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Módulo III - Planilha orçamentária.pdf Escola de Administração Fazendária ESAF FISCALIZAÇÃO DE PROJETOS E OBRAS DE ENGENHARIA Ficha técnica Coordenador Técnico e Conteudista - Secretaria da Receita Federal do Brasil Athos André do Amaral Rocha Coordenação de Produção Equipe de produção DIEAD/ESAF Planilha Orçamentária – Módulo 3 ...........................................................................4 3.1 A Planilha Orçamentária: principais conceitos e como ela deve ser exigida ......... 4 3.1.1 Os diferentes tipos de orçamento (expedito, preliminar e detalhado) ..........4 3.1.2 Como deve ser o orçamento vinculado ao projeto? .....................................10 3.1.3 Preço: conceito e forma de composição ......................................................15 3.1.4 O lançamento do percentual do ISS na planilha de composição do BDI ....19 Encerramento ........................................................................................................24 Sumário 4 3.1 A Planilha Orçamentária: principais conceitos e como ela deve ser exigida 3.1.1 Os diferentes tipos de orçamento (expedito, preliminar e detalhado) Ao final deste tópico, o aluno será capaz de: § Analisar os diferentes tipos de orçamento e identificar a sua correta aplicação. Um dos itens que integram o pacote de projeto, o orçamento para a execução da obra, após a quantificação dos seus materiais e serviços, é o elemento que possibilitará a formação do preço de venda do objeto. A quantificação, ou seja, a mensuração dos insumos e serviços do projeto, é uma das responsabilidades do projetista. A ABNT NBR 13531:1995 – Elaboração de projetos de edificações – Atividades técnicas, cancelada em 2017, determinava, no seu item 3.4 (Contratação de prestação de serviços técnicos especializados de projetos), alínea “c” , que o cronograma físico- financeiro da obra era uma das etapas que deviam estar previstas na contratação de um projeto. A ABNT NBR 13532:1995 – Elaboração de projeto de edificações – Arquitetura determinava que o Projeto Executivo de arquitetura deveria trazer entre os seus elementos o “memorial quantitativo dos componentes construtivos e dos materiais de construção” (ABNT, 1995, item 4.4.9.2, alínea “b”).1 Ambas as normas foram substituídas pelo conjunto de normas ABNT NBR 16636. A norma técnica ABNT NBR 16636-1:2017 – Elaboração e desenvolvimento de serviços técnicos especializados de projetos arquitetônicos e urbanísticos – Parte 1: Diretrizes e terminologia, traz, no seu item 3 (Termos e definições), o subitem 3.40, conceituando orçamento: 1 ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 13532:1995 – Elaboração de projeto de edifica- ções – Arquitetura. Rio de Janeiro: ABNT, 1995. MÓDULO 3 PLANILHA ORÇAMENTÁRIA 5 3.40 - Elaboração de orçamento Atividade que envolve o levantamento de custos, de forma sistematizada, de todos os elementos inerentes ao projeto e à execução de determinado objeto de construção (ABNT, 2017). A norma técnica ABNT NBR 16636-2:2017 – Elaboração e desenvolvimento de ser- viços técnicos especializados de projetos arquitetônicos e urbanísticos – Parte 2: Projeto arquitetônico, traz como uma das responsabilidades do projetista, na etapa de Projeto Executivo, a elaboração de memoriais quantificativos e de planilhas orça- mentárias como documentos de texto a serem apresentados no projeto (item 6.4.7.2, alínea “b”). Pode ser que essa seja uma novidade para você, mas saiba que poucos profissionais de projeto, principalmente aqueles que atuam na iniciativa privada, têm o domínio dessa informação. Esse fato ocorre pela tendência que temos de que, fina- lizado o projeto, a responsabilidade pelo seu orçamento seja do orçamentista, elabo- rado de forma distante e dissociado do seu projetista, muitas vezes contratado pela construtora somente no momento prévio à execução da obra. Os tipos de orçamento podem variar em precisão e complexidade de acordo com o objetivo pretendido. O orçamento que servirá como uma referência inicial para a avaliação da viabilidade de um empreendimento terá menos complexidade e trará maior margem de erro do que um orçamento final, para obra, advindo de um Projeto Executivo. Esse último, embora de grande complexidade, terá ainda margem de erro aceitável, menor, porém, do que a margem de erro admitida para o primeiro. Conforme o TCU, por meio da Portaria Segecex nº 33, de 7 de dezembro de 2012,2 os orçamentos de obra podem ser classificados em expedito, preliminar e detalhado. 2 BRASIL. Tribunal de Contas da União. Portaria Segecex nº 33, de 7 de dezembro de 2012. Aprova revisão do Roteiro de Auditoria de Obras Públicas, declarando-o documento público, revoga suas versões anteriores, e dá outras providências. Brasília: TCU, 2012. 6 As avaliações expeditas podem ser feitas com base em custos históricos, índices, gráficos, estudos de ordens de grandeza, correlações ou comparação com projetos similares. Podem, por exemplo, ser utilizados índices específicos conhecidos no mercado, a exemplo do CUB, para avaliação expedida do custo de construção de edificações. O CUB é o custo por unidade de área construída para alguns tipos de projetos padronizados estabelecidos pela ABNT NBR 12721:2006 – Versão Corrigida 2:2007 – Avaliação de custos unitários de construção para incorporação imobiliária e outras disposições para condomínios edifícios – Procedimento. Outros exemplos de estimativas de custo são o custo por MW (megawatt) de potência instalada, no caso de usinas termoelétricas, ou a estimativa de custo de rodovias mediante o uso de um custo médio por quilômetro de rodovia construída. Dessa forma, as avaliações expeditas têm como vantagem: a) Possibilitar a análise da viabilidade dos empreendimentos e a escolha da alternativa a ser desenvolvida na etapa de detalhamento dos projetos, sem impor o elevado ônus da elaboração de um orçamento detalhado. b) Não requerer muitas informações detalhadas sobre o projeto, e, por isso, o seu custo é muito menor do que o custo de elaborar um orçamento completo, muito embora a elaboração de uma estimativa requeira muita experiência do estimador, além de conhecimento, sensibilidade e informações atualizadas. c) Avaliar preliminarmente os orçamentos de obras públicas para indicar se o va- lor global do empreendimento está adequado ou não, apesar de ser um método simples e de pouca precisão (BRASIL, 2012, p. 29). O orçamento preliminar é mais detalhado do que a ava- liação expedita de custos, pois pressupõe o levanta- mento de quantidades e requer pesquisa de preços dos principais insumos e serviços. Enquanto a avaliação ex- pedita é utilizada no estudo de viabilidade, o orçamento preliminar costuma ser utilizado na fase de anteprojeto. Os orçamentos preliminares normalmente são elabo- rados quando a execução do projeto de engenharia de 7 detalhamento já foi contratada, o que propiciará a geração de muitos dados, embora não definitivos, para servirem de base para o orçamento. Dessa forma, estarão dis- poníveis para o orçamentista dados como os custos dos serviços de engenharia que já foram contratados, especificações preliminares de equipamentos de processo e de utilidades e listas preliminares de materiais. Também poderá dispor de dados so- bre o tipo de fundações e plantas arquitetônicas das edificações. Apesar do menor grau de incerteza do orçamento preliminar, o orçamentista ainda pode fazer uso de levantamentos expeditos de algumas quantidades e atribuição de custos para alguns serviços. Exemplos de levantamentos expeditos que podem ser utilizados em um orçamento preliminar de obra de edificação: Área d e form as (m ²) = volum e de concr eto (m ³) x 1 2 Peso de aço (kg) = volume de concreto (m ³) x 100 Volume total de concreto (m³) = área construída x 0,16 Volume de remoção de entulho = volume de demolição x 2 Área dereboco = área de alvenaria x 2 8 O orçamento detalhado é elaborado com base nas composições de custos unitários e extensa pesquisa de preço dos insumos. Esse tipo de or- çamento procura chegar a um valor bem próximo do custo real da obra, com uma reduzida mar- gem de incerteza e a sua elaboração ocorre nas fases de Projeto Básico ou Executivo, ou seja, o orçamento detalhado só é justificável se o proje- to apresentar elevado grau de desenvolvimento, o que possibilitará a obtenção de listas completas de materiais. A sua função é servir de base para a licitação da obra, podendo também ser uma ferramenta para o controle de custos de implan- tação do empreendimento. Eventuais aditivos de contrato, quando da execução da obra, deverão sempre se pautar nesse tipo de orçamento (BRASIL, 2012, p. 30). Você sabia que, atualmente, a tecnologia BIM é poderoso instru- mento para a extração de listas completas de materiais e insumos de um projeto, trazendo grande ajuda na sua quantificação para a elaboração do orçamento detalhado? 