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Vontade sofrimento e contemplação artistica na filosofia de schopenhauer

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VONTADE, SOFRIMENTO E CONTEMPLAÇÃO ARTÍSTICA NA 
FILOSOFIA DE SCHOPENHAUER 
Aparecida do Nascimento Frazão
1
; Regiane Lorenzetti Collares
2
 
 
1
Aluna de graduação do curso de Filosofia da Universidade Federal do Ceará no Cariri. E-
mail: aparecida018@hotmail.com 
2
Professora do curso de Filosofia da Universidade Federal do Ceará no Cariri. E-mail: 
regianecollares@hotmail.com 
 
Resumo: 
O presente artigo realiza, em um primeiro plano de abordagem, a análise da relação entre 
sofrimento e vontade no pensamento de Schopenhauer. Para tanto, procura-se esclarecer como 
a filosofia schopenhaueriana formula o movimento incessante da vontade em busca da 
satisfação, e, ao mesmo tempo, seu caráter insaciável. A partir disso, este estudo se detém 
primeiramente na radicalidade da vontade que joga o indivíduo no mais profundo sofrimento, 
posto que, em sua ânsia de vida, insaciável, sequiosa, a vontade como o em si do mundo 
manifesta-se em acordo com as mais íntimas experiências humanas, manifesta-se no próprio 
corpo, e não como um ato oriundo da reflexão. Posta a vontade em seu caráter insaciável e 
inesgotável, em segundo plano, pretende-se expor de que forma a contemplação artística é 
capaz de negá-la e apaziguar o sofrimento. 
Palavras-chave: Mundo; Representação; Arte. 
 
Introdução 
Diferente dos filósofos que ressaltavam os aspectos reflexivos e representativos da 
razão na condução moral e intelectual do homem, para Schopenhauer, a representação é 
limitada em sua capacidade de orientação e decifração dos impulsos que movem o mundo e o 
homem. Dada esta formulação, segundo as considerações schopenhauerianas, a essência do 
mundo só pode ser reconhecida na manifestação da vontade. O mundo é assim apresentado 
em seus dois lados, a saber: em um aspecto, ele é dado ao homem como representação a partir 
de sua constituição fenomênica delimitada no espaço e no tempo, em outro aspecto, seu 
centro e a sua essência estaria no que Schopenhauer denomina de vontade; impulso de vida, 
sem fundamento, que se manifesta nos seres vivos da natureza, independente de serem eles 
possuidores ou não de razão. Sendo assim, o filósofo considera que todos os corpos do mundo 
fenomênico são dados como objetividade de um mesmo querer insatisfeito e que nunca cessa 
e, por isso, constantemente provoca o sofrimento. Nesta perspectiva, pretende-se aqui realizar 
um estudo acerca da relação entre a vontade e o sofrimento humano na filosofia de 
Schopenhauer e como se depreende a negação dessa vontade a partir da contemplação 
artística. 
 
Material e Métodos 
Leitura e interpretação dos livros II, III e IV de O Mundo como Vontade e 
Representação, Schopenhauer, bem como a apreciação dos seguintes textos: O nascimento do 
trágico, Roberto Machado; Compreender Schopenhauer, Jean Lefranc; Schopenhauer e a 
questão do dogmatismo, Maria Lucia de Mello Oliveira Cacciola; Cadernos de filosofia 
alemã, publicação semestral 2009 do departamento de filosofia, FFLCH-USP. 
Resultados e Discussão 
 No que tange a consideração da vontade feita por Schopenhauer no livro O 
Mundo Como Vontade e como Representação (MVR) 
1
, podemos encontrar o seguinte 
fragmento: 
 
Reconhecerá a mesma vontade como essência mais intima não apenas dos 
fenômenos inteiramente semelhantes ao seu, ou seja, homens e animais, 
porém, a reflexão continuada o levará a reconhecer que também a força que 
vegeta e palpita na planta, sim, a força que forma o cristal, que gira a agulha 
magnética para o norte, que irrompe do choque do de dois metais 
heterogêneos, que aparece nas afinidades eletivas dos materiais como 
atração e repulsão, sim, a própria gravidade que atua poderosamente em toda 
matéria, atraindo a pedra para a terra e a terra para o sol, - tudo isso é 
diferente apenas no fenômeno, mas conforme sua essência em si... Chame-se 
Vontade.
2
 
