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Apresentação
Eduardo Morettin
Marcos Napolitano
Capítulo 1. O cinema 
brasileiro e os filmes históricos 
no regime militar: o lugar do 
historiador
Eduardo Morettin
Capítulo 2. Independência 
ou Morte: cinema histórico e 
ditadura no Brasil
Ignacio Del Valle Dávila
Capítulo 3. O pensamento de 
Gustavo Dahl sobre o cinema 
político: entre a estética do 
silêncio e o jogo discursivo 
com o regime militar
Margarida Maria Adamatti
Capítulo 4. O cinema e a 
construção da memória sobre 
o regime militar brasileiro: 
uma leitura de Paula, a 
história de uma subversiva 
(Francisco Ramalho Jr., 1979)
Marcos Napolitano 
Fernando Seliprandy
Capítulo 5. Anos Rebeldes: 
melodrama, imagens de 
arquivo, e uma memória da 
ditadura militar no Brasil
Mônica Almeida Kornis
Capítulo 6. Emoção e 
violência em Ressurreição 
(Arthur Omar, 1988).
Rosane Kaminski
Capítulo 7. Os filmes da 
ditadura civil-militar brasileira 
e o realismo político
Cristiane Freitas Gutfreind
Capítulo 8. Memórias em 
negociação: o documentário 
brasileiro nos trânsitos entre a 
História e a subjetividade
Reinaldo Cardenuto
Capítulo 9. Subversão, 
clandestinidade e farsa: o 
cinema de solidariedade ao 
Chile e suas estratégias
Carolina Amaral de Aguiar
Capítulo 10. Marcas del 
terrorismo de Estado en el 
cine argentino de la última 
dictadura militar: crisis 
institucional y dominación 
social
Ana Laura Lusnich
O cinema e as ditaduras militares: contextos, memórias e representações audiovisuais discute as relações en-tre cinema e história a partir dos projetos ideológicos, 
documentários, filmes de ficção e minisséries relativos ao pe-
ríodo das ditaduras militares no Brasil, Argentina e Chile.
Neste livro propomos um adensamento do debate face a no-
vas fontes e perspectivas, como também procuramos pensar 
novos problemas e temas para as pesquisas históricas em re-
lação ao cinema das/sobre as ditaduras, escolhendo filmes 
documentais e ficcionais de diversas épocas. 
Este projeto editorial tem alguns objetivos e olhares comuns, 
fruto das atividades do Grupo de Pesquisa CNPq “História 
e Audiovisual”. Em primeiro lugar, valorizar o específico fíl-
mico em sua relação com um conjunto de teorias e metodo-
logias sobre o audiovisual, caminho produtivo para pensar o 
filme enquanto documento histórico, partindo da indissocia-
bilidade entre a análise das representações e o exame da lin-
guagem cinematográfica. Em segundo lugar, pensar o cinema 
não apenas como “vetor” de memórias sobre as ditaduras, 
como se estas fossem gestadas apenas em outros lugares e lin-
guagens, mas como “produtores de memória”, identificadas 
a partir de sua narrativa audiovisual em diálogo com os de-
bates historiográficos e memórias dominantes ou recalcadas. 
O CINEMA 
E AS DITADURAS MILITARES
EDUARDO MORETTIN 
MARCOS NAPOLITANO
ORGANIZADORES
Contextos, memórias e representações audiovisuais
O CINEMA E AS 
DITADURAS MILITARES
CONTExTOS, MEMóRIAS E 
REpRESENTAçõES AUDIOvISUAIS
(Processo Fapesp 2016/23058-2)
As opiniões, hipóteses e conclusões ou recomendações expressas neste material 
são de responsabilidade do(s) autor(es) e não necessariamente refletem a 
visão da Fapesp.
