Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO - UFPE Centro Acadêmico do Agreste - CAA Cálculo Diferencial e Integral I – 2014.2 Teorema Fundamental do Cálculo O Teorema que veremos adiante nos mostra que existe uma forte relação entre derivadas e integrais. Essa relação nos permite calcular integrais de uma forma bem mais simples do que o cálculo do limite e somas aproximantes. A princípio consideremos uma função 𝑔 definida a partir da função 𝑓 ≥ 0 da seguinte forma: 𝑔(𝑥) = ∫ 𝑓(𝑡)𝑑𝑡 𝑥 𝑎 . Ela pode ser interpretada como a área abaixo do gráfico de 𝑓, acima do eixo 𝑥 e entre as retas 𝑥 = 𝑎 e 𝑥 = 𝑏. Calculemos a derivada de 𝑔. Para ℎ > 0 temos que 𝑔(𝑥 + ℎ) − 𝑔(𝑥) é a área dada na figura ao lado. Perceba que essa área é aproximadamente a mesma do retângulo de base ℎ e altura 𝑓(𝑥). Assim, 𝑔(𝑥 + ℎ) − 𝑔(𝑥) ≈ ℎ ∙ 𝑓(𝑥) logo 𝑔(𝑥 + ℎ) − 𝑔(𝑥) ℎ ≈ 𝑓(𝑥). Devemos, então, esperar que 𝑔′(𝑥) = lim ℎ→0 𝑔(𝑥 + ℎ) − 𝑔(𝑥) ℎ = 𝑓(𝑥). É o que garante o Teorema Fundamental do Cálculo (Parte 1) Se 𝑓 for contínua em [𝑎, 𝑏], então a função definida por 𝑔(𝑥) = ∫ 𝑓(𝑡)𝑑𝑡 𝑎 ≤ 𝑥 ≤ 𝑏 𝑥 𝑎 é contínua em [𝑎, 𝑏] e diferenciável em (𝑎, 𝑏) e 𝑔′(𝑥) = 𝑓(𝑥). Demonstração: Tomemos 𝑥 e 𝑥 + ℎ em (𝑎, 𝑏). Temos que 𝑔(𝑥 + ℎ) − 𝑔(𝑥) = ∫ 𝑓(𝑡)𝑑𝑡 𝑥+ℎ 𝑎 − ∫ 𝑓(𝑡)𝑑𝑡 𝑥 𝑎 = [∫ 𝑓(𝑡)𝑑𝑡 + ∫ 𝑓(𝑡)𝑑𝑡 𝑥+ℎ 𝑥 𝑥 𝑎 ] − ∫ 𝑓(𝑡)𝑑𝑡 𝑥 𝑎 = ∫ 𝑓(𝑡)𝑑𝑡 𝑥+ℎ 𝑥 . Supondo ℎ ≠ 0 𝑔(𝑥 + ℎ) − 𝑔(𝑥) ℎ = 1 ℎ ∫ 𝑓(𝑡)𝑑𝑡. 𝑥+ℎ 𝑥 Se considerarmos ℎ > 0, como 𝑓 é contínua em [𝑥, 𝑥 + ℎ], pelo Teorema do Valor Extremo existem 𝑢, 𝑣 ∈ [𝑥, 𝑥 + ℎ] tais que 𝑚 = 𝑓(𝑢) é o valor mínimo e 𝑀 = 𝑓(𝑣) é o valor máximo absoluto de 𝑓 nesse intervalo. Pelas propriedades já vistas 𝑚ℎ ≤ ∫ 𝑓(𝑡)𝑑𝑡 ≤ 𝑥+ℎ 𝑥 𝑀ℎ ⇔ 𝑓(𝑢) ∙ ℎ ≤ ∫ 𝑓(𝑡)𝑑𝑡 ≤ 𝑥+ℎ 𝑥 𝑓(𝑣) ∙ ℎ ⇔ 𝑓(𝑢) ≤ 1 ℎ ∫ 𝑓(𝑡)𝑑𝑡 ≤ 𝑥+ℎ 𝑥 𝑓(𝑣), ou seja, 𝑓(𝑢) ≤ 𝑔(𝑥 + ℎ) − 𝑔(𝑥) ℎ ≤ 𝑓(𝑣). Se ℎ < 0 chegamos, de forma análoga, ao mesmo resultado. Note que como 𝑢 e 𝑣 estão em [𝑥, 𝑥 + ℎ], se fizermos ℎ → 0 teremos que 𝑢 → 𝑥 e 𝑣 → 𝑥. Logo, limℎ→0 𝑓(𝑢) = lim 𝑢→𝑥 𝑓(𝑢) = 𝑓(𝑥) e limℎ→0 𝑓(𝑣) = lim 𝑣→𝑥 𝑓(𝑣) = 𝑓(𝑥), pois 𝑓 é contínua. Pelo Teorema do Confronto, 𝑔′(𝑥) = lim ℎ→0 𝑔(𝑥 + ℎ) − 𝑔(𝑥) ℎ = 𝑓(𝑥). Se 𝑥 = 𝑎 ou 𝑥 = 𝑏 olhamos para esse limite como um limite lateral. ∎ Exemplo 1: Podemos afirmar que a derivada da função 𝑔(𝑥) = ∫ sec2 𝑡𝑑𝑡 𝑥 0 é 𝑔′(𝑥) = sec2 𝑥, pois a função 𝑓(𝑥) = sec2 𝑥 é contínua em [0, +∞). ∎ Exemplo 2: Encontre a derivada de ℎ(𝑥) = ∫ √1 − 𝑒𝑡𝑑𝑡. 