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Capítulo 70: anemias nutricionais Definição: redução no volume de hemácias ou na quantidade de hemoglobina sanguínea, considerando as variações de idade, gênero e altitude em relação ao nível do mar. O limite para diferenciar o estado anêmico do normal é de dois desvios padrões abaixo da média esperada para cada faixa etária e sexo. Crianças não brancas tem níveis de Hb em torno de 0,5 g por dl inferiores aos das crianças caucasianas e asiáticas. Segundo a OMS são consideradas anêmicas as crianças com hemoglobina inferior a 11 g por dl no intervalo etário de zero a quatro anos e 11 meses. A anemia pode ser secundária a deficiências nutricionais, a doenças de caráter hereditário, a infecções ou a exposição a determinadas toxinas e medicamentos. Em até um terço das crianças com anemia, a etiologia não é identificada. A anemia nutricional é definida como a situação na qual a concentração de Hb está abaixo do nível de referência devido a deficiência de um ou mais nutrientes essenciais para a hematopoiese normal. O nível normal de Hb pode ser recuperado após a reposição adequada do ou dos nutrientes carentes. A principal causa de anemia nutricional é a deficiência de ferro. A deficiência de folato é causa importante em alguns grupos específicos, como em mulheres grávidas e lactentes alimentados com leite de cabra. Crianças menores 2 anos de idade representam o grupo mais vulnerável para desenvolver anemia, devido á sua alta velocidade de crescimento, que exige grande ingestão de ferro. Em geral é carente na dieta, especialmente nas crianças que vivem em países pobres. Os principais nutrientes hematopoiéticos são o ferro, o folato e a vitamina B12. Existem evidencias de que alguns minerais considerados elementos traço como o cobre, o zinco e outras vitaminas como B2 e B1 são necessários para a hematopoiese. A anemia por deficiência nutricional isolada desses nutrientes é rara. Medidas preventivas para o controle da anemia nutricional tem sido empregadas com o fornecimento dos nutrientes deficientes por meio de suplementos terapêuticos ou de alimentos fortificados. Anemia ferropriva Constitui na verdade, não um sinônimo de deficiência de ferro, mas sim a manifestação mais tardia dessa carência especifica, surgindo quando as reservas orgânicas se esgotam em virtude do balanço orgânico persistentemente negativo entre a oferta e a demanda desse nutriente. Para os lactentes, dada a necessidade mais elevada de ferro, é essencial a acelerada expansão da massa eritrocitária imposta pelo crescimento corpóreo, a dieta supre de forma marginal a demanda. Nessa fase, as perdas sanguíneas gastrointestinais crônicas podem afetar ainda mais o delicado equilíbrio nutricional relativo ao ferro. A combinação desses 3 fatores vai determinar a freqüência, a época de aparecimento e a gravidade da anemia, estando mais sujeitos os seguintes grupos de crianças: Prematuros, neonatos de gestação múltipla e quaisquer RN de baixo peso, dependendo do peso ao nascimento, podem ter sua massa sanguínea total aumentada 6x até 1 ano de vida, sendo improvável que o aporte de ferro seja suprido somente por meio dos alimentos, mesmo os ricos nesse metal. Lactentes nascidos a termo, cuja alimentação seja fundamentalmente baseada no leite não materno - de vaca, cabra e outros - e com ingestão insuficiente de outros alimentos que contenham quantidades adequadas de ferro(carne e leguminosas- feijão, soja e outras). Lactentes a termo alimentados exclusivamente com leite materno após 6 meses de idade. O uso exclusivo do leite humano supre as necessidades de ferro do lactente até aproximadamente o primeiro semestre de vida. Após o sexto mês, há necessidade de oferta de alimentação complementar. Qualquer grupo de crianças com perdas crônicas de sangue causadas por alergia alimentar, inclusive ao leite de vaca, doença diarréica de repetição, parasitoses espoliativas, anormalidades anatômicas do TGI e uso freqüente de