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etica,_politica_e_sociedade_-_ (1)

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UNIDADE 1
A étIcA E A morAl
objEtIvos DE AprENDIzAgEm
 Esta unidade tem por objetivos:
	compreender o conceito de ética e o conceito de moral;
●	 verificar	a	evolução	da	conduta	moral	ao	longo	dos	anos;
●	 identificar	a	importância	da	ética	e	da	moral	para	o	desenvolvimento	
da	sociedade.
TÓPICO 1 – ENTENDENDO A ÉTICA E A MORAL
TÓPICO 2 – A ÉTICA E A MORAL CAMINHAM 
JUNTAS
TÓPICO 3 – A ÉTICA E A MORAL NA SOCIEDADE
plANo DE EstUDos
Esta unidade está dividida em três tópicos. No final de cada 
um deles, você encontrará um resumo e atividades que reforçarão o 
seu aprendizado.
Márcia Bastos de Almeida
Okçana Battini
Giana Albiazzetti
Sandro Luiz Bazzanella
André Bazzanella
Vera Lúcia Hoffmann Pieritz
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ENTENDENDO A ÉTICA E A MORAL
1 INTRODUÇÃO
TÓPICO 1
Vamos	iniciar	este	tópico	buscando	a	compreensão	dos	conceitos	de	ética	e	moral,	
assim	como	sua	contribuição	para	a	valorização	das	relações	humanas.
Não	podemos	falar	de	ética	sem	vislumbrar	a	filosofia	como	fundamento	da	própria	ética	e	
da	moral.	A	filosofia	foi	campo	fértil,	ao	longo	da	história	da	humanidade,	para	o	desenvolvimento	
da	moral	e	da	ética	como	parte	integrante	de	uma	sociedade	que	queremos	sempre	melhor.	
Enquanto	a	filosofia	nos	lança	nos	questionamentos	acerca	do	que	é	certo	e	do	que	é	errado,	
a	ética	nos	conduz	no	caminho	daquilo	que	acreditamos	ser	o	melhor	para	nós	mesmos	e	
para	os	outros.	Com	esta	unidade	você	terá	oportunidade	de	aprender	a	construção	histórica	
e	social	da	moral,	bem	como	os	conceitos	de	valor	e	da	ética.	Também	terá	oportunidade	de	
perceber	que	a	moral	está	fundamentada	(como	a	fundação	de	uma	construção)	a	um	ethos	
que	foi	constituído	durante	a	modernidade	pelo	modelo	epistemológico	inaugurado	naquele	
período.	Você	poderá	analisar	e	refletir	sobre	os	valores	que	norteiam	o	nosso	agir	nos	dias	
atuais	e	como	esse	agir	foi	se	modificando	na	história	da	cultura	ocidental.
UNIDADE 1
2 A ÉTICA
Ao	longo	da	história	da	humanidade,	várias	têm	sido	as	áreas	que	fomentam	reflexões	
acerca	da	ética,	até	porque	a	humanidade	necessita	de	acordos	para	que	a	sua	interação	e	
convivência	se	tornem	sustentáveis.	Por	isso	vamos	também	estudar	as	concepções	doutrinais	
da	Grécia	até	a	contemporaneidade.
É	nessa	perspectiva,	da	convivência,	 do	entendimento,	que	queremos	 trabalhar	os	
conceitos	a	seguir.
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2.1	CONCEITO
Quando	falamos	de	ética,	não	podemos	limitar	a	uma	realidade	somente	conceitual,	em	
que	as	práticas	encontram-se	distanciadas	do	nosso	dia	a	dia,	mas,	na	verdade,	ao	estudarmos	
a	ética	poderemos	observar	que	a	mesma	se	encontra	implícita	nas	ações	humanas.
No	nosso	dia	a	dia,	a	ética	tem	presença	garantida,	porque	ela	faz	parte	do	ser	humano	
em	todas	as	suas	atividades,	funções,	espaço,	ou	seja,	na	família,	no	trabalho,	no	lazer,	enfim,	
onde	o	ser	humano	interage	com	outro,	a	ética	aí	se	faz	presente.
Uma	boa	percepção	de	ética	vem	de	Solomon	(2006,	p.	12),	segundo	o	qual	“estudar	
ética	não	é	escolher	entre	o	bem	e	o	mal,	mas	é	se	sentir	confortável	diante	da	complexidade	
moral”.	Nesse	sentido,	estudar,	refletir	e	entender	ética,	a	sua	mais-valia,	se	faz	ao	pensarmos	
no	contexto	da	nossa	sociedade,	nas	atitudes	humanas.