 
No fragmento ora citado, o filósofo expõe a partir de uma sequência de imagens o 
que ele considera ser a vontade e como o mundo, em múltiplos aspectos, é capaz de revelá-la. 
De antemão, pode-se afirmar que na manifestação da vontade ressalta-se o querer viver 
incondicional, a essência do mundo. Com isso, a vontade é considerada por Schopenhauer 
como análoga à coisa-em-si formulada por Kant, irrepresentável, já que ultrapassa as 
delimitações do espaço, tempo e causalidade do mundo da representação. Neste sentido, a 
vontade pode ser considerada como o em si de todo fenômeno, núcleo de toda coisa particular 
e do mundo; vontade incessante, irrepresentável e sedenta de vida. Contudo, Schopenhauer 
formula que essa vontade cega, inesgotável, que impulsiona o homem a querer viver, também 
o conduz ao sofrimento e ao tédio, desdobrando-se de desejo em desejo, de insatisfação em 
insatisfação, até o momento em que seja negada. 
Desta forma, o homem se caracteriza de modo prioritário, por ser movido 
constantemente por uma carência última decorrente de sua eterna incapacidade de conseguir 
satisfazer todos os desejos e inclinações sensíveis motivadas pela vontade. Ao se considerar 
que grande parte dessas inclinações e desejos permanece insaciada, pode-se inferir daí o fato 
de que a vontade é mais ampla do que as possibilidades efetivas de concretização do querer. 
Desse modo, Schopenhauer enfatiza o caráter sequioso do homem em afirmar a vida a 
qualquer custo, sendo que viver não é nada mais do que um combate perpétuo do indivíduo 
pela conservação da sua própria existência. Entretanto, o autor observa que no momento em 
que o homem consegue apaziguar suas inquietações provindas de um querer, surgirá um 
estado de existência desagradável, sentimento análogo ao de um doloroso querer que não foi 
saciado, despontando daí um profundo tédio; isto é, a vida humana seguiria sempre, oscilando 
como um pêndulo; ora, do sofrimento ao tédio, ora, do tédio ao sofrimento. 
 
1
 O titulo do livro “O Mundo como Vontade e Representação” será abreviado daqui em diante por MVR. 
2
 Ibidem, p.168. 
Em suma, a vontade surge na filosofia de Schopenhauer como uma fonte 
inesgotável de sofrimento. A partir destes apontamentos iniciais, consideramos que, não 
obstante o teor pessimista ressaltado na filosofia de Schopenhauer, ele procurou refletir sobre 
alguns caminhos que pudessem direcionar o homem para o apaziguamento do sofrer. Segundo 
suas formulações, a negação da vontade pode acontecer de três maneiras: pela contemplação 
artística (estética), por meio da compaixão (ética) e, por fim, de maneira mais radical, pela 
ascese. Porém, não se tratará neste estudo destas três formas de negação da vontade, pois, 
aqui se pretende apenas investigar de que modo a contemplação artística operaria a negação 
da vontade e, por conseguinte, o interrompimento do sofrer. 
 Na negação da vontade concebida a partir da contemplação estética, 
Schopenhauer concebe o belo desinteressado como um movimento de afastamento da 
vontade, identificando aí um caminho que pode neutralizar momentaneamente a vontade 
sedenta e insaciável. Ora, quando se contempla o belo em uma obra artística, Schopenhauer 
considera que tal atitude corresponderia a um desinteresse por parte do indivíduo, ou seja, a 
contemplação de uma obra de arte se dá pelo prazer contemplativo em si mesmo, sem nenhum 
objetivo, sem nenhum desejo, como se diante do belo a vontade se tornasse “anestesiada”. 
Portanto, o prazer que acompanha o “belo” na arte é o que interromperia o ciclo das carências 
que expressa o sofrimento do homem no mundo. 
 Ainda no âmbito da contemplação artística, Schopenhauer destaca o lado sublime 
da obra de arte. Diferente do “belo”, o sublime é um sentimento de contemplaçãoem que o 
conhecimento puro da vontade se dá de forma intensa e violenta, provocando uma espécie de 
“elevação” acima da própria vontade. Apesar desta diferença, o sentimento do sublime se 
identifica ao do belo porque ambos são contemplação pura, abstraída da vontade e, portanto, 
conhecimento das idéias. Porém, o que mais distingue esses dois sentimentos é que, referente 
ao belo, o conhecimento puro (idéias) desprende-se inconscientemente e sem luta dos objetos 
da vontade e, em relação ao sublime, tal espécie de conhecimento liberta-se destes objetos de 
modo consciente e violento, como elevação livre acima da vontade. Vejamos: 
 
