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Anestésicos Gerais Farmacologia II Paulo Henrique da Silva Barbosa Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Medicina Veterinária Anestesia geral proporciona bem estar ao paciente, impedindo sensações desagradáveis durante procedimentos como cirurgias. Não tem finalidade curativa. Anestesia geral: Depressão geral e reversível da atividade do SNC, resultando na perda de percepção e da resposta aos estímulos externos. Permitindo assim, a realização de procedimentos nocivos ou desagradáveis. Coleção de Componentes: 1. Amnésia 2. Imobilidade física em resposta a estímulo nocivo 3. Atenuação das respostas autonômicas a estímulos nocivos 4. Analgesia 5. Inconsciência Comportamento de pacientes submetidos à anestesia: Divida em 4 planos anestésicos. Estágio 1 ou Estágio de Analgesia: A partir do momento que inicia-se a administração da droga até a perda de consciência do paciente. Respiração normal, movimento ocular voluntário, tamanho da pupila normal, reflexos protetores totalmente presentes, tônus muscular não sofre alteração e o animal tem respostas respiratórias e cutâneas à incisão cirúrgica. Estágio 2 ou Delírio: Respiração torna-se rápida e irregular, movimentos oculares erráticos, pupila dilatada, reflexos protetores ainda presentes, tônus muscular aumentado (extrema importância pois o aumento do tônus muscular é muito perigoso e considerando animais de grande porte a situação pode ser perigosa para o próprio médico veterinário). Uma proposta é passar pelos estágios 1 e 2 o mais rápido possível. Estágio 3: Anestesia operatória. Estágio em que o anestesista tenta manter o animal para que o cirurgião realize o procedimento e o estágio que tenta-se buscar o animal para seu estágio normal. Durante o aprofundamento do estágio 3 há uma perda progressiva do tônus muscular. o Plano 1: Respiração irregular, perda de reflexos protetores, dependendo da espécie já pode-se fazer intubação endotraqueal. o Plano 2: Respiração superficial e irregular, reflexos protetores diminuídos, miose. o Plano 3: Respiração torna-se evidentemente torácica. A principal diferença deste plano para o plano 4 é a resposta da pupila à luz. o Plano 4: Extremamente perigoso, pode ocorrer parada respiratória. Perto da morte. Estágio 4: Estágio de morto iminente. Estágio de paralisia respiratória. Chegando a esse estágio o paciente muito provavelmente apresentará uma parada respiratória e a frequência cardíaca estará muito diminuída. Respiração mecânica aumenta a pressão de O2 e faz com que o coração que já está fraco diminua ainda mais sua frequência, causando uma parada cardíaca. Na medicina veterinária, o único momento em que deve-se levar o animal até esse estágio é na eutanásia. Mecanismo de Ação dos Fármacos Anestésicos Gerais Aumentam a sensibilidade ao GABA de receptores GABA A (principal neurotransmissor inibidor do SNC) Reduzem a atividade de receptores de glutamato do tipo NMDA Abrem canais de K Agem sobre outros canais iônicos associados a canais abertos por ligantes estruturalmente parecidos com o GABA A Proteínas envolvidas com a fusão de vesículas de neurotransmissores Ação Sob Receptores Gaba A (mais importante) Praticamente todos os anestésicos gerais potencializam a ação do GABA endógeno sobre o receptor GABA A. O receptor GABA tem 5 subunidades, e dependendo da droga utilizada, ela se ligará em alguma dessas unidades e fará seu efeito. Na anestesia geral, as mais comuns de interação com as drogas são as subunidades beta e alfa. Ação Sob Receptores NMDA (mais importante) Cetamina – Bloqueia o canal associado ao receptor NMDA impedindo a passagem de íons. Liga-se a sítio específico, bloqueando mecanicamente o canal de íons presente no receptor NMDA. Podem existir todos os cofatores necessários para ativação do canal, mas a cetamina bloqueia fisicamente os íons sódio e cálcio e não ocorre despolarização do neurônio, diminuindo atividade do SNC. Xenônio – Compete com a glicina. A glicina é um cofator necessário para a ativação do receptor NMDA. O xenônio compete por este mesmo sítio, reduzindo a ativação dos receptores NMDA. Ação Sob Canais de K Canais de K com domínio de dois poros. Quando há liberação de anestésicos gerais, eles abrem e promovem hiper polarização da célula, dificultando potencial de ação. Podem aumentar ou diminuir condutância. Proteínas Envolvidas com a Fusão de Vesículas de NT A interação dos anestésicos gerais (principalmente os inalatórios), parece inibir a atividade desse complexo proteico, interferindo na liberação de neurotransmissores. Onde Agem os Anestésicos Gerais? Não só, mas principalmente no SNC. Áreas do CNA mais Sensíveis aos Anestésicos Gerais Inconsciência e analgesia: Formação reticular mesencefálica, núcleos talâmicos sensitivos e córtex cerebral Amnésia: Hipocampo e córtex cerebral Perda de reflexos: Medula espinhal Introdução a Anestésicos Parenterais