FIGURA	1	–	ÉTICA
FONTE:	Disponível	em:	<http://filosofiapibidufba.blogspot.com.br/2011/04/o-termo-
etica-deriva-do-grego-ethos.html>.	Acesso	em:	8	maio	2012.
ATEN
ÇÃO!
Caro(a) acadêmico(a)! Você sabe a diferença entre ética e moral?
Diversas	questões	éticas	e	morais	são	facilmente	confundidas,	como	coloca	Valls	(1994,	
p.	7):	“A	ética	é	daquelas	coisas	que	todo	mundo	sabe	o	que	são,	mas	que	não	são	fáceis	de	
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explicar,	quando	alguém	pergunta”.
Vejamos	então	algumas	definições	 sobre	 ética	 dentre	 as	 referências	 bibliográficas	
pesquisadas,	para	nos	auxiliar	na	formação	do	conceito	de	ética:
Tradicionalmente,	ela	é	entendida	como	um	estudo	ou	uma	reflexão,	científica	
ou	filosófica,	e	eventualmente	até	teológica,	sobre	os	costumes	ou	sobre	as	
ações	humanas.	Mas	 também	chamamos	de	ética	a	própria	 vida,	 quando	
conforme	aos	costumes,	e	pode	ser	a	própria	realização	de	um	tipo	de	com-
portamento.	(VALLS,	1994,	p.	7).
“A	ética	é	a	teoria	ou	ciência	do	comportamento	moral	dos	homens	em	sociedade,	ou	
seja,	é	a	ciência	de	uma	forma	específica	de	comportamento	humano.”	(VÁZQUEZ,	2003,	p.	23).
Ética	é	a	ciência	da	conduta	humana,	segundo	o	bem	e	o	mal,	com	vistas	à	
felicidade.	É	a	ciência	que	estuda	a	vida	do	ser	humano,	sob	o	ponto	de	vista	
da	qualidade	da	sua	conduta.	Disto	precisamente	trata	a	Ética,	da	boa	e	da	
má	conduta	e	da	correlação	entre	boa	conduta	e	felicidade,	na	interioridade	
do	ser	humano.	A	Ética	não	é	uma	ciência	teórica	ou	especulativa,	mas	uma	
ciência	prática,	no	sentido	de	que	se	preocupa	com	a	ação,	com	o	ato	humano.	
(ALONSO;	LÓPEZ;	CASTRUCCI,	2006,	p.	3).
Etimologicamente	 falando,	 ética	 é	 derivada	do	grego	ethos,	 que	 significa	 costume,	
hábitos	e	valores	de	determinada	coletividade.	A	palavra	moral	deriva	do	latim	mos – ou mores 
no	plural – que	também	significa	costume	ou	as	normas	adquiridas	como	hábito. Segundo	o	
Houaiss	(2009,	p.	324),	ética	é:	“1)	Estudo	dos	juízos	de	apreciação	que	se	referem	à	conduta	
humana,	do	ponto	de	vista	do	bem	e	do	mal;	2)	Conjunto	de	normas	e	princípios	que	norteiam	
a	boa	conduta	do	ser	humano”.
A	Ética	é	um	saber	científico	que	se	enquadra	no	campo	das	Ciências	Sociais.	
É	uma	disciplina	teórica,	um	sistema	conceitual,	um	corpo	de	conhecimentos	
que	se	torna	inteligível	aos	fatos	morais.	Mas	o	que	são	fatos	morais?	São	os	
fatos	sociais	que	dizem	respeito	ao	bem	e	ao	mal,	juízos	sobre	as	condutas	dos	
agentes,	convenções	históricas	sobre	o	que	é	certo	e	errado,	justo	e	injusto,	o	
que	é	certo	ou	errado?	Toda	coletividade	formula	e	adota	os	padrões	morais	
que	mais	lhe	convém.	(SROUR,	2003,	p.	7-8).
Portanto,	 do	 ponto	 de	 vista	 etimológico,	 ética	 e	moral	 significam	a	mesma	 coisa,	
contudo	há	o	limiar	tênue	entre	uma	e	outra.	E	isso	você	poderá	observar	à	medida	que	vamos	
nos	aprofundando	no	assunto.	Veja	então,	resumidamente:	“A	ética	é	teoria,	investigação	ou	
explicação	de	um	tipo	de	experiência	humana	ou	forma	de	comportamento	dos	homens,	ou	
da	moral,	considerado,	porém,	na	sua	totalidade,	diversidade	e	variedade”.	(VÁZQUEZ,	2003,	
p.	21).	A	moral	é	o	estudo	dos	costumes	de	uma	determinada	sociedade	numa	determinada	
época	e	lugar.
