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IMPLANTE PRÓTESE SOBRE O quarto capítulo do curso Prótese Sobreimplante abordou, na edição passada, o “Tratamento protético sobreimplante no desdentado total na atualidade”. No quinto capítulo da série, apresentado nesta edição, os autores tratam da “Estética com implantes na região anterior” V. 3 | No 6 | Novembro • Dezembro | 2006| 560 PR ÓT ES E SO BR EI M PL AN TE INTRODUÇÃO O resultado estético nos implantes osseointegrados é verificado pela gama de recursos cirúrgicos e protéticos que a Odontologia nos oferece reproduzindo a estrutura dentária perdida de uma forma mais agradável e harmo- niosa nos sorrisos dos pacientes. Com esta previsibilidade e o domínio de materiais e técnicas podemos ter controle dos resultados finais. A estética em implantes na região anterior é um gran- de desafio, e influenciado por um conjunto de fatores que se inicia no planejamento dos casos clínicos com previsibi- lidade mais controlada. As estruturas que estão em íntimo relacionamento com a mucosa periimplantar, posição do implante, tipo de sorriso, topografia óssea do espaço edên- tulo, dentes remanescentes adjacentes, antagonista, ante- cipado conhecimento do tipo de restauração acima de tudo a saúde das estruturas que circundam o dente que será re- posto sobre o implante e são fatores de extrema importân- cia para o sucesso das restaurações protéticas (Bahat, Daf- tary1, 1995). Além destes fatores o sorriso pode estar na zona de risco estético que é onde os pacientes acreditam ser har- mônico e depende não só da qualidade da reconstrução dental, mas da quantidade e do tipo de tecido gengival que aparece no sorriso. A linha do sorriso define a faixa de gen- giva que ficará à mostra e a estética vermelha compreende a observação das condições de todo o tecido gengival ex- posto e sugere a partir daí modificações desse tecido a se- rem planejadas para se atingir a estética máxima. Um sorriso alto, onde fica aparente a altura total dos dentes superiores e uma faixa do tecido gengival repre- senta uma situação problemática para obtenção da estéti- ca no setor anterior e até posterior com implantes (Figura 1). A perda de um elemento dental promove remodelação fisiológica dos tecido ósseo e gengival. Um sorriso consi- derado médio, onde está à mostra grande parte ou a tota- lidade dos dentes superiores e parte da papila interdental, é uma situação ainda de difícil reconstrução estética nos casos com envolvimento de vários elementos sobreimplan- Estética com implantes na região anterior Marco Antonio Bottino* Marcos Koiti Itinoche** Leonardo Buso*** Renata Faria**** tes (Figura 2). Uma situação mais favorável encontra-se em um sorriso considerado baixo, onde a área cervical dos dentes não é evidenciada (Figura 3). Outro fator a ser considerado são os lábios. Quanto mais curto for o lábio superior e mais alta a linha do sorriso, maior a exposição dos dentes superiores e do tecido gengi- val. Esta situação, quando encontrada torna-se uma solu- ção estética mais delicada. O objetivo do trabalho protético é a realização de uma restauração biologicamente aceitável e esteticamente agra- dável. Devemos procurar, desta forma, a estabilização e a * Professor adjunto da Disciplina de Prótese Parcial Fixa da Faculdade de Odontologia de São José dos Campos - Unesp; Professor titular em Prótese Dentária da Universidade Paulista - Unip. ** Mestre e doutor em Prótese pela Faculdade de Odontologia de São José dos Campos - Unesp; Professor adjunto I da Disciplina de Prótese Dental da Unip. *** Mestre e doutor em Prótese pela Faculdade de Odontologia de São José dos Campos - Unesp. **** Mestre e doutoranda em Prótese pela Faculdade de Odontologia de São José dos Campos - Unesp; Professora assistente da Disciplina