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Perfil sistemático da tutela antecipada

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FABIA LIMA DE BRITO
PERFIL SISTEMÁTICO 
DA TUTELA ANTECIPADA
r
EDITORA
PERFIL SISTEMÁTICO 
DA TUTELA ANTECIPADA
FÁBIA LIMA DE BRITO
PERFIL SISTEMÁTICO 
DA TUTELA ANTECIPADA
EDITORA
Roberto Antônio Busato
Presidente da OAB e Presidente Honorário da OAB EDITORA
Jefferson Luis Kravchychyn
Presidente Executivo da OAB EDITORA
Francisco José Pereira
Editor
Rodrigo Pereira
Capa e Projeio Grático
Usina da Imagem
Diagramação
Dacio Luiz Osti
Revisão
Aline Machado Costa Timm
Secretária Executiva
Conselho Editorial 
Jefferson Luis Kravchychyn (Presidente)
Cesar Luiz Pasoid 
Hermann Assis Baeta 
Paulo Bonavides 
Raimundo César Britto Aragão 
Sergio Ferraz
B862p Brito, Fábia Uma
Perfil sistemático da tutela antecipada / Fábia 
Lima Brito. - Brasília: OAB Editora, 2004.
136 p.
1. Direito. I. Titulo
340
ISBN ■ 85-87260-52-9
EDITORA
SAS Quadra 05 • Lote 01 ■ Bloco M 
Edifício Sede do Conselho Federal da OAB 
Brasília, DF - CEP 70070-050 
Tel. (61)316-9600 
www.oab.org.br 
e-mail: oabeditora@oab.org.br 
jeHerson@kravchychyn.com,br
Á minha família e ao meu noivo, pela 
confiança e pela paciência de sempre.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO....................................................................................... 11
1 A TUTELA JURISDICIONAL SOB O ENFOQUE DO 
TRINÔMIO )U STIÇ A -E F E TIV ID A D E -TE M P E STIV ID A D E ............13
1.1 O acesso à justiça.....................................................................13
1.2 Os escopos do processo c iv il .................................................17
1.3 A instrumentalidade do processo.........................................18
1.4 A efetividade da tutela jurisdicíonai................................... 22
1.5 As modalidades de tutela jurisdicíonai..............................25
1.5.1 As modalidades tradicionais de
tutela jurisdicionai....................................................................26
1.5.1.1 A efetividade da tutela condenatória..................27
1.5.2 As outras modalidades de tutela jurisdicionai 30
1.5.2.1 A tutela executiva lato sensu ..................................30
1.5.2.2 A tutela m andam ental........................................... 31
1.5.2.3 A tutela específica do art. 461 do C P C ................32
1-6 A tempestividade da tutela jurisdicionai...........................37
2 A TUTELA JURISDICIONAL ANTECIPADA............................... 41
2.1 Efeitos e eficácia das decisões: análise sucinta...................41
2.2 A cognição judicial..................................................................45
2.2.1 Cognição horizontal (amplitude):
plena e parcial...........................................................................45
2.2.2 Cognição vertical (profundidade); exauriente, 
sumária e sum aríssim a........................................................... 46
2.2.2.1 Cognição vertical exauriente................................46
2.2.2.2 Cognição vertical sum ária.....................................47
2.2.2.3 Cognição vertical sumaríssima
(ou superficial).................................................................... 49
2.2.3 Algumas considerações sobre a cognição vertical ..... 50
2.3 Tutela antecipada; conceito.................................................. 52
2.4 Tutela antecipada e tutela cautelar: características...........57
2.5 Fundamentos para a concessão da tutela antecipada 63
2.5.1 Iniciativa da p a r te .......................................................... 64
2.5.2 Existência de prova inequívoca.................................... 65
2.5.3 Verossimilhança da alegação........................................ 67
2.5.4 Fundado receio de dano irreparável
ou de difícil reparação............................................................ 69
2.5.5 Abuso do direito de defesa ou manifesto 
propósito protelatório do r é u ................................................ 71
2.6 Tutela antecipada e pedido incontroverso
(art. 273, §6" do CPC)...................................................................73
2.7 A antecipação da tutela específica
(CPC, art. 461, §3") .......................................................................75
2.7,1 As medidas coercitivas e as medidas 
sub-rogatórias...........................................................................77
3 A EXECUÇÃO DA TUTELA ANTECIPADA.............................. 82
3.1 Considerações sobre a execução no processo civil.................82
3.2 Execução definitiva e execução provisória.............................86
3.3 A execução da tutela antecipada.............................................. 89
3.3.1 Execução da tutela antecipada condenatória...............96
3.3.1.1 Execução da condenação ao pagamento
de dinheiro ............................................................................96
3.3.2 Execução da tutela antecipada específica...................98
3.3.2.1. Execução da tutela antecipada inibitória 101
3.3.3 Execução da tutela antecipada deciaratória
e constitutiva...........................................................................103
3.3.4 Execução da tutela antecipada contra a
Fazenda Pública...................................................................... 107
3.3.4.1 As decisões judiciais favoráveis aos 
servidores públicos............................................................114
CONCLUSÕES...................................................................................... 119
REFERÊNCIAS...................................................................................... 127
PERFIL S ISTEM ÁTICO DA TUTELA ANTECIPADA
INTRODUÇÃO
Tal com o se busca, filosoficamente, u m sen tido p a ra a vida, 
deve-se buscar, na seara jurídica, u m sen tido pa ra a sua atuação. 
A inda q u e seja de p rim ord ia l im portância , o es tu d o d o processo 
sob o p rism a d e suas teorias e fórm ulas, se não p u d e r p ro p o rc i­
o n ar aos jurisd ic ionados o resultado que eles b u scam q u a n d o se 
socorrem do P od er Judiciário, de form a efetiva e célere, não se 
terá com o su s ten ta r a sua existência, já q u e a a tuação jurisdicio- 
nal d eve ter u m p ropósito delineado.
A o transfo rm ar a v ida d o ju risd ic ionado q u e a p rocu ra , eli­
m in an d o o conflito que a m otivou {ainda que ju lg ad o im proce­
den te o pedido), a tu tela jurisdicional p roporc iona a pacificação 
social e, com isso, alcança o fim ú ltim o do p ró p r io E stado, qual 
seja, o bem c o m u m . Isto é assim p o rq u e o E stado, ao p ro ib ir a 
v ingança p riv ad a , trouxe p a ra si o dever de reso lver os conflitos 
de in teresses, com a d istribu ição da justiça.
Esse d ev e r estatal co rresponde ao direito in d iv id u a l à ordem 
ju r íd ica ju s ta , er ig ido à categoria d e garan tia constitucional. N e s ­
sa m ed id a , o d ire ito de acesso à justiça (C onstitu ição Federal, 
art. 5”, inciso XXXV) d eve ser en ten d id o com o aque le capaz de 
reso lver o conflito levado a juízo de form a ráp id a e efetiva, seja 
q u a n d o a tu te la b uscada for u rgente , seja q u an d o h o u v e r fortes 
e lem entos p a ra crer q u e o d em an d an te tem razão. P ara o alcan­
f A b ia u m a d e b r it o
ce d e tal finalidade, o sistem a processual civil pá tr io p rev ê um a 
série d e m ecanism os, d en tre eles, o da tu tela an tecipada.
N o âm bito da antecipação da tu tela , deve-se levar em consi­
deração q u e a sua aplicação p o d e ensejar o conflito de do is d i­
reitos fundam entais: d e u m lado, o da segurança juríd ica, que 
assegura aos litigantes o d ireito de não serem p riv ad o s de seus 
b ens sem o con trad itó rio e sem a am pla defesa; d e ou tro ,o da 
efe tiv idade do processo. A p a r dessa controvérsia , a opção do 
legislador, conform e se dep reen d e d o esp írito d a s re fo rm as p ro ­
cessuais recentes, foi a d e prestig iar o p rincíp io d a efetiv idade, 
am p lian d o os po d eres do juiz p a ra q u e ele possa p o n d era r , no 
caso concreto, e aplicar a solução que for m ais justa.
O objetivo do p resen te traba lho foi o d e ana lisar essa for­
m a pela qual a tu te la jurisdicional viabiliza-se, sob os p rim ad o s 
d a efe tiv idade e d a tem pestiv idade, com vistas a transfo rm ar, 
concretam ente , a v ida d as pessoas que dela se socorrem . Desse 
m odo , alcançou-se o m ecanism o da tu tela an tec ip ad a (genérica 
o u específica), q u e se efetiva p o r m eio de sua execução, ju n ta ­
m en te com a aplicação d a s m ed id as p rev istas no s §§ 4" e 5*^ do 
art. 461 do C ódigo d e Processo Civil.
C onsta tou-se, ao final, que o sistem a juríd ico brasileiro, 
n o que respeita ao processo civil de resultados, vem sen d o ap r im o ­
ra d o significativam ente, seja p o r m eio d as sucessivas e necessá­
rias re fo rm as p rocessuais , seja pe la aplicação d e tais no rm as, 
concretam ente, pelo P oder Judiciário, seja pela colaboração da 
vasta e rica d o u trin a a respeito d o tema.
A autora.
PERFIL S ISTEM ÁTIC O D A TU TE LA ANTECIPADA
1 A TUTELA JURISDICIONAL SOB O ENFOQUE DO 
TRINÔMIO JUSTIÇA-EFETIVIDADE-TEMPESTIVtDADE
1.1 0 acesso à justiça
Q u a n d o o Estado, p ro ib indo a v ingança p r iv ad a - em que a 
justiça rep resen tav a a conquista d o m ais forte o u do m ais esper­
to - ch am o u pa ra si a aplicação d o direito com o algo d e in teres­
se púb lico em si m esm o e e s tru tu ro u o sistem a d e d ire ito s e ga ­
ran tias ind iv idua is , in terpôs os órgãos jurisd icionais en tre a a d ­
m in is tração e os d ire itos dos c idadãos, exce tuando-se apenas 
a lg u m as situações legais, com o o es tado d e necessidade, a legíti­
m a defesa, a retenção p o r benfeitorias. Por conseguin te , o Poder 
Judiciário to rnou-se u m p o d e r político, ind ispensáve l ao equilí­
b rio social e dem ocrático , e o processo, u m in s tru m en to d o tad o 
d e garan tias p a ra assegurá-lo .'
O E stado tornou-se , dessa forma, d ev e d o r do m eio através 
d o qual o c idadão exercitará seu direito subjetivo real ou sim ­
p lesm en te afirm ado. E este m eio consistirá na p restação jurisdi- 
cional que, an tes d e p oder , constitui dever. Entre o au to r, o juiz 
e o réu form a-se u m a relação jurídica que tem aqueles p o r su je i­
tos, a p restação d e tu te la jurisdicional com o objeto e o p re ssu p o s ­
to d e vedação d a au to tu te la com o causa.^
' GR ECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro, v. 1, São Paulo: Saraiva. 1994, p. 6.