ácido salicílico. Adolescente de ambos os sexos, com alimentação inadequada e incapaz, portanto de suprir a demanda aumentada de ferro necessária a expansão da massa eritrocitária. No sexo feminino, acrescentam-se as perdas sanguineas menstruais, significativas devido a irregularidade nos ciclos e na quantidade de sangue perdida. Manifestações precoces da deficiência de ferro podem surgir antes do aparecimento da anemia e incluem: queda na curva de peso, redução da capacidade de atenção, déficits psicomotores, alteração da função imune caracterizada pela inibição da capacidade bactericida dos neutrófilos, aumentando a susceptibilidade á diarréia, a doenças respiratórias e a infecções, com prejuízo também na imunidade celular. A deficiência de ferro pode alterar a neurotransmissão dopaminérgica, com redução do processo de mielinização, o que prejudica as funções cognitivas. Crianças anêmicas apresentam padrão consistente de atraso na aquisição da linguagem, da coordenação de equilíbrio corpóreo e do desenvolvimento motor, que podem persistir após o tratamento. São freqüentes as queixas de perversão do apetite (geofagia, pagofagia), adinamia, irritabilidade e palidez. Deve ficar clara a importância de se colher história alimentar adequada para que seja avaliado o provável aporte alimentar de ferro fornecido pela dieta. Igualmente importante é o detalhamento da possível utilização de compostos ferruginosos, inquirindo sobre a formula farmacêutica utilizada, tempo de uso, dosagem, numero de frascos ou comprimidos já utilizados, horário de administração do medicamento e efeitos colaterais. O exame físico dessas crianças é geralmente normal, exceto pela palidez cutâneo-mucosa e algumas vezes por sopros cardíacos leves e prejuízo no ganho ponderal. Ao avaliar a palidez devem ser considerados as diferenças raciais, a vasoconstrição periférica, a luminosidade do ambiente e a experiência do examinador. Para pesquisa da palidez, a avaliação da região palmar é considerada melhor opção do que a avaliação das conjuntivas, por estar menos sujeita a interferência pelo choro ou pela concomitância com estados gripais. A comparação com as palmas da mão da mãe do paciente ou do próprio examinador tem sido sugerida nos protocolos da OMS. Os achados de papilas linguais hipotróficas, queilose e escleras azuladas são relativamente comuns. Sopros protomesossistólicos, suaves e sem irradiação podem ser explicados pelo estado hiperdinâmico da circulação sanguínea. O baço, de consistência fisiológica, é palpável em cerca de 10% dos pacientes, alcançando 2 a 3 cm do rebordo costal esquerdo. Laboratorialmente, a anemia ferropriva clássica manifesta-se por hipocromia - HCM abaixo de 25 pg - geralmente associada a microcitose- VCM abaixo de 75fl. Podem existir normocitose e normocromia quando a anemia é ainda discreta - niveis de Hb acima de 10g por dl. O RDW, indica o grau de anisocitose da amostra de sangue examinada e sua elevação constitui o sinal mais precoce da deficiência de ferro. Valores do RDW acima de 20% são fortemente sugestivos de anemia ferropriva, enquanto valores entre 15 e 20% podem estar associados as anemias hemolíticas. A contagem de reticulócitos está normal, já que o problema não reside no número de hemácias e sim na sua hemoglobulinização. Quando o grau de anemia é acentuado, o índice reticulocitário pode diminuir. A contagem global e diferencial de leucócitos não se altera. Pode ser observada eosinofilia secundária a alguma parasitose ou processo alérgico associado a espoliação nutricional crônica. A contagem de plaquetas é frequentemente aumentada ,as vezes atingindo níveis de 700.000 a 800.000 - secundária a um efeito inespecífico da eritropoietina que se encontra elevada devido á hipóxia tissular resultante da anemia. No período critico de aparecimento da anemia - entre 6 meses e 2 anos de idade- os valores mínimos de hemoglobina, VCM e de HCM são respectivamente 10,5 g por dl, 70fl e 23pg. Vale lembrar que esses níveis