Eduardo Morettin
Marcos Napolitano
O R g A N I z A D O R E S
 
O CINEMA E AS 
DITADURAS MILITARES
CONTExTOS, MEMóRIAS E 
REpRESENTAçõES AUDIOvISUAIS
Editora Intermeios
Rua Cunha Gago, 420 / casa 1 – Pinheiros
CEP 05421-001 – São Paulo – SP – Brasil
Fones: (11) 2365-0744 – 94898-0000 (Tim) – 99337-6186 (Claro)
www.intermeioscultural.com.br
•
O CINEMA E AS DITADURAS MILITARES:
CONTEXTOS, MEMÓRIAS E REPRESENTAÇÕES AUDIOVISUAIS
© Eduardo Morettin | Marcos Napolitano
1ª edição: julho de 2018
•
 Editoração eletrônica, produção Intermeios – Casa de Artes e Livros
 Revisão Nonononononono
 Capa Lívia Consentino Lopes Pereira
•
CONSELHO EDITORIAL
Vincent M. Colapietro (Penn State University)
Daniel Ferrer (ITEM/CNRS)
Lucrécia D’Alessio Ferrara (PUCSP)
Jerusa Pires Ferreira (PUCSP)
Amálio Pinheiro (PUCSP)
Josette Monzani (UFSCar)
Rosemeire Aparecida Scopinho (UFSCar)
Ilana Wainer (USP)
Walter Fagundes Morales (UESC/NEPAB)
Izabel Ramos de Abreu Kisil
Jacqueline Ramos (UFS)
Celso Cruz (UFS) – in memoriam
Alessandra Paola Caramori (UFBA)
Claudia Dornbusch (USP)
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação – CIP
N845 Morettin, Eduardo, Org.; Napolitano, Marcos, Org.
 O cinema e as ditaduras militares: contextos, memórias e representações 
audiovisuais / Organização de Eduardo Morettin e Marcos Napolitano. – São 
Paulo: Intermeios: Fapesp; Porto Alegre: Famecos, 2018. 
 232 p. ; 16 x 23 cm. 
 Projeto Cinema e história no Brasil: estratégias discursivas do 
documentário na construção de uma memória sobre o regime militar, 
apoiado pelo CNPq por meio do Edital Universal 14/2013. 
 ISBN 978-85-8499-128-0
 1. História. 2. História Social. 3. História Cultural. 4. América Latina. 5. 
História do Brasil. 6. História do Chile. 7. História da Argentina. 8. Ditadura. 
9. Resistência Política. 10. Resistência Cultural. 11. Indústria Cultural. 12. 
Cinema. 13. História do Cinema. 14. Filmografia. I. Título. II. Contextos, 
memórias e representações audiovisuais. III. Morettin, Eduardo, Organizador. 
IV. Napolitano, Marcos, Organizador. V. Dávila, Ignacio Del Valle. VI. Adamatt, 
Margarida Maria. VII. Seliprandy, Fernando. VIII. Kornis, Mônica Almeida. 
IX. Kaminski, Cristiane Freitas. X. Cardenuto, Reinaldo. XI. Aguiar, Carolina 
Amaral de. XII. Lusnich, Ana Laura. XIII. Intermeios – Casa de Artes e Livros.
CDU 94(37)(081) 
CDD 370 i.9
Catalogação elaborada por Ruth Simão Paulino
Sumário
 7 Apresentação
 Eduardo Morettin e Marcos Napolitano
 15 Capítulo 1. O cinema brasileiro e os filmes históricos no regime militar: 
o lugar do historiador
 Eduardo Morettin
 33 Capítulo 2. Independência ou Morte: cinema histórico e ditadura no 
Brasil
 Ignacio Del Valle Dávila
 57 Capítulo 3. O pensamento de Gustavo Dahl sobre o cinema político: 
entre a estética do silêncio e o jogo discursivo com o regime militar
 Margarida Maria Adamatti
 77 Capítulo 4. O cinema e a construção da memória sobre o regime 
militar brasileiro: uma leitura de Paula, a história de uma subversiva 
(Francisco Ramalho Jr., 1979)
