Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL CIV0418 - RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS II Apostila de Resistência dos Materiais II Profa. Dra. Fernanda Rodrigues Mittelbach 4. CAPÍTULO CINCO – FLEXÃO COMPOSTA COM SOLICITAÇÃO AXIAL 4.1. Introdução Até agora o estudo da flexão se resumiu ao caso de barras que possuíam apenas carregamentos transversais. Nestas condições, a linha neutra sempre passava pelo centróide da seção transversal reta. Será tratado, neste capítulo, o caso de flexão composta, o qual ocorre se além do carregamento transversal atuar um carregamento axial na barra. Um aspecto de especial importância é o estudo do fenômeno da flambagem. Estando o elemento estrutural submetido a uma carga axial de compressão, dependendo de suas características geométricas, pode haver um colapso mesmo que as tensões existentes estejam dentro dos limites de resistência do material. 4.2. Teoria geral da flexão composta Conseidere das componentes de momento My, Mz e do esforço normal N em uma dada seção da barra. Estando o estudo no âmbito da elasticidade linear, a componente de deformação x total pode ser obtida através da soma das componentes de deformação devidas a My e Mz: zkykC yyx (sendo C a parcela de deformação associada ao esforço normal, constante na seção analisada). 1. CAPÍTULO 4: FLEXÃO COMPOSTA 2 A tensão normal se escreve, então: zEkyEkECE zyxx A definição de momentos fletores e do esforço normal, de acordo com a convenção de sinais adotada, é dada por: CEAzdAEkydAEkdAECdAN A z A y AA x (lembrando que, sendo y e z eixos centrais, o momento estático resulta nulo em torno desses eixos). yzyzy A z A y AA xy IEkIEkdAzEkyzdAEkzdACzdAM 2 yzzzy A z A y AA xz IEkIEkyzdAEkdAyEkydACydAM 2 O sistema de equações resultante em ky, kz e C. CEAN yzyzyy IEkIEkM yzzzyz IEkIEkM , fornece: EA N C 2 2 yzzy yzzzy z yzzy yzyyz y III IMIM Ek III IMIM Ek A tensão normal resulta em: z III IMIM y III IMIM A N yzzy yzzzy yzzy yzyyz x 22 Esta equação generalizada de tensões normais devido à flexão e ao carregamento axial pode ser usada quando se conhecem os momentos My e Mz associados a dois eixos centrais perpendiculares quaisquer. É importante saber que esta equação foi deduzida em 1. CAPÍTULO 4: FLEXÃO COMPOSTA 3 correspondência às orientações dos eixos y e z, assim como dos momentos My e Mz, indicadas na figura anterior. Se os eixos em questão forem eixos principais de inércia I1 e I2, I12 = 0 e a equação se reduz a: 1 2 2 2 1 1 1 21 12 2 21 21 x I M x I M A N x II IM x II IM A N x . A seguir apresentam-se alguns dos casos mais comuns de flexão composta. 4.2.1. Flexão Composta pela atuação de carga transversal inclinada passando pelo centróide A figura a seguir ilustra o caso de uma barra submetida a uma carga P inclinada. A carga pode ser decomposta nas componentes Px, Py e Pz. Px y x P Py Pyz Pz z y z zy A h x xPM xPM PN zy yz x Sendo os eixos y e z principais a tensão normal se escreve: z I xP y I xP A P z I M y I M A N y z z yx y y z z x E a equação da linha neutra é dada por: 0 z I xP y I xP A P y z z yx 1. CAPÍTULO 4: FLEXÃO COMPOSTA 4 Note-se que a equação da linha neutra 0x é diferente para cada seção da barra. As expressões foram obtidas para o caso da carga esquematizada e suas componentes, sendo necessário analisar cada caso em particular para determinar o sinal dos esforços solicitantes associados. A tensão normal resultante é obtida pela superposição da parcela referente à carga axial e à flexão. Desta forma, tem-se que as possíveis distribuições de tensões normais na seção transversal. =+ ou ou =+ ou ou Parcela devido à força normal Parcela devido à flexão Possíveis distribuições das tensões normais finais na seção Distribuição das tensões normais, sendo o eixo horizontal da figura paralelo à linha neutra da seção transversal. As tensões de tração e compressão máximas são obtidas de forma análoga à da flexão assimétrica, lembrando somente que a tensão no centróide não será mais nula, mas terá o valor de A N . 