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Política tributária e meio ambiente

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Gilmar Stelo 
Leonardo Gonçalves Muraro
Política Tributária
e
Meio Ambiente
Gilmar Stelo 
Leonardo Gonçalves Muraro
Política Tributária 
e 
Meio Ambiente
EDITORA
Brasília
2009
Cezar Britto
Presidente da OAB e Presidente Honorário da OAB Editora
Luiz Carlos Levenzon
Presidente Executivo da OAB Editora
Conselho Editorial 
Luiz Carlos Levenzon (Presidente) 
Jorge Hélio Chaves de Oliveira 
Lara Cristina de Alencar Selem 
Ronnie Preuss Duarte 
Silvia Lopes Burmeister
Aline Machado Costa Timm
Secretaria Executiva
Stelo, G ilm ar.
Política tributária e meio ambiente / Gilmar Stelo, Leonardo Gonçalves 
Muraro. - Brasília : OAB Editora, 2009.
140p.
978-85-87260-99-4
Direito. 2. Constituição. I. Titulo.
CDD 341.4
Suzana D ias da S ilva CRB -1964
EDITORA
SAS Q uadra 05 - Lote 01 - Bloco M 
Edifício Sede do Conselho Federal da OAB 
Brasília - DF - CEP 70.070-939 
Telefone: (61) 2193-9619 
www.oab.org.br/oabeditora 
e-mail: oabeditora@ ioab.org.br
Para minha família, em especial, 
para minha esposa Mônica, meus pais Gladis e 
Alcides, minha irmã Eliane “w memoriam ” 
e meu cunhado Marcelo ”in memoriam
Leonardo
Aos colegas de escritório e para a 
minha filha Leticia, que muito me orgulha 
pela retidão e amor que possui no coração.
Gilmar
PREFÁCIO
A Constituição Federal de 1988 trouxe ao sistema jurídico 
nacional previsões mais democráticas de acesso à justiça, calcada em 
modernas Constituições do mundo hodiemo. A abordagem da chamada 
intervenção econômica por indução pelo mestre EROS ROBERTO 
GRAU, demonstra como a mesma pode servir para estimular os chamados 
processos produtivos. Esses valem-se dos incentivos fiscais, como é o caso 
dos subsídios e créditos presumidos, os quais fomentarão a utilização da 
extrafiscalidade tributária, criando-se , assim, uma política de tributação 
ambiental conciliada com o sistema produtivo.
Neste aspecto, os advogados GILMAR STELO e LEONARDO 
GONÇALVES MURARO abordaram bem a questão da utilização da 
extrafiscalidade na política ambiental, o que viabilizará uma tributação 
específica, tendo como objeto os impostos indiretos - IPI e o ICMS, o que 
incentivará o desenvolvimento sustentável.
A obra ora prefaciada - POLÍTICA TRIBUTARIA E MEIO 
AMBIENTE é rara em seu tema e pujante em seu conteúdo, sem contar 
que é uma matéria que preocupa o mundo inteiro, e mais do que isso, força 
a comunidade internacional a se preocupar com a questão ambiental no 
contexto do desenvolvimento sustentado, ou seja, não se pensa no tema sem 
um regime ambiental, sempre visando as ações econômicas.
Fiquei muito sensibilizado com a apropriada abordagem que os 
autores fizeram de meu livro Considerações sobre o Direito Econômico.
Assim, é com muita satisfação que prefácio esta obra que amealha 
matéria tão atual e tão profijnda, da lavra dos Eminentes Advogados 
GILMAR STELO e LEONARDO GONÇALVES MURARO, este 
também Professor Universitário, congratulando, outrossim, os editores 
pelo relevante assunto publicado.
A sensibilidade dos autores na identificação do tema muito enobrece 
os colegas de profissão, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do 
Brasil, a Comissão Nacional de Estudos Constitucionais, de que é membro
GILMAR STELO e também a Escola Superior de Advocacia do Rio 
Grande do Sul, que conta com LEONARDO GONÇALVES MURARO.
São Paulo, janeiro de 2009. 
Prof. Dr. Modesto Souza 
Barros Carvalhosa
LISTAS DE ABREVIATURAS
ADIn Ação Direta de Inconstitucionalidade
Art Artigo
CF/88 Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988
CIDE Contribuição de Intervenção sobre do Domínio
Econômico
CTN Código Tributário Nacional
EUA Estados Unidos da América
FMI Fundo Monetário Internacional
ICM Imposto sobre Circulação de Mercadorias
ICMS Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de
Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transportes 
Interestadual e Intermunicipal e de Comunicações, ainda 
que as Operações e as Prestações de iniciem no exterior
IPI Imposto sobre Produtos Industrializados
IVC Imposto sobre as vendas e consignações
OCDE Organização de Cooperação e Desenvolvimento
Econômico
OMC Organização Mundial do Comércio
PPP Princípio do Poluidor-Pagador
RPPN Reservas Particulares do Patrimônio Natural
STF Supremo Tribunal Federal
STJ Superior Tribunal de Justiça
TCFA Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental
TIPI Tabela de Incidência do Imposto sobre Produtos
Industrializados
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................. 13
1 0 ESTADO CONTEMPORÂNEO E SUA FUNÇÃO SOCIAL...16
1.1 Origem e evolução do Estado.......................................................... 16
1.1.1 O Estado Liberal............................................................................... 16
1.1.2 O Estado Social................................................................................ 23
1.1.3 O Estado Neoliberal.........................................................................27
1.2 O Estado Brasileiro Contemporâneo e sua função social de
acordo com a Constituição Federal de 1988........................................35
2 A INTERVENÇÃO DO ESTADO POR MEIO DE POLÍTICAS
PÚ BLICA S.................................................................................................... 44
2.1 A intervenção econômica por indução.........................................44
2.2 Políticas tributárias e meio ambiente...........................................49
2.3 Instrumentos úteis para a tributação ambiental............................53
2.3.1 Tributos ambientais........................................................................... 60
2.3.2 Subsídio...............................................................................................66
2.3.3 Crédito presumido............................................................................ 69
3 A EXTRAFISCALIDADE AMBIENTAL............................................ 72
3.1 A extraíiscalidade................................................................................ 72
3.1.1 A extrafiscalidade ambiental no Brasil.........................................75
3.2 Impostos indiretos utilizados para proteção ambiental e sua
adequação a Lei de Responsabilidade Fiscal.........................................79
3.2.1 IPI.......................................................................................................... 86
3.2.2 ICMS..................................................................................................... 100
3.2.2.1 ICMS Ecológico............................................................................. 114
3.2.2.2 ICMS ecológico no Estado do Rio Grande do Sul................ 123
CONCLUSÃO..............................................................................................127
REFERÊNCIAS.......................................................................................... 132
Política Tributária e Meio Ambiente
INTRODUÇÃO
13
A presente obra' busca por meio da utilização da extraíiscalidade 
tributária, implementar uma política pública de proteção ao meio ambiente, 
com o escopo de que o Estado venha a intervir na ordem econômica através 
da denominada “intervenção por indução”, tendo como objeto os incentivos 
fiscais, mais especificamente os que atuam na esfera da despesa pública, 
como por exemplo, as subvenções e os créditos presumidos, com a finalidade 
de alcançar um desenvolvimento sustentado, conciliando desenvolvimento 
econômico e preservação de recursos ambientais.
Desse modo, parte-se da hipótese de que, através da extrafiscalidade 
tributária e valendo-se dos incentivos fiscais, utilizará a característica 
seletiva dos impostos indiretos (IPI e ICMS), podendo alavancarprocessos 
produtivos e consumo de bens e serviços sustentáveis e, ao mesmo tempo, 
desestimular o emprego de tecnologia de produção e consumo de bens 
e serviços nefastos à preservação ambiental. Assim, este trabalho busca 
dar resposta à seguinte questão: como implementar uma política tributária 
para o meio ambiente, utilizando-se do instrumento da extrafiscalidade 
tributária, sem ferir a Lei de Responsabilidade Fiscal e os princípios vetores 
do Direito Tributário, sem reduzir a arrecadação fiscal dos entes públicos?
Procura-se justificar a questão enfi’entada através da demonstração 
de como a extrafiscalidade tributária poderá implementar uma política 
de tributação ambiental, utilizando-se da intervenção sobre o domínio 
econômico, valendo-se dos incentivos fiscais, tendo como objeto os 
impostos indiretos (IPI e ICMS). E, vislumbrando que os mesmos, por 
possuírem como característica o princípio da seletividade, servem para 
a implantação de uma tributação ambiental sem transgredir princípios 
constitucionais tributários, sem configurar renúncia fiscal e, principalmente, 
permitindo conciliar desenvolvimento econômico com proteção ao meio 
ambiente.
' A obra nasceu de dissertação do Programa de Pós-Graduação em Direito - Mestrado, 
da Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC, com aprimoramentos, atualizações e 
novo(s) assunto(s) abordado(s).
14 Gilmar Stelo e Leonardo Gonçalves Murara
Dessa forma, no primeiro capítulo, faz-se um estudo sobre o Estado 
Contemporâneo e sua função social, origem, evolução, passando pelo 
Estado Liberal, Social e Neoliberal, mostrando suas características e, ao 
final, o estágio do Estado Brasileiro e sua função social.
No segundo capítulo, efetua-se estudo no tocante à intervenção do 
Estado por meio de Políticas Tributárias. No primeiro passo, aborda-se a 
intervenção sobre o domínio econômico por indução, tendo como foco o 
pensamento de Eros Roberto Grau. Posteriormente, passa-se à análise das 
Políticas Tributárias relacionadas ao Meio Ambiente, discorrendo sobre o 
pensamento de alguns doutrinadores pátrios que abordam a utilidade que 
os incentivos fiscais possuem para a adoção e o estímulo de uma política 
de tributação ambiental.