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UNI
● Excisão feminina ou circuncisão feminina: 
WARIS, Dirie; MILLER, Cathleen. Flor no 
deserto. São Paulo: Editora Hedra, 2001.
Esse livro é um relato de Waris Dirie, modelo 
internacional e embaixadora das Organizações 
das Nações Unidas – ONU, em que luta pela 
erradicação da mutilação genital feminina. 
Nascida no deserto da Somália, Waris Dirie foi 
mutilada igualmente a muitas outras meninas. 
Ela foge de seu país e chega a Londres, onde 
desenvolveu trabalhos domésticos até se 
projetar mundialmente como modelo e porta-voz da luta contra 
a circuncisão feminina. Você pode encontrar com o mesmo título 
em DVD.
O	que	Srour	 (2003)	quer	observar	é	que	a	ética	será	sempre	o	estudo	dos	valores	
morais,	e	esses	se	relativizam	conforme	a	história	da	humanidade.	
Vários	 exemplos	 de	 práticas	 da	 coletividade	mundial	 poderiam	 se	 perfilar	 aqui.	 Echegaríamos	à	conclusão	de	que	as	condutas	morais,	independente	de	serem	aceitáveis	ou	
não	do	nosso	ponto	de	vista,	são	práticas	de	uma	sociedade.	Vamos	citar	alguns	exemplos	
que	você	poderá	aprofundar:
Infanticídio	significa	assassínio	de	recém-nascido	ou	de	criança;	o	ato	de	matar	
o	próprio	filho,	sob	a	influência	do	estado	puerperal,	durante	o	parto	ou	logo	
depois.	O	 infanticídio	 feminino	é	prática	que	ainda	acontece	na	China,	em	
função	da	política	do	único	filho.	(FERREIRA,	2001,	p.	417).	
Outro	exemplo	de	prática	é	a excisão	feminina	ou	circuncisão	feminina.	É	a	mutilação	
genital	feminina,	prática	realizada	em	meninas	adolescentes	para	que	não	tenham	prazer	no	
ato	sexual.
2.2	O	CAMPO	DA	ÉTICA
Embora	a	ética	seja	um	assunto	basicamente	filosófico,	seu	campo	de	atuação	e	reflexão	
pode	ser	estendido	por	todas	as	áreas.	A	ética	também	se	divide	em	vários	campos	do	saber:	
teologia,	filosofia,	psicologia,	direito,	economia	e	outros.
A	ética	como	disciplina	teórica	busca	explicar	e	indicar	o	melhor	comportamento	do	ponto	de	
vista	moral,	mas	como	toda	teoria	não	se	distancia	da	prática,	porque	é	a	prática	do	comportamento	
humano	que	a	sustenta	e	tem	como	função	fundamental	“explicar,	esclarecer	ou	investigar	uma	
determinada	realidade,	elaborando	os	conceitos	correspondentes”.	(VÁZQUEZ,	2003.	p.	20).
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Os	problemas	teóricos	da	ética	podem	ser	divididos	em	dois	campos:
1)	os	problemas	gerais	e	fundamentais:	liberdade,	consciência,	bem,	valor,	lei	e	outros;
2)	os	problemas	específicos:	aplicação	concreta,	ou	seja,	ética	profissional,	ética	política,	
entre	outros.
FONTE:	Adaptado	de:	Valls	(1994,	p.	8)
Srour	(2011)	aborda	as	acepções	e	confusões	que	a	ética	provoca.	Ele	considera	que	
existem	 três	 tipos	de	acepções	que	podem	causar	 confusões,	porque	ampliam	demais	as	
concepções	da	ética:	
1	-	 A	ética é descritiva	–	que	corresponde	a	juízo	de	valor,	ou	seja,	quem	tem	boa	conduta	
pode	 ser	 considerado	 como	uma	pessoa	ética,	 ou	 seja,	 uma	pessoa	 virtuosa	e	 íntegra.	
Enquanto	quem	não	condiz	com	as	expectativas	sociais	pode	ser	considerado	‘sem	ética’.	
Nesse	sentido,	Srour	(2011)	considera	que	a	ética	assume	uma	ideia	simplista	reduzida	a	
um	valor	social,	ou	apenas	um	adjetivo.
2	-	 A	ética é prescritiva	–	a	ética	como	“sistema	de	normas	morais	ou	a	um	código	de	deveres”	
(SOUR,	2011,	p.	19),	ou	seja,	os	padrões	morais	que	deveriam	conduzir	categorias	sociais	
ou	organizações	passam	a	se	chamar	de	código	de	ética;	nesse	sentido	de	prescrição	a	ética	
e	moral	tornam-se	sinônimo	indistinguível.
