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ENG03003 - Mecânica dos Sólidos I - terceiro exame Prof. Jun Fonseca dezembro de 2009 Nome: Instruções: responda individualmente e corretamente as questões propostas abaixo, sem con- sulta a material didático, sem auxílio de calculadoras ou computadores, e no prazo de 40 minutos. Após a entrega das duas primeiras questões, responda o restante da prova individualmente, com consulta permitida a material didático. 1. (10%) Responda as seguintes questões: (a) Qual a razão para a natureza tensorial da tensão? (b) Por que utilizar a deformação infinitesimal ao invés da deformação de Green? (c) O que é o princípio da superposição de efeitos? (d) Por que o cisalhamento é nulo nas superfícies inferior e superior de uma viga? 2. (10%) Responda as questões conceituais abaixo relacionadas. (a) Qual a relação entre o deslocamento transversal e longitudinal em uma viga? (b) O que é o centro de cisalhamento? (c) O que é fluxo de cisalhamento? (d) Qual é a hipótese utilizada para a teoria de torção de seções fechadas de paredes finas? 1 3. (30%) Uma viga I feita de chapas de 10mm de espessura, com mesas de 150mm de largura e altura de 300mm, tem comprimento l, módulo de elasticidade E, e está apoiada em ambos os extremos, com uma carga vertical uniformemente distribuída de 10000N/m. Calcule: (a) os deslocamentos transversais e (b) a distribuição de tensões normais e cisalhantes em toda a seção, inclusive na aba. 4. (50%) Uma placa de trânsito de 50kg está suspensa sobre uma rua. Seu suporte é um L invertido, com altura de 7m e balanço horizontal sobre a rua de 5m. O suporte é feito de dois tubos, um vertical e um horizontal, feitos de aço com tensão de escoamento de 250MPa e módulo de elasticidade de 200GPa. Considere como o carregamento o peso da placa, o peso próprio do suporte e uma força aerodinâmica na placa de 1000N. (a) as forças axiais e cortantes e o momento fletor e torçor ao longo da estrutura; (b) considerando a seção transversal circular, as dimensões do tubo horizontal e do vertical para que resistir ao esforço com coeficiente de segurança 4, tomando a espessura da parede como 10% do diâmetro; (c) as máximas tensões de tração, flexão e torção em cada barra, (d) o deslocamento vertical da ponta da estrutura. Respostas 1. a (a) A tensão tem que ser tensorial porque contém dois campos vetoriais simultâneos: a força de superfície e a normal do corte. (b) O tensor infinitesimal de deformações é bem mais simples que o tensor de Green. A maior vantagem é ser linear em relação aos deslocamentos, como pode se notar a partir das definições: ε = 1 2 ( ∇d+(∇d)T ) E= 1 2 ( ∇d+(∇d)T +(∇d)T ∇d ) (c) Em sistemas lineares a resposta a um conjunto de excitações pode ser calculado como a soma dos efeitos de cada excitação. A elasticidade linear também obedece a este princípio, isto é, o efeito (deslocamentos, deformações e tensões) causado por um con- junto de cargas é igual à soma dos efeitos de cada carga. Os critérios de falha não são lineares, e só podem ser calculados após a superposição. (d) O cisalhamento em vigas tem que ser nulo na superfície superior e inferior da viga porque não há forças tangenciais aplicadas nestas faces. 