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Apoio: No primeiro capítulo deste curso, os autores falaram sobre Planejamento Protético-Cirúrgico em Implantodontia. Dando seguimento à matéria, a abordagem deste segundo capítulo tem como tema “Considerações oclusais em prótese sobreimplantes”. V. 3 | No 3 | Maio • Junho | 2006| 220 PR ÓT ES E SO BR EI M PL AN TE OCLUSÃO EM ODONTOLOGIA RESTAURADORA Segundo o Dorland’s Medical Dictionary, oclusão é uma ação de fechar ou o ato de estar fechado. Entretanto, na Odontologia, oclusão tem um significado bem mais abrangente porque estuda o relacionamento dos dentes mandibulares e maxilares quando estão em contato funci- onal durante atividade mandibular, nos movimentos cên- tricos e excêntricos. Estas atividades devem ser considera- das e estudadas em três planos (frontal, sagital e horizon- tal) e nos movimentos da rotação e translação da mandí- bula. Dada a complexidade do assunto, uma definição mais abrangente foi elaborada por Mohl26: “Oclusão é o relacio- namento estático e dinâmico entre todos os componentes do sistema mastigatório na função normal, na disfunção e na parafunção, incluindo as características morfológicas e funcionais das superfícies contactantes dos dentes opos- tos, a articulação temporomandibular, o sistema neuromus- cular, deglutição e mastigação. Faz parte do estudo da oclu- são o diagnóstico, a prevenção e o tratamento das desor- dens funcionais do sistema mastigatório”. Segundo Miranda22 (2002), a máxima intercuspida- ção habitual (MIH) pode ser definida como o relacionamen- to de máxima intercuspidação entre os dentes antagonis- tas, independentes da posição dos côndilos. A relação cêntrica (RC) é definida como a relação maxilomandibular na qual a porção ântero-superior dos côndilos se articula com a porção avascular mais delgada de seus respectivos discos contra as paredes da eminência articular (Glossary of Prosthetic Terms7, 2005). Esta posi- ção independe de contatos dentais. A relação cêntrica é conhecida também como uma relação músculo-esquele- tal, porque na presença de contraturas ou espasmos nos músculos mastigatórios, torna-se impossível alcançar esta posição. Portanto, é imprescindível o relaxamento neuro- muscular do paciente como condição prévia ao registro da relação cêntrica22. No estudo e entendimento da oclusão, os articula- dores são uma ferramenta muito importante, principalmente os articuladores totalmente ajustáveis, que permitem estu- dar individualmente os movimentos mandibulares nos pla- nos sagital, frontal e horizontal e, em seguida, ter uma vi- são tridimensional dos movimentos. Outra vantagem do ar- ticulador é que após a montagem dos modelos em relação cêntrica (RC) pode-se voltar os modelos em máxima inter- cuspidação habitual (MIH) e observar o deslize em cêntri- ca, antigamente denominado de má-oclusão defectiva, da relação cêntrica para a habitual. Além do estudo desta dis- crepância no plano horizontal (RC MIH), pode-se tam- bém analisar a discrepância no plano vertical, ou seja a di- mensão vertical com os modelos em relação cêntrica e na máxima intercuspidação habitual. Os articuladores são tam- bém muito importantes no planejamento de próteses fixas extensas em dentes naturais e sobreimplantes. A visualiza- ção final das próteses por meio do enceramento diagnósti- co é fundamental. Além da análise do esquema oclusal de- senvolvido sobre os modelos montados, o articulador tam- bém permite a visualização espacial e morfofuncional do prognóstico da reabilitação. Apenas o material será altera- do, cera no planejamento e porcelana na reabilitação defi- nitiva. Além disso, nada deverá ser mudado a partir de um diagnóstico preciso e de um planejamento adequado. Se- gundo Miranda23 (2005), os articuladores podem ser agru- pados em quatro grandes categorias: 1. Chaneiras: não são adequadas para se executar uma boa Odontologia restauradora, pois não aceitam registros, não permitem movimentos excursivos e não possuem uma distância adequada entre as esferas condilares e os inci- sivos dos modelos montados. 2. Articuladores de valores médios fixos: não são ajus- Considerações oclusais em prótese sobreimplantes** Milton Edson Miranda* * Mestre e doutor em Reabilitação Oral e Prótese pela Ohio State University - USA e Fousp; Professor titular das Disciplinas de Oclusão e Prótese da Faculdade de Odontologia e coordenador dos cursos de Especialização e Mestrado em Prótese - São Leopoldo Mandic - Campinas - SP. ** A partir deste número, a revista ImplantNews adota a grafia correta da palavra sobreimplante, de acordo com a regra gramatical. Exemplo: sobre - utiliza-se o hifen apenas antes de H, R, S - sobredente, sobrecarga, sobre-saia, sobre-humano. ≠ scacasc V. 3 | No 3 | Maio • Junho | 2006 221 | PR ÓT ES E SO BR EI M PL AN TE táveis, porém apresentam valores médios, de acordo com as médias encontradas na população. A distância inter- condilar, o ângulo de Bennett e o ângulo da eminência articular são fixos e representam uma média da popula- ção. Pertencem a essa categoria os modelos Shofu Hand II, New Simplex, Bio-Art. 3. Articuladores semi-ajustáveis (ASA): são articulado- res que podem ser programados ou ajustados a partir do registro do arco facial associado aos registros intermaxi- lares da relação cêntrica (RC), movimentos de laterali- dade (ângulo de Bennett) e movimento protrusivo (ân- gulo da eminência articular). São muito versáteis, po- dendo ser usados tanto para restaurações unitárias quan- to reabilitações completas. Os exemplos para essa cate- goria são: Bio-Art, Gnatus, Dentflex, Whip-Mix. 4. Articuladores totalmente ajustáveis: são articulado- res