Buscar

DEFEITO DO NEGÓCIO JURIDICO

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 21 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 21 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 21 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

۩. Conceito
 
 
Ao traçarmos os princípios do erro e do dolo, percebemos que ambos guardam relação 
próxima, pois no dolo, ao menos externamente, há erro não espontâneo, mas provocado.
Já na coação, a vontade deixa de ser espontânea como resultado de violência contra ela. A figura 
da coação não é reduzível a qualquer outro vício, guardando visível autonomia. A matéria, como 
acontece com os demais vícios de vontade, é da Teoria Geral do Direito, aplicando-se aos negócios 
jurídicos em geral; não é exclusiva dos contratos, como pode parecer por outras legislações que 
versam sobre o tema na parte do direito contratual.
Entre os vícios que podem afetar o negócio jurídico, a coação é o que mais repugna à 
consciência humana, pois dotado de violência. Nesse vício da vontade, mais vivamente mostram-se 
o egoísmo, a rudeza, a primitividade. Pretender alguém lograr um benefício pela força, pela ameaça, 
é aspecto reprovado por nossa consciência. Daí ser importante fixar o exato alcance do problema 
na teoria dos negócios jurídicos.
O medo e o temor são fraquezas próprias do homem. Afetam-no diferentemente, 
dependendo de várias circunstâncias. Uma pessoa absolutamente destemida foge à normalidade; é 
caso patológico. Sabedores disso, há espíritos que, se achando mais fortes, buscam aproveitar-se 
das fraquezas humanas, incutindo temor por ameaças.
Clóvis Beviláqua (1980:221) define coação como "um estado de espírito, em que o 
agente, perdendo a energia moral e a espontaneidade do querer, realiza o ato, que lhe é exigido".
No conceito de coação, é importante distinguir a coação absoluta (vis absoluta), que tolhe 
totalmente a vontade, da coação relativa (vis compulsiva), que é vício de vontade propriamente 
falando. Na coação absoluta, não há vontade ou, se quisermos, existe apenas vontade aparente. É 
a violência física que não dá escolha ao coacto.
Assim, se um indivíduo aponta arma a outrem, ou conduz sua mão para conseguir sua 
assinatura em documento, não há vontade por parte do violentado. No final das contas, a ação 
obtida não é do violentado, mas do violentador, pois a este deve ser materialmente imputada. Na 
coação absoluta, não há vício de vontade, mas, existindo total ausência de vontade, o negócio 
jurídico reduz-se a caso de nulidade.
O que nos ocupa é a coação relativa, em que, com maior ou menor amplitude, haverá 
certa escolha por parte do coacto. Nessa hipótese, a vítima da coação não fica reduzida à condição 
de puro autômato, uma vez que pode deixar de emitir a declaração pretendida, optando por resistir 
ao mal cominado. Daí por que a vis relativa torna o ato simplesmente anulável, como vício de 
vontade que é.
Portanto, na coação relativa, conserva o coacto a possibilidade de optar entre expor-se 
ao mal cominado e a conclusão do negócio que se lhe pretende extorquir. Nesse caso, a vontade do 
agente é tão-só cercada, restringida e não totalmente excluída. Equivale a total exclusão da vontade 
a situação do assaltante que diz: "A bolsa ou a vida!" Aqui não há propriamente escolha...
A coação, por outro lado, deve deixar margem de escolha ao agente.
No Direito Romano, o ato praticado sob coação moral era considerado válido, mas 
foram introduzidos meios destinados a proteger a parte que tinha a vontade viciada pela violência. 
Havia a actio quod metus causa (ação derivada do medo) concedida contra o autor da violência e 
também contra o terceiro que obtivesse a coisa com violência. Por meio da exceptio, podia-se 
reprimir ato proveniente de violência, pois era meio de defesa. Também havia a restitutio in integrum 
(restituição integral) concedida pelo direito pretoriano, que considerava não realizado o ato jurídico 
extorquido por violência; restabelecia-se, assim, a situação anterior.
A ação quod metus causa era de caráter penal e impunha ao agente da coação o 
pagamento do quádruplo do valor do prejuízo causado à vítima. Essa penalidade só era imposta, 
contudo, quando o réu não fazia, voluntariamente, devolução do que recebera injustamente, pois 
era esse o fim real da demanda. Pouco a pouco, foi desaparecendo o aspecto penal da ação, que 
se converteu em instrumento processual.
 
۩. Requisitos da Coação
 
Dispunha o art. 98 do Código Civil de 1916: "A coação, para viciar a manifestação da 
vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano a sua pessoa, a sua família, ou 
a seus bens, iminente e igual, pelo menos, ao receável do ato extorquido."
Nesse contexto, enumeram-se os seguintes requisitos da coação:
1. essencialidade da coação;
2. intenção de coagir;
3. gravidade do mal cominado;
4. injustiça ou ilicitude da cominação;
5. dano atual ou iminente;
6. justo receio de prejuízo, igual, pelo menos, ao decorrente do dano extorquido;
7. tal prejuízo deve recair sobre pessoa ou bens do paciente, ou pessoas de sua família.
O atual Código, atendendo a críticas que descrevemos a seguir, modifica em parte esse 
conceito, estatuindo, no art. 151: "A coação, para viciar a declaração de vontade, há de ser tal que 
incuta ao paciente fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou a 
seus bens." Esse diploma estabeleceu o prazo decadencial de quatro anos para pleitear-se a 
anulação do negócio jurídico no caso de coação, contado do dia em que ela cessar (art. 178, I).
 
۩. Essencialidade da Coação
 
É preciso que a coação seja determinante ou essencial, ou melhor ainda, que seja a 
causa do negócio. Pode ocorrer, a exemplo do que sucede com o dolo, que a coação seja incidente. 
Quando o ato jurídico for realizado de qualquer forma, a ocorrência de coação só gera o direito do 
coacto pedir perdas e danos, com fundamento no art. 186 (antigo, art. 159) do Código Civil.
Para que se configure, porém, a coação capaz de anular o negócio, deve existir relação 
de causalidade entre a ameaça e a declaração.
Se, por exemplo, alguém foi ameaçado, mas consentiu, emitiu vontade ou praticou o ato 
ou negócio independentemente da ameaça, não houve coação.
No tocante à prova, cumpre ao coacto fazê-la. O critério do exame de prova depende da 
prudência do julgador diante do caso concreto, pois a coação é de difícil comprovação, porque 
quem se vale dela geralmente se mune de artifícios para camuflá-la.
 
۩. Intenção de Coagir
 
É elemento da própria noção do vício. Consiste no ânimo de extrair o consentimento 
para o negócio. Esse exame da intenção depende muito da prova. Normalmente, são as 
circunstâncias externas do negócio que denotam a coação.
A propósito já se decidiu: "É nula a escritura de venda e compra, realizada fora do 
cartório e a desoras, outorgada a um dos diretores de estabelecimento bancário, e não ao banco, a 
fim de evitar prisão e instauração da ação criminal, por desfalque de seu funcionário, e, ainda, com 
ocultação das circunstâncias que cercavam o fato" (RT 428/175).
Por outro lado, não haverá intenção de coagir no caso, por exemplo, de alguém que, 
ameaçado de morte, compra arma para defender-se...
 
۩. Gravidade do Mal Cominado
 
Importa aqui a intensidade do mal, sua probabilidade de consumação. A vítima, perante 
a violência procedente do outro contraente ou de terceiro, deve escolher entre consentir e curvar-se 
à ameaça ou sofrer as conseqüências. A ameaça deve, por isso, revestir-se de certa gravidade. 
Assim já se decidiu: "Não basta qualquer constrangimento para que se haja o ato jurídico por 
viciado.
Para que ocorra a coação, mister se faz que se atinja o limite da anormalidade" (RT 
524/65). A idéia do julgado é que todos nós, com maior ou menor amplitude, vivemos sob pressão 
constante das próprias condições que a sociedade nos impõe. Não podemos sujeitar um negócio 
jurídico à anulabilidade, trazendo incerteza às relações jurídicas, perante essas pressões ordinárias 
da vida.
No Direito Romano, vigorava critério para aferição da gravidade da ameaça.Tinha-se 
em mira a coação capaz de atemorizar um homem diligente. Nosso Código, no art. 152 (antigo, art. 
99), fugindo à tradição romana, adotou critério concreto para o exame, em cada caso, do vício: 
"No apreciar a coação, se terá em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o temperamento do 
paciente e todas as demais circunstâncias que possam influir na gravidade dela."
A posição do legislador é de estrito respeito à vontade individual.
Desse modo, entende-se que uma criança reage diferentemente a uma ameaça do que 
um adulto; a mulher, de forma diversa do homem; o doente, do são, e assim por diante. Grande é a 
liberdade do juiz em tais circunstâncias, mas não deverá descuidar-se dos demais requisitos.
 