3	-	 A	ética é reflexiva	–	que	corresponde	à	teoria	de	um	estudo	sistemático	como	objeto	de	
investigação	que,	ao	transitar	por	diferentes	áreas,	pode	ser	considerada	como:
•	Ética	filosófica	–	que	reflete	sobre	a	melhor	maneira	de	viver	(ideais	morais).
•	Ética	científica	–	que	estuda,	observa,	descreve	e	explica	os	fatos	morais	(a	moralidade	
como	fenômeno).
ATEN
ÇÃO!
A ética filosófica quer refletir sobre a maneira de viver.
A ética científica quer observar e descrever a maneira de viver.
Visto	tudo	isso,	você	pode	pensar:	então	estudar	ética	é	muito	complicado?	Claro	que	
não,	a	ética	dá	a	oportunidade	para	refletir	a	maneira	de	viver	e	entender	os	costumes	do	
nosso	tempo.
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2.3	O	VALOR	DA	ÉTICA
Qual	seria	mesmo	o	valor	da	ética	para	a	sociedade?	A	ética	é	o	discernimento	de	
que,	embora	existam	práticas	que	poderiam	ser	consideradas	 ‘morais’,	por	se	 tratarem	de	
recorrentes	na	sociedade,	ainda	assim	são	práticas	que	não	se	suportam	do	ponto	de	vista	
ético.	A	corrupção,	por	exemplo,	tem	sido	ato	recorrente	no	cenário	político	nacional	e	nem	por	
isso	tornou-se	moral	e	eticamente	aceitável.
Então	podemos	dizer	que	tudo	que	é	legal	é	moral?	Ou	se	é	moral	é	legal?	Todos	nós	
conhecemos	algumas	práticas	que	com	o	passar	do	tempo	tornaram-se	costumes	e	hábitos.	
Mas	não	quer	dizer	que	práticas	como	a	corrupção	passarão	a	ser	aceitas,	pela	sua	recorrência	
ou	porque	a	sociedade	já	se	acostumou.
Práticas	 que	 prejudicam	a	maioria,	 que	 não	 preservam	o	 bem	 comum,	 que	 não	
beneficiam	a	sociedade,	que	não	preservam	a	felicidade	apontam	ao	valor	da	ética,	porque	é	
através	da	ética	que	é	possível	fundamentar	a	moralidade	e	a	legalidade.
Então	é	por	isso	que	a	ética	tem	enorme	valor	para	a	sociedade	como	um	todo,	porque	
seu	papel	é	fazer	reflexões	acerca	do	comportamento	humano	e	a	preservação	do	bem	comum	
e	da	felicidade	da	‘cidade’.
ATEN
ÇÃO!
Nem tudo que é legal é moral e nem tudo que é moral é legal.
As	questões	de	legalidade,	 ilegalidade,	moralidade	e	 imoralidade,	apresentadas	por	
Srour	(2003),	são	muito	importantes	para	que	se	possa	observar	na	prática	o	que	há	de	legal	
e	moral	nas	ações	do	nosso	cotidiano.
Nem	tudo	que	é	legal	é	moral	e	nem	tudo	que	é	moral	é	legal.	Vejamos	algumas	situações	
apresentadas	por	Srour	(2003,	p.	59),	de	acordo	com	o	quadro	que	segue:
QUADRO	1	–	LEGALIDADE	E	MORALIDADE
Quanto	à	legalidade? Quanto	à	moral? Exemplo:
LEGAL MORAL Treinamento	de	funcionários	patrocinado	por	uma	empresa.
LEGAL IMORAL
Falta	de	correção	da	tabela	do	Imposto	de	Renda	
por	longos	anos,	sob	a	alegação	de	que	fazê-lo	
seria	introduzir	o	instituto	de	correção	monetária.
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ILEGAL MORAL Desrespeito	aos	sinais	vermelhos	de	madrugada	nas	grandes	cidades	pelo	receio	de	assaltos.
ILEGAL IMORAL As	fraudes	em	licitações	públicas.
FONTE:	Adaptado	de:	Srour	(2003,	p.	59)
Estudar	ética,	falar	de	ética,	refletir	sobre	a	ética	é,	portanto,	entender	toda	a	dimensão	
da	sociedade,	da	humanidade.	A	ética,	por	si	só,	não	vai	elaborar	um	manual	de	condutas,	
nem	tampouco	elencar	um	rol	de	atitudes	certas	e	erradas.
2.4	ÉTICA	E	jUSTIçA
O	trabalho	em	sociedade	implica	tomar	decisões.	A	todo	tempo	se	decide	sobre	questões	
gerais	e	específicas,	internas	e	externas	de	uma	organização.