2. (a) os deslocamentos transversal e longitudinal se relacionam através da hipótese cin- emática que as seções originalmente planas permanecem planas e perpendiculares à linha neutra. Para pequenos ângulos pode-se escrever u=−ydv dx onde u é o deslocamento longitudinal e v é o deslocamento transversal. (b) Centro de cisalhamento é a posição onde as cargas transversais podem ser aplicadas em vigas sem causar tensões. Esta posição normalmente coincide com o centróide da seção transversal, a não ser que a seção não seja simétrica em relação à vertical, como no caso de vigas "C" e cantoneira. (c) Fluxo de cisalhamento é a integral da força cisalhante na espessura de uma chapa. É utilizada quando se considera que a tensão cisalhante é constante ao longo da espessura, como nas hipóteses de torção e cisalhamento de seções transversais feitas de chapa. (d) A hipótese para a torção de seções de paredes finas é a de que as tensões cisalhantes são constantes ao longo da espessura, e que o fluxo de cisalhamento é constante ao longo da seção transversal. 3. A seção transversal é uma viga I, cujo momento de inércia é Izz = BH3−bh³ 12 = 150×3003−140∗2803 12 = 8,1393×10−5m4 A viga é bi-apoiada, com reações de apoio de 5000l N. A distribuição de forças aplicadas pode ser escrita como qy= 5000lδ (x)+5000lδ (x− l)−10000 o que leva o esforço cortante a ser Vy=−5000l+10000x (1) e o momento fletor Mz= 5000lx−5000x2 (2) (a) os deslocamentos transversais são calculados integrando o momento 2 dv dx = θz = ∫ Mz EIzz dx= 5000l 2EIzz x2− 5000 3EIzz x3 +C1 e v= ∫ θzdx= 5000l 6EIzz x3− 5000 12EIzz x4 +C1x+C2 onde as condições de contorno determinam as constantes v(x=0) = 0⇒C2 = 0 e v(x=l) = 0⇒ 5000l4 12EIzz +C1l = 0 C1 = −5000l 3 12EIzz de modo que o campo de deslocamentos é dado por v = 5000 12EIzz ( 2lx3− x4− l3x)= 5,12∗106 1 E ( 2lx3− x4− l3x) u = −ydv dx = 5000 12EIzz y ( 6lx2−4x3− l3) (b) separando-se os esforços: i. as tensões normais são dadas por σxx =−MyIzz = ( 5000lx−5000x2)y Izz = 61,43∗106 (lx− x2)y onde a equação 2 ii. as tensões cisalhantes verticais são calculadas através do momento estático Q= { 150(150− y)(150+ y)/2 se y> 140mm 150×10×145+10(140− y)(140+ y)/2 se y< 140mm e daí σxy = VQ Izzb = (−5000l+10000x)(1,689×10−3−0,075y2) 8,1393×10−5×0,15 se y> 140mm (−5000l+10000x)(2,175×10−4+1,96×10−4−0.01y2) 8,1393×10−5×0,01 se y< 140mm onde a equação 1 foi usada. iii. as tensões cisalhantes horizontais (nas mesas/abas) são calculadas por Q = 10∗ (75− z)∗145 σxz = VQ Izzb = (−5000l+10000x)(10∗ (75− z)∗145) 8,1393×10−5×0,01 4. Chamando o engaste de ponto A, a junção de ponto B e a fixação da placa de ponto C, define-se a barra vertical como AB e a horizontal como BC. Define-se o eixo y começando em A e indo até B e o eixo x de B para C. A tensão admissível é de 250/4=62,5MPa (a) Divide-se a estrutura em duas barras i. os esforços na barra BC são A. Força cortante causada pelo peso da placa e peso da viga horizontal Vy= 50×9,8+qBC (5− x) onde qBC = ρgABC = ρg pi(1−0,82)d2BC 4 . B. Momento fletor causado pelo peso da placa e o peso da viga horizontal Mz =−50×9,8(5− x)−qBC (5− x) (5− x)2 =−490(5− x)− qBC 2 (5− x)2 (3) C. Força cortante causada pelo vento Vz = 1000N D. Momento fletor causado pelo vento My = 1000(5− x) ii. os esforços na barra AB são A. Força axial causada pelo peso da barra BC e pelo peso próprio Ny =−50×9,8−5qBC−qAB (7− y) onde qAB = ρgAAB = ρg pi(1−0,82)d2AB 4 . B. Momento fletor dos pesos Mz =−50×9,8×5−5qBC×5/2 (4) C. Momento torçor do vento My= 1000×5 D. Momento fletor do vento Mx=−50×9,8(7− y) E. força cortante do vento Vz= 50×9,8 (b) Dimensiona-se por partes: i. o esforço máximo na barra BC é dado pela dupla flexão em z e y. Um critério possível de dimensionamento é considerar as tensões máximas agindo simultane- amente. O momento de inércia é dado por Izz = Iyy = pi ( 1−0,84)d4BC 64 e as tensão máxima por σxx =+ dBC 2 Mz Izz + dBC 2 My Iyy . Os momentos máximos estão no engaste: Mzmax = 2450+ 5 2 qBC Mymax = 5000 que levam a σadm = ( 2450+2,5ρgpi(1−0,8 2)d2BC 4 ) +5000 pi (1−0,84)d3BC/32 ou seja, a equação cúbica 3,622×106d3BC = 7450+21613d2BC. (5) Esta é a resposta esperada para o exercício. ii. A barra AB pode ser dimensionada por flexo-torção. A torção dá uma tensão de σθy = Myr Jp = 