𝑥 7 Solução: Como 𝑓(𝑡) = √1 + 𝑒𝑡 é contínua em ℝ, pelo TFC. Parte 1, ℎ′(𝑥) = √1 + 𝑒𝑥 . ∎ Exemplo 3: Vamos calcular 𝑑 𝑑𝑥 ∫ sec 𝑡 𝑑𝑡 . 𝑥4 1 Observe que nesse caso o limite superior é uma função. Logo, ∫ sec 𝑡 𝑑𝑡 𝑥4 1 é a composição das funções 𝑔(𝑢) = ∫ sec 𝑡 𝑑𝑡 𝑢 1 𝑒 𝑢(𝑥) = 𝑥4 . Pela Regra da Cadeia 𝑑 𝑑𝑥 ∫ sec 𝑡 𝑑𝑡 = 𝑑 𝑑𝑢 𝑥4 1 𝑔(𝑢) ∙ 𝑑 𝑑𝑥 𝑢(𝑥) = 𝑑 𝑑𝑢 ∫ sec 𝑡 𝑑𝑡 𝑢 1 ∙ 𝑑𝑥4 𝑑𝑥 = sec 𝑢 ∙ 4𝑥3 = 4𝑥3 sec(𝑥4) . ∎ Teorema Fundamental do Cálculo (Parte 2) Se 𝑓 for contínua em [𝑎 , 𝑏], então ∫ 𝑓(𝑥)𝑑𝑥 = 𝐹(𝑏) − 𝐹(𝑎) 𝑏 𝑎 onde 𝐹 é qualquer antiderivada de 𝑓, isto é, uma função tal que 𝐹′ = 𝑓. Demonstração: Seja 𝑔(𝑥) = ∫ 𝑓(𝑡)𝑑𝑡. 𝑥 𝑎 A parte 1 do TFC nos garante que 𝑔′(𝑥) = 𝑓(𝑥), ou seja, 𝑔 é uma primitiva de 𝑓. Sabemos que qualquer outra primitiva 𝐹 de 𝑓 tem a forma, para 𝑎 < 𝑥 < 𝑏, 𝐹(𝑥) = 𝑔(𝑥) + 𝐶 onde 𝐶 é uma constante. Como 𝐹 e 𝑔 são contínua em [𝑎, 𝑏], lim 𝑥→𝑎+ 𝐹(𝑥) = lim 𝑥→𝑎+ (𝑔(𝑥) + 𝐶) = lim 𝑥→𝑎+ 𝑔(𝑥) + lim 𝑥→𝑎+ 𝐶 = 𝑔(𝑎) + 𝐶 = 𝐹(𝑎) e lim 𝑥→𝑏− 𝐹(𝑥) = lim 𝑥→𝑏− (𝑔(𝑥) + 𝐶) = lim 𝑥→𝑏− 𝑔(𝑥) + lim 𝑥→𝑏− 𝐶 = 𝑔(𝑏) + 𝐶 = 𝐹(𝑏). Logo, 𝐹(𝑥) = 𝑔(𝑥) + 𝐶 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑥 ∈ [𝑎, 𝑏]. Fazendo 𝑥 = 𝑎 em 𝑔 temos que 𝑔(𝑎) = ∫ 𝑓(𝑡)𝑑𝑡 𝑎 𝑎 = 0. Assim, 𝐹(𝑏) − 𝐹(𝑎) = 𝑔(𝑏) − 𝐶 − 𝑔(𝑎) − 𝐶 = 𝑔(𝑏) = ∫ 𝑓(𝑡)𝑑𝑡. 𝑏 𝑎 ∎ Exemplo 4: Vamos calcular a integral de 𝑓(𝑥) = 𝑥2 + 3 em [−1, 5]. Uma vez que a função é contínua no intervalo considerado podemos utilizar a segunda parte do TFC. Uma primitiva de 𝑓 é dada por 𝐹(𝑥) = 𝑥3 3 + 3𝑥. Portanto, ∫ (𝑥3 + 3)𝑑𝑥 5 −1 = 𝐹(5) − 𝐹(−1) = 53 3 + 3 ∙ 5 − ( (−1)3 3 + 3(−1)) = 125 3 + 15 − (−1) 3 + 3 = 125 + 45 + 1 + 9 3 = 180 3 = 60. ∎ Exemplo 5: Calculemos a área abaixo do gráfico de 𝑓(𝑥) = 𝑠𝑒𝑛 𝑥 em [0, 𝜋]. Como a função é contínua no intervalo dado, ∫ 𝑠𝑒𝑛 𝑥 𝑑𝑥 𝜋 0 = −cos 𝑥|0 𝜋 = − cos 𝜋 − (−𝑐𝑜𝑠0) = 1 − (−1) = 1 + 1 = 2. Dessa forma, a área procurada é 2𝑢. 𝑎.. ∎ Exemplo 6: O TFC não é aplicável à função 𝑓(𝑥) = 1 𝑥2 em [−1, 3]. Por quê? Solução: Para que possamos aplicar a segunda parte do TFC precisamos que a função seja contínua no intervalo considerado, o que não acontece para 𝑓(𝑥) = 1 𝑥2 em [−1, 3], pois a função não é contínua em zero. ∎ Texto baseado nos livros GUIDORIZZI, H. L., Um Curso de Cálculo, Vol. 1. Ed. LTC.,2001. STEWART, J., Cálculo, V.1. Ed. Thomson Pioneira, 2005.
Compartilhar