 ^SILVA, Ovídio Araújo Baptista da. Teoria geral do processo civil. São Paulo: RT, 2000, pp. 34-35.
FÁBIA LIM A DE BRITO
Pode-se afirm ar que o m otivo pelo qual a lguém busca a p ro ­
teção ju risd icional d o E stado relaciona-se com a não -a tuação es­
p on tânea d e u m a regra de d ireito m aterial. Essa não-efetivação 
do d ire ito m ateria l enseja o conflito de interesses. Tais situações 
de v ida, seg u n d o o en tend im en to de José Roberto do s Santos 
Bedaque, "são v erd ad e ira s patologias, p o rq u e revelam m al fu n ­
cionam ento do o rdenam ento . Precisam ser e lim inadas, a fim de 
q u e se restabeleça a n o rm alid ad e da o rdem ju ríd ica violada".^ 
A tu te la jurisdicional se constitu i no am p a ro que o Estado, 
p o r m eio de seus m agistrados, confere a q u em tem razão, n u m 
conflito d e in teresses posto em juízo. E ntre tan to , n ão basta ao 
a u to r ter o d ire ito d e ação. N ão basta que p reencha to d o s os re ­
qu isitos p rocessuais exigíveis e os exerça ad eq u ad am en te . Ter 
ação garan te som en te a obtenção da sentença e n ão necessaria ­
m en te que esta lhe seja favorável; p a ra isso, é necessário ter o 
d ire ito alegado. Assim , "a tu tela jurisdicional n ão é necessaria ­
m en te tu tela de direitos, m as tutela a pessoas ou a g ru p o s de pesso ­
as" e alcança não só o au to r, com o tam b ém o réu , p r in c ip a lm en ­
te q u a n d o convencido da ilegitim idade da p re ten são do autor. 
Isso p o rq u e "p ro teger a esfera juríd ica d a pessoa contra as incer­
tezas decorren tes de fu tu ras d em an d as é tam bém m inistra r-lhe 
tu tela jurisdicional, n a m ed id a do im enso v a lo r q u e tem a certe­
za juríd ica na v ida d a s pessoas".'*
P ortan to , a C onstitu ição Federal brasile ira (CF) confere a to ­
d a s as pessoas o d ire ito de p ro p o r d em a n d as (direito de acesso à 
jurisdição), m as som ente terão direito à obtenção do p rov im en-
 ^ BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Tutela cautelar e tutela antecipada. Tutelas sumárias e 
tutelas de urgência (tentativa de sistematização). São Paulo: Malheiros, 1998. p. 98.
' DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. 2. ed., v. 1. São Paulo: 
Malheiros, 2002, pp. 104-107.
PERFIL SISTEM ÁTICO DA TU TELA ANTECIPADA 15
to jurisdicional se e q u an d o forem p reench idas as condições da 
ação (direito in strum en ta l de ação). Já o dire ito à tu te la jurisdici­
onal efetiva, só o terão aqueles que estiverem efetivam ente am ­
p a rad o s n o p lan o d o d ire ito m ateria l.'
Essa conceituação d e tu te la ju risd ic ional é im p o rtan te , na 
m ed id a em q u e o processo civil m od ern o não está vo ltado u n i­
cam ente em benefício d o autor, m as objetiva a pacificação das 
p arte s conflitantes, tu te lan d o o interesse de q u em tem razão e 
n ão o d e qu em não possu i direito.^
O núcleo do direito processual civil brasileiro está no inciso 
XXXV, do art. 5", da Constituição Federal, segundo o qual "/? lei não 
excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito".
Tal d ispositivo consagra o princípio da in d isp o n ib ilid ad e da 
jurisdição, que busca o ap rim o ram en to d o sistem a processual. 
Esse princípio , tam bém conhecido com o p rincíp io d a efe tiv ida ­
d e d a ju risd ição ou d o acesso à ordem juríd ica ju s ta , d ev e ser en ­
ten d id o não apenas com o o direito de ' 'en tra r na justiça", m as 
ta m b é m c o m o o d e " s a i r d a ju s t iç a " co m u m r e s u l t a d o 
satisfatório^. É esse o sen tido da célebre expressão de C hiovenda: 
" o p rocesso d eve dar, q u an to for possível p ra ticam en te , a quem 
ten h a u m direito , tu d o aquilo e exatam ente aqu ilo q u e ele tenha 
d ire ito de consegu ir"* . Em ou tras palavras, " o d ev e r im posto ao
® MARCATO, Antonio Carlos, Considerações sobre a tutela ju r is d ic m a l diferenciada, p. 7. Disponí­
vel em: < fíttD://www.cDc.adv.br/doutrip.hlín>. Acesso em 6 abr. 2002.
® De acordo com Humberto Theodoro Júnior, “nem sempre o litigante terá o direito à tutela jurisdicio­
nal, mas sempre contará com a prestação jurisdicional para solucionar seu conflito jurídico" (Tutela 
especifica das obrigações de lazer e não fazer. n. 2).
' Conforme Kazuo Watanabe, Tufe/a antecipatória e tutela especifica das obrigações de fazer e não 
fazer, p. 20, autor da expressão ordem juridica justa.
® CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de direito processual civil. v. 1. Campinas: Bookseller, 1998, 
p. 67.
f A b ia l im a d e b r it o
in d iv íd u o de subm eter-se obrigatoriam ente à jurisdição estatal 
não p o d e rep resen ta r u m castigo", m as deve trazer ínsito "o d e ­
ver d oE stado garan tir a u tilidade da sen ten ç a " /
A jurisdição, p o r ser expressão d e u m a função estatal, é d o ta ­
d a do s a tribu tos d e im pera tiv idade e inevitab ilidade, ausen tes 
no s ou tros m eios de pacificação dos conflitos, cabendo ao Esta­
do, a inda , a p re rroga tiva de d ita r a pa lav ra final sobre todo e 
q u a lq u e r conflito."'
Entre tanto , o acesso à o rdem jurídica justa n ão se faz exclusi­
vam en te p o r m eio d a tu tela jurisdicional tradicional, ten d o em 
v ista a existência d e m eios alternativos p a ra o seu alcance, os 
cham ad o s sucedâneos da jurisdição, com o a arb itragem , a con ­
ciliação o u o im peachm en t ^^ , que p o d em se constitu ir em eficazes 
in s tru m en to s d e pacificação social, n aque las h ipó teses q u e os 
perm item .'^
Por fim, verifica-se a existência de dois sen tidos vetoria is en ­
tre p rocesso e Constituição: esta, d ita as reg ras fun d am en ta is e 
os p rincíp ios a serem observados na construção e n o desenvo l­
v im en to d o processo; p o r sua vez, aquele, o processo , é o in s tru ­
m en to p a ra a p reservação da o rdem constitucional, seja m ed i­
an te a d en o m in ad a jurisdição constitucional, seja p o r m eio de
* ZAVASCKI, Teori Albino. Antecipação da tutela e colisào de direitos fundamentais. São Paulo: 
Saraiva, 1996, p. 147.
DINAMARCO. Cândido Rangel, instituições de direito processual civil. 2. ed., v. 1. São Paulo: 
Malheiros, 2002, p. 118.
” YARSHELL, Flávio Luiz. Tutela jurisdicional. São Paulo: Atlas, 1999, pp. 129-134.
" Como exemplo de tal sucedâneo da jurisdição, Luiz Guilherme Marinoni cita o exemplo das fave­
las do Rio de Janeiro, onde já se detectou a existência de um direito inoficial, em que a Associação 
de Moradores funciona como instância de resolução de conflitos entre vizinhos. Essa iniciativa per­
mite concluir, do ponto de vista sociológico, que o Estado contemporâneo não é mais detentor exclu­
sivo da realização do direito e da distribuição de justiça (Efetividade do processo e tutela de urgên­
cia. Porto Alegre: Sergio Anionio Fabris, 1994, p. 10).
PERFIL S ISTEM ÁTICO DA TU TELA ANTECIPADA
sua u tilização cotid iana, em que "ao d a r a tuação às n o rm as le ­
gais o rd inárias, está, em ú ltim a análise, va len d o com o p en h o r 
da observância d o s valo res constitucionalm ente a m p a rad o s e 
nelas refletido".
1.2 Os escopos do processo civil
C onstitu i in teresse p rim ord ia l do E stado a p ro m o ção d o bem 
com um , d a h a rm o n ia social. O s conflitos de in teresses n ão re ­
solvidos e as insatisfações que deles ad v êm são m otivos d e p re ­
ocupação in d iv id u a l e coletiva e, nessa seara, se p erfazem em 
preocupação estatal. A ssim , o escopo essencial da jurisdição é a 
pacificação social - escopo social do processo que é a p rincipa l 
razão pela q ual " o processo existe e se legitim a na sociedade".'^
O s bons re su ltados obtidos no processo prop ic iam , a inda , um 
o u tro esco p o social: a educação, na m e d id a em q u e o tem o r 
reverenciai ad v in d o d a s decisões judiciais ten d e a im p ed ir tran s ­
gressões. Esse escopo perm ite a educação p ara a defesa do s d i­
reitos p ró p rio s e respeito aos d ireitos alheios.
O processo p o d e ser en tend ido , nesse passo , com o u m in s ­
tru m en to cu ltura l, p o rq u e reflete o estágio d e v ida d e u m a soci­
ed ad e , n u m d e te rm in ad o m om en to histórico e n ão apenas com o 
in s tru m en to de solução dos conflitos de interesses.'^
DINAMARCO, Cândido Rangel. A insírumentalidade do processo. 7. ed. São Paulo: Malheiros, 
1999, p, 312.
' ‘ DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 
2002, pp. 127-128.
CINTRA, Antonio Carlos de Araújo: GRINOVER, Ada Pellegrini; e DINAMARCO, Cândido Rangel. 
Teoria geral do processo. 8. ed. São Paulo: RT, 1991, p. 28.
TEIXEIRA, Sálvio de Figueiredo. Alterações no Processo Civil Brasileiro. Palestra proferida no 
Tribunal Regional Federal da 3® Região, São Paulo, 10 jun. 2002.