Pela sua relevância, o terceiro e último capítulo terá a parcela 
mais extensa da obra. Nesse capítulo, discorre-se sobre a extrafiscalidade 
ambiental, abordando sua utilização nos impostos indiretos; posteriormente, 
demonstra-se a importância dos impostos indiretos como instrumento para 
a adoção de uma política de tributação ambiental que venha ao encontro 
do desenvolvimento sustentável. Toma-se como exemplo o Imposto sobre 
Produtos Industrializados (IPI), enfatizando sua utilidade para a adoção de 
uma política pública de tributação ambiental.
Da mesma forma, é realizado um estudo com o Imposto incidente 
sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações 
de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação 
(ICMS). E, diga-se aqui, que foi abordado no tocante à sua utilização para 
a implementação de uma política pública de tributação ambiental, uma vez 
que não é objeto deste trabalho perquirir a respeito de suas características 
e de seus pressupostos constitucionais e infraconstitucionais, sendo 
este abordado com o intuito de situar o leitor no tema enfrentado. Será 
demonstrado que o mesmo pode servir como instrumento para incentivar 
0 desenvolvimento econômico, sem descuidar-se da defesa do meio 
ambiente, e que a adoção dessa política pública é possível sem resultar em 
transgressão ao art. 14 da Lei de Responsabilidade Fiscal.
Política Tributária e Meio Ambiente 15
Por fim, é abordado o ICMS Ecológico, sua relevância e forma 
de utilização, de modo que venha a servir como incentivador para a 
implementação de uma política pública de tributação ambiental por parte 
dos Municípios, com o escopo de desenvolvê-los economicamente, estando
0 mesmo aliado à preocupação com o combate à poluição e defesa do meio 
ambiente para as presentes e futuras gerações.
16 Gilmar Stelo e Leonardo Gonçalves Muraro
1 O ESTADO CONTEMPORÂNEO E SUA FUNÇÃO SOCIAL
Neste primeiro capítulo, analisar-se-á a origem e evolução do Estado 
até chegar-se ao Estado Contemporâneo e a função social, estabelecida na 
Constituição da República Federativa, verificando-se, na prática, se ela é 
seguida pelo Brasil. Essa íunção social está estabelecida nos títulos I, II e 
VII da CF/88, onde, mais adiante, será abordado com riqueza de detalhes, 
as quais irão evidenciar o que fora adotado na teoria e o que está sendo 
vivenciado na realidade brasileira.
1.1 Origem e Evolução do Estado
Inicia-se pelo Estado Liberal, que acabou consagrando os direitos 
do homem e começou a dar lugar ao Estado Social, em decorrência da queda 
da burguesia. O Estado Social, na verdade, existiu apenas na teoria, pois, 
na prática, o conteúdo estabelecido na CF/88, acabou sendo inteipretado 
através de uma leitura de cunho Liberal e, como último estágio do Estado 
chega-se ao atual, que possui características eminentemente Neoliberais, 
gerando conseqüências nocivas para a população, o que será melhor 
analisado adiante.
1.1.1 O Estado Liberal
O Idealismo Liberal não surgiu com a formulação inglesa de Locke 
ou com a Revolução Francesa, pois a base do pensamento é anterior, 
podendo ser pensada a partir da reivindicação de direitos religiosos, 
políticos e econômicos e na tentativa de ter o controle do poder político no 
final do século XVII.
Desse modo, pode-se dizer que o liberalismo foi se definindo em 
sentido contrário ao absolutismo, com o crescimento do individualismo 
que começa a tomar forma desde os embates pela liberdade religiosa.
Procurando trazer um dado histórico Merquior (1991, p.45)
afirma
[...] podemos referir que o termo liberal como identificação 
política emerge na primeira década do séc. XIX em Espanha, 
no momento em que as Cortes lutavam contra o absolutismo, 
embora sua origem remonte à luta política travada na 
Inglaterra (Revolução Gloriosa - final do século XVII), onde 
se buscava tolerância religiosa e governo constitucional.
Política Tributária e Meio Ambiente 17
A burguesia teve influência fundamental na transição do Estado 
Absoluto ao Estado Constitucional, o qual teve como expoente inicial 
0 liberalismo, tomando as raízes da ascensão política da burguesia até 
se tomar classe dominante. Veriíica-se que o fenômeno não se pode 
desmembrar das guerras de religião e das competições econômicas, que 
dificultavam de certa maneira a chamada política do equilíbrio europeu. 
Dessa política se faziam órgãos as dinastias reinantes, as quais oscilavam 
entre a paz e a beligerância, entre a diplomacia e as armas, entre a segurança 
e a instabilidade.
Mas foi no cerne desses conflitos que se fez paulatinamente a 
ascensão da classe burguesa, até o dia em que, levando a cabo por via 
revolucionária o desafio ao Absolutismo, pôde ela decretar o fim da 
sociedade de privilégios ainda presentes por corolário da herança feudal 
no corpo da Monarquia absoluta. Foi aí que a Bastilha caiu, recebendo o 
Estado Moderno sua nova identidade institucional.
Conforme Paulo Bonavides (2002) aQueda daBastilha simbolizava, 
por conseguinte, o fim imediato de uma era, o colapso da velha ordem 
moral e social erguida sobre a injustiça, a desigualdade e o privilégio, 
debaixo da égide do absolutismo; simbolizava também, o começo da 
redenção das classes sociais em termos de emancipação política e civil, 
bem como o momento em que a burguesia, sentindo-se oprimida, corta os 
laços de submissão passiva ao monarca absoluto e se inclina ao elemento 
popular numa aliança selada com as armas e o pensamento da revolução; 
simboliza, por derradeiro, a ocasião única em que nasce o poder do povo e 
da Nação em sua legitimidade incontrastável.
Para Bonavides(2004), Montesquieu e Rousseau, com o 
Espírito das Leis e o Contrato Social, a par da Enciclopédia de Diderot e 
D'Alembert, haviam feito já a emancipação interior das consciências, sem 
a qual não havia possibilidade de combater o Absolutismo e proclamar, 
sobre o sangue derramado em nome da razão, uma nova soberania, uma 
nova legitimidade, um novo Estado.
Assim, a premissa capital do Estado Modemo é a conversão do 
Estado Absoluto em Estado Constitucional, ou seja, o poder não é de
18 Gilmar S teh e Leonardo Gonçalves Muraro
pessoas, mas de leis. São as leis, e não as personalidades, que governam o 
ordenamento social e político.
Segundo Bonavides (2004, p. 37),
[...] de sua inauguração até os tempos correntes, o Estado 
constitucional ostenta três distintas modalidades essenciais. 
A primeira é o Estado constitucional da separação de 
Poderes (Estado Liberal), a segunda, o Estado constitucional 
dos direitos fundamentais (Estado Social), a terceira, o 
Estado constitucional da Democracia participativa (Estado 
Democrático-Participativo). Não há propriamente ruptura 
no tempo tocante ao teor dessas três formas imperantes 
de organização estatal, senão metamorfose, que é 
aperfeiçoamento e enriquecimento e acréscimo, ilustrados 
pela expansão crescente dos direitos fundamentais bem 
como pela criação de novos direitos.
Esse é o caso da noção de separação de poderes baseada em 
Montesquieu e consagrada no constitucionalismo liberal, concebida 
inicialmente como meio para limitar o poder do Estado, haja vista que o 
Estado veio de encontro aos pressupostos do Estado absolutista, que tinha 
na concentração do poder nas mãos do monarca a característica basilar.
Salienta-se, de acordo com Hermany (1999), que essa teoria 
serviu para os interesses da nova ordem política instituída, tanto que o
dogma da separação dos poderes constituiu-se em fator da limitação à
atuação do Estado. Pois é justamente a ausência do Estado na sociedade 
que interessava à nova classe política emergente, demonstrando nítido 
comprometimento do Constitucionalismo com a doutrina do liberalismo 
econômico e político.
Bobbio (1995), ao tratar das causas determinantes do advento 
da escola exegese que, consoante verificará, constitui movimento de 
legitimação do modelo burguês, ilustra de forma clara a relação entre a 
doutrina da separação dos poderes e a manutenção do status quo.
[...] doutrina da separação dos poderes, que constitui o 
fundamento ideológico da estrutura do Estado moderno 
(fundada na distribuição de competências, portanto na 
atribuição das três funções ftindamentais do Estado —
a legislativa, a executiva e a judiciária — a três órgãos
constitucionais distintos). Com base nesta teoria, o ju iz não
Política Tributária e Meio Ambiente 19
podia criar o direito, caso contrário invadiria a esfera de 
competência do poder legislativo, mas devia, de acordo com 
a imagem de Montesquieu, ser somente a boca através da 
qual fala a lei [...].
O Constitucionalismo Liberal consagra também as chamadas 
liberdades negativas, outrossim, chamados de direitos fundamentais de 
primeira geração (ou dimensão).
Hesse (1998) menciona alguns desses direitos, também 
considerados fundamentais individuais, em sua concepção atual, tendo 
em vista que muitos deles não existiam na França Revolucionária. Para o 
constitucionalista alemão, integram essa categoria os seguintes direitos: o 
direito à vida e integridade corporal, traduzindo-se na liberdade da pessoa; 
a liberdade de circulação; a inviolabilidade do domicílio, segredo de 
correspondência, postal e de telecomunicação; a liberdade de fé, etc.