9 Em relação à precisão esperada para os diferentes tipos de orça- mento, a Orientação Técnica IBR nº 004/2012 do Ibraop3 assim os define: Saiba Mais Tipo de orçamento Estimativa de custo Preliminar Detalhado ou analítico (orçamento base da licitação) Detalhado ou analítico definitivo Estudos preliminares Anteprojeto Projeto básico Projeto executivo Área de construção multiplicada por um indicador. Quantitativos de serviços apurados no projeto ou estimados por meio de índices médios, e custos de serviços tomados em tabelas referenciais. Quantitativos de serviços apurados no projeto, e custos obtidos em composições de custos unitários com preços de insumos oriundos de tabelas referenciais ou de pesquisa de mercado relacionados ao mercado local, levando-se em conta o local, o porte e as peculiaridades de cada obra. Quantitativos apurados no projeto e custos de serviços obtidos em composições de custos unitários com preços de insumos negociados, ou seja, advindos de cotações de preços reais feitas para a própria obra ou para outra obra similar, ou ainda, estimados por meio de método de custos real específico. + 30%* + 20% + 10% + 5% Fase de projeto Cálculo do preço Faixa de Precisão 3 3 IBRAOP – INSTITUTO BRASILEIRO DE AUDITORIA DE OBRAS PÚBLICAS. Orientação Técnica IBR nº 004/2012. Florianó- polis: Ibraop, 2012. p. 4. 10 3.1.2 Como deve ser o orçamento vinculado ao projeto? Ao final deste tópico, o aluno será capaz de: § Observar a necessidade de adequação do orçamento gerado na fase de projeto (orçamento de referência da Administração) ao Decreto nº 7.983/2013. As regras para os orçamentos das obras públicas eram dadas pela Lei de Diretrizes Orçamentárias anualmente, até o ano de 2013. Na ocasião da edição de cada uma da- quelas leis, eram definidos os critérios que deveriam ser obedecidos pela Administra- ção Pública na sua elaboração. Ponto comum entre tais leis era a adoção das tabelas do Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil (Sinapi), mantidas pela Caixa Econômica Federal, por meio de pesquisa de preços no mercado, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e a observação de ex- tração de medianas para os custos apontados naquelas tabelas. No ano de 2013 foi editado o Decreto n° 7.983, de 8 de abril de 2013, que, consolidando o entendimento recorrente daquelas leis de diretri- zes orçamentárias, estabeleceu regras e critérios para a elaboração do orçamento de referência de obras e serviços de engenharia contra- tados e executados com recursos dos orçamentos da União. Observe que no mesmo ano, complementando a jurisprudência sobre o tema, o TCU editou o Acórdão nº 2.622/2013 – TCU – Plenário, que retomava o posicionamento da corte dado no Acórdão nº 2.369/2011 – TCU – Plenário, com análise da incidência do Benefício e Despesa Indireta (BDI) sobre os orçamentos de obras públicas e que teve abor- dagem complementar por meio do Acórdão nº 2.440/2014 – TCU – Plenário. Saiba Mais 11 Para que possamos entender a aplicação do Decreto nº 7.983/2013 aos orçamentos das obras públicas, é necessário retomar alguns conceitos previstos no seu texto: Custo unitário de referência Valor unitário para execução de uma unidade de medida do serviço previsto no orçamento de referência e obtido com base nos sistemas de referência de custos ou pesquisa de mercado. Composição de custo unitário Detalhamento do custo unitário do serviço que expresse descrição, quantidades, produtividades e custos unitários dos materiais, mão de obra e equipamentos necessários à execução de uma unidade de medida. Custo total de referência do serviço Valor resultante da multiplicação do quantitativo do serviço previsto no orçamento de referência por seu custo unitário de referência. Custo global de referência Valor resultante do somatório dos custos totais de referência de todos os serviços necessários à plena execução da obra ou do serviço de engenharia. Uma das questões definidas no Decreto nº 7.983/2013 é a ênfase na utilização das medianas dos custos unitários previstos nas tabelas do Sinapi para a obtenção do custo global de referência: 12 Art. 3º O custo global de referência de obras e serviços de engenharia, exceto os serviços e obras de infraestrutura de transporte, será obtido a partir das composições dos custos unitários previstas no projeto que integra o edital de licitação, menores ou iguais à mediana de seus correspondentes nos custos unitários de referência do Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil – Sinapi, excetuados os itens caracterizados como mon- tagem industrial ou que não possam ser considerados como de construção civil (BRASIL, 2013)4. 4 A demonstração do custo global de referência é feita por meio do orçamento sintético da obra. Conforme Baeta (2012)5, o orçamento sintético, ou planilha orçamentária, é a relação de todos os serviços de uma obra com as respectivas unidades de medida, quantidades e preços unitários. Ou seja, o orçamento sintético é a planilha que demonstra a soma dos custos totais de referência dos serviços, estes conforme o conceito apresentado no Decreto nº 7.983/2013. O orçamento analítico é a apresentação de cada um dos custos unitários dos serviços que integram o orçamento (BAETA, 2012, p. 77). 4 BRASIL. Decreto nº 7.983, de 8 de abril de 2013. Estabelece regras e critérios para elaboração do orçamento de referência de obras e serviços de engenharia, contratados e executados com recursos dos orçamentos da União, e dá outras provi- dências. Diário Oficial da União, Brasília, 2013. 5 BAETA, André A. Pachioni P. – Orçamento e controle de preços de obras públicas –. São Paulo: Pini, 2012. p. 62. 13 Saiba que é bastante comum, até mesmo entre fiscais de projetos e obras da Administração Pública, o erro na interpretação desses dois conceitos. Muitas vezes entende-se o orçamento sintético como sendo apenas um resumo dos itens globais de uma obra (mobilização, infraestrutura, supra- estrutura, instalações, etc.) que, por conta da palavra “sintético” do seu nome, transmite a ideia de síntese e, por consequência, confere ao orça- mento analítico a ideia de uma relação completa de itens que permitiria a “análise” dos custos da obra. Efetivamente, o orçamento sintético é a peça que contém a relação completa dos custos unitários de referência (ou de serviço), e que pela sua soma é definido o valor da obra (ou projeto). O orçamento analítico é peça que contém a relação completa das composi- ções de custos unitários, ou seja, o detalhamento de cada um dos custos unitários de serviço apresentados no orçamento sintético. Fique Ligado O Projeto Básico finalizado deve disponibilizar o orçamento de referência da Adminis- tração, que é uma das peças que integrarão o futuro edital de licitação da obra, de- vendo trazer obrigatoriamente o orçamento sintético, o orçamento analítico, a com- posição do BDI, o cronograma físico-financeiro da obra, o critério de aceitabilidade dos preços6 e as cotações de mercado. Esse último item não deve constar do edital nem ser disponibilizado às licitantes, servindo apenas de instrumento de consulta da Administração para o momento da fase externa da licitação, quando da análise dos orçamentos apresentados pelas proponentes. As cotações de mercado deverão ser feitas para aqueles itens que não constam das tabelas de referência oficiais (Sinapi, Sistema de Custos Referenciais de Obras – Sicro, Sistema de Orçamento de Obras de Sergipe – Orse/SE, Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil – Novacap/ DF, Secretaria de Infraestrutura do Ceará – Seinfra/CE etc.), legalmente aceitas para 6 Na contratação de serviços de engenharia o instrumento convocatório deve estabelecer critérios de aceitabilidade dos preços unitários e global (Decreto nº 7.963/2013, art. 11 e Orientação Normativa AGU nº 5, de 1º de abril de 2009). 14 as composições de custos dos orçamentos da Administração, e têm de ser apresen- tadas com, no mínimo, três cotações para cada item (BRASIL, 2011)7. Na apresentação do orçamento pela licitante deve constar o orçamen- to sintético, o orçamento analítico, a composição do BDI da proponen- te, o cronograma físico-financeiro da obra e a indicação do responsável técnico pelo orçamento, com sua formalização. A responsabilidade técnica pelo orçamento será configurada por meio da Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) – sistema Confea/Crea – de um engenheiro ou de Registro de Responsabilidade Técnica (RRT) – CAU/BR – de um arquiteto e urbanista. 7 BRASIL. Tribunal de Contas da União. Acórdão nº 1.266/2011 – TCU – Plenário. Brasília: TCU, 2011. 