 A distinção entre o Belo e o Sublime é que no Belo o predomínio do 
conhecimento puro se exerce sem luta, a beleza do objeto, sua constituição, 
facilitando o conhecimento de sua idéia, afastando a vontade e o 
conhecimento das relações que coroam seus serviços sem oposição, e, 
portanto, imperceptível da consciência, que persiste como sujeito do 
conhecimento, destituído inclusive de toda recordação da vontade; em 
contraposição, em face do sublime, este estado de conhecimento puro é 
conquistado primeiramente por meio de uma libertação violenta das relações 
do objeto com a vontade reconhecida como desfavoráveis, por meio de uma 
elevação livre e consciente acima da Vontade e do conhecimento a ela 
referido
3
 
 
Neste sentido, a contemplação artística, independente de se dar diante do belo ou 
do sublime, surge como imagem mais imediata da vontade, expressando-se em forma de 
 
3 SCHOPENHAUER. O Mundo como Vontade e como Representação, p.274. 
idéias
4
, em que o ato de intuição artística permitiria a representação mais próxima da vontade 
em si mesma, o que, por sua vez, colocaria a vontade a serviço da representação. Logo, a 
atividade artística seria capaz de revelar as idéias eternas através de progressivos graus de 
objetidade (Objektität), graus de perfeição e clareza que aumentam, respectivamente, nas 
seguintes formas artísticas: arquitetura, escultura, pintura, poesia lírica, poesia trágica, até, por 
fim, chegar à forma mais perfeita: a expressão da música. Esta última forma artística, em 
particular, ocuparia um lugar de destaque dentre todas as artes, por ser ela capaz de libertar 
mais eficientemente o homem de sua avidez pela conquista dos objetos da vontade. Portanto, 
a música é assim a expressão, a representação mais imediata da vontade, grau mais elevado de 
sua objetivação, grau que permite à vontade tomar consciência de si própria. 
 
Conclusão 
Diante das pesquisas preliminares da relação entre sofrimento e vontade, e o 
apaziguamento do sofrer pela contemplação artística, pode-se destacar três aspectos: 
1. A vontade é o único elemento permanente e invariável do mundo como um todo, o que lhe 
dá coerência e unidade, que constitui a essência do homem. A vontade seria o princípio 
fundamental da natureza, independente da representação, não se submetendo às leis da 
razão. 
2. A relação Vontade e Sofrimento: a vontade é um índice de necessidade, e como ela é 
imperecível, continua mover constantemente o homem em busca de seus objetos de 
satisfação. Se acaso houver a satisfação da vontade, ela será apenas momentânea, levando 
o indivíduo a um sentimento de tédio. Por isso, a vontade, em seu teor insaciável, é a 
origem do constante sofrimento humano. 
3. A contemplação artística como cessar do sofrimento acontece por intermédio do belo 
e do sublime, é uma das formas capazes de apaziguar o sofrer. Ela se dá como nova 
maneira de se conhecer o mundo, pois a arte seria o que reproduz as idéias eternas 
apreendidas mediante a pura contemplação. 
 
Referências Bibliográficas 
CACCIOLA, Maria Lucia Mello Oliveira. Schopenhauer e a questão do dogmatismo. São 
Paulo: Ed da Universidade de São Paulo, 1994 
LEFRANC, Jean. Compreender Schopenhauer. Rio de Janeiro. 3ª ed. Vozes, 2007. 
MACHADO, Roberto. O nascimento do trágico de Sheller a Nietzsche. Rio de Janeiro, 2006. 
SCHOPENHAUER, Arthur. O Mundo como Vontade e como Representação. Trad. Jair 
Barboza. São Paulo: UNESP, 2005. 
 
4
 Para Schopenhauer, as idéias são “as formas persistentes, imutáveis, independentes da existência temporal dos 
indivíduos, que constituem a objetividade própria dos fenômenos”. SCHOPENHAUER, MVR, II, §30. Neste 
sentido, as idéias, correspondente às idéias platônicas, são da alçada da representação, mesmo que sejam, 
imutáveis, eternas, fora das relações de tempo, espaço e causalidade. Cf. MACHADO, R. O Nascimento do 
Trágico, pp.172-173.

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