bastante complexos e indicados principalmente em reabilitações extensas em pacientes com histórico de dis- função na ATM. São muito úteis no estudo da oclusão e trabalhos científicos, uma vez que são capazes de anali- sar a oclusão tridimensionalmente. Exemplos: Stuart, Denar, Di Pietro. Uma pergunta muito freqüente entre os estudantes de Odontologia é: quando se deve montar modelos de es- tudo em articulador ASA? De uma maneira bastante gene- ralizada, pode-se afirmar que os modelos de estudo devem ser montados em articulador toda vez que for planejada a alteração do esquema oclusal dos pacientes, ou seja, toda vez que a máxima intercuspidação habitual (MIH) do pacien- te não possa ser usada por se tratar de prótese extensa. Mesmo porque, ao se preparar todos os dentes do paciente, perde-se o referencial dentes e não há como montar os mo- delos na máxima intercuspidação. Como é improvável an- tever o relacionamento oclusal nesta nova posição maxilo- mandibular (RC) é essencial que os modelos sejam monta- dos em articuladores, onde os preparos preliminares são feitos nos modelos, seguido de enceramento diagnóstico, onde haverá coincidência da máxima intercuspidação (MIC) com a posição de relação cêntrica (RC). Esta nova posição é chamada de oclusão em relação cêntrica (ORC) ou relação de oclusão cêntrica (ROC). Logicamente que nada impede a montagem dos modelos de estudo em articulador com o intuito de se fazer provisórios prensados em laboratório, mesmo em se tra- tando de próteses pequenas. Entretanto, é importante lem- brar que estes modelos serão montados na máxima inter- cuspidação habitual (MIH) do paciente, uma vez que os dentes remanescentes permitem uma estabilidade oclusal. Como o padrão oclusal do paciente não será alterado, esta prótese fixa de três elementos será feita na posição habitual do paciente, não necessitando de registro intermaxilar (em cera, por exemplo), pois os próprios dentes são utilizados como referência para a montagemna máxima intercuspi- dação habitual. Isto é válido somente para prótese unitária e pequenas pontes fixas, desde que os dentes remanescen- tes promovam estabilidade oclusal para montagem dos modelos no articulador. É essencial o entendimento da oclusão na dentição natural para que se possa desenvolver uma ótima oclusão nas próteses sobreimplantes osseointegrados. A oclusão ideal pode ser definida como uma oclusão compatível com os movimentos mastigatórios do paciente, devolvendo uma efi- ciente mastigação associada a uma boa estética e fonética12. De acordo com Huffman, Reggenos13 (1980) e Miran- da22 (2000), uma oclusão ideal deve seguir alguns parâme- tros ou critérios. Critérios de uma oclusão ideal: 1. Máxima eficiência mastigatória com mínima tensão nos músculos e ATMs. 2. A força mastigatória deve ter um direcionamento axial, ou seja, no sentido do longo eixo dos dentes e/ou im- plantes. Forças laterais devem ser evitadas. 3. Propiciar máximo conforto para o paciente. 4. Promover uma harmonia entre os três principais com- ponentes do sistema mastigatório: harmonia articular (côndilos em RC), harmonia neuromuscular e harmo- nia dental (máxima intercuspidação, com contatos den- tais bilaterais). 5. Adequado contato, contorno e forma dos elementos dentais para manter a saúde periodontal. 6. Sempre que possível manter o perímetro oclusal dos dentes reduzido, para melhor direcionar a força masti- gatória (axialmente). 7. Uma adequada guia anterior, para promover imediata desoclusão dos dentes posteriores nos movimentos ex- cursivos. 8. A máxima intercuspidação dos dentes deve ser coinci- dente com a relação cêntrica do paciente. 9. A dimensão vertical de oclusão estabelecida deve pro- porcionar um perfil estético adequado ao paciente e um espaço funcional livre para o descanso da musculatura. 10. Minimizar traumas às ATMs e estruturas periodontais. Guichet9 (1970) relatou não existir um esquema oclu- sal ideal para todas os pacientes, mas um padrão de oclusão apropriado pode ser desenvolvido baseado nos critérios de V. 3 | No 3 | Maio • Junho | 2006| 222 PR ÓT ES E SO BR EI M PL AN TE oclusão ideal acima descrito. Os esquemas oclusais ou sim- plesmente escolas de oclusão, conhecidos são: oclusão ba- lanceada bilateral, escola de proteção mútua e escola de oclusão balanceada unilateral (função em grupo). • Escola balanceada bilateral: de acordo com essa filoso- fia, os dentes se tocam em máxima intercuspidação e em to- dos os movimentos excursivos, ou seja, no lado de trabalho todos os dentes se tocam como na função em grupo e no lado de não trabalho há toque de um ou mais dentes. No movimento protrusivo tocam simultaneamente os dentes anteriores e posteriores. Este tipo de esquema oclusal é reco- mendado para prótese total convencional, permitindo esta- bilidade da prótese durante os movimentos excursivos. Segundo Granger8 (1954), nos movimentos de late- ralidade este tipo de oclusão gera forças oclusais laterais ou horizontais, desviando do padrão ideal da força mastigató- ria no sentido axial. Entretanto, estes contatos laterais são compartilhados por dentes e ATM, minimizando, assim, possíveis efeitos deletérios. A escola balanceada bilateral foi baseada em teorias clássicas: a teoria dos três pontos de Bonwill, a teoria da Curva de Spee e a teoria esférica de Monson. Nos primór- dios da Odontologia moderna este conceito de oclusão era empregado tanto para próteses totais quanto para próteses fixas. Na década de 1960, Stallard, Stuart38 verificaram que em prótese fixa a oclusão balanceada bilateral causava ins- tabilidade oclusal com o aparecimento de interferências e prematuridades causadas pelo desgaste