de Prótese Dental da Unip. Figura 1 Linha do sorriso. Figura 2 Linha média do sorriso. Figura 3 Linha baixa do sorriso. V. 3 | No 6 | Novembro • Dezembro | 2006 561 | PR ÓT ES E SO BR EI M PL AN TE preservação dos tecidos moles com correto contorno da res- tauração facilitando a remoção do biofilme. AVALIAÇÃO DO ESPAÇO PROTÉTICO Os fatores a serem avaliados com relação ao espaço edêntulo em área para instalação de implante são: distân- cia mesiolingual, altura e forma do espaço protético, volu- me ósseo (vertical e horizontal), quantidade e qualidade do tecido gengival. Devemos observar no contorno interproxi- mal se a presença da crista óssea é convexa ou plana; e o relacionamento proximal entre os dentes. A presença da papila mesial e distal é um fator determinante para obten- ção da estética. a. Posição do implante A harmonia do sorriso pode ser comprometida pelo ina- dequado posicionamento tridimensional dos implantes nos arcos dentais. Desde o advento dos implantes os- seointegrados tem-se aprendido muito sobre a impor- tância do posicionamento correto da fixação. Este não só facilita a confecção da prótese e reproduz melhor re- sultado estético para o paciente como, também, permi- te melhor direcionamento das forças axiais transmiti- das aos implantes. É, também, considerado fundamen- tal para manter a estabilidade em longo prazo e, ainda, manter saudáveis os tecidos de suporte. Com relação à estética, o melhor resultado é dado quando o perfil de emergência transversal da restauração do implante con- diz com a do dente adjacente. Assumindo que as di- mensões do tecido mole sejam adequadas, o resultado estético torna-se, então, quase que totalmente depen- dente da posição do implante. O posicionamento envolve o plano ápico-oclusal, me- siodistal e vestíbulo-lingual. No sentido ápico-oclusal, a posição do implante deve estar 2 mm a 3 mm abaixo da junção amelo-cementária do dente adjacente (Figu- ra 4). No sentido mesiodistal, a centralização é impor- tantíssima para proporcionar dimensões das papilas in- terdentais e, também, para se evitar a proximidade do implante com a raiz do dente adjacente. Com relação ao sentido vestíbulo-lingual, o limite vestibular da plata- forma do implante deve se localizar a 1 mm para lingual do ponto de emergência da coroa. Se o implante estiver posicionado muito distante da vestibular irá resultar em uma coroa volumosa na face vestibular sendo desfavo- rável para a estética e, também, para a higienização. A situação contrária, com o implante muito próximo da vestibular, é difícil se corrigir proteticamente, mesmo com a utilização de pilares angulados (London17, 2001). Os componentes intermediários na sua maioria nos for- necem um bom resultado estético. O ideal seria que sem- pre pudéssemos dispor de um componente que tenha a forma da raiz do dente a ser substituído. b. Seleção do implante Para a seleção do implante quanto a sua forma e diâme- tro, as dimensões do espaço lateral e o tamanho da raiz e a sua anatomia devem ser avaliados para um corres- pondente diâmetro do implante permitindo assim uma emergência mais natural favorecendo a estética da res- tauração. c. Posição mesiodistal Um implante de diâmetro 4,1 mm na sua plataforma necessita 7 mm entre dois dentes adjacentes (Figura 5). A posição mesiodistal do implante depende da largura coronária e cervical dos dentes laterais, da proximida- de das raízes e da presença ou não de diastema. Quan- do há a finalidade de desenvolver ou manter a integri- dade da papila interdental a distância de 2 mm do ní- vel cervical do implante é sugerido entre o implante e o dente adjacente (Figura 6). Entretanto, quando a re- lação da distância entre implante e dente for reduzida, a altura do osso proximal acarretará em redução da al- tura de