FÂBIA LIM A DE BRITO
O escopo político relaciona-se com a estab ilidade d o o rd e n a ­
m en to ju ríd ico e a sua au to rid ad e , n a m ed id a em q u e a generali­
zação d o respeito à lei, p o r m eio dos bons re su ltados d a a tiv id a ­
d e jurisdicionai, p rop ic ia a au to rid ad e d o p ró p r io Estado. Rela­
ciona-se, a inda , com a partic ipação d o s in d iv íd u o s e g ru p o s de 
in d iv íd u o s na v ida e nos destinos d o Estado, b em com o na p re ­
servação d as liberdades públicas, p o r m eio d e m ecan ism os p ro ­
cessuais com o a ação popu la r, a ação d ire ta d e inconstitucionali- 
d a d e e o m a n d a d o de segurança, in d iv id u a l o u coletivo.'^
Q u a lq u e r q u e seja a defin ição d e jurisdição, é certo q u e o es­
copo ju r íd ico do processo está reservado ao Estado, de m o d o que, 
q u a isq u er o u tras form as d e solução d e controvérsias se consti­
tuem , apenas, em "equ ivalen tes jurisdicionais", na m ed id a em 
qu e o E stado, ao p ro ib ir a v ingança p riv ad a , trouxe p a ra si o 
d ev e r de, coercitivam ente, declarar ou a tu a r a reg ra ju ríd ica no 
caso concreto .’®
1.3 A instrumentalidade do processo
A ocorrência de lesão o u am eaça de lesão a d ire ito m ateria l 
dá ensejo ao processo , já que o Estado ch am o u p a ra si a função 
d e pacificar os conflitos de interesses, d e form a ad e q u ad a e efe­
tiva. O processo é o in strum en to de q u e se vale o E stado p ara o 
exercício d a sua função jurisdicionai e, p a ra que seja efetivo, é 
necessário o cum prim en to de todos os seus escopos.
''D INAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. 2. ed, São Paulo: Malheiros, 
2002. pp. 129-130.
YARSHELL, Flávio Luiz. Tutela jurisdicionai. São Paulo: Atlas, 1999, p. 128.
Com relação à definição da jurisdição, do processo e dos seus escopos, remete-se à leitura da obra 
de Milton Paulo de Carvalho, Do pedido no processo civil, pp. 46-61, que traz substanciosa análise 
das variadas teorias doutrinárias a respeito do tema.
PERFIL S ISTEM ÁTICO DA TU TELA ANTECIPADA 19
A ssim , converte-se o processo n u m in s tru m en to de justiça nas 
m ãos do E stado, que rep rim e a violência p r iv ad a com enérgicas 
sanções. A defesa ju ríd ica exercida pelo p ar ticu la r n ão se equ i­
p a ra à a tiv idade q u e se exerce no processo; em b o ra o re su ltado 
econôm ico possa ser idêntico, am bas n ão se confundem : "a a u ­
todefesa é u m a a tiv idade m eram en te p r iv ad a , m o v id a d e im ­
pu lso s e in tenções particu la res e egoísticos, em bora consentidos 
e m o d erad o s pelo Estado. N o processo civil, ao revés, a defesa 
contra a injustiça assum e-a o Estado com o função sua, d e te rm i­
n ad a p o r finalidades objetivas e gerais"*'^. Em o u tras p a lav ras , é 
função essencial do Estado a adm in istração da justiça, e o faz 
p o r m eio d a jurisdição.
A relação ju ríd ica processual - o processo - é in teg rad a p o r 
u m a série de atos coo rdenados e d irec ionados à ob tenção da tu ­
tela ju risd icional (seu objeto). Tais atos serão p ra ticad o s seg u n ­
do u m a o rd em , u m m o d o e u m tem po p red e te rm in ad o s; p o r ­
tan to , o p rocesso não se confunde com o p roced im en to , sendo 
este a form a pela q ual se sucedem os atos processuais. A obser­
vância d as form as p roced im entais reflete o a ten d im en to ao p r in ­
cípio do dev id o processo legal, que seg u n d o o art. 5°, inciso LVI, 
d aC onstitu ição Federal, p receitua que "n in g u ém será p riv ad o 
d a lib e rd ad e o u d e seus bens sem o d ev id o p rocesso legal".
E m bora o processo deva ser com patib ilizado com o d isposto 
no art. 5®, inciso XXXV, da C onstitu ição Federal, ele n ão p o d e 
ser u m fim em si m esm o. O sistem a processual, com suas in ú ­
m eras fó rm ulas e dogm as - den tre os q uais pode-se citar: a) o 
p rocesso com o in s tru m en to técnico a serviço d o d ire ito m ate r i­
CHIOVENDA, Giuseppe, Instituições de direito processual civil, v. 1. Campinas: Bookseller, 1998, 
p. 58.
FÁBIA U M A DE BRITO
al; b) os b inôm ios direito-processo, custo -duração e condenação- 
ex ecu ção ^ ; c) o absoliitismo da coisa ju lgada m ateria l n ão po d e 
p rescind ir d a p reocupação com os objetivos a realizar, ou seja, 
com os re su ltados que dele esperam a sociedade, o E stado e os 
ind iv íduos.
Sob essa ótica, o processo civil m od ern o busca o desfazim ento 
d e tais dogm as do passad o como, p o r exem plo, o "m ito d a coisa 
ju lgada" , qu e ten d e a desaparecer, em face das novas exigências 
cotidianas para a realização de direitos. A tu tela an tecipada, nesse 
contexto, é u m do s m ecanism os q u e s e volta p a ra o alcance de 
tal objetivo. A esse propósito , confira-se o en ten d im en to de Luiz 
G uilherm e M arinoni:
“A idéia de ligar jurisdição à coisa julgada material, que deu 
origem ao 'mito da coisa julgada’, está destinada a desaparecer 
em vista das novas exigências do mundo contemporâneo, que 
não mais podem esperar a 'coisa julgada material' (isto é, a 
declaração relevante, que somente pode ser produzida pela 
cognição exauricnte) para a realização dos direitos. Não é ape­
nas a qualidade da coisa julgada material que dá conteitdo jurí­
dico a um provimento, nem é apenas a tutela marcada pela coi­
sa julgada material que incide sobre as relações substanciais. A 
tutela satisfativa (de cognição) sumária realiza o direito mate­
rial afirmado pelo autor, ou, em outras palavras, dá satisfação 
ao direito material afirmado, obviamente incidindo (ainda que, 
na angulação processual, de forma provisória) sobre o plano 
das relações substanciais. A realização de um direito através da 
tutela antecipatória é realização de um direito que preexiste à 
sentença de cognição exauriente."^^
“ Segundo José Roberto dos Santos Bedaque, o binômio condenaçào-execução não pode ser pen­
sado como um dogma, por tratar-se de “técnica processual perfeitamente substituível por mecanis­
mos mais adequados às necessidades do direito material, sem qualquer sacrifício dos postulados 
básicos do processo" ( Tutela caulelar e tutela antecipada. Tutelas sumárias e tutelas de urgência - 
lantativa de sistemâíização, p. 103),
MARINONI, Luiz Guilherme. A antecipação da tutela. 7. ed. São Paulo; Malhetros, 2002, pp. 45-46.
PERFIL S ISTEM ÁTICO D A TU TELA ANTECIPADA
Desse m odo , a idéia da efe tiv idade d a tu te la ju r isd id o n a l 
coincide com a da p len itu d e d o acesso à justiça e a do processo 
civil de resultados, d o n d e se contrasta a au to n o m ia d o processo, 
em face d e sua in s tru m en ta lid ad e .^
N ão se tra ta d e renunciar à au tonom ia do d ire ito processual, 
po is o reconhecim ento desta não p ressu p õ e o seu isolam ento. 
De acordo com C ân d id o D inam arco, " o p rocesso e o d ire ito com- 
p le tam -se e a b o a com preensão de u m exige o suficiente conhe­
cim ento d o ou tro" . C o n tinua D inam arco, c itando L iebm an, que 
n o p rocesso parece h av e r duas almas d is t in ta s , u m a é aque la em 
q u e "se p ro lo n g a o espírito d o direito p r iv ad o q u e vem buscar 
no p rocesso a p ro teção p a ra os d ireitos subjetivos q u e com põem 
a sua substância v iva" e a o u tra aquela "em q u e se exprim e a 
exigência d e u m a função pública, m ed ian te a qua l o E stado cu m ­
p re um a d a s suas tarefas p rim árias , q u e é a d e asseg u rar a efeti­
v a v igência d a o rd e m juríd ica".^
N esse en tend im en to estão, a inda , seg u n d o Dinamarco^^, os 
aspectos nega tivo e positivo da in strum entaÜ dade d o processo. 
O aspecto negativo consiste na negação do processo com o valor 
em si m esm o e n o rep ú d io aos exageros processualísticos, o que 
g u a rd a a lg u m a sem elhança com a idéia d a instrum entaÜ dade 
das form as. Já o aspecto positivo caracteriza-se pe la p reocupação 
em extra ir do processo, enquan to instrum ento , o m áx im o de p ro ­
veito p a ra a obtenção dos resu ltados, escopos d o sistem a. Esse
" DINAMARCO, Cândido Rangel. Tutela jurisdidonal. Revista de Processo. São Paulo, v. 81. p. 96, 
jan./mar. 1996. A expressão “ processo civil de resultados", frise-se, deve ser atribuída ao menciona­
do jurista.
” DINAMARCO, Cândido Rangel. A inslrumentalidade do processo. 1. ed, São Paulo: Malheiros. 
1999, p. 272.
DINAMARCO, Cândido Rangel, Op. d l . p. 319.
FÂBIA U M A DE BRITO
aspecto relaciona-se, p o rtan to , com a idéia de e fe tiv id ad e do 
processo.
A fo rm alidade, o conjunto d e regras e a b o a técnica q u e cer­
cam o m u n d o juríd ico não p o d em servir de justificativa p a ra a 
não -a tuação d o processo. Se o sujeito q u e tem razão não alcan­
çar u m a s ituação m elhor d o que aquela que tinha an tes do p ro ­
cesso, este n ão alcançou o seu objetivo. O sistem a processual, 
p a ra alcançar a valoração para o qual foi institu ído , não p rescin ­
de d o processo c iv il de resultados, sob p ena de carecer de u tilid ad e 
e, p o r conseguinte , d e legitim ação social.^
1.4 A efetividade da tutela jurisdicional
O processo constitui-se em in strum en to a serviço d a ju risd i­
ção, m as só será efetivo se se perfizer em ins tru m en to eficiente 
p ara a realização d o d ire ito substancial. " O acesso à justiça, ele­
v ad o ao p a ta m a r d e g aran tia constitucional, d ev e certam ente 
co m p reen d er u m a proteção jurid icam ente eficaz e tem pora lm en- 
te ad e q u ad a" .^
Q u a n d o se fala em direito à adequada tutela jurisdicional, tem- 
se ínsito o princípio da inafastabilidade, que não veda apenas que 
se exclua da apreciação do Poder Judiciário lesão ou am eaça a 
direito, m as antes de tu d o garante o direito ao processo efetivo, 
que é princípio im anente ao p róprio Estado de Direito.^^
Se a eficiência é posta com o um fim, com o m eta absolu ta , não 
p o d e , po rém , estar desa ten ta a ou tros valores e p rincíp ios n o r ­
“ DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil, v. 1 ,2 . ed, São Paulo; 
Malheiros, 2002, p. 108.