4.2.2. Carga axial excêntrica Neste caso a carga aplicada é axial, mas não passa pelo centróide da seção transversal. 1. CAPÍTULO 4: FLEXÃO COMPOSTA 5 y x z z yA P P My Mz y ez zy yz ePM ePM PN Sendo os eixos y e z principais a tensão normal se escreve: z I eP y I eP A P z I M y I M A N y z z y y y z z x E a equação da linha neutra é dada por: 0 z I eP y I eP A P y z z y Para o caso de carga excêntrica isolada, a equação da linha neutra 0x é igual em todas as seções da barra. Novamente as fórmulas foram deduzidas para o caso de carga axial de tração com excentricidades positivas, sendo necessária a análise de cada caso particular. As observações do item anterior sobre a superposição dos efeitos de carga axial e flexão assimétrica e sobre a determinação das componentes de tração e compressão máximas são igualmente válidas. 4.2.3. Viga de Concreto Protendido O concreto é um material frágil e com a resistência à tração de aproximadamente um décimo de sua resistência à compressão. 1. CAPÍTULO 4: FLEXÃO COMPOSTA 6 O concreto protendido é utilizado quando se torna necessário vencer grandes vãos, pois nesse caso ocorrem momentos fletores altos, gerando uma tensão de tração também alta no concreto. São colocadas cordoalhas (vários fios de aço juntos, entrelaçados e formando uma hélice) na peça. As cordoalhas atravessam a peça e são tracionadas e presas na suas extremidades, gerando uma compressão na peça de concreto. Podem ou não ser utilizadas as chamadas bainhas, que são como dutos pelos quais as cordoalhas são inseridas. As estruturas em concreto protendido apresentam também a armadura tradicional do concreto armado (designado por aço doce, enquanto o aço das cordoalhas e também conhecido como aço duro). Por hora, como um exemplo de carga axial excêntrica, tomemos o caso mais simples em que o cabo não apresenta curvatura e a excentricidade é constante em todas as seções da viga. e P P posição do centróide y x 0 y z M ePM PN Sendo os eixos y e z principais a tensão normal se escreve: T 1. CAPÍTULO 4: FLEXÃO COMPOSTA 7 y I eP A P z I M y I M A N zy y z z x E a equação da linha neutra é dada por: 0 y I eP A P z x Note-se que está é somente a parcela proveniente da protensão. A análise de um elemento protendido deve ser realizada na fase de construção (protensão + peso próprio) e na fase de serviço (protensão + peso próprio + carregamentos provenientes da utilização da estrutura). Exemplode viga protendida: Considere uma viga protendida bi apoiada com 7m de vão, com uma carga de protensão P = 600 kN e excentricidade e = 0,325 m. A seção transversal é retangular com base b = 20 cm e altura h = 75 cm. Sabendo que o peso específico do concreto é 325 m/kNconc e que a parcela de utilização é uma carga uniformemente distribuída m/kNpa 35 , determinar as tensões máximas no meio do vão, esboçando a distribuição da componente de tensão normal nesta mesma seção. y x y z posição do centróide e P = 600 kN e = 0,325 m b = 20 cm h = 75 cm. 325 m/kNconc m/kNpa 35 Primeiramente, calculamos as características geométricas da seção transversal reta: 4 3 2 703125 12 7520 15007520 cmI cmA z 1. CAPÍTULO 4: FLEXÃO COMPOSTA 8 O peso próprio da viga é dado por: m/kN,,App conc 753105125 1 - Fase de construção: kNm, ,lpp M ppmáx 9722 8 7753 8 22 kNm,ePM protensão 1953250600 A componente de tensão normal resulta: y,y,, yyy I M y I eP A P y I M A N z máx zz z x pp 0032700277040 703125 2297 703125 19500 1500 600 Tensão máxima de tração: cm,y 537 2 75 