Substâncias étero cíclicas hidrofóbicas ou aromáticas hidrofóbicas. Induzem anestesia cirúrgica mais rapidamente que anestésicos inalatórios. Boas drogas para indução de anestesia devido à necessidade de passar rápido pelas estágios 1 e 2. Meia vida “sensível ao contexto”. Ou seja, depende tanto da forma de administração quanto de fatores que influenciem a distribuição e a metabolização da droga. Podem ser utilizados para indução anestésica associados a anestésicos inalatórios. Podem ser utilizados como anestésicos gerais isolados – manutenção anestésica. Classes de Anestésicos Gerais Parenterais Barbitúricos (Tiopental e Pentobarbital) Alquil-Fenóis (Propofol) Compostos Imidazólicos (Etomidato) Derivados da Fenciclidina (Cetamina e Tiletamina) Esteróides Barbitúricos Apresentada em pH alcalino. Quando administra com uma droga muito ácida, pode-se precipitar o ácido barbitúrico e causar embolia no paciente. Não devem administrar com drogas que reduzam a alcalinidade. A solução de soro fisiológico é a mais indicada para a suspensão. Deve-se evitar administrar tiopental intramuscular ou subcutâneo pois pode causar necrose. Não tem-se muita quantidade de tampões para neutralizar o pH da droga que é muito alcalino. “seria como administra soda cáustica”. Apesar da apresentação em pH alcalino o ácido barbitúrico é um ácido fraco. Sendo assim, quando são administrados em animais com acidose metabólica, a disponibilidade da droga não ionizada (ativa) é maior. Deve-se evitar em cão e gato e quinos devido à peritonite. Tolerância aguda: quanto maior a dose inicial, maior a concentração cerebral. Dose maciça: quando o agente é administrado rapidamente o paciente se recupera rápido. Efeito cumulativo: quando realizadas administrações sucessivas, ocorre um aumento do tempo de recuperação. Mecanismo de ação: Agem sobre receptores GABA A. Agem sobre outros canais abertos por ligantes de Na, Ca, K Potencializam correntes decorrentes da ativação de receptores de glicina Competem com a acetilcolina promovendo relaxamento muscular e apresentando ação sinérgica com relaxantes musculares. Em geral são empregados como agente anestésico úncio, ou como medicação de indução anestésica. Duração de anestesia: Pentobarbital (60 a 120 minutos) e Tiopental (10 a 15 minutos) Durante a anestesia produz relaxamento muscular que permite intubação de cães e equinos. Características Gerais Reduzem ou não alteram pressão ocular Produzem depressão respiratória Atravessam a barreira placentária (contra indicados para gestantes) Recuperação lenta e excitação Proibidascomo agentes anestésicos únicos em grandes animais Associação com medicação pré-anestésica Potente ação hipnótica Baixa ação analgésica Podem induzir arritmias devido a sensibilização do miocárdio a catecolaminas Reduzem o débito cardíaco (droga da eutanásia na 2ª guerra mundial) Reduzem a pressão intra-craniana (podem ser utilizadas em caso de traumas) Propofol É insolúvel em água, sendo formulado em emulsão contendo óleo de soja, glicerol, lectina de ovo e EDTA o que é um excelente meio de cultura para microrganismos. Não deve-se reutilizar ampolas já abertas, facilitando riscos de contaminação. Interações com sub unidades beta. Alta porcentagem de ligação a proteínas plasmáticas Metabolização principalmente hepática e também através de esterases presentes no plasma. Recomendada para anestesias de curta duração Baixa analgesia Indução e recuperação rápidas Contra indicado em paciente idosos, muito idosos ou cardiopatas Reduz PA Produz depressão respiratória Uso clínico Ação anti emética Seguro para fêmeas prenhas Efeitos anti convulsivantes Etomidato Administração intravenosa Interação com subunidades beta do receptor GABA A Metabolização hepática Eliminação através dos rins e bile Medicamentos de escolha para a anestesia de pacientes com comprometimentos cardiovasculares e instabilidades hemodinâmicas Excitação e vômitos frequentes (medicação pré anestésica com metoclopramida, principalmente em cães) Deve ser associado com relaxantes musculares Derivados da Fenciclidina (Tiletamina ou Cetamina) Pode ser administrada pelas vias IV, IM, VO e retal Bloqueia canais associados a receptores NMDA Bloqueia receptores muscarínicos Age como agonista de receptores opióides. NÂO age significantemente sobre receptores GABA A. Não apresenta fenômeno de sequestro pelo tecido adiposo como os barbitúricos Tem metabolização hepática em norceramina, e posterior eliminação deste metabólito através da bile e urina. Na maioria das espécies essa é a principal forma de depuração Em felinos, a principal forma de eliminação é através da excreção urinária. Uso Clínico Associações de cetamina com benzodiazepínicos, agonistas alfa 2 adrenérgicos são amplamente utilizados como agentes anestésicos Induz estado hipnótico diferente de outros anestésicos, caracterizada por falta de resposta a comandos, analgesia e amnésia, porém, a consciência