ÁLVARO DE OLIVEIRA, Carlos Alberto, Efetividade e processo de conhecimento. Revista de Pro­
cesso. São Paulo: v. 96, pp. 59/69, out./dez. 1999.
MARINONI, Luiz Guilherme. Eletividade do processo e tutela de urgência. 7. ed. São Paulo: 
Malheiros, 2002, p. 8,
PERFIL S ISTEM ÁTICO DA TU TE LA ANTECIPADA
m ativos. A efe tiv idade só se revela v irtuosa se n ão afastar ou ­
tros valores im po rtan tes no processo, a com eçar pelo d a justi­
ça^ . E, n o processo , justiça significa exercício d a função jurisdi- 
cional d e confo rm idade com os valores e princíp ios norm ativos 
do processo.
N esse d iapasão , o processo deve ser visto pe lo seu ângu lo ex ­
terno, o u seja, pelo resu ltado prático que seja capaz d e p ro d u z ir 
na v ida d a s pessoas e n as efetivas relações com o u tras e com os 
bens d a vida. O u seja, d eve ser visto sob a ótica do consum idor 
dos serviços judiciários e não sob a ótica exclusiva do s seus o p era­
dores.
O acesso efetivo à justiça influi d ire tam en te n a v ida do desti ­
na tá rio final d a a tiv idade jurisdicional, sendo q u e esse últim o 
n ão está p re o cu p ad o com as crises d o p rocesso , n em com as 
d iscussões técnicas da do u trin a e d a ju risp rudênc ia ; o des tin a tá ­
rio - o co n su m id o r - dos serviços judiciários espera ap en as um a 
solução rá p id a e eficiente, com o m enor custo possível, sob pena 
d e se to rn ar inacessível ou, a inda , d e rep resen ta r a denegação 
d a p ró p r ia Justiça.^”
A tu tela jurisdicional ad eq u ad a relaciona-se, adem ais, com a 
efetividade social d o processo. De acordo com José C arlos Barbosa 
Moreira-^’ , só será socialm ente efetivo o processo q u e alcançar as 
asp irações da sociedade com o u m todo, perm itin d o -lh e a satis ­
fação de cu n h o judicial. Será tam bém efetivo, do p o n to de vista
^ ÁLVARO DE OLIVEIRA, Carlos Alberto, Op. c iL pp, 59/69,
” DINAMARCO, Cândido Rangel. Fundamentos do processo civil moderno. 4, ed., 1 .1, São Paulo: 
RT, 2001, p- 592. Nesse sentido, também, Flávio Luiz Yarshell, Tutela jurisdicional. p. 137.
MARCATO, Antonio Carlos. Considerações sobre a M e la jurisdicional diferenciada, p. 4, V., tam­
bém, Teori Albino Zavascki, Antecipação da lutela e colisão de direitos fundamentais, p. 147.
BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Por um processo socialmente efetivo, fíewsfâ Síntese de 
Direito Civil e Processual Civil. São Paulo, v. 11, maio/jun. 2001, pp. 5-6.
FÁBIA LIM A DE BRITO
social, o p rocesso que alcançar os m em bros da co m u n id ad e m e ­
no s aq u in h o ad o s, em pé de igua ld ad e com os m em b ro s m ais 
afo rtunados.
D essa n ecess id ad e su rg iram os Ju izad o s Especiais, q u e se 
constituem na exigência de u m ord en am en to juríd ico q u e se ins­
p ira n o p rincíp io d a igua ld ad e e se em p en h a em oferecer a to ­
do s u m processo ráp ido , eficiente e realm ente possível. C om os 
Ju izados se p e rm ite o acesso à justiça aos m en o s afo rtunados, 
aco m o d an d o conflitos sem expressão econôm ica q u e ocorrem 
no cotidiano^^. A adequação do processo à rea lidade da socieda­
de d e m assas, p o r sua vez, fez su rg ir o sis tem a de in teresses 
d ifusos, coletivos e ind iv idua is hom ogêneos, em q u e se busca 
u m a assistência judiciária ap ta a socorrer não apenas aos m enos 
afo rtunados, m as tam b ém ao público em geral.^^
A u tilid a d e d o processo deve harm onizar-se , a inda , com a 
rea lid ad e social, tan to no âm bito d o d ire ito m ateria l, q u an to do 
d ire ito processual. N o direito m aterial, com exigências q u e en ­
con trem m eios processuais ad eq u ad o s e eficazes a cada afirm a­
tiva de lesão o u am eaça de lesão. N o cam po p rocessual, o p ro ­
cesso d ev e reconhecer o d ireito d e q u em tem razão.
A efe tiv idade da tutela jurisdicional está re lacionada, a inda, 
com os p r im ad o s da dem ocracia e d o estado dem ocrático d e d i­
reito, a lém do equilíbrio en tre os três po d eres estatais. Para tan ­
to, o ju iz m o d ern o não se lim ita m ais a ju lgar e a p ro ferir deci­
sões judiciais, se tem o dever de fazer cu m p rir suas decisões. É o
" Os Juizados Especiais Cíveis, na esfera estadual, têm competência para julgar causas cujo valor 
não exceda a quarenta vezes o salário mínimo (Lei 9.099, de 26/9/1995, art, 3®, I); na esfera federal, 
0 limite desse valor é de sessenta salários mínimos (Lei 10.259, de 12/7/2001, art, 3®).
" MARINONI, Luiz Guilherme, Efetividade do processo e tutela de urgência. Porto Alegre: Sergio 
Antonio Fabris, 1994, pp, 8-9,
PERFIL S ISTEM ÁTIC O DA TU TE LA ANTECIPADA
qu e p rece itua o inciso II, do art. 125, d o C ódigo de Processo C i­
vil, seg u n d o o qual, en tre os deveres conferidos ao ju iz na con­
du ção do processo , com pete o de ''ve lar pe la rá p id a so lução do 
litígio". A té p o rq u e , a efetiv idade da tu te la ju risd ic ional não está 
no âm bito d as decisões judiciais, m as nos resultados p rá ticos que 
elas v en h a m a p ro d u z ir na v ida das pessoas.
Para le lam ente , não basta que as p a rte s cu m p ram , v o lu n ta r i ­
am ente , as decisões judiciais o u que os juizes façam valer suas 
decisões, p o r m eio dos m ecanism os p rocessuais vigentes; é ne ­
cessário q u e tais decisões sejam observadas pelo p ró p r io Esta­
do, seja em face do seu in teresse em p ro m o v er a pacificação so ­
cial, que é a ting ida com a solução - satisfatória - d o s conflitos de 
in teresses, seja em face do respeito à tripartição do s p oderes .^
1.5 As modalidades de tutela jurisdicional
As d iversas situações da v ida qu e provocam a b usca da p re s ­
tação jurisd icional p o r p a rte do Estado, d en o tam a ocorrência 
d e crise no p lan o de d ireito m aterial. Para elim inação de cada 
crise ju ríd ica o sistem a processual estabelece u m tipo de solução 
ad e q u ad a , q u e se dá p o r m eio d as tu telas jurisdicionais.
N a lição de C ând ido Rangel D inam arco, a varied ad e d e meios 
processuais é reflexo da variedade de soluções d itadas n o direito 
m aterial, p o r ser este encarregado d e atribu ir às pessoas os bens 
d a vida, causadores d o conflito. Nessa variedade de provim en-
^ Ao discorrer sobre a efetividade da tutela jurisdicional e o equilibrio institucional dos poderes do 
Estado, Cândido Rangel Dinamarco ensina que: “No momento em que um deles [um dos poderes do 
Estado], notadamente o Executivo, afasta-se da disciplinada observância das legítimas decisões de 
agentes de oulro Poder, abre-se estrada para o arbítrio e para o totalitarismo. A efetividade de uma 
democracia tem por esteio fundamental a observância, pelo próprio Estado, das decisões de seus 
juizes. Sem isso, adeus liberdades públicas, adeus direitos humanos e, sobretudo, adeus Estado- 
de-direito” [Fundamentos do direito processual civil moderno, 1.1, p. 595 - grifos no original).
FÂ 8 IA LIM A OE BRITO
tos, p rocedim entos e processos reside a m ultip lic idade dos m eios 
de outorga de tutela jurisdicional. Portanto, "as soluções estão no 
direito substancial, os m eios de im pô-las são processuais".^
A inda de acordo com D in am arco ^ , p ro v im en to constitu i o ato 
im pera tivo de exercício do p o d er em situações concretas, p. ex., 
u m a sentença. Já as decisões in terlocutórias são provim en tos-m eio , 
pois "som ente os p rov im entos finais p o d em ser p o rtad o re s da 
tu te la ju risd ic ional d ev ida àquele que tiver razão seg u n d o as 
regras de d ire ito m aterial".
1.5.1 As modalidades tradicionais de tutela jurisdicional
As ações são, portan to , classificadas d e acordo com a tu tela 
ju risd icional que o p rov im en to jurisd icional seja ap to a garantir. 
Três são as m o d a lid ad es tradicionais de tu te la jurisdicional: a 
d e conhecim ento , a d e execução e a cautelar.
A ativ idade ju risd ic iona l de conhecim ento , ou seja, a ação de co­
nhec im ento , tem p o r objeto essencial a declaração d e d ire ito e a 
aplicação das conseqüências decorren tes dessa declaração. A ati­
v idade ju r isd ic iona l executiva tem por objetivo a satisfação d a obri­
gação co n sag rad a n u m título. O processo cau telar e as m edidas 
cautelares fo rm am u m tipo de a tiv idade jurisdicional destinada 
à p ro teção de bens juríd icos envolv idos n o processo , que cor­
ram risco de deterioração , a pon to d e p o d e r to rnar-se inú til toda 
a a tiv id ad e ju risd icional sem tais p rovidências, de form a que 
têm p o r objetivoassegurar o resu ltado útil d o processo.
As ações de conhecim ento, p o r sua vez, subclassificam -se em 
declara tórias o u m eram en te declaratórias, constitu tivas e con-
DINAMARCO, Cândido Range!. Instituições de direito processual civil. 2. ed., v. 1, São Paulo; 
Malheiros, 2002, p. 147,
“ Ibidem, p. 147.