25175012250041405370032705370277040 cm/kN,,,,,,,,, máxT Tensão máxima de compressão : cmy 5,37 2 75 23175112250041405370032705370277040 cm/kN,,,,,,,,, máxC Graficamente, tem-se: =+ ou ou =+ Protensão Peso próprio Total (kN/cm²) -0,12250,64 0,5175 -1,31750,1225-1,44 - Fase de utilização: kNm lpapp M pappmáx 34,237 8 73575,3 8 22 kNm,ePM protensão 1953250600 1. CAPÍTULO 4: FLEXÃO COMPOSTA 9 A componente de tensão normal resulta: yy yyy I M y I eP A P y I M A N z máx zz z x papp 033755,00277,04,0 703125 23734 703125 19500 1500 600 Tensão máxima de compressão: cm,y 537 2 75 2/626,02658,104,14,05,37033755,05,370277,04,0 cmkN máxC Tensão mínima de compressão (não há tração na seção): cmy 5,37 2 75 2/174,02658,104,14,05,37033755,05,370277,04,0 cmkN mínC Graficamente, tem-se: Protensão Peso Próprio + utilização 1,266 Total (kN/cm²) -1,44 0,64 -1,266 -0,626 -0,174 Notar que as tensões máximas de tração e compressão total ocorrem na fase de construção, enfatizando a importância da verificação de tal fase. De uma forma geral o traçado dos cabos ao longo da direção longitudinal da viga (cablagem) não é uma reta horizontal. O traçado dos cabos tende a acompanhar o diagrama de momentos do elemento estrutural (o cabo passa onde existe a tração pela flexão). 4.2.4. Núcleo Cnetral de Inércia Se numa dada seção ocorrem somente tensões de tração ou somente tensões de compressão, isso implica no caso em que a linha netra não corta a seção. Há uma região, próxima ao centróide da seção, na qual ao se aplicar uma carga axial garante-se que a seção estará submetida ou só a tração (carga axial de tração) ou só a compressão (carga axial de compressão). Essa região é denominada núcleo central de inércia. 1. CAPÍTULO 4: FLEXÃO COMPOSTA 10 O conceito de núcleo central de inércia é importante devido ao caso em que o material resista de forma muito desigual à tração e à compressão (como o concreto, por exemplo). Para a detreminação deste núcleo central, tomamos a situação limite, na qual a linha neutra tangencia a extremidade da peça. Exemplo 1 – Seção Circular: A seção circular é chamada uma seção axisimétrica (tem simetria em relação a qualquer eixo diametral). Desta forma, uma seção circular estaré sempre submetida a uma flexão composta reta (todos os eixos centroidais são eixos principais de inércia). Suponha uma carga P de tração aplicada com uma excentricidade e em relação ao centróide. O ponto mais desfavorável (maior tendência a ocorrer compressão) é o mais afastado diametralmente do ponto de aplicação da carga. CG LN 1 e Tendo a tensão nula na extremidade da seção: 0 0 R I eP A P Rr x Sendo 4 0 4 4 42 2 4 R eR R eP R P RAe R I Exemplo 2 – Seção Retangular Para a seção retangular, começamos a análise determinando os pontos mais desfavoráveis em cada um dos quatro casos a seguir: - Primeiro caso - 0 ye e 0 ze Tendo a tensão nula na extremidade da seção: 0 2 0 2 h I eP A P h y z y x 1. CAPÍTULO 4: FLEXÃO COMPOSTA 11 lugar geométrico dos pontos mais desfavoráveis y zey b h 6 0 2 12 12 3 3 h e h bh eP bh P bhAe bh I y y - Segundo caso - 0 ze e 0 ye lugar geométrico dos pontos mais desfavoráveis y zez b h Tendo a tensão nula na extremidade da seção: 0 2 0 2 b I eP A P b z z z x 6 0 2 12 12 3 3 b e b hb eP bh P bhAe hb I z z - Terceiro caso - 0 ye e 0 ze Tendo a tensão nula na extremidade da seção: 0 2 0 2 h I eP A P h y z y x 1. CAPÍTULO 4: FLEXÃO COMPOSTA 12 lugar geométrico dos pontos mais desfavoráveis y z ey b h 6 0 2 12 12 3 3 h e h bh eP bh P bhAe bh I y y - Quarto caso - 0 ze e 0 ye lugar geométrico dos pontos mais desfavoráveis y zez b h Tendo a tensão nula na extremidade da seção: 0 2 0 2 b I eP A P b z z z x 6 0 2 12 12 3 3 b e b hb eP bh P bhAe hb I z z Agora devemos superpor os casos dois a dois para encontrar uma lei de variação que atenda aos casos intermediários, em que se tem 0 ye e 0 ze . m b h h/6 b/6 q p z y Equação da linha neutra para pontos que sejam extremos para 0 ye e 0 ze : zy z y y z hebebh h I ePb I eP A P 660 22 A reta é a representada em linha vermelha. Para as demais combinações chegam-se às outras 3 retas que delimitam o losango da figura. 