15 3.1.3 Preço: conceito e forma de composição Ao final deste tópico, o aluno será capaz de: § Analisar os itens formadores do preço de uma obra e entender o conceito de preço de venda. Aprofundando o tópico anterior, veremos, a seguir, o critério de formação do preço de venda para uma obra. O orçamento referencial para a licitação de uma obra da Administração Pública é elaborado na fase do Projeto Básico pelo projetista e seu orçamen- tista, que iniciará o seu trabalho pela análise dos projetos. Tanto melhor e mais preciso será o orça- mento quanto mais completo for o projeto. Essa é a principal razão pela qual há intensa campanha dos conselhos profissionais, para que as licitações sejam feitas adotando-se o Projeto Executivo de uma obra, e não o Projeto Básico, conforme permi- tido pela Lei nº 8.666/1993. Pela análise do projeto é possível a listagem dos serviços previstos e a sua quanti- ficação. A etapa seguinte é o cálculo do custo unitário de cada serviço, o orçamento analítico, com a apresentação das composições de custos unitários. O orçamento analítico permitirá a consolidação do orçamento sintético e a aplicação do BDI. Con- forme o Decreto nº 7.983/2013, sobre o custo global de referência (advindo do orça- mento sintético), deve ser aplicada a taxa de BDI contendo, minimamente, os seguin- tes itens: I. Taxa de rateio da Administração central. II. Percentuais de tributos incidentes sobre o preço do serviço, excluídos aqueles de natureza direta e personalística que oneram o contratado. III. Taxa de risco, seguro e garantia do empreendimento. IV. Taxa de lucro. Análise do projeto 16 Há ainda outros itens que poderão integrar o BDI, representando as despesas aplicadas à realidade de cada tipo de empresa, como as despesas administrativas e as despesas financeiras. A primeira refere-se ao desembolso quando da contratação de serviços com alocação de postos de trabalho. A segunda, “aos gastos relacionados à perda decorrente da defasagem entre a data do efetivo desembolso e a data da receita correspondente” (BRASIL, 2001)8. O Acórdão n° 325/2007 – TCU, no entanto, fundamenta que tais despesas não devem incidir sobre equipamentos, e que a despesa financeira não deve incidir sobre serviços9. Importante Há, no entanto, itens não recomendados para inclusão no BDI (MENDES, 2013, p. 42), quando da elaboração do orçamento de referência pela Administração, embora possam constar do BDI ofertado pela licitante no momento da licitação. São eles: o Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). Ao incluí-los, a licitante deve apresentá-los de forma destacada na composição do BDI. A fórmula de cálculo do BDI para as obras da Administração Pública consta do Acórdão nº 2.369/2011 – TCU – Plenário, consolidada no Acórdão nº 2.622/2013 – TCU – Plenário. Esse último traz ainda valores médios orientativos para o BDI e seus componentes, conforme o tipo de obra, e que servem de referência para a montagem do orçamento da Administração. 8 BRASIL. Tribunal de Contas da União. Revista do TCU, Brasília, v. 32, n. 88, abr./jun. 2001. 9 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Nota Técnica n° 3/2009 – SCI. Brasília: STF, 2009. p. 4. 17 Com o cálculo do BDI, finalmente é possível obter o preço de venda (PV), que é o resultado da aplicação do percentual do BDI ao custo direto da obra (BRASIL, 2013, art. 2º, inciso VI), dado pela fórmula abaixo: PV = CD (1 + %BDI) onde: CD é o custo direto da obra. Observe No caso de obras e serviços de engenharia, na oferta do BDI deve ser considerado também o BDI reduzido para materiais e equipamentos de natureza específica e que representem valor significativo da obra. Vejamos o que destaca o Decreto n° 7.983/2013, no seu art. 9º, parágrafo 1º: § 1º Comprovada a inviabilidade técnico-econômica de parcelamento do objeto da licitação, nos termos da legislação em vigor, os itens de forneci- mento de materiais e equipamentos de natureza específica que possam ser fornecidos por empresas com especialidades próprias e diversas e que repre- sentem percentual significativo do preço global da obra devem apresentar incidência de taxa de BDI reduzida em relação à taxa aplicável aos demais itens (BRASIL, 2013). 18 Esses equipamentos e materiais podem ser, por exemplo, máquinas de ar-condicio- nado, elevadores, grupos geradores, divisórias, mobiliário, estabilizadores e nobreaks, ou seja, todos aqueles cuja fabricação ou montagem tenham processo que não seja de domínio da licitante (ou contratada), e que, dada a sua especificidade, tenham for- necedores que detenham tal domínio. O Acórdão nº 2.452/2017 – TCU – Plenário informa que uma taxa de BDI acima do limite referencial da Administração Pública não representa, por si só, superfaturamento, desde que o preço contratado (preço de venda) esteja compatível com o preço de mercado. 19 3.1.4 O lançamento do percentual do ISS na planilha de composição do BDI Ao final deste tópico, o aluno será capaz de: § Identificar a forma correta de lançamento do tributo Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) na composição do BDI em relação às diferentes legislações municipais. Um dos tributos incidentes no cálculo do BDI é o ISS. A incidência desse imposto segue legislação municipal, ou seja, varia conforme o município onde será executada a obra. Por essa razão deve-se ter muito cuidado quando do seu lançamento na composição do BDI. Além de ter variação de alíquota conforme o município, ainda pode haver va- riação da incidência da alíquota. Alguns municípios têm na sua legislação a previsão de incidência da alíquota sobre todo o orçamento (material e mão de obra previstos na planilha orçamentária). Outros, no entanto, fazem incidir tal alíquota somente so- bre a mão de obra, isentando sua incidência sobre materiais. Nesses casos, para efeitos de facilitação do cálculo do BDI e para que não se incorra em erro ou descuido no percentual do ISS a ser considerado, o que poderia configurar o enriquecimento da contratada, exigindo eventualmente a revisão de contrato, é feito cálculo de uma alíquota proporcional do ISS, que, considerada somente sobre a mão de obra, pode ser lançada diretamente na planilha do BDI que será aplicado a todos os itens da planilha orçamentária. 20 A fórmula de cálculo do ISS proporcional é assim descrita: ISSdif = [VMO (sem BDI) / VT (sem BDI)] x % ISSmun onde: ISSdif = ISS diferenciado; VMO (sem BDI) = soma dos valores da mão de obra sem a incidên- cia do BDI; VT (sem BDI) = valor total da obra (material e mão de obra) sem a incidência do BDI; % ISSmun = alíquota do ISS conforme legislação municipal. Observe Assim, calculado esse ISS diferenciado, pode-se lançá-lo diretamente na planilha de cálculo do BDI. Vejamos, a seguir, as duas formas de cálculo do BDI, considerando ISS incidente somente sobre a mão de obra para um dado município. A primeira é a forma incorreta, ao fazer incidir a alíquota do ISS em todos os itens da planilha orçamentária, indistintamente. A segunda é fazendo incidi-la somente sobre a mão de obra, pelo cálculo do ISS proporcional, conforme a fórmula acima demonstrada. 21 Tabela 1 – Exemplo de ISS lançado de forma incorreta na planilha de cálculo do BDI Lucro Tributos Cálculo do BDI = PIS COFINS ISS Seguros Garantias Riscos PLANILHA DE COMPOSIÇÃO DO BDI Despesas Indiretas Despesas Financeiras 0,25423 6,38% 1,21% 7,58% 7,65% Administração Central 4,67% 0,74% 0,00% 0,97% 0,65% custo global do contrato R$ 4.000.000,00 custo dos materiais R$ 3.000.000,00 custo da mão de obra R$ 1.000.000,00 Alíquota do ISS para o município de Zelig 4% Alíquota do ISS proporcional 1,00% TOTAL DO BDI (custo global do contrato x 25,42%) R$ 1.016.800,00 PREÇO DE VENDA (custo global do contrato + BDI) R$ 5.016.800,00 CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA 3,00% 0,00% BDI - 25,42% Lançamento incorreto da alíquota do ISS Taxa do BDI que incidirá sobre todo o orçamento 4,00% (1+(AC +S+G+R)) x (1+DF) x (1+L) (1- I) -1 = 22 Tabela 2 – Exemplo de ISS lançado de forma correta na planilha de cálculo do BDI Lucro Tributos Cálculo do BDI = PIS COFINS ISS Seguros Garantias Riscos PLANILHA DE COMPOSIÇÃO DO BDI Despesas Indiretas Despesas Financeiras 0,21477 6,38% 1,21% 7,58% 4,65% Administração Central 4,67% 0,74% 0,00% 0,97% 0,65% custo global do contrato R$ 4.000.000,00 custo dos materiais R$ 3.000.000,00 custo da mão de obra R$ 1.000.000,00 Alíquota do ISS para o município de Zelig 4% Alíquota do ISS proporcional 1,00% TOTAL DO BDI (custo global do contrato x 21,47%) R$ 858.800.00 PREÇO DE VENDA (custo global do contrato + BDI) R$ 4.858.800,00 CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA 3,00% 0,00% BDI = 21,47% Lançamento correto da alíquota do ISS Taxa do BDI que incidirá sobre todo o orçamento 1,00% (1+(AC +S+G+R)) x (1+DF) x (1+L) (1- I) -1 = Na tabela 1, a alíquota de 4% do ISS foi incluída integralmente no cálculo do BDI. Essa iniciativa está incorreta, pois para o município em questão a legislação municipal considera tal tributo incidindo apenas sobre a mão de obra. Como o BDI é um valor percentual corretamente aplicado sobre todo o custo do contrato (R$ 4.000.00,00), essa alíquota é transportada indiretamente também para os valores do material. Na tabela 2, ao calcular-se a alíquota proporcional do ISS, ainda que o BDI resultante seja aplicado sobre o custo global do contrato, a incidência do ISS proporcionalmen- te será apenas sobre a mão de obra. 23 Observe que, no exemplo em questão, para o valor aproximado da obra de R$ 5.000.000,00, equivalente a um prédio de 3.300 m², de padrão médio, o erro na estimativa do seu preço seria aproximadamente de R$ 150.000,00. Caso a obra a ser construída tivesse área total de 33.000 m², ou seja, dez vezes maior que a do nosso exemplo, o erro no valor do orçamento pelo simples equívoco na forma de lançamento do ISS seria da ordem de R$ 1.580.000,00. Fique Ligado 24 Encerramento Neste Módulo 3 destacou-se exclusivamente a ela- boração de planilhas orçamentárias, devido à sua importância dentro do processo licitatório. Tratou- -se inicialmente do orçamento de referência da Ad- ministração para a contratação das suas obras, cuja forma de elaboração é definida em decreto da Presi- dência da República. Para os estudos preliminares de uma obra, foi feita a distinção entre os possíveis tipos de orçamento (expedito, preliminar e detalhado), a forma de composição do preço (preço de venda) de uma obra e a formação do BDI, com a particularidade de correta definição do percentual do ISS nele incidente. Esses conceitos também serviram de base para a discussão da forma e das possibilidades de eventual concessão de aditivos de obra, um dos temas a serem discutidos no próximo módulo. _GoBack 3.1 A Planilha Orçamentária: principais conceitos e como ela deve ser exigida 3.1.1 Os diferentes tipos de orçamento (expedito, preliminar e detalhado) 3.1.3 Preço: conceito e forma de composição 3.1.2 Como deve ser o orçamento vinculado ao projeto? 