Trata-se da consolidação das denominadas liberdades negativas, 
que conforme Leal (1997, p.79), representam a “[...] expressão formal de 
necessidades individuais que exigem a obtenção do Estado para seu pleno 
exercício
Dessa maneira, afirma Bonavides (2004), o Estado burguês de 
Direito, da primeira fase, estava, por conseguinte, plenamente vitorioso. E 
os resultados de seu formalismo e de seu êxito se traduzem numa técnica 
fimdamental que resguarda os direitos da liberdade, compreendida esta como 
liberdade da burguesia. Essa liberdade lhe era indispensável para manter o 
domínio do poder político e, só por generalização nominal, se estendia às 
demais classes. Desse modo, permitia à burguesia falar ilusoriamente em 
nome de toda a sociedade, com os direitos que ela proclamara, os quais, em 
seu conjunto, se apresentavam do ponto de vista teórico, válidos para toda 
a comunidade humana, embora, na realidade, tivesse bom número deles 
vigência tão-somente parcial, e em proveito da classe que efetivamente os 
podia fiiiir.
Assim, segundo Bonavides (2004, p.45-46),
[...] com a divisão de poderes vislumbraram os teóricos da 
primeira idade do constitucionalismo a solução do problema 
de limitação da soberania. A filosofia política do liberalismo, 
preconizada por Locke, Montesquieu e Kant, cuidava que, 
decompondo a soberania na pluralidade dos poderes, salvaria
20 Gilmar Stelo e Leonardo Gonçalves Muraro
a liberdade. Fazia-se mister contrapor à onipotência do rei 
um sistema infalível de garantias
A teoria tripartida dos poderá, como princípio de organização 
do Estado constitucional, é uma contribuição de Locke e 
Montesquieu. Este se apóia naquele, e equivocadamente, no que 
supõe ser a realidade constitucional inglesa: “um Estado onde 
os três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) estariam 
modelarmente separados e mutuamente contidos, de acordo com 
a idéia de que “O poder detém o poder [...].
O marco do Estado Liberal é a relevância que possui o “indivíduo” 
para o conteúdo do liberalismo clássico, no fato de que o valor da 
personalidade era concebido como ilimitado e anterior ao Estado, direitos 
de primeira geração (ou dimensão) e, com esse pensamento, surgem as 
primeiras Constituições escritas, as cartas americana e francesa, cujas 
teses adquiriam para a democracia liberal o valor de uma profissão de fé 
religiosa e mística.
Na visão de Bonavides (2004) a primeira modalidade de Estado 
Constitucional, por seu compromisso inquebrantável com a liberdade e, por 
via de conseqüência com os direitos políticos e civis, que formam a grande 
camada dos direitos fundamentais da primeira dimensão, denominou-se 
também Estado Liberal, e com esse nome e significado tem percorrido as 
distintas fases do Constitucionalismo, não obstante já lhe terem passado 
mais de uma vez a certidão de óbito.
Assim, prossegue o autor, no tocante às relações de trabalho, o 
Estado Liberal é de cunho eminentemente capitalista, em que o poder está 
nas mãos da classe burguesa que prega o individualismo a não-intervenção 
do Estado, o que propiciava o modelo econômico implantado. E mais, a 
burguesia acordava o povo que então despertou para a consciência de 
suas liberdades políticas, o que com a queda da Bastilha culminou com a 
ascensão da burguesia ao poder. E diga-se aqui, a revolução francesa, por 
seu caráter preciso de revolução da burguesia, levara á consumação de 
uma ordem social, em que pontificava, nos textos constitucionais, o triunfo 
total do liberalismo. Do liberalismo, apenas, e não da democracia.
O capitalismo foi o modelo econômico adotado pela burguesia 
que tinha como fundamentos princípios liberais (propriedade privada,
Política Tributária e Meio Ambiente 21
liberdade, não-intervenção do Estado), visão essa muito bem retratada por 
Bonavides (2004, p 44), pois para ele
Essa liberdade lhe era indispensável para manter o domínio do 
poder político, e só por generalização nominal, conforme já 
vimos, se estendia às demais classes. Disso não advinha para 
a burguesia dano algum, senão muita vantagem demagógica, 
dada a completa ausência de condições materiais que 
permitissem às massas transpor as restrições do sufrágio 
e, assim, concorrerostensivamente, por via democrática, à 
formação da vontade estatal [...].
A liberdade, segundo ele, praticada pelo Estado Liberal expunha 
no domínio econômico os fracos à sanha dos poderosos. O triste capítulo 
da primeira fase da Revolução Industrial, de que foi palco o Ocidente, 
evidencia, com a liberdade do contrato, a desumana espoliação do trabalho, 
0 doloroso emprego de métodos brutais de exploração econômica, a que 
nem a servidão medieval se poderia, com justiça, equiparar.
Acrescenta, ainda, Bonavides (2004) que na verdade, o liberalismo 
pregava um culto à liberdade, no sentido da exaltação do indivíduo e de 
sua personalidade, mas com a preconizada ausência e até mesmo com o 
desprezo da coação estatal.
Mas, para VIERKANDT apud BONAVIDES (1921, p.lO l)
[...] no tocante à igualdade no liberalismo é apenas formal, e 
encobre, na realidade, sob seu manto de abstração, um mundo 
de desigualdades de fato econômicas, sociais, políticas e 
pessoais termina a apregoada liberdade, como Bismark já 
0 notara, numa real liberdade de oprimir os fracos, restando 
a estes, afinal de contas, tão-somente a liberdade de morrer 
de fome.
No tocante ao Estado Liberal, mencionam-se os traços marcantes
abaixo:
a) O século XIX foi das Constituições Liberais.
b) As Constituições, na ordem concreta, dividiram-se entre as 
derivadas de Assembléias Constituintes e as outorgadas.
c) Nas primeiras avultava em termos de legitimidade o poder 
constituinte, exercitado em nome da Nação ou do Povo. Nas outorgadas,
22 Gilmar Stelo e Leonardo Gonçalves Muraro
de mais baixa legitimidade, a vontade do monarca se afigurava decisiva 
em determinar os conteúdos constitucionais.
d) O Estado Liberal impregnava de seus valores as Constituições, 
em geral de cunho marcadamente individualista.
e) 0 mais freqüente era a passagem do regime da Monarquia 
Absoluta ao de Monarquia Constitucional, tendo por base um compromisso 
político, um pacto firmado entre o rei e a Nação.
f) A dissolução de Assembléias Constituintes, mediante golpes de 
Estado, se fazia ato demonstrativo de que os monarcas guardavam ainda, na 
realidade - conquanto de maneira dissimulada - uma parcela remanescente 
de poder absoluto.
Segundo Bonavides (2004, p.41-42),
[...] as formas de governo são muito importantes, mas muito 
mais importantes são, na realidade, em qualquer sistema 
ou regime, a competência, o comportamento, a lealdade, a 
devoção, a ética do homem público, a par do civismo, da 
participação, da democratização, da ilustração política, da 
liberdade, da justiça reinante nas esferas sociais - fatores que 
imprimem fé nos governados e legitimidade nos governantes. 
Sem isso não se concretizam direitos fundamentais, nem 
auferem estabilidade as Constituições e os governos.
O Estado Liberal, argumenta Bonavides (2004), por ser permeado 
pelo cunho da liberdade, a qual estava consubstanciada de caráter 
individualista e de uma igualdade apenas formal, não tinha o intuito de 
diminuir ou acabar com as desigualdades econômicas e o sofrimento que 
o povo vinha enfrentando desde o anterior Estado Absolutista que adotava 
0 modelo feudalista. Desse modo, a passagem do Estado Liberal para o 
social estava marcada pela preocupação ao atendimento dos direitos de 
cunho social (educação, saúde, etc.) que deveriam ser propiciados pelo 
Estado com o escopo de dar ênfase ao valor da justiça, de vez que esta 
ainda estava distante de ser concretizada.
Por conseguinte, se demonstra a passagem do Estado Liberal para 
0 Estado Social, o que infra é enfatizado.
Política Tributária e Meio Ambiente 23
1.1.2 O Estado Social
Como já foi referido, o Estado Constitucional Liberal foi a origem 
do Estado, pois o Estado Constitucional é um projeto do liberalismo burguês 
para dar conta do Estado Liberal, ou seja, para garantir as conquistas 
burguesas adquiridas ao longo do tempo. A contenção do Estado inspirou a 
idéia dos direitos fundamentais e da divisão de poderes. À medida, porém, 
que o Estado burguês se enfraquece, passa ele a ser o Estado de todas 
as classes, o Estado fator de conciliação, o Estado mitigador de conflitos 
sociais e pacificador necessário entre o trabalho e o capital.
Segundo Hermany (1999), o modelo liberal de Estado, estudado 
anteriormente, caracterizou-se pela implementação do programa político, 
social e econômico da classe burguesa, consagrando as liberdades 
negativas, representadas por um non facere do Estado, ou seja, pelo 
absenteísmo estatal. Em decorrência, como já demonstrado, as relações 
socioeconômicas estavam reguladas pelas leis de mercado, baseadas 
substancialmente na relação entre a oferta e a procura.
Para Bonavides (2004, p. 184-185):
Nesse momento em que se busca superar a contradição 
entre a igualdade política e a desigualdade social, ocorre, 
sob distintos regimes políticos, importante transformação, 
bem ainda de caráter superestrutural. Nasce aí a noção 
contemporânea do Estado social. O Estado social representa 
efetivamente uma transformação superestrutural por que 
passou 0 antigo Estado liberal. Seus matizes são riquíssimos 
e diversos. Mas algo, no Ocidente, o distingue, desde as 
bases, do Estado proletário, que o socialismo marxista intenta 
implantar; é que lê conserva sua adesão à ordem capitalista, 
princípio cardeal a que não renuncia [...].