1. CAPÍTULO 4: FLEXÃO COMPOSTA 13 4.3. Cargas críticas em pilares 4.3.1. Introdução Pilares são elementos estruturais unidimensionais nos quais a solicitação preponderante é um esforço normal de compressão. Tais elementos são responsáveis por transmitir as ações do sistema estrutural para as fundações. O estudo tanto da resistência como também da chamada estabilidade desses elementos estruturais é de suma inportância na engenharia, uma vez que a redistribuição de cargas ocorrida em sistemas de lajes e vigas quado tais elementos apresentam problemas estruturais não é passível de ocorrer no caso de pilares. Se um pilar apresenta um problema todo o sistema estrutural acaba comprometido. Dependendo das dimensões do elemento estrutural e da intesidadedos carregamentos aplicados, pode ocorrer o denominado fenômeno da flambagem. O que, em outras palavras significa que dependendo desses parâmetros o comportamento não linear geométrico do elemento estrutural se torna relevante e deve ser analisado. Até o momento estudou-se apenas o caso linear físico e geométrico. A linearidade física se revela em uma relação linear entre as tensões e deformações do corpo. A linearidade geométrica está intimamente ligada às relações entre deformações e deslocamentos (geometria deformada da estrutura). Sendo o comportamento da estrutura não linear geometricamente, as equações de equilíbrio devem ser formuladas na configuração deformada. 4.3.2. Classificação dos Pilares Quanto a sua “esbeltez”: pilares curtos ou robustos - pilares que apresentam pequeno conprimento quando comparado às dimensões de sua seção transversal. Nesses elementos o comportamento não linear geométrico não é relevante; pilares esbeltos - pilares que apresentam grande comprimento em relação às dimensões de sua seção transversal. Nesses elementos o comportamento não linear geométrico é relevante. Quanto às condições de vinculação 1. CAPÍTULO 4: FLEXÃO COMPOSTA 14 pilares bi-rotulados; pilares engastados numa extremidade e livres na outra; pilares engastados numa extremidade e rotulados na outra; pilares bi-engastados. Bi-rotulado Engastado e livre Engastado e rotulado Bi-engastado Quando à natureza da solicitação: pilares solicitados à compressão simples - são, em casos práticos, os pilares internos de uma edificação. Existe continuidade nas vigas que neles se apoiam em ambos os sentidos e considera-se o efeito da flexão como despresível; pilares solicitados à flexão composta reta - são os pilares de extremidade de uma edificação. Existe continuidade nas vigas que neles se apoiam somente em uma das direções, sendo considerado uma flexão na direção onde não existe a continuidade; pilares solicitados à flexão composta assimétrica - são os pilares de canto, nos quais não existe continuidade das vigas que neles se apoiam em nenhuma das direções. Pilar interno Pilar de extremidade Pilar de canto 1. CAPÍTULO 4: FLEXÃO COMPOSTA 15 V1 V2 V3 V 4 V 5 V 6 P1 P2 P3 P4 P8 P5 P7 P9 P6 P10 Na realidade, como será tratado mais adiante no estudo de estruturas de concreto armado, sempre deve-se considerar um momento mínimo em pelo menos uma das direções, pois não existe carga perfeitamente centrada na prática. 4.3.3. Equilíbrio de um sistema O equilíbrio de um sistema pode ser estável, instável ou indiferente, dependendo de seu comportamento quando se impõe uma pequena mudança em sua configuração. U equilíbrio estável - o sistema volta à posição inicial de equilíbrio após a perturbação - ponto de mínimo da energia potencial do sistema. 