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TEORIA AVANÇADA DA 
CONTABILIDADE 
AULA 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Tassiani Aparecida dos Santos 
 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
O objetivo deste texto é apresentar a evolução histórica do pensamento 
contábil: da dicotomia normativo versus positivo, até as mais recentes teorias 
contábeis. A princípio, a pesquisa contábil tinha um caráter muito normativo, isto 
é, baseada em desenvolver normas de atuação profissional. Após diversas 
críticas a esse tipo de pesquisa, a pesquisa contábil assumiu um caráter positivo, 
fortemente influenciado pelas teorias econômicas. Dessa dicotomia existente no 
campo teórico contábil, surgiram algumas teorias que visam explicar o 
comportamento dos agentes econômicos, no que tange as informações 
contábeis, como as escolhas contábeis e o gerenciamento do resultado contábil. 
Iniciaremos pelos aspectos teóricos da Teoria Normativa da 
Contabilidade, discorrendo sobre os conceitos primordiais, o seu surgimento e 
desenvolvimento. Em seguida, versaremos sobre a Teoria Positiva da 
Contabilidade, bem como suas características, surgimento, desenvolvimento e 
contraposição às pesquisas normativas. Após, trataremos dos desenvolvimentos 
teóricos contábeis relacionado ao comportamento econômico dos agentes, 
explicando os fundamentos da Teoria das Escolhas Contábeis e o 
gerenciamento de resultados contábeis, abordando os tópicos de accruals, 
práticas discricionárias e não discricionárias, income smoothing, big bath 
accounting e window dressing. 
CONTEXTUALIZANDO 
A palavra teoria tem sido objeto de estudo, reflexão e controvérsia na 
literatura contábil. Temos uma teoria em contabilidade? Se sim, são diversas 
teorias ou temos uma teoria geral da contabilidade? Se não, surgem outros 
questionamentos ainda mais profundos: a contabilidade pode ser considerada 
uma ciência? Há uma teoria da contabilidade na prática? Ou apenas 
denominamos teoria da contabilidade um conjunto extenso de conceitos? 
Infelizmente, não existe uma resposta assertiva para essa e outras questões 
relacionadas. Não há consenso entre os pesquisadores (Iudicibus, 2012). 
Vamos tratar dos aspectos teóricos da contabilidade, independentemente 
dos conceitos epistemológicos de ciência. Partiremos do princípio de que temos 
teorias na área de contabilidade: Teoria Normativa da Contabilidade, Teoria 
 
 
3 
Positiva da Contabilidade, Teoria das Escolhas Contábeis e Teorias dos 
Gerenciamentos de Resultados Contábeis. 
Diante disso, sugerimos a reflexão sobre os seguintes pontos no decorrer 
do texto: como essa teoria afeta a prática profissional? Quais as principais 
consequências para a qualidade da informação contábil? E principalmente, após 
conhecer os impasses teóricos, questionem-se: como, nós, profissionais de 
contabilidade, podemos atuar para tornar a contabilidade um instrumento cada 
vez mais fidedigno? Então, aperte os cintos, vamos começar. 
TEMA 1 – TEORIA CONTÁBIL NORMATIVA 
O surgimento teórico da contabilidade tem como marco a formalização 
das práticas de registros de operações mercantis; operações, estas, que já 
existiam há incontáveis períodos anteriores na história da humanidade. Essa 
formalização foi obra de Luca Pacioli que, em 1494, apresentou o método de 
partidas dobradas, embora a formalização de uma teoria da contabilidade, como 
conhecemos hoje, tenha ocorrido apenas no início do século XX. 
O início do século XX também exibiu preocupações com os seguintes 
temas econômicos: a intervenção estatal, o avanço dos abusos cometidos pelas 
corporações, o conceito da manutenção de capital, a determinação do lucro e os 
debates sobre a superioridade entre o balanço patrimonial e a demonstração do 
resultado. Até o fim da década de 1920, a contabilidade era reconhecida como 
uma disciplina pautada em regras flexíveis, voltada às necessidades gerenciais 
e que, com isso, oferecia oportunidades de manipulação de informações. 
Quando, em 1929, o mundo viveu a quebra da bolsa de Nova Iorque e uma das 
maiores crises econômicas vistas até o momento, a contabilidade foi levada ao 
banco dos réus e nomeadamente culpada pelo período de depressão que se 
alastrou pelo mundo todo; em grande parte em razão da falta de padronização e 
normatização dos procedimentos contábeis que deveriam ser adotados (Niyama, 
2014). 
Assim, nesse contexto histórico de forte desconfiança da fidedignidade da 
contabilidade, inicia-se a busca pelo estabelecimento de princípios contábeis 
capazes de assegurar uma resposta adequada às necessidades da época. 
Concomitantemente, efeito do período da grande depressão econômica, foi 
criada a Securities and Exchange Commission (SEC), em 1934, com o intuito de 
assegurar a regulação estatal sobre o mercado de capitais e, 
 