 Marcos Napolitano e Fernando Seliprandy
101 Capítulo 5. Anos Rebeldes: melodrama, imagens de arquivo, e uma 
memória da ditadura militar no Brasil
 Mônica Almeida Kornis
129 Capítulo 6. Emoção e violência em Ressurreição (Arthur Omar, 1988). 
Rosane Kaminski 
155 Capítulo 7. Os filmes da ditadura civil-militar brasileira e o realismo 
político
 Cristiane Freitas Gutfreind
167 Capítulo 8. Memórias em negociação: o documentário brasileiro nos 
trânsitos entre a História e a subjetividade
 Reinaldo Cardenuto
195 Capítulo 9. Subversão, clandestinidade e farsa: o cinema de 
solidariedade ao Chile e suas estratégias
 Carolina Amaral de Aguiar 
217 Capítulo 10. Marcas del terrorismo de Estado en el cine argentino de la 
última dictadura militar: crisis institucional y dominación social
 Ana Laura Lusnich
Apresentação
Eduardo Morettin1
Marcos Napolitano2
O livro O cinema e as ditaduras militares: contextos, memórias e 
representações audiovisuais apresenta os resultados de três anos de pesquisa 
do projeto Cinema e história no Brasil: estratégias discursivas do documentário 
na construção de uma memóriasobre o regime militar, apoiado pelo CNPq por 
meio do Edital Universal 14/2013. Seu objetivo foi o discutir as relações entre 
cinema e história a partir dos documentários e filmes de ficção brasileiros 
que se ocuparam do período do regime militar, analisando as estratégias 
de autenticação de seu discurso, como o uso de material de arquivo, do 
testemunho e da voz over, dentre outros procedimentos3.
1. Professor de História do Audiovisual na Escola de Comunicações e Artes da USP. Autor 
de Humberto Mauro, Cinema, História (São Paulo, Alameda, 2013) e bolsista produtividade em 
pesquisa CNPq.
2. Professor do Departamento de História da USP e Bolsista do CNPq/Bolsa Produtividade, 
cuja pesquisa para este texto contou com o apoio desta agência de fomento. Autor, dentre outros 
trabalhos, de Coração Civil: a vida cultural brasileira sob o regime militar (1964-1985) - ensaio 
histórico (São Paulo: Intermeios - Casa de Artes e Livros, 2017) e 1964: História do Regime Militar 
Brasileiro (São Paulo: Editora Contexto, 2014).
3. Um objetivo secundário foi o de mapear a discussão teórica sobre o campo, realizando, 
dentre outras ações, o levantamento da produção de dissertações de mestrado e teses de 
doutorado defendidas no Brasil sobre história e cinema. Para acessar esse material ver http://
historiaeaudiovisual.weebly.com/cinema-e-histoacuteria.html, acesso em 17 mar. 2018.
8 O CINEMA E AS DITADURAS MILITARES
Entre os anos de 2014 e 2016, o grupo de pesquisa CNPq “História e 
Audiovisual: circularidades e formas de comunicação”, coordenado pelos 
organizadores desse livro, promoveu uma série de atividades, como mostra4, 
seminários abertos ao público5, entrevistas com diretores6, levantamento 
de teses e dissertações sobre cinema e ditadura militar7, estabelecimento de 
filmografia, com ficha técnica, fortuna crítica e textos explicativos sobre parte 
dessa produção8, publicações9, apresentações de trabalhos em congressos 
científicos, etc. Coroando esse processo, ao mesmo tempo em que o finaliza, o 
presente livro espera não apenas divulgar o que foi consolidado ao longo desse 
período, mas abrir perspectivas novas de trabalho sobre o campo.
É importante ressaltar que o cinema tem ocupado um lugar destacado na 
representação e na refiguração dos passados traumáticos das sociedades. Para 
além da consagrada dimensão de espetáculo artístico e lazer de massas, o cinema 
parece ter uma função específica no campo da memória e da história quando 
revisita processos de violência, guerras civis, conflitos internacionais e genocídios. 
Não é raro que o cinema se antecipe ao debate acadêmico e até imponha certas 
pautas historiográficas, como é notório no caso das representações da Shoah, 
desde o incontornável Noite e Neblina (1955), de Alain Resnais. 