papila interdental. Esta distância aumenta para 3 mm no mínimo entre dois implantes (Tarnow et al28, 2000), Figura 7. Figura 4 Esquema da posição ápico-oclusal do implante. Figura 6 Esquema da distância mínima entre implante e dente. Figura 5Esquema da distância mínima entre dois dentes. V. 3 | No 6 | Novembro • Dezembro | 2006| 562 PR ÓT ES E SO BR EI M PL AN TE GUIA CIRÚRGICO A reabilitação dentária, através de implantes osseo- integrados, envolve a combinação entre as fases cirúrgica e protética, muitas vezes realizadas por diferentes profissio- nais. No plano de tratamento ideal é fundamental a comu- nicação entre o cirurgião e o protesista e muito importante que ambos conheçam as limitações dos procedimentos ci- rúrgicos e protéticos. Dentro do planejamento prévio ao procedimento cirúrgico é importante determinar a posição da restauração final para que se faça um trabalho no senti- do contrário, ou seja, o planejamento reverso, determinan- do a posição do implante através da forma final da prótese (Higginbottom, Wilson13, 1996). Portanto, torna-se indispen- sável a confecção de um guia que tenha como finalidade direcionar adequadamente as perfurações durante o ato ci- rúrgico. Para a confecção deste guia é importante a obten- ção de modelos de estudos articulados e o enceramento dos dentes a serem substituídos, onde se deve criar não somen- te o contorno do dente mas, também, o contorno gengival necessário para realizar o planejamento cirúrgico adequa- do, auxiliado pelos exames radiográfico e tomográfico. Vários tipos de guias cirúrgicos foram desenvolvidos frente à necessidade da colocação mais precisa de implan- tes, no intuito de melhorar o posicionamento e a angulação dos implantes (Higginbottom, Wilson13, 1996; Mizrahi et al21, 1998; Walker, Hansen31, 1999; Becker, Kaiser2, 2000; Parel, Funk24, 1991; Quinlan et al25, 1998; Cehreli, Sahin5, 2000; Cehreli et al4, 2002). Esses dispositivos auxiliam no diag- nóstico e plano de tratamento por meio de marcadores ra- diopacos instalados no guia, nas regiões planejadas onde serão fixados os implantes. Dentre os marcadores radiopa- cos incorporados nos guias, para a utilização nos exames radiográficos e tomografias, os tubos metálicos são os mais utilizados (Higginbottom, Wilson13, 1996; Mizrahi et al21, 1998; Becker, kaiser2, 2000; Faria et al12, 2003). Os tubos tam- bém orientam a cirurgia, a direção de perfuração das bro- cas, o que facilita muito o ato cirúrgico, representando, por- tanto, uma grande vantagem em relação a outros tipos de Figura 7 Esquema da distância mínima entre dois implantes. Figura 8 Vista frontal com ausência do 21. Aparelho ortodôntico instalado para o fechamento do espaço mesiodistal. Figura 9 Vista do pilar de cicatrização após a instalação do implante. Figura 10 Reabertura com a instalação imediata da restauração temporária. Figura 11 Posicionamento do pilar de Zircônia Es- tético - Conexão Sis- tema de Prótese. Figura 12 Verificação da distân- cia mesiodistal maior do 21 em relação ao 11. Figura 13 Redução na superfície distal da restauração temporária do 21. V. 3 | No 6 | Novembro • Dezembro | 2006 563 | PR ÓT ES E SO BR EI M PL AN TE marcadores radiográficos como a mistura de sulfato de bá- rio com resina acrílica e pinos metálicos. A possibilidade de se utilizar o mesmo dispositivo em exames para diagnósti- co, como radiografias e tomografias, e no ato cirúrgico para a instalação de implante, representa uma grande vantagem, comparando-se àqueles que se prestam para apenas uma finalidade (Faria et al12, 2003). No momento também dispomos do programa No- bel Guide, em que a partir de tomografias e imagens tri- dimensionais confecciona-se um guia, que tem a possi- bilidade de uma excelente previsibilidade não só para o ato cirúrgico como também