 
4 
consequentemente, sobre a contabilidade. Portanto, a partir da década de 1930, 
inicia-se o período conhecido como normativo (Niyama, 2014). 
Em 1938, a SEC transferiu a sua competência legal de prescrição dos 
padrões contábeis e de divulgação das informações financeiras para o setor 
privado, permitindo, assim, que os profissionais contábeis (contadores e 
auditores) ficassem responsáveis pela definição dos princípios e práticas 
contábeis geralmente aceitos. Contudo, a prática contábil corrente à época 
necessitava ser reformulada e, portanto, a SEC buscava algo diferente do que 
havia praticado até a quebra da bolsa de Nova Iorque em 1929 (Niyama, 2014). 
No período normativo da literatura contábil, a normatização mostrava-se 
como um caminho a ser trilhado e, para isso, uma teoria era necessária. As 
características dessa nova teoria da contabilidade foram pautadas pela 
prescrição daquilo que se entendia como a melhor prática contábil (Niyama, 
2014). 
Na década de 1960, viu-se o surgimento de uma teoria da contabilidade 
desvinculada das necessidades exclusivamente teóricas. Obras dos autores 
Edgar Owen Edward, Philip Wilkies Bell, George Stabus, Palle Hensen, Richard 
Mattessich, Norton M. Bedford, R. J. Chamber, entre outros, apresentaram uma 
preocupação em determinar o que deveria ser o conteúdo das demonstrações 
contábeis. O enfoque da teoria normativa da contabilidade durante o período de 
1960 a 1990 foi a mensuração dos ativos, impactos da inflação e o cálculo do 
lucro (Niyama, 2014). 
Até o momento, estudamos os aspectos históricos do surgimento e 
desenvolvimento da Teoria Normativa da Contabilidade. Também, conhecemos 
as características e objetivos dessa nova teoria contábil: a prescrição de como 
deveria ser a prática contábil. Agora, vamos aprender quais os principais 
fundamentos da pesquisa contábil nesse período? A pesquisa normativa é 
conhecida por ser dedutiva, subjetiva, qualitativa e focada na construção de 
teorias. 
A pesquisa é conhecida como dedutiva, pois segue o raciocínio dedutivo 
que é conhecido por buscar definir um modelo ideal, ou seja, como deveria ser. 
Ainda, nomeada qualitativa, porque visa entender como o fenômeno contábil 
ocorre; e subjetiva, por possuir caráter discricionário. Por fim, também é 
conhecida por objetivar a construção de teorias, embora, muitas vezes, a 
 