PERFIL S ISTEM ÁTIC O DA TU TE LA ANTECIPADA 2 7
denató rias. As ações m eram ente àeclaratórins b u scam e lim inar a 
incerteza sobre a existência ou a inexistência d e u m d ire ito ou 
d e u m a relação jurídica. Da necessidade d e criar, m odificar ou 
extinguir u m a relação jurídica de direito m ateria l su rg em as açÕes 
c o n s t i t u t i v a s (o u d e s c o n s t i tu t i v a s ) . Já a s aç õ es c o n d e n a tó r ia s 
objetivam a obtenção d e u m p rov im en to q u e o b rigue o d em a n ­
d a d o a dar , fazer ou deixar de fazer a lgum a coisa. N o en tan to , a 
condenação p o d e ensejar a instauração d o p rocesso de execu­
ção, pois, p o r d ep en d er de ato do condenado , p o d e encon trar 
resistência p o r p a rte d este para o seu cum p rim en to . T odavia, 
sem ingressar na discussão d o u trinária acerca d e sua n a tu reza , 
h á ações q u e não necessitam da execução ex in tervallo , quais se ­
jam , as ações executivas lato sensu e as ações m an d am en ta is (v. 
ad ian te , item 1.5.2).
1.5.1.1 A efetividade da tutela condenatória
Pode-se afirm ar que a tu tela condenató ria insere-se no binômio 
condenação-execução e destina-se a colocar fim às crises de adim - 
p lem en to , já que, p rim eiram ente , o d em a n d an te ob tém a tutela 
condenató ria e, depois, p ara a efetiva satisfação de sua p re ten ­
são, vale-se d a tu te la execu H va^ . C om isso, a e fe tiv idade das 
sen tenças condenató rias é, na verdade , f.v in tervallo , pois não são 
capazes d e d a r ao titu lar do direito satisfação im ediata , p o r d e ­
p en d e rem de ato u lte rio r do d em a n d ad o .^
Já as tu telas dec lara tórias e as tu telas constitu tivas são as mais 
efetivas, pois não d ep en d em de um ato d o d em a n d a d o p a ra o
BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Tuíela cautelar e M e la antecipada. Tutelas sumárias e 
tutelas de urgência (tentativa de sistematização). São Paulo: Malheiros, 1998, p. 98.
" DINAMARCO, Cândido Rangel. A inst''"^entalidade do processo. 7. ed. São Paulo: Malheiros, 
1999, p. 299 .
FÁBIA LIM A DE BRITO
seu cum p rim en to , p a ra a sua efetivação. São, p o r isso, tu telas 
satisfa tivas, se resolvem , satisfatória e defin itivam ente , as crises 
d e d ireito m ateria l traz idas ao processo pelos litigantes.
N o q u e concerne à capacidade de ser p len a e efetiva. C ân d i­
do Rangel Dinamarco^^ apresen ta classificação d iversa para as 
variad as tu te las jurisdicionais, com fulcro na sua satisfa tividade, 
de m o d o que:
"{...) a tu te la efetiva e p len a , cap az d e d eb e la r p o r co m ­
p le to a crise juríd ica lam en tad a pe lo d e m a n d a n te , será 
(a) m e ra m e n te dec la ra tó r ia , (b) c o n s t i tu t iv a o u (c) exe ­
cu tiva . A tu te la executiva será ex ecu tiv a p u ra , q u a n d o 
con ced ida m e d ian te o em p reg o exclusivo d o p rocesso de 
execução (títulos executivos extrajudiciais); o u co n d en a - 
tó r io -execu tiva , q u a n d o co nced ida em dois tem po s, m e ­
d ia n te a rea lização d e d o is p rocessos (o co n d en a tó r io e o 
execu tivo), o u a in d a m o n itó r io -e x e cu tiv a , q u a n d o é o 
re su l ta d o d e u m processo e m q u e se p ro d u z o tí tu lo p a ra 
a execução e se execu ta (p rocesso m onitório ). A tu te la 
con stitu tiv a e as execu tivas d e to da o rd e m são s a t is f a t i ­
vas, p o rq u e acrescem ao p a tr im ô n io d o su je ito a lgo m a is 
que a m era certeza. A tutela condena tó ria n ão é satisfativa 
e n ã o é tu te la p lena , p o rq u e n a d a acresce ao p a tr im ô n io 
d o d es tin a tá r io " , (grifos n o original)
Em con so n ân c ia com o en te n d im e n to d e L uiz G u ilh e rm e 
M arinoni*’, o sistem a d o Código de Processo Civil fu n d ad o no 
binôm io cogniçào-execiição foi concebido e m ostrou -se eficaz para 
a tu te la do s direitos pa trim onia is, p rincipa lm ente q u a n d o se tra ­
tava d e obrigação a ser satisfeita em d inheiro , em razão de sua
DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil, 2. ed., v. 1, São Paulo: 
Malheiros, 2002, pp. 151-152.
MARINONI, Luiz Guilherme. Efetividade do processo e tutelas de urgência. Potio Alegre: Sergio 
Antonio Fabris, 1994, pp. 6-7.
PERFIL S ISTEM ÁTICO DA TU TELA ANTECIPADA
fungib ilidade. E ntre tan to , referido b inôm io não se m o s tra a d e ­
q u ad o p a ra a tu tela de o u tras pre tensões, com o, p o r exem plo, 
n o s casos de conflitos envo lvendo prestações d e obrigação de 
fazer, d e caráter infungível. N essas situações, a tu te la de co n d e ­
nação revela-se im poten te , o que traz à tona a necessidade de se 
p en sa r em nov as a lternativas de tu tela jurisdicional.
N esse cenário, a Reforma do Código de Processo Civil, d e 1994, 
acrescentou aos po d eres d o juiz, p o r m eio da Lei 8.952, d e 13 / 
12/1994, as m ed id as p rev istas no art. 461, que objetivam , n o p ro ­
cesso de conhecim ento , levar o obrigado ao cu m p rim en to das 
obrigações de fazer ou de não fazer, sem necessidade d e execu­
ção forçada. Trata-se d a tutela específica das obrigações de fa ze r e de 
não fa zer , tam bém cham ada d e satisfação in na tu rn , q u e tem a 
p ro p o rc io n ar ao credor exa tam ente o bem (coisa o u serviço) que 
o d ev e d o r deveria ter-lhe p ro p o rc io n ad o e q u e re p u d ia os "ex­
p ed ien te s d e m eia-jiis tiça”, consubstanciados na conversão pe ­
cun iária d as m enc ionadas obrigações.
A inda a esse respeito , a d en o m in ad a R eform a da R eform a do 
CPC, 2002, in o v o u e trouxe a tu tela específica tam b ém p a ra as 
obrigações d e entrega de coisa d iferente do d in h e iro (art. 461-A), 
e s tendendo-lhes parcia lm ente os m ecanism os prev is tos no a lu ­
d id o art. 461.'*“
DINAMARCO, Cândido Rangel. Fundamentos do processo civil moderno. 4. ed., t. 1, São Paulo: 
RT, 2001,p . 597.
Diz-se parcialmente, porque o § 3- do art. 461-A não mandou aplicar o caput do art. 461, mas 
apenas os seus parágrafos (§§ 1 -a 6®). 0 capuióo art. 461 fala em “providências capazes de produ­
zir resultado prático equivalente ao do adimplemenfo”, que tem cabimento nas obrigações de fazer e 
de não fazer e não nas de entregar, em que o objeto é uma coisa. Isto porque, "quando o objeto da 
obrigação é uma coisa, nada é preciso substituir ou converter, pela simples razão de que basta 
lançar mãos sobre a coisa devida, afastando-se a resistência do obrigado e fazendo o Poder Judici­
ário a entrega que ele não fez”. Em tal hipótese, a aplicação do caput do art. 461 “produziria efeito 
inverso ao desejado, ao permitir que o obrigado retivesse consigo o bem devido, em troca de uma 
privação de outra ordem" (Cândido Rangel Dinamarco, A reforma da reforma, pp. 246 e 234).
fAb ia l im a d e b r it o
A qui, reflete-se a garan tia constitucional da inafastab ilidade 
da jurisdição, q u e além de possib ilitar o acesso form al aos ór­
gãos d o P od er Judiciário, tam bém assegura a tu te la efetiva con­
tra q u a lq u e r form a d e óbice ao alcance da justiça.
C om isso, a conversão d a obrigação em pecún ia , o u seja, a 
tu te la ressarcitória , passa a figura r com o ú ltim a a lte rn a tiv a e 
som ente q u an d o a tu te la específica não for possível p o r q u a l­
qu er m o tivo ou, a inda , q u an d o o d e m an d an te assim o preferir 
(v. ad ian te . Cap. 3, item 3.3.2).
1.5.2 As outras modalidades de tutela jurisdicional
V árias são as m o d a lid ad es e as classificações d o u tr in á r ia s 
acerca d a s tu te las ju risd ic io n a is^ . N a seara do p resen te estudo , 
não se p re ten d e esgotar o exam e d as d iversas tu te las jurisdicio- 
nais ap o n ta d as pela dou trin a e nem , tam pouco , ad e n tra r n a d is ­
cussão concernente à existência, in d ep en d en te o u não , d a s tu te ­
las m an d am en ta is e executivas lato sensii. P ara fins d o p resen te 
e s tu d o e, em razão de sua relevância p a ra o tem a escolhido, se ­
rã o b re v e m e n te a n a l is a d a s as tu te la s ex e cu tiv a s la to s e n su , 
m an d am en ta is e específicas do § 3” do art. 461.
1.5.2.1 A tutela executiva lato sensu
A tu tela executiva lato sensii tem com o característica perm itir 
a solução d o litígio - da crise de in ad im plem en to - no p ró p r io 
p ro cesso d e co nhecim en to , sem n ec ess id ad e d a execução ex 
in tervallo , em razão de sua força satisfativa. Em o u tras palavras,
" DINAMARCO, Cândido Rangel. Op. át.. p. 597.
" Além da classificação ora apresentada. Cândido Rangel Dinamarco também as classifica em pre­
ventivas, reparatórias e sancionatórias; individuais e coletivas (Instituições de direito processual civil. 
V, 1. pp. 154-158).
PERFIL S ISTEM ÁTICO D A TU TELA ANTECIPADA
O co m an d o p ro fe rid o n a decisão realiza-se na p ró p r ia relação 
ju ríd ica p rocessual em que foi p ro ferido o ato decisório , sem a 
necessidade d e se in s tau ra r o processo d e execução. T rata-se, na 
v erd ad e , d e u m p rov im en to jurisdicional p o r ta d o r d e u m a efi­
cácia a mais: ao condenar, o ju iz d e te rm in a a realização prática 
desse com ando , d ispensando-se a iniciativa da p a r te p a ra d a r 
início à execução, d e m o d o que a sentença seja capaz d e p rop ic i­
a r a efetiva satisfação do titu lar da situação ju ríd ica vantajosa.
A s ações execu tivas lato sensii, p o rtan to , con têm a tiv id ad e 
ju risd ic ional em m om en to posterio r ao do trânsito em ju lgado 
da decisão judicial.'**'
Assim , se não há execução ex intervallo, tam bém n ão poderão 
ser opostos em bargos à execução. A lém disso, todas as defesas 
deverão ser d eduz idas no processo de conhecimento. É o que ocor­
re, p o r exem plo, nas ações possessórias, nas ações d e despejo {Lei 
8.245, de 18/10/1991, art. 65, capiit), na ação de dem arcação (CPC, 
art. 950 e seguintes), n a ação de prestação de contas etc.