constituem os valores de referencia mais baixos entre todas as faixas etárias, e quando as tabelas de valores de referencia não são consultadas na interpretação dos resultados dos exames, o paciente pode equivocadamente ser considerado anêmico, estando com valores superiores a esses mínimos. Por outro lado, a observação de valores pouco acima dos mínimos, não descarta o diagnóstico de deficiência de ferro. Diante de deficiência alimentar de ferro ou de provável perda intestinal desse elemento, a constatação de anemia microcítica e hipocromica é suficiente para se recomendar o tratamento ferruginoso. Não há um único exame cuja sensibilidade e especificidade para o diagnóstico da deficiência de ferro atinjam níveis próximos de 100%. A ferritina sérica, que reflete o estoque de ferro no organismo, pode elevar-se falsamente se uma criança com deficiência de ferro estiver na vigência de um processo infeccioso, pois se trata de uma das proteínas chamadas de fase aguda. A dosagem isolada do ferro sérico não deve ser feita, visto que os valores em lactentes normais se superpõem, em grande escala aos que se observam em crianças com deficiência de ferro. A determinação concomitante da capacidade total de ligação do ferro pela transferrina(CLF) caracteristicamente aumentada na deficiência de ferro, permite o calculo da porcentagem de saturação em ferro da transferrina,(ferro sérico X 100 CLF) medida essa mais sensível e especifica que a de seus componentes isoladamente. Uma interpretação clinica bastante razoável é considerar valores abaixo de 10 % dessa saturação como indicativos de grande probabilidade de ferropenia; entre 10 e 16 % como resultados duvidosos e acima de 16% como indicativos de ausência da deficiência de ferro. A protoporfirina constitui a ultima etapa na síntese do componente heme e antecede a incorporação do ferro no processo de biossintese da hemoglobina. Na carência de ferro ocorrerá excesso de protoporfirina livre nas células vermelhas. A medida sérica do receptor da transferrina reflete as necessidades teciduais de ferro e seu aumento antecede o aparecimento da anemia nos casos de carência de ferro O exame parasitológico de fezes faz-se necessário quando se suspeita de verminoses capazes de levar a espoliação sanguinea - principalmente necatoríase e esquistossomose. A pesquisa de sangue oculto nas fezes é útil em lactentes com suspeita de hemorragia pelo leite de vaca e nas crianças maiores com suspeita de lesões sangrentas do trato GI. A reposição mineral de ferro é feita por via oral com sulfato ou outro sal ferroso na dosagem diária de 3 mg por quilo de peso ao dia de ferro elemento (20% do peso na formula de sulfato ferroso). O medicamento deve preferencialmente ser administrado em dose única, 30 a 60 minutos antes das refeições ou duas horas após de modo a simplificar a prescrição e aumentar a absorção de ferro. Pode-se administra-lo puro ou misturado com suco de laranja, o que favorece a absorção do ferro pela presença concomitante da vitamina C, considerada até o momento o principal fator que potencializa a absorção do ferro. Caso haja intolerância gástrica ou intestinal, a dose inicial deve ser reduzida e, posteriormente aumentada progressivamente. Deve- se também afastar a possibilidade de verminoses que predispõem a diarréia e que dificultam a tolerância ao ferro. Nas crianças maiores em que os efeitos colaterais gástricos são mais freqüentes, prefere-se já de inicio dividir a dose inicial em duas tomadas. Com um mês de tratamento, a resposta clínica geralmente é obvia, não havendo a necessidade nesse caso de exame laboratorial comprobatório. O tratamento deve ser mantido por 4 a 6 meses, para que as reservas corporais de ferro sejam refeitas. Se a ingestão de fontes alimentares que supram a demanda aumentada de ferro- fígado de animais, carne de gado, soja e feijão, for possível e confiável, a terapêutica ferruginosa com dose total pode limitar-se a 2, 3 meses. Na ausência de resposta terapêutica