de maneira superficial 
e lenta. Contudo, deve-se reconhecer que os 
ruminantes, diferentemente dos animais carnívoros, 
apresentam normalmente mastigação demorada e 
com amplos movimentos de lateralidade. Os 
problemas da mastigação são relativamente raros 
em ruminantes e, quando ocorrem, usualmente 
são de origem localizada. Quando a mastigação 
se realiza em condições anormais, a movimentação 
dos alimentos dentro da boca e a sua passagem 
para a faringe encontram-se prejudicadas. Observa-
se, como indício desses fatos, um acúmulo de ali-
mentos fibrosos entre a bochecha e a arcada 
dentária, no vestíbulo da cavidade oral. Esse 
acúmulo de alimento resulta em um odor desa-
gradável (halitose) na olfação da cavidade bucal. 
Invariavelmente, nos processos dolorosos que 
acometem a língua e os lábios, o emagrecimento 
progressivo é facilmente perceptível, pela 
importância que os mesmos possuem para os 
bovinos e os pequenos ruminantes, respectivamen-
te, na apreensão dos alimentos. 
As causas da disfagia (dificuldade de apreen-
são, mastigação e/ou deglutição) são variadas e 
decorrem, muitas vezes, de processos dolorosos 
da língua e da faringe, obstruções do esôfago por 
corpos estranhos e/ou estenose por compressão 
esofágica. Nos processos inflamatórios da farin-
ge, é visível a alteração de postura da cabeça à 
deglutição (disfagia no tempo faríngeo), já que o 
animal ergue a cabeça no momento da passagem 
do alimento pela mesma, visando diminuir a com-
pressão e a sensibilidade da região comprometi-
da. Quando a disfagia ocorre com o alimento ainda 
na boca (disfagia no tempo bucal), denota-se que 
o animal despende maior tempo para sua mas-
tigação, fazendo-a com a boca entreaberta. É 
comum, nesses estágios, a queda de alimento pelos 
cantos da boca e um aumento nas taxas de secre-
ção (ptialismo) e exteriorização salivar (sialorréia). 
Feita a inspeção externa, deve-se abrir a ca-
vidade bucal para observar língua, bochechas, 
arcadas dentárias, gengivas e palato, na tentativa 
de constatar a existência de congestão, corpos 
estranhos, vesículas, úlceras e/ou de outras lesões 
aparentes. A abertura da boca de bovinos pode 
ser feita manualmente, colocando-se a mão - com 
os dedos juntos - lateralmente à boca do animal, 
na região sem dentes (diastema) e girando-a, após 
a sua introdução, em sentido vertical, pressionando-
se o palato duro com o dedo polegar (Fig. 5.6). 
Deve-se, de preferência, utilizar luvas para esse 
tipo de manuseio. Uma melhor cooperação do 
animal à sua realização é obtida pressionando-se 
as narinas do animal com a mão livre ou utilizando-
se uma formiga (ver Capítulo 2). Durante a aber-
tura, deve-se notar a resistência oferecida pelos 
maxilares ao procedimento, já que, em algumas 
situações, como a raiva ou o tétano, a abertura torna-
sc difícil em virtude do desenvolvimento de para-
lisia do trigêmeo e de trismo mandibular, respec-
tivamente. Com a boca aberta, avalia-se o tônus 
da língua que, normalmente, oferece resistência 
quando puxada, mas volta rapidamente para a ca-
vidade após ter sido solta. A melhor observação 
da porção posterior da cavidade bucal é possível 
com a utilização do aparelho abre-bocas (Fig. 5.7), 
o qual deverá ser revestido com borracha ou 
material similar, para evitar ou minorar a ocorrência 
de lesões, com possíveis sangramentos na mucosa. 
Após a colocação do abre-bocas, envolve-se a língua 
com papel toalha ou pano, desviando-a para am-
bos os lados, utilizando-se de uma fonte de luz 
(lanterna, foco cirúrgico ou lâmpada de mecânico) 
para melhor visualização. 
