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É T I C A, P O L Í T I C A E S O C I E D A D E UNIDADE 1 A étIcA E A morAl objEtIvos DE AprENDIzAgEm Esta unidade tem por objetivos: compreender o conceito de ética e o conceito de moral; ● verificar a evolução da conduta moral ao longo dos anos; ● identificar a importância da ética e da moral para o desenvolvimento da sociedade. TÓPICO 1 – ENTENDENDO A ÉTICA E A MORAL TÓPICO 2 – A ÉTICA E A MORAL CAMINHAM JUNTAS TÓPICO 3 – A ÉTICA E A MORAL NA SOCIEDADE plANo DE EstUDos Esta unidade está dividida em três tópicos. No final de cada um deles, você encontrará um resumo e atividades que reforçarão o seu aprendizado. Márcia Bastos de Almeida Okçana Battini Giana Albiazzetti Sandro Luiz Bazzanella André Bazzanella Vera Lúcia Hoffmann Pieritz É T I C A, P O L Í T I C A E S O C I E D A D E É T I C A, P O L Í T I C A E S O C I E D A D E ENTENDENDO A ÉTICA E A MORAL 1 INTRODUÇÃO TÓPICO 1 Vamos iniciar este tópico buscando a compreensão dos conceitos de ética e moral, assim como sua contribuição para a valorização das relações humanas. Não podemos falar de ética sem vislumbrar a filosofia como fundamento da própria ética e da moral. A filosofia foi campo fértil, ao longo da história da humanidade, para o desenvolvimento da moral e da ética como parte integrante de uma sociedade que queremos sempre melhor. Enquanto a filosofia nos lança nos questionamentos acerca do que é certo e do que é errado, a ética nos conduz no caminho daquilo que acreditamos ser o melhor para nós mesmos e para os outros. Com esta unidade você terá oportunidade de aprender a construção histórica e social da moral, bem como os conceitos de valor e da ética. Também terá oportunidade de perceber que a moral está fundamentada (como a fundação de uma construção) a um ethos que foi constituído durante a modernidade pelo modelo epistemológico inaugurado naquele período. Você poderá analisar e refletir sobre os valores que norteiam o nosso agir nos dias atuais e como esse agir foi se modificando na história da cultura ocidental. UNIDADE 1 2 A ÉTICA Ao longo da história da humanidade, várias têm sido as áreas que fomentam reflexões acerca da ética, até porque a humanidade necessita de acordos para que a sua interação e convivência se tornem sustentáveis. Por isso vamos também estudar as concepções doutrinais da Grécia até a contemporaneidade. É nessa perspectiva, da convivência, do entendimento, que queremos trabalhar os conceitos a seguir. UNIDADE 1TÓPICO 14 É T I C A, P O L Í T I C A E S O C I E D A D E 2.1 CONCEITO Quando falamos de ética, não podemos limitar a uma realidade somente conceitual, em que as práticas encontram-se distanciadas do nosso dia a dia, mas, na verdade, ao estudarmos a ética poderemos observar que a mesma se encontra implícita nas ações humanas. No nosso dia a dia, a ética tem presença garantida, porque ela faz parte do ser humano em todas as suas atividades, funções, espaço, ou seja, na família, no trabalho, no lazer, enfim, onde o ser humano interage com outro, a ética aí se faz presente. Uma boa percepção de ética vem de Solomon (2006, p. 12), segundo o qual “estudar ética não é escolher entre o bem e o mal, mas é se sentir confortável diante da complexidade moral”. Nesse sentido, estudar, refletir e entender ética, a sua mais-valia, se faz ao pensarmos no contexto da nossa sociedade, nas atitudes humanas. FIGURA 1 – ÉTICA FONTE: Disponível em: <http://filosofiapibidufba.blogspot.com.br/2011/04/o-termo- etica-deriva-do-grego-ethos.html>. Acesso em: 8 maio 2012. ATEN ÇÃO! Caro(a) acadêmico(a)! Você sabe a diferença entre ética e moral? Diversas questões éticas e morais são facilmente confundidas, como coloca Valls (1994, p. 7): “A ética é daquelas coisas que todo mundo sabe o que são, mas que não são fáceis de UNIDADE 1 TÓPICO 1 5 É T I C A, P O L Í T I C A E S O C I E D A D E explicar, quando alguém pergunta”. Vejamos então algumas definições sobre ética dentre as referências bibliográficas pesquisadas, para nos auxiliar na formação do conceito de ética: Tradicionalmente, ela é entendida como um estudo ou uma reflexão, científica ou filosófica, e eventualmente até teológica, sobre os costumes ou sobre as ações humanas. Mas também chamamos de ética a própria vida, quando conforme aos costumes, e pode ser a própria realização de um tipo de com- portamento. (VALLS, 1994, p. 7). “A ética é a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade, ou seja, é a ciência de uma forma específica de comportamento humano.” (VÁZQUEZ, 2003, p. 23). Ética é a ciência da conduta humana, segundo o bem e o mal, com vistas à felicidade. É a ciência que estuda a vida do ser humano, sob o ponto de vista da qualidade da sua conduta. Disto precisamente trata a Ética, da boa e da má conduta e da correlação entre boa conduta e felicidade, na interioridade do ser humano. A Ética não é uma ciência teórica ou especulativa, mas uma ciência prática, no sentido de que se preocupa com a ação, com o ato humano. (ALONSO; LÓPEZ; CASTRUCCI, 2006, p. 3). Etimologicamente falando, ética é derivada do grego ethos, que significa costume, hábitos e valores de determinada coletividade. A palavra moral deriva do latim mos – ou mores no plural – que também significa costume ou as normas adquiridas como hábito. Segundo o Houaiss (2009, p. 324), ética é: “1) Estudo dos juízos de apreciação que se referem à conduta humana, do ponto de vista do bem e do mal; 2) Conjunto de normas e princípios que norteiam a boa conduta do ser humano”. A Ética é um saber científico que se enquadra no campo das Ciências Sociais. É uma disciplina teórica, um sistema conceitual, um corpo de conhecimentos que se torna inteligível aos fatos morais. Mas o que são fatos morais? São os fatos sociais que dizem respeito ao bem e ao mal, juízos sobre as condutas dos agentes, convenções históricas sobre o que é certo e errado, justo e injusto, o que é certo ou errado? Toda coletividade formula e adota os padrões morais que mais lhe convém. (SROUR, 2003, p. 7-8). Portanto, do ponto de vista etimológico, ética e moral significam a mesma coisa, contudo há o limiar tênue entre uma e outra. E isso você poderá observar à medida que vamos nos aprofundando no assunto. Veja então, resumidamente: “A ética é teoria, investigação ou explicação de um tipo de experiência humana ou forma de comportamento dos homens, ou da moral, considerado, porém, na sua totalidade, diversidade e variedade”. (VÁZQUEZ, 2003, p. 21). A moral é o estudo dos costumes de uma determinada sociedade numa determinada época e lugar. UNIDADE 1TÓPICO 16 É T I C A, P O L Í T I C A E S O C I E D A D E UNI ● Excisão feminina ou circuncisão feminina: WARIS, Dirie; MILLER, Cathleen. Flor no deserto. São Paulo: Editora Hedra, 2001. Esse livro é um relato de Waris Dirie, modelo internacional e embaixadora das Organizações das Nações Unidas – ONU, em que luta pela erradicação da mutilação genital feminina. Nascida no deserto da Somália, Waris Dirie foi mutilada igualmente a muitas outras meninas. Ela foge de seu país e chega a Londres, onde desenvolveu trabalhos domésticos até se projetar mundialmente como modelo e porta-voz da luta contra a circuncisão feminina. Você pode encontrar com o mesmo título em DVD. O que Srour (2003) quer observar é que a ética será sempre o estudo dos valores morais, e esses se relativizam conforme a história da humanidade. Vários exemplos de práticas da coletividade mundial poderiam se perfilar aqui. Echegaríamos à conclusão de que as condutas morais, independente de serem aceitáveis ou não do nosso ponto de vista, são práticas de uma sociedade. Vamos citar alguns exemplos que você poderá aprofundar: Infanticídio significa assassínio de recém-nascido ou de criança; o ato de matar o próprio filho, sob a influência do estado puerperal, durante o parto ou logo depois. O infanticídio feminino é prática que ainda acontece na China, em função da política do único filho. (FERREIRA, 2001, p. 417). Outro exemplo de prática é a excisão feminina ou circuncisão feminina. É a mutilação genital feminina, prática realizada em meninas adolescentes para que não tenham prazer no ato sexual. 2.2 O CAMPO DA ÉTICA Embora a ética seja um assunto basicamente filosófico, seu campo de atuação e reflexão pode ser estendido por todas as áreas. A ética também se divide em vários campos do saber: teologia, filosofia, psicologia, direito, economia e outros. A ética como disciplina teórica busca explicar e indicar o melhor comportamento do ponto de vista moral, mas como toda teoria não se distancia da prática, porque é a prática do comportamento humano que a sustenta e tem como função fundamental “explicar, esclarecer ou investigar uma determinada realidade, elaborando os conceitos correspondentes”. (VÁZQUEZ, 2003. p. 20). UNIDADE 1 TÓPICO 1 7 É T I C A, P O L Í T I C A E S O C I E D A D E Os problemas teóricos da ética podem ser divididos em dois campos: 1) os problemas gerais e fundamentais: liberdade, consciência, bem, valor, lei e outros; 2) os problemas específicos: aplicação concreta, ou seja, ética profissional, ética política, entre outros. FONTE: Adaptado de: Valls (1994, p. 8) Srour (2011) aborda as acepções e confusões que a ética provoca. Ele considera que existem três tipos de acepções que podem causar confusões, porque ampliam demais as concepções da ética: 1 - A ética é descritiva – que corresponde a juízo de valor, ou seja, quem tem boa conduta pode ser considerado como uma pessoa ética, ou seja, uma pessoa virtuosa e íntegra. Enquanto quem não condiz com as expectativas sociais pode ser considerado ‘sem ética’. Nesse sentido, Srour (2011) considera que a ética assume uma ideia simplista reduzida a um valor social, ou apenas um adjetivo. 