De	 acordo	 com	Alonso,	 Lopes	 e	Castrucci	 (2010,	 p.	 110),	 existem	 três	 tipos	 de	
características	na	tomada	de	decisões:	
1)	decisão	pessoal	–	é	o	ato	humano,	livre	e	de	inteira	responsabilidade	de	
quem	toma	a	decisão;	
2)	decisão	ética	–	é	o	ato	do	homem,	em	que	a	moralidade	norteia;	
3)	decisão	que	afeta	outrem	–	é	a	decisão	que	considera	princípios	éticos	e	
toma	conhecimento	dos	direitos	e	limita-se	a	tais	aspectos.
O	 que	 os	 autores	 querem	 esclarecer	 é	 que	 as	 decisões	 envolvem	 essas	 três	
características:	o	aspecto	pessoal	da	decisão,	a	moralidade	e	a	ética	do	quanto	a	decisão	
pode	interferir	no	outro.
A	ética	 influencia	 o	 processo	de	 tomada	de	decisão	 para	 determinar	 quais	 são	os	
principais	valores.	A	tomada	de	decisão	envolve	momentos	de	escolha	entre	o	bem	e	o	mal	e	
entre	o	bem	e	o	bem.	É	nesse	momento	que	a	alteridade	e	a	justiça	tomam	parte.
A	tomada	de	decisão	envolve	a	alteridade,	que	é	o	senso	de	justiça,	porque	diz	respeito	
aos	outros.	Dessa	forma,	existem	tipos	de	justiça	a	conhecer	que	não	se	esgotam	por	si	só,	
mas	organizam	a	sociedade	e	dão	as	prioridades.
●	 Justiça social	–	a	 justiça	social	apresenta	duas	vertentes:	a)	 justiça	 legal	–	que	são	as	
obrigações	dos	cidadãos	para	com	o	Estado;	b)	justiça	distributiva	–	que	são	as	obrigações	
do	Estado	para	com	seus	cidadãos.
●	 Justiça legal	–	“compreende	as	obrigações	dos	cidadãos	para	a	sociedade	politicamente	
organizada,	 tais	 como	pagamento	de	 impostos,	 prestação	de	 serviços	públicos	 (serviço	
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militar,	serviços	emergenciais)	etc.”(ALONSO;	LOPES;	CASTRUCCI,	2010,	p.	111).
●	 Justiça distributiva	 –	 leva	 em	 consideração	 o	mérito,	 ou	 seja,	 procura	 respostas	 às	
desigualdades	e	regula	as	relações	entre	a	comunidade,	 tais	como	o	 imposto	de	renda:	
quem	ganha	mais	paga	mais	e	quem	ganha	menos	paga	menos	ou	não	paga.
●	 Justiça comutativa	–	vem	do	direito	positivo,	também	conhecida	como	corretiva,	é	a	justiça	
que	intercede	entre	as	pessoas	físicas	ou	jurídicas,	em	virtude	de	contratos	em	que	são	
fixadas	as	obrigações	das	partes.
●	 Justiça equitativa	–	é	aquela	que	parte	do	pressuposto	de	que	todos	são	iguais.
A	justiça,	junto	à	moral	e	à	ética,	conduz	o	ser	humano	a	práticas	mais	eficientes.	Nesse	
caso,	não	estamos	falando	da	justiça	como	entidade	jurídica,	mas	da	justiça	de	realizar	ações	
que	sejam	de	consciência	ética	e	moral	e,	é	claro,	legal.
2.5	ÉTICA	E	FILOSOFIA
A	ética	 tornou-se	um	campo	vasto	nas	diversas	áreas	científicas.	Na	área	médica,	
por	exemplo,	existe	uma	grande	preocupação	quanto	ao	que	é	ético	ou	não	nas	pesquisas	
de	campo,	por	se	tratarem	de	pesquisas	que	lidam	com	o	ser	humano.	Existe	um	código	de	
moral,	na	verdade	chamado	de	código	de	ética,	que	limita	e/ou	exige	que	a	integridade	do	ser	
humano	seja	respeitada.
Apesar	de	hoje	a	ética	ser	uma	disciplina	adotada	em	quase	a	 totalidade	de	áreas	
existentes,	seja	nas	ciências	exatas,	humanas,	biomédicas,	sociais,	entre	outras,	ainda	assim,	
para	que	se	possa	entender	a	complexidade	de	seu	dinamismo	e,	por	que	não,	a	simplicidade	
de	sua	reflexão,	não	se	pode	fugir	da	sua	origem	filosófica.
