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DO CULTIVO DE MEXILHÕES PARA A AQUAINDUSTRIA: O MOMENTO DO BRASIL A SITUAÇÃO BRASILEIRA A aquicultura brasileira reconhece os bons resultados que o cultivo de moluscos têm tido no litoral catarinense. As experiências com o cultivo do mexilhão Perna perna, que tiveram início em 1986, respondem hoje por cerca de 93 % da produção nacional de mexilhões (Figura 1), enquanto a produção somada dos demais estados (Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo), está em torno de 600 toneladas/ano. Na primeira década, cerca de 1.000 produtores ingressaram na atividade, foram demarcadas 102 áreas de cultivo (agrupadas em nove áreas principais, ocupando 93 hectares), criadas 13 associações de produtores e construídas quatro unidades de processamento de moluscos. O número de empregos diretos gira em torno de 4.000 pessoas e cada hectare de cultivo de mexilhão tem possibilitado a geração de quase 52 empregos. Figura 1 - Produção anual de mexilhões Perna perna cultivados em Santa Catarina, no período de 1990 a 2000. Fonte: EPAGRI (2000) As técnicas de cultivo empregadas são relativamente rudimentares e foram adaptadas visando a introdução da atividade junto as comunidades de pescadores artesanais. Muitos pescadores passaram gradativamente a maricultores de tempo integral reinvestindo e aumentando seus cultivos. Com o tempo, um número cada vez maior de profissionais liberais (biólogos, agrônomos, oceanógrafos, etc) também ingressaram na atividade, fazendo com 0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 14000 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 to ne la da s que aos poucos esta deixasse de ser vista apenas como uma alternativa para pescadores e aumentando assim o profissionalismo na operação dos cultivos. Este sucesso se deve ao empreendorismo dos produtores trabalho realizado ao longo de toda a última década por universidades como a UFSC e a UNIVALI em parceria com a EPAGRI e ao pioneirismo empreendedor de pescadores artesanais que acreditaram na idéia, mas principalmente às excelentes condições naturais existentes em nosso litoral, que propiciam um reduzido tempo de cultivo de 8-9 meses e um rendimento de 20 kg/m de corda de cultivo. Estes indicadores de produtividade são considerados excelentes se comparados com o tempo de cultivo necessário nos demais países produtores (Tabela 1). Fonte: Programa de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva de Moluscos Bivalves (DPA/MA) 1998. Apesar dos resultados expostos acima, o desenvolvimento do cultivo de mexilhões no Brasil é extremamente tímido frente ao potencial desta indústria. e a cadeia produtiva possui diversos entraves que dificultam o real aproveitamento deste potencial. Entre os principais entraves colocados em discussão no Workshop Nacional da Plataforma do Agronegócio do Cultivo de Moluscos Bivalves realizado em 2001, Florianópolis, foram citados: • Inexistência de estratégia de marketing visando estimular o consumo de moluscos no Brasil. Tabela 1 – Produção, tempo de cultivo e preço por kg de carne de mexilhão em US$, dos principais concorrentes do produto nacional em 1998. PAÍS PRODUÇÃO TEMPO DE CULTIVO PREÇO C&F REVENDA NO ATACADO China 366.251 12 a 14 meses - Espanha 188.462 12 a 14 meses US$ 2,25 US$ 4,05 Nova Zelandia 65.000 18 meses US$ 3,501 Chile 7.000 12 meses US$ 3,002 US$ 4,80 Brasil 8.000 8 meses US$ 1,803 1 55-80 pecas/kg (IQF/HACCP). 2 80-120 pecas/kg (IQF/HACCP). 