 
5 
prescrição normatizada não siga as prescrições da teoria normativa (Niyama, 
2014). 
Em suma, podemos enfatizar que esse período normativo da 
contabilidade foi reflexo da crise econômica de 1929, porque a falta de 
padronização e normatização das práticas contábeis contribuiu para o período 
da grande depressão. Esse período foi seguido pela regulamentação estatal e o 
movimento teórico de prescrição, ou seja, como a contabilidade deveria ser para 
preservar o interesse dos usuários das suas informações. Dessa maneira,o 
desenvolvimento teórico da contabilidade durante o período normativo foi 
marcado pelo raciocínio dedutivo, qualitativo, subjetivo e pelo enfoque na 
construção de teorias. 
TEMA 2 – TEORIA CONTÁBIL POSITIVA 
Neste tema, vamos tratar do aparecimento da Teoria Positiva da 
Contabilidade, que ocorreu em grande parte como reflexo das críticas sofridas 
pela corrente normativa. Assim, o primeiro questionamento é: quais foram essas 
críticas sofridas pela fase normativa da pesquisa contábil? 
Primeiramente, a crítica mais contundente às pesquisas normativas está 
relacionada à falta de cientificidade. O paradigma de pesquisa positivista passou 
a ser visto como mais importante pela academia de contabilidade, em grande 
parte por causa da influência das ciências econômicas. Nesse novo paradigma, 
o teste empírico é fundamental. Portanto, o desenvolvimento da pesquisa 
normativa, de característica dedutiva, passou a ser visto como não científico 
(Niyama, 2014). 
A segunda crítica à pesquisa normativa é o foco na prescrição em vez da 
explicação. A pesquisa normativa tem como objetivo dar orientação para a 
prática profissional sobre como a contabilidade deve ser, ou seja, sua maneira 
ideal. Portanto, a corrente normativa se preocupa com a prescrição da 
contabilidade. Ao olhar dos críticos, o foco da pesquisa contábil deve ser na 
explicação dos eventos contábeis e econômicos. Assim, explicar por que a 
divulgação da informação contábil afeta o valor de mercado das empresas é visto 
como mais importante do que dizer como a informação deve ser divulgada 
(Niyama, 2014). 
Desse modo, a partir do surgimento da teoria positiva da contabilidade, de 
inspiração econômica, a pesquisa contábil se voltava para compreender, explicar 
 
 
6 
e predizer a prática, em vez de prescrever como ela “deve ser”. Portanto, uma 
das principais características desse período é o foco em explicar e prever os 
fenômenos contábeis (Niyama, 2014). 
A expansão dos mercados de capitais foi um fator que contribuiu para a 
perspectiva da teoria positiva da contabilidade. A escola econômica da 
Universidade Chicago fundamenta-se na perspectiva que a informação contábil 
é relevante para a decisão de investimento dos stakeholders. Nesse sentido, o 
mercado de capitais contribuiu para a disseminação dessa corrente de pesquisa 
(Niyama, 2014). 
Adicionalmente, a corrente positiva da contabilidade tem as seguintes 
características: indutiva, objetiva, quantitativa, empírica e focada na validação de 
dados e hipóteses. A lógica indutiva está pautada na experiência empírica, do 
campo de pesquisa e validação dos dados e hipóteses, ou seja, o conhecimento 
é adquirido ao se conhecer a realidade. Por isso a importância da objetividade, 
para que a realidade seja apreendida pelos pesquisadores por meio dos métodos 
quantitativos (Niyama, 2014). 
Portanto, é importante compreender que, atualmente, a corrente positiva 
é a dominante nas pesquisas contábeis, em especial, na academia norte-
americana, mas também no Brasil. Assim, a partir de agora, vamos discutir 
tópicos avançados da teoria da contabilidade que se baseiam na corrente 
positiva de pesquisa, utilizando uma abordagem indutiva, empírica, objetiva e 
quantitativa. 
TEMA 3 – TEORIA DAS ESCOLHAS CONTÁBEIS 
A pesquisa contábil foi desenvolvida em duas correntes: a teoria 
normativa e a teoria positiva. Ambas tratam de modelos epistemológicos de 
pesquisa, isto é, formas ou modelos de fazer pesquisas. Para o primeiro, o 
modelo é dedutivo. Para o segundo, o modelo é indutivo. Vamos discorrer sobre 
teorias que, influenciadas pela corrente da teoria positiva, visam explicar 
fenômenos contábeis e econômicos. A primeira teoria que vamos apresentar é 
a teoria das escolhas contábeis. 
Essa teoria explica fenômenos econômicos gerados pela 
discricionariedade das normas contábeis. Assim, busca compreender, explicar e 
prever as influências da contabilidade nas relações econômicas. Silva, Martins e 
 