A	filosofia	é	o	arcabouço	para	os	desdobramentos	da	ética,	por	isso	que	existem	algumas	
correntes	que	argumentam	contra	o	caráter	científico	e	independente	da	ética.	A	respeito	disso,	
Vázquez	(2003,	p.	25)	observa:
Mas,	já	como	assinalamos,	isso	se	aplica	a	um	tipo	determinado	de	ética	–	a	
normativa	–,	que	se	atribui	a	função	fundamental	de	fazer	recomendações	e	
formular	uma	série	de	normas	e	prescrições	morais;	mas	esta	objeção	não	
atinge	a	teoria	ética,	que	pretende	explicar	a	natureza,	fundamentos	e	condi-
ções	da	moral,	relacionando-a	com	as	necessidades	sociais	do	homem.
Nesse	sentido,	a	apropriação	da	ética,	seja	no	sentido	filosófico	ou	científico,	busca	na	
fonte	filosófica	a	doutrina	para	melhor	entender	a	ética,	seja	em	qual	área	for.	
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Vamos	então	para	o	próximo	passo.	já	vimos	alguns	conceitos	que	aproximam	a	ética	
da	moral.	No	próximo	ponto	vamos	então	entender	a	moral,	sem	deixar	de	recorrer	à	ética,	
pois	você	deve	ter	percebido	que	não	é	possível	falar	de	ética	sem	falar	da	moral	e	vice-versa.
3 A MORAL
Caro	acadêmico!	Conversamos	no	primeiro	ponto	sobre	a	ética	e	você	pode	perceber	
que	já	apareceram	alguns	aspectos	da	moral,	ou	seja,	existe	uma	interface	entre	moral	e	ética	
que	é	indissociável.	O	importante	desse	ponto	é	dar	destaque	ao	conceito	de	moral	e	você	
compreender	o	comportamento	humano	em	relação	ao	que	é	moral.	Vamos	seguir	praticamente	
o	caminho	do	conhecimento	dos	pontos	desenvolvidos	em	relação	ao	estudo	da	ética.
3.1	CONCEITO	DE	MORAL
De	acordo	com	Srour	(2003),	a	ética	é	perene	e	a	moral	é	mutável.	A	ideia	de	ética	é	
que	ela	não	muda,	a	ética	faz	reflexões	acerca	dos	costumes,	que	é	o	campo	da	moral.	Para	
melhor	compreendermos,	no	Brasil,	 temos	a	história	da	mulher	como	um	bom	exemplo	de	
mudança	de	costumes	e,	por	conseguinte,	mudança	de	valores	morais.
UNI
● História da mulher no Brasil: DEL PRIORE, Mary 
(Org.). História das mulheres no Brasil. São 
Paulo: Contexto, 1997.
Essa obra conta a trajetória das mulheres, 
desde o Brasil colonial. O livro narra a história 
da mulher, os principais aspectos de seu tempo 
e interseções, como: família, trabalho, mídia, 
literatura, violência, entre outros.
Até	a	década	de	30,	a	mulher	não	podia	votar	e	nem	ser	votada,	portanto	o	sufrágio	
feminino	foi	uma	conquista	de	equiparar	a	mulher	ao	homem	e	torná-la	um	membro	da	sociedade	
como	qualquer	um,	ou	seja,	uma	pessoa	participativa	aos	desígnios	políticos	do	país.
No	cenário	político	nacional,	a	primeira	mulher	a	se	tornar	deputada	federal	foi	em	1933,	
e	somente	em	1979	foi	eleita	a	primeira	senadora.	Em	2011	o	país	elegeu	pela	primeira	vez	
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uma	mulher	como	Presidente	da	República.	Se	você	observar	os	anos	–	1933,	1979	e	2011	
–,	verá	o	quanto	demora	para	que	os	valores	se	transformem	e,	ao	mesmo	tempo,	depois	de	
estabelecida	a	mudança,	esses	valores	 tornam-se	 tão	 familiares	que	nem	mais	pensamos	
nessa	trajetória	de	conquista	e	transformação.
No	mundo	do	trabalho,	a	mulher	conquistou	espaço	tardiamente,	e	por	esse	motivo,	
várias	são	ainda	as	desigualdades	entre	a	mulher	e	o	homem	no	mundo	do	trabalho.	Existem	
diversas	pesquisas	que	apontam	mulheres	e	homens	com	mesmo	nível	de	escolaridade	e	
mesma	função	e	que	têm	salários	diferentes.
FIGURA	2	–	A	CONQUISTA	DA	MULHER
FONTE:	Disponível	em:	<http://paduacampos.com.br/2012/2012/07/27/charge-
elas-estao-ocupadas-mesmo/>.	Acesso	em:	27	maio	2013.