3.1.4 O lançamento do percentual do ISS na planilha de composição do BDI Encerramento Módulo II - Projeto de edificações.pdf Escola de Administração Fazendária ESAF FISCALIZAÇÃO DE PROJETOS E OBRAS DE ENGENHARIA Ficha técnica Coordenador Técnico e Conteudista - Secretaria da Receita Federal do Brasil Athos André do Amaral Rocha Coordenação de Produção Equipe de produção DIEAD/ESAF Projeto de edificações – Módulo 2 ...........................................................................4 2.1 O que é o projeto de edificações e como contratá-lo? ............................................ 4 2.1.1 A importância de um bom projeto para a futura atividade de manutenção predial da edificação .............................................................................................4 2.1.2 Como um bom projeto determina o custo de uma obra ao longo de toda a sua vida útil? ..........................................................................................................7 2.1.3 O projeto começa pela contratante. Quais objetivos desejo alcançar? Como deverá ser o edifício que pretendo construir? Quais preceitos deve atender? Premissas de projeto ...........................................................................13 2.1.4 Familiarizando-se com a terminologia aplicada ao projeto. Quais as diferenças entre Memorial Descritivo, (Caderno de) Especificações Técnicas e Caderno de Encargos? ......................................................................19 2.1.5 A contratação do projeto: qual é a modalidade de licitação mais indicada? ..............................................................................................................22 2.1.6 A diferença entre direito autoral e direito patrimonial: autores e coautores ..........................................................................................................34 2.2 Como receber um projeto de edificações? .............................................................42 2.2.1 O recebimento do projeto: o que deve ser observado? ................................42 2.2.2 A responsabilidade do gestor de contrato ....................................................44 2.2.3 A importância da observação da representação gráfica na apresentação de projetos ...................................................................................48 2.3 Coordenando um projeto de edificações ................................................................54 2.3.1 A coordenação do projeto de edificações .....................................................54 2.3.2 A compatibilização dos projetos ...................................................................57 2.3.3 O “projeto-mãe” em projetos de edificações ................................................60 2.3.4 A plataforma BIM e o seu papel na coordenação e na compatibilização dos projetos ...........................................................................64 Encerramento ........................................................................................................70 Sumário 4 2.1 O que é o projeto de edificações e como contratá-lo? 2.1.1 A importância de um bom projeto para a futura atividade de manutenção predial da edificação Ao final deste tópico, o aluno será capaz de: § Identificar os principais conceitos para o desenvolvimento de um projeto eficiente. Os projetos da construção civil, nesses incluídos os projetos de edificações, além de serem, por sua natureza, roteiros para as atividades que concorrerão para a execução do objeto, são igualmente ferramentas de análise para as possíveis soluções técnicas a serem aplicadas no processo construtivo. A palavra projeto significa, genericamente, intento, desígnio, empreendimento e, também, um conjunto de ações, caracterizadas e quantificadas, necessárias à concretização de um objetivo. Embora este sentido aplique-se a diversos campos de atividades, em cada um deles o projeto materializa-se de forma específica. O objetivo principal de um projeto é a execução da obra idealizada pelo arquiteto ou engenheiro. Essa obra deve adequar-se aos con- textos naturais e culturais em que se insere e responde às necessi- dades do cliente e dos futuros usuários do objeto construído. As exigências do cliente e dos usuários exprimem-se por meio do pro- grama de necessidades que define metodologicamente o produto final. Tome Nota Projeto de construção MÓDULO 2 PROJETO DE EDIFICAÇÕES 5 Diante disso, as soluções técnicas que deverão ser empregadas para a consecução da obra devem atender aos princípios da racionalidade, da economicidade, da funcionalidade e do desempenho. Considerando os conceitos de Vitrúvio (2007, p. 82),1 os projetos de arquitetura de- vem atender cumulativamente aos princípios básicos “utilitas” (utilidade, uso, funcio- nalidade, proveito, vantagem), “firmitas” (solidez, firmeza, consistência, robustez) e “venustas” (beleza, elegância, estética). Tais conceitos resumem as qualidades que se pretende para o projeto arquitetônico, demonstrando que o objeto construído deve conciliar desempenho, economia e estética. Pode-se, assim, concluir que o edifício ou a obra deve ter características que atendam à sua durabilidade e conservação. Com esse objetivo, o projeto deverá também servir à correta escolha de soluções que de- terminem o melhor funcionamento do objeto construído, muito além da sua concepção ou construção. No projeto é que são definidos os conceitos e as técnicas que garantirão a per- manência da construção, principalmente no quesito manutenção. Recentemente, a ABNT editou um conjunto de normas aplicado ao desempenho das edificações. Muito embora tal norma traga na sua origem a destinação às edificações habitacionais, pode-se tomá-la como referência para qualquer tipo de edifício em que se pretenda condições de bom desempenho. Uma das premissas básicas dessa normativa é a durabilidade dos elementos da construção, denotando grande preocupação com a manutenção do edifício. A Administração Pública, por suas características (necessidade de racionalização dos custos, orçamentos limitados e inconstantes, falta de equipes permanentes para conservação), tem como um dos grandes desafios a manutenção do seu patrimônio construído. 1 VITRÚVIO, P. Tratado de arquitetura/Vitrúvio. Tradução, introdução e notas de M. Justino Maciel. São Paulo: Martins Fontes, 2007. 6 Importante Por essa razão, boas escolhas na fase de projeto definirão o custo para a Administração na conservação e na manutenção das suas construções por longo período. Percebe-se, dessa condição, que o projeto, muito além de ser um roteiro para a constru- ção do objeto, é, antes de tudo, uma ferramen- ta para experimentação das soluções para o bom desempenho da obra ou do edifício, pos- sibilitando a escolha das melhores soluções técnicas, aquelas que trarão o equilíbrio entre custo de construção, custo de manutenção e funcionalidade, aí considerados a eficiência e o conforto. Você, como gestor do contrato de projeto, ao elaborar o seu Termo de Referência ou Projeto Básico, deve observar com cautela tais premissas, de forma a conduzir a sua elaboração pelo caminho da racionalidade, da economia e do desempenho. As definições e as exigências dadas no Termo de Referência ou Projeto Básico devem ser tais que condicionem a elaboração do projeto, para que esse atenda aos objetivos aqui já mencionados. Essas escolhas recairão sobre os tipos de materiais, a forma de ordenação dos espa- ços, a morfologia dos elementos etc. Assim, é importante que se observe a vantagem que se terá sobre a escolha de um material em detrimento de outro, do tamanho da edificação frente às necessidades do órgão, ou até mesmo da observância ao índice de compacidade2 ou da forma do edifício. 2 Índice de compacidade – É a relação percentual existente entre o perímetro de um círculo de igual área do projeto e o pe- rímetro das paredes exteriores do projeto, conforme a definição de Mascaró. (Mascaró, Juan Luís – O custo das decisões arquitetônicas – 5. ed. Porto Alegre: Masquatro Editora, 2010) 7 Por Exemplo Como exemplo, citamos a escolha de esquadrias de ferro para a vedação das fachadas externas de um edifício em zona litorânea. Certamente toma-se aqui a condição extrema e até mesmo inadmissível, visto que, nas condições atmosféricas daqueles ambientes, jamais se optaria pela escolha de elementos ferrosos para tal uso. A escolha correta nesse caso seria, por exemplo, esquadrias de alumínio, com pintura por anodi- zação ou eletrostática, com durabilidade adequada àquelas condições ambientais. Muito embora seja senso comum no meio da arquitetura e da engenharia, a obviedade por tal escolha (esquadrias de alumínio para a vedação de fachadas em edificações de ambientes litorâneos), ainda assim é possível encontrar projetos (mal) especificados trazendo aquela condição (especificação de esquadrias de ferro naqueles ambientes). Nos órgãos públicos, os setores que são responsáveis pelos projetos normalmente são diversos daqueles responsáveis pela manutenção das edificações (ou outras obras da construção civil ou de infraestrutura viária). A boa especificação, quando da elaboração desses projetos, poderá contribuir para a desoneração do trabalho e do custo despendidos futuramente pelos seus setores de manutenção. 