 
7 
Lemes (2016) retrataram os fundamentos da Teoria das Escolhas Contábeis da 
seguinte maneira: 
As normas contábeis oferecem flexibilidade para que sejam realizadas 
escolhas contábeis nas empresas, de modo que se tenha uma 
representação fidedigna da situação econômico-financeira empresarial 
por meio das demonstrações contábeis. Essa flexibilidade é 
necessária, pois o ambiente de divulgação é dinâmico e varia de 
acordo com o desenvolvimento dos mercados e os sistemas legais, 
tributários e regulatórios, aspectos esses que inviabilizam ou impedem 
a existência de normas contábeis totalmente uniformes. Por outro lado, 
a flexibilidade possibilita que os gestores busquem outros objetivos 
com as demonstrações contábeis que não necessariamente coadunam 
com a representação fidedigna. 
Conforme vimos nas palavras de Silva, Martins e Lemes (2016), as 
normas contábeis não são uniformes e têm margem para escolha dos 
procedimentos contábeis: a famosa discricionariedade normativa. Essa 
flexibilidade é necessária, pois o nível de desenvolvimento dos mercados 
financeiros globais é diferente em questões como proteção ao investidor ou ao 
credor, regulação, enforcement etc. (Silva; Martins; Lemes, 2016). 
Assim, por exemplo, o gestor tem a discricionariedade para aplicar o 
método PEPS ou o método do custo médio ponderado ao mensurar os estoques. 
A adoção de um ou outro método possibilita que os gestores busquem 
determinados objetivos com as demonstrações contábeis que, por vezes, não 
correspondem com a representação fidedigna da realidade da organização. 
Continuando o exemplo da mensuração dos estoques, o gestor poderá ter 
estoques avaliados por valores diferentes, dependendo do método escolhido. A 
implicação disso pode ser um ativo maior ou menor e/ou um lucro maior ou 
menor. Dessa forma, o gestor poderá utilizar um método ou outro, dependendo 
do objetivo que possui com a divulgação das demonstrações contábeis (Silva; 
Martins; Lemes, 2016). 
É importante salientar que a escolha contábil não constitui uma 
irregularidade, e o profissional deve escolher dentre as opções permitidas pela 
norma. Contudo, a escolha deve ser guiada pelo método que melhor reflita a 
realidade econômico-financeira da empresa. Mas como ter certeza que a 
empresa escolheu o método que reflete a realidade da empresa? É possível 
monitorar o cumprimento da norma? 
Podemos dizer que é impossível monitorar 100% o cumprimento da 
norma. Entretanto, podem-se implementar mecanismos de monitoramento. 
Esses mecanismos geram custos – por exemplo, os custos de agência – e, 
 