2 - A ética é prescritiva – a ética como “sistema de normas morais ou a um código de deveres” (SOUR, 2011, p. 19), ou seja, os padrões morais que deveriam conduzir categorias sociais ou organizações passam a se chamar de código de ética; nesse sentido de prescrição a ética e moral tornam-se sinônimo indistinguível. 3 - A ética é reflexiva – que corresponde à teoria de um estudo sistemático como objeto de investigação que, ao transitar por diferentes áreas, pode ser considerada como: • Ética filosófica – que reflete sobre a melhor maneira de viver (ideais morais). • Ética científica – que estuda, observa, descreve e explica os fatos morais (a moralidade como fenômeno). ATEN ÇÃO! A ética filosófica quer refletir sobre a maneira de viver. A ética científica quer observar e descrever a maneira de viver. Visto tudo isso, você pode pensar: então estudar ética é muito complicado? Claro que não, a ética dá a oportunidade para refletir a maneira de viver e entender os costumes do nosso tempo. UNIDADE 1TÓPICO 18 É T I C A, P O L Í T I C A E S O C I E D A D E 2.3 O VALOR DA ÉTICA Qual seria mesmo o valor da ética para a sociedade? A ética é o discernimento de que, embora existam práticas que poderiam ser consideradas ‘morais’, por se tratarem de recorrentes na sociedade, ainda assim são práticas que não se suportam do ponto de vista ético. A corrupção, por exemplo, tem sido ato recorrente no cenário político nacional e nem por isso tornou-se moral e eticamente aceitável. Então podemos dizer que tudo que é legal é moral? Ou se é moral é legal? Todos nós conhecemos algumas práticas que com o passar do tempo tornaram-se costumes e hábitos. Mas não quer dizer que práticas como a corrupção passarão a ser aceitas, pela sua recorrência ou porque a sociedade já se acostumou. Práticas que prejudicam a maioria, que não preservam o bem comum, que não beneficiam a sociedade, que não preservam a felicidade apontam ao valor da ética, porque é através da ética que é possível fundamentar a moralidade e a legalidade. Então é por isso que a ética tem enorme valor para a sociedade como um todo, porque seu papel é fazer reflexões acerca do comportamento humano e a preservação do bem comum e da felicidade da ‘cidade’. ATEN ÇÃO! Nem tudo que é legal é moral e nem tudo que é moral é legal. As questões de legalidade, ilegalidade, moralidade e imoralidade, apresentadas por Srour (2003), são muito importantes para que se possa observar na prática o que há de legal e moral nas ações do nosso cotidiano. Nem tudo que é legal é moral e nem tudo que é moral é legal. Vejamos algumas situações apresentadas por Srour (2003, p. 59), de acordo com o quadro que segue: QUADRO 1 – LEGALIDADE E MORALIDADE Quanto à legalidade? Quanto à moral? Exemplo: LEGAL MORAL Treinamento de funcionários patrocinado por uma empresa. LEGAL IMORAL Falta de correção da tabela do Imposto de Renda por longos anos, sob a alegação de que fazê-lo seria introduzir o instituto de correção monetária. UNIDADE 1 TÓPICO 1 9 É T I C A, P O L Í T I C A E S O C I E D A D E ILEGAL MORAL Desrespeito aos sinais vermelhos de madrugada nas grandes cidades pelo receio de assaltos. ILEGAL IMORAL As fraudes em licitações públicas. FONTE: Adaptado de: Srour (2003, p. 59) Estudar ética, falar de ética, refletir sobre a ética é, portanto, entender toda a dimensão da sociedade, da humanidade. A ética, por si só, não vai elaborar um manual de condutas, nem tampouco elencar um rol de atitudes certas e erradas. 2.4 ÉTICA E jUSTIçA O trabalho em sociedade implica tomar decisões. A todo tempo se decide sobre questões gerais e específicas, internas e externas de uma organização. De acordo com Alonso, Lopes e Castrucci (2010, p. 110), existem três tipos de características na tomada de decisões: 1) decisão pessoal – é o ato humano, livre e de inteira responsabilidade de quem toma a decisão; 2) decisão ética – é o ato do homem, em que a moralidade norteia; 3) decisão que afeta outrem – é a decisão que considera princípios éticos e toma conhecimento dos direitos e limita-se a tais aspectos. O que os autores querem esclarecer é que as decisões envolvem essas três características: o aspecto pessoal da decisão, a moralidade e a ética do quanto a decisão pode interferir no outro. A ética influencia o processo de tomada de decisão para determinar quais são os principais valores. A tomada de decisão envolve momentos de escolha entre o bem e o mal e entre o bem e o bem. É nesse momento que a alteridade e a justiça tomam parte. A tomada de decisão envolve a alteridade, que é o senso de justiça, porque diz respeito aos outros. Dessa forma, existem tipos de justiça a conhecer que não se esgotam por si só, mas organizam a sociedade e dão as prioridades. ● Justiça social – a justiça social apresenta duas vertentes: a) justiça legal – que são as obrigações dos cidadãos para com o Estado; b) justiça distributiva – que são as obrigações do Estado para com seus cidadãos. ● Justiça legal – “compreende as obrigações dos cidadãos para a sociedade politicamente organizada, tais como pagamento de impostos, prestação de serviços públicos (serviço UNIDADE 1TÓPICO 110 É T I C A, P O L Í T I C A E S O C I E D A D E militar, serviços emergenciais) etc.”(ALONSO; LOPES; CASTRUCCI, 2010, p. 111). ● Justiça distributiva – leva em consideração o mérito, ou seja, procura respostas às desigualdades e regula as relações entre a comunidade, tais como o imposto de renda: quem ganha mais paga mais e quem ganha menos paga menos ou não paga. ● Justiça comutativa – vem do direito positivo, também conhecida como corretiva, é a justiça que intercede entre as pessoas físicas ou jurídicas, em virtude de contratos em que são fixadas as obrigações das partes. ● Justiça equitativa – é aquela que parte do pressuposto de que todos são iguais. A justiça, junto à moral e à ética, conduz o ser humano a práticas mais eficientes. Nesse caso, não estamos falando da justiça como entidade jurídica, mas da justiça de realizar ações que sejam de consciência ética e moral e, é claro, legal. 2.5 ÉTICA E FILOSOFIA A ética tornou-se um campo vasto nas diversas áreas científicas. Na área médica, por exemplo, existe uma grande preocupação quanto ao que é ético ou não nas pesquisas de campo, por se tratarem de pesquisas que lidam com o ser humano. Existe um código de moral, na verdade chamado de código de ética, que limita e/ou exige que a integridade do ser humano seja respeitada. Apesar de hoje a ética ser uma disciplina adotada em quase a totalidade de áreas existentes, seja nas ciências exatas, humanas, biomédicas, sociais, entre outras, ainda assim, para que se possa entender a complexidade de seu dinamismo e, por que não, a simplicidade de sua reflexão, não se pode fugir da sua origem filosófica. A filosofia é o arcabouço para os desdobramentos da ética, por isso que existem algumas correntes que argumentam contra o caráter científico e independente da ética. A respeito disso, Vázquez (2003, p. 25) observa: Mas, já como assinalamos, isso se aplica a um tipo determinado de ética – a normativa –, que se atribui a função fundamental de fazer recomendações e formular uma série de normas e prescrições morais; mas esta objeção não atinge a teoria ética, que pretende explicar a natureza, fundamentos e condi- ções da moral, relacionando-a com as necessidades sociais do homem. Nesse sentido, a apropriação da ética, seja no sentido filosófico ou científico, busca na fonte filosófica a doutrina para melhor entender a ética, seja em qual área for. UNIDADE 1 TÓPICO 1 11 É T I C A, P O L Í T I C A E S O C I E D A D E Vamos então para o próximo passo. já vimos alguns conceitos que aproximam a ética da moral. No próximo ponto vamos então entender a moral, sem deixar de recorrer à ética, pois você deve ter percebido que não é possível falar de ética sem falar da moral e vice-versa. 3 A MORAL Caro acadêmico! Conversamos no primeiro ponto sobre a ética e você pode perceber que já apareceram alguns aspectos da moral, ou seja, existe uma interface entre moral e ética que é indissociável. O importante desse ponto é dar destaque ao conceito de moral e você compreender o comportamento humano em relação ao que é moral. Vamos seguir praticamente o caminho do conhecimento dos pontos desenvolvidos em relação ao estudo da ética. 