3 100 pecas/kg (desconchado fresco). • Necessidade de se implantar programas de monitoramento da qualidade bacteriológica das áreas de cultivo. • Falta de insumos e equipamentos (bóias, redes, máquinas e barcos) próprios para maricultura. • Produção de sementes em quantidade suficiente para suprir a demanda tanto dos produtores existentes quanto dos novos ingressantes na atividade. No que tange a profitabilidade como agronégocio, o cultivo de mexilhões difere do de ostras em um fator básico. A ostra tem um valor mais elevado no mercado e necessita menos mão-de-obra, porém exige mais investimento em equipamentos e aquisição de sementes. A maioria dos profissionais liberais que ingressaram na maricultura, iniciaram com ostras e têm conseguido manter micro empresas. A escala de produção destes empresários situariam-nos numa posição intermediária entre um produtor artesanal e um produtor industrial. Já no cultivo de mexilhões esta escala de produção intermediária se torna inviável em função do preço unitário mais baixo, comparativamente ao da ostra, além da maior necessidade de mão-de-obra na colheita e semeadura. Existem duas formas em que o cultivo de mexilhões pode ser rentável. Uma é a escala que têm sido realizada atualmente em Santa Catarina: pequenos produtores que utilizam mão-de-obra familiar e obtêm uma renda que reflete em melhoras no seu padrão de vida mas não permitem os reinvestimentos necessários para . O salto do patamar de pequeno produtor para micro empresário (em termos de escala de produção) é muito mais difícel porque a maneira mais fácil de reduzir os custos seria através da mecanização e aprimoramento das técnicas de cultivo com investimentos significativos que não são possíveis para pequenos produtores. Se estes investimentos pudessem ser feitos por grupos de produtores reunidos em associações ou cooperativas, estes estariam frente a novos entraves: Como processar eficientemente este volume maior sem investimentos também na mecanização também desta etapa? Onde vender este produto se o mercado nacional ainda está subdesenvolvido e necessitando de uma campanha de marketing com projeção internacional? Como distribuir rapida e eficientemente esta produção considerando as enormes distâncias do mercado? Como exportar e atender os padrões de qualidade do exigente mercado externo sem termos ao menos o primeiro requisito básico: o monitoramento bacteriológico e toxicológico das áreas de cultivo? Enquanto os produtores, organizados em associações ou não, não encontram uma solução, os entraves vão gradativamente limitando cada vez mais a expanção da indústria. Um efeito claro causado pela limitação do mercado é redução do preço pago ao produtor que de R$ 1,50 – R$2,00/kg praticado no início da atividade, chega agora em 2001 a um valor de até R$ 0,40/kg de mexilhão vivo. A SITUAÇÃO MUNDIAL Estas considerações mostram os entraves que a mitilicultura nacional precisa ultrapassar para que seja desenvolvida a seu potencial máximo, gerando mais empregos, mais renda e aumentando as exportações brasileiras. Na verdade, a indústria pesqueira brasileria, bem como a de produção de insumos e equipamentos, ainda não despertaram para esta oportunidade e não reconhecem a atividade como opção de investimento. A grande maioria não está a par do desenvolvimento do setor fora do Brasil. Para ilustrar o potencial adormecido deste setor, basta observar os dados de produção dos maiores produtores internacionais como a Nova Zelândia, Holanda, Espanha e China, comparativamente aos dados do Brasil (Figura 2 e 3). Figura 3 – Evolução da produção de mexilhões nos principais países produtores de 1987 a 1996. 1987198819891990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 0 100.000 200.000 300.000 400.000 500.000 600.000 to ne la da s Nova Zelândia Holanda Espanha China Fonte: FAO (1996) Os gráficos acima mostram que o cultivo industrial de mexilhões é uma realidade em diversos países e, em alguns deles, surgiu como uma excelente opção de aquicultura que impulsionou a indústria pesqueira antes dependente apenas da imprevisívelpesca extrativista. Vale lembrar que em nenhum destes países o mexilhão atinge o tamanho comercial em menos tempo do que no Brasil. O EXEMPLO DA NOVA ZELÂNDIA Dentre os países que iniciaram mais recentemente (menos de três décadas) se destaca a Nova Zelândia. Diferentemente da Espanha, onde as tranquilas “Rias” permitem o cultivo em balsas enormes, na Nova Zelândia são utilizados espinhéis de superfície semelhantes aos empregados atualmente no Brasil. Pode-se se dizer que os neozelandeses adaptaram a mecanização espanhola para o cultivo em espinhéis. Figura – Comparação entre a produção de mexilhões no Brasil e na Nova Zelândia na última década. 