4. Imagens da ditadura foi realizada na Cinemateca Brasileira entre 27 de março a 13 de abril 
de 2014. A programação está disponível em http://historiaeaudiovisual.weebly.com/mostras.html, 
acesso em 17 mar. 2018.
5. Foram ao total 17 seminários de pesquisa, com pós-graduandos e docentes da Universidade 
de Buenos Aires, Universidade de São Paulo, Universidade Estadual de Campinas, Universidade 
Estadual de Santa Catarina, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e Universidade 
Federal do Paraná. A relação completa dessas atividades, bem como a gravação em vídeo de 
algumas dessas palestras, podem ser consultadas em http://historiaeaudiovisual.weebly.com/2014-
--2017.html, acesso em 17 mar. 2018.
6. Silvio Tendler e Lucia Murat foram entrevistados por Eduardo Morettin e Mônica Almeida 
Kornis no Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) 
da Fundação Getúlio Vargas, do Rio de Janeiro, em novembro de 2015. Esse material será publicado 
pelo periódico ArtCultura em 2018.
7. Ver http://historiaeaudiovisual.weebly.com/cinema-e-regime-militar-brasileiro.html, acesso 
em 17 mar. 2018.
8. Disponível em http://historiaeaudiovisual.weebly.com/filmografia-ditadura-brasil.html, 
acesso em 17 mar. 2018. O leitor que consultar a filmografia perceberá alguma discrepância entre 
as datas de alguns dos filmes citados nesse livro e as que constam do levantamento. Devemos 
considerar que no Brasil nem sempre a data de produção de um filme coincide com a de seu 
lançamento. No site, o critério foi a organização cronológica pela data de lançamento, sempre que 
possível.
9. Dentre elas, destacamos Ditaduras Revisitadas: Cartografias, Memórias e Representações 
Audiovisuais (Faro, Portugal: CIAC/Universidade do Algarve, 2016), organizado por Denize 
Correa Araujo, Eduardo Morettin e Vitor Reia-Baptista.
9Eduardo Morettin | Marcos Napolitano
No caso das ditaduras militares latino-americanas, o cinema ocupa 
igualmente um papel de destaque na representação daquele passado que até 
hoje parece oscilar entre o trauma (o que não pode ser nomeado, porque 
indizível) e o tabu (o que não deve ser nomeado, porque inconveniente). Os 
cinemas brasileiro, argentino e chileno, em particular, têm esmiuçado o passado 
ditatorial destes países na busca de explicações, equações, ponderações e 
representações acerca dos golpes, da repressão, das guerrilhas, das resistências, 
das colaborações e dos cotidianos das sociedades tuteladas por governos 
militares de direita. Em que pese a percepção geral, correta até certo ponto, de 
que o cinema tem um lado nesta História, o da “sociedade vítima e resistente”, 
a produção ficcional e documental dos últimos anos é mais rica do que parece. 
Esta riqueza não se expressa apenas nas linguagens diversas escolhidas pelos 
realizadores, mais “autoral” ou mais “comercial”, se quisermos manter a 
problemática dicotomia que se consagrou no circuito cinéfilo. Mas também 
se expressa pela diversidade de temas, ideologias, abordagens e personagens 
relativos àqueles passados que marcam os filmes. 