3.1 CONCEITO DE MORAL De acordo com Srour (2003), a ética é perene e a moral é mutável. A ideia de ética é que ela não muda, a ética faz reflexões acerca dos costumes, que é o campo da moral. Para melhor compreendermos, no Brasil, temos a história da mulher como um bom exemplo de mudança de costumes e, por conseguinte, mudança de valores morais. UNI ● História da mulher no Brasil: DEL PRIORE, Mary (Org.). História das mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 1997. Essa obra conta a trajetória das mulheres, desde o Brasil colonial. O livro narra a história da mulher, os principais aspectos de seu tempo e interseções, como: família, trabalho, mídia, literatura, violência, entre outros. Até a década de 30, a mulher não podia votar e nem ser votada, portanto o sufrágio feminino foi uma conquista de equiparar a mulher ao homem e torná-la um membro da sociedade como qualquer um, ou seja, uma pessoa participativa aos desígnios políticos do país. No cenário político nacional, a primeira mulher a se tornar deputada federal foi em 1933, e somente em 1979 foi eleita a primeira senadora. Em 2011 o país elegeu pela primeira vez UNIDADE 1TÓPICO 112 É T I C A, P O L Í T I C A E S O C I E D A D E uma mulher como Presidente da República. Se você observar os anos – 1933, 1979 e 2011 –, verá o quanto demora para que os valores se transformem e, ao mesmo tempo, depois de estabelecida a mudança, esses valores tornam-se tão familiares que nem mais pensamos nessa trajetória de conquista e transformação. No mundo do trabalho, a mulher conquistou espaço tardiamente, e por esse motivo, várias são ainda as desigualdades entre a mulher e o homem no mundo do trabalho. Existem diversas pesquisas que apontam mulheres e homens com mesmo nível de escolaridade e mesma função e que têm salários diferentes. FIGURA 2 – A CONQUISTA DA MULHER FONTE: Disponível em: <http://paduacampos.com.br/2012/2012/07/27/charge- elas-estao-ocupadas-mesmo/>. Acesso em: 27 maio 2013. Não se pretende aqui fazer algum tipo de apologia à mulher, muito pelo contrário, a mulher é só um bom exemplo para que possamos perceber o quanto ela se transformou perante a sociedade. Antes ela não votava e nem era votada, antes ela não trabalhava fora de casa, antes a sua vida limitava-se a cuidar de filhos e marido e da casa. E hoje? FIGURA 3 – CONQUISTA DA MULHER FONTE: Disponível em: <http://andorinharosa.blogspot.com.br/2009/03/um- poema-em-homenagem-ao-dia.html>. Acesso em: 27 maio 2013. UNIDADE 1 TÓPICO 1 13 É T I C A, P O L Í T I C A E S O C I E D A D E IMP OR TAN TE! � A moral é temporal e é reflexo dos costumes da sociedade. Portanto, a moral são os costumes, são as práticas do comportamento humano e as práticas aceitáveis de uma sociedade. Então, como esses costumes, práticas e culturas mudam? Mudam quando a própria sociedade clama por mudanças ou quando, a partir de um movimento de um grupo, procura-se conscientizar o resto da sociedade da importância de pensar e agir diferente. Foi dado o exemplo da mulher, mas muitos são os outros exemplos que se enquadrariam nesse momento para ilustrar essa transformação de valor e costume, a exemplo do homossexualismo, doenças que carregavam preconceitos e hoje não mais, entre outros grandes exemplos. Então se pode dizer que a moral é mutável, como diziam os romanos – “o tempora, o mores” – ou seja, os costumes mudam com o tempo. Srour (2003, p. 56) elenca alguns itens para a compreensão do que vem a ser moral: ● É um sistema de normas culturais que pauta as condutas dos agentes sociais de uma determinada coletividade e lhes diz o que é certo ou não fazer. ● Depende da adesão de seus praticantes aos pressupostos e valores que lhe servem de fundamentos. ● Representa um posicionamento diante das questões polêmicas ou sensíveis e constitui um discurso que justifica interesses coletivos. ● Organiza expectativas coletivas ao selecionar e definir melhores práticas a serem observadas. ● Tem natureza simbólica, essência histórica e caráter plural, e seus cânones variam à medida que espelham as coletividades históricas que o cultivam. Srour (2003, p. 57) ainda resume a moral comparativamente à ética: Por isso mesmo, as morais são as nervuras sensíveis das culturas e dos ima- ginários sociais, as peças de resistência que armam as identidades organiza- cionais, códigos genéticos das condutas sociais requeridas pelas coletividades. Assim sendo, enquanto as morais correspondem às representações mentais que dizem aos agentes sociais o que se espera deles, quaiscomportamentos são recomendados e quais não o são, a ética diz respeito à disciplina teórica e ao estudo sistemático dessas morais e de suas práticas efetivas. Portanto, o quadro que segue auxilia na formulação de um comparativo entre ética e moral, para que essas palavras-chave possam ajudar na diferenciação de uma e outra. UNIDADE 1TÓPICO 114 É T I C A, P O L Í T I C A E S O C I E D A D E QUADRO 2 – COMPARATIVO ENTRE ÉTICA E MORAL ÉTICA MORAL Perene Temporal Universal Cultural Regra Conduta da regra Teoria Prática FONTE: A autora A ética é perene porque as suas reflexões são num curso contínuo e eterno, sempre haverá reflexões sobre a ética. já a moral é temporal, porque de acordo com o tempo, os costumes e valores de uma sociedade se modificam. A ética é universal porque as suas reflexões independem da cultura, sociedade ou tempo histórico, as suas reflexões cabem em qualquer lugar e em qualquer tempo, porque se referem ao comportamento humano. A moral é cultural porque em cada sociedade, em cada lugar, os costumes e valores serão diferentes. A ética é regra, porque não existe mutabilidade em suas reflexões, as suas reflexões é que podem ser realizadas perante as mudanças. A moral é conduta de regra, porque é preciso relacionar os valores para que a moral possa instituir a sua conduta. A ética é teoria porque está situada no campo das reflexões, enquanto a moral se refere às práticas do comportamento humano, seus costumes, seus hábitos e seus valores. Essas as principais diferenças entre ética e moral, que ajudam para auxiliar na compreensão quanto às suas ramificações e desdobramentos. 3.2 CAMPO DA MORAL O campo da moral, pela sua mutabilidade, se torna um campo vasto, em que se possibilita uma multiplicidade de ações. Até porque a moral é oriunda das ações e interações humanas. A moral, portanto, está em toda parte, nas escolas, nas igrejas, nos hospitais, nas organizações privadas e públicas. É através da moral que os códigos de convivência são estipulados, para que as pessoas se comportem adequadamente e também para que haja harmonia na interação humana e da instituição. UNIDADE 1 TÓPICO 1 15 É T I C A, P O L Í T I C A E S O C I E D A D E Do ponto de vista dessas ações humanas existem dois universos que se constroem perante o fim de suas ações: universal e particular. Na administração pública, por exemplo, os atos administrativos devem estar voltados ao universal, porque as suas ações sempre devem preservar o interesse coletivo, portanto no meio da administração pública não cabem atos administrativos voltados ao interesse particular. O campo da moral é vasto, a moral é o alicerce para que a sociedade possa estipular as suas regras de convivência. Portanto, condutas morais não são exclusividade da administração pública, as condutas morais estão presentes a todo tempo e em qualquer lugar. Se você for um servidor público, legislador, ou quem sabe um responsável na elaboração de políticas públicas, ou simplesmente um cidadão, deve se perguntar: Quem são as pessoas que irão se beneficiar com a minha ação? Quais são as atitudes mais apropriadas para que um maior número de pessoas possam se beneficiar com as minhas atitudes? A minha ação é de interesse próprio ou de interesse coletivo? Essas perguntas e tantas outras ajudam a sinalizar em qual campo da moral se encaminham as nossas ações. Segundo Srour (2011), existem dois universos que se podem tomar como o início para melhor compreensão da prática moral: particularismo e universalismo. FIGURA 4 – UNIVERSALISMO E PARTICULARISMO FONTE: Srour (2011, p. 9) UNIDADE 1TÓPICO 116 É T I C A, P O L Í T I C A E S O C I E D A D E O universalismo dita as condutas morais positivas, em que existe o consenso para que o bem comum seja preservado. Nesse sentido, mesmo quando existem ações voltadas ao interesse de uma minoria ou de um grupo específico, ainda assim esses interesses não vão se confrontar com o interesse dos demais. Não há uma rivalidade de interesses, pelo contrário, a satisfação dos interesses se dá de forma consensual. No particularismo, os interesses pessoais ou de um grupo se prevalecem em detrimento do interesse de outros, por isso são práticas negativas. Não há um consenso de quem precisa mais, para que as práticas nesse universo sejam realizadas de forma consensual e em preservação do bem comum. Pelo contrário, existe uma rivalidade de interesses para que a vontade de uns se realize independente da necessidade de um ou de outro ser maior. A administração pública, com certeza, está na esfera do universalismo, e é por isso que ela existe e é dessa forma que ela deve servir aos cidadãos. Mas o servidor público, que é o condutor da prática do serviço público, poderá se encontrar na polaridade da escolha entre universalismo e o particularismo, em pequenas atitudes do seu cotidiano. 3.3 MORAL, AMORAL E IMORAL No item anterior foi possível diferenciar fatos morais de fatos sociais, e dissemos ainda que um fato moral pudesse afetar positivamente ou negativamente outrem. Então fato moral se divide em moral, quando positivo, e imoral quando negativo. E fato social seria o que alguns autores chamam amoral. Então, o que é agir conforme a moral? O que é o agir imoralmente? Ou o que é uma atitude amoral? Como podemos diferenciá-los? De forma bem resumida pode-se dizer que: ● Moral – é agir conforme os valores da sua organização ou sociedade sem prejudicar os outros. ● Imoral – é uma atitude que vai contra as normas e valores de uma organização ou sociedade e que prejudica os outros. UNIDADE 1 TÓPICO 1 17 É T I C A, P O L Í T I C A E S O C I E D A D E ● Amoral – quando uma atitude não influi nem positiva e nem negativamente, ou seja, é uma ação neutra. Pode-se concluir que uma atitude moral é uma ação positiva, uma atitude imoral é uma ação negativa e uma atitude amoral é uma ação neutra. Dessa forma, o âmbito da moral é decidir como agir, é uma questão da prática, enquanto que o âmbito da ética é refletir sobre essas ações e suas implicações na felicidade humana. 