adequada, deve-se rever rigorosamente a possibilidade de existência de doenças concomitantes que espoliem as reservas corporais de ferro, avaliar a possibilidade de distúrbios de absorção do mineral e principalmente da não adesão ao tratamento. O uso de fatores inibidores da absorção GI do ferro pode prejudicar sensivelmente o tratamento. O fitato, presente nos cereais e sementes de leguminosas, os sais de cálcio e fósforo, encontrados nas proteínas do leite e ovo e os compostos fenólicos, presentes nos chás, achocolatados, cafés e refrigerantes são exemplos de inibidores da absorção dos ferruginosos de administração por via oral. Caso a deficiência de ferro não seja exclusivamente alimentar, é preciso afastar os fatores desencadeantes - tratar verminoses, ferver bem ou substituir o leite de vaca e eliminar outras causas de lesões sangrantes no TGI. A profilaxia da anemia ferropriva adquiriu mais relevância após a demonstração de que a carência de ferro, mesmo nos lactentes cuja concentração de Hb se mostra pouco reduzida pode associar-se a deficiência no desenvolvimento mental e psicomotor. Por determinação do MS, desde 2004 é obrigatória a adição de ferro e ácido fólico ás farinhas de trigo e milho produzidas no Brasil. Do ponto de vista individual, a profilaxia de ferro, segue as seguintes recomendações: Lactentes nascidos a termo, de peso adequado para a idade gestacional, em aleitamento materno exclusivo até os seis meses de idade: a partir do momento em que se iniciar o processo do desmame, administrar 1 mg por kilo por dia de ferro elementar até os 2 anos ; independentemente da condição socioeconômico familiar. Prematuros com baixo peso de 1500g e RN de baixo peso : a partir do 30º dia de vida iniciar 2 mg por kilo por dia de ferro elementar e manter durante todo o primeiro ano de vida. A seguir introduzir o mesmo esquema proposto para crianças nascidas a termo. Prematuros com peso entre 1000 e 1500 g : a partir do 30º dia de vida iniciar 3 mg por kilo por dia de ferro elementar e manter durante todo o primeiro ano de vida; a seguir introduzir o mesmo esquema proposto para crianças nascidas a termo. Prematuros com baixo peso de 1000 g: a partir do 30º dia de vida, iniciar 4 mg por kilo por dia de ferro elementar e manter durante todo o primeiro ano de vida. A seguir introduzir o mesmo esquema proposto para as crianças nascidas a termo. O ferro pode ser oferecido na forma de medicamento ou de algum alimento suplementado com o metal, calculando-se a ingestão total de ferro. Em relação ao grupo de adolescentes, a conduta deve ser individualizada - levando-se em conta o sexo. As meninas tem mais propensão a carência de ferro, e o tipo de alimentação ingerida. Os sais de ferro podem causar alterações nas fezes que de modo geral não chegam a ser graves, mas que constituem sério motivo de preocupação das mães. Deve-se ressaltar que essas alterações de cor e consistência das fezes, raramente representam verdadeira tolerância GI. A substituição do sulfato ferroso por outro tipo de sal de ferro pode ser tentada, embora a resposta seja muito variável de criança para criança. As possíveis alterações no aspecto das fezes devem ser antecipadas pelo profissional da saúde, no momento da prescrição para que não se tornem motivo de ansiedade para a família. As preparações orais de ferro liquidas e mastigáveis podem tingir os dentes ; entretanto, essa condição não é permanente e a limpeza periódica com escova e água é capaz de remover os resíduos de ferro aderidos ao esmalte. O uso do ferro parenteral deve ser reservado para casos específicos e raros de intolerância GI ou casos de distúrbios da absorção. A transfusão de concentradode hemácias, deve ser indicada apenas em casos de descompensação hemodinâmica e risco iminente de morte. Anemia megaloblástica O folato e a vitamina B12 são essenciais na síntese do DNA e a deficiência dessas vitaminas, de forma isolada ou concomitante pode causar alterações na multiplicação celular, além