para realização da prótese, e que tem o objetivo de ser instalada imediatamente após a cirurgia. A cirurgia é menos invasiva pela precisão promo- vida pelo guia cirúrgico/protético. Figura 14 Aspecto da movimen- tação ortodôntica aproximando o 22 ao 21, estabelecendo a mesma distância me- siodistal entre os in- cisivos centrais. Figura 15 Radiografia inicial. Figura 16 Aspecto clínico evi- denciando fístula vestibular no incisivo central direito. Figura 17 Extrusão dental sem fibrotomia. Redução da borda incisal após pequenas extrusões. Figura 18 Vista frontal do con- torno da mucosa pe- riimplantar antes da reabertura. Figura 19 Resultado estético final. Figura 20 Vista frontal com au- sência dos incisivos la- terais com implantes instalados na região. Figura 21 Região do incisivo lateral direito com arquitetura da muco- sa periimplantar con- dicionada pela res- tauração temporária. Figura 22 Condicionamento gengival realizado na região do incisivo lateral esquerdo. Figura 23 Vista frontal dos pila- res Procera Zircônia personalizados. V. 3 | No 6 | Novembro • Dezembro | 2006| 564 PR ÓT ES E SO BR EI M PL AN TE MANIPULAÇÃO DE TECIDOS MOLES E FORMAÇÃO DE PAPILAS INTERPROXIMAIS A perda da papila gengival é um problema freqüente associado à reabilitação com implantes, podendo afetar tam- bém a fonética. O restabelecimento do volume tecidual, do contorno e da arquitetura da mucosa periimplantar, pode necessitar várias técnicas de acréscimo ósseo e/ou tecidual. De maneira geral, se a discrepância do rebordo alveolar es- tiver em torno de 3 mm ou menos, somente o acréscimo de tecido gengival é suficiente para se obter um bom resultado estético (Yildirim et al32, 1997). Algumas pesquisas clínicas se direcionaram para a realização de diferentes procedimen- tos cirúrgicos para a restauração da crista alveolar e a mani- pulação tecidual em restaurações sobreimplantes (Palacci23, 1995; Jemt14, 1997, 1999; Jemt, Lekholm16, 2003). A maioria das técnicas tem mostrado bons resultados estéticos para as margens de tecido mole. A manipulação tecidual inclui o manejo dos tecidos moles na fixação do implante, na instalação do pilar e em casos que requerem enxerto gengival. Na cirurgia para a instalação do implante, deve-se tomar cuidado com os pro- cedimentos de incisão e o rebatimento do retalho, a fim de se evitar a ocorrência de posterior retração gengival nos dentes adjacentes. No segundo estágio cirúrgico pode-se, Figura 24 Prova estética e funcional dos copings em In-Ceram Alumina (Vita). Figura 25 Resultado estético final com coroas em In-Ceram Alumina. Figura 26 Sorriso harmônico do caso concluído. Figura 27 Caso inicial condicio- nando o tecido gengi- val com restaurações temporárias na região da ausência do incisi- vo lateral direito. Figura 28 Vista incisal dos den- tes preparados e ins- talação de Pilar In- Ceram Zircônia Wil- cos na região do inci- sivo central esquerdo. Figura 29 Modelo de trabalho com infra-estruturas de Zircônio estabiliza- do por Ítrio (YZ - Vita) fresados pelo sistema Cerec In-Lab e sinterizados em forno. Figura 30 Pilar cerâmico perso- nalizado com cerâmi- ca VM7 (Vita). Figura 31 Vista frontal da prova funcional da infra-es- trutura cerâmica. Figura 32 Prótese parcial fixa totalmente cerâmica concluída. Figura 33 Coroas totais totalmente cerâmicas cimentadas. Figura 34 Harmonia estética pro- porcionadas pelas res- taurações cerâmicas. V. 3 | No 6 | Novembro • Dezembro | 2006 565 | PR ÓT ES E SO BR EI M PL AN TE se necessário, realizar correções no tecido e, também, en- xertos gengivais. Dentre as áreas doadoras de tecido con- juntivos, seguras e de fácil acesso, estão a tuberosidade e a área palatina. Alguns aspectos são previsíveis antes da extração e antes da instalação de um implante com relação à