4 CONCEPÇÕES DOUTRINAIS DA GRÉCIA ANTIGA À CONTEMPORANEIDADE O conceito de ética visto anteriormente, bem como sua relação com a filosofia, com a moral, nos mostrou a grande contribuição e importância da corrente filosófica ao mundo da ética e da moral. Neste ponto sobre concepções doutrinais da Grécia antiga à contemporaneidade, vamos apresentar as principais doutrinas éticas de acordo com o seu tempo. 4.1 IDADE ANTIGA A Idade Antiga é representada pelos filósofos Sócrates, Platão e Aristóteles, e é nessa época que a ética adquire extremo valor. Esses filósofos se preocupavam com o ser no mundo físico, voltados aos problemas sociais e morais. Embora não haja propriamente coesão no pensamento e doutrina dos três, ainda assim suas ideias tornam-se próximas no sentido da reflexão acerca do homem e da cidade. O estudo da Ética, se pode dizer, teve início com os filósofos Sócrates, Platão e Aristóteles. O livro Ética a Nicômaco é uma obra de referência, em que a ética vai determinar que a finalidade suprema é a felicidade (eudaimonia). UNIDADE 1TÓPICO 118 É T I C A, P O L Í T I C A E S O C I E D A D E NO TA! � Eudaimonia quer dizer felicidade para a filosofia. “Em geral, estado de satisfação de alguém com sua situação no mundo”. FONTE: Abbagnano (2007, p. 455-505) Nessa época, a questão da ética era o bem supremo da vida humana e, de acordo com Passos (2004, p. 32), “não deviaconsistir em ter a sorte ou ser rico, por exemplo, e sim em proceder e ter uma alma boa”. Para Socrátes, a questão ética era o que bastava o homem saber, ter bondade para ser bom. O conhecimento, para Sócrates, era uma virtude, porque pensava que com o conhecimento o homem conseguia ser bom e ter a felicidade. Por esse motivo é que há um entrelaçamento entre bondade, conhecimento e felicidade. Para Platão, o conceito de cidade (polis) perfeita estava baseado em valores éticos e morais. Platão aborda que os conceitos da mente humana não são reais, mas sim imagens reflexas. Diferente de Socrátes, Platão considerava que a moral é a arte de preparar o indivíduo para a felicidade que não se encontra na vida terrena. Em Aristóteles, a felicidade, finalidade suprema da ética, só pode ser alcançada se o homem fosse capaz de moderar suas paixões. Aristóteles preocupou-se com a forma como as pessoas viviam na sociedade e contribuiu muito para o entendimento da ética e a busca da felicidade individual e coletiva. De acordo com Passos (2004, p. 34), Aristóteles propunha uma ética finalista: no sentido de visar um fim, no caso, que o ser humano pudesse alcançar a feli- cidade. Entendia a moral como um conjunto de qualidades que definia a forma de viver e de conviver das pessoas, uma espécie de segunda natureza que guiaria o homem para a felicidade, considerada a aspiração da vida humana. Sócrates foi considerado um marco da filosofia, de modo que todos os filósofos que antecederam a época dos filósofos citados são conhecidos por pré-socráticos. Os pré- socráticos também eram conhecidos como naturalistas, ou filósofos da natureza. Esses filósofos preocupavam-se mais em entender as coisas, em dar explicação para a natureza e para o mundo. UNIDADE 1 TÓPICO 1 19 É T I C A, P O L Í T I C A E S O C I E D A D E FIGURA 5 – SER UM FILÓSOFO FONTE: Disponível em: <http://www.umsabadoqualquer.com/category/socrates/>. Acesso em: 27 maio 2013. NO TA! � Sócrates (469-399 a. C.) – é responsável pelo método da indagação, o que se restringe ao homem, sem interesse na natureza. “Identificação entre ciência e virtude, no sentido de que só é possível ensinar e aprender a virtude, e não é possível praticar o bem sem conhecê-lo”. (ABBAGNANO, 2007, p. 1085). Platão (427-347 a. C.) – responsável pela doutrina das ideias, sabedoria e dialética. (ABBAGNANO, 2007, p. 892). Aristóteles (394-322 a. C.) – responsável pelo conceito da metafísica, da lógica, inspirou várias outras tendências do mundo medieval e moderno. FONTE: Abbagnano (2007, p. 90) A ideia da polis (cidade) é muito importante, porque é referência na organização social da sociedade em prol do bem comum. É que os homens se reuniam e decidiam o melhor para todos, assim como aborda Passos (2004, p. 32): O surgimento da polis fez com que o centro da cidade passasse a ser a praça pública, a ágora. Nela aconteciam as discussões e era permitida a participação de todos os cidadãos, quais sejam: os homens adultos, excetuando-se os es- cravos e os estrangeiros. Nessa nova forma de organização social e política, a democracia, o logos, ou seja, a razão, a palavra e o discurso tornaram-se mais importantes do que a condição social e econômica do indivíduo. Isso porque se entendia que os assuntos públicos dependiam do poder de argumentação. Outro autor importante a que podemos recorrer é Passos (2004), que em seu livro “Ética nas organizações”, discorre e elucida resumidamente sobre as principais doutrinas éticas, apresentando como principais filósofos: ● Sócrates (469-399 a. C.): dedicou-se à busca da verdade, que deveria ser uma forma de juízo universal, capaz de dirigir a vida das pessoas, no plano pessoal e político”. Para Sócra- tes, “as questões morais não são puramente convenções influenciadas pelas circunstâncias, mas problemas que devem ser resolvidos à luz da razão”. UNIDADE 1TÓPICO 120 É T I C A, P O L Í T I C A E S O C I E D A D E (PASSOS, 2004, p. 32-33). ● Platão (427-347 a. C.): sua teoria ética relaciona-se com a política e a razão (prudência), sua maior contribuição foi vislumbrar a cidade perfeita guiada pelos princípios morais. ● Aristóteles (384-322 a. C): “O bem moral consistia em agir de forma equilibrada e sob a orientação da razão. O ‘meio-termo’, o ponto justo, levaria à felicidade, a uma vida ‘boa e bela’, não como privilégio individual e sim coletivo”. (PASSOS, 2004, p. 35). ● Epicuro (341-270 a. C): teve sua filosofia dividida em três partes: canônica, física e ética; “uma vida feliz é impossível sem a sabedoria, a honestidade e a justiça, e estas, por sua vez, são inseparáveis de uma vida feliz”. (CARBISIER apud PASSOS, 2004, p. 35). ● Zenão (324-263 a. C.): doutrina do estoicismo, que é uma ética, uma forma de viver em que a natureza consistia na orientação central, que significava viver conforme a virtude. Vistos os principais nomes da filosofia da Idade Antiga, é interessante o seu estudo e sua contribuição à ética, na medida em que o pensamento filosófico, também como os costumes, se embebe de novas fontes, contudo sem perder o fio condutor em relação à sua reflexão quanto aos aspectos morais e às virtudes. Vamos para o próximo período, a Idade Média. 4.2 IDADE MÉDIA A Idade Média é identificada muito fortemente pelo Renascimento, que foi considerado um movimento literário, artístico e filosófico que teve duração entre o fim do século XIV ao fim do século XVI. Suas características principais foram o humanismo, a renovação religiosa, a renovação das concepções políticas e o naturalismo (novo interesse pela investigação da natureza). Nessa época, a situação política e social era mais complexa, por esse motivo não se podia pretender a mesma harmonia da polis. De acordo com Passos (2004, p. 37), “também por questões ideológicas houve o predomínio da teoria sobre a prática”, e o cristianismo tornou-se a religião oficial, o que influenciou as condutas morais. As concepções filosóficas destacadas por Passos (2004), ou seja, os principais filósofos deste período, foram: UNIDADE 1 TÓPICO 1 21 É T I C A, P O L Í T I C A E S O C I E D A D E ● Santo Agostinho (354-430): ‘compreender para crer, crer para compreender’. Para Agostinho, o dom divino era o único capaz de resgatar o homem de seus pecados. Nesse sentido, a ética estava ligada aos valores da moral cristã. ● Tomás de Aquino (1225-1274): a ética consiste em agir de acordo com a ordem natural, o homem tem livre-arbítrio e, orientado pela consciência, tem uma capacidade de captar, pela intuição, a ordem moral – ‘faz o bem e evita o mal’. DIC AS! Na Idade Média, a ética tem sua base na moral cristã. Veremos mais detalhadamente esta questão e os dois grandes expoentes – Agostinho e Tomás de Aquino na próxima unidade. De acordo com Passos (2004, p. 39), a Idade Média inaugura uma novidade na questão da moral: ao deslocar o eixo fim último da vida humana, de um valor bom em si mesmo para um bem que está em Deus. Se, para as concepções anteriores, a felicidade era atingida no próprio ser, agora ele se encontra no plano transcendental, e atingi-la requer apreender o fim último que se encontra em Deus. A ética na Idade Média, portanto, foi considerada a fase da era cristã, em que os desígnios morais do cristianismo tornavam-se os ditames do comportamento moral. Na Idade Média, portanto, o conceito de felicidade não pode ser atingido nem pela razão, nem pela filosofia, mas pela fé cristã. 