Buscar

Psicanálise-Bion (1)

Prévia do material em texto

Cleide Aparecida da Silva 
Fabiana Cristina Boencio Albres 
Jamille Oliveira Carvalho 
Marcondes Santos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PSICANÁLISE – BION 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Cuiabá – MT 
2011 
 
HHIISSTTÓÓRRIICCOO EE IINNFFLLUUÊÊNNCCIIAASS 
 
Wilfred Ruprecht Bion (1897-1979) é filho de ingleses, mas nasceu na Índia, onde seu 
pai realizava um trabalho de engenharia de irrigação para o governo britânico. Bion viveu na 
India até os sete anos de idade quando foi enviado de volta a Inglaterra para iniciar seus 
estudos. (HADAD, 2008) 
Segundo Zimerman (2004) como era de costume aos filhos de altos funcionários 
britânicos que moravam no exterior Bion foi mandado a Inglaterra para estudar num colégio 
interno, e recebia esporadicamente a visita dos pais, mais adiante expressou com amargura as 
marcas de um regime altamente opressor de sua escola tradicional. 
Ainda na India Bion e a irmã Edna eram cuidados por uma ama indiana de nome Ayah, 
que foi uma figura importante e influente tanto na vida como na obra de Bion anos mais tarde 
(ZIMERMAN, 2004). 
Na adolescência Bion sentia-se atormentado pelos ditames religiosos que a escola e a 
igreja impunham e só recuperou sua segurança e integração com os colegas devido aos 
esportes, quando se tornou capitão das equipes desportivas de rugby e waterpolo. 
(ZIMERMAN, 2004) 
Aos 17 anos teve uma séria crise emocional e aos 19, logo após ter saído do colégio, 
ingressou espontaneamente nas forças armadas, onde se destacou por conta de suas 
qualidades desportivas e intelectuais. Lutou na primeira guerra mundial e participou de uma 
tarefa que consistia em ajudar a eliminar os ninhos de metralhadoras inimigas, foi 
condecorado pelo sucesso da missão. (ZIMERMAN, 2004) 
Aos 33 anos graduou-se como médico e ganhou uma medalha de ouro em Cirurgia, 
além de outros títulos honoríficos. Entre 1937 e 1939 fez análise com Rickman, um discípulo de 
Freud e Klein e foi interrompido pelo inicio da II Guerra mundial. Em 1940 voltou ao exército 
para se dedicar a reabilitação de pilotos da RAF e ao findar da guerra voltou a trabalhar na 
clínica Tavistock. A partir de 1945 começou uma nova análise, agora com Melanie Klein, que 
perdurou por mais oito anos e nesse período também retomou a sua formação no Instituto de 
Psicanálise de Londres. (ZIMERMAN, 2004) 
Zimerman (2004) relata que Bion foi casado por duas vezes, a primeira com a ex-atriz 
Elisabeth Jardine, que terminou em 1945 quando ela faleceu por complicações durante o parte 
de sua primeira filha enquanto Bion estava fora em compromissos das forças militares. Em 
1951 casou-se pela segunda vez com Francesca, uma pesquisadora e sua assistente na clinica 
Tavistock, com quem permaneceu casado até o fim de sua vida e com ela teve mais dois filhos 
(um também médico e outro lingüista). 
 