0 10.000 20.000 30.000 40.000 50.000 60.000 70.000 80.000 90.000 100.000 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 to ne la da s Nova Zelândia Brasil Fonte: FAO, EPAGRI Com a vantagem de começar depois dos principais produtores mundiais (China, Espanha e Holanda), eles perceberam logo que não havia sentido em repetir os mesmos erros pelos quais seus precedentes haviam passado e por isto tiveram uma vantagem em termos de investimentos e tempo porque procuraram aprender com os erros dos que já passaram pela fase inicial de desenvolvimento. Enquanto a produção de mexilhões dos três maiores produtores manteve-se relativamente estável ou até mesmo decaiu em decorrência de problemas causados pela superação da capacidade de suporte, na última década a indústria neozelandesa teve um crescimento constante, atingindo 90 mil toneladas, e o mexilhão tornou-se o tercerio produto marinho mais exportado por este país. Em 1988 as exportações de mexilhão que já geravam US$ 24 milhões (FOB), atigiram em 2000 um volume de 30 mil toneladas no valor de US$ 170 milhões (FOB). Isto representa um aumento de 708% para o período de 12 anos. (Figura). As sifras atuais vêm de 605 fazendas com uma área marinha totalizando mais de 2.850 hectares, com um valor médio de exportação de aproximadamente US$ 60.000 por hectare utilizado na produção de mexilhões. Figura – Exportação de mexilhões neozelandeses na última década. 0 50.000 100.000 150.000 200.000 250.000 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 NZD$ x 1000 Toneladas Fonte: Greenshell A HISTÓRIA DO GREENSHELL Para alcançar estes resultados, os neozelandeses planejaram e estruturaram cuidadosamente sua cadeia produtiva. Em 1972, o “New Zealand Fishing Industry Board” iniciou um programa de pesquisa e desenvolvimento que durou nove anos. Este programa resultou numa tecnologia de cultivo mecanizado, conhecido como “sistema contínuo” (Figura 4). A indústria começou a florescer quando todos os produtores optaram por abandonar os velhos metódos de plantio e colheita manual e adotaram o novo método que reduziu o trabalho e aumentou a produtividade. Atualmente este país é tido como uma referência mundial por apresentar os maiores índices de produtividade praticados no cultivo de mexilhões. Uma vez que a indústria neozelandesa passou a fixar os padrões pelos quais eficiência e produtividade são medidos, é importante lembrar que não se chegou ao nível atual de mecanização da noite pro dia mas este foi o resultado de um trabalho de diversas indústrias, instituições e indivíduos atuando em conjunto. No sistema tradicional empregado no Brasil, os mexilhões pequenos são semeados dentro de uma malha de algodão biodegradávelcom a ajuda de um pedaço de cano pvc e por fora desta malha é utilizada uma rede tubular (Figura). Dentro de 15-20 dias a malha de algodão desaparece e os mexilhões aderidos uns aos outros migram para fora da rede externa, que fica mais como um substrato de apoio no centro da corda de cultivo. O truque aqui é saber qual é o tamanho de malha mais apropriado para o tamanho da “semente”, a rede pode impedir o crescimento de alguns mexilhões que não conseguem sair da malha e que acabam tendo suas conchas deformadas pela rede. Estas cordas de cultivo, também chamada redes de cultivo, tem um comprimento que basicamente varia de 1 a 2 metros em função da baixa profundidade, no caso de cordas de 1 metro, e da capacidade de um homem ergue-la sozinho do mar, no caso de profundidades iguais ou superiores a 2 metros. O SISTEMA DE CULTIVO CONTÍNUO No sistema contínuo as cordas de cultivo que no sistema manual não passam de dois metros dão lugar a uma corda de 500 ou 1000 metros de comprimento que são penduradas no cabo principal do espinhél em alças de até 6 metros. O advento da mecanização leva a um melhor aproveitamento do local de cultivo uma vez que nos permite utilizar cada metro cúbico da coluna de água ao invés de apenas