de alterações morfológicas nas células hematopoiéticas e na maioria das células em divisão. A anemia megaloblástica é classificada como macrocítica e os precursores das células vermelhas anormais na medula óssea são denominados megaloblastos. Na eventualidade da associação da deficiência de ferro com a deficiência de folato e ou vitamina B12, a anemia pode ser normocítica. Outras causas de macrocitose: síndromes mielodisplásicas, aplasias adquiridas ou congênitas, leucemias, hepatopatias, hipotireoidismo e situações fisiológicas (gravidez, período neonatal). O alcoolismo assume importante papel entre os adultos, como causa de megaloblastose.Na deficiência mínima ou subclínica de folato e ou vitamina B12 pode existir macrocitose, sem anemia. Neutrófilos hipersegmentados podem ser observados, embora também possa ocorrer na insuficiência renal, na deficiência de ferro, ou como traço familiar. A observação concomitante de macrocitose e de neutrófilos hipersegmentados é patognomônica de anemia megaloblástica. Durante a vida intrauterina, a carência das vitaminas B12 ou folato pode interromper o desenvolvimento do embrião e do feto, além de prejudicar o desenvolvimento cognitivo e aumentar o risco de anomalias do tubo neural. Deficiência de vitamina B12 Verifica-se na sua deficiência, diminuição da síntese de DNA, com redução da capacidade de divisão das células da medula óssea. É obtida exclusivamente de fontes nutricionais de origem animal - carne, ovos, leite. Nos seres humanos, a reserva de vitamina B12 é maior do que as necesidades diárias e por isso, as manifestações da carência desse nutriente ocorrem somente após 2 a 8 anos de ingestão ou absorção insuficiente. Ingestões diárias: 2,4 ug para adultos; 2,6 para gestantes e 2,8 para lactantes. Crianças: 0,4 a 1.8 conforme a idade e para adolescentes, 2.4. A reserva hepática de vitamina B12 no RN (25 g) é suficiente para o primeiro ano de vida, embora esse estoque possa menor em crianças filhas de mães com carência da vitamina. Na infância, a carência é geralmente secundaria a deficiência materna no período de lactação, em mães moderadamente vegetarianas ou vegetarianas estritas. Nos pré-escolares até a deficiência: Pode estar associado a doenças auto-imunes como tireoidite de Hashimoto e anemia perniciosa. Outras causas incluem: infecção por H. pylori, supercrescimento bacteriano intestinal, doença de Crohn, uso prolongado de antiácidos, insuficiência pancreática e a deficiência de transcobalamina II. Outras situações que podem levar a deficiência de B12 são a gravidez e a cirurgia bariátrica em adultos. A despeito de todas essas possíveis causas, as mais freqüentes são: ingestão suficiente, má absorção devido a hipo ou acloridria ou á deficiência de fator intrínseco. Anemia perniciosa congênita: doença rara, autossômica recessiva, caracterizada pela falta de fator intrínseco. Na anemia perniciosa adquirida, há autoanticorpos contra o FI ou contra as células parietais. As manifestações clinicas da deficiência de vitamina B12 incluem sinais e sintomas decorrentes da anemia, das alterações GI ou das lesões neurológicas secundarias a desmielinização. A criança apresenta cansaço, palidez acentuada, glossite, ardor lingual, atraso no desenvolvimento NPM, parestesias, dificuldade de locomoção, paralisia, perda de reflexos profundos, hipo ou hiper-reflexia, perda de memória, convulsões, alucinações e até demência. Sintomas cerebrais e degeneração do nervo óptico podem ocorrer levando a cegueira. O acometimento neurológico pode preceder a anemia. No período neonatal a criança manifesta irritabilidade, atraso de desenvolvimento, apatia e anorexia. Os lactentes podem exibir anemia megaloblástica e déficit neurológico. Durante a terapia de reposição com a vitamina B12, pode-se constatar a síndrome do tremor infantil e pode persistir o déficit neurológico. As alterações hematológicas são as mesmas da deficiência de ácido fólico. Além da diminuição da concentração de Hb, observam-se