 Bion foi um psiquiatra e psicanalista que desenvolveu pesquisas sobre a formação e 
fenômenos de grupo, entre outros assuntos. Bion iniciou seus trabalhos com grupos na ala de 
reabilitação de militares do Hospital Northfield (durante a segunda guerra mundial) e, depois, 
estudou inúmeros grupos terapêuticos na Clínica Tavistock e em seu consultório. (SAMPAIO, 
2002) 
Suas principais influências teóricas são a psicanálise freudiana com destaque para os 
trabalhos de Freud e seus interlocutores sobre a psicologia das massas; a teoria das três 
pulsões do Dr. Hadfield (da clínica Tavistock); e as contribuições de Melanie Klein. (SAMPAIO, 
2002) 
Para Hadad (2008) a obra de Bion pode-se dividir em: experimentos com grupos; o 
estudo do funcionamento psicótico, baseado na obra de Melanie Klein; e consagra-se 
aprofundando-se nos atendimentos à pacientes psicóticos. Bion faz uma releitura da 
psicanálise introduzindo o uso de metáforas para facilitar a comunicação do analista com o 
paciente porque acreditava que a linguagem verbal poderia ser falha. 
Segundo Sampaio (2002), Bion adotava uma postura de evitar resolver os conflitos que 
começassem a surgir entre os pacientes e evitava interferir até que os reclamantes tivessem 
amadurecido os problemas e suas soluções. No grupo terapêutico, Bion não estabelecia 
nenhuma regra de procedimento, ele simplesmente procurava convencer "grupos de doentes 
a aceitar como tarefa o estudo de suas tensões”. (SAMPAIO, 2002) 
Bion foi um psiquiatra, psicanalista e um pioneiro, em trabalhos com grupos, no qual 
desenvolveu grandes pesquisas sobre a formação e os fenômenos grupais. Seu primeiro livro, 
“Experiências com Grupos” de 1961, deu gênese ao que atualmente chama-se de terapia 
grupal. A teoria dos grupos de Bion alicerça-se no fato que existe, segundo ele, um grupo de 
trabalho ou grupo refinado e os grupos de base, ou mentalidade grupal ou grupos de 
pressupostos básicos. (HADAD, 2008) 
Ao prosseguir seus estudos, Bion foi distinguindo três padrões distintos aos quais 
denominou pressupostos básicos, são eles: dependência, acasalamento e luta-fuga. (SAMPAIO, 
2002) Falaremos mais sobre cada um deles mais adiante. 
 
TTEEOORRIIAA EE CCOONNCCEEIITTOOSS 
 
 Como foi dito anteriormente, Bion teve seu pensamento teórico pautado nos preceitos 
da psicanálise freudiana e Kleiniana, e seu trabalho desde o início se deu com grupos, mas o 
seu foco maior foi o grupo terapêutico e o grupo de trabalho não foi muito visado. Abaixo 
veremos algumas suas contribuições para o trabalho com grupos, grupo de suposto básico e 
grupo de trabalho, Mentalidade grupal, Cultura do grupo. 
 
 
MMeennttaalliiddaaddee GGrruuppaall 
Bion denominou mentalidade grupal a expressão unâmine da vontade do grupo, no 
qual cada indivíduo contribui por maneiras das quais ele não se dá conta. No inicio de 1948, 
Bion organizou os seus grupos unicamente terapêuticos, a partir dos quais fez importantes 
observações e contribuições que permanecem vigentes e inspiradoras na atualidade. 
Concepções originais acerca de dinâmica do campo grupal, cita-se como exemplo “os grupos 
de reabilitação e de seleção”, cujo programa era voltado a readaptação de militares 
estressados. Segundo Zimerman (2004, p.110) relata que o objetivo das atividades e dos 
programas de exercício era readaptá-los à vida militar ou de julgar se eram capazes de voltar 
ativamente a essa vida. Por outro lado os “grupos sem líder”, consiste na proposição de uma 
tarefa coletiva aos candidatos. De acordo com Zimerman (2004, p.108) ilustra como exemplo a 
construção de uma ponte, pois enquanto os observadores especializados avaliavam não a 
capacidade de cada um deles para construir uma ponte, mas sim a aptidão do homem em 
estabelecer inter-relacionamentos em enfrentar as tensões geradas nele e nos demais pelo 
medo do fracasso da tarefa do grupo e o desejo do êxito pessoal. 
Entre outras conceituações e designações inerentes a dinâmica do campo grupal vale 
ressaltar sobre a “mentalidade grupal”, em que se apresenta sustentada na definição de 
Zimerman (2000, p.75) como alude ao fato de que um grupo adquire uma unanimidade de 
pensamento e de objetivo, transcendendo aos indivíduos e se instituindo como uma entidade 
a parte. 
A mentalidade de grupos é "a expressão unânime da vontade do grupo, à qual o 
indivíduo contribui por maneiras das quais ele não se dá conta, influenciando-o 
desagradavelmente sempre que ele pensa ou se comporta de um modo que varie de acordo 
com os pressupostos básicos" (Bion, 1975, p. 57). Ela funcionaria de forma semelhante ao 
inconsciente para o indivíduo. Ela seria responsável pelo "fracasso dos grupos" que Bion 
reputa à "expressão num grupo de impulsos que os indivíduos desejam satisfazer 
anonimamente e a frustração produzida no indivíduo pelas conseqüênciasque para si mesmo 
decorrem desta satisfação" (p. 46). Em suas observações ele destaca diversas situações onde o 
grupo parece estar mobilizado pela mentalidade de grupo. Conversas fúteis, ausência de juízo 
crítico, situações "sobrecarregadas de emoções" a exercerem influências sobre o indivíduo, 
estímulo às emoções independentemente do julgamento, em suma: "perturbações do 
comportamento racional do grupo" (p. 31). Desta forma, os grupos seriam como uma moeda, 
que possui duas faces, uma voltada à consecução dos seus objetivos e uma outra regida por 
 