Desse modo, segundo o autor, o Estado Constitucional Social é 
marcado por preocupações distintas do Estado Liberal, porque a liberdade 
já se tinha por adquirida e preconizada nos ordenamentos constitucionais, 
ao passo que a justiça, como anseio e valor social superior, está distante de 
alcançar a mesma grande positividade e concreção.
24 Gilmar Stelo e Leonardo Gonçalves Muraro
Quando se analisa a substância dessa segunda forma de Estado 
Constitucional Social, é fácil certificar-se que ela não gira em redor de 
formalismos, seu ponto de apoio e sua base de identidade são o tecido 
social dos direitos fundamentais. Sua legitimidade se faz e cresce na exata 
medida em que tais direitos se concretizam.
Nesse diapasão, enfatiza Gordillo (1984) que a atuação do Estado 
não se restringe à ação assistencial, no sentido de minimizar as desigualdades 
ou na garantia de direitos trabalhistas. Também envolve uma atuação no 
tocante às relações econômicas, em que o Estado intervém na política 
de preços, tanto que assume destaque a disciplina do direito econômico, 
com a pubíicização de institutos que recentemente integravam o campo do 
direito privado.
Conforme Bonavides (2004, p.44-45),
[...] quando prevaleciam por única constante na caracterização 
do estado Moderno os direitos da primeira geração, a lei era 
tudo. Quando se inaugurou,porém, a nova idade constitucional 
dos direitos sociais, como direitos da segunda geração, a 
legitimidade - e não a lei - se fez paradigma dos estatutos 
Fundamentais. No constitucionalismo contemporâneo a 
Teoria da Norma Constitucional passou a ter, a nosso ver, 
a legitimidade por fundamento. A legitimidade é o direito 
fundamental, o direito ftmdamental é o princípio, e o princípio 
é a Constituição na essência, é sobretudo sua normatividade. 
Ou colocado em outros termos: a legalidade é a observância 
das leis e das regras; a legitimidade, a observância dos valores 
e dos princípios [...]. Abria-se a ordem constitucional ao 
universo normativo dos valores cristalizados em princípios. 
Nessa caminhada principiológica de juridicidade, o principio 
se pode talvez definir como aquele valor vinculante mais 
alto que, positivado na Constituição, é suscetível de irradiar 
normatividade a todos os conteúdos constitucionais.
Como se denota, o Estado Constitucional Social se caracteriza por 
ser um estado de liberdades positivas, pois através da força principiológica 
procura estabelecer ao cidadão os direitos de segunda geração (ou 
dimensão), direitosesses que precisam ser garantidos pelo Estado, tais 
como: saúde, educação, lazer, por isso chamado, também, de Estado do 
Bem-Estar Social.
Política Tributária e Meio Ambiente 25
Na opinião de Hermany (1999) o cerne estatal desloca-se do 
individual para o social, alterando o modelo jurídico que, ao incorporar 
novos direitos sociais, e tomando o aparato legal-racional inócuo para a 
resolução desses novos conflitos, envolve interesses diluídos em grupos 
amplos em toda a sociedade.
Ademais, o Estado Social, por sua própria natureza, é um Estado 
intervencionista que requer sempre a presença militante do poder político 
nas esferas sociais, onde cresceu a dependência do indivíduo, pela 
impossibilidade em que este se acha, perante fatores alheios à sua vontade, 
de prover certas necessidades existenciais mínimas.
Salienta-se que o Estado Social significa intervencionismo. Não 
se pode confundir o Estado Social da democracia com o Estado Social
dos sistemas totalitários por oferecer, concomitantemente, na sua feição
jurídico-constitucional, a garantia tutelar dos direitos da personalidade.
Segundo Garcia-Pelayo (1982, p.56-64),
[...] o Estado acolhe os valores jurídico-políticos clássicos; 
porém, de acordo com o sentido que vem tomando através 
do curso histórico e com as demandas e condições da 
sociedade do presente [...]. Por conseguinte, não somente 
inclui direitos para limitar o Estado, senão também, direitos 
as prestações do Estado [...]. 0 Estado, por conseguinte, não 
somente deve omitir tudo o que seja contrário ao Direito, 
i.e, a legalidade inspirada em uma idéia de Direito, senão 
que deve exercer uma ação constante através da legislação 
e da administração que realize a idéia social de Direito. 
Dessa forma, o Estado social de Direito significa um Estado 
sujeito à lei legitimamente estabelecida com o respeito ao 
texto e às práticas constitucionais, indiferentemente de seu 
caráter formal ou material, abstrato ou concreto, constitutivo 
ou ativo, à qual, de qualquer maneira, não pode colidir 
com os preceitos sociais estabelecidos pela Constituição e 
reconhecidos pela práxis constitucional como normatização 
de valores por e para os quais se constitui o Estado social e 
que, portanto, fundamentam a sua legalidade.
Dessa forma, se vê que o Estado Social de Direito foi marcado 
pela introdução dos direitos de 2" geração (ou segunda dimensão) e pela 
preconização da força principiológica.
26 Gilmar Stelo e Leonardo Gonçalves Murara
Frisa-se, de acordo com Hermany (1999), que o novo paradigma 
que se inaugurava não rompia com os princípios capitalistas, sendo 
principalmente uma válvula de escape que impedia uma drástica ruptura 
do aparelho estatal, apesar da inserção formal de direitos sociais no 
ordenamento jurídico positivado.
O Estado Social no Brasil foi disposto, na teoria, tardiamente, 
contemplado em vários artigos da Constituição Federal de 1988, a qual 
leva muito em conta o coletivo, o social, os direitos básicos que devem 
ser alcançados ao povo brasileiro; mas, os mesmos estão calcados em uma 
sociedade de cunho liberal, em que a economia cada vez mais ganha espaço 
e substitui o espaço público na tomada de decisões políticas do País.
Ademais, a Constituição Federal do Brasil de 1988 possui muitos 
direitos sociais estabelecidos, mas muitos deles não estão possuindo 
eficácia, tais como, o art. 7°, inciso IV^, art. 196\ dentre outros. Grande 
parte dessa falta de concretização dá-se por culpa do Poder Executivo que 
está interpretando o texto constitucional de modo a deixar de concretizar 
os direitos estabelecidos, fazendo uma verdadeira interpretação liberal dos 
direitos assegurados na Carta Magna de 1988.
O problema do Estado Social preconizado pela Constituição Federal 
de 1988 foi de estar anos sob os fundamentos dos princípios liberais, ou seja, 
toda uma geração que aprendeu e conviveu com os princípios liberais, de 
repente se viu regida por uma Constituição de caráter comunitário, contendo 
elementos e fundamentos em valores compartilhados, estabelecendo 
princípios a serem seguidos pelo Estado, direitos a serem garantidos, os
 ^Art. 7° IV - salário mínimo , fixado em lei. nacionalmente unificado, capaz de atender a 
suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educa­
ção. saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes perió­
dicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculaçâo para qualquer 
fim.(Constituição da República Federativa do Brasil. 35* edição. Editora Saraiva. 2005, 
p.14
 ^ Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas 
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao 
acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recu­
peração. (Constituição da República Federativa do Brasil. 35® edição. Editora Saraiva. 
2005, p.141).
Política Tributária e Meio Ambiente 27
quais em muitos casos eram lidos e interpretados de forma liberai, isto é, 
sob 0 prisma do pensamento liberal
Com efeito, não se vivência o Estado Social, já fora ultrapassada 
esta fase do constitucionalismo. A dúvida aqui no Brasil persiste se 
realmente se havia chegado a vivenciar e a usufruir todos os direitos sociais 
estabelecidos e preconizados pelas Constituições. Nessa visão faltaram 
inúmeros, os quais apenas foram estabelecidos no papei, não chegando a 
ser concretizados na prática.
1.1.3 O Estado Neollberal
Primeiramente, não se pode confundir liberalismo com o 
neoliberalismo, pois este deriva do liberalismo, uma vez que é baseado em 
princípios originários daquele, tais como: propriedade privada, livre iniciativa, 
porém extrapola o limite do liberalismo, de vez que o neoliberalismo se define 
como a política econômica de abertura indiscriminada do mercado nacional 
ao internacional, o que gera uma dependência econômica daquele para com 
este. No liberalismo existe a conjunção de dois aspectos da vida em sociedade 
na liberdade. Um deles é a pequena presença do Estado no plano pessoal. O 
outro é a pequena presença estatal no plano econômico. Porém, no liberalismo, 
0 estado nacional não está a depender de fatores externos ou subordinados às 
decisões do mercado internacional como no neoliberalismo.
E, outra diferença entre ambos, é quanto à não-intervenção do Estado, 
haja vista que no liberalismo se prega a não-intervenção do Estado com 
fundamento na liberdade negativa, ou seja, tendo como base a liberdade 
individual no sentido apenas de impedir a violação da liberdade e dos direitos 
individuais. Já no Neoliberalismo, o Estado é interventor, de vez que no 
momento em que se privatizam os serviços vitais a qualquer nação prestados 
pelo setor público se está na verdade o Estado intervindo em prol da iniciativa 
privada, procedimento adotado, por exemplo, nos setores de telefonia, energia 
elétrica, etc.