۩. Injustiça ou Ilicitude da Cominação
 
A doutrina não é unânime neste requisito. No tocante à injustiça, trata-se de fator de 
natureza ética, difícil de precisar. Quanto à ilicitude, porém, nossa lei civil estatui que não se 
considera coação a ameaça do exercício normal de um direito (art. 153 do Código Civil; antigo, art. 
100). Assim, não pratica coação o credor que ameaça pedir a falência do devedor. Aqui avulta, 
porém, de importância o abuso de direito, descrito no art. 187 do atual Código. O exercício regular 
de um direito não pode ser desvirtuado. Tal exercício deve ser desempenhado com o objetivo de 
atingir a finalidade para a qual foi criado.
Nessas premissas, nosso ordenamento de 1916 coibia o ato abusivo, ao estipular no 
art. 160, I (atual, art. 188, I), que não constituem atos ilícitos os praticados no exercício regular de 
um direito reconhecido. Tratava-se de indução a contrario sensu, pois o exercício irregular de um 
direito é ilícito. Destarte, a ameaça ao devedor de requerer sua falência é um direito. Publicar em 
jornais que a situação financeira de seu devedor é ruim e que será requerida sua falência é abuso, 
por exemplo.
O novo Código é expresso na definição de abuso de direito, enquadrando-o na 
categoria de ato ilícito: "Comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede 
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons 
costumes" (art. 187). Ou, como diz Manuel A. Domingues de Andrade (1974:226): "A exorbitância 
da vantagem obtida pelo credor colora de ilicitude seu comportamento." Também é assim que se 
manifesta Orosimbo Nonato (1957:171) sobre a matéria: "Se o constrangimento, posto eficaz e 
intenso, é legal, é legítimo, constituiria incivilidade maior da marca haver como injusta a ameaça de 
seu emprego."
 
۩. Dano Atual ou Iminente
 
O art. 151 (antigo, art. 98) prescreve que o dano deve ser iminente. Nesse sentido, o 
dano deve ser atual e inevitável sob o prisma da vítima.
A lei não exige mal remoto e distante, evitável pela intervenção da autoridade, ou de 
quem quer que seja. O temor deve ser de dano palpável para as condições da vítima. Se a ameaça 
não contiver atualidade, não há que se falar em vício.
É evidente que a gravidade da ameaça entrelaça-se com a iminência e atualidade. O 
caso concreto fornece as diretrizes.
O art. 98 fala em temor fundado. Tem-se em vista também a pessoa do coacto. Não 
basta, porém, a mera suspeita da vítima para anular o negócio. Como para todos os requisitos, a 
prova deve ser segura. Não pode, contudo, o julgador ser rigoroso em seu exame a ponto de 
nulificar a intenção do legislador.
 
۩. Justo Receio de Prejuízo Igual, pelo menos, ao Decorrente do Dano Extorquido. 
A Posição do Atual Código
 
Segundo disposição do Código anterior, a coação só viciava o negócio quando 
provocasse na vítima, em seu espírito, temor de dano a sua pessoa, à pessoa de sua família ou a 
seus bens, devendo esse dano ser igual, pelo menos, ao receável do ato extorquido (art. 98).
A terminologia de nossa lei de 1916, ao mencionar contrapeso do ato receável, 
cotejando-o com o conteúdo da ameaça, era inconveniente, como foi demonstrado pela doutrina. 
Em outras legislações, a mensuração da intensidade do dano é difusa, não tendo descido a 
minúcias. Assim age o vigente Código, no art. 151 transcrito, a exemplo do Código francês. Fala em 
dano considerável e assim concede maior elasticidade ao julgador.
Aliás, em várias oportunidades, o Código de 2002 concede maior atividade 
discricionária ao magistrado. No sistema de 1916, levado o texto citado ao pé da letra, a vítima da 
coação teria de provar que o mal prometido era igual, pelo menos, ao que resultaria do cumprimento 
da ameaça, como se tais condutas pudessem ser postas em uma balança. Como podemos 
facilmente perceber, em muitos casos concretos a utilização desse "equilíbrio" desejado pelo 
legislador era impraticável, mormente quando se tratasse de ameaça de dano moral. Como saber se 
uma injúria ou calúnia prometida, ou o seqüestro de um filho, tem o mesmo valor extorquido?
Como defendiam Clóvis Beviláqua (1916) e Sílvio Rodrigues (1979:302), tal requisito 
deveria mesmo ser dispensado, mormente se o dano ameaçado não fosse de ordem patrimonial.
De qualquer forma, no sistema anterior, para poder balancear o dano com a intensidade da ameaça, 
o juiz deveria ponderar os vários fatores em jogo, principalmente aqueles dispostos no art. 99. 
Conquanto se tratasse de ameaça de dano patrimonial, não se deveria fixar fórmula matemática 
para atingir a igualdade entre o dano e a ameaça.
Deveria preponderar certa elasticidade de raciocínio por parte do julgador, que 
examinaria a espontaneidade da manifestação de vontade, verificando se a pressão exercida contra 
ela fora capaz de viciar o ato, tanto pela gravidade, como pela iminência do dano ameaçado. Nesse 
diapasão, a redação do art. 151, do Código de 2002, como pontuamos, atendeu às críticas da 
doutrina.
 
۩. Ameaça de Prejuízo à Pessoa ou Bens da Vítima, ou Pessoas de sua Família
 
O texto do art. 98 do Código antigo não precisou o alcance do vocábulo família. Em 
sentido abrangente, dentro do termo estariam englobados todos os membros com vínculo de 
sangue. Também devem ser inseridos os membros ligados à pessoa pela afinidade, relação nascida 
com o vínculo conjugal, ou seja, o cunhado, bem como as pessoas do sogro e da sogra. 
Modernamente, contudo, com a diminuição dos vínculos afetivos, há tendência social de incluir na 
"família" apenas os cônjuges e os filhos.
É inelutável, pois, que o julgador examine as circunstâncias da violência, incumbindo ao 
coacto provar que a ameaça foi dirigida ou relacionada a pessoa de estreito vínculo afetivo, 
tratando-se de parente ou afim mais afastado. Não se esqueça que a Constituição de 1988 
considera a entidade familiar como um todo, independentemente de casamento, levando em 
consideração até mesmo a denominada família monoparental. Portanto, também esse aspecto deve 
ser levado em conta.
Surge o problema de a coação ameaçar pessoa que não se insere no vocábulo família, 
mas ligada ao coacto por vínculo afetivo intenso, como, por exemplo, o amigo íntimo, a concubina 
sem conotação técnica de companheira, o menor do qual o coacto tem a guarda. É inexorável, 
dependendo da ordem de afetividade, que a coação aja como instrumento viciador da vontade 
nessas hipóteses.
É sempre do exame das circunstâncias realizado pelo juiz que advirá a sábia solução. 
Foi nesse sentido que propugnou o vigente Código, ao estampar, no parágrafo único do art. 151: 
"Se disser respeito (a coação) a pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz, com base nas 
circunstâncias, decidirá se houve coação."
Mesmo no sistema do Código anterior, não era desvinculada da lei a solução que adote 
a orientação do presente Código, pois o legislador não definiu o alcance de família.
Quanto aos bens, devem ser eles próprios do ameaçado. Ao que tudo indica, o texto 
não autoriza a anulação do ato, se a ameaça for dirigida a bens que não do próprio coagido. Em 
todo caso, nessa hipóteseé temerário fazer afirmação peremptória, pois certamente casos 
concretos ocorrem em que a aplicação textual da lei pode conduzir a injustiças. Deve o julgador 
sempre levar em conta a existência ou não de espontaneidade na manifestação de vontade, 
analisando em conjunto todos os requisitos da coação.
 