 
8 
portanto, a empresa deve analisar a relação custo/benefício do monitoramento 
(Silva; Martins; Lemes, 2016). 
Outro aspecto relevante é a assimetria de informações gerada pelas 
escolhas contábeis. A discricionariedade normativa da contabilidade gera 
assimetrias informacionais. Por sua vez, a assimetria informacional produz 
custos de agência – já mencionado neste tópico os custos de monitoramento – 
e permite a manipulação das informações contábeis: divulgação de informações 
que não reflete a realidade econômico-financeira da companhia (Silva; Martins; 
Lemes, 2016). 
Nesse sentido, as teorias econômicas explicam que os indivíduos agem 
impulsionados por interesses próprios e, também, dependem da continuidade da 
empresa ao longo do tempo. Dessa dicotomia surgem as perspectivas 
oportunistíca e da eficiência, conforme detalham Silva, Martins e Lemes (2016): 
Nas hipóteses de plano de incentivo, o gestor pode escolher uma 
política de amortização linear em vez de saldos decrescentes para, 
oportunisticamente, aumentar a remuneração, porém essa mesma 
política poderia ser escolhida sob ahipótese dos planos de incentivo 
por razões de eficiência. Supondo que a amortização linear mensure 
melhor o custo de oportunidade dos ativos da empresa, esse método 
resulta em um lucro reportado que melhora o desempenho do gestor. 
Assim, na perspectiva oportunística, podem surgir dois aspectos 
estudados na teoria da contabilidade: a hipótese do grau de endividamento e a 
hipótese dos custos políticos. No primeiro caso, as empresas com alto grau de 
endividamento tendem a aumentar seus lucros, com o intuito de diminuir o custo 
de capital. Já no segundo caso, as grandes empresas, como os bancos, tendem 
a usar técnicas contábeis para diminuir os lucros, em razão da elevada atenção 
política e social que essas empresas possuem. Porém, há um contraponto à 
perspectiva oportunística: esses indivíduos dependem da continuidade da 
empresa ao longo do tempo. Dessa forma, os indivíduos tendem a utilizar 
métodos que diminuam os custos contratuais e que tenham maior eficiência 
(Silva; Martins; Lemes, 2016). 
A teoria das escolhas contábeis constitui uma linha de pesquisa 
importante para a academia de contabilidade. Ela objetiva compreender e 
explicar como a discricionariedade normativa afeta as ações dos agentes 
econômicos e o mercado financeiro. Dessa maneira, será notável sua conexão 
com a teoria dos gerenciamentos de resultados contábeis, tópico que 
estudaremos nos próximos dois temas desta aula. 
 
 
9 
 
TEMA 4 – GERENCIAMENTO DE RESULTADOS: ACCRUALS E PRÁTICAS 
DISCRICIONÁRIAS E NÃO DISCRICIONÁRIAS 
A teoria das escolhas contábeis introduziu-nos a perspectiva da 
discricionariedade normativa que existe na contabilidade. Essa 
discricionariedade gera assimetria informacional entre os diferentes agentes 
econômicos. Isso permite que os gestores possam gerenciar o resultado da 
organização com objetivos que não correspondem com os interesses dos 
demais stakeholders. Sobre esse tópico, discorreremos o quarto tema desta 
aula. 
Para iniciar essa discussão, vamos apresentar alguns conceitos de 
gerenciamento de resultados. Essa compreensão é fundamental para a 
sequência desta aula e para aprendermos a diferenciar as escolhas contábeis – 
definidas como espaço de escolha das normas contábeis, visando à 
representação da realidade econômico-financeira de maneira fidedigna – e o 
gerenciamento de resultados, definido como segue: 
A intervenção proposital no processo de elaboração das 
demonstrações financeiras com a intenção de obter algum ganho. 
(Schipper, 1989) 
O gerenciamento de resultado ocorre quando os gestores usam 
julgamento no processo de elaboração das demonstrações financeiras 
para induzir ao erro alguns stakeholders sobre o desempenho 
econômico da empresa. (Healy; Wahlen, 1999) 
Portanto, podemos afirmar que o gerenciamento de resultados é uma 
intervenção proposital nas demonstrações contábeis, por parte de um agente 
econômico, com o intuito de induzir ao erro outros agentes econômicos 
(Martinez, 2008). 
4.1 Accruals: discricionários e não discricionários 
O gerenciamento de resultados ocorre pela intervenção nos accruals por 
parte dos gestores. Mas o que são os accruals? E por que esse é o mecanismo 
que permite o gerenciamento de resultados? 
Primeiro, é relevante a formação da compreensão do que são os accruals 
e Martinez (2008) define como “todas aquelas contas de resultado que entram 
 