A faringe encontra-se situada obliquamente 
na parte distai da cavidade oral propriamente dita 
e apresenta as seguintes comunicações: 
1. Nasofaringe: limita-se com as fossas nasais 
pelos cóanos. 
2. Orofaringe: comunica a cavidade oral com a 
faringe. 
120 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico 
 
Figura 5.6 - Técnica de abertura manual da cavidade bucal 
de bovinos: notar polegar pressionando palato duro. 
 
Figura 5.7 - Utilização do aparelho abre-bocas para ava-
liação da cavidade bucal. 
 
Figura 5.8 - Sucussão abdominal em bovino com suspeita 
de acúmulo de líquido. 
b.b - mncipais causas de alteração da 
apreensão, mastigação e deglutição em ruminantes. 
• Locais: corpos estranhos, erupção e/ou perda den 
tária, trauma mandibular, glossite, estomatite, pe- 
riodontite, osteomielite, obstrução faríngea e/ou eso 
fágica, etc. 
• Gerais: tétano, raiva, botulismo, listeriose, etc. 
 
3. Laringo-faringe: comunicação da faringe com 
o ádito da laringe. 
4. Esôfago. 
5. Com a abertura faríngea da tuba auditiva: 
comunica a faringe com a orelha média. 
Para a sua observação, é necessária, muitas 
vezes, a utilização de um abaixador de língua em 
virtude do tórus lingual. Contudo, há uma gran-
de dificuldade na permanência do abaixador de 
língua por um tempo relativamente longo na 
cavidade bucal de bovinos em virtude da grande 
força e mobilidade de sua língua, principalmente 
quando colocado sobre a porção posterior da lín-
gua, já que esse procedimento estimula o reflexo 
da deglutição, incomodando o animal e tornan-
do-o inquieto e não cooperativo durante a sua 
realização. A abertura manual da boca em peque-
nos ruminantes é feita comprimindo-sc com os 
dedos polegar e médio a porção anterior da arti-
culação temporomandibular. A faringe pode ser 
palpada externa e internamente - com a coloca-
ção de um abre-bocas - observando a existência 
de aumento de sensibilidade e de corpos estra-
nhos na região de orofaringe. 
A inspeção externa do esôfago, com intuito 
de denotar aumento de volume (megaesôfago), é 
feita, como referido anteriormente, com o clínico 
posicionando-se do lado esquerdo do animal. A 
passagem de líquidos e/ou sólidos pela mucosa 
esofágica promove o aparecimento de uma dis-
tensão intermitente e discreta (como ondulações), 
desde a porção mais anterior da região cervical 
até a entrada do tórax. As anormalidades da por-
ção cervical do esôfago podem promover altera-
ções na forma ou no contorno, geralmente causa-
das por corpos estranhos e tumores. A palpação 
do esôfago pode ser feita, se possível, passando-
se um braço sobre o pescoço do animal e colo-
cando as pontas dos dedos de ambas as mãos logo 
atrás da faringe e dorsalmente à traquéia, desli-
zando-os, com pressão moderada, desde a farin-
ge até a entrada do tórax. Normalmente não se 
Semiologia do Sistema Digestório de Ruminantes 121 
.onsegue sentir a parede esofágica. Se houver sus-
peita de obstrução esofágica por corpos estranhos, 
,. instituídos, na grande maioria dos casos, por frutas 
como laranja, caroços de manga e restos de pla-
.enta, deve-se palpar indiretamente com a utili-
Tào de sondas apropriadas para se confirmar a - 
.-peita inicial e para se ter uma noção do provável 
local da obstrução. Um procedimento bastante 
útilnos casos de estenose causada, por exemplo, 
pelo desenvolvimento de um carcinoma ou 
mesmo por hipertrofia de linfonodos mediastínicos 
(leucose, actinobacilose) é a passagem de uma 
sonda de maior diâmetro que, invariavelmente, 
encontrará resistência no ponto estreitado, seguida, 
posteriormente, pela introdução de uma de me-
nor espessura, a qual conseguirá passar com maior 
racilidade. Se o alimento não passar ou passar ina-
dequadamente pelo esôfago, pode causar uma 
"falsa deglutição", caracterizada pelo desvio de 
alimentos - principalmente de líquido - do esô-
fago, para a traquéia na abertura da laringo-farin-
^e e, daí, aos pulmões, causando pneumonia 
aspirativa, com prognóstico reservado. Os animais 
com obstrução desenvolvem timpanismo e, às 
vezes, regurgitam o alimento recentemente in-
serido. 