2.1.2 Como um bom projeto determina o custo de uma obra ao longo de toda a sua vida útil? Ao final deste tópico, o aluno será capaz de: § Reconhecer a importância do projeto no ciclo de vida de uma edificação. No tópico anterior, foram apresentadas as relações existentes entre a boa especifica- ção de um projeto e o custo de manutenção do objeto construído. Veja que as esco- lhas corretas no momento das especificações têm, entre outros quesitos, a função de desonerar o custo de manutenção futura das edificações ou outras obras. 8 O custo de um projeto é sensivelmente me- nor do que os custos envolvidos na execução da obra. Por essa razão, perceba que é mais lógico e sensato concentrar esforços nes- sa importante etapa, evitando, por exemplo, economias irresponsáveis e permitindo que nessa ocasião possam ser avaliadas todas as possibilidades técnicas para a consecu- ção do objeto pretendido. Afinal, é infinitamente mais fácil alterar um desenho, ou até mesmo descartar-se um conjunto de elementos impressos, do que demolir uma estrutura de concreto. O projeto, portanto, é o momento para a experimentação e o teste de possibilidades. Para ilustrar a importância que tem um projeto na construção civil, veja a imagem a seguir. Como vai querer seu projeto? RÁPIDO BARATO QUALIDADE GRÁTIS Mal feito Não existe Bem pago Utopia Não pode ser feito Faça você Lixo 9 Perceba, portanto, algumas verdades sobre o projeto: Esqueça projetos rápidos, sem custos e ainda assim com qualidade. Eles não existem, muito embora essa (projetos não remunerados) não seja uma realidade possível na Administração Pública; Projetos com prazos curtos de elaboração e com custo baixo geralmente são mal feitos; Projetos com prazo de elaboração exíguo e com boa qualidade têm alto custo. Escolha a forma de licitação mais adequada ao objeto a contratar; Estabeleça corretamente o cronograma para a elaboração de projetos; Por meio de pesquisa de preços, estabeleça a justa remuneração devida ao serviço de projeto e que servirá de referência à licitação. 01 02 03 03 02 01 Diante disso, você, na condição de gestor público, deve observar criteriosamente alguns aspectos na sua contratação: Esqueça projetos rápidos, sem custos e ainda assim com qualidade. Eles não existem, muito embora essa (projetos não remunerados) não seja uma realidade possível na Administração Pública; Projetos com prazos curtos de elaboração e com custo baixo geralmente são mal feitos; Projetos com prazo de elaboração exíguo e com boa qualidade têm alto custo. Escolha a forma de licitação mais adequada ao objeto a contratar; Estabeleça corretamente o cronograma para a elaboração de projetos; Por meio de pesquisa de preços, estabeleça a justa remuneração devida ao serviço de projeto e que servirá de referência à licitação. 01 02 03 03 02 01 10 Em relação à manutenção do futuro objeto construído, a questão ganha ainda mais importância. De acordo com a Lei de Sitter,3 ou “Lei dos 5”, tomando-se novamente como exemplo uma estrutura de concreto, o custo para uma intervenção de correção, desde o projeto até a manutenção corretiva, aumenta em progressão geométrica, de razão 5 (SITTER, 1984 apud HELENE, 1992)4. Assim, pode-se dizer que, arbitrando que o custo para uma eventual correção de erro no objeto seja 1, durante a fase de elaboração do projeto, a mesma correção na fase de execução da obra terá custo 5, na fase de manutenção preventiva terá custo 25 e, finalmente, na fase de manutenção corretiva alcançará o custo de 125. 125 25 51 25 50 75 100 125 C u st o d a In te rv en çã o D u ra n te o P ro je to D u ra n te a E xe cu çã o D u ra n te a M an u te n çã o P re ve n ti va D u ra n te a M an u te n çã o C o rr et iv a Lei de Sitter Custo unitário arbitrado 0 2 431 Tempo decorrido Esse mesmo princípio pode ser aplicado, por extensão, às outras disciplinas (instala- ções) das obras ou edificações. Neste tópico, identificaremos quais são as principais escolhas que podem concorrer para a racionalização do ambiente construído ao longo da sua vida útil, em conso- nância com as boas práticas construtivas, à normativa técnica ou legislação vigente. 3 SITTER, W. R. Costs for service life optimization: the law of fives. In: CEB-RILEM. Durability of concrete structures. Procee- dings of the International Workshop held in Copenhagen, on 18-20 May 1983. Copenhagen, 1984. (Workshop Report by Steen Rostam). 4 HELENE, P. R. L. Manual para reparo, reforço e proteção de estruturas de concreto. 2. ed. São Paulo: Pini, 1992. 213 p. ISBN 85-7266-010-0. 11 Conforme o art. 2º, item III, do Decreto nº 2.271, de 7 de julho de 1997 (dispõe sobre a contratação de serviços pela Administração Pública Federal direta, autárquica e fundacional e dá outras providências), as contratações da Administração devem demonstrar os resultados que serão alcançados em termos de economicidade e de melhor aproveitamento dos recursos humanos, materiais ou financeiros disponíveis. No caso das especificações de projetos, as soluções adotadas terão íntima relação com o comando dado nesse artigo do referido decreto. Ainda que o conceito de um bom proje- to seja de difícil definição, visto tratar-se de percepção subjetiva, para a qual con- tribuem diversas variáveis e referências, pode-se delimitar os requisitos mínimos que devem ser atendidos para que o re- sultado seja adequado aos objetivos da Administração Pública. É nesse sentido que recentemente os Poderes Legislativo e Executivo têm editado leis e normas que buscam o aumento da eficiência da máquina pública, refletida inclusive na constru- ção das suas instalações. Importante Instruções Normativas que definem eficiência energética, otimi- zação de recursos e critérios de sustentabilidade ambiental são normas que atualmente devem ter observância obrigatória pela Administração. Dentro dessa condição, seguem algumas iniciativas específicas aplicadas à elabora- ção de projetos da construção civil pelo poder público: 1. Escolha de materiais locais, de fácil obtenção no entorno da construção: essa iniciativa atende aos critérios de sustentabilidade ambiental, visto que 12 possibilita menor impacto na natureza, pela diminuição das distâncias de transporte – atividade poluidora – para os insumos da obra, com reflexo no seu custo; 2. Escolha de materiais produzidos no país, por empresas nacionais ou naciona- lizadas: essa iniciativa traz reflexos diretos na economia do objeto construído, visto que diminui o custo para a sua contratação e manutenção; 3. Escolha de materiais com melhor eficiência energética, como, por exemplo, luminárias em LED (light emitting diode – ou diodo emissor de luz), sistema de iluminação com baixo consumo de energia e que, consequentemente, diminui os gastos com energia elétrica ao longo da vida útil do edifício ou obra; 4. Escolha de sistemas de ar condicionado com alta eficiência energética, que, a exemplo das instalações de iluminação em LED, proporcionam economia de energia, e, com isso, menor gasto com energia elétrica; 5. Reúso de água, iniciativa que atende principalmente a dois requisitos básicos: a sustentabilidade ambiental e o menor consumo de água tratada, refletindo diretamente no custo do seu fornecimento; 6. Escolha de espécies vegetais nativas nos projetos de urbanização ou paisa- gismo: essa iniciativa possibilita a melhor adaptação e a baixa manutenção dos espaços ajardinados das edificações ou obras, refletindo na economia dos recursos despendidos pela Administração Pública; 7. Escolha de materiais duráveis e com baixa manutenção quando da especifi- cação dos projetos (exemplo: escolha de esquadrias de alumínio ou PVC para a vedação de fachadas): essa condição evita a necessidade de retificação e repintura dos elementos (quando especificados em madeira ou ferro), econo- mizando recursos financeiros para os órgãos públicos. Somam-se a essas considerações inúmeras outras possíveis e que ampliariam bastante a lista acima. Essas escolhas e definições podem encontrar iniciativa por ação de bons projetistas. 13 Importante É vital, no entanto, que tais exigências emanem da contratante, a Administração Pública, quando da elaboração dos seus editais de contratação. Essa é uma das razões pelas quais é importante – e recomendável – que os órgãos públicos contem nos seus quadros com profissionais habilitados, engenheiros e arquitetos, com qualificação permanente, para a contratação de projetos e obras da construção civil e de infraestrutura viária, tema já abordado no Módulo 1. 2.1.3 O projeto começa pela contratante. Quais objetivos desejo alcançar? Como deverá ser o edifício que pretendo construir? Quais preceitos deve atender? Premissas de projeto Ao final deste tópico, o aluno será capaz de: § Identificar os itens obrigatórios a serem observados quando da elaboração do programa de necessidades para a contratação de um projeto de edificações. Complementando as ideias trazidas nos tópicos anteriores, neste tópico serão abordadas as iniciativas por parte do gestor do contrato quando da contrata- ção de um projeto da construção civil. É de grande responsabilidade a atuação do gestor, não somente por sua condição de agente público, e que, portanto, deve obedecer às regras e condutas predeterminadas, mas também pela condição de responsável pela contratação de objeto que terá longa vida útil e que poderá gerar grande impacto socioambiental. Objetos da construção civil são concebidos para durarem dezenas de anos, e, por essa razão, devem ser muito bem pensados, antes do início da primeira escavação. 