 
10 
no cômputo do lucro, mas que não implicam em necessária movimentação de 
disponibilidades”. 
Os accruals existem em virtude da diferença entre o regime de caixa e o 
regime de competência. São as contas de resultado que não impactam no caixa 
da organização, como a depreciação, o impairment e os lançamentos de folha 
de pagamento no mês de ocorrência quando o pagamento ocorrerá no mês 
subsequente. Portanto, nada de errado existe no lançamento de accruals. O 
objetivo dessas contas contábeis é mensurar o resultado econômico da empresa 
(Martinez, 2008). 
O gerenciamento de resultados surge quando o gestor aumenta ou 
diminui os accruals com o objetivo de influenciar o lucro, por motivos alheios à 
realidade do negócio. Assim, temos dois tipos de accruals: accruals 
discricionários e accruals não discricionários (Martinez, 2008). 
Os accruals não discricionários são naturais aos negócios da entidade e 
são registrados na contabilidade com a intenção de representar a realidade 
econômica da organização; portanto, sem a intenção de gerenciar os resultados 
contábeis (Martinez, 2008). Como exemplo podemos citar a depreciação, que 
visa representar um ativo pelo seu valor econômico. É o caso é do impairment, 
que visa reavaliar o valor econômico dos ativos. No primeiro exemplo, o ativo é 
depreciado periodicamente; no segundo, o ativo é reavaliado, visto que a 
depreciação, em alguns casos, pode não ser suficiente para refletir o valor 
econômico do ativo. 
Em contraponto, os accruals discricionários são artificiais e têm como 
único propósito gerenciar o resultado contábil. Esses registros contábeis podem 
ser negativos ou positivos, indicando se a empresa objetiva melhorar ou piorar 
seu resultado econômico. Por exemplo, podemos citar um lançamento de 
depreciação ou impairment. Em ambos os casos a empresa procederá com o 
lançamento com o intuito de desvalorizar um ativo ou superavaliar um ativo para 
obter vantagens econômico-financeira. Percebem a diferença? Tanto os 
accruals discricionários quanto os accruals não discricionários são lançamentos 
de contas que não impactam caixa e, portanto, de fácil manipulação. O que difere 
entre os diferentes accruals é a intenção. Sobre esse aspecto, discorreremos no 
próximo tema desta aula, que abordará os três modelos de gerenciamento de 
resultado, income smoothing, big bath accounting e window dressing, e explicará 
as diferentes intenções por parte dos agentes econômicos em cada caso. 
 
 
11 
TEMA 5 – GERENCIAMENTO DE RESULTADOS: INCOME SMOOTHING, BIG 
BATH ACCOUNTING, WINDOW DRESSING 
Estamos adentrando o último tema desta aula e o tópico a ser discutido é 
gerenciamento de resultados. Conforme comentamos na seção anterior, 
gerenciamento de resultados pode ser definido como uma intervenção proposital 
nas demonstrações contábeis, por um agente econômico, com o intuito de 
induzir ao erro outros agentes econômicos. Neste quinto tema, discorreremos 
sobre os três principais modos de gerenciar resultados nas organizações: 
income smoothing, big bath accounting e window dressing. 
5.1 Income smoothing 
O income smoothing é um dos modos de gerenciar resultado nas 
organizações. É conhecido por ter como objetivo reduzir/suavizar a variabilidade 
dos resultados contábeis com o intuito de estabilizar o lucro ao longo do tempo 
(Rivera-Castro; Martinez, 2008). 
Nesse cenário, a empresa vai registrar mais ou menos accruals na 
contabilidade dependendo do resultado contábil do período. Por exemplo, se no 
período X0 o lucro for de 30.000.000,00 (valor suavizado) e no período X1 o 
resultado contábil for de 20.000.000,00, a empresa vai gerenciar o resultado 
contábil para cima, com o intuito de se aproximar do valor suavizado. E se em 
X2 o lucro for de 40.000,00? A empresa tenderá a gerenciar o resultado contábil 
para baixo, com o intuito de se aproximar do valor suavizado. 
A relação do income smoothing se estabelece com a rentabilidade da 
empresa. A explicação para se fazer income smoothing é que quando há 
suavização dos resultados contábeis, a previsão do mercado financeiro em 
relação ao resultado econômico da empresa é mais assertiva e, portanto, a 
informação contábil se torna mais relevante e reflete positivamente no valor das 
ações da empresa. 
5.2 Big bath accountingOutro mecanismo de gerenciamento de resultados contábeis utilizado pelos 
gestores é o big bath accounting. Mas no que ele consiste? 
 