sua porção superior. Quando é chegada a hora de colher, o espinhél inteiro é colhido de uma só vez e os mexilhões pequenos são automaticamente ressemeados durante a colheita. Figura – Esquema do sistema convencional de cultivo e do sistema de cultivo contínuo. Fonte: Fukui North America Ao invés de utilizar uma rede externa o sistema mecanizado semeia os mexilhões em volta de uma corda especial, envolta apenas por uma malha de algodão biodegradável. Desta forma não existe o risco dos mexilhões não conseguirem sair da rede, como pode acontecer no cultivo tradicional, uma vez que assim que a malha de algodão se degradar eles já estarão por fora da corda de cultivo. A cada ½ metro de corda é introduzido um palito de plástico que impede o despencamento dos blocos de mexilhões quando estes já estiverem próximos ao tamanho de colher. Figura - Aspecto da corda de cultivo utilizada no sistema contínuo. Fonte: Tajelleres Aguin A corda é colhida na popa do barco e mecanicamente despencada, desgranada, os mexilhões adultos são separados dos juvenis e estes já saem resemeados na proa (Figura). Este sistema mecanizado permite fazer em horas o trabalho que levaria pelo menos uma semana para ser realizado. Figura - Esquema de um barco equipado para operar o sistema contínuo de cultivo. Fonte: Tajellers Aguin Rampa de acesso despencador Ralador Desgranador Semeador 1o laço Princípio do espinhél Cabo mestre Espaço livre Os espinhéis também passaram por um aperfeiçoamento e bóias específicas para o setor foram desenvolvidas. A experiência e os conflitos resultantes da poluição visual guiaram este processo, resultando em robustas bóias pretas rotomoldadas com 344 kg de flutuação que são utilizadas em espinhéis duplos (Figura ). Uma vez que estas bóias consistem a maior parte do investimento nos espinhéis, sua utilização é otimizada num sistema de rodízio. Quando recém semeadas, as cordas de cultivo exigem pouca flutuação e portanto as bóias são acrescentadas ao espinhél à medida que os mexilhões vão crescendo e a corda vai ficando mais pesada. Os espinhéis são usados em pares de forma que um deles sempre estará recém semeado e o outro em fase final de engorda. No Brasil quase todos os cultivos utilizam bombonas que são descartadas de outras indústrias como flutuadores. Estas bóias foram vantajosas no período inicial da atividade em vista do perfil do produtor e de suas limitações de investimento, entretanto estas bóias não possuem os atributos necessários em um equipamento de aquicultura numa escala industrial, que seriam a redução da mão de obra e aumento da produtividade e segurança das instalações. Apesar de serem baratas, algumas bombonas tem baixa resistência à água salgada e ação dos raios solares e acabam por rachar com o tempo. Um outro aspecto é que por não serprojetada para este fim, as bombonas presas com cabos ou capas de rede à corda principal do espinhél, acabam se soltando com tempo, aumentando consideravelmente a manutenção e os riscos de perdas. Além disso, devido à enorme variedade de cores e formas, a poluição visual é enorme e muitas vezes o aspecto de um cultivo no mar leva-nos a perguntar se um caminhão de lixo reciclado não teira descarregado ali (Figura ). Figura - Espinhél duplo e aspecto de uma fazenda de mexilhões da Nova Zelândia (mexilhões em detalhe). Fonte: Greenshell Figura - Aspecto de fazendas de mexilhão no Brasil. Os barcos de 23 pés com capacidade para 2-3 toneladas utilizados inicialmente na indústria mexilhoneria também passaram por aperfeiçoamentos e novos barcos foram projetados especificamente para colheita, alguns com capacidade para mais de 100 toneladas (Figura ). Para manusear grandes voumes de mexilhões, a indústria emprega sacos especialmente projetados para carregar uma tonelada sem esmagar os mexilhões que ficam na porção de baixo. Figura Barcos empregados no cultivo neozelandes. Os pequenos produtores e suas associações passaram a ser integrados à indústria e consultores imparciais foram contratados para avaliar os custos de produção e indicar