impulsos dos seus membros, impulsos estes que se manifestariam quando se está reunido em 
um grupo de pessoas. 
Um dos termos que Bion utiliza para definir a mentalidade dos grupos é "padrão de 
comportamento". Humbert (1985) afirma que o termo "pattern of behavior"3 foi desenvolvido 
pelos biólogos e que havia sido incorporado por Jung para a definição dos arquétipos. Este 
conceito articula a idéia de herança genética às contribuições dadas pela cultura, 
diferentemente do conceito de instinto, muito empregado por psicólogos do século XIX. Este 
conceito assemelha-se também à idéia de estrutura. 
CCuullttuurraa ddoo GGrruuppoo 
Segundo Sampaio (2002) cultura de grupo é a forma como o grupo reage aos efeitos 
de uma mentalidade de grupo. É o resultado da oposição entre as necessidades da 
“mentalidade grupal” e as de cada indivíduo em particular. 
Sampaio (2002) afirma que no início do seu trabalho, Bion emprega metáforas 
genéricas para descrever as culturas de grupo, como "teocracia em miniatura" e "cultura de 
pátio de recreio". À medida que ele vai desdobrando o conceito de mentalidade grupal nos 
seus três padrões de comportamento ele associa a cultura a estes últimos, referindo-se a ela 
como "cultura de luta-fuga" ou "cultura de grupo dependente". Bion se ateve pouco ao grupo 
de trabalho, focalizando sua análise sobre cultura na mentalidade de grupos. 
O próprio Bion em sua obra afirma sobre cultura dos grupos: 
... expressão que empreguei para descrever aqueles aspectos do 
comportamento do grupo que pareciam nascer do conflito entre a 
mentalidade do grupo e os desejos do indivíduo. (Bion, 1975, p. 47) 
 
Bion crê que a intervenção nos grupos fortemente influenciados pela mentalidade de 
grupo se dá através de uma prática clínica. O terapeuta de grupo vai interpretando as 
manifestações da mentalidade de grupos à medida que elas se manifestam, evitando ocupar o 
lugar de líder que seria desejado pelo grupo influenciado por um padrão de comportamento. 
(SAMPAIO, 2002). 
 