Não	se	pretende	aqui	fazer	algum	tipo	de	apologia	à	mulher,	muito	pelo	contrário,	a	
mulher	é	só	um	bom	exemplo	para	que	possamos	perceber	o	quanto	ela	se	transformou	perante	
a	sociedade.	Antes	ela	não	votava	e	nem	era	votada,	antes	ela	não	trabalhava	fora	de	casa,	
antes	a	sua	vida	limitava-se	a	cuidar	de	filhos	e	marido	e	da	casa.	E	hoje?
FIGURA	3	–	CONQUISTA	DA	MULHER
FONTE:	Disponível	em:	<http://andorinharosa.blogspot.com.br/2009/03/um-
poema-em-homenagem-ao-dia.html>.	Acesso	em:	27	maio	2013.
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IMP
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TAN
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A moral é temporal e é reflexo dos costumes da sociedade.
Portanto,	a	moral	são	os	costumes,	são	as	práticas	do	comportamento	humano	e	as	
práticas	aceitáveis	de	uma	sociedade.	Então,	como	esses	costumes,	práticas	e	culturas	mudam?	
Mudam	quando	a	própria	sociedade	clama	por	mudanças	ou	quando,	a	partir	de	um	movimento	de	
um	grupo,	procura-se	conscientizar	o	resto	da	sociedade	da	importância	de	pensar	e	agir	diferente.	
Foi	dado	o	exemplo	da	mulher,	mas	muitos	são	os	outros	exemplos	que	se	enquadrariam	nesse	
momento	para	ilustrar	essa	transformação	de	valor	e	costume,	a	exemplo	do	homossexualismo,	
doenças	que	carregavam	preconceitos	e	hoje	não	mais,	entre	outros	grandes	exemplos.
Então	se	pode	dizer	que	a	moral	é	mutável,	como	diziam	os	romanos	–	“o tempora, o 
mores”	–	ou	seja,	os	costumes	mudam	com	o	tempo.	
Srour	(2003,	p.	56)	elenca	alguns	itens	para	a	compreensão	do	que	vem	a	ser	moral:
●	 É	um	sistema	de	normas	culturais	que	pauta	as	condutas	dos	agentes	sociais	de	uma	
determinada	coletividade	e	lhes	diz	o	que	é	certo	ou	não	fazer.
●	 Depende	da	adesão	de	seus	praticantes	aos	pressupostos	e	valores	que	lhe	servem	de	
fundamentos.
●	 Representa	um	posicionamento	diante	das	questões	polêmicas	ou	sensíveis	e	constitui	
um	discurso	que	justifica	interesses	coletivos.
●	 Organiza	 expectativas	 coletivas	 ao	 selecionar	 e	 definir	melhores	 práticas	 a	 serem	
observadas.
●	 Tem	natureza	simbólica,	essência	histórica	e	caráter	plural,	e	seus	cânones	variam	à	
medida	que	espelham	as	coletividades	históricas	que	o	cultivam.
Srour	(2003,	p.	57)	ainda	resume	a	moral	comparativamente	à	ética:
Por	isso	mesmo,	as	morais	são	as	nervuras	sensíveis	das	culturas	e	dos	ima-
ginários	sociais,	as	peças	de	resistência	que	armam	as	identidades	organiza-
cionais,	códigos	genéticos	das	condutas	sociais	requeridas	pelas	coletividades.	
Assim	sendo,	enquanto	as	morais	correspondem	às	representações	mentais	
que	dizem	aos	agentes	sociais	o	que	se	espera	deles,	quaiscomportamentos	
são	recomendados	e	quais	não	o	são,	a	ética	diz	respeito	à	disciplina	teórica	
e	ao	estudo	sistemático	dessas	morais	e	de	suas	práticas	efetivas.
Portanto,	o	quadro	que	segue	auxilia	na	formulação	de	um	comparativo	entre	ética	e	
moral,	para	que	essas	palavras-chave	possam	ajudar	na	diferenciação	de	uma	e	outra.
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QUADRO	2	–	COMPARATIVO	ENTRE	ÉTICA	E	MORAL
ÉTICA MORAL
Perene Temporal
Universal Cultural
Regra Conduta	da	regra
Teoria Prática
FONTE:	A	autora
A	ética	é	perene	porque	as	suas	reflexões	são	num	curso	contínuo	e	eterno,	sempre	
haverá	reflexões	sobre	a	ética.	já	a	moral	é	 temporal,	porque	de	acordo	com	o	tempo,	os	
costumes	e	valores	de	uma	sociedade	se	modificam.