O neoliberalismo avançou tendo como expoente teórico Frederick 
Hayek, cientista político direitista, guru do Chile do general Pinochet, e 
orientador espiritual de Margaret Thatcher, pela falta de alternativa apresentada
28 Gilmar Síelo e Leonardo Gonçalves Murara
pela nova esquerda, após o fracasso da esquerda no Leste Europeu. Nesse
diapasão é o pensamento Wainwright (1994, p.24);
A queda de Mikhail Gorbachev provavelmente simbolizou o 
golpe final na grande influência desses críticos mesmo quando 
suas críticas eram dirigidas a ele e/ou à antiga liderança. Isso 
tem importância para a teoria e a linguagem com as quais a nova 
esquerda ocidental pode responder ao desafio colocado pelo 
apelo generalizado, ainda que contraditório, do neoliberalismo. 
Significa que apesar de ser provável que elementos de uma 
alternativa mesmo o que muitos ocidentais perceberiam como 
uma alternativa socialista- se desenvolvessem no Leste Europeu, 
eles não podem ser construídos e generalizados com uma ênfase 
absoluta no contexto teórico existente do socialismo. Em vez 
disso, a nova esquerda ocidental precisa, no diálogo com 
aqueles movimentos do Leste, teorizar novas práticas através 
de uma crítica direta aos ftmdamentos do neoliberalismo, em 
particular do influente trabalho de Frederíck Hayek [...].
Segundo Wainwright (1994, p.48-49), para Frederick Hayek
[...] 0 resultado da atividade humana é casual e de que a 
ordem social que subsiste - sobretudo o mercado prívado 
- é produto de um processo de evolução no qual não se deve 
interferir. Eis por que ele defende um Estado forte, protetor do 
livre mercado [...]. Aquela escreveu a obra já referída (Uma 
resposta ao Neoliberalismo), onde critica a teoria de Frederick 
Hayek, mais precisamente, na obra ‘O Caminho da Servidão’, 
concluindo que ‘podemos observar dois problemas de 
consistência nas implicações lógicas da teoria sobre a produção 
e distribuição de conhecimento de Hayek e suas prescrições 
políticas e econômicas posteriores. Por um lado, ele vê todos 
os monopólios ou tentativas de concentração do poder como 
uma ameaça à ordem espontânea. A condição econômica sob a 
qual tal ordem pode florescer é a ‘concorrência’, que significa 
‘planejamento descentralizado feito por pessoas isoladas’ 
[...]. O problema de sua teoria, porém, é que os monopólios 
desenvolveram-se a partir do mercado capitalista. Em ura certo 
sentido, os monopólios ou oligopólios nos negócios poderiam 
ser compreendidos como evoluções naturais da concorrência 
capitalista; no entanto, também se tomam fonte de poder para 
levar a cabo projetos econômicos conscientes e calculados, que 
afetam o resto da economia. Nesse caso, a ordem espontânea 
carrega consigo as sementes da própria destruição.
Política Tributária e Meio Ambiente 29
E cita Wainwright (1994, p. 52-53) como resposta ao neoliberalismo 
pregado por Hayek a política econômica adotada pelo Japão nos anos 90, em 
que
[...] as principais empresas e o Estado criaram uma instituição 
econômica central, funcionando em sistema de rede, para a elite 
econômica, uma parte do Ministério da Indústria e Tecnologia 
que facilita o intercâmbio de planos, informações sobre mercados 
internacionais e áreas de interesse mútuo tais como relações 
trabalhistas e desenvolvimento tecnológico. Os participantes 
desse processo criaram redes informais adicionais que dão 
continuidade à troca de informações. Essas densas redes de 
conhecimento ligando a elite do Japão são um ingrediente vital 
no sucesso da competitividade de sua economia. Mas ninguém 
poderia chamá-las de espontâneas. Com certeza trouxeram 
muitos benefícios não intencionais à gerência das corporações 
japonesas e ao Estado (e sem dúvida contribuíram para a 
natureza corrupta da política japonesa), mas não há dúvida de 
que foram intenções de intervir no mercado que impulsionaram
0 processo [...].
Não obstante a atual Constituição da República Federativa do 
Brasil possuir caráter liberal, na realidade o Estado está tomado pelas 
características neoliberais, ou seja, o estágio do Estado brasileiro é de 
cunho Neoliberal que possui atributo de um estado mínimo, pois a maior 
parte dos direitos sociais enunciados na Constituição de 1988 possuem 
conotação programática, interpretando-os de acordo com os princípios 
liberais. De outra banda, os setores essenciais para a economia estão sendo 
privatizados, tais como: telefonia, energia elétrica, rodovias.
O Estado Neoliberal não deixa de ser interventor, pois no momento 
em que entrega determinadas atividades que são de vital importância para 
o país à iniciativa privada está intervindo na economia, uma vez que as 
privatizações são formas de intervenção. Esse modelo neoliberal está 
debilitando a soberania estatal, pois o neoliberalismo adveio tendo como 
cerne a globalização, já que essa surgiu da massificação da produção e 
do comércio mundial. Foram brotando as alianças políticas seguidas por 
outras de caráter econômico e juntas conformaram novas ordens regionais e 
posteriormente globais. Exemplo disso são a União Européia, a Organização 
Mundial do Comércio (OMC), o Fundo Monetário Internacional (FMI), o 
Banco Mundial.
30 Gilmar Stelo e Leonardo Gonçalves Murara
OEstadoglobalizadoéuminstrumentopolíticodahipomodemidade, 
tendo como modelo o neoliberalismo, que se caracteriza por um processo 
de globalização, com liberalismo econômico, fluidez mediática e 
hiperconsumo, que coexistem com o nível dos Estados integrados que 
associam suas influências políticas, econômicas e culturais, assim como os 
planos de luta contra adversidades comuns.
O modelo neoliberal surgiu como decorrência da globalização, que 
passou a existir através da expansão das fronteiras científicas e culturais, 
sociais e geográficas, em um processo paulatino e constante que foi 
permitindo estender-se à maioria dos países do globo.
Essa nova ordem pode ser considerada como um processo econômico 
- que modifica substancialmente as bases do comércio de produção e dos 
mercados - e político - que transcende a fi-onteira dos Estados com ingerência 
nos governos correspondentes. A globalização acaba afetando as condições 
de vida de todos os habitantes do planeta, mais precisamente a cultura, os 
mercados econômicos, as leis e a política, superando assim as fi'onieiras 
nacionais.
Salienta-se que o modelo neoliberal, sem instrumentos de freio 
e contrapeso, é o modelo perfeito para os grandes grupos mundiais 
estabelecerem suas idéias e seus interesses, encontrando no fenômeno 
da “globalização” sua alavanca propulsora geradora de um aumento da 
desigualdade social.
Para Sarmento (2002, p. 66):
[...] a aceleração do processo de globalização econômica 
experimentada neste final de século vem pondo em risco 
algumas conquistas históricas no campo dos direitos 
humanos. A mundializaçao da economia, regida exclusivamente 
pelas leis do mercado, redifica o ser humano, tomando-o um mero 
instrumento - eventualmente descartável - para a maximização 
dos resultados dos agentes econômicos transnacionais, 
enquanto se assiste ao esfacelamento do estado-providência. 
Paralelamente a isto, desenvolve-se com algum vigor, certa 
corrente de pensamento dita “pós-modema”, caracterizada 
pelo desprezo aos valores emancipatórios universais 
cristalizados a partir do Iluminismo - liberdade, igualdade, 
fraternidade -, apoiando-se numa filosofia sem sujeito, onde 
a categoria 'pessoa humana' perde a centralidade
Politica Tributária e Meio Ambiente 31
Cabe, no entanto, conforme Roberto Dromi (2005, p. 28-29)
[...] distinguir a globalização da internacionalização, que 
importa uma cooperação entre Estados soberanos, pois 
uma das características da globalização tem sido a erosão 
da soberania estatal devido ao desenvolvimento e expansão 
de redes mundiais de comunicação e informação, que têm 
levado a economia e tecnologia a escaparem do controle dos 
Estados.
Além disso, a globalização está gerando uma internacionalização 
financeira e econômica de capitais, ocasionando uma desregulação 
econômica, fazendo com que valores migrem dos países numa velocidade 
assustadora, enfraquecendo economias de países em desenvolvimento 
como o Brasil.
A globalização desenfreada, sem instrumentos de controle ocasiona 
0 enfraquecimento econômico-financeiro do Brasil, deteriorando até 
mesmo as normas legais que servem de instrumento para a proteção da 
economia do país.
Segundo Faria (1999), no âmbito específico do Estado-nação, 
as instituições jurídicas acabaram sendo progressivamente reduzidas, 
no que se refere ao número de pessoas e diplomas legais, e tomadas 
mais ágeis e flexíveis, em termos processuais. Evidentemente, o Estado 
continuou legislando, inclusive em matéria econômica, financeira,monetária, tributária, previdenciária, trabalhista, civil e comercial. Mas, 
passou a fazê-lo agora, e esse é o fato novo digno de nota, diminuído em 
seu poder de intervenção e, muitas vezes, constrangido a compartilhar 
sua titularidade de iniciativa legislativa com diferentes forças que 
transcendem o nível nacional, ou seja, limitado em suas políticas fiscais, 
em seus instrumentos de direção e em suas estratégias de planejamento; 
obrigado a levar em conta antes o contexto econômico-financeiro 
internacional do que as próprias pressões, os anseios, as expectativas e as 
reivindicações nacionais; e restrito ao papel de articulador e controlador 
da auto-regulação, tendo por função (a) preservar a complexidade das 
diferentes racionalidades dos setores e agentes produtivos e (b) induzir 
processos de mútuo entendimento entre eles.
32 Gilmar Stelo e Leonardo Gonçalves Murara
Como se observa, o Brasil, em face de não possuir um efetivo 
adorno de controle dos efeitos perversos que a globalização contém, está 
perdendo a capacidade de gerir sua política econômica sem abrir mão 
da direção traçada através de metas a serem alcançadas, porquanto cada 
vez mais o contexto econômico financeiro mundial está ditando as regras 
e acabando por atrapalhar aqueles países que não possuem sistemas de 
proteção contra o poder econômico dos grandes grupos mundiais, caso 
do Brasil. Exemplo disso é a meta de inflação (política ditada pelo FMI) 
adotada pelo Brasil.