RUMEN 
Nos ruminantes adultos, o rúmen é o maior com-
partimento digestório sendo, portanto, o mais 
acessível ao exame físico (Quadro 5.7). Os sacos 
dorsal e ventral do rúmen ocupam a maior parte 
da metade esquerda da cavidade abdominal e es-
tendem-se consideravelmente para a direita do 
plano medial ventral do sétimo ou oitavo espaço 
intercostal esquerdo até a entrada pélvica. Ele é 
comprimido de lado a lado e pode ser descrito 
como possuindo duas faces: a face parietal (ou 
Quadro 5.7 - Características do compartimento 
rumenal. 
• Ambiente quase exclusivamente anaeróbico, habi 
tado por bactérias, protozoários e leveduras. 
• Apresenta vilosidades chamadas de papilas. 
• Umidade elevada (85 a 90%). 
• pH variável (5,5 a 7), dependendo do tipo de al i 
mentação ingerida. 
• Temperatura entre 38 e 42°C. 
» Ausência de secreção glandular. 
• Representa cerca de 80% do volume total dos re 
servatórios. 
esquerda) é convexa e se relaciona com o diafragma 
e a face visceral (ou direita) é um tanto irregular 
e se relaciona principalmente ao omaso, abomaso, 
intestino, fígado, pâncreas e rim esquerdo. 
A inspeção direta do flanco esquerdo forne-
ce informações sobre o grau de plenitude do rúmen. 
Normalmente, o flanco esquerdo apresenta-se 
moderadamente tenso, um pouco mais distendi-
do que o flanco do lado oposto. Em algumas si-
tuações, pode-se observar maior retração do flanco 
(côncavo), principalmente nos casos de perda 
parcial de apetite ou anorexia, causadas por doenças 
caquetizantes como, por exemplo, tuberculose, 
leucose e processos dolorosos localizados na ca-
vidade bucal. A observação do inverso (flanco 
protuberante, distendido) é mais frequente na 
rotina prática, podendo se localizar na porção 
superior, como nos casos de acúmulo de gás (tim-
panismo) ou na região inferior do rúmen, como 
verificado nas compactações ruminais (sobrecar-
ga por grãos). De maneira geral, as alterações do 
contorno tendem a abaular, inicialmente, a pare-
de abdominal esquerda e, posteriormente, a por-
ção ventral e a parede lateral direita do abdome, 
à medida que o gás vai se acumulando no com-
partimento rumenal. A distensão da parede abdo-
minal esquerda é mais comumente causada por 
enfermidades que afetam o rúmen. Contudo, o 
deslocamento abomasal também promove modi-
ficações de volume nessa região. 
Deve-se observar, também, a intensidade das 
contrações ruminais, que são claramente visíveis 
em animais com parede abdominal fina e despro-
vida de lã. A distensão e a retração da fossa para-
lombar esquerda em ruminantes adultos corres-
pondem às fases de contração e relaxamento dos 
sacos dorsal e ventral do rúmen, principalmente 
durante as fases de alimentação e ruminação. O 
clínico deve, também, estar atento a possíveis 
cicatrizes na região do flanco esquerdo pela pas-
sagem de um trocarte ou por uma incisão cirúrgi-
ca prévia, podendo, em ambos os casos, sugerir 
uma recidiva. 
Glossário S, 
Trocarte: Instrumento cirúrgico pontiagudo, provido 
de uma cânula oca, usado para puncionar uma cavida-
de do organismo, para a retirada de líquido ou gás. 
A palpação da parede abdominal esquerda deve 
ser realizada da fossa paralombar dorsal esquerda 
em sentido à prega lateral (prega do flanco). Os 
achados de palpação devem ser comparados com 
122 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico 
os obtidos ao exame visual para determinar, com 
segurança, o grau de repleção e o tipo de material 
presente no compartimento rumenal. A palpação 
pode ser superficial, profunda e retal. 