0 d dU e 0 2 2 d Ud U equilíbrio estável - o sistema se afasta da posição inicial de equilíbrio após a perturbação - ponto de máximo da energia potencial do sistema. 0 d dU e 0 2 2 d Ud 1. CAPÍTULO 4: FLEXÃO COMPOSTA 16 U equilíbrio indiferente - o sistema continua em equilíbrio na posição perturbada – trecho no qual a energia potencial do sistema é constante. 0 d dU e 0 2 2 d Ud 4.3.4. Estabilidade de sistemas rígidos Considere uma haste rígida rotulada em uma extremidade, presa a uma mola na outra e submetida a uma carga axial de compressão. Perturbando-se o sistema, através da imposição de um deslocamento inicial na mola, a carga P tende a desestabilizar o sistema e a força restauradora da mola kR tende a estabilizar o sistema, trazendo-o de volta à configuração inicial de equilíbrio. k l P EA EI Mest – momento gerado força da mola; Minst – momento gerado por P; Mest > Minst – estabilidade; Mest<Minst – instabilidade; Mes t= Minst – situação limite. k l P EA EI Considerando os momentos gerados por P e R em relação ao apoio. Se o momento gerado por P for maior do que o gerado por R o sistema resultará instável; se o momento gerado por R for maior do que o gerado por P o sistema resultará estável. Na situação limite (igualdade entre os momentos), define-se a carga crítica Pcrit, valor máximo de P para garantir a estabilidade do sistema. 1. CAPÍTULO 4: FLEXÃO COMPOSTA 17 lsen senklklRlMest coscoscos 2 PlsenPM inst senkllsenPcrit cos2 cosklPcrit , sendo 1 : klPcrit 4.3.5. Estabilidade de sistemas elásticos – coluna ideal de Euler Considere a análise de uma coluna, tendo-se as seguintes hipóteses básicas: • a carga axial P é aplicada no extremo da coluna sem excentricidade; • a coluna está completamente reta antes da aplicação da carga; • a coluna é bi rotulada; • o material da coluna é homogêneo e isotrópico; • o peso próprio da coluna é desprezado; • a coluna é prismática; • a coluna é livre para fletir em torno de qualquer eixo de sua seção transversal. Considere a coluna ideal representada a seguir. Ao aplicar uma pequena perturbação transversal à coluna a carga P agirá desestabilizando o sistema e a rigidez à flexão (resistência à flexão da coluna) atuará de forma a restaurar a posição indeformada. Para perceber o fenômeno é necessário considerar o equilíbrio da coluna em sua posição deformada, o que caracteriza uma análise não linear geométrica. A não linearidade aqui considerada é uma não linearidade fraca, chamada por vezes de não linearidade no âmbito das rotações moderadas. Nesta teoria as rotações, deslocamentos e deformações são muito pequenos, porém as rotações são de ordem de grandeza maior do que os deslocamentos. A utilização de uma análise não linear fraca resulta em uma fórmula para a curvatura idêntica à da teoria linear 2 2 int dx yd EIM z , o que torna a equação diferencial linear. É importante ressaltar que somente utilizando uma análise não linear é possível perceber o fenômeno de instabilidade (flambagem). 1. CAPÍTULO 4: FLEXÃO COMPOSTA 18 Na situação limite o momento interno Mint é igual ao momento gerado pela carga P e dado por xyPcrit , sendo y(x) a deflexão da coluna. y P y(x) x P P y(x) P M = Py(x) l 2 2 dx yd EIM zint xPyM P 2 2 dx yd EIxyP zcrit 0 2 2 xyP dx yd EI critz O equilíbrio resulta em uma equação diferencial homogênea de segunda ordem. Definindo z crit EI P k 2 , tem-se: 02 2 2 xyk dx yd kxBsenkxcosAxy Aplicando as condições de contorno geométricas, tem-se: 000 Ay Zn ,nklklsenly 00 , para que a solução não seja a trivial. Esta condição fornece l n EI P z crit 22 . O valor de n está associado ao modo de deformação da coluna, conforme