um preço justo a ser pago ao produtor por tonelada produzida que satisfizesse tanto a indústria de processamento quanto os donos de fazendas. Foi criada ainda uma nova opção para investidores na forma de produtor ausente, na qual qualquer pessoa interessada poderia ter uma fazenda que seria operada pela indústria e o proprietário arcaria com os investimentos em espinhéis, gastos relacionados a taxas governamentais e manutenção, e que só estaria presente na fazenda uma vez por ano, em geral na ocasião da colheita. Além da tecnologia de cultivo, o produto neozelandes é uma referência no que diz respeito à padrões de qualidade, atendendo as rígidas exigências do mercado americano e europeu. O foco no mercado externo foi apoiado numa elaborada campanha de marketing que criou a trademark Greenshell, utilizada e promovida por toda a indústria nacional e que se refere a cor esverdeada das conchas do mexilhão local. Um programa de monitoramento bacteriológico e toxicológico das áreas de cultivo foi implantado com base nas diretrizes do FDA americano e o custo deste programa foi repassado aos produtores na forma de taxas cobradas por hectare utilizado, juntamente com as taxas já pagas pela cessão da área no mar. Assim como no Brasil, existem épocas mais propensas à desova do mexilhão, entretanto estes podem desovar em qualquer época do ano. Por isto, amostras são analisadas antes de colher um espinhél para garantir que os mexilhões estão gordos e suculentos e não magros por terem desovado nos dias que precederam a colheita. Os operadores de máquinas de colheita são experientes neste julgamento e sempre informarão o criador sobre a condição de seu cultivo. A indústria é extremamente cuidadosa para garantir que apenas mexilhões na sua melhor condição entrem na cadeia de processamento e chegem ao mercado, seja este doméstico ou internacional. Ao contrário dos principais produtores mundiais, que vendem a maior parte de seu produto na forma enlatada (Figura ), a indústria do Greenshell apostou em outra forma de apresentação que aderiu mais valor ao produto: o mexilhão congelado na 1/2 concha. Mesmo tendo o 1/2 concha como principal produto a indústria aprendeu que o tamanho do mexilhão requerido por um mercado varia de acordo com o mercado específico para qual o produto é destinado. Mercados diferentes exigem tamanhos específicos, ou formas diferentes de apresentação, ou ambos, e consequentemente o tamanho é uma consideração importante na decisão de colheita de uma área de engorda. Geralmente mexilhões destinados para o mercado de 1/2 concha são colhidos antes dos destinados ao de carne desconchada individualmente congelada (IQF). Figura – Produção mundial de mexilhões processados e principais formas de apresentação. 0 10.000 20.000 30.000 40.000 50.000 60.000 70.000 80.000 90.000 19 76 19 77 19 78 19 79 19 80 19 81 19 82 19 83 19 84 19 85 19 86 19 87 19 88 19 89 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 fresco congelado Enlatado Fonte: Globefish Os mexilhões Greenshell® são processados com a mais alta tecnologia disponível atualmente em plantas que operam dentro de exigentes padrões de controle de higiene e qualidade. As normas que regem o processamento foram fixadas por órgãos fiscalizadores governamentais neozelandeses baseados nos padrões internacionais para processamento de alimentos. Inspetores do governo realizam vistorias periódicas e cada planta processadora possui seu próprio programa de controle de qualidade. Os mexilhões são processados nas mais diversas formas e independenetemente do produto final a passagem pela linha de processamento é muito rápida. Todo o processo leva pouco mais do que trinta minutos da chegada do produto a planta até o embalamento final para o mercado doméstico ou externo. Dependendo da destinação os mexilhões são processados em ½ concha, desconchado, fresco com concha, congelado com concha ou carne individualmente congelada (IQF). Todas as plantas usam sistema de congelamento extremamente rápido e a maioria dispõe também de pesagem e embalagem