۩. O Temor Reverencial
 
O art. 153 do Código diz que "não se considera coação a ameaça do exercício normal 
de um direito, nem o simples temor reverencial" (antigo, art. 100).
Por temor reverencial "entende-se o receio de desgostar o pai, a mãe ou outras 
pessoas, a quem se deve obediência e respeito" (Beviláqua, 1980:224). A idéia principal é o desejo 
de não desagradar, de não prejudicar a afeição e o respeito do descendente para com o 
ascendente. Mas não é só. Reverencial é o temor de ocasionar desprazer a pessoas ligadas por 
vínculo afetivo, ou por relação de hierarquia.
O Código francês, no qual se inspirou nosso texto, refere-se apenas em "pai, mãe, ou 
outro ascendente". Nossa lei é mais abrangente. O princípio deriva de fontes romanas.
É significativo o fato de nosso legislador ter colocado o termo simples na dicção legal. 
Nem sempre haverá temor reverencial na situação enfocada, pois existe zona cinzenta, em que 
dúvidas ocorrem sobre se houve ou não coação. É fato, porém, que, extravasando os limites do 
"simples" temor reverencial, existirá a coação. Tal fato ora estudado é importante em matéria de 
casamento, em que é freqüente a pressão dos parentes.
No caso do temor reverencial, o agente se curva a praticar, ou deixar de praticar, ação 
por medo de desgostar a outrem, a quem deve obediência e respeito. Não havendo gravidade na 
ameaça, a lei desconsidera a existência de coação. Quem consente apenas para não desgostar o 
pai ou a mãe equipara-se ao que soçobra a ameaça inócua ou irrisória, não devendo o ato ser 
passível de anulação.
O vocábulo simples, sabiamente colocado em nossa lei, está a demonstrar que é do 
exame de cada caso concreto que advirá a solução. Cabe ao juiz determinar onde termina o 
"simples" temor de desagradar e onde começa a coação. Se ao temor reverencial ajunta-se a 
ameaça idônea para viciar o ato, ele é anulável.
 
۩. Coação por Parte de Terceiros
 
Vimos, ao estudar o dolo, que o tratamento do Código de 1916 é diferente para o dolo 
de terceiro (art. 95; atual, 148) e para a coação provinda de terceiro (art. 101; atual, 154 e 155). 
Enquanto o dolo de terceiro pode viciar o ato, se uma das partes o soube, a coação emanada de 
terceiro sempre o viciará.
A esse respeito dispõe o art. 101 de 1916: "A coação vicia o ato, ainda quando exercida 
por terceiro.
§ 1o Se a coação exercida por terceiro for previamente conhecida à parte, a quem 
aproveite, responderá esta solidariamente com aquele por todas as perdas e danos.
§ 2o Se a parte prejudicada com a anulação do ato não soube da coação exercida por 
terceiro, só este responderá pelas perdas e danos."
No caso, havendo coação por parte de terceiros, o negócio sempre poderia ser anulado. 
Se o agente tivesse conhecimento da coação, estaria na posição de cúmplice, co-autor da violência 
e, por isso, responderia solidariamente com o coator principal por perdas e danos. Não tendo 
conhecimento da coação, só o coator responderia pela indenização.
O tratamento diferenciado da lei de 1916 no que toca ao dolo e à coação, nessa 
hipótese, mereceu críticas, como já examinado. O legislador pretérito pareceu entender ser a 
coação extremamente mais grave que o dolo; por essa razão, deu solução diferente, em prejuízo da 
estabilidade das relações. Na coação de terceiro, desprezava-se a boa-fé do contratante inocente 
que ignorava sua existência.
A solução reclamada pela doutrina foi adotada pelo vigente Código, no art. 154, 
segundo o qual, na coação exercida por terceiros vicia o ato, se dela tivesse ou devesse ter 
conhecimento a parte a quem aproveita, respondendo ambos, coator e parte no negócio, 
solidariamente pela indenização.
De acordo com o art. 155 dessa nova lei, o negócio subsistirá, no caso de coação de 
parte de terceiro, com o desconhecimento real ou implícito por parte do agente no negócio: 
"Subsistirá o negócio jurídico, se a coação decorrer de terceiro, sem que dela tivesse ou devesse ter 
conhecimento a parte a quem aproveite, mas o autor da coação responderá por todas as perdas e 
danos do coacto."
A solução do sistema de 1916 era iníqua, portanto, ao contratante de boa-fé, que não 
sabia estar o outro manifestante de vontade agindo sob coação. No prazo de quatro anos, esse 
negócio pode vir a ser anulado. Esse prazo tinha nítido caráter decadencial, embora a jurisprudência 
vacilasse a respeito. Como vimos, o vigente Código estabelece expressamente esse prazo como 
decadencial para o negócio viciado por coação, contado a partir do dia em que ela cessar (art. 178, 
I).
A nova solução legislativa quanto à coação praticada por terceiro, semelhante àquela já 
encontrada para o caso de dolo de terceiro, muda de aspecto. Pelo atual Código, se as 
circunstâncias da declaração de vontade do agente revestiam-se de veementes indícios de coação, 
que o beneficiado não podia ignorar, é anulável o negócio. Por outro lado, se a coação estava 
camuflada sem existir motivos para que o beneficiado a conhecesse, o negócio subsiste em 
homenagem à boa-fé. Aliás, a boa-fé objetiva é um dos pontos cardeais do atual Código (arts. 422 e 
187).
 
۩. Estado de Necessidade ou Estado de Perigo
 
Imagine-se o exemplo clássico de alguém que está afogando-se e, naquele momento 
de desespero, promete toda a sua fortuna para ter salva sua vida. A doutrina lastreada no velho 
Código Civil procurava enquadrar essa hipótese na coação. A vítima estaria agindo sob coação.
A situação, na realidade, se aproxima do estado de necessidade do direito penal. 
Aplica-se também o paradigma penal da inexigibilidade de conduta diversa. A questão primordial 
que se analisa é aquela na qual o indivíduo, de acordo com as circunstâncias, não possui outra 
saída ou alternativa viável. Stolze Gagliano e Pamplona Filho apontam, como atual exemplo, o ato 
de garantia (fiança, aval ou emissão de cheque) prestado por indivíduo que pretenda internar, em 
caráter de urgência, um parente seu ou pessoa grada em estabelecimento hospitalar e se vê na 
contingência de só obter a internação mediante a emissão da garantia (2002:379). Esse aspecto já 
sofre, aliás, repressão do ordenamento. Essa situação corriqueira até recentemente era mórbida, 
para dizer o mínimo, e se amolda perfeitamente ao tema sob enfoque. No sistema do Código de 
Defesa do Consumidor, tipifica-se como cláusula abusiva.
Importa saber se obrigação contraída em estados semelhantes é válida, levando-se em 
conta que o beneficiado não colaborou para o estado de perigo. Se for entendido simplesmente ter 
havido vício na vontade do declarante, o negócio será anulável. Se for entendido o contrário, o 
negócio valerá, sofrendo a vítima empobrecimento considerável, desproporcional ao serviço 
prestado. Como vemos, nenhuma das soluções extremadas satisfaz.
A doutrina aventou a hipótese, sob várias fundamentações, de o negócio praticado em 
estado de perigo subsistir, mas o valor do pagamento ser reduzido a seu preço justo, porque a mera 
anulação do negócio conduz também a resultado injusto, pois houve um serviço prestado. Por outro 
lado, a persistência do negócio leva a um locupletamento por parte do beneficiado. Portanto, a 
solução justa, que se prende aos princípios gerais, é o juiz manter o negócio, mas reduzir o valor da 
prestação aos limites razoáveis relativos ao serviço prestado.
O vigente Código define estado de perigo no art. 156: "Configura-se o estado de perigo 
quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano 
conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa.Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz 
decidirá segundo as circunstâncias."
Se, por um lado, a nova lei merece elogios por ter trazido ao ordenamento a 
conceituação que faltava ao Código de 1916, por outro lado, o fato de permitir aparentemente a 
anulação do ato em estado de perigo merece críticas. Melhor seria a solução aceita pela doutrina de 
manter o ato, mas reduzir o valor do pagamento ao justo limite pelo serviço prestado. Na solução do 
atual Código, em tese, uma vez anulado o negócio, só restaria ao agente recorrer à ação de 
enriquecimento sem causa para haver o pagamento. Contudo, ao estampar o conhecimento do 
estado de perigo por parte do beneficiado ("grave dano conhecido pela outra parte"), entende o 
legislador que houve abuso de situação; o agente valeu-se do terror incutido a outra parte para 
realizar o negócio, tendo cessado a boa-fé.
Nesse caso, o negócio não poderia subsistir. Nada impede, porém, e se harmoniza com 
o sistema, a solução de o juiz manter a validade do negócio, atendendo às circunstâncias do caso, 
determinando que a prestação seja reduzida ou reconduzida a seu justo valor, a exemplo do que a 
nova lei alvitra para o caso de lesão (art. 157, § 2o).
No estado de perigo, ao contrário do que ocorre na coação, há uma parte que não é 
responsável pelo estado em que ficou ou se colocou a vítima. O perigo não foi causado pelo 
beneficiário, embora ele tome conhecimento da situação. Essa ciência do perigo é essencial para 
que ocorra o vício. Trata-se, como se nota, de um abuso de situação. A situação, embora análoga, 
também se distancia da lesão, porque nesta o contratante, com base em razões econômicas ou por 
sua própria inexperiência, é levado a contratar. Na lesão, não existe a situação emergencial, que é 
ínsita ao estado de perigo ou estado de necessidade.
O prazo decadencial, expressamente admitido como tal pelo atual Código, para anular o 
negócio jurídico eivado de estado de perigo é de quatro anos, contado do dia em que se realizou o 
negócio (art. 178, III).
 