4.3 IDADE MODERNA Como estudamos a ética, na Idade Antiga, era explicada pela perspectiva da natureza. Vamos ainda estudar de modo mais demorado no Tópico 1 da Unidade 2,a perspectiva cristã da ética com Agostinho e Tomás de Aquino, em que tudo vinha da natureza ou de Deus. Na Idade Moderna essa perspectiva muda e traz o homem como responsável pelas suas ações. UNIDADE 1TÓPICO 122 É T I C A, P O L Í T I C A E S O C I E D A D E Nesta perspectiva, nossa primeira dificuldade está na demarcação temporal daquilo que nomeamos de modernidade. Partindo de uma visão histórica, pautada numa lógica linear, podemos estabelecer as fronteiras temporais da modernidade do século XVI ao século XX, mas tendo presente que estas datações têm um significativo caráter de arbitrariedade em relação aos acontecimentos culturais, políticos, econômicos. Porém, se buscarmos estabelecer uma demarcação dos primórdios da modernidade a partir de ideias norteadoras, também encontraremos algumas dificuldades, na medida em que a modernidade assume prerrogativas medievais em sua constituição, perpassando o pensamento de filósofos e influenciando nossa forma de ser e estar no mundo até a contemporaneidade. Portanto, tendo em vista os limites históricos e conceituais da modernidade, nosso esforço será o de destacar alguns pressupostos que consideramos fundamentais para a discussão das propostas éticas que se constituirão no desenvolvimento do mundo moderno. Um dos primeiros pressupostos é o clássico conceito de “antropocentrismo”. O homem assume a centralidade do cosmo, ou seja, através do desenvolvimento da razão assume a existência em suas próprias mãos (“Cogito, ergo sum” – “Penso, logo existo”, de René Descartes), e a explicar os fenômenos, dominar a natureza (Conhecer é poder, de Francis Bacon), a construir seu mundo segundo sua vontade e representação (Schopenhauer), afastando-se assim da perspectiva teocêntrica medieval que o submetia a uma perspectiva heterônoma diante de si, dos outros, do mundo. Portanto, o ser humano moderno passa a ser senhor de si, a afirmar em alto e bom tom “eu sou”, sou livre e igual aos outros homens por meio da razão, da capacidade de pensar, de refletir e intervir no mundo e modificá-lo, modificando-se a si próprio. Outro pressuposto decorrente dos princípios anteriormente expostos é a ideia de verdade presente na modernidade. A verdade já não é mais revelada pelo transcendente ao homem, mas o resultado do esforço racional subjetivo de representação que o ser humano realiza sobre o mundo, a partir das relações que estabelece em sociedade. Portanto, algo passa a ser verdadeiro na medida em que pode ser racionalmente objetivado e universalizado entre os seres humanos. UNIDADE 1 TÓPICO 1 23 É T I C A, P O L Í T I C A E S O C I E D A D E NO TA! � REVOLUÇÃO INDUSTRIAL FIGURA 6 – IDADE MODERNA INDUSTRIAL FONTE: Disponível em: <http://www.historiadomundo.com.br/imagens/ idademoderna_industrial1.gif>. Acesso em: 15 dez. 2007. A Imagem acima marca uma das maiores revoluções que a Modernidade trouxe: A Revolução Industrial. Aliada à técnica, fábricas se espalham na Europa primeiramente e depois no restante do mundo. O modelo fabril torna-se dominante. O trabalho assumiu função central. Produção, distribuição e consumo em larga escala. Ao mesmo tempo, impactos civilizacionais e ambientais sem precedentes. Ideais de progresso, felicidade e modernização fundamentam a perspectiva industrializante. O cenário acima denuncia essa irreversível transformação natural. Os desenvolvimentos da ciência e da tecnologia marcam de forma significativa a modernidade. Com o desenvolvimento do método científico o homem moderno aguça seu olhar investigador, objetiva o mundo, as coisas, a natureza e a si próprio. A relação sujeito- objeto passa a ser determinante nas relações científicas do homem. Os avanços da ciência são materializados na tecnologia, que contribui significativamente para tornar a vida do homem menos rude e precária frente às forças inóspitas do mundo natural. O trabalho é outro dos pressupostos fundamentais da modernidade. No mundo antigo o trabalho era visto pelo cidadão grego como humilhação e, portanto, era atividade própria de escravos e estrangeiros. O ideal do cidadão era a atividade política nas ágoras públicas. No mundo medieval, o trabalho era apenas condição da subsistência, castigo infringido ao homem em função do pecado original. Na modernidade passa a ser atividade criadora do mundo e do próprio homem. O trabalho é elevado à condição definidora da subjetividade, “sou aquilo que faço”. Mas também é pelo trabalho que o homem modifica a natureza e, ao modificá-la, modifica a si próprio, assumindo assim uma ação autocriadora. UNIDADE 1TÓPICO 124 É T I C A, P O L Í T I C A E S O C I E D A D E A política também é um dos pressupostos definidores da modernidade. A modernidade estabelece a política como um mal necessário. Separa a ética da política (Maquiavel) na medida em que deixa claro que é inerente à ação política certo grau de imoralidade, em que está pressuposta a vontade de domínio e poder sobre os outros. Porém, a política é condição e garantia da vida em sociedade. Vamos aprofundar este tema da política na próxima unidade. E, por último, a ideia de história ganha na Modernidade um sentido totalmente diferente que em outras épocas de nossa civilização. Para os gregos antigos, não havia a noção de história, uma vez que estavam submetidos ao eterno retorno do mesmo na dinâmica da physis. Para o mundo medieval a ideia de história está presa à perspectiva teleológica de um início, pela obra da criação, e um fim necessário que é Deus. Para a Modernidade, a história é processo que teve início com o homem, o que lhe permite avaliar seu progresso, seus avanços ao longo de seu caminhar sobre a face da mãe-terra. Assim, a Idade Moderna, que ocorreu entre os séculos XVI e XIX, difere das anteriores, porque passa a existir uma complexidade ainda maior referente aos aspectos econômico, político, social e espiritual, principalmente em virtude do capitalismo, desenvolvimento científico e estados centralizados. Na Idade Moderna, a ética passa a ter uma perspectiva diferente, rompe com essa ideia suprema de felicidade e traz para a ação humana a responsabilidade de suas ações, e não como explicação divina e abstrata, assim como aprofunda Passos (2004, p. 40): A ética que surge e vigora nesse período é de tendência antropocêntrica, em que o ser humano é o seu fim e fundamento, apesar de ainda consistir na ideia de um ser universal e possuidor de uma natureza instável. Assim mesmo, ele aparece como o centro de tudo: da ciência, da política, da arte e da moral. Na verdade, o período da Idade Moderna é rico em teorias sobre a ética, mas segundo Passos (2004), o grande pensador a destacar é Kant. Immanuel Kant foi um dos primeiros pensadores responsáveis por esse rompimento. De acordo com Guariglia e Vidiella (2011, p. 97), “Kant estabelece de maneira categórica a concepção do dever como o centro neurológico da moralidade e imprimindo assim a ética, ou seja, a ética torna-se o fim do ser humano, que é a felicidade (ideal de perfeição)”. NO TA! � Immanuel Kant (1724-1804) – nasceu e morreu na Alemanha. Foi o grande responsável pela escola do criticismo e dentre a filosofia moderna e contemporânea. UNIDADE 1 TÓPICO 1 25 É T I C A, P O L Í T I C A E S O C I E D A D E Kant nos apresentou dois imperativos em que a ética pode ser compreendida: o hipotético e o categórico. No imperativo hipotético as condições são subordinadas. Dessa forma, a ética não se explica, porque as ações humanas são consequências de um interesse. já no imperativo categórico,em Kant, é o axioma básico para o comportamento moral, em que se pode explicar ética. Para Kant, a moralidade, o comportamento moral, vem da razão, vem do rigor do raciocínio, é uma lei inflexível, ou seja, as suas ações não são subordinadas a condições, são desprovidas de interesse, e, portanto, são de interesses gerais, podem tornar- se leis universais. NO TA! � “Imperativo categórico, em analogia ao termo mandamento, indica a norma da razão”. (ABBAGNANO, 2007, p. 628). Na Idade Moderna, então, se pode perceber que a razão ao cumprimento das leis, da moral, torna-se por efeito o dever do cidadão. Assim como destaca Passos (2004, p. 41): Enquanto as doutrinas éticas anteriores tinham por objetivo atingir uma felici- dade ou um bem, esta é uma moral da pura razão e do puro dever. A prática moral devia basear-se apenas nas orientações da razão, deixando totalmente de lado o mundo empírico. Assim, ele construiu uma moral desinteressada, desprovida de qualquer finalidade e de qualquer motivação, que não fosse o ‘cumprimento do dever pelo dever’, pois, para ele (Kant), a única coisa verda- deiramente boa seria, como dissemos, ‘uma boa vontade’, a disposição em seguir a lei moral em detrimento de vantagens que ela pudesse proporcionar ao indivíduo. Assim, a lei moral seria incondicional e absoluta. Então, para Kant, a felicidade só seria possível se o dever se submetesse à moralidade. Dessa forma, a ética e a moral nesse tempo estão relacionadas ao cumprimento do dever. 