1.5.2.2 A tutela mandamental
Tal com o ocorre com as ações executivas lato sensu , tam bém 
as ações m an d am en ta is contêm a tiv idade ju risd ic ional em m o ­
m en to p o sterio r ao do trânsito em ju lgado d a sentença d e proce ­
dência e, igualm ente , não necessitam da execução ex intervallo. 
C o n tu d o , a p ecu lia ridade dessa m o d a lid ad e d e tu te la está em 
q u e ela ordena, ela m anda, não se lim itando apenas a condenar. É 
o q u e ocorre com a sentença concessiva do m a n d a d o de segu-
LUCON, Paulo Henrique dos Santos, Eficácia das decisões e execução provisória. São Paulo: RT,
2000, pp. 160-161,
WATANABE, Kazuo, Tulela antecipatória e tutela especifica das obrigações de fazer e não fazer. 
São Paulo: Saraiva, 1996, p. 28,
fA b ia l im a d e b r it o
rança, q u e reclam a o cum prim en to específico da o rd em do juiz, 
sob p e n a d e configuração d e crim e d e d esobed iênc ia , o u até 
m esm o d e crim e de responsabilidade.^^
N o âm bito d a Reform a da Reform a d o C ódigo de Processo C i­
vil, a Lei 10.358, de 28 /12 /2001 , m odificou o capu t d o art. 14 do 
C ódigo d e Processo Civil e acrescentou-lhe o inciso V e o p a rá ­
grafo ú n ic o ^ . De acordo com os novos d ispositivos, constituem 
d eve res d a s partes, e d e todos aqueles que de q u a lq u e r form a 
p a rtic ip am d o processo , cu m p rir com exatidão os p ro v im en to s 
m an d am en ta is e não criar em baraços à efetivação d e p ro v im en ­
tos judiciais, d e n a tu reza an tecipatória ou final, sob p en a de con­
figurar ato atentatório ao exercício da jurisdição, passível d e m ulta , 
sem pre ju ízo d as sanções penais, civis e p rocessuais cabíveis.
1.5.2.3 A tutela específica do art. 461 do CPC
Q u a n d o a tu tela jurisdicional é capaz d e p rop ic ia r ao titu lar 
d o d ire ito exa tam ente aquilo o que ele p re ten d ia obter, diz-se 
q u e é específica, em con trapon to à tu te la substitu tiva , em q u e o 
p a tr im ô n io d o d ev ed o r re sp o n d e pelas suas dividas^'^. N o âm bi­
to d a s obrigações de fazer e de não fazer, ho d ie rn am en te , não
WATANABE, Kazuo. Ibidem, pp. 24-26.
^ CPC, art. 14: “São deveres das partes e de todos aqueles que de qualquer forma participarem do 
processo: (...) V - cumprir com exatidão os provimentos mandamentais e não criar embaraços à 
efetivação de provimentos judiciais, de natureza antecipatória ou final. Parágrafo único. Ressalva­
dos os advogados, que se sujeitam exclusivamente à OAB. a violação do disposto no inciso V deste 
artigo constitui ato atentatório ao exercício da jurisdição, podendo o juiz, sem prejuízo das sanções 
criminais, civis e processuais cabíveis, aplicar ao responsável multa em montante a ser fixado de 
acordo com a gravidade da conduta e não superior a vinte por cento do valor da causa; não sendo 
paga no prazo estabelecido, contado do trânsito em julgado da decisão fina! da causa, a multa será 
inscrita sempre como dívida ativa da União ou do Estado” (Redação do capuf alterada e inciso V e 
parágrafo único acrescentados pela Lei 10.358, de 28/12/2001).
Daí a utilidade das medidas cautelares, que preservariam os bens necessários ao futuro cumpri­
mento da obrigação, muitas vezes com a necessidade da execução exintervallo (Humberto Theodoro 
Júnior, Tutela específica das obrigações de fazer e não fazer, p. 4).
PERFIL S ISTEM ÁTICO OA TU TELA ANTECIPADA
m ais se coad u n a com o interesse d o titu lar do d ire ito a resolução 
do conflito em p e rd as e danos, no caso d e seu descum prim en to .
C om o objetivo de proporcionar ao titu lar d o direito a obten­
ção d a tu tela específica de tais obrigações, adveio o m ecanism o 
do art. 461, do C ódigo de Processo Civil, p o r in term édio da Lei 
8.952, de 13/12/1994 , baseado no art. 84 do C ódigo d e Defesa do 
C onsum idor (Lei 8.078, de 1 1 /9 /1 9 9 0 )^ , am bos in sp irados "no 
princípio da m aior coincidência possível en tre a prestação devida 
e a tu tela jurisdicional entregue"'^ '. Por seu tu rno , a Lei 10.444, de 
8 /5 /2 0 0 2 , ao acrescentar o art. 461-A ao Código de Processo Ci­
vil, inseriu a figura da tutela específica tam bém p a ra as ações que 
tenham p or objeto a entrega de coisti d iferente d e d inheiro , esten­
dendo-lhes os m ecanism os previstos nos parágrafos do art. 461.
Desse m odo , nas ações que tenham p o r objeto o cu m p rim en ­
to de obrigação de fazer ou de não fazer, o juiz concederá a tutela 
especifica da obrigação ou d e te rm inará as p rov idênc ias que asse­
g u rem o resultado prático equivalente ao do ad im p lem en to (art. 461, 
caput). Para tanto , inclusive nas ações p a ra en trega de coisa (art. 
461-A), p o d e rá o juiz, a lém de conceder a an tecipação da tutela 
(art. 461, § 3°)^ , fazer uso d as m ed id as de coerção e de sub- 
rogação p rev is tas nos §§ 4° e 5" d o art.461^^. A ssim , a obrigação
“ Lei 8.078, de 11/9/1990, art. 84, c a p u t “Na açào que tenha por objeto o cumprimento da obriga­
ção de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providên­
cias que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento",
ZAVASCKI, Teori Albino, Antecipação da tutela e obrigações de fazer e de não fazer. Gênesis - 
Revista de Direilo Processual Civil. Curitiba, v. 4,1997, p, 111.
Para Teori Albino Zavascki a reiteração do mecanismo da antecipação da tutela - já prevista 
genericamente no art, 273 - no § 3- do art, 461 é justificada em face da "importante função de 
salvaguarda da prestação especifica que a medida assumirá em se tratando de cumprimento de 
obrigação de não faze f, uma vez que "o nosso sistema anterior não dispunha de mecanismo eficien­
te a garantir tutela especifica para obrigações negativas sob ameaça de lesão" {Antecipação da 
tutela e obrigações de fazer e de não lazer, p, 1 1 4 -g rifo s no originai)
“ V. adiante, a respeito das medidas de coerção e de sub-rogação. Cap. 2, item 2.7,1.
34 FÁBIA LIM A DE BRITO
SÓ se converterá em p e rd as e danos se o au to r assim o requere r 
ou se for im possível a tu tela específica o u o equ iva len te re su lta ­
do p rá tico (art. 461, § 1”). E, m esm o assim , d e acordo com o § 2” 
do art. 461, " a inden ização p o r p e rd as e d anos dar-se-á sem p re ­
ju ízo da m u lta (art. 287)".^
M esm o q u a n d o ped id a em face do P od er Público, é cabível a 
antecipação d a decisão que concede tutela específica. Cite-se, p o r 
exem plo, o caso da ação d e obrigação de fazer, com p ed id o de 
tu te la an tec ipada , p ara q u e o P od er Público p ro v idenc iasse o 
fornecim ento d o s m edicam entos necessários ao tra tam en to d a 
S ín d ro m e d a Im u n o d e f ic iê n c ia A d q u ir id a (A ID S), q u e foi 
deferida em 1" g ra u de jurisdição e m an tida pelo T ribunal de 
Justiça d o Estado d e São Paulo (TjSP).^^
Por ou tro lado, q u an d o o d em an d an te objetiva u m não fazer, 
tem -se a tutela inibitória, cujo cabim ento é m u ito com u m nas ações 
am bienta is , em que se postu la o im ped im en to de u m ato ilícito 
lesivo ao m eio am biente. P ara a sua concessão, basta o fu n d ad o 
receio d o ilícito, não im p o rtan d o se o d an o é im inente. P o rque 
esse não fa z e r d ep e n d e de ato do dem an d ad o , d e g ran d e valia é a 
utilização da m u lta .^
^ Estabelece o art. 287 do CPC (localizado na seção que cuida do pedido, no procedimento ordiná­
rio), com a redação que lhe deu a Lei 10.444, de 8/5/2002, que: "Se o autor pedir que seja imposta ao 
réu a abstenção da prática de algum ato, tolerar alguma atividade, prestar ato ou entregar coisa, 
poderá requerer a cominação de pena pecuniária para o caso de descumprimento da sentença ou 
da decisão antecipatória de tutela (arts. 461, § 4®, e 461-A)”. Sob a égide do sistema anterior, "o 
pedido de cominação de pena era um ônus absoluto do autor, sem o qual ele não poderia obter mais 
tarde, no processo de execução por obrigação de fazer ou de não fazer, a imposição das astreinies 
disciplinadas nos arts, 644-645 do Código de Processo Civil” (Cândido Rangel Dinamarco, A reforma 
da reíorma, p. 242}. Com o advento da nova sistemática processual, tal pedido passou a ser faculda­
de do autor que, evidentemente, não exclui a possibilidade de sua fixação ex otficio pelo juiz (art. 
461, § 4-}. V., adiante, Cap. 3. item 3.3.2.
“ TJSP, 7® Câmara de Direito Público, Agr. Instr. 198.144,5/6-SP, Rei. Des. Sérgio Pitombo, j. 4/6/
2001, V .U . , BAASP 2.280, de 9 a 15/9/2002, pp. 2369-2372.
MARINONI. Luiz Guilherme. Tutela inibitória: individual e coletiva. 2. ed. São Paulo: RT, 2000, pp. 
158 e 166.
PERFIL S ISTEM ÁTICO DA TUTELA ANTECIPADA
D esde o seu im plem ento , p o r m eio da Lei 8.952, d e 1 3 /1 2 / 
1994, m u ito se vem d iscu tindo na d o u tr in a acerca da n a tu reza 
d a sentença p ro ferida com base n o art. 461, u m a v ez que, para a 
efetiva en trega da tu tela jurisdicional específica, os §§ 4" e 5" con­
fe riram ao ju iz os m ecan ism os de coerção (m ultas) e de sub- 
rogação (constrições judiciais), que Teori A lbino Zavascki cha ­
m o u de " p o d e r executório genérico" '^ . Em razão disso, d iv e r­
gem os d o u tr in ad o res q u an to à decisão ser m era m en te conde- 
natória , m andam en ta l, executiva lato sensu o u u m a com binação 
desses provim entos.
