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RESUMO DIREITO CANONICO

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DIREITO CANÔNICO
1. INTRODUÇÃO
O direito canônico é o direito da comunidade religiosa dos cristãos, mais especialmente o direito da Igreja católica. É chamado de canônico por causa da palavra ‘cânon’ que, em grego, significa regra, empregado nos primeiros séculos da Igreja para designar as decisões dos concílios.
2. IMPORTÂNCIA DO DIREITO CANÔNICO NA IDADE MÉDIA
2.1. O direito canônico foi, durante a maior parte da Idade Média, o único direito escrito. E o fato de ser escrito dava a esse direito o primeiro lugar em muitos lugares da Europa, visto que a oralidade imperava em um período de analfabetos. Apesar da vantagem de ser escrito, esse direito foi também estudado, comentado.
2.2. O caráter ecumênico da Igreja: desde os seus primórdios, o cristianismo coloca-se como a única religião verdadeira para a universalidade dos homens; a Igreja pretende impor sua concepção ao mundo inteiro.
2.3. O domínio do direito privado foi regido exclusivamente pelo Direito Canônico, durante vários séculos, mesmo para os laicos. Os tribunais eclesiásticos eram o local de solução de casamentos e divórcios, por exemplo.
O Direito Canônico existe até hoje. A Igreja Católica de tempos em tempos faz um novo Código de Direito Canônico, adaptando-o às novas necessidades que surgem, entretanto, hoje, a influência desse direito no direito laico é mínima, visto que, com Estados montados e centralizados, o Direito Canônico é utilizado somente em questões eclesiásticas (relativas à igreja). Não somente existe hoje um Código de Direito Canônico como também várias leis em matéria de direito privado são inspiradas neste direito.
3. FONTES DO DIREITO CANÔNICO
3.1 As fontes do Direito Canônico são o ius divinum – conjunto de regras que podem ser extraídas da Bíblia, dos escritos dos doutores da Igreja e da doutrina patrística. 
3.2. A própria legislação canônica – formada pelas decisões dos Concílios e dos escritos dos papas (chamados decretais).
3.3. Os costumes recebidos e os princípios recebidos do Direito Romano. 
Os costumes para serem utilizados como fonte do direito canônico tinham que obedecer a determinadas regras: ser seguido a pelo menos 30 anos, não ofender a razão, ser conforme o direito divino, aos decretos e ao ensino autorizado (GILINSSEN, op. cit., p.145).
4. JURISDIÇÃO ECLESIÁSTICA 
4.1. ORIGEM DA COMPETÊNCIA DOS TRIBUNAIS ECLESIÁSTICOS
a) Em 313, o Imperador Constantino permitiu às partes submeterem-se, voluntariamente, à jurisdição do bispo de sua região, dando então à decisão episcopal o mesmo valor de uma decisão de um julgamento laico.
b) Durante o século V, foi dado aos clérigos (padres, bispos, etc.) o privilégio de foro, que indicava que estes somente poderiam ser julgados, qualquer matéria que fosse, pelos tribunais da Igreja.
c) No período Carolíngio, em virtude de uma crescente confusão entre o temporal e o espiritual, a Igreja acabou sendo a única a julgar quaisquer assuntos relativos aos sacramentos, incluído aí as questões relativas ao casamento, a legitimidade dos filhos, divórcio, rapto, nulidade de casamentos etc.
4.2. COMPETÊNCIA DO APOGEU
a) Conforme o poder laico enfraquecia pelo declínio do poder real por causa do feudalismo, a jurisdição eclesiástica aumentava seu poder jurisdicional, mesmo relativamente a leigos. Assim, os tribunais eclesiásticos passaram a ter jurisdição sobre questões envolvendo:
- os eclesiásticos, tantos o clérigos regulares como os clérigos seculares (priviliegium fori) – este privilégio é absoluto;
- os cruzados (aqueles que tomaram a cruz, que partem em cruzada: priviliegium crucis = privilégio da cruz);
- os membros das universidades (professores e estudantes), uma vez que todas as universidades eram (até o século XVI) instituições eclesiásticas;
- viúvas e órfãos quando pediam a proteção da Igreja (chamadas de miserabiles personas);
b) As outras pessoas poderiam ser julgadas pelos tribunais eclesiásticos em casos de:
- infrações contra a religião (heresia, apostasia, simonias, sacrilégio, feitiçaria etc.)
- em caso de algumas infrações que atentassem contra as regras canônicas (adultério, usura, testamento, juramentos não cumpridos e matéria acerca de família)
c) Quanto ao processo eclesiástico:
- No cível, o processo era essencialmente escrito. O queixoso devia entregar o seu pedido por escrito (libellus) a um oficial que convocava o réu. Em presença das duas partes, o oficial lia o libellus; o réu podia opor exceções; depois do exame destas, o contrato judiciário ficava fixado pela littis contestatio (termo utilizado para designar o compromisso das partes em aceitar a vontade do pretor). As partes submetiam seguidamente as provas (confissão, testemunhos, documentos) das suas asserções ao juiz; na falta de prova suficiente, o juiz podia ordenar um juramento litisdecisório (exigido suplementarmente para corroborar a prova).
- No domínio penal, o processo permaneceu durante muito tempo dependente de queixa (isto é, acusatório) que se desenrolava mais ou menos como o processo cível. Até os séculos XII e XIII, era baseado um tipo de prova chamado “irracional”, visto que não pode ser explicado pela razão. Nesse sistema de provas irracionais, recorre-se a uma divindade. Para obter justiça, na Idade Média, recorria-se aos ordálios (que poderiam ser unilaterais ou bilaterais, dependendo se uma parte ou duas partes do processo tomavam parte da consulta). Os ordálios bilaterais podiam ser provas de batalhas com campeões – na base da luta de espada ou de outra forma – ou ainda se colocava os indivíduos em contenda de pé e de braços abertos e o que primeiro não aguentasse mais a posição perdia a questão; era chamado de iudicium crucis ou julgamento da cruz. No fim da Idade Média apareceu o processo oficioso, por inquirição (inquisitio) ordenada pelo juiz desde que tivesse conhecimento de uma infração (procedimento inquisitorial). Este processo foi largamente aplicado pelo Santo Ofício na luta contra heresias; levou à permissão de ordenar tortura (quaestio), instituição recebida do direito romano e aplicada aos heréticos por uma bula de Inocêncio IV de 1252.

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