4.4 IDADE CONTEMPORÂNEA Chegamos à Idade Contemporânea. Este período é marcado pelo progresso científico e pela valorização do ser humano concreto. Essa época não busca a humanidade perfeita, ou seja, a ideia de cidade (polis) perfeita ou da suprema felicidade, nem tampouco a moral cristã dá conta de responder aos novos anseios. É a época da igualdade e liberdade, marcada pelos direitos fundamentais, “não pela imposição ou obrigação, com códigos a serem estabelecidos”. (PASSOS, 2004, p. 42). UNIDADE 1TÓPICO 126 É T I C A, P O L Í T I C A E S O C I E D A D E Destacam-se três grandes concepções: marxismo, pragmatismo e existencialismo, que brevemente podemos entender. O marxismo se refere às ideias filosóficas, políticas e sociais elaboradas por Karl Marx e Friedrich Engels. O marxismo entende o homem como ser social e histórico e, também, aborda a questão da sociedade produtiva e as lutas de classes. O pragmatismo é uma doutrina filosófica que adota a utilidade prática. O pragmatismo está ligado ao senso prático, em que a verdade está relacionada à utilidade. O existencialismo tem como ponto de partida o ser humano. O indivíduo, pelas suas ações, sentimentos, então essa doutrina se preocupa com o ser humano em relação ao mundo. Os principais pensadores destacados por Passos (2004) são: ● Karl Marx (1818-1883): Entendia que o ser humano era ao mesmo tempo social e histórico, objetivo e subjetivo, capaz de criar e de interferir na realidade e transformá-la à sua medida. Nesse processo, ele não só contribuía a seu mundo concreto, como também à sua fundamentação valorativa. (PASSOS, 2004, p. 42). ● Friedrich Nietzsche (1844-1900): procurou estudar a origem dos valores e entender o porquê da valorização de uns atos e não de outros, ou seja, a dicotomia entre o bem e o mal. ● Charles Sanders Peirce (1854-1914): apresentou o pragmatismo como um método e não como teoria. A moral é algo quando o fim é bom; nesse sentido, quanto aos valores, são absolutos. “O que é bom ou mau é relativo, variando de situação para situação. Depende de sua utilidade para a atividade prática”. (PASSOS, 2004, p. 45). ● Habermas (1929): as argumentações morais servem para que os conflitos sejam desfeitos pelo consenso. O processo reflexivo, intersubjetivo, argumentativo, leva os participantes ao comum acordo. Alguns desses pensadores voltarão a ser lembrados em nosso caderno. Fique atento. Até o próximo tópico, quando vamos falar do caminhar próximo entre ética e moral. UNIDADE 1 TÓPICO 1 27 É T I C A, P O L Í T I C A E S O C I E D A D E LEITURA COMPLEMENTAR ÉTICA E MORAL UMA REFLEXÃO SOBRE A ÉTICA E OS PADRÕES DE MORALIDADE OCIDENTAL Israel Alexandria 1 A MORALIDADE ENQUANTO OBjETO DA ÉTICA Gosto não se discute. Correntemente essa frase é utilizada quando se quer estabelecer a ideia de que gosto é algo radicalmente subjetivo e imutável. Ora, a imensa variedade de sujeitos com preferências e opiniões distintas entre si e o fato de um mesmo sujeito mudar de preferências e opiniões fazem prova de que a complexa estrutura psíquica humana é capaz de aprender e de modificar o que se aprendeu. SUBjETIVIDADE não combina com IMUTABILIDADE, logo a frase em questão é contraditória. Diz-se também que PERSONALIDADE vem da natureza. Quando atribuímos à natureza a existência de alguma coisa, estamos simplesmente dizendo que esta coisa não foi criada pela cultura, nasce-se com ela. Não há necessidade de aprender o que é natural. O natural é inato. Essa coisa chamada personalidade é inerente à pessoa. Pessoa e personalidade vêm da mesma palavra: persona. Ninguém nasce pessoa. Ninguém se refere a um bebê como “aquela pessoa”, pois se sabe que personalidade tem a ver com um sistema mais ou menos definido de gostos, preferências que se vai adquirindo com o tempo. Embora as preferências e as condições que formam a personalidade sejam tão subjetivas e mutáveis, há uma constante que não podemos desprezar. É o princípio do prazer. Todo ser dotado de sensibilidade tem a propensão natural de afastar o que lhe está associado à dor e buscar o que lhe é prazeroso. O gato morde o homem que lhe pisa a cauda e o vegetal cresce em direção ao sol. Para o gato é bom que não lhe pisem na cauda. Para a planta, é bom crescer em direção ao sol. O ser humano não foge a essa regra. O bebê humano é capaz de manifestar sua percepção de prazer e dor e essa capacidade não se perde com a idade. O que muda é a forma como se dá essa manifestação e o objeto do prazer ou o da dor que, por sua vez, dependem das circunstâncias. O que permanece imutável é o fato dos sujeitos estarem sempre buscando o que lhes parece bom, e afastando o que lhes parece mal. É sobre esses dois conceitos que trata a ética. A ética é uma ciência comprometida com a busca aprofundada das relações entre o homem e os conceitos de bem e de mal. Trata-se de uma ciência da qual não podemos nos esquivar, pois o bem e o mal, o certo e o errado impregnam nossa conduta prática. Embora a maioria não pense no assunto, o comportamento humano é uma contínua resposta às questões éticas. É nesse ponto que nasce a distinção entre ética e moral. UNIDADE 1TÓPICO 128 É T I C A, P O L Í T I C A E S O C I E D A D E O dicionarista e pensador Nicola Abbagnano (1901-1990) afirma que MORAL é “atinente à conduta” (1982: 652), enquanto a ÉTICA é “a ciência com vistas a dirigir e disciplinar a mesma conduta” (1982: 360). A moral seriam as regras práticas, e a ética, o fundamento teórico da moral. Diz-se moral aristotélica, moral kantiana para enfatizar os respectivos aspectos práticos; ética aristotélica, ética kantiana estariam mais relacionados aos seus aspectos teóricos. Alguns autores, entretanto, ressaltam que, embora haja uma infinidade de morais: moral cristã, moral judaica, moral platônica, moral kantiana etc., a ética seria uma só. É que, sendo esta uma ciência, trabalha apenas com conceitos universais. Basicamente, são três os modelos de moralidade: aristocrático, utilitarista e kantiano. 2 A MORAL ARISTOCRÁTICA A moral aristocrática visa fazer com que o indivíduo se aproxime, cada vezmais, de um homem ideal e transcendente. Nesse sentido, são morais aristocráticas a moral judaica, baseada no modelo de homem de fé (Abraão), a moral cristã, no amor ao próximo (jesus), a moral platônica, no ascetismo (filósofo-rei), a moral budista, na eliminação dos desejos (Buda). Mas, na maioria das vezes, esses modelos ideais são apenas descrições sem referências a nomes de personagens históricos. A moral aristocrática propõe que cada indivíduo seja dotado das virtudes adequadas (a palavra virtude vem de virtu, que significa força) para imitar o modelo ou um ideal de vida proposto. A felicidade plena é obtida quando o indivíduo realiza o ideal proposto. Quanto mais virtuoso for o indivíduo, maior o seu grau de felicidade. Sócrates (470-399 a.C.) inventou o ideal cínico (palavra derivada de canino), cuja principal virtude é o desprezo às comodidades, às riquezas e às convenções sociais, enfim a tudo aquilo que afasta o homem da simplicidade natural de que dão exemplo os animais (no caso o cão). Cínico é aquele que vive o descaramento da vida canina. Relata-se que Sócrates caminhava nos mercados apenas para saber do que ele não precisava. Outros curiosos relatos envolvendo Diógenes, tais como o da “visita do imperador”, “a mão e a cuia”, “a lanterna” etc., indicam que este teria sido o maior cínico da história. Platão (428-348 a.C.) propôs o ideal asceta. A prática da ascese consiste em viver na contemplação do mundo das ideias ao tempo que se afasta de tudo o que é corpóreo. “É evidente que o trabalho do filósofo consiste em se ocupar mais particularmente que os demais homens em afastar sua alma do contato com o corpo” (Platão: Fédon, 65, a). O sábio educa- se para a morte, ou seja, para o dia em que sua alma se separará definitivamente do corpo, migrando para o outro mundo. UNIDADE 1 TÓPICO 1 29 É T I C A, P O L Í T I C A E S O C I E D A D E FONTE: <http://www.espiritualismo.info/filosofias.html>. Aristóteles (384-322 a.C.) definia o homem ideal como aquele que consegue pôr em prática tanto a sua animalidade natural como a sua sociabilidade natural, pois o homem é um animal social por natureza. "Mesmo quando não precisam da ajuda dos outros, os homens continuam desejando viver em sociedade." (Aristóteles. Política: III, 6). Reprimir a animalidade ou a sociabilidade distancia o homem da felicidade. Para encontrar um termo médio entre essas duas naturezas, o homem vale-se da razão. Os estoicos são outro exemplo de moral aristocrática. No séc. IV a.C. Acredita-se que o nome estoico tenha sido inspirado no local onde Zenão de Cício (335-263 a.C.) ensinava: os pórticos (stoa, em grego). Costuma-se atribuir a razão do surgimento dessa doutrina ao fato da cidade de Atenas haver perdido sua independência para os macedônicos, prolongada depois pelo Império Romano. O estoicismo foi uma espécie de refúgio espiritual, uma via filosófica para se conseguir a independência em nível individual. Não obstante, o estoicismo atravessou séculos, sendo adotado pelos cristãos e até pelo imperador romano Marco Aurélio (121-180 d.C.). Segundo os estoicos, nenhum evento acontece por acaso (teoria da necessidade). Até mesmo o trajeto de uma folha que se desprende da árvore já foi milimetricamente traçado pelo Logos, princípio inteligente do cosmos. O ideal de sabedoria estoica é a completa apatia: indiferença-acomodação diante dos acontecimentos da vida, é o que revela Sêneca (4 a.C. 65 d.C.), um dos expoentes do estoicismo. Toda a vida é uma escravidão. É preciso, pois, acostumar-se à sua condição, queixando- se o menos possível e não deixando escapar nenhuma das vantagens que ela possa oferecer: nenhum destino é tão insuportável que uma alma razoável não encontre qualquer coisa para consolo. Vê-se frequentemente um terreno diminuto prestar-se, graças ao talento do arquiteto, às mais diversas