14 Note que a definição do resultado esperado é tarefa que requer complexo estudo e envolvimento. Certamente projetistas podem dar essa resposta. A medida dessa resposta, no entanto, está intrinsecamente condicionada às orientações e premissas definidas pela contratante, nesse caso o poder público. Mais uma vez, a figura do arquiteto ou engenheiro como gestor desses contratos é fundamental. Inicialmente, pode-se dizer que as edificações ou obras contratadas pela Administração Pública devem considerar o seu custo e o seu resultado final. Não devem ser onerosas, dada a limitação de recursos e a responsabilidade social do poder público, mas também não devem ter custo de construção excessivamente baixo, que venha a onerar o custo do seu uso, conservação e manutenção, conforme já explicitado anteriormente. Importante O valor de uma obra deve ser medido por todo o período da sua vida útil, o que inclui a sua concepção, execução, usufruto e even- tual demolição. Conforme a ABNT NBR 15575-1:2013 – Edificações habitacionais – Desempenho – Parte 1: Requisitos gerais, a durabilidade do edifício e de seus sistemas é um requisito econômico do usuário, pois está diretamente associado ao custo global do bem imóvel.5 Esse conceito, embora seja dado por norma especificamente aplicada a edificações, e do tipo habitacional, pode, como já foi aqui ilustrado, ser aplicado a qualquer objeto da construção civil. 5 ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 15575-1:2013 – Edificações habitacionais – Desempenho – Parte 1: Requisitos gerais. Rio de Janeiro: ABNT, 2013. p. 31. 15 Essa, infelizmente, não é a orientação obtida a partir da legislação que rege as contratações da Administração Pública, em que comu- mente se observa para essas apenas o critério do custo do seu pro- jeto e construção. O gestor do contrato não deve, porém, limitar-se a tal regra, mas buscar o equilíbrio entre o custo do projeto e da exe- cução e o custo da sua manutenção, desembolso que será perma- nente e que onerará os gastos da Administração Pública durante muitos exercícios financeiros. Profissionais habilitados – arquitetos e engenheiros – são os únicos capazes de dar tal resposta. Observe Devem ser considerados requisitos de desempenho e funcionalidade, que concedam ao ambiente construído boas condições de uso e habitabilidade, proporcionando aos seus usuários (agentes públicos e população em geral) bem-estar e conforto. Como agente incentivador da transformação social e econômica, a Administração tem papel na inovação tecnológica quando da elaboração dos seus projetos da construção civil. Iniciativas que não são tomadas pelo setor privado, senão pelo lucro, têm no setor público o seu fomento. O poder público, como contratante de obras, tem potencialmente grande capacidade de transformação das nossas cidades. Veja que, por essa razão, as obras contratadas pela Administração devem trazer entre as suas características a adequação ao entorno e o baixo impacto ambiental. Os requisitos que devem ser buscados são o baixo consumo energético, a baixa geração de resíduos o bom desempenho térmico e acústico e a durabilidade. Condicionando a 16 atuação da Administração Pública nas contratações de projeto, há vasta legislação. Uma das normativas mais recentes é a Lei n° 13.647, de 9 de abril de 2018, que obriga a instalação de equipamentos economizadores de água nos sanitários públicos de todas as novas edificações públicas a partir da data da sua vigência. Outro requisito igualmente importante é a preocupação com o aspecto visual da obra, em relação à sua inserção no ambiente e ao seu impacto estético. Como agente transformador do ambiente construído, o poder público, na condição de contratante, deve também considerar a harmonia e a beleza das suas obras, elementos que serão permanentes na paisagem. Devem ser evitados, por exemplo, os chamados “projetos-monumento”, assim entendidos como aqueles que têm apelo temático ou simbólico, cuja forma possa gerar polêmica ou dificuldade de aceitação (ver figura 3), ou que não tenha relação com a função do objeto,6 um dos princípios norteadores da arquitetura. Objetos de arquitetura que optem por trazer apelo simbólico podem fazê- lo de forma sutil e indireta, remetendo à diretriz da sua concepção. Exemplos bem- sucedidos dessas iniciativas são o edifício-sede do Banco Central do Brasil (Bacen), em Brasília, do arquiteto Hélio Ferreira Pinto7 (ver figura 4), e a ponte da mulher (el puente de la mujer), de autoria do arquiteto espanhol Santiago Calatrava (ver figura 5), no bairro Puerto Madero, em Buenos Aires. O primeiro é inspirado em imagem gravada no dobrão, moeda do período imperial, de 1725. O segundo representa um casal dançando tango, manifestação artístico-cultural típica da Argentina, considerada patrimônio oral e imaterial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). 6 “A forma segue a função” é um dos princípios da escola modernista de design Bauhaus, da década de 1910, que teve grande influência na arquitetura desde então, ao defender a adoção de desenhos funcionais nos objetos, em oposição à ornamentação. GROPIUS, W. The new archictecture and Bauhaus. New York: MIT Press, 1965. 7 Disponível em: <https://www.bcb. gov.br/pre/Historia/HistoriaBC/historia_BC.asp>. Acesso em: 10 abr. 2018. 17 Figura 3 - Centro de Ecologia em Kunshan – China (http://engenhariae.com.br/curiosidades/foi-inaugurado-na-china-esse-edificio-que-mais-parece-um- caranguejo-gigante/ último acesso em 10 de abril de 2018) Figura 4 - https://www.bcb.gov.br/Pre/Surel/RelAdmBC/2012/orientacoes- estrategicas-do-banco-central- do-brasil/index.html último acesso em 10 de abril de 2018 18 Figura 5 - Arquivo pessoal Considere que as edificações e as demais obras da Administração Pública devem ser sóbrias, para que transmitam as ideias de racionalidade e imparcialidade, ou inovadoras, por meio do emprego de novas técnicas, conceitos ou materiais, para que transmitam a preocupação com a evolução social ou tecnológica do homem. Essas duas características devem estar sempre acompanhadas do princípio da economicidade. Assim, diante dos conceitos apresentados, pode-se resumir os objetivos e as premis- sas para as obras contratadas pela Administração Pública e que deverão fazer parte do programa de necessidades dos projetos: 19 Desempenho térmico e acústico, visando à diminuição do custo do objeto ao longo da sua vida útil; Durabilidade e facilidade de manutenção; Funcionalidade, com ambientes integrados e adaptáveis às diversas configurações de leiaute, de forma a diminuir o impacto financeiro quando da reorganização dos espaços; Formas harmônicas e beleza; Inserção e adaptação ao entorno, obedecendo a critérios ambien- tais, sociais e culturais do local; Inovação tecnológica. 2.1.4 Familiarizando-se com a terminologia aplicada ao projeto. Quais as diferenças entre Memorial Descritivo, (Caderno de) Especificações Técnicas e Caderno de Encargos? Ao final deste tópico, o aluno será capaz de: § Destacar quais documentos exigir conforme os tipos específicos de projeto; § Relembrar os conceitos aplicados ao tema “projeto de edificações”. Na contratação dos projetos da construção civil, é importante que o gestor do con- trato tenha clareza quanto ao significado da terminologia aplicada, permitindo, assim, que os editais tragam correta apresentação dos conceitos e das definições. É comum entre os profissionais de engenharia e arquitetura a confusão entre os conceitos de Memorial Descritivo, (Caderno de) Especificações Técnicas e Caderno de Encargos, razão pela qual compete à contratante o seu esclarecimento, por meio do documento editalício. Essa condição não somente evita a eventual impugnação do edital como traz segurança jurídica ao órgão público. 20 Esses conceitos são definidos abaixo, de acordo com o TCU:8 (Caderno de) Especificações Técnicas Texto no qual se fixam todas as regras e condições a serem seguidas pelo contratado para a execução de cada um dos serviços da obra, caracterizando individualmente os materiais, os equipamentos, os elementos componentes, os sistemas construtivos a serem aplicados e o modo como serão executados cada um dos serviços, apontando, também, as unidades de medida que embasarão os critérios para a sua medição e pagamento; Descrição detalhada do objeto projetado, na forma de texto, na qual são apresentadas as soluções técnicas adotadas pelo projeto, acompanhadas das respectivas justificativas, necessárias ao pleno conhecimento do projeto, complementando as informações contidas nos desenhos; Memorial Descritivo Texto no qual se fixam todas as regras e condições a serem seguidas pelo contratado para a execução de cada um dos serviços da obra, caracterizando individualmente os materiais, os equipamentos, os elementos componentes, os sistemas construtivos a serem aplicados e o modo como serão executados cada um dos serviços, apontando, também, as unidades de medida que embasarão os critérios para a sua medição e pagamento; Caderno de Encargos É um conjunto de informações complementares ao projeto, definindo como deve ser procedida a execução. Normalmente é fornecido pelo contratante, no qual estão consolidados as especificações técnicas, o Memorial Descritivo e os critérios de medição e pagamento de cada um dos serviços previstos para a obra. Descrição detalhada do objeto projetado, na forma de texto, na qual são apresentadas as soluções técnicas adotadas pelo projeto, acompanhadas das respectivas justificativas, necessárias ao pleno conhecimento do projeto, complementando as informações contidas nos desenhos; Memorial Descritivo (Caderno de) Especificações Técnicas Observe, portanto, dados os conceitos do TCU, que o Caderno de Encargos é a consolidação do Memorial Descritivo e das especificações técnicas, documento este também chamado de Caderno de Encargos e Especificações Técnicas. Esse documento é complementar às pranchas de desenho do projeto e tem por função a descrição completa do objeto, textualmente, e as orientações de como serão executados os serviços. O Caderno de Encargos ainda pode apresentar outras orientações, como a forma de medição dos serviços, a forma de descarte de resíduos, a forma de apresentação dos documentos finais, etc. O Caderno de Encargos, para os projetos de edificações, não é documento facultati- vo, dele devendo fazer parte obrigatoriamente, visto ser elemento que elucida dúvidas advindas da leitura das suas pranchas de desenho, sendo instrumento de arbitragem nas eventuais dúvidas técnicas advindas da execução do objeto. 