 
12 
Este é um tipo de gerenciamento de resultados que tem como objetivo piorar 
um resultado ruim com o intuito de obter um resultado melhor no futuro. Como 
assim? O objetivo consiste em piorar o resultado da empresa? 
Sim, exato! Vamos pensar no seguinte caso: a empresa Alfa possui accruals 
que, ao serem registrados, vão afetar negativamente o resultado da empresa, 
assim, evitam o lançamento desses accruals enquanto o resultado for positivo. 
Contudo, no momento de uma crise financeira e/ou de um resultado operacional 
ruim, a empresa lança esses accruals que vão piorar o resultado do exercício, 
com o intuito de, nos próximos períodos, obter resultados mais favoráveis. 
Um outro caso em que pode ocorrer big bath accounting é com a mudança 
de gestão na organização. O novo gestor pode utilizar esse mecanismo para 
atribuir ao antigo gestor um desempenho ruim e, assim, garantir resultados 
futuros melhores, que serão atribuídos à nova gestão. 
5.3 Window dressing 
O window dressing é um mecanismo de gerenciamento de resultados que 
visa maquiar os resultados contábeis tornando-os mais positivos. O exemplo 
mais comum relatado pela literatura é a operação de window dressing realizada 
pelos fundos de investimentos. 
Imagine o seguinte caso: um fundo de investimentos investe em ações A, B, 
C e D. Ainda, o fundo de investimentos usualmente divulga o desempenho do 
fundo de forma trimestral. No quarto trimestre, as ações A e B superaram o índice 
total, mas representavam pouco dentro do peso do fundo de investimentos, 
enquanto as ações C e D ficaram abaixo do índice total, mas representavam 
muito dentro do peso do fundo de investimentos. Assim, o gestor do fundo de 
investimentos decide “maquiar os resultados” e, portanto, vende as ações C e D, 
substituindo por ações com maior índice. Essas decisões dos gestores vão levar 
os stakeholders a avaliarem o rendimento do fundo de investimentos de forma 
positiva, induzindo os demais agentes econômicos a tomarem decisões de 
maneira equivocada. 
TROCANDO IDEIAS 
Estamos caminhando para o final desta aula. Vamos agora trocar ideias 
com os colegas sobre os principais aspectos tratados? 
 
 
13 
Para consolidar os conhecimentos adquiridos nesta aula, vamos realizar 
uma atividade de fórum. Você deverá articular os conceitos aprendidos sobre os 
tópicos teóricos da teoria das escolhas contábeis e o gerenciamento de resultado 
contábil, com o intuito de diferenciar as práticas de cada tema estudado. Reflita: 
escolha contábil e gerenciamento de resultados correspondem a mesma 
prática? Para responder a esse questionamento, exponha a sua opinião na 
plataforma AVA, elaborando um texto com base nos principais conceitos das 
teorias supracitadas. Essa atividade auxiliará na fixação dos conteúdos 
estudados. 
NA PRÁTICA 
Esta atividade tem cunho prático, para que vocês possam desenvolver 
habilidades. O tema de discussão da atividade prática é gerenciamento de 
resultados, o qual discutimos nos Temas 4 e 5 desta aula. 
Para Martinez (2008, p. 13), é crucial entender que o gerenciamento dos 
resultados contábeis não é fraude contábil. No gerenciamento dos resultados 
contábeis, opera-se dentro dos limites do que prescreve a legislação contábil, 
entretanto nos pontos em que as normas contábeis facultam certa 
discricionariedade para o gerente, este realiza suas escolhas não em função do 
que dita a realidade concreta dos negócios, mas em função de outros incentivos. 
Enquanto a fraude contábil é caracterizada pelo ato intencional de falsificar e/ou 
alterar documentos contábeis, registro e demonstrações contábeis. Reúna os 
conhecimentos adquiridos durante esse curso e vamos fazer um exercício de 
abstração: 
O Sr. João Paulo é contador da empresa Alfa e trabalha sob a gerência 
do Sr. Henrique Cardoso, CEO da empresa Alfa. O Sr. Henrique Cardoso recebe 
remuneração variável atrelada ao desempenho da organização. O indicador 
utilizado para mensurar o desempenho é o lucro contábil. 
O Sr. João Paulo decide registrar um número elevado de accruals no 
período X4 que antecede a avaliação de desempenho do CEO. Esses accruals 
elevam o resultado contábil do período, reportando um lucro três vezes maiores. 
Agora, vocês deverão refletir e decidir se o ato praticado pelo Sr. João 
Paulo se caracteriza como fraude contábil ou gerenciamento de resultados. 
Apresente uma posição em relação ao cenário apresentado e justifique sua 
escolha. (A sugestão de resposta está ao fim deste documento). 
 