۩. Observações gerais
 
1 - "Anulação de ato jurídico - Compra e venda de veículos - Título executivo - Nota 
promissória - Alegação de emissão sob coação absoluta - Ausência de prova - Apelação improvida. 
(1) O art. 98, do Código Civil, estabelece que a coação, para viciar o consenso, deve ser capaz de 
incutir no paciente temor de um dano iminente. O dano receado deve ser atual e inevitável, pois a 
ameaça de um mal impossível, remoto ou evitável, não constitui coação, capaz de viciar o ato. (2) A 
certeza jurídica não se confunde com a certeza metafísica, matemática, mas não se firma quando 
não induz a um elevado grau de probabilidade. (3) A coação absoluta distingue-se da relativa, onde 
aquela representa violência física e esta a moral" (TAPR - Apelação Cível 119464500 - Rel. Juiz 
Lauro Augusto Fabrício de Melo - Câmara Cível - j. 15-6-98 - Ac. 8005 - 14-8-98).
"Declaratória - Ato jurídico - Anulação - Nota promissória - Emissão - Autor - Coação 
física - Ocorrência - Alegação - Comprovação - Inocorrência - Título - Regularidade - Caracterização 
anulação de ato jurídico - Compra e venda de veículos título executivo - Nota promissória - Alegação 
de emissão sob coação absoluta - Ausência de prova apelação improvida.
1) O Art. 98, do Código Civil, estabelece que a coação, para viciar o consenso, deve ser 
capaz de incutir no paciente temor de um dano iminente. O dano receado deve ser atual e 
inevitável, pois a ameaça de um mal impossível, remoto ou evitável, não constitui coação capaz de 
viciar o ato.
2) A certeza jurídica não se confunde com a certeza metafísica, matemática, mas não 
se firma quando não induz a um elevado grau de probabilidade.
3) A coação absoluta distingue-se da relativa, onde aquela representa violência física e, 
esta a moral. Legislação: Art. 333, I CPC, Art. 98 CC" (TAPR - Ap. Cível 119464500, 15-6-99, 7a 
Câmara Cível - Rel. Juiz Lauro Cardoso Fabrício de Melo).
"Coação - Inexistência - Falta de preenchimento dos requisitos dos artigos 98 e 99 do 
Código Civil - Embargos rejeitados" (TJSP - EI 223.907-5, 7-5-2002, 2aCâmara de Direito Público - 
Rel. Alves Bevilacqua).
 
2 - "Embargos do devedor - Execução de título extrajudicial - Instrumento de confissão, 
com garantia hipotecária - Vício de consentimento - Coação - Não-caracterização. Recurso 
desprovido. Visando o credor através dos meios pertinentes alcançar o êxito de receber seu crédito 
junto aos seus devedores, não se considera, nos termos do artigo 100 do Código Civil brasileiro, 
coação, a ameaça do exercício normal de um direito, nem o simples temor reverencial" (TAPR - 
Apelação Cível 64429900 - 2aCâmara Cível - Rel. Juiz Fernando Vidal de Oliveira - j. 23-8-95 - Ac. 
5849 - 22-9-95). Contrato - Coação moral - Ameaça de exercício de suposto direito para obtenção 
de vantagem ilícita - Vício caracterizado - Ato anulado - Embargos rejeitados. Considera-se coação 
capaz de anular negócio jurídico, a ameaça do exercício de suposto direito para obtenção de 
recontratação vantajosa e ilícita" (TJSP - EI 26.267-4, 11-4-2000, 2a Câmara de Direito Privado - 
Rel. Cezar Peluso).
"Execução - Locação - Acordo - Indícios de vício da manifestação da vontade - 
Existência de fundado temor da parte - Coação - Caracterização - Inadmissibilidade. O vício na 
manifestação de vontade pode ser comprovado por todos os meios legais e moralmente legítimos, 
até por indícios e presunções, cabendo ao juiz, inclusive, se valer das máximas da experiência para 
firmar sua convicção" (2o TACSP - Ap. c/ Rev. 645.528-00/6, 5-2-2003, 5a Câmara - Rel. Francisco 
Thomaz).
"Ação declaratória de nulidade de cheque - Embargos do devedor - Julgamento 
simultâneo - Desnecessidade - Ausência conexão - Coação - Inexistência em face de ameaça do 
exercício normal de um direito - Recurso não provido. - Não se considera coação a ameaça do 
exercício normal de um direito (CC., art. 100). - Diante da literalidade e autonomia do cheque, o 
portador nada tem que provar a respeito de sua origem. Ao devedor é que, suscitada a discussão do 
negócio subjacente, cumpre o encargo de provar que o título não tem causa ou que sua causa é 
ilegítima, devendo, outrossim, fazê-lo por meio de prova robusta, cabal e convincente, porquanto, 
ainda na dúvida, o que prevalece é a presunção legal da legitimidade do título cambiário" (TAMG - 
Acórdão 0310727-5, 15-6-2000, 7a Câmara Cível - Rel. Lauro Bracarense).
 
3 - "Casamento - Pedido de anulação julgado improcedente, porque o temor 
reverencial, por si só, não importa em coação. Recurso extraordinário não conhecido, por não 
configurado o dissídio de jurisprudência" (STF - RE 78286, Rel. Min. Oswaldo Trigueiro, 30-4-74). 
"Anulação de casamento - Coação paterna - Vício de consentimento não caracterizado. A simples 
ameaça de dano a quem teve oportunidade de avaliar as conseqüências de seus atos anteriores 
não se confunde com a coação por temor reverencial que justifica a anulação de casamento. 
Provimento da remessa necessária" (TJPR - Reexame Necessário 3839, 4a Câmara Cível, Rel. Des. 
Marino Braga, 12-8-85).
"Ação ordinária de nulidade de duplicata. Cautelar de sustação de protesto. 
Improcedência. Honorários advocatícios. - Improcede o pedido de nulidade de duplicata, se do 
conjunto probatório ressai a efetiva existência do débito, com o qual, inclusive, concordou, 
tacitamente, o devedor. - A ameaça, fundada em exercício normal de um direito da parte, não 
constitui coação, ex vi do artigo 100 do CC. - Os honorários de sucumbência são devidos tanto na 
lide cautelar quanto na principal, porquanto trata-se de ações distintas e autônomas" (TAMG - 
Acórdão 0301810-6, 3-10-2000, 1a Câmara Cível - Rel. Silas Vieira).
 