altura e ao contorno da papila, Sabe-se que dentre os fatores que determinam a altura da papila estão a altura óssea inter- proximal e o nível ósseo do dente adjacente (Tarnow et al28, 2000). Isto explica a maior facilidade, para os clínicos, em se obter estética gengival emimplantes instalados entre dois dentes em relação a implantes adjacentes (Tarnow et al29, 2003). Como regra geral, uma distância de 5 mm entre a crista óssea e o ponto de contato proximal resulta em um completo preenchimento do espaço da ameia com papila (Tarnow et al30, 1992). Existem técnicas para a manipulação de papilas que não incluem intervenções cirúrgicas. Essas alterações são obtidas apenas pela mudança da anatomia cervical das res- taurações temporárias. Apesar dos procedimentos cirúrgi- cos terem uma função importante na manipulação dos te- cidos moles, a modelagem do tecido guia a cicatrização te- cidual e, assim, se obtém o contorno desejado da restaura- ção temporária. (Neale, Chee22, 1994; Stein, Nevins27, 1996; Chee, Donovan, 19986; Jemt15, 1999; Macintosh, Suther- land18, 2004). A duração desse procedimento inclui algumas variá- veis, como a espessura do tecido, a extensão da loja cirúrgi- ca e a higiene oral (Donitza10, 2000). Os implantes imediatos, ou seja, aqueles instalados imediatamente após a extração do elemento dental e que recebem, também, carga imediata com a colocação de uma restauração temporária ou definitiva, possuem um poten- cial de manutenção da morfologia do tecido gengival, po- dendo promover um resultado estético mais favorável (Chee, Donovan6, 1998). CONSIDERAÇÃO PARA MANIPULAÇÃO DO TECIDO ÓSSEO A reabilitação na região anterior com implantes é pla- nejada a partir da prótese numa posição favoravelmente estética e não pela quantidade de osso disponível. A insta- lação de implantes na região anterior da maxila, após a per- da do elemento dental, é muito crítica. Normalmente, a face vestibular do rebordo alveolar é perdida ou remodelada numa maior extensão, comparando-se com face palatina, pois, nessa região, a espessura óssea que recobre o dente natural é bem mais fina. Na ausência do elemento dental ocorre um processo de reabsorção das estruturas que circundam este elemento ocasionando uma perda progressiva e irreversível do pro- cesso alveolar remanescente, que é acompanhada pelo te- cido mole. Esta alteração representa um problema de difícil reconstrução cirúrgica e protética dos tecidos perdidos. Existem várias técnicas cirúrgicas que visam a recons- trução do tecido ósseo reabsorvido: enxertos ósseos autó- genos, substitutos ósseos alógenos, xenógenos e aloplásti- cos; regeneração óssea guiada, distração osteogênica, fato- res de crescimento e combinações destas técnicas. Como a largura, a altura do rebordo ósseo disponível são fatores muito importantes para a seleção, instalação, lon- gevidade e estética de implantes é fundamental a utilização, quando necessário, das técnicas de manipulação do tecido. Como já foi dito, a restauração final deve orientar a posição do implante, independentemente da quantidade de osso dis- ponível e somente quando a dimensão e a posição do dente forem determinadas é que o cirurgião poderá considerar o contorno do tecido mole e do osso. Assim, pode-se determi- nar qual o procedimento ou técnica mais adequada para o restabelecimento dos tecidos duros e moles perdidos. ESTÉTICA EM PRÓTESE SOBREIMPLANTES A obtenção da estética em prótese suportada por implantes está diretamente relacionada à seleção e à insta- lação cirúrgica adequada da fixação. Por este motivo o ci- rurgião e o protesista deverão trabalhar juntos no planeja- mento do caso. Di Sario9 (2003) indica um método onde se obtém es- tética máxima em prótese suportada por implante, que con- siste de seis passos: determinação