A palpação superficial é realizada com a pal-
ma da mão ou as pontas dos dedos (usada para 
avaliar a intensidade e frequência das contrações 
ruminais que, quando ocorre, empurra o punho 
para fora do flanco); a profunda (realizada com a 
mão fechada), de grande auxílio na avaliação do 
tipo de conteúdo rumenal, é baseada na resistên-
cia encontrada (pastosa - normal) como, também, 
na constatação de aumento de sensibilidade 
(ruminite). A região abdominal correspondente à 
porção ventral do rúmen apresenta maior resis-
tência à pressão manual em virtude da grande 
quantidade de material sólido presente e, a dor-
sal, menor resistência, pela camada de gás pre-
sente. A exploração retal fornece resultados me-
lhores que a palpação pelo flanco, pois todo o 
saco dorsal é acessível. Ao se elevar o assoalho 
abdominal, parte do saco ventral pode também 
ser sentida. 
A palpação retal c um procedimento útil para 
identificar quais órgãos são responsáveis pelas 
anormalidades detectadas durante o exame visual 
do animal e a característica do material promotor 
de tal alteração. 
A ausculta c um potente recurso a ser empre-
gado na avaliação do sistema digestório; entretan-
to, nem sempre a presença de ruídos no rúmen é 
indicativa de motilidade rumenal normal e, dessa 
forma, uma atenção cuidadosa deve ser dada a seu 
ritmo, sua duração e sua natureza. E importante 
lembrar que a ausculta do rúmen não só fornece 
informações sobre a atividade do rúmen como 
também dos outros reservatórios gástricos, já que 
os movimentos desse compartimento estão 
intrinsecamente ligados aos dos demais. 
A cada cinco minutos os bovinos apresentam 
de 7 a 12 movimentos ruminais; os ovinos, de 7 
a 14 e os caprinos, de 6 a 12. O número de con-
trações vai depender do tipo de alimento ingeri-
do e do intervalo decorrido entre a última refei-
ção e o exame. Na rotina prática, ausculta-se por 
cerca de dois minutos e deve haver, pelo menos, 
de duas a quatro movimentações. A motilidade 
normal resulta em um profundo, sonoro e prolon-
gado ruído que toma a forma de um murmúrio 
periódico que se exacerba e depois decresce. São 
ouvidos dois ruídos, um aéreo e outro sólido, que 
ocorrem quase concomitantemente e que corres-
pondem às contrações primária (ciclo de mistu- 
ra) e secundária (ciclo da eructação) do rúmen. O 
desprendimento da massa gasosa do material ali-
mentar para a sua superfície origina um ruído se-
melhante ao estourar de bolhas chamado de cre-
pitação. E mais perceptível na região dorsal do 
rúmen. Já o choque do material sólido contra a 
parede rumenal durante as respectivas contrações 
é denominado de deslizamento. É mais evidente 
na porção ventral. 
É necessário avaliar, também, a natureza e a 
força da contração fortemente influenciadas pelo 
tipo de alimento presente nesse compartimento. 
O mais potente estímulo natural para o início das 
contrações é o ato da alimentação, ou seja, a che-
gada do alimento na cavidade bucal. Alimentos 
ricos em fibras (feno, capim) provocam aumento 
na intensidade e na duração dos ruídos; já alimentos 
com alto valor energético (soja c milho) produ-
zem ruídos menos intensos. Portanto, os achados 
de ausculta devem ser interpretados de acordo 
com o tipo de alimentação oferecida ao animal. 
Aumento da crepitação com ausência das 
exacerbações pode indicar o início de meteoris-
mo. A ausência do rolamento indica atonia. A 
hipermotilidade rumenalocorre, na maioria das 
vezes, nas fases iniciais das lesões do nervo vago 
e dos processos fermentativos (timpanismo 
espumoso, acidose), entre outros. A maioria dos 
casos de hipomotilidade ou estase rumenal ocor-
re por uma ou mais dessas causas: a) depressão 
do centro gástrico; b) falha das vias dos reflexos 
excitatórios; c) aumento do estímulo dos reflexos 
inibitórios; e d) bloqueio das vias motoras (hipo-
calcemia, lesões do nervo vago). 