Nesse sentido enfatiza Faria (1999, p. 232):
[...] no âmbito da 'economia-mundo' as organizações 
financeiras e empresariais transnacionais, agindo com base 
na premissa de que as decisões relativas aos sucessivos 
estágios das atividades produtivas não podem ser tomadas 
separadamente, por etapas, mas de forma simultânea e global, 
ampliaram expontaneamente a produção de suas próprias 
regras, sob a forma de sistemas de organização e métodos, 
manuais de produção, regulamentos disciplinares, códigos 
deontológicos de conduta e, principalmente, contratos 
padronizados com alcance mundial. Como no âmbito de uma 
cadeia produtiva cada conexão é um conjunto de relações 
dinâmicas e como as diferentes conexões interagem entre 
si, as organizações financeiras e empresariais transnacionais 
nelas inseridas precisaram criar e adensar sua normatividade 
e sua 'oficialidade' para maximizar a administração dos 
blocos de relações segmentadas e as estratégias de sinergia 
entre fornecedores de matérias-primas, montadores, 
distribuidores e prestadores de serviços, o que as levou a gerar 
uma jurisprudência’ ad hoc paralelamente ao ordenamento 
jurídico de cada território em que atuam.
O gradativo esvaziamento da autonomia decisória das instituições 
político-Iegislatívas nacionais e o subsequente deslocamento das decisões 
fundamentais para o âmbito de um sistema econômico transnacional 
estão acarretando uma forte redução no leque de opções e alternativas do 
eleitorado, pois está-se constatando claramente a predominância do poder 
econômico em detrimento do poder político, independente de posição 
política e ideológica.
A globalização econômica está provando que, na ausência de 
um sistema que a controle, pode implicar a desintegração social, pois a
Política Tributária e Meio Ambiente 33
globalização está levando à emergência de novas profissões e especializações 
para as quais não existe um sistema técnico-educacional adequado, 
acelerando a mobilidade do trabalho e a flexibilização de sua estrutura 
ocupacional entre setores, regiões e empresas, provocando a redução dos 
salários, ampliando os níveis de concentração de renda, relativizando o 
peso do trabalho direto nas grandes unidades produtivas, aumentando o 
desemprego dos trabalhadores menos qualificados. Exemplo disso são as 
empresas multinacionais do setor automotivo que migram de país quando 
lhe são oferecidos incentivos fiscais, acarretando desemprego para aquele 
país no qual houve a perda da empresa. As novas profissões ligadas às 
áreas de tecnologia, computação, finanças, possuem um aprendizado mais 
técnico nos países mais desenvolvidos, isso sem falar no deslocamento de 
moeda que, em questão de segundos, se deslocam dos países periféricos 
para os países desenvolvidos, os quais, na maioria dos casos, são 
detentores das sedes dos grandes conglomerados econômicos. Exemplo 
disso são as grandes fábricas de automóveis (Ford, General Motors, etc.) 
que se deslocam para países desenvolvidos que têm condições de oferecer 
benefícios fiscais, considerando também a solidez da política econômica 
adotada pelo país (Estados Unidos da América-EUA, Alemanha, etc.)
Essas transformações estão diminuindo aproteçãodos trabalhadores, 
afetando diretamente a estrutura do poder político do país, deslocando o 
poder de decisão das mãos do executivo para as mãos do poder econômico, 
fugindo ao controle do país que fica cada vez mais de mãos amarradas 
assistindo ao aumento da desigualdade social, do desemprego, sem ter 
força de reação.
Além disso, conforme Singer (1996), as novas tecnologias 
exercem um impacto decisivo na descentralização, heterogeneização e 
fragmentação do mundo do trabalho, seja por permitir a transferência dos 
custos da ociosidade produtiva das grandes para as pequenas e médias 
empresas, seja por substituir o tradicional contrato de prestação de serviços 
e de compra e venda da força de trabalho por ura contrato de fornecimento 
de mercadorias, seja por abrir caminho para a sua regulação em termos 
cada vez mais individualistas, promocionais e meritocráticos, graças ao 
pagamento de bônus por assiduidade, gratificações por produtividade e 
prêmios relativos à qualidade - portanto, colidindo com as formas coletivas 
padronizadas até então prevalecentes.
34 Gilmar Stelo e Leonardo Gonçalves Muraro
As conclusões de Perry Anderson (1995, p.23)‘*, em texto no qual 
faz um balanço do neoliberalismo, são expressivas:
Economicamente, o neoliberalismo fracassou, não 
conseguindo nenhuma revitalização básica do capitalismo 
avançado. Socialmente, ao contrário, o neoliberalismo 
conseguiu muitos dos seus objetivos, criando sociedades 
marcadamente mais desiguais, embora não tão desestatizadas 
como queria. Política e ideologicamente, todavia, o 
neoliberalismo alcançou êxito num grau com o qual seus 
fundadores provavelmente jamais sonharam, disseminando 
a simples idéia de que não há alternativas para os seus 
princípios, que todos, seja confessando ou negando, têm de 
adaptar-se a suas normas.
Para Pastore^ apud Faria (2005), a manipulação na velocidade 
das máquinas e dos equipamentos produtivos estão levando à crescente 
aceleração do ritmo de trabalho. Elas também afetam o nível de crescimento 
da oferta de emprego, na medida em que permitem a agregação de diferentes 
funções para cada trabalhador (caso em que um único homem controla um 
conjunto articulado de máquinas) e a rotação por distintas tarefas e funções 
(como, por exemplo, na experiência de equipes que se responsabilizam 
por toda uma seqüência da etapa produtiva), tomando desnecessária a 
contratação de pessoal para as tarefas rotineiras e repetitivas. Essas podem 
ser facilmente executadas por robôs que, na linguagem bastante irônica 
de um analista, além de não fazer greves nem reclamar seus direitos 
judicialmente, ainda trabalham no calor e no frio, no claro e no escuro, no 
ar poluído e em locais insalubres, dispensando iluminação, refrigeração, 
aquecimento e purificadores de ar e atuando tanto nos fins de semana 
quanto nos feriados com o mesmo entusiasmo dos dias úteis.
Ademais, segundo Grau (2001), o modo de produção social 
globalizado dominante conduz, não apenas à perda de importância dos 
conceitos de “país” e “nação”, mas também ao comprometimento da noção 
de Estado.
A globalização, afirma Ralf Dahrendorf (1995), ameaça a sociedade 
civil, na medida emque (I) está associada a novos tipos de exclusão social,
ANDERSON, Perry. Balanço do neo-liberalismo. In: SANDER, Emir; GENTILl, Pablo 
(Org.). São Paulo: Paz e Terra, 1* reimpressão, 1995, p. 23.
® In “dumping da robótica”. Jornal da Tarde, edição de 6 de abril de 1994.
Política Tributária e Meio Ambiente 35
gerando um subproletariado, em parte constituído por marginalizados em 
função da raça, nacionalidade, religião ou de outro sinal distintivo; (II) 
instala uma contínua e crescente competição entre os indivíduos; (III) 
conduz à destruição dos serviços públicos (destruição do espaço público e 
declínio dos valores do serviço por ele veiculado). Enfim, a globalização 
na fusão de competição global e de desintegração social compromete a 
liberdade.
Portanto, o Brasil não adotou instrumentos com o escopo de frear 
os efeitos perversos da globalização econômica, ficando submetido ao 
poder econômico dos grandes grupos mundiais, do capital estrangeiro, 
perdendo sua força, fazendo com que as leis e a Constituição Federal sejam 
interpretadas ao crivo do poder econômico, reduzindo o poder político das 
instituições e, principalmente, diminuindo a força e o poder no cenário 
interno dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.
1.2 O Estado Brasileiro Contemporâneo e sua função social de acordo 
com a Constituição Federal de 1988
Rodrigues (2003) ressalta, inicialmente, que o Estado brasileiro 
está atrelado aos princípios fundamentais estabelecidos pela Constituição 
Federal em seu Título 01. Para Rodrigues, suas ações devem ser norteadas, 
dentre outros, pelo princípio da dignidade da pessoa humana, devendo ter 
por objetivos, dentro da sua esfera de competências, a busca da construção 
de uma sociedade livre, justa e solidária, e a promoção do bem-estar de 
seu povo, além de ter de possuir uma ação necessariamente conectada com 
os Direitos e as Garantias Fundamentais, esses constantes no Título II da 
mesma Constituição.
A enumeração contida no art. 3° da Constituição Federal de 1988^, 
segundo Bulos (2002), evidencia os fins do Estado brasileiro. Ela não é 
taxativa, mas exemplificativa, uma vez que não exaure os objetivos a que 
se destina a República Federativa do Brasil.
® Art. 3° Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil;
! - construir uma sociedade livre, justa e solidária:
II - garantir o desenvolvimento nacional:
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regio­
nais:
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quais­
quer outras formas de discriminação.
36 Gilmar Stelo e Leonardo Gonçalves Muraro
Ao se analisar os art. 1°, inciso IV, 3°, inciso III, 5°, inciso, XXII e 
170, inciso r v da Carta Magna de 1988^ conclui-se que o Brasil preceitua 
na Constituição o modelo capitalista. Porém, com limitações, pois, além dos 
objetivos acima referidos, a ordem econômica está fundada na valorização 
do trabalho humano e na livre iniciativa, tendo por fim assegurar a todos 
existência digna, conforme os ditames da justiça social, possuindo como 
base os seguintes princípios: soberania nacional, propriedade privada, 
função social da propriedade, defesa do consumidor, defesa do meio 
ambiente, redução das desigualdades regionais e sociais, busca do pleno 
emprego e tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte 
constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração 
no País. (BRASIL. Constituição, 1988).