4 - "Contrato - Prestação de serviços - Assistência médico-hospitalar - Avença firmada 
por pessoaque levou paciente em estado grave para tratamento e posterior internação - Contrato 
previamente redigido onde ele assumiu responsabilidade pelas despesas - Convenção, todavia, 
celebrada em estado de perigo, situação de constrangimento a qual devem ser aplicados os 
princípios da coação - Cobrança improcedente - Recurso improvido" (1o TACSP - Ap. Cível 
0768980-7, 5-8-98, 12a Câmara Cível - Rel. Campos Mello).
"Contrato - Prestação de serviços - Assistência médica - Emissão de cheque em 
caução, para assegurar internação hospitalar de parente em grave estado de saúde - Pretensão à 
cobrança do respectivo título - Inadmissibilidade - Invalidade da obrigação assumida em estado de 
perigo reconhecida - Aplicação dos princípios que regem a situação de coação - Anulatória 
procedente - Recurso parcialmente provido para esse fim. Dano moral - Devolução de cheque por 
falta de fundos - Inocorrência de prejuízo, diante da ausência de reflexos extrapatrimoniais - 
Circunstância, ademais, em que o título não foi protestado, nem mesmo foi intentada ação de 
cobrança - Recurso improvido" (1o TACSP - Ap. 0833355-7, 26-3-2002, 12a Câmara - Rel. Campos 
Mello).
"Honorários profissionais - Médico - Cobrança - Contrato - Ausência - Atendimento de 
emergência no hospital - Profissional vinculado ao SUS - Estado de perigo - Pretensão de 
recebimento como particular - Descabimento - Limitação ao valor do SUS - Necessidade. Não tendo 
os honorários sido contratados e a autorização de procedimentos médicos sido dada em estado de 
perigo, o devedor deve ser condenado a pagar, somente, aquilo que o médico receberia de entidade 
pública" (2o TACSP - Ap. s/ Rev. 597.896-00/8, 20-12-2000, 10a Câmara - Rel. Nestor Duarte). 
 
5 - "Embargos do devedor - Execução de título extrajudicial - Instrumento de confissão, 
com garantia hipotecária - Vício de consentimento - Coação - Não-caracterização. Recurso 
desprovido. Visando o credor através dos meios pertinentes alcançar o êxito de receber seu crédito 
junto aos seus devedores, não se considera, nos termos do artigo 100 do Código Civil brasileiro, 
coação, a ameaça do exercício normal de um direito, nem o simples temor reverencial" (TAPR - 
Apelação Cível 64429900 - 2aCâmara Cível - Rel. Juiz Fernando Vidal de Oliveira - j. 23-8-95 - Ac. 
5849 - 22-9-95).
 
6 - "Casamento - Pedido de anulação julgado improcedente, porque o temor 
reverencial, por si só, não importa em coação. Recurso extraordinário não conhecido, por não 
configurado o dissídio de jurisprudência" (STF - RE 78286, Rel. Min. Oswaldo Trigueiro, 30-4-74).
"Anulação de casamento - Coação paterna - Vício de consentimento não caracterizado. 
A simples ameaça de dano a quem teve oportunidade de avaliar as conseqüências de seus atos 
anteriores não se confunde com a coação por temor reverencial que justifica a anulação de 
casamento. Provimento da remessa necessária" (TJPR - Reexame Necessário 3839, 4a Câmara 
Cível, Rel. Des. Marino Braga, 12-8-85).
 