pode estar parcialmente preservada, produzindo assim um estado catapilético Os animais permanecem com olhos abertos, movimentos voluntários, etc. Aumento do tônus muscular Aumento do fluxo sanguíneo Aumenta consumo de O2 no miocárdio Produz poucas alterações respiratórias Potente broncodilatador Induz muita salivação (pode obstruir vias aéreas) principalmente em felinos e ruminantes. Esteróides Anestésicos É insolúvel em água, sendo formulado em emulsão contendo ciclodextrina. Deve ser usado imediatamente e descartado caso não utilize tudo devido à contaminação. Útil para anestesia em períodos curtos Age em receptores GABA A Relaxante muscular Analgesia leve Poucos efeitos cardiovasculares e respiratórios Anestésicos Gerais Inalatórios Administrados via pulmonar, distribuídos pela corrente sanguínea até chegar ao SNC. Quando para de administrar o gás, o anestésico geral deve fazer o caminho inverso. Coeficiente de partição sangue:gás – Relacionada a velocidade de indução e recuperação. Se o anestésico é muito solúvel ao sangue, ficará muito preso ao sangue, demorando mais tempo para sair e ir até o SNC, fazendo com que o tempo de indução seja maior. Da mesma forma, o tempo de recuperação também será maior, pois demorará para sair do sangue e ir para os pulmões. Coeficiente de partição óleo:gás – Relacionada a potência do anestésico Alto coeficiente de partição óleo:gás, maior potência, pois tem maior solubilidade no SNC. Coeficiente de partição borracha:gás – Relacionada ao escape do gás no sistema de anestesia. Concentração alveolar mínima (CAM) – Determina a potência. Medida realizada em laboratório que é a concentração mínima necessária para promover anestesia geral em 50% dos indivíduos. Reflete a concentração alveolar do anestésico. Quanto menor a CAM, maior é a potência do anestésico. Inversamente proporcional ao coeficiente de partição óleo:gás. Dose A CAM varia entre as espécies. Óxido Nitroso Gás incolor e inodoro. Muito ruim como agente anestésico único pois tem baixo coeficiente de partição sangue:gás . Devido a rápida eliminação, pode saturar o ar alveolar e promover hipóxia. Potência muito baixa, CAM muito alta. É usado como adjuvante, reduzindo a quantidade a ser administrada de outros anestésicos inalatórios. Contra indicado em gandes animais mesmo como adjuvante pois pode induzir timpanismo. Acumula-se em cavidades muito grandes. Anestésicos Inalatórios Halogenados (mais usados na clínica) São líquidos voláteis Não são inflamáveis e não são explosivos Agem principalmente por interagirem com a interface entre a subunidade alfa e beta de receptores GABA A. Uso clínico: manutenção anestésica. Halotano Alto C s/g: Indução e retorno lento Alto C o/g: Potência alta 60 a 80% são eliminados pelo pulmão não alterados O restante sofre metabolização hepática através do complexo citocromo P450 Produz o efeito trifluoroacético, que pode adicionar fluoreto a proteínas e isso promove a hepatotoxicidade desta droga. Baixo custo Aumenta pressão intra-craniana Deprime ação de quimio receptores centraiw (animais menos responsivos ao aumento da PCO2) Inibe a resposta de quimio receptores periféricos Hipotensão Reduz fluxo sanguíneo nos rins e fígado Raramente causa necrose hepática Reduz PA Reduz débito cardíaco A frequência cardíaca pode estar aumentada, induz arritmia cardíaca. Relaxamento da musculatura esquelética Agente inalatório com maior propensão de indução da hipertermia maligna, principalmente em humanos e suínos com propensão genética. Isoflurano Baixo Cs/g: Indução e retorno rápido 99% eliminados pelos pulmões inalterados Agente de escolha para portadores de nefro ou hepatopatias Causa vasodilatação cerebral e aumento da pressão intracraniana Depressão respiratória de forma dose dependente Débito cardíaco é mantido Reduz o fluxo sanguíneo renal Não há relatos de hepatotoxicidade Promove relaxamento na musculatura esquelética Enflurano Odor agradável Alto Cs/g: Indução e retorno lentos 80% eliminados pelo pulmão inalterados Restante metabolizado no fígado ou eliminados inalterados na urina Podem ser empregados em pequenos animais e animais silvestres Não devem ser empregados em grandes animais pois a recuperação tem muita excitação, o que é perigoso tanto para o animal quanto para o profissional Reduz PA e contratividade do miocárdio Depressão respiratória importante Aumenta pressão intracraniana Pró convulsivo Reduz o fluxo sanguíneo dos rins Desflurano Baixo Cs/g: Indução e retorno rápidos Muito potente Irritante ao trato respiratório Produz excesso de secreção no trato respiratório, tosse e espasmos da laringe Reduz PA Poucos efeitos cardiovasculares Sevoflurano Baixo Cs/g: Indução e retorno rápido Muito potente Não é irritante das vias aéreas Pode ser utilizado em indução anestésica de crianças Ação broncodilatadora Relaxante muscular Aumenta pressão intracraniana
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