Vale dizer, que os filmes sobre as ditaduras não foram produzidos depois 
que estes regimes políticos foram superados pela volta das democracias. Ainda 
durante a sua vigência, o cinema latino-americano representou as ditaduras 
do continente, de forma direta ou enviesada, dependendo da conjuntura 
repressiva. As ditaduras organizaram novas formas de relação entre os 
respectivos Estados e as cinematografias nacionais, de diversas maneiras. Seja 
pela censura que exigia novos exercícios de linguagem por parte dos diretores 
e roteiristas, frequentemente ligada à alegoria e à metáfora como forma de 
crítica. Seja pela normatização burocrática e pelo mecenato estatal que no 
caso brasileiro, particularmente, impactou o campo do cinema e abriu novas 
possibilidades de produção e distribuição para os realizadores nacionais, 
críticos ou não do regime. Mesmo depois de superados os regimes autoritários, 
os cinemas dos países que passaram pela experiência traumática das ditaduras, 
assumiram um papel central como vetores de memória, a partir de diversos 
gêneros e estéticas. Nas obras realizadas nas fases de transição democrática 
ou de vigência plena do Estado de Direito na América Latina, as ditaduras 
foram esmiuçadas, analisadas, comentadas, criticadas, compreendidas. Muitos 
filmes, ficcionais ou documentais, se viram no centro de debates intensos, 
posto que sua relação com o público ia muito além do mero entretenimento, 
embora muitas vezes se confunda com este. 
Na filmografia sobre os golpes e ditaduras do “Cone Sul” (Brasil aí incluído, 
malgré sua geografia mais ampla), o primeiro aspecto que chama a atenção 
são as diferentes trilhas de investigação histórica entre o documentário e a 
ficção nos últimos 20 anos, ao menos. No primeiro gênero, o olhar subjetivo 
10 O CINEMA E AS DITADURAS MILITARES
dos realizadores refigura o passado, seja através da busca simbólica (e real), 
muitas vezes traumática, dos parentes que se envolveram diretamente na 
guerrilha, seja através da reafirmaçãode uma memória pública heroica e 
monumentalizada dos resistentes com os quais se identificam. Na ficção, o 
melodrama e o drama estruturados a partir de narrativas clássicas têm dado o 
tom das obras, via de regra centradas nas figuras da resistência, seus dilemas, 
derrotas e contradições. Na ficção, a catarse parece predominar sobre a 
crítica, enquanto no documentarismo, o revisionismo e a problematização do 
passado parecem ter mais lugar. Se no cinema ficcional, a derrota política real 
é compensada pela vitória moral, seguida da monumentalização, daqueles que 
lutaram (e morreram), sobretudo nas obras de viés mais melodramático, no 
documentário a história ainda é representada como um processo aberto, como 
se os cadáveres do regime ainda estivessem ao sol, exigindo uma autopsia. 
Nestas escolhas, o cinema dos últimos 20 anos, à exceção de algumas obras 
marcantes e singulares, parece fugir do diagnóstico político da derrota e da 
cumplicidade social diante da repressão. O heroísmo dos resistentes e a vilania 
dos repressores, que quase sempre caracteriza as produções de maior apelo 
comercial, se adequam a este olhar obliquo sobre o passado. Ao que parece, 
ainda é muito difícil tocar em certos temas. Voltamos aos traumas e tabus. Se 
há diferenças de escala, culturas políticas e intensidades do debate em cada 
cinematografia nacional, esta tendência geral parece estar se compartilhando 
nos últimos 20 anos. No caso brasileiro, a nostalgia que boa parte da classe 
média parece sentir do regime militar, talvez estimule obras revisionistas 
no pior sentido do termo, matizando a violência do regime, vilanizando 
o lado derrotado ou heroicizando a repressão. Alguns filmes já esbarraram 
neste revisionismo, ainda que não tenham rompido completamente com as 
representações dominantes da “sociedade vítima-resistente”. 
 Obviamente, há diferenças importantes entre o cinema argentino, chileno 
e brasileiro. No caso dos dois primeiros, houve uma importante produção feita 
no exílio durante os regimes militares, seguido de um ambiente particularmente 
fértil para o cinema ficcional que realizasse a catarse da sociedade durante a 
redemocratização, figurando a ditadura como hiato histórico, sobretudo no caso 
argentino. No caso chileno, tudo indica que o cinema ficcional assumiu a tarefa 
de representar um novo país, sem as ilusões ou valores do passado, entendendo 
a ditadura não como hiato, mas como travessia a fórceps para um futuro incerto 
e inglório. No caso brasileiro, dada a longevidade e as dinâmicas internas do 
regime em relação à cultura, o cinema tem uma relação mais contraditória 
e complexa com este tema. Nos anos 1960, sob os efeitos do cinema novo, a 
ditadura foi representada de um modo bem diverso do que nos anos 1980 em 
diante no documentário, mas principalmente na ficção. 