automatizada (Figuras ). A venda de mexilhões na ½ concha representam mais de 70% das exportações posicionando a Nova Zelândia como o maior exportador de mexilhões com esta apresentação. Atualmente o mexilhão neozelandes é exportado para 55 países em todos os continentes. Figura - Processamento do mexilhão Greenshell® . Figura - Principais mercados do mexilhão Greenshell®. EUA 33% Espanha 11% Australia 10% Japão 9% Outros 37% A VIRADA DA INDÚSTRIA BRASILEIRA Na forma como é praticada hoje no Brasil, a mitilicultura continuará crescendo um pouco mais, entretanto, devido aos vários entraves existentes em todas as etapas da cadeia produtiva, cedo ou tarde haverá um ponto em que a atividade ficará estagnada por não apresentar bons índices de produtividade, qualidade do produto final ou esquema de distribuição e marketing. A origem simples e o baixo grau de instrução da grande maioria dos produtores torna extremamente difícel para eles o equacionamento e resolução de todos estes entraves. Um exemplo disto são as unidades de beneficiamento que foram doadas às associações catarinenses pelo governo brasileiro. Das quatro unidades construídas, apenas uma têm conseguido operar com sucesso. As outras três têm operado ocasionalmente devido a problemas como falta de capacidade gerencial-administrativa, desunião entre membros de uma mesma associação e opiniões divergentes sobre se os produtores devem ou não terceirizar a operação das unidades. Na unidade que está em atividade, a única forma de apresentação dos mexilhões é na forma desconchada resfriada com prazo de validade de uma semana e não existe um esquema de distribuição e marketing do produto. Em muitos locais que não foram contemplados com unidades de beneficiamento os produtores ainda desconcham mexilhões em seus ranchos de pesca e vendem seu produto localmente. Na verdade, da forma que tem sido praticada atualmente, a mitilicultura tem tido mais reflexos positivos a nivel social do que na geração de divisas para reduçãodo déficit externo. O ingresso da indústria pesqueira não só na mitilicultura mas na aquicultura como um todo é inevitável até mesmo pelas limitações que a pesca extrativista tem mostrado em frente à crescente população mundial e sua demanda por pescado. O que acontece é que na maioria das vezes o setor não está a par desta oportunidade e nem do que ela representa em outros países. Trata-se apenas de uma questão de tempo para que a indústria desperte e começe a estudar com mais interesse as vantagens naturais do nosso mexilhão e os lucros que isto poderia significar, uma vez que o mexilhão brasileiro foi apontado em 1998 pela FAO como uma das espécies mais promissoras dentre as demais emergentes da aquicultura mundial. O importante é que esta nova fase da mitilicultura brasileira seja muito bem planejada e articulada entre os atuais atores e os que ingressarão, para que os resultados sociais alcançados nos últimos dez anos não sejam postos por água abaixo. Com certeza haverá sempre relutância de alguns, até porque isto faz parte da natureza humana, mas na aquicultura, mais do que em qualquer outro agribussiness, a máxima que diz que o que aprendemos ontem irá provavelmente mudar amanhã, tem muito de verdade, até mesmo devido ao seu surgimento relativamente recente como atividade industrial. Isto significa que devemos aceitar as mudanças ao invés de brigar contra elas uma vez que elas são parte da indústria. São muitos os casos na história humana em que a exploração de formas novas de incremento da produção foi recebida com uma oposição generalizada. Para aumentarmos nossa eficiência teremos que inevitavelmente mecanizar a produção e isto pode custar alguns empregos, entretanto um número dez vezes maior de empregos serão gerados em outras etapas. No que tange a eficiência a regra aqui é examinarmos qual equipamento irá nos dar o melhor aproveitamento de nossa área utilizável para cultivo. Se utilizarmos mão- de-obra em todas as etapas ao invés de mecaniza-las, nossos concorrentes internacionais nos quebrariam antes mesmo de