7 - "Contrato - Prestação de serviços - Assistência médico-hospitalar - Avença firmada 
por pessoa que levou paciente em estado grave para tratamento e posterior internação - Contrato 
previamente redigido onde ele assumiu responsabilidade pelas despesas - Convenção, todavia, 
celebrada em estado de perigo, situação de constrangimento a qual devem ser aplicados os 
princípios da coação - Cobrança improcedente - Recurso improvido" (1o TACSP - Ap. Cível 
0768980-7, 5-8-98, 12a Câmara Cível - Rel. Campos Mello).
Conceito de fato jurídico em sentido amplo: fatos jurídicos seriam os acontecimentos, previstos em norma 
de direito, em razão dos quais nascem, se modificam, subsistem e se extinguem as relações jurídicas; 
para Savigny, são os acontecimentos em virtude dos quais as relações nascem e se extinguem; pode ser 
natural ou humano.
Fato natural: advém de fenômeno natural, sem intervenção da vontade humana, que produz efeito jurídico; 
esse evento natural consiste no fato jurídico stricto sensu, que se apresenta ora como ordinário 
(nascimento, decurso do tempo, etc) ou extraordinário (caso fortuito, força maior).
Fato humano: é o acontecimento que depende da vontade humana, abrangendo tanto os atos lícitos como 
ilícitos; pode ser voluntário, se produzir efeitos jurídicos queridos pelo agente, caso que se tem o ato 
jurídico em sentido amplo (abrande o ato em sentido estrito e o negócio jurídico); e involuntário, se 
acarretar conseqüências jurídicas alheias à vontade do agente, hipótese em que se configura o ato ilícito, 
que produz efeitos previstos em norma jurídica, como sanção, porque viola mandamento normativo.
Aquisição de direitos: aquisição de um direito é a sua conjunção com seu titular; no âmbito patrimonial são 
2 os modos de aquisição: o ordinário, se o direito nascer no momento em que o titular se apropria do bem 
de maneira direta, sem interposição ou transferência de outra pessoa; o derivado, se houver transmissão 
do direito de propriedade de uma pessoa a outra, existindo uma relação jurídica entre a anterior e o atual 
titular.
A aquisição pode ser ainda, gratuita, se não houver qualquer contraprestação, e onerosa, quando o 
patrimônio do adquirente enriquece em razão de uma contraprestação; levando-se em consideração a 
maneira como se processa, temos: aquisição a título universal, se o adquirente substitui o seu antecessor 
na totalidade de seus direitos ou numa quota ideal deles, e aquisição a título singular, quando se adquire 
uma ou várias coisas determinadas, apenas no que concerne aos direitos, como sucede o legatário, que 
herda coisa individuada.
Quanto ao processo formativo, pode ser: simples, se o fato gerador da relação jurídica consistir num só 
ato, ou complexa, se for necessário a intercorrência simultânea ou sucessiva de mais de um fato, por 
exemplo, o usucapião que requer posse prolongada, lapso temporal, inércia do titular e em certas 
hipóteses justo título e boa-fé.
Normas legais sobre a aquisição de direitos: adquirem-se direitos mediante ato adquirente ou por 
intermédio de outrem; pode uma pessoa adquiri-los para si, ou para terceiros; dizem-se atuais os direitos 
completamente adquiridos, e futuros os cuja aquisição não se acabou de operar.
Expectativa de direito: é uma mera possibilidade ou esperança de adquirir um direito.
Direito eventual: ocorre se houver interesse, ainda que incompleto, pela falta de um elemento básico 
protegido por norma jurídica.
Direito condicional: é o que se perfaz pelo advento de um acontecimento futuro e incerto, de modo que o 
seu titular só o adquire se sobrevier a condição.
Modificação dos direitos: tem-se modificação objetiva quando atingir a qualidade ou quantidade do objeto 
ou conteúdo da relação jurídica; qualitativa será a modificação quando o conteúdo do direito se converte 
em outra espécie; há uma modificação na natureza do direito creditório, sem quaisquer alterações no 
crédito; será quantitativa a modificação se o seu objeto aumentar ou diminuir no volume, sem aumentar a 
qualidade do direito, em virtude de fato jurídico stricto sensu; a modificação subjetiva é a pertinente ao 
titular, subsistindo a relação jurídica, hipótese em que se pode ter a substituição do sujeito de direito inter 
vivos ou causa mortis.
Defesa dos direitos: para resguardar seus direitos, o titular deve praticar atos conservatórios como o 
protesto, retenção, arresto, seqüestro, caução fideijussória ou real, interpelações judiciais para constituir 
devedor em mora, quando esta não resulta de cláusula expressa na convenção ou de termo estipulado 
com esse escopo de notificação extrajudicial; quando sofrer ameaça ou violação, o direito subjetivo é 
protegido por ação judicial; o titular também está provido de instrumentos de defesa preventiva, para 
impedir a violação de seu direito, que poder ser extrajudicial (arras, fiança, etc) ou judicial (interdito 
proibitório, açãode dano infecto, etc.); esta prevista também a autodefesa, em que a pessoa lesada, 
empregando força física, se defende usando meios moderados, mediante agressão atual e iminente, sem 
recorrer ao Judiciário.
Extinção dos direitos: extinguem-se quando ocorrer:
a) perecimento do objeto sobre o qual recaem se ele perder suas qualidades essenciais ou o valor 
econômico; se se confundir com outro de modo que não se possa distinguir; se cair em lugar onde não 
pode mais ser retirado;
b) alienação, que é o ato de transferir o objeto de um patrimônio a outro, havendo perda do direito para o 
antigo titular;
c) renúncia, que é o ato jurídico pelo qual o titular de um direito dele se despoja, sem transferi-lo a quem 
quer que seja, sendo renunciáveis os direitos atinentes ao interesse privado de seu titular, salvo proibição 
legal;
d) abandono, que é a intenção do titular de se desfazer da coisa;
e) falecimento do titular, sendo o direito personalissímo e por isso intransmissível;
f) prescrição, que extinguindo a ação faz com que o direito desapareça pela ausência da tutela jurídica;
g) decadência, que atinge o próprio direito;
h) confusão, quando numa só pessoa se reúnem as qualidades de credor e de devedor;
i) implemento de condição resolutiva;
j) escoamento do prazo, se a relação jurídica for constituída a termo;
k) perempção da instância ou do processo, ficando ileso o direito de ação;
l) aparecimento de direito incompatível com o direito atualmente existente e que o suplanta.
Conceito: é o poder de auto-regulação dos interesses que contém a enunciação de um preceito, 
independentemente do querer interno.
Os negócios jurídicos: classificam-se:
1) quanto as vantagens que produz, em gratuitos e onerosos;
2) quanto às formalidades, em solenes e não solenes;
3) quanto ao conteúdo, em patrimoniais e extrapatrimoniais;
4) quanto à manifestação de vontade, em unilaterais e bilaterais;
5) quanto ao tempo em que produzem efeitos, em inter vivos e causa mortis;
6) quanto aos seus efeitos, em constitutivos, se sua eficácia operar-se ex nunc, ou seja, a partir do 
momento da conclusão (compra e venda, por exemplo), e declarativos, em que a eficácia é ex tunc, ou 
melhor, só se efetiva a partir do momento em que se operou o fato a que se vincula a declaração de 
vontade (divisão de condomínio, partilha);
7) quanto à sua existência, em principais e acessórios;
8) quanto ao exercício dos direitos, em negócios de disposição e de simples administração.
Interpretação do negócio jurídico: pode ser: declaratória, se tiver por escopo expressar a intenção dos 
interessados; integrativa, se pretender preencher lacunas contidas no negócio, por meio de normas 
supletivas, costumes, etc; construtiva, se objetivar reconstruir o ato negocial com o intuito de salvá-lo.
Normas interpretativas: o Código Civil possui as seguintes: a) nas declarações de vontade atender-se-á 
mais a sua intenção do que ao sentido literal da linguagem; b) a transação interpreta-se restritivamente; c) 
a fiança dar-se-á por escrito e não admite interpretação extensiva; d) os contratos benéficos interpretar-se-
ão estritamente; e) quando a cláusula testamentária for suscetível de interpretações diferentes, 
prevalecerá a que melhor assegure a observância da vontade do testador.
A doutrina e a jurisprudência têm entendido em matéria interpretativa que: a) em relação aos contratos 
deve-se ater à boa fé, às necessidades de crédito e a equidade; b) nos contratos que tiverem palavras que 
admitam 2 sentidos, deve-se preferir o que mais convier a sua natureza; c) nos contratos de compra e 
venda, no que concerne à extensão do bem alienado, deve-se interpretar em favor do comprador; d) no 
caso de ambigüidade, interpreta-se de conformidade com o costume do país; e) na interpretação 
contratual considerar-se-ão as normas jurídicas correspondentes; f) nas estipulações obrigacionais dever-
se-á interpretar do modo menos oneroso para o devedor; g) no conflito entre 2 cláusulas a antinomia 
prejudicará o outorgante e não o outorgado; h) na cláusula suscetível de 2 significados, interpretar-se-á 
em atenção ao que poder ser exeqüível; i) nas cláusulas duvidosas, prevalecerá o entendimento de que 
se deve favorecer quem se obriga.
Os elementos constitutivos abrangem: os elementos essenciais, imprescindíveis à existência do ato 
negocial, pois forma sua substância, podem ser gerais e particulares; os naturais, que são efeitos 
decorrentes do negócio jurídico, sem que seja necessário qualquer menção expressa, pois a própria 
norma jurídica já lhe determina quais são essas conseqüências jurídicas; os acidentais, que são 
estipulações ou cláusulas acessórias que as partes podem adicionar em seus negócios para modificar 
uma ou algumas de suas conseqüências naturais, como condição, modo, encargo e o termo.
Capacidade do agente: se todo negócio jurídico pressupõe uma declaração de vontade, a capacidade do 