figura a seguir. n = 1 n = 2 n = 3 1. CAPÍTULO 4: FLEXÃO COMPOSTA 19 A menos que existam apoios na posição correspondentes aos nós, a estrutura irá sempre fletir no primeiro modo e assim 2 2 l EI P zcrit (fórmula de Euler). A expressão da deflexão resultaem x EI P Bsenxy z crit . A indeterminação do valor da amplitude é conseqüência da utilização de uma teoria não linear fraca. P critP - deflexão máxima da coluna 4.3.6. Fómula de Euler para diferentes condições de contorno A mesma dedução anterior poderia ser realizada para colunas com diferentes condições de contorno geométricas. Esta análise resultou na determinação de comprimentos efetivos (em relação ao comprimento da coluna), de modo que a fórmula de Euler não se alteraria, bastando substituir o comprimento l pelo comprimento efetivo de flambagem lef. Analisando a geometria deformada da coluna, conclui-se que o comprimento efetivo é a distâncoa entre dois pontos de inflexão na linha elástica. 1. CAPÍTULO 4: FLEXÃO COMPOSTA 20 P lef = l P lef = 0,5 l P lef = 2 l P lef = 0,7 l A fórmula de Euler é então reescrita como 2 2 ef z crit l EI P . Defini-se a tensão crítica como Al EI A P zcrit crit 2 2 , sendo A a área da seção transversal reta da coluna. O denominado raio de giração em relação ao eixo z é dado por A I r zz . Assim pode-se escrever que 2 2 z ef crit r l E . A grandeza z ef r l é o índice de esbeltez em relação ao eixo z. Quanto maior o índice de esbeltez, maior a influência da não linearidade goemétrica no elemento estrutural. Finalmente, a tensão crítica se escreve: 2 2 E crit . 4.3.7. Coluna real A determinação de critP do item anterior baseia-se no caso de uma coluna ideal. Numa coluna real a carga nunca será perfeitamente excêntica ou a coluna perfeitamente reta. 1. CAPÍTULO 4: FLEXÃO COMPOSTA 21 No caso de uma coluna real a definição de carga crítica se modifica, pois este caso não trata mais da análise do equilíbrio estável ou instável. No presente caso o valor de critP é defunido como o valor de P para o qual a flecha máxima da coluna tenda a um valor infinito . como será visto a seguir, numericamente, o valor de critP continua exatamente o mesmo da coluna ideal. Coluna com carga excêntrica: Considere a coluna a seguir, submetida a uma carga axial excêntrica. Analogamente ao que foi desenvolvido no caso da coluna ideal, escreve-se a equação de equilíbrio e obtém-se uma equação diferencial para determinar a flecha. Na situação limite o momento interno Mint é igual ao momento gerado pela carga P e dado por exyPcrit , sendo y(x) a deflexão da coluna e e a excentricidade da carga P. y P y(x) x P e P M = P[y(x)+e] P 2 2 int dx vd EIM z exyPMext 0 2 2 PexPy dx yd EIz zEI P k 2 kxBsenkxcosAxyh exyp ekxBsenkxcosAxy Aplicando as condições de contorno geométricas: eAy 00 klsen klcos eBeklBsenklcosely 1 0 1. CAPÍTULO 4: FLEXÃO COMPOSTA 22 1 1 x EI P sen l EI P sen l EI P cos x EI P cosexy z z z z A flecha máxima ocorre em 2 l x e é dada por: 1 2 sec l EI P e z Para determinar critP , toma-se 222 sec l EI Pl EI P z crit z , e assim, 2 2 l EI P zcrit . O gráfico a seguir ilustra o comportamento da flecha máxima da coluna com carga excêntrica, a medida que P se aproxima de critP . Quanto menor a excentricidade mais o comportamento se aproxima do da coluna ideal. P critP 1 e2 > e1 e = e1 e = e2 e = 0 Viga coluna Trataremos de um exemplo no qual atua um carregamento transversal na coluna (caso designado normalmente por viga coluna). 