Portanto, além da frequência rumenal, deve-
se avaliar a intensidade dessa movimentação e 
descrevê-la na ficha do animal, por exemplo, da 
seguinte forma: "ausente" (-); "diminuída" (+-); 
"normal" (+H—) e "aumentada" (+++). 
É normal detectar um grau moderado de 
ressonância sobre o saco dorsal do rúmen; com 
isso, a percussão da parede abdominal esquerda 
produz, normalmente, um som timpânico, em 
virtude de ser uma estrutura oca e de grande 
tamanho, de as paredes estarem semidistendidas 
e por conter, na sua superfície, certa quantidade 
de gás. A intensidade do som submaciço aumen-
ta à medida que a percussão se dirige às porções 
mais ventrais da parede abdominal, pela nature-
za pastosa da ingesta, em virtude da presença de 
materiais fibroso e líquido. No timpanismo, o som 
da percussão lembra, muitas vezes, o ressoar de 
um tambor e, em casos de sobrecarga, podemos 
Semiologia do Sistema Digestório de Ruminantes 123 
encontrar uma área considerável, incluindo, muitas 
vezes, a região dorsal, com a presença do som 
•taciço. 
A combinação da percussão com a ausculta 
;rcussão auscultatória), utilizando-se os dedos 
ou o cabo do martelo, é de grande valia para iden-
::ncar acúmulo excessivo de gás dentro do com-
partimento rumenal ou em áreas vizinhas ao rúmen. 
A técnica é realizada colocando-se o fonendoscópio 
sobre a região de interesse, percutindo, com o 
polegar ou o cabo do martelo, a parede abdomi-
nal, numa distância aproximada de 10 a 12 cen-
tímetros da cabeça do fonendoscópio, o que re-
rará em ressonância aumentada quando o com-
partimento básico contiver uma quantidade de gás 
-isnificante. Muitos casos de acúmulo de gás no 
^aco dorsal do rúmen não apresentam ressonân-
cia exageradamente exacerbada, como aquela ob-
servada nos casos de deslocamento do abomaso, 
porque a camada de alimentos fibrosos se aloja 
abaixo da camada de gás, abafando consideravel-
mente a ressonância causada pelo ato percutidor. 
RETÍCULO 
O retículo é o mais cranial dos pré-estômagos e, 
em bovinos, é o menor dos quatro compartimen-
tos. Em ovinos e caprinos, no entanto, é maior 
que o omaso. Encontra-se apoiado na cartilagem 
xifóide entre o S- e o 1° espaço intercostal. Pro-
jeta-se para ambos os lados, mas é mais proemi-
nente do lado esquerdo, sendo menor que o 
abomaso. Ele é piriforme, sendo comprimido 
caudo-cranialmente. A face diafragmática é con-
vexa e situa-se contra o diafragma e o fígado. A 
face visceral é um tanto achatada pela pressão 
do saco cranial do rúmen (Quadro 5.8). Quase todo 
o exame do compartimento reticular visa detectar 
a presença de aumento de sensibilidade, tendo 
em vista a predisposição anatómica de tal órgão 
para o desenvolvimento de processos inflama-
tórios, por servir como um reservatório em 
potencial de corpos estranhos. 
Os principais motivos para que os processos 
traumáticos ocorram mais frequentemente em 
bovinos que em ovinos e caprinos são: 
1. Baixa seletividadc ou pouco discernimento 
oral da espécie (pobre palatabilidade). 
2. Cristas palatinas amplas, papilas das boche 
chas e língua direcionadas em sentido caudal 
na cavidade bucal; com isso, estando o corpo 
Quadro 5.8 - Características do compartimento 
reticular. 
• Encontra-se unido ao rúmen pelo sulco ruminorre- 
ticular. 