Nessa esteira, Grau (2001, p.58) preconiza que:
[...] a ordem econômica capitalista, ainda que se qualifique 
como intervencionista, está comprometida com a finalidade 
de preservação do capitalismo. Daí a feição social, que lhe é 
atribuída, a qual, longe de desnudar-se como mera concessão 
a um modismo, assume, nitidamente, conteúdo ideológico.
Nesse mesmo diapasào é o entendimento de Silva (1993, p. 666):
[...] a ordem econômica consubstanciada na Constituição não 
é senão uma forma econômica capitalista, porque ela se apóia 
inteiramente na apropriação privada dos meios de produção 
e na iniciativa privada (art. 170). Isso caracteriza o modo de 
produção capitalista, que não deixa de ser tal por eventual 
ingerência do estado na economia nem por circunstancial 
exploração direta de atividade econômica pelo estado e 
possível monopolização de alguma área econômica, porque 
essa atuação estatal ainda se insere no princípio básico do 
capitalismo, que é apropriação exclusiva por uma classe dos
 ^Art. 1° A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados 
e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem 
como fundamentos; [...]
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; I...]
Art. 3° [...] Ill - Cf. nota de rodapé 5.
Art. 5® Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se 
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à 
liberdade, à igualdade, à segurança e á propriedade, nos termos seguintes: [...] XXII - é 
garantido o direito de propriedade; [...]
Art. 170. IV - livre concorrência;
Política Tributária e Meio Ambiente 37
meios de produção, e, como é essa mesma classe que domina
o aparelho estatal, a participação deste na economia atende a 
interesses da classe dominante.
A política adotada pelos Governos do Brasil desde a CF/88, está 
sendo seguida de forma parcial pelo Brasil, encontrando-se destoada 
dos princípios preconizados pela Carta Política de 1988, uma vez que 
essa possui como função social um “capitalismo com limitações”; já o 
modelo adotado pelo Governo possui cunho “neoliberal” ou seja, adota o 
capitalismo sem, na prática, possuir limitações, principalmente para impor
0 cunho social enfatizado na Carta Magna de 1988. Destarte, os princípios 
constitucionais preconizados expressamente na Constituição Federal não 
estão sendo seguidos. Salienta-se que não é a Constituição Federal que deve 
ser alterada, mas sim os Governos que devem adotar o modelo previsto na 
Carta Magna de 1988.
0 Governo tem de ter sempre como meta a função social a ser 
alcançada, que está expressamente prevista na Constituição Federal, não de 
forma taxativa, mas exemplificativa, conforme alguns artigos mencionados 
anteriormente (art.P , 4° e 170)^. O Brasil está adotando um modelo de
® Art. 1° A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados 
e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem 
como fundamentos;
1 - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - 0 pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes 
eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
Art. 4° A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos 
seguintes princípios:
I - independência nacionai;
II - prevalência dos direitos humanos;
III - autodeterminação dos povos;
IV - nâo-intervenção;
V - igualdade entre os Estados;
Vi - defesa da paz;
Vli - solução pacífica dos conflitos;
V iil - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
X - concessão de asilo político.
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, poli-
38 Gilmar Stelo e Leonardo Gonçalves Murara
capitalismo de cunho eminentemente “neoliberal”, ou seja, apto a prestar 
apenas o “mínimo” necessário para a população, privatizando os principais 
setores ou delegando através de concessões para o setor privado, ficando 
o Governo ao talante daquele setor, sem mecanismos que visam garantir 
regras que objetivem a eficiência na sua prestação com tarifas módicas, 
de modo a propiciaracesso a um maior número possível de pessoas. Pois, 
segundo Petter (2005, p. 20), “ [..] nosso país fez uma inegável opção pelo 
sistema capitalista de produção com temperamentos sociais[...]”.
O art. 170 da Constituição Federal de 1988 estabelece os princípios 
constitucionais da ordem econômica que está fundada na valorização do 
trabalho humano e na livre iniciativa, tendo por fim assegurar a todos 
existência digna conforme os ditames da justiça social.
Os princípios gerais da atividade econômica são núcleos 
condensadores de diretrizes, ligados à apropriação privada dos meios de 
produção e à livre iniciativa, as quais consubstanciam a ordem capitalista. 
Pela retórica do constituinte, tais princípios serviriam para sistematizar 
a esfera de atividades criadoras e lucrativas, com vistas à redução das 
desigualdades sociais. Consignariam, em última anáUse, um bojo de 
providências constitucionais efetivadoras da cognominada “justiça 
social”.
tica, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comuni­
dade latino-americana de nações.
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre ini­
ciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça 
social, observados os seguintes princípios;
I - soberania nacional;
II - propriedade privada;
III - função social da propriedade;
IV - livre concorrência:
V - defesa do consumidor;
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o 
impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e presta­
ção;
VIII - busca do pleno emprego;
IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis 
brasileiras e que tenham sua sede e administração no País.
Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercicio de qualquer atividade econômica, 
independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em 
lei.
Política Tributária e Meio Ambiente 39
Todavia, segundo Bulos (2002, p.1139-1140),
[...] 0 reconhecimento da justiça social, por intermédio dos 
instrumentos de tutela dos hipossuficientes, quais sejam, 
os direitos sociais (art.6®), não tem tido, até o momento, a 
eficácia social necessária para equilibrar a posição de miséria 
e pobreza que lhes impede o efetivo exercício das garantias 
outorgadas. Soma-se a isso a política neoliberal, emergente 
cora a queda do muro de Berlim e a derrocada dos regimes 
socialistas europeus, em cujo esteio a liberdade ficou perdida, 
num clima de globalização desenfreada. Privilegiando a 
economia privada, o espírito do neoliberalismo não conseguiu 
estacar as desigualdades sociais, criadas e produzidas pela 
iníqua distribuição de rendas.
Como observa Marilda Vilelia lanomoto (2001) quando a 
ordem econômica se diz “fundada na valorização do trabalho humano” 
sobreleva o aspecto do trabalho livre, do direito ao trabalho em si, e não às 
particularidades da relação empregatícia, mais afeta ao direito laborai, mas 
que também com o econômico se conectam. Impõe-se a valorização do 
trabalho humano. Valorizar o trabalho, então, eqüivale a valorizar a pessoa 
humana, e o exercício de uma profissão pode e deve conduzir à realização 
de uma vocação do homem. Paradoxalmente, acrescenta Ricardo Antônio 
Lucas Camargo (1993), mesmo o mercado, modernamente marcado por 
ideologias indisfarçadamente liberais - no sentido mais pobre do termo 
em cuja lógica o trabalho humano é apenas um fator de produção, a ser 
matematicamente equacionado na diagramação dos custos e dos lucros 
tão-somente, não pode prescindir das conseqüências da valorização do 
trabalho humano.
Ademais, a liberdade de trabalho se manifesta também na livre 
escolha do lugar em que se deseja exercer uma profissão e a sua valorização 
diz respeito, ainda, à atuação estatal/privada de reinserção no mercado de 
trabalho do apenado que haja cumprido sua condenação. Para José Afonso 
da Silva (1995), a ordem econômica, embora capitalista, dá prioridade 
ao valor do trabalho humano sobre todos os demais valores da economia 
de mercado. Essa assertiva fica mais bem esclarecida quando tomada em 
consideração a finalidade da ordem econômica, que deve estar direcionada 
à potencialização do homem, seja em sua dignidade existencial, seja na
40 Gilmar Stelo e Leonardo Gonçalves Murara
substantivação das qualidades que o singularizam - humanidade mais bem 
percebida no quadrante solidarista e fraternal da justiça social.
Salienta-se que o Estado Contemporâneo Brasileiro, que possui 
como modelo o capitalismo com limitações, tem como princípio também 
relevante e embasador de sua ordem econômica a livre iniciativa que, para 
Reaie(1998, p. A-3),
[...] não é senão a projeção da liberdade individual no 
plano da produção, circulação e distribuição das riquezas, 
assegurando não apenas a livre escolha das profissões e das 
atividades econômicas, mas também a autônoma eleição dos 
processos ou meios julgados mais adequados à consecução 
dos fins visados. Liberdade de fins e de meios informa 
o princípio da livre iniciativa, conferindo-lhe um valor 
primordial, como resulta da interpretação conjugada dos 
citados arts. 1® e 170.
De acordo com João Bosco Leopoldino da Fonseca (1995) no 
mercado, por outro lado, constata-se que em muitos segmentos há a 
ocorrência do fenômeno da concentração do poder econômico, que fica, 
por assim dizer, assenhoreado nas mãos de uns poucos, com ofensa à livre 
iniciativa, invocando a necessidade de tutela e intervenção do Estado, 
sob pena de aquela, literalmente, sucumbir. Então, ao contrário do que se 
poderia imaginar, a intervenção do Estado no domínio econômico (CF, art. 
174)^, muito antes de limitar a iniciativa e a liberdade do particular, tem 
por fim, mesmo, preservá-la. Para Bastos (1996), a livre iniciativa não só 
consubstancia alicerce e fiindamento da ordem econômica, como também 
deita raízes nos direitos fundamentais da ordem econômica, aos quais se faz 
ínsita uma especial e dedicada proteção. Se o capuí do art. 5° se encarregou 
de garantir o direito à liberdade, no viés econômico ela ganha contornos 
mais precisos, justamente na livre iniciativa. Pois, conforme Bastos e Ives 
Gandra Martins (2000), se é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou 
profissão (CF, art. 5°, XIII)^°, essa liberdade compreende também a liberdade
 ^Art. 174 - Como agente nomiativo e regulador da atividade econômica, o Estado exer­
cerá, na forma da lel. as funções de fiscalização, Incentivo e planejamento, sendo este 
determinante para o setor público e indicativo para o setor privado.
