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A correlação do texto literário satírico O homem da cabeça de papelão com tópicos de Introdução ao Estudo do Direito

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A correlação do texto literário satírico O homem da cabeça de papelão, de João do Rio com tópicos da Introdução ao Estudo do Direito.
Elis Mary Avelino de Azevedo�
Da análise crítica e reflexiva do texto�, é possível assentir o que desde os primórdios da humanidade resta constatado e comprovado: a influência e reflexo dos grupos sociais na vida de cada um de seus integrantes, haja vista, o homem constituir-se de um ser eminentemente gregário, que vive o impacto do processo de socialização que herda desde a sua concepção, cujos hábitos e costumes são transmitidos por herança social.
Partindo do pressuposto de que a cultura determina a forma como os membros de uma determinada sociedade enxergam, se relacionam e sobrevivem no mundo, é razoável admitir que os cidadãos solarianos, residentes no país do Sol, tinham normas sociais de conduta, normas ditadas e inadmissíveis de ser descumpridas, cujos desobedientes estariam sujeitos à inclusão no rol dos excluídos, a aplicação de uma sanção social. 
Tais normas eram carregadas de um juízo de valor exacerbado e determinante na vida dos moradores do país do Sol, constituindo-se para eles o Direito Positivo e Natural, pois àquelas normas regiam a vida interna dos mesmos, pela simples razão natural de assim o ser. 
De posse de seu livre arbítrio, o comportamento de Antenor apresentava-se extremamente contraditório às regras do seu grupo social, uma vez que, embasado em seus direitos subjetivos, o mesmo utilizava as regras ao seu favor, em prol da sua índole dotada de integridade e benevolência, sendo capaz de explicar aos delegados de polícia o porquê de sua caridade para com os mendigos, sem, no entanto, jamais mover a ordem jurídica para pleitear danos morais contra àqueles que o acusavam.
As regras que Antenor não seguia, não eram escritas, eram formadas pela repetição reiterada dos comportamentos e, consequentemente, pela convicção geral de que tais ações e reações comportamentais eram obrigatórias, independentemente de serem consideradas por ele como asquerosas e indignas. Era o costume dos solarianos e quem agia em conformidade com as regras comportava-se ajuizado, quem não agia, comportava-se como louco, incitando assim a desarmonia social. Eram leis sociológicas, dotadas de juízo de valor, com base nos fatos sociais que ali se desencadeavam.
Porém, para Antenor, seus padrões morais não poderiam jamais intervir ou refletir negativamente da vida dos solarianos, visto que ele sempre procurava agir com verdade, honestidade e ética. Sofria preconceito por parte de todos à sua volta, era pressionado a agir e reagir tomando por base o juízo de valor que lhe era ditado, presente em todos os contextos da sociedade. No contexto escolar, tinha que ser bacharel, senão, mesmo trabalhando seria vagabundo, pois lhe faltaria dinheiro, prestígio e posição. No contexto profissional, tinha que ser hipócrita, vaidoso, usurpável e mentiroso, do contrário se tornaria desobediente, insuportável e perigoso para os interesses de seus patrões. No convívio social, a prática da verdade era o desastre da sua vida.
Da auto-reflexão Antenor estava convencido de que estava com a razão e venceria todos os percalços. Venceria o desprezo dos parentes. Mudaria de emprego até que os seus empregadores aprovassem sua índole.
Antenor tentou de tudo buscando adaptar-se às regras de conduta ditadas por seu grupo social, indagava-se e esforçava-se para compreender por que o seu modo de agir e reagir chocava-se à razão de todos os solarianos. Começou então a pensar que de fato sua cabeça era má e que precisava mudar, quando a condição apresentada por sua paixão era de que ele tomasse juízo e passasse a ser como os demais. Decidiu então mudar a sua vida, senão estaria fadado a sofrer a sanção que lhe fora imposta: ser expulso da terra solariana.
Daí constata-se que a força do meio sobre o homem é capaz de mudá-lo.
Antenor passou a viver a padronização imposta pela sociedade, passou a conviver com políticos corruptos se safando, gente-lebre em pele de cordeiro comendo à sua mesa de jantar, e mais um monte de ingredientes básicos de uma sociedade em nada parecida com a que ele sempre defendeu. O maior desafio de Antenor não o de como viver e sim o da convivência.
O Direito e a Moral não conseguiram caminhar de forma harmônica na vida de Antenor. O Direito da sociedade solariana tolerava muita coisa que não era moral. Todas as relações amorais e imorais cresciam e se desenvolviam sem meio que as obstassem. Não obstante, restava comprovada naquela sociedade a visão kelseniana das teorias do Direito, uma vez que o Direito e a Moral caminhavam desvinculados, como esferas independentes no processo de interação social. As normas de trato social, desde as regras mais elementares do decoro às mais refinadas formas de etiqueta, cortesia, status eram categoricamente contraditórias aos princípios verdadeiramente éticos, e, quem as desobedecesse entraria em confronto com as mesmas. (NADER, 2009).
Bastou atender as normas de trato social da sociedade em que vivia, adequando-se exteriormente a elas para que atendesse à regra comum. Antenor foi decididamente coagido. Ora, ele não tinha cultura suficiente para saber que as regras do campo da moral são incoercíveis e passíveis de uma sanção somente. Porém, Antenor as cumpriu por motivação espontânea.
Da reflexão do exposto, observa-se que a sanção de natureza social teve força bem maior do que supunha Antenor, uma vez que ele vivia não apenas voltado para si mesmo, mas em função do meio e da sociedade em que agia e reagia, onde o homem não era uma coisa posta entre outras coisas, mas uma força que se integrava em um sistema de forças, sem desprender do todo. (REALE, 2002).
Da profunda reflexão desta sátira, observa-se que os sistemas de autodefesa da sociedade solariana, as fontes materiais daquele povo aos poucos eliminavam o indivíduo que não obedecesse aos preceitos de ordem moral.
É sensato admitir que a realidade do país solariano não mudou muito comparada à sociedade contemporânea, que vive as diversidades e adversidades de um mundo altamente globalizado e envolvido pela mídia. Pode-se dizer que a grande maioria dos homens cede diante da pressão social, como assim o fez Antenor. Ele preferiu abdicar de seus princípios personalíssimos a continuar a sofrer a sanção que lhe foi imposta. Preferiu aderir à hipocrisia e imoralidades a ser excluído do seu grupo social.
Traçando um paralelo entre a sátira de João do Rio e os fatos sociais da atualidade, ainda é cogente a constatação de que se o homem observar apenas os preceitos jurídicos no meio social, o relacionamento humano se torna mais difícil, mais áspero e por isso menos agradável, pois, a própria experiência humana desde os primórdios da humanidade foi indicando regras distintas do Direito, da Moral e da Religião, as quais se constituem amortecedores do convívio social. (NADER, 2009). 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
NADER, Paulo. Introdução ao estudo do direito. Rio de Janeiro: Forense, 2009.
REALE, Miguel. Lições preliminares de Direito. 27. ed. Ajustada ao novo código civil. São Paulo: Saraiva, 2002. 
O homem da cabeça de papelão. In: JÚNIOR, Magalhães R. (sel.) João do Rio: uma antologia de humorismo e sátira. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1957.
� Advogada. Bacharela em Administração. Pós Graduanda em Direito Civil e Processual Civil e em Direito do Trabalho e Processual do Trabalho
� http://www.releituras.com/joaodorio_homem.asp

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