do material no de- correr do uso da prótese. Assim, estes autores preconiza- ram um outro tipo de oclusão, que ficou conhecida como escola Gnatológica ou guia canina. • Escola de proteção mútua: Stuart38 (1960) estudou a oclusão de pacientes com mais de 60 anos que não apre- sentavam desgaste dos dentes posteriores e observou que estes dentes não se tocavam durante os movimentos excur- sivos. Stallard38 (1960) também observou que em máxima intercuspidação, os molares tinham um contato mais forte que os dentes anteriores. A união destes dois achados re- sultou no que hoje é denominada oclusão mutuamente pro- tegida ou oclusão de proteção mútua. De acordo com esta escola, os contatos dos dentes podem ser assim distribuídos: - Em oclusão cêntrica: contatos bilaterais, simultâneos e estáveis. Articulação da ponta de cúspide em fundo de fossa, resultando num direcionamento axial da força mastigatória. - Lado de trabalho: no movimento de lateralidade, o cani- no toca e desoclui todos os dentes (guia canina). - Lado de não trabalho (balanceio): ausência de contato entre os dentes. - Movimento protrusivo: os dentes anteriores tocam e de- socluem todos os dentes posteriores. Esta escola de oclusão também é conhecida como guia canina. O canino tem um importante papel durante a mas- tigação, que é o de guiar os dentes para a máxima intercus- pidação, desenvolvendo uma mastigação mais verticaliza- da, protegendo, assim, os componentes articulares (ATMs). O canino desempenha bem esta função por vários motivos: a. É o dente com o maior comprimento de raiz e, conse- qüentemente, com a maior área proprioceptiva (ligamen- to periodontal). b. Possui excelente proporção coroa/raiz. c. Possui ótima implantação de sua raiz numa avantajada estrutura de osso compacto (pilar canino). d. Localização mais distante do Côndilo (fulcro da ATM). Desta forma recebe menor intensidade de força. Uma força de 60 kg gerada na região de molar promove cerca de 20 kg na região do canino. e. O canino ao desocluir os dentes molares, promove maior relaxamento dos músculos elevadores e com isso não há pressão ou estresse no componente articular (ATM). f. Se houver um implante no lugar do canino, a desoclusão pode ser feita usando também o lateral e eventualmente até o central. Este tipo de desoclusão é chamada “deso- clusão em grupo anterior”. O lateral e central balancea- riam a propriocepção ausente no canino (Figura 1). • Oclusão balanceada unilateral (função em grupo): embora os fundamentos desta escola tenham sido introdu- zidos por Schuyler34 em 1929, somente tornou-se popular quando os doutores Pankey e Mann se associaram ao doutor Schuyler e criaram o que passou a ser conhecido como Esco- la Pankey-Mann-Schuyler. Com o falecimento do doutor Schuyler, os doutores Pankey e Mann construíram, na Flóri- da, um Instituto de ensino e pesquisa, que hoje é universal- Figura 1 Desoclusão parcial em grupo anterior. V. 3 | No 3 | Maio • Junho | 2006 223 | PR ÓT ES E SO BR EI M PL AN TE mente conhecido como Instituto Pankey-Mann de Miami. Os princípios básicos desta escola podem ser resu- midos da seguinte maneira: - Em oclusão cêntrica: contatos bilaterais, simultâneos e es- táveis em relação cêntrica, porém permitindo um desli- ze das pontas das cúspides sobre uma superfície plana nas fossas, que passou a ser chamado de cêntrica longa ou deslize em cêntrica. No começo, este deslize ou cên- trica longa era de 2 mm, com um plateau na concavidade palatina dos dentes anteriores também de 2 mm, para que as pontas de cúspides posteriores e as incisais dos dentes anteriores inferiores percorressem simultanea- mente estes 2 mm na mesma dimensão vertical, até que os incisivos passassem a desocluir os dentes posteriores. Atualmente este deslize em cêntrica foi reduzido a pou- cos décimos de milímetro (0,5 mm a 0,75 mm), tornan- do desnecessária a confecção do “plateau” anterior, com apenas umafossa maior do que a ponta da cúspide an- tagonista. Após este pequeno deslize, os dentes anterio- res se tocam desocluindo os posteriores. - Lado de trabalho: os dentes se tocam em grupo (de canino a primero molar) com desoclusão no lado de não trabalho. - Lado de não trabalho: ausência de contato entre os dentes. - Movimento protrusivo: os dentes anteriores se tocam desocluindo os dentes posteriores. OCLUSÃO EM PRÓTESE SOBREIMPLANTES A dificuldade em se estabelecer um protocolo para a oclusão em prótese sobreimplantes recai sobre dois aspec- tos: a. A escassez de trabalhos literários bem controlados e b. O estudo da oclusão, no que diz respeito à distribuição de forças, confunde-se com a biomecânica dos implantes. Em relação ao estudo da oclusão, infelizmente, a li- teratura científica, apesar de extensa sobre o tema, é basi- camente baseada em análises empíricas e com pouco su- porte científico, sob a óptica atual da Odontologia baseada em evidência. A terapia dentária têm sido considerada como satisfatória quando expressa em resultados como conforto do paciente, satisfação e durabilidade da restauração pro- tética39. Assim, a extrapolação dos conceitos de oclusão dos dentes naturais para a Implantodontia foi uma progressão inevitável, simplesmente por falta de alternativa, científica ou empiricamente. Dessa maneira, a oclusão preconizada para as próteses sobreimplantes, quer suportadas ou reti- das, têm sido uma ampla extensão da oclusão sobredentes naturais ou para próteses totais convencionais, com algu- mas pequenas modificações32. Embora os princípios básicos de oclusão tenham sido aplicados ao paciente, independente do tipo de prótese a ser confeccionada, as próteses colocadas sobreimplantes osseointegrados