1. CAPÍTULO 4: FLEXÃO COMPOSTA 23 y P y(x) x A B 2 2 0 2 2 dx yd EIxyPxMxyP qx xRxM zAz zEI P k 2 zz A EI qx EI R xyk dx yd 2 2 2 2 2 xyPxMxMz 0 dx dy PxMxM z 0 z z z EI M Pq dx yd PxMxM 2 2 0 qMkxM zz 2 2k q kxBsenkxcosAxM z Aplicando as condições de contorno mecânicas: 2 00 k q AM z klsen klcos k q BlM z 1 0 2 222 1 k q kxsen klsen klcos k q kxcos k q xM z xMxMxyP z 0 2 1 2 222 qx P xR Pk q kxsen klsen klcos Pk q kxcos Pk q xy A 4222 1 22 2 222 lql P R Pk ql ksen klsen klcos Pk ql kcos Pk ql y A Para determinar critP , toma-se nl EI P klklsen z crit0 , e assim, 2 2 2 22 l EI P l EIn P zcrit z crit . Apesar de estarmos utilizando uma teoria não linear fraca, na qual os deslocamentos e rotações devem ser pequenos, a carga crítica (que é encontrada num 1. CAPÍTULO 4: FLEXÃO COMPOSTA 24 limite para o qual nossas hipóteses deixam de ser válidas) é uma grandeza de grande utilidade e expressa um limite real de carregamento axial que não deve ser ultrapassado. Cabe salientar que a carga crítica independe da excentricidade, amplitude de flecha inicial ou do carregamento aplicado na viga coluna. Vale lembrar que a direção y será a direção na qual ocorrerá a deflexão. Sendo assim Iz será o momento de inércia principal mínimo da área da seção transversal reta (maior facilidade de ocorrer deflexão). 4.3.8. Limite de validade da fórmula de Euler Todas as deduções feitas até aqui levaram em conta a linearidade física do material (validade da Lei de Hooke). Assim é necessário que a tensão seja inferior ao limite de proporcionalidade para que a tensão crítica seja válida. p pcrit EE 2 2 p E lim . Pela equação anterior, nota-se que existe um valor de índice de esbeltez limite, acima do qual a tensão crítica de Euler é válida. O gráfico a seguir ilustra esse comportamento. Se o pilar é robusto, a flexão será desprezível e o dimensionamento será feito através da tensão última do material (resistência do material). Acima do valor limite do índice de esbeltez o efeito da flambagem se torna o fator de dimensionamento preponderante (“estabilidade” da estrutura). curva de Euler limite de resistênciamáx p 0 lim crit A B C (limite de estabilidade) A – peças curtas B – peças intermediárias C – peças esbeltas Outra observação importante é a comparação entre uma análise com forte não linearidade geométrica.1. CAPÍTULO 4: FLEXÃO COMPOSTA 25 P critP A B A – não linearidade geométrica forte B – não linearidade geométrica fraca Para a curva A valores próximos a Pcrit correspondem a uma variação muito grande na flecha para uma pequena variação na carga, situação muito desaconselhável para uma estrutura. Tal fato nos indica a grande importância da determinação do valor de Pcrit. Este valor, determinado através do estudo da coluna ideal, é um excelente parâmetro para o tratamento de estruturas reais quanto à sua estabilidade. 4.3.9. Exemplo de aplicação Calcular o valor máximo de P para a treliça a seguir, para que a segurança à flambagem será garantida. P 1 2 3 0,5m = 20mm = 15mm 0,5m 1,0m 62 200 ,.s.c GPaE Como a seção reta das barras é circular, qualquer direção diametral é uma direção principal de inércia. O momento de inércia de área é dado por 64 4 I . Para cada uma das barras, tem-se: 4 4 31 24850 64 51 cm, , II 4 4 2 78540 64 02 cm, , I Sendo as barras da treliça bi rotuladas, os comprimentos efetivos de flambagem serão os próprios comprimentos das barras, dados por: 1. CAPÍTULO 4: FLEXÃO COMPOSTA 26 m,,,lef 70705050 22 1 m,,,lef 1215001 22 2 m,lef 513 Através do equilíbrio do nó no qual se aplica a carga P, tem-se: P N2N1 y x 7070 7070 1 50 50 9840 4470 2 50 1 ,sen ,cos , , tg ,sen ,cos , tg 21 2121 261 00 N,N senNsenNsenNsenNFx P,NP,N PcosNcosNPcosNcosNFy 94307460 00 12 2121 A barra 3 está submetida à tração e não por isso não a necessidade de verificá-la à flambagem. kN, , , Pcrit 819 770 2485020000 2 2 1 kN, , Pcrit 3612 112 7854020000 2 2 2 kN,PkN,P,,PN.s.c crit 0481994306211 kN,PkN,P,,PN.s.c crit 376361274606222 Assim, para que a segurança de ambas as barras seja atendida kN,P 04 .
Compartilhar