P ara K azuo W atanabe, o legislador conjugou os p ro v im en to s 
m an d am en ta l e executivo Into sensu , com vistas a p ro p o rc io n ar 
m aior efe tiv idade à a lu d id a tu tela específica. A ssim , p o r m eio 
do p ro v im en to m andam en ta l, o juiz d e te rm in a u m a o rd em ao 
d em a n d a d o que, se descu m p rid a , da rá ensejo ao crim e d e deso ­
bediência. Por m eio d o p rov im en to executivo lato se n su , o juiz 
lança m ão dos m eios de atuação d ispon íveis n o s §§ 4'" e 5^ para 
o alcance d a tu tela específica.'^'*
H u m b erto T heodoro Júnior, p o r sua vez, en te n d e q u e a apli­
cação d as m ed id as p rev istas nos §§ 4‘" e 5^ do art. 461 se d á m ed i­
an te p roced im en to m andam en ta l, ou seja, "p o r o rd em d o juiz 
exeqüível d e p lano, inclusive com apoio de força policial, se n e ­
cessário", m as não se sujeitam ao p roced im en to típico d a s exe­
cuções forçadas. Explica o m encionado jurista qu e o caráte r m an ­
d am en ta l aplica-se às m ed id as de apoio (cautelares e antecipa-
" ZAVASCHl, Teori Albino. Antecipação da tutela e obrigações de fazer e de não fazer. Gênesis - 
Revista de Direito Processual Civil. Curitiba, v, 4, p. 113, jan./abr 1997.
“ WATANABE, Kazuo. Tutela antecipatória e tutela especifica das obrigações de fazer e não fazer, 
(arts. 273 e 461 do CPC). Reforma do Código de Processo Civil. Sálvio de Figueiredo Teixeira (Coord.). 
São Paulo; Saraiva, 1996, p. 28.
fAb ia l im a d e b r it o
tórias) e não à sentença final - que en ten d e co ndenató ria e, p o r ­
tanto , sujeita à execução norm al/^
C om en tend im en to diverso , A da Pellegrini G rinover susten ­
ta que a n a tu reza d a tu tela específica das obrigações é executiva 
lato sensu , ao a rg u m en to d e que q u an d o se ap licam as m ed id as 
d o § 5” do art. 461, em bora a sentença seja condenató ria , ela p ro ­
picia a prá tica d e atos executórios no p ró p r io processo cognitivo, 
sem necessidade d a execução ex intervallo , o q u e significa que é 
executiva lato scnsu . O m esm o ocorre com a im posição da m ulta 
d iária p rev is ta n o § 4" do referido art. 461, de ofício pelo juiz, de 
tal form a q u e o p ed id o do au to r, na verdade , é o d e "expedição 
d e u m a o rd em p a ra que, p o r m eios sub-rogatórios, se chegue ao 
re su ltado p rá tico equ iva len te ao ad im p lem en to " .^
Ao d iscorrer sobre o tem a, Teori A lbino Zavascki a firm ou que 
a d ificu ldade d e se caracterizar a ação d o art. 461 sem p re com o 
executiva Into sensu estava no art. 644 d o CPC, q u e na redação 
d a d a pela Lei 8.953, de 13 /12 /1994 , p rev ia a figura da ação a u ­
tônom a de execução de obrigações d e fazer e n ão fazer "d e te r ­
m in ad a em títu lo judicial", d o n d e se p o d ia en ten d er q u e o art. 
461 p ro d u z ia , pelo m enos em a lgum m om ento , a sen tença con ­
d e n a tó r ia (p a ra q u e fosse p ass ív e l d e p o s te r io r execução ex 
intervallo) e não executiva lato sensu.^^
Tutela especifica das obrigações de fazere não fazer, n. 13. Disponível em; <htpp://wwwl.jus.com,br/ 
doutrina/texto.asp?id=2904>.Acesso em 29 abr. 2002.
“ GRINOVER, Ada Pellegrini. Tutela jurisdicional nas obrigações de fazer e não fazer. Reforma do 
Código de Processo Civtl. Sálvio de Figueiredo Teixeira (Coord.). São Paulo: Saraiva, 1996, pp. 261- 
264.
Ar^tecipação da tutela e obrigações de fazer e de não fazer, p. 116. Na redação conferida pela Lei 
8.953, de 13/12/1994, o caputdo art. 644. do CPC. dizia que: "Na execução em que o credor pedir o 
cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, determinada em titulo judicial, o juiz, se omissa a 
sentença, fixará multa por dia de atraso e a data a partir da qual ela será devida". Em manifestação 
recente, afirmou Teori Albino Zavascki que é executiva lato sensu a ação prevista no art. 461 do CPC 
{ “Liquidação e Execução" - Comentários às Reformas do CPC, p. 12),
PERFIL S ISTEM ÁTICO OA TU TELA ANTECIPADA
E ntre tan to , com a no v a redação d a d a pe la Lei 10.444, de 8 / 
5 /2002 , o m enc ionado art. 644 preceitua q u e "a sentença re la ti­
v a a obrigações d e fazer o u não fazer cum pre-se d e acordo com 
o art. 461, observando-se, subsid iariam ente , o d isposto neste ca­
p ítu lo" . D estarte, é possível concluir que a decisão p ro fe rid a com 
base no art. 461, em bora traga em seu bojo u m a o rd em judicial 
(p rov im en to m andam en ta l), possui, d o ravan te , n a tu reza execu­
tiva lato sensu.
Sem em bargo , seja a tu tela m an d am en ta l, seja executiva lato 
se n su , deve-se a ten ta r p a ra o fim ú ltim o que elas buscam , sob o 
ângu lo da visão externa do processo (do processo civil de re su l­
tados). É certo q u e am bas as tu telas p rop ic iam u m m o d o d iv e r­
so "d e verificação da eficácia externa d as decisões no processo e 
têm a inegável função de m elho r e luc idar o fe n ô m e n o da atuação 
do d ire ito”; a lém d e ap rox im ar a a tiv idade cognitiva da realiza­
ção concreta do s d ireitos, con tribuem p a ra a re la tiv ização do 
b inôm io condenação-execução - n isso reside a g ra n d e van tagem 
da distinção en tre as d u as tutelas."-
1.6 A tempestividade da tutela jurisdícional
A preocupação d o d o u tr in ad o r m od ern o com a efetiv idade 
d o p rocesso civil brasileiro está in tim am en te ligada com a tem ­
pes tiv id ad e da prestação jurisdicional, pois a m o ro sid ad e dos 
processos é fator de g ra n d e insatisfação social e ca u sad o r de 
descrença n o P oder Judiciário.
" LUCON, Paulo Henrique dos Santos. Eficácia das decisões e execução provisória. São Paulo: RT, 
2000, p. 167, V., sobre o tema, Eduardo Talamini, que questiona â viabilidade da reunião dos provi­
mentos condenatórios, executórios lato sensu e mandamentais numa categoria única, já que a diver­
sidade enlre as suas eticácias è precípuamente estrutural, pois "em termos funcionais, aproximada­
mente, elas se eqüivalem”. {Tutela relativa aos deveres de fazere de r^ão fazer. São Paulo: RT, 2001, 
pp. 205-207)
38 FÁBIA U M A OE BRITO
Tal celeridade na prestação d a tutela ju risd idonal, n ão se cons­
titu i em preocupação única da d o u trin a processual pátria . Mais 
do q u e isso, é preocupação d e cunho in ternacional a tin en te aos 
d ire itos da p essoa hum an a , que vem consag rad a n o texto da 
C onvenção A m ericana sobre D ireitos H u m an o s , o conhecido 
Pacto de Snn José da Costa Ricn, celebrado em 22 /1 1 /1 9 6 9 , que 
trata d o tem a em análise nos arts. 8 e 25, ora transcritos;
" A r t S
1. T o d a pesson tcin d ire ito a sc r o u v id n , com as dezudns g fírm i- 
t ias e d e n t r o d e u m p r a z o r a z o á v e l , p o r la n j u i z o u tr ib u n a l 
c o m p e te n te , in d e p e n d e n te e im parc ia l, estabelecido a n te r io r ­
m e n te p or lei, na apuração de qu a lq u er acusação p e n n l f o r m u ­
lada con tra v h , ou paro que se d e te r m in e m s e u s d ire ito s ou 
obrigações de n a tu re za c ivil , traba lh is ta , f i s c a l ou de q u a lq u e r 
o u tra n a tu re za " , (grifos nossos)
"A rt. 25
1. Toda pesson te m d ire ito a u m recurso s im p le s e r á p i d o o u a 
q u a l q u e r o u t r o r e c u r s o e f e t i v o , p era n te os j u í z o s ou t r ib u ­
n a is co m p e te n te s , q u e a pro te ja con tra n tos q u e v io lem seus 
d ire ito s fu n d n m e t i ta is reconhecidos pela C o n s t i tu iç ã o , pe la lei 
ou pela p re se n te C on v en çã o , m e s m o q u a n d o tal v iolação seja 
co m e tid a p o r pessoas q u e e s te jam a lu a n d o no exerc íc io de su a s 
f u n ç õ e s ofic ia is" , (grifos nossos)
P o r se r s ignatário d o m encionado pac to in ternacional, q u e 
foi p ro m u lg ad o pelo Decreto federal n” 678, de 6 /1 1 /1 9 9 2 , deve 
o Brasil fazer cu m p rir suas disposições, a teor d o q u e d isp õ e o § 
2" d o art. 5”, da C onstitu ição Federal.'’^
“ 0 art. 5-, § 2-, da Constituição Federal, dispõe que; “os direitos e garantias expressos nesta 
Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos 
tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte”.
PERFIL S ISTEM ÁTICO DA TUTELA ANTECIPADA
N o nosso sistem a processual, o tradic ional p roced im en to or­
d inário , q u e sem pre foi excessivam ente p res tig iado pelos o p e ­
rado res do direito , se reconhece um direito , na m aioria do s ca­
sos, não d á ao au to r o d ireito p leiteado (sentença co n d e n a tó ria )^ . 
Isso p o rq u e , conform e m enc ionado an te rio rm en te , a sentença 
condenató ria só tem efetiv idade em caso de cu m p rim en to es­
p o n tân eo p o r p a r te d o obrigado , caso contrário , o d ire ito só será 
efetivado com o a ju izam ento d o processo de execução.