devem ser analisadas com cautela, pois existe uma diferença biomecânica entre dente natural e implante que deve ser observada. Nos dentes naturais a mastigação produz uma força de compressão que, devido ao ligamento periodontal, é transformada em tração, sen- do benéfica ao sistema, uma vez que esta tração ajuda na osteogênese. Sabe-se que forças de compressão são dele- térias ao periodonto. Nas próteses sobreimplantes as for- ças oclusais são transmitidas diretamente ao osso alveolar, continuando como força de compressão pela ausência do ligamento periodontal6,12. O estudo da biomecânica dos implantes e até mes- mo o exercício da Odontologia de forma holística, está fun- damentada em um princípio básico, que é o controle dos fatores traumatogênicos. Fatores traumatogênicos são estí- mulos capazes de gerar trauma, o qual pode ser definido como todo estímulo com intensidade, freqüência e/ou du- ração capaz de alterar os tecidos. Esses estímulos podem ser térmicos, mecânicos, químicos, elétricos, radioativos e/ ou psicológico5. Para o estudo da biomecânica, obviamente, só será levado em consideração o estímulo mecânico. A biomecânica das próteses implanto-suportadas é um sistema complexo. A resposta biomecânica às cargas aplica- das durante a função ou até mesmo durante a parafunção é dependente de vários fatores, tais como: propriedades me- cânicas e morfológicas do osso, tipos de implantes, compo- nentes, peça protética, dentes e das propriedades dessas in- terfaces. Assim, o número, tamanho e forma dos implantes; a localização dos implantes em relação ao osso e outras es- truturas de suporte; a qualidade do osso; o esquema oclusal; a distribuição dos implantes ao longo da arcada; a escolha dos componentes e o nível de retenção das próteses aos pi- lares e o desenho da prótese, são fundamentais na análise da biomecânica dessas próteses implanto-suportadas e, conse- qüentemente, no prognóstico das mesmas20. - Aplicação de forças no sistema - Conseqüência de forças não-axiais - Esquema oclusal - Parafunção - Propriocepção e implantes - Material restaurador • Aplicação de forças no sistema: Brunski2 (1988) rela- tou que a dentição humana é capaz de exercer grandes e variadas forças, dificultando, assim, uma padronização para V. 3 | No 3 | Maio • Junho | 2006| 224 PR ÓT ES E SO BR EI M PL AN TE um arranjo de forças atuantes sobre um sistema. Os com- ponentes axiais de força variam de 200 N a 2440 N, e os componentes laterais são da ordem de 30 N. Nas próteses implanto-suportadas, essas forças variam de 42 N a 412 N. No planejamento de uma prótese sobreimplante, deve ser analisada de forma distinta os vetores de força que atuam no sistema, dividindo-as em forças axiais, que são fisiológicas e úteis e outros componentes vetoriais de força. Infelizmente, a mensuração direta das cargas nos compo- nentes dos implantes e dos ossos é muito difícil de ser ob- tida. Assim sendo, as forças in vivo devem ser estimadas e usadas para análises de tensões nos implantes e interfaces, em outras formas de pesquisa, tais como o método mate- mático dos elementos finitos ou por meio de pesquisas es- tritamente laboratoriais, as chamadas pesquisas in vitro1. A mastigação induz forças verticais na dentição; en- tretanto, há também forças transversais criadas pelo movi- mento horizontal da mandíbula e pela inclinação das cús- pides dos dentes. Essas forças são transferidas através da prótese para o implante e, finalmente, para o osso. Durante a transmissão dessa carga, uma dada força oclusal pode cri- ar um padrão de tensão completamente diferente devido à configuração geométrica da prótese analisada em questão. Assim, devem ser considerados dois tipos de cargas sobre a ancoragem: a. A força axial e; b. O momento de cisalha- mento da força. Esses dois tipos de cargas são completamente dife- rentes em sua natureza. A força axial é mais favorável por- que distribui as tensões mais uniformemente através do implante, enquanto as forças oblíquas ou de cisalhamento exercem tensões no implante e no osso. • Conseqüência de forças não axiais: a principal razão para a orientação de não se permitir forças oblíquas sobre o sistema está relacionada a ausência de ligamento periodon- tal e, por conseguinte, a verificação de que essas forças ge- ram áreas de alta concentração de tensão em determinadas áreas da interface osso/implante ao invés de possuir uma dissipação uniforme das forças através do sistema30. • Esquema oclusal: o papel do esquema oclusal, tradicio- nalmente apontado como fundamental no sucesso das pró- teses sobreimplantes, tem sido questionado pela literatura. Wenneberg et al40 (2001) avaliaram um grupo de 109 pacien- tes, usuários de protocolo inferior contra prótese total con- vencional superior, com tempo de uso médio de oito anos, de acordo com os esquemas oclusais utilizados (oclusão ba- lanceada bilateral, oclusão balanceada unilateral ou sem es- quema oclusal definido) e verificaram que 60% das próteses apresentavam uma oclusão ótima e 8% uma oclusão ruim. Os resultados mostraram que houve uma fraca correlação entre o esquema oclusal adequado e os parâmetros de perda de suporte ósseo e satisfação do paciente. Entretanto, esses dados devem ser analisados com muita cautela, pois não re- fletem uma amostragem representativa e também pelo fato de ser um estudo retrospectivo, sem aleatorização da amos- tra. Baseado nos conceitos clínicos vigentes atualmente, todo esforço deve ser feito para minimizar as forças deletérias so- bre o sistema e, assim, preparar a prótese para suportar uma possível fase de evento de parafunção. • Parafunção: os hábitos tanto de intensidade de força