8 BRASIL. Tribunal de Contas da União. Orientações para elaboração de planilhas orçamentárias de obras públicas. Bra- sília: TCU, 2014. 21 Outro conceito amplamente aplicado à área e que também gera dúvidas quanto ao seu significado é o Memorial Justificativo. Alerte-se para o fato que esse documento é tão somente, como o próprio nome diz, um texto que justifica o projeto. Nele estará contida a exposição das razões pelas quais foram adotadas determinadas soluções e decisões de projeto, o porquê de se ter utilizado determinados materiais, traçados, dimensionamentos, etc., em detrimento de outras escolhas. O Memorial Justificativo é, portanto, a peça textual que explica o projeto. É importante que desse documento conste com clareza a explicação para os seguin- tes itens: 1. Localização Descrição sucinta do entorno (quando se tratar de projeto de edificação ou intervenção urbanística), e a forma como o objeto relaciona-se com ele, indicando as soluções adotadas para o tratamento dos ruídos, insolação, regime de ventos, etc.; 2. Programa de necessidades Identificação das razões que levaram o projetista a adotar determinada solução para os elementos do objeto. Exemplo: em um projeto que contenha um auditório, a explicação das razões pelas quais determinada forma foi adotada para tal auditório, a configuração da plateia, etc.; 3. Planta baixa (quando se tratar de projeto de edificação ou intervenção urbanística) Explicação para a distribuição funcional dos elementos, sua relação, ordenamento, integração, hierarquia, etc.; 4. Volumetria Descrição da forma como se obteve a solução plástica (quando se tratar principal- mente de projeto de edificação), processo criativo, enfatizando procedimentos que foram adotados, tais como subtrações, adições, composição de cheios e vazios, luz e sombras, texturas e materiais, linhas predominantes, etc.; 22 5. Tecnologia Apresentação da escolha construtiva e suas vantagens. Descrição do benefício que será atingido com a opção pela forma de construção adotada, em relação à economia, ao desempenho, à rapidez de execução, etc. Exemplo: por que foi adotada a forma construtiva “estaiado para o projeto de um viaduto, em detrimento da forma “simplesmente apoiado”. Importante O Memorial Justificativo não é item obrigatório na elaboração dos projetos (conforme ABNT NBR 16636-2:2017 – Elaboração e desenvolvimento de serviços técnicos especializados de projetos arquitetônicos e urbanísticos – Parte 2: Projeto arquitetônico), e não é comumente adotado ou exigido nas contratações da Administração Pública. É imprescindível, no entanto, quando for adotada a modalidade de licitação “concurso”, que será aborda- da no próximo tópico. 2.1.5 A contratação do projeto: qual é a modalidade de licitação mais indicada? Ao final deste tópico, o aluno será capaz de: § Avaliar qual a melhor modalidade de licitação a ser adotada nos diferentes tipos de objeto. 23 Conforme a Lei n° 8.666/1993, há quatro modalidades de licitação possíveis para a contratação de um projeto na Administração Pública: Concorrência Concurso Convite Tomada de preços As três primeiras podem ser combinadas com os seguintes tipos de licitação: Menor preço Técnica e preço Melhor Técnica A Lei n° 10.520/2002 (institui, no âmbito da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, nos termos do art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, modalidade de licitação denominada pregão, para aquisição de bens e serviços comuns, e dá outras providências) traz ainda a modalidade de pregão. Antes de abordarmos as formas de licitação, é importante comentarmos a formação do preço referencial no processo licitatório para a contratação de um projeto, item que fará parte do edital. Como já mencionado neste curso, a Administração Pública deve sempre ter o seu preço referencial para contratações. Isso é válido para projetos, obras e também para serviços continuados. Aplicam-se aos projetos e aos serviços continuados as determinações constantes da IN nº 5, de 27 de junho de 2014 (dispõe sobre os procedimentos administrativos básicos para a realização de pesquisa de preços para a aquisição de bens e contratação de serviços em geral) da SLTI/MP. Naquela IN está determinada a seguinte sequência, em ordem preferencial, para a pesquisa de preços para contratação de serviços em geral: I. Portal de Compras Governamentais; 24 II. Pesquisa publicada em mídia especializada, sítios eletrônicos especializados ou de domínio amplo, desde que contenha a data e a hora de acesso; III. Contratações similares de outros entes públicos, em execução ou concluídos nos 180 (cento e oitenta) dias anteriores à data da pesquisa de preços; IV. Pesquisa com os fornecedores. Outras formas de pesquisa também são possíveis, desde que devidamente justifica- das pela autoridade competente, conforme disposto no parágrafo 3º do art. 2º: “§ 3° A utilização de outro método para obtenção do resultado da pesquisa de preços, que não o disposto no parágrafo 2°, deverá ser devidamente justi- ficada pela autoridade competente”.9 9 Essa possibilidade deve-se ao fato de que, pelo serviço de projeto ter a sua mensu- ração de forma subjetiva, por vezes é difícil encontrar referenciais criteriosos para a formação do seu preço. Deve-se considerar que, para um mesmo objeto, pode haver sensíveis diferenças de preços em função da escala, da área de edificação conside- rada etc. O item IV apontado pela IN SLTI/MP n° 5/2014 poderia, nesses casos, trazer maior segurança na formação do preço. Sua confiabilidade seria dada pela tomada de ao menos três orçamentos, de onde se deve tirar o preço médio. Ainda assim, nem sempre tal expediente traz resposta indiscutível à questão. Nesses casos, pode-se tomar como referência os preços das bases de dados dos órgãos de classe (CAU/BR, Confea/Crea, Sindicato dos Engenheiros, Sindicato dos Arquitetos etc.). 9 BRASIL. Instrução Normativa nº 5, de 27 de junho de 2014. Dispõe sobre os procedimentos administrativos básicos para a realização de pesquisa de preços para a aquisição de bens e contratação de serviços em geral. Brasília: SLTI/MP, 2014. 25 Atualmente, está em fase de elaboração dentro da ABNT a NBR 16633 (Elaboração de orçamentos e formação de preços de empreendimentos de infraestrutura), dividida em quatro partes, por meio de projeto sob o mesmo nome. Com previsão de edição para o ano de 2018, esse conjunto de normas trará grande auxílio na análise e na formação dos preços referenciais para os serviços de projeto.10 Analisada a questão da formação do preço referencial, é possível então avaliar as modalidades de licitação aplicadas aos tipos de objetos, já que, normalmente, o preço é um dos critérios para a sua escolha. Os limites definidos na Lei nº 8.666/1993 determinam a modalidade que deve ser adotada conforme o valor do objeto. Não se impede, no entanto, que se adote a modalidade cujo limite do valor que a define é elevado para licitações de limite de valor menor.11 Essa escolha, porém, deve levar em conta a racionalidade do próprio certame e o objetivo buscado, além da supremacia do interesse público, em que se deve considerar também o próprio custo do processo de licitação. Como resultado dessa busca pela racionalidade e otimização dos custos, muitas licitações para contratação de projeto vêm sendo contratadas na modalidade pregão. Sobre tal modalidade, devemos inicialmente analisar a sua aplicação, conforme definido na lei que a instituiu. O art. 1º da Lei nº 10.520/2002 assim determina: 10 Disponível em: <http://sinaenco.com.br/noticias/norma-sobre-formacao-de- precos-de-projetos-e-gerenciamento- -esta-em-consulta-na-abnt/?utm_campaign =Newsletter&utm_content= Norma+sobre+forma%C3%A7%C3%A3o+ de+pre%C3 %A7os+de+projetos+e+gerenciamento+est%C3 %A1+em+consulta+na+ABNT+-+Sinaenco+%281%29& utm_medium=email&utm _source= EmailMarketing&utm_term=newsletter +edi%C3%A7%C3%A3o+35+-+11+de+ou- tubro>. Acesso em: 14 abr. 2018. Disponível em: <http://www.abntcatalogo.com.br/projetgrid.aspx>. Acesso em: 14 abr. 2018. 11 Brasil (1993, art. 23, § 4º). 