macrocitose, anisocitose e poiquilocitose, com corpos de Howell-Jolly e eritroblastos; a contagem de reticulocitos esta normal ou diminuída. Podem ser descritos também leucopenia, neutrofilos hipersegmentados e plaquetopenia, embora sejam incomuns as manifestações hemorrágicas. A medula óssea é hipercelular, com hiperplasia eritroide e alterações megaloblásticas. Na serie granulocitica registram-se metamielócitos gigantes com vacuolização citoplasmática e megacariócitos com núcleos multilobulados. A eritropoiese ineficaz leva a aumento da desidrogenase lática, da Bb indireta, do ferro serico e a diminuição da haptoglobulina. O diagnóstico baseia-se na dosagem sérica da vitamina B12 (que se encontra abaixo dos valores de referencia). Teste de Shilling: usado para avaliar a absorção intestinal de vitamina B12 e a disponibilidade de FI. O tratamento da anemia megaloblástica por deficiência de B12 é feito pela reposição da mesma por via oral se for comprovado carência por baixa oferta na dieta e parenteral caso haja deficiência absortiva. O uso parenteral da cobalamina pode causar hipopotassemia Não há política de suplementação profilática de vitamina B12. Deficiência de ácido fólico Sua deficiência tem efeitos deletérios sobre a manutenção dos tecidos com turnover celular acelerado, como o tecido hematopoiético. O folato está presente em produtos de origem animal, nas frutas, cereais, feijão e vegetais folhosos. Embora seja encontrado em grande concentração nesses alimentos, é facilmente destruído pelo calor, durante o cozimento. O leite materno possui quantidades adequadas de ácido fólico para o lactente, mas a suplementação deve ser considerada em prematuros e pacientes em uso de leite de cabra não fortificado. A reserva no organismo é pequena e pessoas com dieta carente de folato podem desenvolver anemia megaloblástica em 4 a 5 meses. A causa mais comum de deficiência de folato é a baixa ingestão. Nas crianças, o uso de drogas que interferem no seu metabolismo como a pirimetamina, o metrotexate e a fenitoina, bem como a ocorrência de anemia hemolítica ou doença esfoliativa da pele, que levam ao incremento da demanda de folato aumentam o risco de sua carência. O quadro clássico da deficiência de acido fólico, difere daquele próprio da deficiência de vitamina B12 em dois aspectos marcantes: embora as manifestações hematológicas sejam semelhantes, na deficiência de folato, as anormalidades neurológicas não acontecem. Alem disso, os sintomas da deficiência de folato podem se manifestar dentro de poucos meses da diminuição da ingestão, enquanto na vitamina B12 eles podem estar ausentes durante anos. Na suspeita de deficiência de folato investigar o modo de preparo dos alimentos. A deficiência de folato no lactente secundaria a deficiência de folato na mãe é infrequente. Entretanto, deficiência materna de folato no período pré-conceptual pode ter conseqüências deletérias na embriogenese. A carência materna dessa vitamina é a causa mais comum de doenças do tubo neural, incluindo espinha bífida, meningomielocele e anencefalia. O crescimento intrauterino retardado também tem sido associado ao folato materno reduzido. Semelhantemente ao que ocorre com a deficiência de ferro e de vitamina B12, a deficiência de folato também pode causar manifestações antes do aparecimento da anemia - glossite, hiperpigmentação da pele e mucosa, irritabilidade, insônia, esquecimento e depressão. Os RN prematuros possuem alto risco de desenvolvimento da deficienciade folato por apresentarem baixa reserva quando comparados aos RN a termo. O diagnostico baseia-se na concentração de folato que esta diminuída. O tratamento é baseado na suplementação de acido fólico na dose de 1 a 5 mg dia por 4 semanas. A profilaxia com acido fólico é recomendada apenas para grupos de risco de defeitos no desenvolvimento do tubo neural. Deficiência de tiamina (vitamina B1) Quadro clássico de beribéri acometimento do SNC(beribéri seco) ou do coração(beribéri úmido). Nas