quanto os parafuncionais podem ter um efeito negativo con- siderável na estabilidade dos componentes dos implantes. O risco torna-se maior ainda se as forças não forem trans- mitidas no sentido do longo eixo do implante.No planejamento de uma prótese sobreimplante, pacientes que apresentam bruxismo ou perderam seus den- tes por fraturas devem ser considerados de alto risco. A oclu- são mutuamente protegida, a observância de um desenho correto da infra-estrutura, componentes protéticos de boa qualidade e bem adaptados, e uma proteção noturna da prótese por meio de uma placa oclusal são essenciais no sucesso do tratamento. Segundo Renouard, Rangert31 (2001), os dentes natu- rais por meio do ligamento periodontal têm uma mobilidade fisiológica e capacidade para absorver cargas. Ao contrário, os implantes são rígidos em seus sítios ósseos. Pela ausência de ligamento periodontal as forças são transmitidas direta- mente ao osso. Desta forma a prótese implanto-suportada deve ter como características: ponta de cúspide em fundo de fossa (direção axial), baixa inclinação das cúspides e tama- nho reduzido do diâmetro oclusal para evitar contatos dos dentes posteriores nos movimentos de lateralidade. Na re- gião posterior é recomendável a utilização de dois implantes de plataforma regular para receber uma coroa metalocerâ- mica ou um implante de plataforma larga (5-6 mm de diâ- metro). Quando mais de um implante é colocado na região posterior recomenda-se a ferulização da prótese para me- lhor distribuir as forças mastigatórias (Figura 2). Lobbezoo et al19 (2006) discorreram que a literatura aponta o bruxismo como um fator de contra-indicação para a reabilitação com implantes. Contudo, poucos e mal deli- neados estudos abordaram de maneira sistemática a rela- ção de causa e efeito entre bruxismo e falha dos implantes e fracassaram no estabelecimento dessa relação. Todavia, apesar da falta de evidência de que o bruxismo leve ao fra- V. 3 | No 3 | Maio • Junho | 2006 227 | PR ÓT ES E SO BR EI M PL AN TE casso dos implantes, alertaram para a tomada de uma condu- ta conservadora, com adoção de manobras que possam mini- mizar ou eliminar a parafunção, utilização de maior número de implantes, com maior área de contato, esquema oclusal pro- tetor e utilização de placa oclusal de acrílico rígido. • Propriocepção e implantes: o papel da propriocep- ção do ligamento periodontal está muito bem documen- tado na literatura. Assim, pelo conhecimento dessas pro- priedades, é necessário que o planejamento protético seja feito de forma distinta para próteses suportadas por den- tes ou por implantes. Os estudos que avaliaram a sensi- bilidade tátil demonstraram grandes diferenças entre os dentes naturais e implantes, tendo uma percepção do toque obtida com média de 3,8 g de pressão para os den- tes e 580 g para os implantes, quando da aplicação de forças horizontais10,21. Haraldson, Carlsson11(1977) comprovaram que as forças oclusais geradas por uma prótese total fixa implan- to-suportada são semelhantes às forças geradas na denti- ção natural. Isto sugere que a força longitudinal do im- plante e a forte integração com o osso influenciam os me- canismos de feedback neuromusculares que controlam a força oclusal. Assim, pode-se notar que pacientes com reabilitações extensas, puramente suportada por implantes, apresentam fun- ção normal clínica, pois a ausência de propriocepção dos liga- mentos é compensada (com déficit sensorial) pelas termina- ções nervosas do periósteo, dos músculos da mastigação, da mucosa oral, das ATMs, entre outras33. Esses dados têm gerado uma grande discussão de conceitos na literatura, com a criação até mesmo de um termo, chamado de “osseopercepção”14. • Material restaurador: tem sido bastante descrito na li- teratura, que o choque sofrido pelas próteses fixas implan- to-suportadas durante a mastigação deve ser maior nas pró- teses com cobertura de porcelana que aquelas com cober- tura de resina acrílica36,18. Skalak36 (1985) levantou a hipóte- se de que uma camada menos dura, como a da resina acrí- lica em comparação à porcelana feldspática, poderia redu- zir os picos de forças geradas durante a mastigação. Os es- tudos que utilizam a metodologia dos elementos finitos tam- bém relatam bastante esse tipo de conclusão. Ciftci, Canay4 (2000) realizaram um estudo utilizan- do a metodologia dos elementos finitos tridimensional para avaliar o efeito que os diferentes materiais restauradores exercem na tensão sobre os implantes. Nesse estudo, fo- ram testadas próteses com cobertura de liga de ouro, por- celana, resina composta, cerômero e resina acrílica. Os re- sultados indicaram que a tensão estava concentrada no osso cortical circunjacente à região do implante e que a liga de ouro e a porcelana apresentaram maiores valores de tensão que os outros materiais. Entretanto, Bassit et al1(2002) em um estudo in vivo, no qual utilizou uma metodologia que permitiu avaliar a força transferida ao implante, verificaram que a resina acrí- lica e a porcelana não geraram forças diferentes aos im- plantes. Os autores argumentaram que isso pode ter ocor- rido por dois motivos: 1. A velocidade do contato oclusal e a massa mandibular não foram suficientes para introduzir nenhum choque significativo. Foi notado nesse estudo que a diferença de tempo do contato oclusal é muito diferente nos estudos clínicos (in vivo) e laboratoriais (in vitro). O tem- po de contato oclusal estimado no estudo clínico foi de 0,1 s enquanto que nos estudos laboratoriais esse tempo é de 300 µs, verificando assim, que o choque testado labora- torialmente tem uma freqüência muito maior que o choque verificado