Art. 5°. XIII - É livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as 
qualificações profissionais que a lei estabelecer.
Política Tributária e Meio Ambiente 41
de se lançar na atividade econômica, sendo então assegurado a todos o livre 
exercício de qualquer atividade econômica (CF, art. 170, parágrafo único).
Dispõe ainda a Constituição Federal de 1988 no parágrafo único do 
art. 170 que “[...] é assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade 
econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos 
casos previstos em lei [...]”. Trata-se do princípio da livre iniciativa econômica 
que, para Ferreira (1998), constitui a marca e o aspecto dinâmico do modo 
de produção capitalista. Consiste no poder reconhecido aos particulares de 
desenvolverem uma atividade econômica. É mesmo uma fonte axiológica de 
liberdade do particular perante o Estado e até perante os demais indivíduos, 
um atributo essencial da pessoa humana em termos de realização direta de 
sua capacidade, suas realizações e seu destino.
Peter (2005, p.l68) frisa, ainda, que:
[...] 0 princípio da liberdade de iniciativa econômica há de 
compreender a liberdade de acesso ao mercado e a liberdadede 
permanência deste mercado. Estas duas liberdades implicam, 
por sua vê, uma infinidade de condicionantes constatáveis na 
cena econômica e numa adequação institucional pertinente, e 
podem se desdobrar em outras tantas liberdades.
Dentre os princípios da ordem econômica, tem-se o da proteção 
ao meio ambiente (art. 170, inciso VI da CF/88)’ ^que corrobora como um 
limite ao exercício da livre iniciativa e da livre concorrência; por isso, 
sendo um dos princípios constitucionais regentes da ordem econômica. 
Segundo Silva (2003, p. 26-27),
[...] a compatibilização do desenvolvimento econômico- 
social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do 
equilíbrio ecológico, a conciliação dos dois valores consiste, 
na promoção do chamado desenvolvimento sustentável, que 
consiste na exploração equilibrada dos recursos naturais, 
nos limites da satisfação das necessidades e do bem-estar 
da presente geração, assim como de sua conservação no 
interesse das gerações futuras.
” Art. 170 [...] VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado 
conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elabora­
ção e prestação.
42 Gilmar Stelo e Leonardo Gonçalves Muraro
A Constituição Federal de 1988 estabelece que a função social do 
Estado Brasileiro é alcançar o bem comum, cujo conteúdo será discutido 
no 3° capítulo, (art.3°)‘^ que, por sua vez, visa assegurar os direitos 
fundamentais'^ (art.5®- caput).
Torres (1999, p.lO) esclarece;
[...] a expressão direitos fundamentais empregam-na 
principalmente os autores alemães, na esteira da Constituição 
de Bonn, que dedica o capítulo inicial aos Gnindrechte, mas 
a advertência de parte significativa da doutrina é a de que 
não existe diferença entre esses direitos fundamentais e os 
direitos da liberdade ou os direitos humanos. Ingressou no 
Brasil no texto de 1988 (Título II: Dos Direitos e Garantias 
Fundamentais.
E dentre os direitos fundamentais está a defesa do meio ambiente 
eleita em verdadeiro direito fundamental. Segundo Milaré (2000, p.53- 
58),
Art. 3® - Ver nota de rodapé em págs. anteriores.
só existem direitos fundamentais quando os direitos "naturais” e “inalienáveis” do 
indivíduo estão incorporados na ordem positiva e são colocados no lugar cimeiro das 
fontes do direito, ou seja, quando recebem o status de normas constitucionais.” (CANOTI- 
LHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoría da constituição. 7. ed. Coimbra: 
Portugual: Atmedina, 2003, p.377).
os direitos fundamentais são aqueles que representam a constitucionalizaçâo dos di­
reitos humanos que gozaram de alto grau de justificação ao longo da história dos discursos 
morais, que são. portanto, reconhecidos como condições para a construção e o exercício 
dos demais direitos." (GALUPPO, Marcelo Campos. O que são direitos fundamentais; In: 
SAMPAIO, José Adércio Leite (org.). Jurisdição constitucional e direito fundamentais. Belo 
Horizonte: Del Rey, 2003, p. 233.)
“[...] são direitos inerentes à própria noção de pessoa, como direitos básicos da pessoa, 
como os direitos que constituem a base jurídica da vida humana no seu nível actual de 
dignidade.” (MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional: direitos fundamentais. 
Coimbra: Coimbra Ed., 1988. t.4, p.9.)
Em relação ao ordenamento jurídico brasileiro, tem-se que vários Direitos Humanos foram 
incorporados em diversos artigos, ao passo que muitos outros são reconhecidos como 
direitos fundamentais implícitos que, apesar de positivados, não possuem a efetividade 
que deveriam ter. Diante deste panorama, fica cristalino que um dos maiores problemas 
enfrentados pelo ordenamento jurídico e por aqueles que o estudam é a falta de eficácia 
social dos direitos fundamentais, uma vez que, apesar de estes estarem expressamente 
positivados, não conseguem sair do papel e mudar o mundo exterior, o que traz conse­
qüências diretas na vida dos cidadãos. (NAKASHIMA, Adriano de Pádua. Hermenêutica 
filosófica e direitos fundamentais. Revista de Direito Publico n. 10 out/nov e dez/2005. 
Brasília; Ed. lOB/Thomson e Instituto Brasiiiense de Direito Público (IDP), p.113.)
Política Tributária e Meio Ambiente 43
Se o fim da ordem econômica é assegurar a todos uma 
existência digna, da mesma forma o direito ao meio ambiente 
ecologicamente equilibrado (CF, art. 225), essencial á sadia 
qualidade de vida, está centrado na pessoa humana e, pois, 
segundo autorizada doutrina consiste mesmo em verdadeiro 
direito fundamental, a par de não constar topologicamente 
no Capítulo I do Título I I da Constituição Federal, o que é de 
todo irrelevante.
Nesse sentido, também, adverte Derani (1996, p.l41):
A economia ambiental está assentada na política e através 
dela se realiza. Por isso, um caminho a ser apresentado 
para reconciliação da economia com a natureza localiza-se 
longe da monetarizaçào do ambiente que é dependente da 
modificação vinculada a práticas políticas. Esta dualidade 
economia e ecologia (transformação de valor e de matéria) 
resulta num sistema de reação positiva (maior a atividade 
econômica, maior a transformação da natureza), que deve ser 
modificado de modo a encontrar-se uma produção humana- 
movimento da e p a ra a existência humana.[...].
Desse modo, o meio ambiente também está inserido no rol dos 
direitos fundamentais consagrados pela Constituição Federal de 1988, o 
qual contribui para que seja alcançado o bem comum que nada mais é do que 
proporcionar e garantir os direitos fundamentais a cada pessoa. Somente isso 
fará com que a função social consagrada pela Carta Magna de 1988, a qual 
está moldada tendo como cerne o modelo capitalista (art. 3°, III, da CF/88)^\ 
seja alcançada não apenas na teoria, mas, especialmente, na prática.
Com efeito, como se pode observar, o Brasil adotou expressamente 
na Constituição Federal de 1988 um modelo capitalista com limitações, 
pode-se dizer com temperamentos sociais, pois, concatenando os artigos 1®, 
3°, 4® e 170*^ assim se vislumbra, mas na prática a política que possui na 
realidade cunho neoliberal destoa dos objetivos e princípios pregados pela 
Carta Política de 1988.
Art. 3°. Ill - Erradicar a pobreza e a marginalizaçâo e reduzir as desigualdades sociais 
e regionais.
Arts. 1 ° , 3®, 4® e 170 - Ver notas de rodapé em págs. anteriores.
44 Gilmar Stelo e Leonardo Gonçalves Murara
2 A INTERVENÇÃO DO ESTADO POR MEIO DE POLÍTICAS
TRIBUTÁRIAS
Será abordado como o Estado poderá intervir na ordem econômica 
por meio de políticas tributárias, de modo que possa implementar políticas 
públicas de tributação ambiental que estejam de acordo com os princípios 
constitucionais estabelecidos na CF/88, procurando alcançar como 
finalidade última, o desenvolvimento sustentável.
2.1 A intervenção econômica por indução
Antes de entrar no tema da extrafiscalidade tributária e do 
meio ambiente, procura-se demonstrar como o Estado pode, através da 
economia, induzir ações voltadas às políticas tributárias de proteção ao 
meio ambiente.
Faz-se relevante diferenciarmos a classificação das formas de 
atuação do Estado no tocante ao processo econômico, em que a diferença 
que aparta o campo dos serviços públicos (área de atuação estatal) do campo 
da denominada atividade econômica (área de atuação do setor privado), 
principalmente tendo como cerne os ensinamentos de Bros Roberto Grau.
Desse modo, para Grau (2001) verifica-se que o Estado não pratica 
intervenção quando presta serviço público ou regula prestação de serviço 
público. Atua, no caso, em área de sua própria titularidade, na esfera 
pública. Por isso mesmo dir-se-á que o vocábulo intervenção é, no contexto, 
mais correto do que a expressão atuação estatal: intervenção expressa 
atuação estatal em área de titularidade do setor privado; atuação estatal 
indica, simplesmente, ação do Estado tanto

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