começarmos. O negócio da mitilicultura é simplesmente isto, um negócio. E como em qualquer outro negócio o propósito aqui é lucrar. O pequeno produtor também poderá aumentar seus lucros se passar a ser um integrado e se concentrar apenas em dar manutenção nos espinhéis durante a engorda e assim poderá cultivar duas ou três vezes o que produz atualmente. Quando o mexilhão estiver no tamanho de colheita, a indústria ou uma empresa especializada em plantio e colheita (esta terceirização é um nicho que floresce na Nova zelândia) é chamada e em uma tarde colhe toda a produção e já a semeia para um novo ciclo. Com o aumento do número de espinhéis instalados, os trabalhadores que antes estavam na semeadura e colheita poderiam ser realocados para dar manutenção nas estruturas. Um ponto importante que precisa ser inteiramente compreendido é que esta mudança para a mecanização significa abandonar todos os métodos e equipamentos antes utilizados e recomeçar frescos, sem vícios adquiridos com os métodos rudimentares. É preciso estarmos alertas para o fato de que uma adaptação parcial para os métodos da indústria de mexilhões da Nova Zelândia pode muito bem resultar em fracasso a menos que estejamos prontos para uma mudança completa no equipamento utilizado bem como na tecnologia. Uma integração parcial já mostrou não funcionar com os métodos de cultivo nos EUA. A utilização do sistema contínuo só é boa se tivermos TODO o equipamento adequado para instala-lo e opera-lo. Apesar disto, algumas empresas estrangeiras fornecem estes equipamentos em módulos de forma que os criadores podem optar entre dar um passo de cada vez neste processo de adaptação tecnológica ou mudar de uma só vez (Figura ). Figura – Equipamento pra cultivo contínuo apresentado em módulos. Desgranadora Aguin Semeadora Aguin Rampa de acesso com desgranadora e semeadora acopladas É importante que identifiquemos indústrias brasileiras que se interessem em investir neste novo ramo de negócios e que passem a produzir insumos (barcos, máquinas, cabos especiais, etc) muitas delas já dispõe do maquinário necessário e portanto os investimentos para eventuais adaptações visando um produto específico não seriam muito elevados. O que ocorre é que a industria pesqueira e de equipamentos têm que entrar na atividade juntas, de forma que nem o ovo e nem a galinha nascam primeiro, mas também é fundamental que estes novos ingressantes estejam cientes de que perder um monte de tempo e esforço pra desenvolver uma tecnologia que já está em uso em outros locais, seria como reinventar a roda. Vale muito observarmos e aprendermos que a virada da indústria neozelandesa não aconteceu do dia pra noite, mas sim tomou um grande comprometimento financeiro do setor privado e compreensão do pessoal da pesquisa e desenvolvimento para focar seus esforços em busca de resultados que fossem focados no agribussiness da mitilicultura. Este comprometimento com um objetivo comum permitiu o aparecimento de uma linha de trabalho logicamente de sucesso e que afinou os dois grupos na mesma sintonia: desenvolver a indústria. Esta sintonia entre todos os que atuam no desenvolvimento da indústria é fundamental para o seu sucesso. Atualmente no Brasil, Santa Catarina é o estado que apresenta as melhores condições, devido ao nível atual de desenvolvimento, para passar por um processo de industrialização da cadeia mitilicultora, em função de: • O número de produtores, o volume de produção e o grau de associativismo permitiriam um esquema de integração e portanto justificariam este salto. • A indústria pesqueira também é bem desenvolvida e muitas delas subaproveitam suas instalações. • Ainda existem boas áreas para as indústrias instalarem seus cultivos e algumas já começaram a implantar projetos em escala experimental. • O setor de pesquisa e desenvolvimento está bem representado pela UFSC, UNIVALI e EPAGRI. • A industria de insumos já começou a produzir ou importar alguns itens como máquinas, bóias, balsas, redes e telas.
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