na clínica e 2. Que a diferença do módulo de elas- ticidade entre os materiais é suplantada pela flexibilidade do implante e do osso. Os autores argumentaram que, nos estudos de modelos matemáticos e laboratoriais, dois gran- des fatores são omitidos, a resiliência do osso e a resiliência do dente antagonista, os quais são primordiais para a aná- lise da flexibilidade do sistema de implantes. • Planejamento reverso: segundo Misch24 (2000), o su- cesso clínico e a longevidade do implante como suporte de uma prótese depende da vários fatores. O planejamen- Figura 2a Redução da mesa oclusal em prótese sobreimplantes na região posterior (Coroas metalocerâ- micas no modelo). Figura 2b Redução da mesa oclusal em prótese sobreimplantes na região posterior (Radiografia mostran- do implantes curtos e redução da mesa oclusal) Raios-X. V. 3 | No 3 | Maio • Junho | 2006| 228 PR ÓT ES E SO BR EI M PL AN TE to reverso; ou seja, primeiro planeja-se a prótese e, em função desta, a instalação cirúrgica dos implantes é um passo fundamental. Dentro deste planejamento, a oclu- são tem papel preponderante. A falta de uma oclusão mutuamente protegida pode sobrecarregar um ou mais implantes e levar ao insucesso. Contatos dos dentes pos- teriores nos movimentos de lateralidade podem ser con- siderados um fator de risco na perda do implante. Entre- tanto, outros fatores de risco devem ser levados em consi- deração, tais como tabagismo, diabete, próteses com can- tilever extenso e desadaptação dos componentes protéti- cos. Os conceitos oclusais estabelecidos visam minimizar os fatores de risco biomecânico, evitando sobrecarga na interface osso/implante. • Oclusão protetora do implante: um esquema oclusal adequado é fundamental para o sucesso a longa prazo do implante, especialmente em pacientes com parafunção. Ao contrário, uma oclusão deficiente pode propiciar um au- mento na magnitude das cargas oclusais e intensificar as tensões mecânicas no osso alveolar. Um trauma oclusal em um dente natural pode levar este dente a sofrer algum tipo de patologia oclusal, como mobilidade, por exemplo. Este movimento dissipa as tensões e os esforços ocorridosna interface óssea adjacente. Depois que o trauma é elimina- do, o dente retorna a sua condição de saúde ótima e a mo- bilidade desaparece. O trauma oclusal pode também levar um implante à mobilidade. A diferença em relação ao den- te natural é que uma vez eliminado o trauma oclusal, o im- plante raramente retorna à sua condição anterior rígida, o que leva à perda da osseointegração (Misch24, 2000). APLICAÇÃO DE PROTOCOLO DE OCLUSÃO PARA PRÓTESE SOBREIMPLANTES O controle das forças, pela correta aplicação dos princípios de oclusão, também é facilitado pela ferulização das próteses sobreimplantes através de um conector rígido ou solda, pois auxilia na distribuição da força mastigatória entre todos os implantes. A redução do perímetro oclusal da prótese facilita o direcionamento da força no sentido do longo eixo do implante, evitando contato em movimentos excursivos e o aparecimento de forças horizontais. É co- mum entre os clínicos a colocação de um implante de diâ- metro regular na região de molares e a substituição do dente perdido por uma coroa metalocerâmica. Se o implante ficar localizado numa posição mais mesial ou distal, certamente a coroa terá maior volume de material numa das proximais, que ficará sem suporte, atuando como uma prótese com cantilever (Figura 3). • Considerações sobre o ajuste das próteses sobreim- plantes em cêntrica: segundo Muhlemann27 (1967), o dente natural, quando submetido a uma carga oclusal de 2 kg, possui movimento vertical em torno de 8 µm a 28 µm em função do ligamento periodontal. No caso dos implantes, que tem um contato íntimo com o osso, este movimento inicial inexiste. A diminuta movimentação do implante no osso ocorre somente sob cargas oclusais pesadas, devido à compressão e plasticidade do osso. Misch25 (2005) salien- tou que, como os dentes naturais possuem movimento ver- tical inicial de até 28 µm, ao se ajustar uma prótese sobre- implante intercalada entre dentes naturais, é importante observar este movimento inicial em cêntrica, ou o implan- te, receberá cargas maiores que os dentes adjacentes. A so- brecarga oclusal relacionada a falhas no implante tem sido bastante discutida na literatura. Clinicamente, Misch25 (2005) preconizou dois tipos de ajuste, um com pressão suave e outro com pressão (mordida) mais forte. Para isso, o profis- sional executa inicialmente o ajuste em cêntrica com força leve de fechamento. Nesta situação os contatos mais fortes devem ficar nos dentes naturais, enquanto a prótese sobre- implante fica com um contato bem suave (Figura 4). A se- guir, pede-se ao paciente para ocluir com mais força e, nes- ta situação, os contatos na coroa sobreimplante devem ter a mesma intensidade que as coroas sobre dentes naturais (Figura 5). Quando todos os dentes posteriores forem so- Figura 4 Primeira fase do ajuste - contatos bem suaves na prótese sobreimplante (mordida leve). Figura 3 Maior volume de porcelana na mesial atuando como uma coroa com cantilever (Raios-X). V. 3 | No 3 | Maio • Junho | 2006 229 | PR ÓT ES E SO BR EI M PL AN TE breimplantes, em um ou ambos os quadrantes, a mesma seqüência de ajuste em cêntrica deve ser feita. Numa outra situação, quando próteses sobreimplantes se opõem uma a outra em um quadrante, o ajuste inicial deve ser feito dei- xando contatos mais leves nas próteses sobreimplantes e contatos mais fortes no lado oposto, em dentes naturais. Na segunda fase do ajuste, com força de fechamento forte, os contatos devem ser idênticos para dentes naturais