descrições do beribéri não se encontra referencias a anemia megaloblastica. No entanto, existe uma síndrome genética - a anemia megaloblástica com resposta a tiamina - que evidencia o papel da vitamina B1 na eritrogenese. A síndrome consta de anemia, surdez sensorial e diabetes mellitus. Mutação no gene produtor de uma proteína que transporta a tiamina para o espaço intracelular. Em razão desse defeito genético, os portadores dessa síndrome, necessitam de doses suprafisiologicas(20 a 50x mais altas) de tiamina para corrigir a anemia megaloblastica. Outras anemias nutricionais Cobre e zinco são micronutrientes considerados essenciais, e em situações de deficiência ou excesso podem estar relacionados a etiopatogênese da anemia. Carência de zinco: hemólise precoce por diminuição da resistência das células vermelhas ao estresse oxidativo.Por sua vez, quando em excesso pode reduzir a biodisponibilidade do ferro, por competição direta na absorção ou ainda indireta visto que reduz a absorção também do cobre, essencial para a absorção do ferro de aporte oral. A deficiência de cobre por sua vez, prejudica a absorção do ferro, contribuindo para o estabelecimento ou manutenção da anemia carencial, enquanto seu excesso pode causar hemólise. Alem disso: ferro e zinco contribuem para o funcionamento normal do sistema imune: deficiências levam ao aumento no numero de infecções, o que sabidamente favorece a instalação de quadros anêmicos. Vitamina E Deficiência causa anemia de caráter hemolítico. é mais comum em prematuros, nos primeiros 6 meses de vida. O principal sintoma da deficiência é neuropatia periférica, alem de anemia, edema de MMII e mais raramente icterícia e esplenomegalia. Vitamina A Deficiência é um problema grave, afetando visão, resistência a infecções, crescimento e sobrevida. A deficiência de vitamina A alem de frequentemente coexistir com a deficiência de ferro em populações desnutridas, participa do metabolismo do ferro no sistema reticulo endotelial e sua deficiência aumenta o risco de eritropoiese insuficiente. Selênio As principais fontes são frutos do mar e vísceras de animais. Sua deficiência aumenta a susceptibilidade ao estresse oxidativo e o risco de câncer e doença cardíaca. A associação entre deficiência de selênio e anemia é mais comum em idosos. Capítulo 71: Anemias hemolíticas São sugeridas pela presença de icterícia e esplenomegalia. Hemólise desde o nascimento esferocitose hereditária Aos 4 a 6 meses de idadedoença falciforme e talassemias. O hemograma mostra anemia de grau variável, com hemácias anormais quanto a forma e tamanho, frequentemente heterogêneas, -como as em forma de foice da doença falciforme ou os esferócitos da esferocitose hereditária. O numero de reticulocitos é aumentado e evidencia-se pela hiperbilirrubinemia indireta. Em todos os casos de suspeita de anemia hemolítica, o histórico de transfusões anteriores é imprescindível para se aquilatar a gravidade e a possível data do inicio. Deve-se lembrar que transfusões previas recentes podem prejudicar o diagnóstico, pois ao lado de hemácias alteradas estão sendo também examinadas as do doador. Doença falciforme Decorre da mutação do gene que codifica a cadeia beta da globina, localizado no cromossomo 11. Valina substitui o acido glutâmico na posição 6 dessa cadeia. incidência na população negra. Diagnostico por triagem neonatal(teste do pezinho). Hb SS(anemia falciforme) Hb AS(Traço falcemico). Anemia hemolítica + vasoclusão microvascular difusa + infecções graves e repetidas morbidade e mortalidade. Palidez varia de moderada a intensa e a icterícia de leve a moderada. Esplenomegalia esta presente em todos os lactentes, desaparecendo posteriormente devido a infartos múltiplos do órgão. A crise dolorosa que pode ter inicio já aos seis meses de idade, representa a causa mais comum de procura a assistência medica e de hospitalizações. Ossos e articulações constituem a fonte mais freqüente de dor. Dactilite - sindrome pé e mãos é a primeira