5000dAB/2 pi (1−0,84)d4AB/32 = 41313 d3AB (6)e a flexão combinada máxima ocorre no engaste, que considerando as duas di- reções atuando simultaneamente dá Izz = Ixx = pi ( 1−0,84)d4AB 64 σyy =+ dAB 2 Mz Izz + dAB 2 Mx Ixx . Os momentos no engaste são Mxmax = 50×9,8×7 Mzmax =−50×9,8×5−5qBC×5/2 Substituindo na tensão de flexão, obtém-se σyy = 32(3430+490+2,5qBC) pi (1−0,84)d3AB = 67630+43.131qBC d3AB . (7) Ignorando as tensões de compressão e cisalhamento, utilizam-se a expressão para von Mises considerando a torção (6) e flexão (7): σeq = √ σ2yy+3σ2xy = σadm = 62,5MPa que permite calcular o diâmetro dAB a partir do diâmetro dBC. (c) As tensões máximas são obtidas pelo critério de falha usado no dimensionamento i. barra BC: tensão de flexão é a tensão admissível σxx = 62,5MPa ii. barra AB: utilizam-se as expressões individuais para a torção e flexão: A. torção (eq 6) σθy = 41313 d3AB B. flexão (eq. 7) σyy = 317526 d3AB C. tração (pesos/área), com máximo no engaste σyy = Ny AAB = −50×9,8−5qBC−7qAB pi (1−0,82)d2AB/4 (d) deslocamento vertical da ponta. Pode ser calculado a partir do ângulo da barra vertical e da flexão da barra horizontal i. flexão da barra AB (somente em torno de z): o momento fletor (eq 3) Mz =−50×9,8×5−5qBC×5/2 é constante, e a integral resulta em du dy = θz = Mzx EIzzAB de onde se conclui que θzB = Mzl EIzzAB (8) ii. flexão da barra BC em torno de z: o momento fletor (eq 4) Mz =−490(5− x)− qBC2 (5− x) 2 , o que leva a dv dx = θz = ∫ Mz EIzzBC dx θz = 1 EIzzBC ( −2450x+ 490 2 x2− qBC 6 (5− x)3 +C3 ) onde a constante se resolve através da condição θz (x= 0) = θzB. Isto leva a C3 = EIzzBCθzB+ 53qBC 6 . A segunda integração leva a v= 1 EIzzBC ( −2450 2 x2 + 490 6 x3− qBC 24 (5− x)4 + 5 3qBC 6 x ) +θzBx+C4 onde C4 pode ser determinado com o deslocamento vertical do ponto B consider- ado nulo (ignora-se o deslocamento de compressão da barra AB). v(x= 0) = 0 − qBC 24EIzzBC 54 +C4 = 0 C4 = qBC 24EIzzBC 54 Desta forma, o deslocamento vertical do ponto C (x= 5)é dado por v = 1 EIzzBC ( −2450 2 52 + 490 6 53 + 53qBC 6 5+ qBC 24 54 ) +θzB5. (9) = 1 IzzBC ( −0,1021×10−6 +3,125×10−9qBC ) +5θzB Valores numéricos Na questão 4, opcionalmente, os resultados numéricos podem ser calculados. Para a determinação do diâmetro da barra BC a equação 5 pode ser resolvida pelo método iterativo linear rapidamente: d(i)bc = 3 √ 7450 3,622×106 + 21613 3,622×106 ( d(i−1)BC )2 onde partindo do chute inicial d(0)BC = 0,1, converge-se para o valor correto de dBC = 0.129m em 3 iterações. Um chute pouco razoável de 1m ainda assim converge em 4 iterações. Desta maneira, podemos calcular a área ABC = 4,73×10−3m2, momento de inércia IzzBC = 1,314×10−5 e o peso distribuído qBC = ρgABC = 360,7N/m. Para a barra AB, substituindo o diâmetro calculado da barra AB da Mxmax = 3430Nm e Mzmax = 6959Nm. Substituindo na tensão de flexão, obtém-se σyy = 67630+43.131qBC d3AB = 179234 d3AB Dimensiona-se o diâmetro utilizando-se a expressão para von Mises considerando a torção e flexão: σeq = √ σ2yy+3σ2xy = 194180 d3AB = σadm = 62,5MPa que leva a resposta dAB = 0.146m . As demais grandezas da barra AB se determinam como AAB = 6,02× 10−3m2, IzzAB = 13,14× 10−6m4 e qBC = 360,7N/m. No item c), as tensões ficam • torção (eq 6) σθy = 41313 d3AB (= 13,9MPa) • flexão (eq. 7) σyy = 317526 d3AB (57,7MPa) • tração (pesos/área), com máximo no engaste σyy = Ny AAB = −50×9,8−5qBC−7qAB pi (1−0,82)d2AB/4 = 0,92MPa Para os deslocamentos, item d), inicia-se com o ângulo da barra AB em B devido a flexão em torno de z (8) θzB = Mzl EIzz = (−490−2,5qBC)7 200×109IzzAB = 0.0185rad e depois se completa com o deslocamento vertical (9) vB = 1 IzzBC ( −0,1021×10−6 +3,125×10−9qBC ) +5θzB = 0,22m
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