 
14 
FINALIZANDO 
Esta aula nos auxiliou a adentrar ao mundo teórico contábil e 
compreender como surgiram e se desenvolveram as duas principais correntes 
de pesquisa da área: a teoria normativa e a teoria positiva. Ainda, discutimos 
alguns tópicos avançados derivados da corrente positiva da contabilidade, como 
a teoria das escolhas contábeis e os estudos de gerenciamento de resultados. 
Nos dois primeiros temas desta aula, foram apresentadas as duas 
correntes teóricas que guiaram o desenvolvimento das pesquisas nas ciências 
contábeis: a teoria normativa e a teoria positiva. Discorremos, também, sobre o 
desenvolvimento histórico de ambas as perspectivas, suas características e as 
principais críticas. 
Nos três últimos temas, o enfoque esteve em tópicos avançados da teoria 
contábil, desenvolvidos sob influência da corrente positiva. No tema 3, foi 
apresentada a teoria das escolhas contábeis e as implicações da 
discricionariedade normativa. No tema 4, expressamos os conceitos e definições 
de gerenciamento de resultados e a sua relação com a discricionariedade 
normativa. O último tema aprofundou os principais mecanismos de 
gerenciamento de resultados: income smoothing, big bath accounting e window 
dressing. 
 
 
 
15 
REFERÊNCIAS 
HEALY, P. M.; WAHLEN, J. M. A review of the earnings management literature 
and its implications for standard setting. Accounting Horizons. v. 13, n. 1, p. 
365-383, 1999. 
IUDICIBUS, S. Teoria da contabilidade: evolução e tendências. Revista de 
Contabilidade do Mestrado em Ciências Contábeis da UFRJ, v. 17, n. 2, p. 
5-13, 2012. 
MARTINEZ, A. L. Detectando earnings management no Brasil: estimando os 
accruals discricionários. Revista Contabilidade & Finanças, v. 19, n. 46, p. 7-
17, 2008. 
NIYAMA, J. K. Teoria Avançada da Contabilidade. São Paulo: Atlas, 2014. 
RIVERA-CASTRO, M. A.; MARTINEZ, A. L. Income smoothing como critério para 
montagem de carteiras: evidências empíricas no mercado brasileiro. In: XXXII 
EnANPAD. Anais... Rio de Janeiro, 2008. 
SCHIPPER, K. Commentary on earnings management. Accounting Horizons, 
v. 3, n.1, p. 91-102, 1989. 
SILVA, D. M.; MARTINS, V. A.; LEMES, S. Escolhas contábeis: reflexões para a 
pesquisa. Revista Contemporânea de Contabilidade, v. 13, n. 29, p. 129-156, 
2016. 
 
 
 
16 
RESPOSTA 
Considerando o conflito de interesses existente entre o contador e o CEO, 
uma vez que o primeiro está abaixo na hierarquia organizacional do segundo e 
o João Paulo é responsável pela elaboração dos demonstrativos contábeis, 
existe uma grande possibilidade de o lançamento representar um gerenciamento 
de resultados. O segundo elemento é que não há evidências de alteração ou 
destruição de documentos contábeis, o que poderia caracterizar uma fraude 
contábil. Assim, o cenário indica um possível gerenciamento de resultados.

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