26 Art. 1º Para aquisição de bens e serviços comuns, poderá ser adotada a licitação na modalidade de pregão, que será regida por esta lei. Parágrafo único. Consideram-se bens e serviços comuns, para os fins e efei- tos deste artigo, aqueles cujos padrões de desempenho e qualidade possam ser objetivamente definidos pelo edital, por meio de especificações usuais no mercado (BRASIL, 2002, grifo nosso).12 12 A Advocacia-Geral da União (AGU), por meio da Orientação Normativa n° 54/2014, pondera: Compete ao agente ou setor técnico da Administração declarar que o objeto licitatório é de natureza comum para efeito de utilização da modalidade pregão e definir se o objeto corresponde a obra ou serviço de engenharia, sendo atribuição do órgão jurídico analisar o devido enquadramento da mo- dalidade licitatória aplicável (BRASIL, 2014).13 13 A dúvida recai sobre o fato de um projeto poder ser considerado ou não como serviço comum de engenharia. 12 BRASIL. Lei nº 10.520, de 17 de julho de 2002. Institui, no âmbito da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, nos ter- mos do art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, modalidade de licitação denominada pregão, para aquisição de bens e serviços comuns, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 2002. 13 BRASIL. Advocacia-Geral da União. Orientação Normativa n° 54/2014. Brasília: AGU, 2014. 27 O auditor do TCU, André Mendes (2013, p. 149-152)14, argumenta, exemplificando a aplicação do conceito de serviços comuns de engenharia. Na opinião do autor, considerando como orientação a Lei nº 8.666/1993, para que as contratações de serviços de engenharia sejam exclusivamente com licitação dos tipos “melhor técnica” ou “técnica e preço”, seria inapropriado o uso da licitação do tipo “menor preço” para tais serviços, o que impediria também o uso da modalidade pregão, visto essa ter como critério de julgamento exclusivamente o menor preço. O autor continua, fazendo uma comparação entre um serviço notadamente comum de engenharia, a impermeabilização de uma laje de uma edificação e um serviço de projeto. Somente pelo fato de o projeto necessitar de um responsável técnico, ou seja, configurar-se como um serviço intelectual, não poderia ser classificado como serviço comum. Além disso, em um projeto, tomando-se como exemplo um projeto de arqui- tetura, não é possível definir objetivamente sua forma, aparência e características arquitetônicas finais, confirmando a impossibilidade de seu enquadramento como serviço comum. No entanto, conforme jurisprudência do TCU, por meio do Acórdão n° 601/2011 – TCU – Plenário, se houver entendimento de que o objeto final de uma licitação de projeto não terá diferença, independentemente de quem o fará, este pode ser classificado como comum: (...) se o projeto ou estudo a ser obtido pela realização do serviço por uma empresa ou profissional for similar ao projeto desenvolvido por outra empre- sa, dotada com as mesmas informações da primeira, esse objeto, no caso “estudos e projetos”, pode ser caracterizado como “comuns”. Caso contrário, se a similaridade dos produtos a serem entregues não puder ser assegurada, o objeto é incomum (BRASIL, 2011).15 15 14 MENDES, André. Aspectos polêmicos de licitações e contratos de obra públicas. São Paulo: Pini, 2013. 15 BRASIL. Tribunal de Contas da União. Acórdão n° 601/2011 – TCU – Plenário. Brasília: TCU, 2011. 28 Perceba a controvérsia que envolve a questão e que, diante da incerteza do caminho a seguir, muitos gestores acabam optando pela adoção dessa modalidade (pregão) para a contratação dos serviços de projeto, quando de pequeno vulto. Opta-se, dessa forma, pelo caminho mais seguro, se considerarmos a segurança jurídica. Perde- se, no entanto, pela qualidade do objeto ofertado, visto que o custo e a qualidade do projeto tendem a ser grandezas opostas, conforme demonstrado no tópico 2.1.2 deste módulo, por meio da figura 1, abaixo relembrada. Como vai querer seu projeto? RÁPIDO BARATO QUALIDADE GRÁTIS Mal feito Não existe Bem pago Utopia Não pode ser feito Faça você Lixo É importante comentar que a modalidade “pregão” pode tornar-se antieconômica para a Administração Pública, as chamadas licitações deficitárias, visto que há casos em que o desconto obtido em um certame com esse tipo de modalidade – comparando-se o preço contratado com o preço inicial dos lances (orçamento referencial da Administração) – não alcançou o gasto despendido com o contingente de mão de obra envolvido no seu procedimento. Estudos nesse sentido vêm sendo feitos pela Controladoria-Geral da União (CGU), que concluiu que 85% dos órgãos da Administração direta realizam pregões deficitários.16 16 CAMAROTTO, M. Decreto vai atualizar valores de licitação, congelados há 20 anos. Valor Econômico, Brasília, 9 abr. 2018. Disponível em: https://www.valor.com.br/brasil/5438381/decreto-vai-atualizar-valores-de-licitacao-congelados-ha- -20-anos. Acesso em: 10 abr. 2018. 29 Para que se jogue mais luz sobre o debate, tome-se o posicionamento do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR) e suas recentes ações quanto à adoção do pregão para a contratação de projetos pela Administração Pública. A unidade do CAU do estado do Rio Grande do Sul posicionou-se sobre o tema e tem alcançado repetidos êxitos nas ações judiciais ou ações de impugnação impetradas contra a modalidade pregão nesse tipo de contratação.17 Deve ser considerado que, ainda que o serviço de projeto a ser contratado seja de pequeno vulto, o tipo de licitação a ser escolhido deve ser o de “técnica e preço” nas modalidades “concorrência” ou “tomada de preços”, no caso da RFB, por definição da Portaria RFB/Sucor/Copol n° 566/2011, no seu art. 11: Art. 11. Nos procedimentos licitatórios para contratação de elaboração de projetos, deverá ser adotada licitação do tipo técnica e preço, podendo ser adotada licitação do tipo menor preço para as contratações com custo esti- mado até R$ 15.000,00 (quinze mil reais), sem prejuízo da faculdade legal de contratação direta por dispensa de licitação (BRASIL, 2011, grifo nosso). Sabe-se que contratações de projeto têm pouca representatividade numérica no universo de contratações da Administração Pública. Não traria ônus à supremacia do interesse público o maior dispêndio de tempo e de recursos humanos da Administração para essa forma de contratação (licitações nas modalidades que não sejam o pregão), frente ao benefício que se teria com o resultado final do objeto fruto de um bom projeto, conforme já mencionado nos tópicos 2.1.1 e 2.1.2 deste módulo. 17 Disponível em: <http://www.caurs.gov.br/caurs-nao-admite-pregao-na-contratacao-de-servicos-de-arquitetura-e-urba- nismo/>. Acesso em: 4 abr. 2018. Disponível em: <http://www.caurs.gov.br/caurs-tem-sucesso-em-impugnacao-de-pregao-em-campo-bom/>. Acesso em: 4 abr. 2018. Disponível em: <http://www.caurs.gov.br/pregao-encruzilhada/>. Acesso em: 4 abr. 2018. 30 Para projetos de maior vulto, no entanto, a modalidade ideal é o concurso. Esse é o entendimento da academia e dos órgãos de classe da engenharia e arquitetura. Notadamente, os grandes projetos em nível mundial, aqui definidos grandiosos pela sua qualidade, destaque e importância, aliados à quintessência da manifestação artística e tecnológica, foram desenvolvidos por meio de concurso. Exemplos desses projetos são a Ópera de Sidney, Austrália (figura 6); o Plano Piloto da cidade de Brasília, Brasil (figuras 7 e 8); o Museu Guggenheim, Bilbao/Espanha (figura 9); o Estádio “Ninho de Pássaro”, Pequim/China (figura 10); e a remodelação da Estação Central de Trens, Berlim/Alemanha (figura 11). Figura 6 - https://www.archdaily.com.br/br/784303/classicos-da-arquitetura-pera-de-sydney-jorn-utzon (último acesso em 04/04/2018) 31 Figura 7 - https://www.archdaily.com.br/br/762897/em-foco-lucio-costa/54ecb228e58ece263300000a-the-original-pilot-p (último acesso em 04/04/2018) Figura 8 - http://solucaoemtransporte.com.br/sites/tours/brasilia/ (último acesso em 04/04/2018) 32 Figura 9 - http://verybilbao.com/en/comercios/museo-guggenheim-bilbao/ (último acesso em 04/04/2018) Figura 10 - http://www.psam.uk.com/beijing-to-reuse-olympic-stadia-for-2022-winter-games (último acesso em 04/04/2018) 33 Figura 11 - http://www.tremeuropa.com.br/trens-em-berlim/ (último acesso em 04/04/2018) André Baeta, auditor federal de Controle Externo do TCU, em artigo publicado em novembro/2014 na revista “Infraestrutura Urbana”,18 defende a contratação de projetos pela modalidade concurso. Segundo o auditor, há vantagens para a Administração Pública quando desse tipo de contratação, abaixo transcritas: Com o concurso, contrata-se o melhor projeto, e não a melhor empresa. A Administração Pública sabe qual é o projeto que está comprando, visto que, ao receber as propostas, a contratante avaliará desenhos conceituais, memoriais etc., ainda em fase preliminar. 18 Disponível em: http://www.caubr.gov.br/auditor-do-tcu-defende-concurso-para-contratacao-de-projetos/. Acesso em: 4 abr. 2018. 34 O projeto é entregue no prazo, sem aditivos ou aumento de custos. Há aumento da competitividade entre as empresas projetistas. O melhor projeto é selecionado por especialistas da área. Há isonomia e impessoalidade na seleção do melhor projeto. Assim, considerando-se as questões apresentadas no debate em tor- no do tema, é possível concluir que há grande vantagem para a Admi- nistração Pública na escolha da modalidade concurso ou licitações do tipo “técnica e preço” para a contratação de projetos. 2.1.6 A diferença entre direito autoral
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