agente é indispensável à sua participação válida na seara jurídica; a capacidade especial ou legitimação 
distingue-se da capacidade geral das partes, para a validez do negócio jurídico, pois para que ele seja 
perfeito não basta que o agente seja plenamente capaz; é imprescindível que seja parte legítima, isto é, 
tenha competência para praticá-lo, dada a sua posição em relação a certos interesses jurídicos; sua falta 
pode tornar o negócio nulo ou anulável; a legitimação depende da particular relação do sujeito com o 
objeto do ato negocial.
Objeto lícito e possível: para que o negócio se repute perfeito e válido deverá versar sobre objeto lícito, 
conforme a lei; além de lícito deve ser possível, física ou juridicamente, o objeto do ato negocial.
Consentimento: é a anuência válida do sujeito a respeito do entabulamento de uma relação jurídica sobre 
determinado objeto; pode ser ele expresso ou tácito desde que o negócio, por sua natureza ou disposição 
legal, não exija forma expressa.
ntrodução
O escopo deste ensaio tem por mira a exegese dos arts. 106 a 113 do CC. Não obstante, 
mister se faz que discorramos, brevemente, sobre Defeitos do Negócio Jurídico, para depois então 
adentrarmos no tema ora proposto, qual seja, Da Fraude contra Credores.
Sabemos, pois, que a vontade constitui o substrato para a plena satisfação do ato jurídico 
(1), de sorte que, de forma alguma poderá ela [vontade] ser ferida, mal-entendida ou contrariada. 
Destarte, podemos inferir que em qualquer situação onde a vontade não se apresentou de forma 
clara e precisa, entende-se que o ato apresenta um defeito ou vício, acarretador de sua ineficácia. 
Nesse sentido, elucidativo é o art. 147 do CC. quando prescreve ser anulável o ato jurídico por 
vício resultante de erro ou ignorância, dolo, coação, simulação e fraude contra credores. 
Consignemos, desde já, que os três primeiros são defeitos da vontade, enquanto os dois últimos 
são defeitos sociais.
É no âmbito dos defeitos sociais, em especial no que concerne a fraude contra credores, 
que trataremos daqui por diante. Por defeitos sociais, na acepção da palavra, o insigne jurista 
Carlos Roberto Gonçalves assevera que os vícios sociais "não conduzem a um descompasso entre 
o íntimo querer do agente e a sua declaração. A vontade manifestada corresponde exatamente ao 
seu desejo. Mas é exteriorizada com a intenção de prejudicar terceiros ou de fraudar a lei." (Direito 
Civil – Parte Geral, vol I. São Paulo, Ed. Saraiva, 1997, p. 98). Nesse mesmo diapasão, o Prof. Décio 
Moreira enuncia que os defeitos sociais são aqueles onde "a manifestação não está envolvida com 
aquele determinado ato, tratando-se de mero ‘pano de fundo’, pois sua real vontade é outra 
diferente daquela." (Elementos de Direito Civil – Parte Geral. São Paulo, Ed. RT, 1983, p. 80). 
Acrescente-se, ainda, o que nos ensina a ilustre Maria H. Diniz: "O ato negocialapenas produzirá 
efeitos jurídicos se a declaração de vontade das partes houver funcionado normalmente. Se 
inexistir correspondência entre a vontade declarada e a que o agente quer exteriorizar, o negócio 
jurídico será viciado ou deturpado, tornando-se anulável ..." (Código Civil anotado. São Paulo, Ed. 
Saraiva, 3ª. ed., 1997, p. 109).
Textos relacionados
 A violência doméstica e familiar contra a mulher e o sequestro internacional de crianças. 
Estudos de casos e medidas urgentes
 Responsabilidade civil pela violação do princípio da boa-fé nos negócios jurídicos 
dissimulados
 Ética do notário no desempenho de suas funções 
 A Lei nº 11.924/2009 e seus reflexos na árvore genealógica familiar 
 Serviços notariais gratuitos criados sem previsão da correspondente fonte de custeio: 
inconstitucionalidade
Fraude contra Credores
De pronto, cabe não confundirmos fraude contracredores com fraude de execução. Esta 
diferencia-se daquela precipuamente porque encontra-se estribada no art. 593, II do CPC(2), 
portanto, de caráter processual, uma lesão ao Direito Público. Noutro sentido, diametralmente 
oposto, a fraude contra credoresencontra-se sob a égide do Código Civil, por conseguinte, do 
Direito Privado. Em outros termos, cumpre não confundir a fraude contra credores comfraude de 
execução, conquanto na primeira, são atingidos apenas interesses privados dos credores ( arts. 
106 e 107 do CC.), na segunda, o ato do devedor executado, viola a propriedade, atividade 
jurisdicional do Estado ( art. 593, do CPC.). Ademais, na lição de Washington de Barros Monteiro, 
"A fraude contracredores, uma vez reconhecida, aproveita a todos oscredores; a fraude de 
execução aproveita apenas ao exeqüente."( Curso de Direito Civil. São Paulo, Saraiva, 1977, 15ª 
ed., 1º vol, p. 222).
Ecoam as palavras do preclaro e saudoso mestre Clóvis Beviláqua, mormente quando 
trazemos à colação seu lapidar ensinamento, em sua clássica obra (Código Civil Comentado, vol. I. 
Rio de Janeiro, Livraria Francisco Alves, 1916, p.386), "Fraude, no sentido em que o termo é 
empregado pelo Código Civil nesta seção, é todo ato prejudicial ao credor (eventus damni), por 
tornar o devedor insolvente(3) ou ter sido praticado em estado de insolvência.
Não exige o Código o requisito da má fé (consilium fraudis), que, aliás, ordinariamente, se 
presume, porém que não é essencial para determinar a fraude e tornar anulável o ato.". 
Concluímos, pois, que o elemento imprescindível para caracterizar a fraude contra credores é 
o eventus damni, elemento este objetivo. Por seu turno, o elemento subjetivo da fraude é 
o consilum fraudis, ou seja, a má fé, ou ainda, a consciência deliberada de causar prejuízo aos 
seus credores.
Nesse mesmo diapasão, o eminente jurista Levenhagen consigna 
que fraude contra credores é aquela onde se usa um "artifício malicioso visando prejudicar 
terceiros." (Código Civil – Parte Geral, vol. I. São Paulo, Ed. Atlas, 1985, p. 139).
Análise pragmática
 Art. 106. Os atos de transmissão gratuita de bens, ou remissão de dívida, quando os 
pratique o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, poderão ser anulados 
pelos credoresquirografários como lesivos dos seus direitos (art. 109).
Parágrafo único. Só os credores, que já o eram ao tempo desses atos, podem pleitear-lhes 
a anulação.
O artigo em tela visa proteger os credores quirografários (4) não só da transmissão 
onerosa de bens (art. 107 do CC.) feita pelo devedor insolvente, como também da gratuita (ex.: 
doação) e da remissão de dívida (perdão) colimando a frustrar seus os interesses.
Dispõe o parágrafo único do art. 106 do CC., ao tratar da legitimidade ativa para a 
proprositura da ação pauliana, conduzente à desconstituição dos contratos efetivados, que "só 
os credores, que já o eram ao tempo desses atos, podem pleitear-lhes a anulação". Além desse 
fato, outro requisito para prosperar o pedido de revogação é ser o crédito anterior ao ato tido como 
fraudulento e praticado pelo devedor. Ora, o crédito precisa a existir no momento do ato de 
disposição dos bens, não se confundindo com seu reconhecimento judicial. Lauro Laertes de 
Oliveira, em sua obra (Da ação pauliana. Ed. Saraiva, 1979, p. 83), ensina que: "fundamenta-se tal 
disposição no melhor bom senso, pois inadmissível aceitar que um credor posterior ao ato 
praticado pelo devedor venha tentar revogá-lo, sob a alegação de fraude contra credores. Se o 
autor não era sequer credor na época da realização do ato, não pode ter interesse e legitimidade 
para impugná-lo, sob a alegação de fraude e danos, pois o bem alienado (uma hipótese), quando 
ele se tornou credor, não fazia mais parte do patrimônio do devedor e assim não se constituía em 
garantia para o recebimento de seu crédito".
O emérito mestre Humberto Theodoro Júnior nos ensina que: "Um dos atributos do direito 
de propriedade é o poder de disposição assegurado ao titular do domínio. Mas o patrimônio do 
devedor é garantia geral de seus credores; e, por isso, a disponibilidade só pode ser exercitada até 
onde não lese a segurança dos credores" (In Processo de Execução. São Paulo, LEUD, 2ª ed., 1975, 
p. 118).
 Art. 107. Serão igualmente anuláveis os contratos onerosos do devedor insolvente, 
quando a insolvência for notória, ou houver motivo para ser conhecida do outro contraente.
O art. 107, do Código Civil, proclama que, ao lado das hipóteses de transmissão gratuita 
previstas no art. 106, serão igualmente anuláveis os contratos onerosos do devedor insolvente, 
quando a insolvência for notória, ou houver motivo para ser conhecida do outro contratante.
Maria H. Diniz, no tocante a notoriedade da insolvência, nos leciona que: "Será notória a 
insolvência de certo devedor se for tal estado do conhecimento geral. (...) por exemplo, será 
notória a insolvência se o devedor tiver seus títulos protestados ou ações judiciais que impliquem 
a vinculação de seus bens." (Código Civil anotado. São Paulo, Ed. Saraiva, 3ª ed., 1997, p. 128). No 
bojo desta análise recorremos, ainda, aos ensinamentos de Limongi França: "À insolvência notória 
equipara-se aquela em que haja motivo para ser conhecida de outro contraente. Trata-se, 
evidentemente, de uma questão de fato, que ao juiz, diante de cada caso, competirá destrinçar." 
(Instituições de Direito Civil, São Paulo, Ed. Saraiva, 4ª. ed., 1996, p. 172).
Por derradeiro, Clóvis Beviláqua nos esclarece que: "Para a anulabilidade dos contractos 
onerosos, não basta a insolvência do devedor; é necessário mais que esse estado seja conhecido 
da outra partecontratante, por ser notório, ou porque tenha esta motivo de conhecer." (Código Civil 
Comentado, vol. I. Rio de Janeiro, Livraria Francisco Alves, 1916, p. 388).
 Art. 108. Se o adquirente dos bens do devedor insolvente ainda não tiver pago o 
preço e este for, aproximadamente, o corrente, desobrigar-se-á depositando-o em juízo, com 