e incríveis aplicações, e um arranjo hábil torna habitável o menor canto. Para vencer os obstáculos, apela à razão: verás abrandar-se o que resistia, alargar-se o que era apertado e os fardos tornarem-se mais leves sobre os ombros que saberão suportá-los. (1973: 216) UNIDADE 1TÓPICO 130 É T I C A, P O L Í T I C A E S O C I E D A D E Não se interprete indiferença por alienação: um sábio pode engajar-se na vida política até mesmo porque estava escrito. Nesse ponto, os povos muçulmanos parecem estar em franco acordo com a doutrina estoica, pois regularmente repetem a expressão maktub (estava escrito), particípio passado do verbo catab (escrever). A virtude do sábio é o controle absoluto de suas emoções. Segundo sua parenética (termo que diz respeito aos aconselhamentos práticos), quando as circunstâncias tornam impossível o controle das emoções, é aconselhável a prática do suicídio. Epicuro de Samos (341-270 a.C.) criou o modelo de sábio epicurista: o homem que pratica plenamente a virtude da ataraxia (despreocupação; ausência de aborrecimentos, de dores ou medos). Nem a posse das riquezas nem a abundância das coisas nem a obtenção de cargos ou o poder produzem a felicidade e a bem-aventurança; produzem-na a ausência de dores, a moderação nos afetos e a disposição de espírito que se mantenha nos limites impostos pela natureza. FONTE: Disponível em: <http://a-educologia.blogspot.com.br/2012/10/a- sabedoria-do-epicurismo-1.html>. Acesso em: 15 dez. 2007. A ausência de perturbação e de dor são prazeres estáveis; por seu turno, o gozo e a alegria são prazeres de movimento, pela sua vivacidade. Quando dizemos, então, que o prazer é fim, não queremos referir-nos aos prazeres dos intemperantes ou aos produzidos pela sensualidade, como creem certos ignorantes, que se encontram em desacordo conosco ou não nos compreendem, mas ao prazer de nos acharmos livres de sofrimentos do corpo e de perturbações da alma. (Epicuro,1993: 25). Efetivamente, a ideia de que os epicuristas pregavam a volúpia do corpo é falsa. Eles praticavam uma espécie de otimismo profilático que se aproxima muito do famoso "jogo do contente" da personagem Poliana. Eram iconoclastas em relação aos mitos sobre morte, religião e política. Isolados em jardins afastados das agitações da vida citadina, cultivavam a amizade (a prática de viver em seletos círculos de amigos era considerada condição fundamental na UNIDADE 1 TÓPICO 1 31 É T I C A, P O L Í T I C A E S O C I E D A D E vida do sábio epicurista). O modus vivendi de Epicuro e seus discípulos foi chamado de aurea mediocritas (mediocridade dourada) por Horácio. 3 A MORAL UTILITARISTA A moral utilitarista caracteriza-se pela ausência do transcendente e de modelos a priori a serem imitados. Todas as ações devem ser medidas pelo bem maior para o maior número. Ao definir o utilitarismo, o filósofo irlandês Francis Hutcheson (1694-1746) assim se expressa: "a melhor ação é aquela que produz a maior felicidade ao maior número de pessoas." O utilitarismo é a moral dos números. Nicolau Maquiavel (1469-1527), pensador italiano, tem sobre si a culpa de haver defendido que os fins justificam os meios, embora, segundo o Dicionário de Filosofia de Abbagnano (1962: 614), tal máxima tenha origem jesuíta. A injustiça que recai sobre Maquiavel vem da dificuldade que se tem de separar o mero descrever e o opinar. Ele tinha horror a governos de ocasiões, golpes sucessivos, casuísmos, enfim à política do dia a dia que tanto permeava a agitada vida nos bastidores políticos de Florença. Em O Príncipe ele faz uma descrição em forma de aconselhamento, com base em seus conhecimentos de história, da conduta do governante que pretende permanecer no poder porum tempo relativamente longo, mas chega mesmo a confessar que, para atingir tal permanência, o ideal seria que as coisas não ocorressem da forma como a história demonstrara. Não obstante, a tradição nos legou o termo maquiavélico como designativo de um modelo que se firmou como um dos marcantes exemplos de moral utilitarista: a que visa um maior número de dias no poder. Thomas Hobbes (1588-1679), filósofo inglês, parte do princípio de que quanto menor for o número de invasões, mortes violentas e desapossamentos mútuos, mais feliz será a espécie humana. Esta condição só pode ser arranjada com a existência de um contrato social e de um Leviatã. Vamos explicar melhor: Para Hobbes, o homem é, naturalmente, o lobo do homem (homo homini lupus), ou seja, não é um ser naturalmente cordial e sociável, não está naturalmente aparelhado para sentir-se incomodado com a dor alheia quando sua sobrevivência está em jogo. "Se dois homens desejam a mesma coisa, ao mesmo tempo em que é impossível ela ser gozada por ambos, eles se tornam inimigos." (Hobbes, 1651: 43). Relegados ao estado de natureza, os homens promovem uma guerra de todos contra todos (bellum omnium contra omnes), guerra inútil porque põe em risco a própria conservação humana. Os homens, portanto, perceberam e admitiram entre si a vantagem em cada um reprimir sua animalidade natural em prol de uma mútua convivência pacífica, bem mais útil, produtiva, confortável e segura. A civilização nasce desse contrato social. Essa nova situação, entretanto, só pode ser mantida com a existência de um Leviatã (monstro amedrontador e forte) que se expressa preferencialmente na figura de um rei, comandante autoritário e único que gera em todos o sentimento generalizado de medo da punição, garantindo assim a continuidade do Estado civil. A base da moral utilitária de Hobbes sofreu inúmeras críticas, a principal partiu de UNIDADE 1TÓPICO 132 É T I C A, P O L Í T I C A E S O C I E D A D E jean-jacques Rousseau (1712-1778), filósofo suíço, que via na animalidade humana não lobos e sim cordeiros. Tais quais cordeiros livres, os homens, no estado de natureza, vivem em plena felicidade. Foi a civilização que fez com que muitos cordeiros se tornassem violentos e pensassem ser lobos. A soberania do Leviatã não é desejável porque, além de retirar do homem a sua liberdade natural, impossibilita a construção de uma liberdade civil, que só é possível quando a vontade geral é soberana. A conquista da liberdade civil estaria na reeducação por meio de leis "corderiais" que, metaforicamente, fizessem com que os cordeiros reconhecessem que são cordeiros. FONTE: Disponível em: <http://informarepropagar.blogspot.com.br/2013/02/lobo- em-pele-de-cordeiro-prefiro-viver.html>. Acesso em: 15 dez. 2007. Ainda a respeito da dicotomia lobo/cordeiro há outras observações curiosas. Para Frederich Nietzsche (1844-1900), filósofo alemão, a natureza produz homens-lobos e homens-cordeiros e não podemos ignorar que lobos estão aparelhados para devorar cordeiros. Quando só restarem lobos, as forças naturais produzirão superlobos que devorarão antigos lobos numa progressão infinita de vidas cada vez mais fortes. A moral nietzschiana é a da exuberância da força e do vitalismo das potências naturais ou super-humanas. É uma moral que pretende ir além do bem e do mal (se é que isso é possível). Nietzsche afirma que dicotomia entre bem e mal não passa de invencionice resultante do ressentimento e da fraqueza dos cordeiros. "Toda moral é [...] uma espécie de tirania contra a 'natureza' e também contra a 'razão'". (Nietzsche, 1886: 110). Michel Foucault (1926-1984) diria que lobos e cordeiros habitam cada um de nós e ambos teriam desenvolvido estratégias de sobrevivência que tornariam extremamente complexa a luta entre os dois, uma complexidade tal que o cordeiro, em determinados momentos, poderia estar sob a condição de ataque. Nesse caso a questão moral só poderia ser definida dentro de um contexto muito específico, onde se levariam em conta os sujeitos envolvidos, suas estratégias, suas relações de poder... Foucault é o criador da microética. UNIDADE 1 TÓPICO 1 33 É T I C A, P O L Í T I C A E S O C I E D A D E 4 A MORAL KANTIANA A moral kantiana é a concebida por Immanuel Kant (1724-1804), filósofo prussiano. Sua intuição principal foi que o indivíduo deve estar livre para agir "não em virtude de qualquer outro motivo prático ou de qualquer vantagem futura, mas em virtude da ideia de dignidade de um ser racional que não obedece a outra lei senão àquela que ele mesmo simultaneamente se dá" (Kant, 1785: 16). A ação moral exige a autonomia do agente. Ser autônomo é obedecer a si mesmo ou ao que vem de dentro. É o inverso do heterônomo (o que obedece a ordem do outro, obedece ao que vem de fora). Não se pode falar em ética sem autonomia, pois a ação heterônoma (cuja vontade vem de fora) não é uma ação ética. A moral aristocrática e a utilitarista não são eticamente válidas porque dependem de algo exterior: a primeira, de ideais transcendentes e a segunda, de ideais imanentes. Para realizar a autonomia, a ação moral deve obedecer apenas ao imperativo categórico: o bom senso interior que todos nós temos de perceber que não somos instrumentos e sim agentes. Nunca instrumentalizar o homem é a exigência maior do imperativo categórico. Kant fornece uma regra para saber se uma decisão nossa obedece ou não ao imperativo categórico: indague a si mesmo se a razão que te faz agir de determinada maneira pode ser convertida em lei universal, válida para todos os homens. Se não puder, esta tua ação não é digna de um ser racional, não é eticamente boa porque te falta a autonomia, estás agindo premido por circunstâncias