da inclinação mesiodistal do implante; largura vestíbulo-lingual da crista alveolar; de- terminação da posição do implante; fabricação do guia cirúr- gico e radiográfico; instalação cirúrgica do implante seguida pela colocação imediata da coroa temporária e da qualidade da restauração temporária. O conceito básico do planejamen- to e que deve ser executado dentro dos mesmos princípios de uma prótese fixa convencional. Devemos determinar a melhor opção de posicionamento do implante antes de sua instalação e o procedimento protético torna-se mais previsí- vel. Davarpanah et al8 (2001) concorda que o planejamento fornece uma precisa avaliação de parâmetros como volume ósseo, tecidos moles, anatomia, componentes cirúrgicos e protéticos que são cruciais para a restauração estética do im- plante. Para este autor os três estágios para se conseguir um perfil de emergência são: seleção do implante, seleção do pi- lar cicatrizador e da coroa temporária. Segundo Cranham, Konikoff7 (2001) em se tratando de estética, as dificuldades em se criar uma restauração que mimetize o tamanho, forma e cor dos dentes adjacentes são grandes. Sugere um protocolo para o sucesso estético no tratamento com implantes que consiste de quatro fases dis- tintas: a manutenção do comprimento da coroa estética, do contorno da papila, da dimensão de emergência correta e duplicação da translucidez e cor dos dentes adjacentes. O comprimento estético da coroa pode ser definido como a V. 3 | No 6 | Novembro • Dezembro | 2006| 566 PR ÓT ES E SO BR EI M PL AN TE distância da incisal à gengiva marginal livre; quando se tra- balha com pacientes com linha do sorriso alta esta distân- cia é bastante crítica. No caso de uma extração, esta deverá ser atraumática com a instalação imediata do implante, cuja largura deverá ser maior do que o alvéolo cirúrgico, com o objetivo de obliterá-lo; e este seria o primeiro passo para a preservação do comprimento estético da coroa. Deve ficar explícito que a seleção de uma situação favorável para a rea- lização da exodontia, instalação de fixação e imediato esta- belecimento da função deve ser analisada criteriosamente. Salientamos que neste caso, os exames minuciosos (clínico, radiográfico e tomográfico) são imprescindíveis. A vanta- gem desta opção técnica é o conforto do paciente pós-ci- rúrgico, pelo fato de não ter de esperar o período de con- solidação da osseointegração para ter o seu dente. Desta forma, ele estará socialmente ativo e integrado, sem a ne- cessidade de utilizar uma prótese temporária. A expansão dos tecidos moles através do uso de componentes protéticos de largo diâmetro é viável no de- senvolvimento do contorno e perfil de emergência na res- tauração final. Jemt15 (1999) observou os resultados da ci- catrização tecidual pela análise do volume da papila inter- dental. Comparou a utilização de coroas temporárias em resina com pilares de cicatrização, no segundo estágio ci- rúrgico, antes da coroa final. Observou que o uso de coro- as temporárias propicia a obtenção do contorno de tecido mais rápido do que os pilares cicatrizadores. Quando a angulação dos implantes não for ideal é possível ainda obter uma restauração adequada com a uti- lização de componentes protéticos cuidadosamente sele- cionados e, para tanto, deverá existir uma cooperação en- tre o protesista e o técnico de laboratório. INTEGRAÇÃO ORTO/IMPLANTE A inter-relação ortodontia e implante têm sido aplica- do na Odontologia de várias maneiras. O auxílio da ortodon- tia por meio da movimentação dentária favorecer a instalação de implantes numa posição mais adequada propiciando esté- tica e função. Outra maneira é o auxílio da implantodontia como recurso de ancoragem para os tratamentos ortodônti- cos. A ancoragem ortodôntica pode ser realizada com