Valência 
Termo extraído da Química e que nomeia a aptidão de cada indivíduo combinar com 
os demais, em função dos fatores inconscientes de cada um. “Bion alertava para o fato de que 
“sempre teria que haver algumas valências disponíveis para ligar-se a algo que ainda não 
aconteceu” (Zimerman, 2000, p. 75) 
Bion distinguiu três padrões distintos, mas intercambiáveis, que seriam constantes na 
mentalidade de grupos. Ele os denominou pressupostos básicos, cujas origens estão na teoria 
freudiana, que tenta explicar os fenômenos grupais a partir da libido (instinto sexual). Para 
sustentar a hipótese psicanalítica de que os fenômenos grupais possuem como origem um 
investimento afetivo sobre um objeto que não pode ser obtido, seguido pela identificação com 
os supostos rivais. 
Grupo de (Pré)Supostos Básicos (SB) 
 
O grupo de (pré)supostos básicos (SB) é, afirma Zimerman (2000) é a concepção mais 
original de Bion, e a mais largamente conhecida e difundida. 
Os SB funcionam nos moldes do processo primário do pensamento, regido pelas leis 
do inconsciente. Portanto, não há a noção de temporalidade, de relação causa-efeito, pode se 
opuser a todo o processo de desenvolvimento reagindo defensivamente as ansiedades geradas 
no grupo. 
Bion descreveu três modalidades de supostos básicos: supostos básicos de dependência, 
de luta e de acasalamento. 
1. Suposto básico de dependência: O grupo necessita e elege um grupo de 
características carismáticas para receber proteção, segurança e alimentação material 
ou espiritual. Os vínculos com o líder tendem a adquirir uma natureza parasitária ou 
simbiótica, mais voltado para um mundo ilusório. 
2. Suposto básico de luta e fuga: O inconsciente do grupo está dominado por ansiedades 
paranóides e, por essa razão, o grupo pode tomar dois posicionamentos: adotar uma 
postura defensiva e lutar com uma franca rejeição contra qualquer situação nova de 
dificuldade psicológica ou fugir, criando um inimigo externo, ao qual atribuem todos os 
males, e por isso, ficam unidos contra esse inimigo comum. O líder requerido por esse 
tipo de suposto básico grupal deverá ter características paranóides e tirânicas. 
3. O suposto básico de acasalamento consiste no fato de que o grupo espera um 
redentor de todos. As esperanças messiânicas do grupo são depositadas em uma 
pessoa, uma idéia ou um acontecimento virá salvá-los e fazer desaparecer as 
dificuldades. 
 
CONTRIBUIÇÕES PARA O TRABALHO COM GRUPOS 
 
Em resumo, Bion foi um psiquiatra e psicanalista que desenvolveu pesquisas sobre a 
formação e fenômenos de grupo, entre outros temas e aprofundou-se em estudos com 
psicóticos e deu gênese a terapia grupal, como é conhecida hoje. Todo seu trabalho pode ser 
visto em cerca de 50 obras escritas por ele. 
Seus conceitos de grupo de trabalho e grupo de supostos básicos ainda hoje 
influenciam no estudo e entendimento de grupos, e na forma como é feita a terapia grupal. 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 
 
HADAD, Valter Guerra 
http://www.redepsi.com.br/portal/modulessamrtsection/item.php?itemid=1010 – pesquisado 
em 29/09/2011. 
 
SAMPAIO, Jáder dos Reis. A "Dinâmica de Grupos" de Bion e as Organizações de Trabalho. 
Psicol. USP, São Paulo, v. 13, n.2, 2002. Available from 
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
 
65642002000200015&lng=en&nrm=iso>. Access on 27 Sept. 2011. 
http://dx.doi.org/10.1590/S0103-65642002000200015 
 
ZIMMERMAN, David. Bion: da Teoria à Prática, uma leitura didática. 2ª Ed. Porto Alegre: 
Artmed, 2004 – Reimpressão 2008. 
 
ZIMMERMAN David E. Fundamentos Básicos das Grupoterapias. 2ª Ed. Porto Alegre: Artmed 
2000 – Reimpressão 2008.

Outros materiais

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Perguntas Recentes