e so- breimplantes. Nos movimentos excursivos, de lateralidades e protrusão, deve-se ter uma guia anterior que permita a desoclusão de todos os dentes posteriores. Os contatos dos dentes posteriores em movimentos excursivos geram com- ponentes horizontais de forças, os quais são deletérios aos dentes e aos implantes e, portanto, devem ser evitados. No fechamento em cêntrica, é importante que a carga oclusal tenha direcionamento axial, no sentido do longo eixo do implante. No planejamento de prótese sobreimplante na re- gião posterior deve-se usar implantes de plataforma larga ou dois implantes de plataforma regular para sustentar uma co- roa (Figura 6). O estresse mecânico sobre a crista óssea e implante é menor quando são utilizados implantes de pla- taforma larga, pois quanto maior for a plataforma do im- plante, maior pode ser a mesa oclusal da prótese. Outra consideração bastante importante é com relação à posição do implante no espaço protético. Se o implante ficar locali- zado numa posição mais mesial ou distal, certamente a co- roa terá um volume de material maior numa das extremi- dades, que ficará sem suporte, lembrando uma prótese com cantilever. Isto, certamente, será desfavorável biomecani- camente. Spiekerman et al37 (2000) preconizaram que, quando o implante na mandíbula for posicionado mais para vestibular a coroa deve apenas ter uma cúspide ves- tibular, ocluindo contra a fossa central do superior (Figura 7). Numa outra situação, se o implante ficar posicionado mais para lingual, a cúspide palatina do dente superior deve ocluir na fossa central da coroa sobreimplante (Figu- ra 8). Com relação aos materiais usados nas próteses so- breimplantes, Chibirka et al3 (1992) não encontraram di- ferença estatisticamente significante com relação ao es- tresse na interface osso-implante entre superfície oclusal em ouro, porcelana ou resina, em próteses sobreimplan- tes na mandíbula. Estas conclusões são corroboradas pelo trabalho de Parein et al29 (1997). Além destes fatores, um esquema de oclusão mutua- mente protegida com desoclusão imediata dos dentes pos- teriores em movimentos excursivos, cúspides ponteagudas para melhorar a eficiência mastigatória, adaptação perfeita dos componentes protéticos e distribuição não linear dos implantes são elementos importantes para o sucesso das próteses sobreimplantes. A oclusão balanceada pode funcionar bem em pró- Figura 5 Segunda fase do ajuste - na mordida forte ocorrem contatos uniformes nos dentes naturais e sobre o implante. Figura 6 Implante de plataforma large (WP) para suportar uma coroa metalocerâmica posterior. Figura 7 Coroa sobreimplante mandibular com apenas a cúspide vestibular ocluindo na fossa antagonista (gráfico adaptado de Misch25, 2005). Figura 8 Cúspide palatina superior ocluindo na fossa central da coroa mandibular sobre o implante (gráfico adaptado de Misch25, 2005). V. 3 | No 3 | Maio • Junho | 2006| 230 PR ÓT ES E SO BR EI M PL AN TE tese total e sobredentaduras retidas por dois implantes, uma vez que os dentes estão fixados numa base acrílica, a qual está apoiada em rebordo (tecido resiliente), que têm um efeito de amortecedor das forças oclusais. Em todos os ti- pos de próteses posteriores, principalmente nas próteses sobreimplantes, o direcionamento axial das forças masti- gatórias é melhor tolerado pelo sistema quando compara- do aos componentes horizontais de forças, que ocorre nos casos de desoclusão em grupo com contatos dos dentes nos movimentos de lateralidade. Cargas horizontais não são suportadas por dentes ou implantes na região posterior. Desta forma, a desoclusão dos dentes posteriores é preferí- vel durante os movimentos excursivos e a escola de prote- ção mútua é mais indicada. Uma vez que, quanto maior a área de superfície do implante envolvida por osso propor- ciona um prognóstico melhor, implantes longos e platafor- mas largas são os mais indicados em qualquer situação. Hobo et al12 (1991) resumiram o conceito de oclusão para próteses sobreimplantes da seguinte maneira: 1. Em próteses extensas sobreimplantes, onde umesque- ma de oclusão tem que ser empregado, a oclusão mu- tuamente protegida com desoclusão dos dentes poste- riores em movimentos excursivos é a melhor opção. 2. Nas próteses totais, tipo sobredentadura sobre dois im- plantes, deve-se usar a oclusão balanceada bilateral. Entretanto, como os dentes anteriores estão retidos pe- los attachments nos implantes e os posteriores apoiados na mucosa, o conceito de desoclusão posterior também pode ser usado. 3. Quando o canino é substituído por uma prótese sobre- implante, a desoclusão pode ser feita pelo canino e late- ral, sendo o lateral um dente natural. Jimenez-Lopes16 (1995) estabeleceu alguns critérios sobre oclusão em próteses sobreimplantes quando da utili- zação de dois estágios cirúrgicos muito semelhantes aos propostos por Hobo12 (1991): A. Reabilitação fixa ou removível com antagonista em dentes naturais: é recomendado a oclusão de proteção mútua, com desoclusão dos dentes posteriores nos mo- vimentos excursivos. Em máxima intercuspidação os con- tatos nos dentes posteriores devem ser mais fortes que nos anteriores, protegendo-os das cargas mastigatórias. B. Reabilitação fixa ou removível em dentes naturais contra uma prótese fixa ou removível sobreimplan- tes: recomenda-se também a oclusão de proteção mú- tua, porque, assim, elimina-se qualquer possibilidade de contato posterior em movimentos de lateralidade. Em casos de próteses removíveis é importante que a sela acrílica esteja bem adaptada para uma boa estabilidade e retenção. Nos movimentos excursivos a resiliência da fibromucosa evita sobrecargas