manifestação dos lactentes, por estes apresentarem a medula óssea das mãos e dos pés ativa. Podem ocorrer sinais inflamatórios locais,, febre, prostração, aumento da hemossedimentação e das dosagens de proteínas plasmáticas de fase aguda. A síndrome torácica aguda é a segunda causa de admissão hospitalar-Imagem radiológica de infiltrado pulmonar e quadro complexo que pode incluir dor torácica de intensidade variável, febre, prostração, taquidispneia, hipoxemia, tosse, dor e distensão abdominais, derrame e ou atritos pleurais. Envolve processos bacterianos e virais, falcização, vasoclusao pulmonar com trombose in situ e tromboembolismo por tecido ósseo necrotico seundario a vasoclusao na medula óssea. Dor abdominal difusa---dificil diagnostico diferencial Priapismo - por vasoclusao dos seios cavernosos do pênis e paralisias por lesões isquêmicas, mais raramente hemorrágicas do SNC - grave, exigindo atendimento emergencial. Nas crises aplasicas, cessa a hiperplasia eritrocitaria própria da doença, o que leva a queda na contagem de reticulocitos com súbito agravamento da doença. A recuperação medular ocorre de 5 a 10 dias, com aumento do numero de reticulocitos. As crises de hipersequestração esplâncnica são quase que esclusivas de lactentes - subito agravamento da anemia, choque hipovolemico e acentuação da esplenomegalia. Os pacientes são predipostos a infecções por bactérias encapsuladas - pneumonia, memingites, septicemias, osteomielites. A vacinação deve estar completa, inclusive contra pneumococos, meningo C e gripe. As crianças com menos de 3 anos de idade, exigem cuidados especiais. Nessa faixa etária ocorre as infecções mais graves, que podem levar ao óbito por septicemia em menos de 24 horas do inicio dos sintomas. Esta indicada a imediata internação de um lactente com doença falciforme que se apresenta subitamente com temperatura acima de 38.5 graus mesmo sem outros sintomas e sinais. Ampicilina venosa na ausência de dados que exijam outra antibioticoterapia deve ser iniciada para cobertura de S pneumoniae e H. Influenzae. Deve-se ficar atento para a possibilidade de acometimento meningeo. Pré escolares e escolares podem ter sua infecção tratada ambulatorialmente com penicilina G procaína. Faz-se uso profilático de penicilina V oral ou penicilina G benzatina até pelo menos os cinco anos de idade. As crises de hipersequestação esplênica exigem internação imediata e reposição de volume com solução salina e concentrado de hemácias. Se houver recorrência ou mesmo após um episodio grave esta indicada a retirada do baço. Crises dolorosas leves ou moderadas podem ser tratadas em domicilio com hidratação abundante e analgesicos. (acetaminofen + codeína). Internação torna-se inevitável em situações mais graves em que se necessita de hidratação venosa e analgésicos mais potentes como a morfina. O priapismo é tratado com hidratação venosa rigorosa, analgésicos potentes e redução da Hb S para menos de 30%, por meio de transfusão imediata, para se evitarem seqüelas como impotência. Se não houver melhora até 12 horas há indicação de intervenção urológica - aspiração do seio cavernoso com injeção de fenilefrina e se necessário drenagem sanguínea por shunts, AVC exsanguineotransfusao. Manter por umregime prolongado transfusões. Uso concomitante de quelante de ferro. Transfusões sanguíneas na abordagem da doença falciforme só estão indicadas durante crises aplásicas ou de hipersequestração esplênica, IC refrataria a digitálicos, processos broncopneumonicos, infecções com metabolismo acelerado e requisição tissular maior de oxigênio e no tratamento inicial ou posterior da doença cérebro- vascular isquêmica. Devem ser usados concentrados de hemácias pobres em leucócitos para diminuir a sensibilização do paciente a antígenos leucocitários. O uso continuo de acido fólico oral na dosagem de 0,5 a 1 mg ao dia supre a demanda aumentada desse nutriente frente a hiperplasia medular.
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