Esse m o d o d e ser d o p roced im ento o rd inário o revela injusto 
às p ar te s m enos favorecidas econom icam ente, n a m ed id a em que 
n ão p o d em esperar, sem dan o s significativos, a realização dos 
seus d ireitos. Por esse m otivo, os m ais pobres o u m ais fracos na 
relação processual tendem a aceitar transações sobre os seus d i ­
reitos "em v irtu d e da len tidão da Justiça, ab r in d o m ão de parce ­
la d o d ire ito que p rovavelm en te seria realizado, m as d ep o is de 
m u ito tem po. A d em o ra d o processo, na v e rd ad e , sem p re lesou 
o
 p rincíp io d a igualdade".^''
N ão só a m o ro sid ad e d o p roced im en to o rd in ário represen ta 
obstáculo ilegítim o à tem pestiv idade da tu tela jurisdicional, tam ­
bém o abu so d o direito d e defesa e o abu so do d ire ito de recor­
re r o rep resen tam , na m ed id a em que p re jud icam a ad m in is tra ­
ção da justiça, que passa a ficar ab a rro tad a d e p rocessos e de 
recu rsos com fins espúrios. D esta feita, a ex e cu to ried ad e das 
decisões, p o r m eio d a técnica d e antecipação do s efeitos d a s d e ­
cisões, " to rna-se po ten te a rm a contra os m ales d a d u ração ex-
^ A expressão utilizada por Luiz Guilherme Marinoni é a de que "o tão mimado procedimento ordiná­
rio, somente após muito custo reconhece a existência de um direito". [A antecipação da tutela. 7. ed. 
Sào Paulo: Malheiros, 2002, p. 22),
“ MARINONI, Luiz Guilherme, ibidem, p. 22.
FÁB1A LIM A DE BRITO
cessiva d o processo", especialm ente nos casos em q u e se ev i­
dencia a sua u tilização d e form a abusiva p o r u m a d as partes .^
P ortan to , o tem p o - excessiva d em o ra - ao lado d o custo 
oneroso , são fatores que justificam o enfraquecim ento social do 
Judiciário, pois tangem as pessoas a ev itar o processo , eis que 
g erad or d e an g ú stia e infelicidade pessoal, revelando-se v e rd a ­
deiro in im igo d a pacificação social. O ra, de n ad a va lem as ga ­
ran tias d o p rocesso se n ão for assegurada a eficiência re p re se n ­
tad a pe la celeridade, pois "a dem o ra excessiva n a en treg a da 
tu te la jurisdicional rep resen ta v erdadeira denegação d a justiça, 
o que não se coad u n a com o escopo da ciência processuar'.*"
A esse p ropósito , a tu tela an tec ipada revela-se o g ran d e sinal 
d e esperança em m eio à crise q u e afeta a Justiça Civil, u m a vez 
que, se co rre tam en te u tilizada, con tribu irá en o rm em en te p a ra a 
res tauração da ig u a ld ad e n o p ro c e d im e n to ^ . A técnica anteci- 
p a tó ria é, na verdade , um a técnica de d istribu ição d o ônus do 
tem po n o processo, d e m o d o que tal ônus não seja apenas do 
autor^"^. O u seja, o processo não po d e p re jud icar o au to r q u e tem 
razão.
Em sum a, o d ireito de acesso à justiça, consag rado n o inciso 
XXXV, do art. 5", da Constitu ição Federal, deve ser en ten d id o d e 
form a am pla , sob os aspectos extrínseco e in trínseco ao p roces ­
so. Extrinsecam ente, essa garan tia constitucional "significa u m 
canal de abertura d e acesso incondicionado aos órgãos d o P od er
LUCON, Paulo Henrique dos Santos. Biicãcia das decisões e execução provisória. São Paulo; 
RT, 2000, pp. 232-233.
BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Tutela cautelar e tutela antecipada. Tutelas sumárias e 
tutelas de urgér)cia (tentativa de sistematização). São Paulo: Malheiros, 1998, p, 107.
MARINONI, Luiz Guilherme. Ibidem, p. 23,
MARINONI, Luiz Guilherme. Ibidem, p. 23.
P ERFIL S ISTEM ÁTICO D A TUTELA ANTECIPADA 41
Ju d ic iário”; sob o aspecto intrínseco, "ao asseg u rar u m a tu tela 
ap ta a afas tar 'q u a lq u e r form a de denegação d a justiça ', rep re ­
sen ta o d ire ito n tu tela jurisd ic iona l adequada e, p o r conseqüência, 
tem pestiva" . A tu tela an tecipada, in tro d u z id a pe la Lei 8.952/94 
n o sistem a processual brasile iro , conform a-se p rec isam en te n es ­
se contex to /"
2 A TUTELA JURISDICIONAL ANTECIPADA
2.1 Efeitos e eficácia das decisões: análise sucinta
N o âm bito d as decisões judiciais d is tinguem -se sua eficácia 
d e seus efeitos. O s efeitos referem -se ao fenôm eno ex terno do ato 
q u e os p ro d u z , ou seja, relacionam -se com a alteração concreta 
na v ida d a s pessoas; já a eficácia d a s decisões refere-se ao seu 
con teúdo jurídico, "d es ig n an d o a q u a lid ad e o u o a trib u to d o ato 
idôneo a gerar efeitos". C om isso, os efeitos "n ad a m ais são do 
q u e conseqüências na tu ra is da eficácia d e u m d e te rm in a d o ato 
jurídico".^'
N ão apenas a sen tença d e m érito p ro d u z efeitos ex te rnos ao 
processo, na m ed id a em que p o d em resu lta r tan to d a a tuação 
prá tica da sentença de m érito recorrida, com o da antecipação da 
tu te la , cu ja eficácia p o d e d e te rm in a r a p ro d u ç ã o d e efe itos 
declara tórios, constitu tivos e condenató rios n o m u n d o exterior 
do s d em an d an tes . N isso reside a im pera tiv idade d a s decisões ju ­
diciais, que consiste no p o d e r de se im porem d e im ediato , "in-
™ LUCON, Paulo Henrique dos Santos. Ibidem, p. 182.
” LUCON, Paulo Henrique dos Santos. Eficácia das decisões e execução provisória. São Paulo: RI, 
2000, p. 147,
F Á B IA L IM A DE BRITO
d ep en d en tem en te d e sua validade , defin indo , de form a p ro v i­
sória ou definitiva, a situação jurídica existente en tre as p artes" .^ 
A eficácia d as decisões e o a tribu to da coisa ju lgndn não se 
confundem , já que executoriedade e im u tab ilid ad e são concei­
tos d istin tos. Isto po rque , decisões p rov isórias p o d em se reves­
tir de eficácia, d e m o d o que todos os efeitos possíveis da sen ten ­
ça po ssam ser p ro d u z id o s in d ep en d en tem en te d o seu trânsito 
em ju lgado (executoriedade) - é o que ocorre com a antecipação 
da tu tela ou com a in terposição de recurso que n ão tenha efeito 
su spensivo (por exemplo: apelação, recurso ex trao rd inário e re ­
curso especial, conform e arts. 520 e 542, § 2^ d o CPC); p o r seu 
tu rn o , a im u tab ilid ad e d as decisões judiciais p re ssu p õ e a au to ­
r id a d e d a coisa julgada.^’
A eficácia, vale d izer, refere-se ao con teúdo de u m ato im p e ­
ra tivo d o Estado, capaz de projetar seus efeitos para fora do p ro ­
cesso, de m o d o a atingir de im ediato a v ida das pessoas, d isci­
p lin an d o os conflitos m ateriais. D estarte, a eficácia das decisões 
p o d e ocorrer com a coisa ju lgada ou an tes dela , p o r m eio da 
concessão d e tu te la an te c ip a d a o u d a in ex is tên c ia d e efeito 
su sp en siv o d o recu rso in terposto - fenôm eno esse q u e P aulo 
H e n r iq u e d o s S a n to s L u co n d e n o m in o u d e a n te c ip a ç ã o da 
executoriedade?^
A esse respeito , salienta Cássio Scarpinella Bueno q u e a p o s ­
sib ilidade d e início da eficácia d as decisões ocorre com a sua 
publicação, q u a n d o passam a existir ju rid icam ente . A ntes disso, 
p o rq u e inexistentes, não p o d em surtir efeitos. E n tre tan to , a pu-
" LUCON, Paulo Henrique dos Santos. Ibidem, p, 148, 
LUCON, Paulo Henrique dos Santos. Ibidem, p. 150. 
LUCON, Paulo Henrique dos Santos, Op. c it„ p. 150,
PERFIL SISTEM ÁTICO DA TUTELA ANTECIPADA
blicação não é, em regra, suficiente p a ra to rnar eficaz a decisão 
p ro la tada , pois som ente após o transcurso , in albis, d o p razo para 
in terposição de even tual recurso é que será e f ic a z ^ . D esse m odo, 
o efeito su spensivo não su spende a eficácia d a decisão, o que ele 
faz, na verdade , é p ro lo n g ar o seu estado de ineficácia. Por o u ­
tro lado, a decisão cujo recurso é desp rov ido do efeito suspensivo 
já é ap ta , d esd e a publicação, a p ro d u z ir efeitos ju ríd icos/^
N ão se verifica, p o rtan to , relação de p re jud ic ia lidade ou d e 
dep en d ên c ia en tre os efeitos das decisões e a q u a lid ad e da coisa 
ju lgada, um a vez que o decurso dos p razos ou a u tilização de 
todos os recursos cabíveis não têm o condão exclusivo de a tr i ­
bu ir-lhes eficácia. A inda assim , a lguns efeitos som ente poderão 
ser sen tidos pelas partes com o trânsito em ju lg ad o da decisão, 
após o esgotam ento do s recursos cabíveis, h ipó tese em que coin­
cidem a coisa ju lg ad a e a eficácia d a sentença o u acó rdão de 
m érito , tal com o ocorre com as sentenças com eficácia m eram ente 
declara tória ou constitutiva. De toda form a, pode-se concluir que 
a sentença de m érito p o d e tornar-se eficaz an tes ou depo is do
BUENO. Cássio Scarpinelia. Execução provisória e antecipação da tutela: dinâmica do efeito 
suspensivo da apelação e da execução provisória: conserto para a efetividade do processo. São 
Paulo; Saraiva, 1999, pp, 38-39. Nesse sentido, conclui o aludido jurista que “o inicio da eficácia da 
decisão jurisdicional relaciona-se não só com sua existência jurídica (publicação ou ciência das par­
tes), mas, também, com a inexistência da viabilidade da interposição de recursos munidos de efeito 
suspensivo. Deve-se, para admitir eficácia à decisão, aguardar in albis o prazo para interposição de 
recursos munidos de efeito suspensivo, que só tem inicio, como cediço, com a publicação da decisão 
da qual se pretende recorrer ou com a tomada de ciência pelas partes” (op. ci(., p. 47).
Esse é 0 entendimento de José Carlos Barbosa Moreira, para quem o prolongamento da ineficácia

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