implan- tes convencionais ou mesmo com miniimplantes. Muitas vezes a ortodontia se depara com uma grande dificuldade que é a falta de ancoragem ou perda de ancora- gem pelo princípio de ação e de reação nos movimentos or- todônticos ficando impossibilitado de se realizar as devidas movimentações pela ausência de uma ancoragem rígida17. Para obter bons resultados clínicos de forma menos invasiva, a Ortodontia assume papel importante no plane- jamento e elaboração de tratamentos que visam a otimiza- ção da estética. A extrusãoortodôntica induzida, também denominada erupção forçada, consiste em tratamento não cirúrgico que tem como objetivo o ganho de estrutura ós- sea e também sugerida para diminuir defeitos ósseos oca- sionados pela extração convencional (Salama, Salama26, 1993). Este procedimento também pode ser aplicado para assegurar melhores condições periodontais nos casos em que há necessidade de recuperação do espaço biológico, redução da profundidade de bolsa, alteração na arquitetura dos tecidos duros e moles no periodonto e aumento de co- roa clínica (Brown3, 1973). O princípio básico que rege a extrusão induzida está determinado pela osteofisiologia onde a tensão aplicada no ligamento periodontal promove um alongamento de suas fibras induzindo os osteoblastos a produzir novo tecido ósseo na área do alvéolo onde exis- tem os feixes de inserção periodontal. A utilização dessa técnica tem sido preconizada para melhorar a topografia tridimensional do sítio receptor do implante como etapa anterior a extração (Mantzikos19,1998), permitindo melhor inserção do implante, além de oferecer condições estéticas favoráveis para a confecção da prótese sobre o implante osseointegrado (Mayanard, Wilson20, 1995). COMPONENTES PROTÉTICOS UTILIZADOS SOBREIMPLANTES O desenvolvimento de componentes protéticos para implantes tem contribuído muito para construção de coroas estéticas. A seleção do componente protético depende dire- tamente do tipo de implante ao qual está conectado, se com hexágono externo, interno ou sistema Cone Morse. Temos a possibilidade de escolhermos componentes que acompa- nham o perfil de emergência criado pelos cicatrizadores ou pelas coroas temporárias ou ainda utilizarmos abutments an- gulados e personalizados que corrijam as inclinações. Para próteses unitárias temos intermediários (abut- ments) de titânio, com hexágono externo ao qual se parafu- sa um cilindro de ouro, que quando sobrefundido (ligas áuricas), transforma-se em um coping para coroa metaloce- râmica como o componente CeraOne. Alguns componen- tes podem ser personalizados ou preparados e os mesmos podem ser de titânio, alumina ou zircônia. Estes estão dis- poníveis com linhas de terminação definidas (com chan- frado), como por exemplo, o Tiadapt (Nobel Biocare), o Prep- tite post (3i implants innovations), Celay (Vita), Pilar em titânio (Conexão), Procera personalizado em cerâmicas ou em titânio, entre outros. O abutment cônico em titânio está indicado para pró- teses unitárias e múltiplas parafusadas para região anterior e posterior. Um pilar universal (Multi-unit, Nobel Biocare) também foi desenvolvido para próteses múltiplas parafu- sadas, porém com a eliminação do hexágono interno do pilar que simplifica o procedimento de instalação e o ma- nuseio do abutment. Quando necessitamos corrigir a angulação do implan- tes previamente instalados podemos lançar mão dos abut- V. 3 | No 6 | Novembro • Dezembro | 2006 567 | PR ÓT ES E SO BR EI M PL AN TE ment ou munhões angulados que podem ser em titânio ou zircônia e podem limitar o uso das próteses parafusadas. Uma outra possibilidade de escolha é o Ucla (Univer- sal Castable Long Abutment) que se assenta diretamente so- bre o implante dispensando, desta forma, o intermediário. Pode ser encontrado em teflon (calcinável) ou pré-fabrica- do em liga de ouro (Gold Ucla). Suas principais indicações se encontram em casos onde a distância interoclusal está reduzida, quando a colocação do implante foi feita ao nível gengival, quando houver a necessidade de individualizar o perfil de emergência do pilar sobre o implante e, ainda, em próteses parafusadas e cimentadas. O abutment post ou munhão standart e o abutment post de duas peças em titânio podem ser individualizados e são indicados para restaurações unitárias e múltiplas cimentadas. A estética é bastante favorecida quando utilizamos in- termediários cerâmicos que podem ser preparados, porém, com dificuldade devido à estrutura de alumina e zircônio; sendo assim, o perfil de emergência poder ser de difícil indi- vidualização. Os intermediários cerâmicos podem receber a aplicação de porcelana aluminizada para a confecção da co- roa que se fixará ao implante através de um parafuso de ouro. Podem ser preparados diretamente na boca ou em um mo- delo de transferência, pelo técnico de laboratório. Sobre este pilar preparado poderá ser confeccionada uma coroa total- mente cerâmica que posteriormente será cimentada. Como exemplo de pilares cerâmicos temos no mercado o pilar In- Ceram Alumina (Wilcos), pilar em zircônio (Conexão), pilar Procera em Zircônio/Ítrio, entre outros. Os intermediários totalmente cerâmicos podem ser utilizados quando o implante não é colocado com a pro- fundidade mínima necessária (2 mm abaixo do contorno gengival) ou quando o implante não está colocado com a angulação correta melhorando a estética. Este componente permite que se prepare intra-sulcularmente, de modo a con- seguir-se um melhor perfil de emergência quando o titânio transparece através do colo gengival delgado. Neste caso, a utilização deste intermediário permite mascarar a colora- ção escura do metal e adaptar-se de acordo com o nível tecidual, podendo ser preparado, preferencialmente, no modelo de trabalho no laboratório. Com o surgimento dos sistemas CAD/CAM tornou- se viável a possibilidade de se realizar trabalhos estéticos, preferencialmente no setor anterior. Estes sistemas podem personalizar o pilar (Procera, Cerec, entre outros) e a coroa que irá restabelecer a estética com forma e contorno pro- porcionando resultado estético final. Os sistemas mencionados podem personalizar pila- res a partir de processos computadorizados realizando seus trabalhos em zircônio e ítrio (YZ). No momento o Procera e Cerec com Vita Blocks têm condições de realizar trabalhos no setor posterior. CONSIDERAÇÕES FINAIS A obtenção de um bom resultado estético ideal no setor anterior está na dependência de fatores por nós assi- nalados. Certo está que o fundamento básico prende-se ao plano de tratamento que dará a correta indicação. Nós que iniciamos há mais de 18 anos a Implanto- dontia Osseointegrada onde Brånemark e colaboradores davam grande enfoque aos desdentados totais, assistimos durante praticamente estas duas décadas todas as mudan- ças e técnicas até o presente momento. No início tínhamos apenas e tão-somente o single tooth abutment da Nobelphar- ma e, durante este período, vários autores, inclusive nós, desenvolvemos pilares e sistemas (Pilar In-Ceram/Wilcos) para aprimorar as técnicas. Os pilares cerâmicos que tinham por objetivo princi- pal melhorar a estética, nos dias atuais é importante tam- bém para o comportamento biológico. A aceitação dos te- cidos periimplantares frente aos materiais cerâmicos é ex- cepcional. Acreditamos que a Implantodontia Osseointe- grada caminha a passos largos para se utilizar nos setores anterior e posterior não só por estética, mas também pela biocompatibilidade dos pilares cerâmicos. Referências 1. Bahat O, Daftary F. 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