exteriores a ti. O bem ético é um bem em si mesmo. Ao realçar a exigência da autonomia da ação moral, Kant desperta a questão da liberdade ética. O conceito de liberdade ética parte da distinção entre ação reflexa e ação deliberada. A ação deliberada é aquela que resulta de uma decisão, de uma escolha, é o mesmo que ação autônoma. A ação reflexa é "instintiva", independe da vontade do agente. Apenas as ações deliberadas podem ser analisadas sob o ponto de vista ético. Voltemos ao exemplo do gato que morde o homem que lhe pisou a cauda. O gato tentou afastar o que lhe era um mal, mas não podemos dizer que ele escolheu morder o homem. Logo, não se pode dizer que o gato agiu de forma imoral ou antiética. A questão da liberdade ética pode ser assim resumida: Levando-se em conta que somos animais e ocasionalmente agimos de forma reflexa, em que condições nossa ação pode ser considerada uma ação deliberada? Henri Bergson (1859-1941) e jean-Paul Sartre (1905-1980) respondem a essa pergunta de forma radical: O livre-arbítrio é a qualidade que melhor define o homem. A própria condição humana exige que todo ato humano seja um ato de escolha, seja uma ação deliberada. O homem está condenado à liberdade porque nunca pode decidir não escolher. Diante da consciência de que nos vemos forçados a realizar algo por imposição exterior, passamos a ter liberdade de escolher entre entregar-se à ação ou ir de encontro a ela. FONTE: ALEXANDRIA, Israel. Ética e moral: uma reflexão sobre a ética e os padrões de moralidade ocidental. 2001. Disponível em: <http://ialexandria.sites.uol.com.br/textos/israel_textos/ etica_e_moral.htm>. Acesso em: 20 set. 2011. UNIDADE 1TÓPICO 134 É T I C A, P O L Í T I C A E S O C I E D A D E RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico vimos que: • As principais distinções entre ética e moral as aproximam e as caracterizam. • As esferas da aplicabilidade da moral: universalismo e particularismo. • Os aspectos de moral, imoral e amoraltêm suas características próprias. • A Idade Antiga foi a época do surgimento da ética. • A Idade Média determina a ética pelos princípios da moral cristã. • A Idade Moderna, através de Kant, traz ao homem a responsabilidade de seus atos. • A Idade Contemporânea reflete sobre as novas formas de interação humana dentre a sua complexidade e novas relações, para assim descobrir novas formas consensuais e conceituais. UNIDADE 1 TÓPICO 1 35 É T I C A, P O L Í T I C A E S O C I E D A D E AUT OAT IVID ADE � 1 Apresente a distinção entre marxismo, pragmatismo e existencialismo. 2 Como podemos diferenciar moral, imoral e amoral? UNIDADE 1TÓPICO 136 É T I C A, P O L Í T I C A E S O C I E D A D E É T I C A, P O L Í T I C A E S O C I E D A D E A ÉTICA E A MORAL CAMINHAM JUNTAS 1 INTRODUÇÃO TÓPICO 2 Caro(a) acadêmico(a)! Nesse tópico apresentaremos, em linhas gerais, quando há a diferença entre ética e moral que, muitas vezes, causa confusão entre as pessoas. Apresentaremos também a gênese da consciência moral, tão importante para o desenvolvimento humano. UNIDADE 1 2 EXISTEM DIFERENÇAS? Com relação à ética e à moral, podemos afirmar que a ética estuda e investiga o comportamento moral dos seres humanos. E esta moral é constituída pelos diferentes modos de viver e agir dos homens em sociedade, que é formada por suas diretrizes morais da vida cotidiana, transformando-se no decorrer dos tempos. Nesta perspectiva, apresentamos as suas principais diferenças, a seguir: QUADRO 3 – DIFERENçAS ENTRE ÉTICA E MORAL ÉTICA MORAL • É a ciência que estuda a moral. • É a reflexão sistemática sobre o comportamento moral. • É a parte da filosofia que trata da reflexão dos princípios universais da humanidade. • São os valores humanos universais e fundamentais. • É a teoria do comportamento moral. • É a compreensão subjetiva do ato moral. • É o modo de viver e agir de cada povo, em cada cultura. • É o conjunto de normas, prescrições e valores reguladores da ação cotidiana. • Varia no tempo e no espaço. • São os valores concernentes ao bem e ao mal, permitindo ou proibindo. • Conjunto de normas e regras reguladoras da relação entre os homens de uma determinada comunidade. • Nasce da necessidade de ajudar cada membro aos interesses coletivos do grupo. FONTE: Tomelin e Tomelin (2002, p. 89-90) UNIDADE 1TÓPICO 238 É T I C A, P O L Í T I C A E S O C I E D A D E Hoje em dia, o avanço na compreensão e vivência dos direitos humanos confirma que as diferenças são essenciais para uma sociedade que prima pela justiça, pela equidade. Cabe ao ser humano, constantemente, decidir pela verdade que se lhe impõe no cotidiano da sua existência. Vivemos continuamente tomando decisões que se nos apresentam justamente porque não vivemos sozinhos. A ética e a moral estão aí para nos auxiliar nessas decisões. Vázquez (2003, p. 15), no princípio de seu livro “Ética”, propõe diversas questões práticas para a decisão do ser humano, tais como: “Devemos sempre dizer a verdade ou há ocasiões em que devo mentir? Com respeito aos crimes cometidos na Segunda Guerra Mundial, os soldados que os executaram, cumprindo ordens militares, podem ser moralmente condenados?” O que o autor quer alertar é que todos esses problemas são práticos e reais e se apresentam nas relações afetivas dos seres humanos. As decisões práticas humanas podem afetar um pequeno ou um grande grupo. Em várias das situações que se apresentam ao ser humano, o que está em jogo são os problemas morais que ele deve decidir. Os valores e as normas que são reconhecidos numa sociedade como os mais corretos, são os juízos que se formulam diante das ações humanas. Os problemas éticos se diferenciam, como elucida Vázquez (2003, p. 17): À diferença dos problemas prático-morais, os éticos são caracterizados pela sua generalidade. Se na vida real um indivíduo concreto enfrenta uma deter- minada situação, deverá resolver por si mesmo, com a ajuda de uma norma que reconhece e aceita internamente, o problema de como agir de maneira que a sua ação possa ser boa, isto é, moralmente valiosa. Será inútil recorrer à ética com a esperança de encontrar nela uma norma de ação para cada situação concreta. Daí surgem, então, os problemas morais e éticos a respeito da legalidade também, porque o ideal é que nossas ações sejam éticas, morais e legais. Mas é possível agirmos de forma moral, mas ilegal? Por exemplo, se estamos num grande centro, às 4 horas da manhã, dirigindo um carro, o sinal fica vermelho, você respeita e para, ou, de forma consciente, verificando se é possível avançar, você avança o sinal. Você se vê no dilema interessante: ou respeita a lei e para, ou se previne de um suposto assalto e avança o sinal. Mesmo que você considere a atitude avançar o sinal moral, porque é melhor pagar uma multa do que ser assaltado, ainda assim ela não é legal. O ideal é que seja legal, ético e moral. O exemplo dado é de referência a uma decisão pessoal e que pode gerar consequências, uma multa de trânsito, portanto essa ação é bem particular e de consequência particular. UNIDADE 1 TÓPICO 2 39 É T I C A, P O L Í T I C A E S O C I E D A D E FIGURA 7 – MORAL E ÉTICA FONTE: Adaptado de: Tomelin e Tomelin (2002, p. 89-90) Assim, podemos expor que a moral vem se constituindo historicamente, mudando no decorrer da própria evolução do homem em sociedade. Em que seus hábitos e costumes são constituídos por esta relação social, em que a essência humana é pautada por estes princípios morais. E estes, por sua vez, constituem o ser social que somos. E a ética nesta questão chega para simplesmente regular e analisar estes preceitos morais. A ética é precursora da TRANSFORMAÇÃO SOCIAL dos diversos sistemas ou estruturas sociais. Sistemas estes que imprimiam suas mudanças sociais, tais como: • Capitalismo. • Socialismo. Então, podemos dizer que quando é constituída uma nova estrutura social, a ética, os vilões e princípios morais são modificados para constituir assim esta nova concepção de sociedade. Em outros termos, o sistema de valores morais se transforma no processo de constituição de um novo padrão sócio-histórico. Mas, nos diversos processos e projetos de transformações sociais devem permear os valores da solidariedade, igualdade e fraternidade, para assim poder constituir uma sociedade mais justa e democrática. Quando nos remetemos a apontar a crise da ética na contemporaneidade, nos desafiamos a apresentar os fundamentos epistemológicos nos quais se fundamenta esta perspectiva de análise. Afinal, o caminho seguro seria atribuir as mais diversas situações a uma genérica e obscura crise da ética, desresponsabilizando-nos de defini-la e situá-la adequadamente no contexto civilizatório ocidental. UNIDADE 1TÓPICO 240 É T I C A, P O L Í T I C A E S O C I E D A D E Uma das possibilidades de nos apercebermos que estamos envoltos numa crise é quando temos dificuldade de definir adequadamente situações existenciais. Quando nossas referências a partir das quais nos posicionamos diante do mundo, da vida, das pessoas em nosso entorno não nos fornecem mais explicações adequadas, ou minimamente satisfatórias. Esta dificuldade de reconhecer e estabelecer referenciais atinge todas as dimensões de nossa vida, perpassando necessariamente o discurso (o logos), as palavras, os conceitos através dos quais expressamos em ideias o mundo construído por nossas representações. ATEN ÇÃO! Caro(a)
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