• Paredes revestidas por mucosa contendo inúmeras 
pregas, dando um aspecto de favos de colmeia. 
• Não secreta enzimas. 
• Também chamado de estômago de regurgitamento. 
• Representa 5% do volume total dos reservatórios 
gástricos de bovinos. 
estranho na referida cavidade, os animais não 
conseguem expeli-lo, sendo, então, desvia-
do cada vez mais em sentido caudal, para a 
faringe e o csôfago, auxiliado pelos movimen-
tos de deglutição. 
3. Características anatómicas do órgão: a mucosa 
do retículo c repleta de relevos laminares, os 
quais facilitam, e muito, a retenção do corpo 
estranho e sua respectiva penetração. Além 
disso, a cavidade reticular, estando disposta 
ventralmente na desembocadura do esôfago 
e do cárdia, torna ainda mais fácil a queda de 
corpos estranhos nele. 
A inspeção direta do retículo não é realizada 
em virtude de sua localização, já que está quase 
totalmente envolvido pelo gradil costal. Não se 
denota, portanto, alteração do contorno abdomi-
nal ventral por aumento de volume que diga res-
peito, única e exclusivamente, ao compartimento 
reticular. Porém, podemos observar a atitude do 
animal em posição quadrupedal e locomoção, já 
que, em algumas situações, os processos dolorosos 
sediados no retículo fazem com que os animais 
assumam algumas posturas indicadoras do seu 
comprometimento. É comum observar os animais 
tentando manter os membros torácicos mais ele-
vados que os pélvicos (eventualmente sobem em 
cochos, bebedouros), para aliviar a pressão dos 
demais órgãos da cavidade abdominal, principal-
mente do rúmen sobre o retículo e este, por sua 
vez, sobre um determinado corpo estranho que es-
teja eventualmente perfurando a sua mucosa e 
causando um processo inflamatório agudo. Esses 
animais se locomovem vagarosamente, não acom-
panhando a marcha dos outros animais. 
A palpação superficial do retículo de bovinos 
com os dedos é difícil em virtude da tensão abdo-
minal existente. Em pequenos ruminantes, esse tipo 
de manipulação pode ser tentado, já que apresentam 
uma parede abdominal relativamente fina. Porém 
124 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico 
é uma enfermidade de ocorrência rara nessas espé-
cies. A palpação profunda é realizada com a finalidade 
de se verificar um aumento de sensibilidade na região 
xifóide, feita colocando-se o punho fechado sob o 
apêndice xifóide, apoiando-se o cotovelo sobre o 
joelho. Durante a palpação, o clínico deve observar 
se o animal geme ou se há uma alteração da frequência 
ou da amplitude respiratória em decorrência da dor, 
como ocorre nas perfurações da mucosa reticular por 
corpos estranhos. 
Outras provas podem ser utilizadas para se 
pesquisar a presença de resposta dolorosa, entre 
as quais se destacam: prova do bastão, prova da 
percussão dolorosa e a prova dos planos inclinados 
(Tabela 5.7). 
Na prova do bastão, deve-se prosseguir, em 
sentido caudal, a intervalos de um palmo, até a 
porção proximal do prepúcio em animais machos 
e do úbere nos do sexo oposto, já que outras cau-
sas de algia abdominal, tais como úlcera abomasal 
e ruminite, podem causar uma resposta dolorosa 
similar à observada nos casos de reticulite traumá-
tica. Um resultado positivo das provas de sensibi-
lidade dolorosa (gemido, inquietação, contração 
muscular com pausa respiratória) indica, quase 
sempre, a existência de uma afecção traumática 
aguda. No entanto, é importante que se tenha 
cautela na interpretação dos resultados obtidos, já 
que, cm alguns animais temperamentais e inquie-
tos, ou mesmo quando os dois primeiros métodos 
são realizados com força excessiva, se observam 
respostas falso-positivas. A detecção de gemidos é 
grandemente facilitada com a colocação de um 
aparelho de ausculta na região traqueal. 
A ausculta é feita na porção ventral entre a 6-
e a l- costela. Ausculta-se um ruído

Outros materiais