11Eduardo Morettin | Marcos Napolitano
A crítica e a historiografia do cinema já estabeleceram, ainda durante a 
vigência dos regimes militares, várias pautas e formas de se analisar os filmes 
latino-americanos sobre o tema. Neste debate, algumas tendências se destacam: 
a importância da alegoria, os limites e potencialidades do naturalismo e 
do realismo na representação do passado, o paradoxo do mecenato oficial 
(sobretudo no caso brasileiro), as tensões entre o filme político, filmes históricos 
e as regras de gênero, as contradições do documentário em sua busca pelo real, 
entre tantos outros tópicos. 
Neste livro, não só retomamos estas questões, propondo um adensamento 
do debate face a novas fontes e perspectivas, mas também procuramos 
pensar novos problemas e temas para as pesquisas históricas em relação ao 
cinema das/sobre as ditaduras, escolhendo filmes documentais e ficcionais 
de diversas épocas, que ora confirmam as tendências gerais aqui sintetizadas, 
ora se oferecem para leituras alternativas a estas tendências. Os capítulos aqui 
reunidos buscam analisar obras não-canônicas em profundidade, ou mesmo 
as canônicas a partir de outras perspectivas, menos comuns. Procuram 
discutir o documentarismo, mapeando tendências do passado, como a 
“Internacional do cinema militante” sobre o Chile de Allende, ou do presente, 
como o documentarismo subjetivo realizado por parentes de atores históricos. 
Analisam políticas culturais das ditaduras, seus agentes e os filmes por elas 
inspirados, que se contrapõem à memória hegemônica da “sociedade vítima-
resistente”. 
O primeiro capítulo, de Eduardo Morettin, investiga as demandas 
oficiais do governo brasileiro nos anos 1970 pelo filme histórico, gênero 
particularmente cultivado pelas ditaduras, e sua relação com a crítica 
histogriográfica, dada a participação de historiadores em projetos fomentados 
pela Embrafilme, espaço que se tornou um lugar de disputa sobre o sentido do 
passado, bem como um lugar de crítica ao presente. Ignacio Del Valle Dávila 
segue nesta linha, analisando detalhadamente um caso de filme histórico de 
adesão ao regime, mas que nem por isso escapa a contradições, o famoso 
Independência ou Morte (1972), de Carlos Coimbra, grande sucesso do cinema 
brasileiro, e sua relação com a obra do escritor Paulo Setúbal, abordagem pouco 
explorada nos estudos sobre o filme. Margarida Adamatti recupera a trajetória 
intelectual, rica e contraditória, de Gustavo Dahl, cineasta e crítico ligado à 
esquerda e ao cinema novo que participou da burocracia oficial da ditadura, 
que procurava estimular e organizar a indústria cinematográfica brasileira 
nos anos 1970. Nesse sentido, não foram poucos os dilemas decorrentes dessa 
participação e das estratégias para articular o cinema político ao mercado, 
em busca de um maior público. O texto de Marcos Napolitano e Fernando 
Seliprandy realiza um exame de conjunto da filmografia sobre o período, com 
12 O CINEMA E AS DITADURAS MILITARES
destaque para Paula, a história de uma subversiva (Francisco Ramalho Jr., 
1979), um filme não-canônico sobre a ditadura brasileira produzido no início 
da abertura política, obra pioneira em sua tentativa de enquadrar a memória 
sobre os “anos de chumbo”. 