citação edital de todos os interessados.
Para aclarar o art. supra, recorremos aos ensinamentos do eminente jurista Silvio 
Rodrigues, que faz alusão a fraude ainda não ultimada: "Se o preço for o corrente e se o 
comprador que ainda não o pagou deposita-o em juízo, cessa o interesse dos credores, que, por 
conseguinte, perdem a legitimação ativa para propor a ação pauliana." (Direito Civil, vol. I. São 
Paulo, Ed. Saraiva, 27ª ed., 1997, p. 234). Outrossim, é o entendimento de Clóvis Beviláqua quando 
assevera que, nesta hipótese, é manifesta a boa fé do adquirente. Todavia, se o preço da aquisição 
não for o corrente, pode-se supor que o adquirenteagiu com malícia, o que suscitará, por parte 
dos credores, reclamar a restituição da coisa vendida ou o preço real dela, ao tempo da alienação.
Em última análise, bastante elucidativo é o exemplo dado por Levenhagen em sua 
respeitável obra (Código Civil – Parte Geral, vol. I. São Paulo, Ed. Atlas, 1985, p. 143), v.g.: " 
comprador dos bens do insolvente, que ainda não tenha pago o preço, vem a cientificar-se da 
situação financeira do vendedor. Poderá obstar o ajuizamento da ação pauliana e evitar a anulação 
do contrato, depositando em juízo a respectiva importância e citando, por edital, todos 
os credores". Por certo, o edital tem o escopo de facultar a qualquer credor interessado contestar 
o valor depositado em juízo. Daí defluem duas hipóteses. A primeira; Se constatado que o preço do 
bem não for o corrente, e sim um preço vil, o Juiz determinará o levantamento do depósito, 
facultando, assim, a propositura da ação pauliana por parte dos credores. A Segunda, em caso 
contrário, o contrato não será anulado.
Podemos consubstanciar o acima exposto no princípio da boa fé do adquirente, 
diferentemente do que pudemos observar nos art. 106 e 107 do CC., pois aí vêm à tona a má fé do 
adquirente.
 Art. 109. A ação, nos casos dos arts. 106 e 107, poderá ser intentada contra o 
devedor insolvente, a pessoa que com ele celebrou a estipulação considerada fraudulenta, ou 
terceiros adquirentes que hajam procedido de má fé.
A ação que se faz alusão é a ação pauliana ou revocatória, que tem como fito a revogação 
do ato lesivo aos interesses dos credores, restaurando, com isso, o patrimônio do devedor e, por 
ilação, a garantia dos credores.
O artigo 109 do aludido diploma legal, está a exigir um litisconsórcio passivo necessário, 
pois, sem embargo da doutrina em contrário, a fraude contra credores visa, em essência, a 
anulabilidade do ato, isto é, a desconstituição do próprio negócio impugnado.
Desse modo, apesar de estar incluído o verbo "poder" no artigo 109 do Código Civil 
("poderá"), este, afastada a sua interpretação literal, há de ser substituído pelo verbo "dever" 
("deverá"), de modo também a se harmonizar - dentro de interpretação lógico-extensiva - ao artigo 
47 do CPC, em conformidade com a doutrina do eminente processualista Arruda Alvim (Manual de 
Direito Processual Civil. São Paulo, Ed. RT, 1995, vol. ll, p. 59), que preconiza estar a impor o 
litisconsórcio necessário havendo disposição de lei, "quer processual, quer material". Mister se faz 
o litisconsórcio para a execução da sentença, sendo "conditio sine qua non" também a inclusão do 
devedor alienante, para que esta possa produzir efeito contra todos os partícipes do ato de 
disposição do bem.
Ademais, estabelece o art. 109 do CC.: "A ação, nos casos dos arts. 106 e 107, poderá ser 
intentadacontra o devedor insolvente, a pessoa que com ele celebrou a estipulação considerada 
fraudulenta, ou terceiros adquirentes que hajam procedido de má-fé".
De acordo com Washington de Barros Monteiro, "A ação não pode ser ajuizada 
exclusivamentecontra o devedor insolvente, mesmo porque a eventual execução da sentença terá 
de ser dirigida contra o adquirente, detentor da coisa. Assim, sob pena de nulidade ab initio, deve 
ser ela promovida não só contrao devedor, como também contra a pessoa que com ele celebrou a 
estipulação considerada fraudulenta. Se o objeto alienado pelo devedor já foi transmitido a um sub 
adquirente, deverá ser este igualmente citado; nesse caso, porém, para que vingue a ação contra o 
último, preciso será que deste se prove má fé". (Curso de Direito Civil. São Paulo, Saraiva, 1977, 
15ª ed., 1º vol, págs. 221/222).
 Art. 110. O credor quirografário, que receber do devedor insolvente o pagamento da 
dívida ainda não vencida, ficará obrigado a repor em proveito do acervo sobre que se tenha de 
efetuar o concurso de credores, aquilo que recebeu.
De pronto, urge salientarmos que, obviamente, não constitui fraude contra credores em se 
tratando de dívida já vencida, visto que não há má fé por parte do credor. Indubitavelmente, não 
caberá ação pauliana. Da mesma forma, improcedente será a ação pauliana intentada se o 
pagamento da dívida for a credor privilegiado, salvo se o pagamento antecipado superar o valor do 
bem dado em garantia.
O art. em estudo visa garantir, no concurso creditório, a maior igualdade possível entre 
os credoresquirografários (aqueles sem garantias reais). Decerto, estamos aqui fazendo alusão ao 
fato de que "o pagamento antecipado de dívida frusta aquela igualdade, acima aludida, entre os 
quirografários" (Direito Civil, vol. I. São Paulo, Ed. Saraiva, 27ª ed., 1997, p. 234). Outrossim, como 
bem observa Limongi França: "Em tal hipótese, o recipiendário deve repor a quantia que recebeu 
em proveito do acervo que será objeto doconcursum creditorum." (Instituições de Direito Civil, São 
Paulo, Ed. Saraiva, 4ª. ed., 1996, p. 173).
Em última instância, completamos asseverando que a devolução não será apenas em 
proveito daqueles que o acionaram, senão em benefício do acervo do devedor, o que se traduz em 
benefício de todos os credores que legalmente estiverem habilitados no concurso creditório (5).
 Art. 111. Presumem-se fraudatórias dos direitos dos outros credores as garantias de 
dívidas que o devedor insolvente tiver dado a algum credor.
No caso previsto quis o legislador vedar, caracterizada a insolvência do devedor, a 
possibilidade deste em dar garantias reais de dívidas a determinado credor. Frise-se que tais 
garantias são as reais. Nesse sentido, pouco importa tratar-se de dívida vencida ou não, pois, o 
que se quer é justamente pôr a salvo a igualdade entre os credores. Não se pode olvidar, por 
óbvio, que "Se tal garantia for dada antes da insolvência do devedor, não há que se falar 
em fraude contra credores." (Código Civil anotado. São Paulo, Ed. Saraiva, 3ª. ed., 1997, p. 131).
Consentâneo ressaltarmos que o credor quirografário beneficiado com a outorga de 
garantia real e, portanto, elevado a grau privilegiado ante aos demais credores, perde unicamente 
"a preferência concedida a um dos credores e não o crédito do qual é titular." (Direito Civil, vol. I. 
São Paulo, Ed. Saraiva, 27ª ed., 1997, p. 235). Destarte, continua ele, como credor, retornando à 
condição de quirografário.
 Art. 112. Presumem-se porém, de boa fé, e valem, os negócios ordinários 
indispensáveis à manutenção de estabelecimento mercantil, agrícola, ou industrial do devedor.
O célebre jurista A. J. de Souza Levenhagen nos esclarece que: "A presunção prevista no 
artigo em epígrafe justifica-se porque visa preservar o patrimônio do insolvente, o que, em última 
análise, redunda em benefício dos credores." (Código Civil – Parte Geral, vol. I. São Paulo, Ed. 
Atlas, 1985, p. 145).
Abstrai-se deste enunciado o intuito do devedor em garantir o funcionamento do seu 
estabelecimento mercantil, agrícola, ou industrial e, consequentemente evitar o agravamento de 
seu já prejudicado estado de insolvência. Surge aí a seguinte questão: Pode o devedor 
insolvente contrair novos débitos mediante garantia real dada ao novo credor? Nossa resposta 
encontra-se sob a égide do eminente jurisconsulto Silvio Rodrigues: "Tanto isso é verdade que, se 
tais atos forem de caráter ordinário e indispensáveis à manutenção do estabelecimento mercantil, 
agrícola, ou industrial do devedor, a lei não impede que este último atue amplamente na órbita do 
direito, alienando e onerando bens." (Direito Civil, vol. I. São Paulo, Ed. Saraiva, 27ª ed., 1997, p. 
235).
Relevante, também, a observação do mestre Limongi França quando destacaa presunção 
de boa fé. Todavia, a aludida presunção "admite prova em contrário, pois tal pode ser, verbi gratia, 
a alienação simulada do estoque de uma loja, que o seu caráter fraudulento não se pode negar." 
(Instituições de Direito Civil, São Paulo, Ed. Saraiva, 4ª. ed., 1996, p. 174). O que se quis ponderar 
foi justamente a possibilidade do novo credor (fornecedor), em conluio fraudulento com o devedor 
(consilium fraudis), emitir nota fiscal de, por exemplo, R$100 mil e, na verdade, entregar apenas o 
equivalente a R$30 mil. Obviamente que a diferença (R$70 mil) constituir-se-á desvio em prejuízo 
dos demais credores quirografários.
 Art. 113. Anulados os atos fraudulentos a vantagem resultante reverterá em proveito 
do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores.
Parágrafo único. Se os atos revogados tinham por único objeto atribuir direitos 
preferenciais, mediante hipoteca, anticrese ou penhor, sua nulidade importará somente na 
anulação da preferência ajustada.
O art. em questão vem consubstanciar o que a pouco já dissemos, ou seja, "os bens 
alienados voltam ao patrimônio do devedor; as garantias concedidas se aniquilam; e os 
pagamentos antecipados são devolvidos." (Direito Civil, vol. I. São Paulo, Ed. Saraiva, 27ª ed., 1997, 
p. 238).
Em análise ao parágrafo único, observa-se que uma vez anuladas as garantias reais, 
restabelece-se entre os credores a igualdade que a fraude procurava desfazer.
	ntrodução
	Textos relacionados
	Análise pragmática

Outros materiais