nos implantes. No caso de se usar uma oclusão balanceada bilateral é muito difícil diferenciar os contatos fisiológicos daque- les que se comportam como interferências. Portanto, a oclusão mutuamente protegida é a mais fisiológica para o sistema mastigatório, tanto para prótese sobredentes naturais quanto para próteses sobreimplantes. A exis- tência da guia anterior evita desgaste dos dentes poste- riores e auxilia na manutenção dos músculos elevado- res em repouso, não sobrecarregando o sistema. C. Reabilitação fixa ou removível sobreimplantes com prótese total convencional como antagonista: esta talvez seja a única situação onde a oclusão balanceada bilateral é recomendada. Entretanto, durante a masti- gação o bolo alimentar separa as superfícies oclusais e a oclusão em balanceio é anulada. Contudo, com alimen- tos mais pastosos e macios, os dentes acabam se tocan- do e, principalmente, durante hábitos parafuncionais, a oclusão balanceada bilateral proporciona uma maior estabilidade das próteses totais. D. Oclusão em implantes unitários: dentes unitários so- breimplantes na região posterior devem ser deixados sem contato oclusal. Quando os dentes naturais adja- centes entram em contato na função mastigatória, so- frem uma pequena intrusão fazendo com que a prótese sobreimplante também entre em contato. É aconselhá- vel colocar dois implantes na região molar para supor- tar a coroa protética. Na região anterior a prótese unitá- ria sobreimplante participa do guia anterior, desocluin- do os dentes posteriores no movimento protrusivo. Num trabalho mais recente, Jimenez-Lopes17 (2005) estabeleceu alguns critérios de oclusão quando se coloca implantes com carga imediata. O autor enumerou os se- guintes critérios: A. Oclusão em prótese unitária sobreimplantes com car- ga imediata: no caso de dente unitário na região anterior e pré-molares, deve ser colocado um dente provisório com função puramente estética, sem contato com o antagonis- V. 3 | No 3 | Maio • Junho | 2006 231 | PR ÓT ES E SO BR EI M PL AN TE ta. Quando da colocação do dente definitivo em porcela- na, o contato será feito em máxima intercuspidação, evi- tando contato nos movimentos de lateralidade. No caso de pré-molares superiores com carga imediata, aconselha- se que o provisório seja confeccionado com uma forma de canino, evitando a cúspide palatina. B. Próteses fixas posteriores sobreimplantes com car- ga imediata: deve-se manter contatos mais fortes nos dentes naturais e bem suaves na prótese sobreimplan- tes, com a intensidade diminuindo de pré-molares para molares. Na prótese definitiva em metalocerâmica, os contatos devem ser idênticos aos dentes naturais nos casos em que a prótese sobreimplantes restabelece todo um quadrante. Assim, deve-se promover uma desoclu- são dos dentes posteriores nos movimentos excursivos. C. Protocolo superior ou inferior sobreimplantes com carga imediata: quando se coloca de quatro a seis im- plantes na região anterior com reabilitação fixa, a oclu- são é muito importante e deve ser estabelecida com a máxima intercuspidação dos dentes coincidente com a relação cêntrica (ótima posição condilar). O esquema oclusal deve ser de proteção mútua, com uma dimen- são vertical de oclusão que permite um espaço funcio- nal livre de aproximadamente 3 mm. Também é impor- tante observar os quesitos de estética e fonética durante a prova dos dentes que, juntamente com a oclusão, for- mam a tríade para o sucesso da prótese. D. Reabilitação fixa superior e inferior sobreimplantes com carga imediata: são raras as ocasiões em que se faz simultaneamente o protocolo em ambas as arcadas, com carga imediata dupla. O protocolo superior é mais sensível devido à qualidade óssea; um osso mais espon- joso e difícil de se conseguir uma estabilidade primária suficiente para carga imediata. O ideal seria uma carga imediata superior tendo como antagonista uma próte- se total, pelo menos nos quatro primeiros meses. É aconselhável também, nestes primeiros meses, que o paciente remova a prótese antagonista ao dormir. No caso excepcional de se fazer dois protocolos si- multaneamente é preferível a adoção da Escola de Prote- ção Mútua, evitando contatos dos dentes posteriores nos movimentos de lateralidade. Ao se fazer a prótese definiti- va numa situação de reabilitação superior e inferior em por- celana, é aconselhável fazer uma placa de proteção noturna para estes pacientes, pois pode ocorrer eventos de parafun- ção ao longo da vida do paciente e, desta forma, é interes- sante proteger a prótese sobreimplantes de sobrecargas ou parafunções. Endereço para correspondência: Milton Edson Miranda Av. João Mendes Júnior, 290 - Cambuí 13024-030 - Campinas - SP Tel.: (19) 3254-7288 memiranda@memiranda.odo.br www.memiranda.com.br V. 3 | No 3 | Maio • Junho | 2006| 232 PR ÓT ES E SO BR E IM PL AN TE Referências 1. Bassit R, Lindstöm H, Rangert B. In vivo registration of force develop- ment with ceramic and acrylic resin oclusal materials on implant-su- pported prostheses. Int J Oral Maxillofac Implants 2002; 17(1):17-23. 2. Brunski JB. Biomaterials and biomechanics in dental implant design. Int J Oral Maxillofac Implants 1988; 3(2):85-97. 3. Chibirka RM, Razzog ME, Lang BR et al. Determining the force ab- sorption quotient for restorative materials used in implant occlusal surfaces. J Prosthet. Dent 1992; (67):361-4. 4. Ciftci Y,Canay S. The effect of veneering materials on stress distributi- on in implant-supported fixed prosthetic restorations. Int J Oral Ma- xillofac Implants 2000 Jul; 15(4):571-82. 5. Embacher Filho A. Fundamentos de biomecânica. 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