O tema da memória e da representação do passado também serve de 
mote para outros capítulos do livro. Monica Kornis examina a relação entre 
melodrama televisual e imagens de arquivo na conformação de uma memória 
sobre o regime militar brasileiro, a partir da minissérie Anos Rebeldes 
(1992), articulando a análise ao mapeamento dos projetos ideológicos que se 
encontravam em sua origem, além da recepção e impacto que a minissérie 
teve à época. Rosane Kaminski traz ao debate o filme Ressurreição (1988), 
curta realizado logo depois do fim do regime miliar, parte da cinematografia 
desviante de Arthur Omar, como foco na violência e emoção presentes na 
obra, como chaves para provocar uma leitura do passado recente. Como diz a 
autora, suas imagens “ativam também a memória não tão remota da violência 
praticada pelo governo militar contra os seus oponentes, ao longo das duas 
décadas anteriores”.
Voltamos ao quadro geral com o texto de Cristiane Freitas Gutfreind, que 
sintetiza algumas linhagens das obras que representaram o período em sua 
articulação com o realismo e a dimensão biográfica, propondo uma revisão 
do lugar do “filme político” nessa filmografia. Reinaldo Cardenuto analisa 
as disputas de memória no documentarismo feito por parentes de militantes 
políticos, discutindo as tendências e a busca da subjetividade como forma 
de processar a experiência das ditaduras em três filmes: Diário de uma busca 
(2011), de Flávia Castro, Os dias com ele (2012), de Maria Clara Escobar, e Em 
busca de Iara (2013), de Flávio Frederico. 
Os capítulos finais se dedicam ao contexto chileno e argentino. A 
filmografia solidária às vítimas da ditadura chilena, realizada em circuitos 
transnacionais, é analisada por Carolina Amaral de Aguiar. Ainda relativo 
aos filmes feitos durante asditaduras, Ana Laura Lunisch nos apresenta uma 
filmografia crítica ao terrorismo de Estado na Argentina, de caráter muitas 
vezes hermético, mas não menos contundente, feita durante sua vigência. Em 
que pese a diversidade de temas, estilos, qualidade das obras e abordagens dos 
filmes aqui analisados, este projeto editorial tem alguns objetivos e olhares 
comuns, amplamente debatidos e exercitados nas atividades do Grupo de 
Pesquisa CNPq “História e Audiovisual”10 que conectam todos os autores 
10. Dentre essas atividades, além das já citadas em notas anteriores, cumpre destacar os resultados 
de pesquisa publicados em Cinema e história: circularidades, arquivos e experiência estética (Porto 
Alegre, Sulina, 2017), organizados por Carolina Amaral de Aguiar, Danielle Carvalho, Eduardo 
13Eduardo Morettin | Marcos Napolitano
envolvidos neste livro. Em primeiro lugar, valorizar o específico fílmico em 
sua relação com um conjunto de teorias e metodologias sobre o audiovisual, 
caminho produtivo para pensar o filme enquanto documento histórico, 
partindo da indissociabilidade entre a análise das representações e o exame da 
linguagem cinematográfica. Em segundo lugar, pensar o cinema não apenas 
como “vetor” de memórias sobre as ditaduras, como se estas fossem gestadas 
apenas em outros lugares e linguagens, mas como “produtores de memória”, 
identificadas a partir de sua narrativa audiovisual em diálogo com os debates 
historiográficos e memórias dominantes ou recalcadas. 
Esperamos que os textos que se seguem tenham conseguido, dentro da 
sua diversidade, atingir estes dois objetivos. 
Ao fim e ao cabo, gostaríamos de agradecer o apoio da FAPESP e 
do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Pontifícia 
Universidade Católica do Rio Grande do Sul, sem os quais esta publicação 
seria inviável. 
Morettin, Lúcia Monteiro e Margarida Adamatti, História e Documentário (São Paulo, Editora 
FGV, 2012), organizado por Eduardo Morettin, Marcos Napolitano e Mônica Almeida Kornis, 
e o primeiro projeto editorial do grupo de pesquisa, História e Cinema: dimensões históricas do 
audiovisual (2ª ed., São Paulo, Alameda Casa Editorial, 2011), organizado por Eduardo Morettin, 
Elias Thomé Saliba, Marcos Napolitano e Maria Helena Capelato.

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