A	ética	é	universal	porque	as	suas	 reflexões	 independem	da	cultura,	 sociedade	ou	
tempo	histórico,	as	suas	reflexões	cabem	em	qualquer	lugar	e	em	qualquer	tempo,	porque	se	
referem	ao	comportamento	humano.	A	moral	é	cultural	porque	em	cada	sociedade,	em	cada	
lugar,	os	costumes	e	valores	serão	diferentes.
A	ética	é	regra,	porque	não	existe	mutabilidade	em	suas	reflexões,	as	suas	reflexões	é	
que	podem	ser	realizadas	perante	as	mudanças.	A	moral	é	conduta	de	regra,	porque	é	preciso	
relacionar	os	valores	para	que	a	moral	possa	instituir	a	sua	conduta.
A	ética	é	teoria	porque	está	situada	no	campo	das	reflexões,	enquanto	a	moral	se	refere	
às	práticas	do	comportamento	humano,	seus	costumes,	seus	hábitos	e	seus	valores.
Essas	 as	 principais	 diferenças	 entre	 ética	 e	moral,	 que	 ajudam	 para	 auxiliar	 na	
compreensão	quanto	às	suas	ramificações	e	desdobramentos.
3.2	CAMPO	DA	MORAL
O	campo	da	moral,	 pela	 sua	mutabilidade,	 se	 torna	 um	 campo	 vasto,	 em	que	 se	
possibilita	uma	multiplicidade	de	ações.	Até	porque	a	moral	é	oriunda	das	ações	e	interações	
humanas.	A	moral,	portanto,	está	em	toda	parte,	nas	escolas,	nas	igrejas,	nos	hospitais,	nas	
organizações	privadas	e	públicas.
É	através	da	moral	que	os	códigos	de	convivência	são	estipulados,	para	que	as	pessoas	
se	comportem	adequadamente	e	também	para	que	haja	harmonia	na	interação	humana	e	da	
instituição.
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Do	ponto	de	vista	dessas	ações	humanas	existem	dois	universos	que	se	constroem	
perante	o	fim	de	suas	ações:	universal	e	particular.
Na	administração	pública,	por	exemplo,	os	atos	administrativos	devem	estar	voltados	
ao	universal,	porque	as	suas	ações	sempre	devem	preservar	o	interesse	coletivo,	portanto	no	
meio	da	administração	pública	não	cabem	atos	administrativos	voltados	ao	interesse	particular.
O	campo	da	moral	é	vasto,	a	moral	é	o	alicerce	para	que	a	sociedade	possa	estipular	as	
suas	regras	de	convivência.	Portanto,	condutas	morais	não	são	exclusividade	da	administração	
pública,	as	condutas	morais	estão	presentes	a	todo	tempo	e	em	qualquer	lugar.
Se	você	for	um	servidor	público,	legislador,	ou	quem	sabe	um	responsável	na	elaboração	
de	políticas	públicas,	ou	simplesmente	um	cidadão,	deve	se	perguntar:	Quem	são	as	pessoas	
que	irão	se	beneficiar	com	a	minha	ação?	Quais	são	as	atitudes	mais	apropriadas	para	que	
um	maior	número	de	pessoas	possam	se	beneficiar	com	as	minhas	atitudes?	A	minha	ação	é	
de	interesse	próprio	ou	de	interesse	coletivo?
Essas	 perguntas	 e	 tantas	 outras	 ajudam	a	 sinalizar	 em	qual	 campo	 da	moral	 se	
encaminham	as	nossas	ações.
Segundo	Srour	(2011),	existem	dois	universos	que	se	podem	tomar	como	o	início	para	
melhor	compreensão	da	prática	moral:	particularismo	e	universalismo.
FIGURA	4	–	UNIVERSALISMO	E	PARTICULARISMO
FONTE:	Srour	(2011,	p.	9)
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O	universalismo	dita	as	condutas	morais	positivas,	em	que	existe	o	consenso	para	que	
o	bem	comum	seja	preservado.	Nesse	sentido,	mesmo	quando	existem	ações	voltadas	ao	
interesse	de	uma	minoria	ou	de	um	grupo	específico,	ainda	assim	esses	interesses	não	vão	se	
confrontar	com	o	interesse	dos	demais.	Não	há	uma	rivalidade	de	interesses,	pelo	contrário,	
a	satisfação	dos	interesses	se	dá	de	forma	consensual.
No	 particularismo,	 os	 interesses	 pessoais	 ou	 de	 um	 grupo	 se	 prevalecem	 em	
detrimento	do	interesse	de	outros,	por	isso	são	práticas	negativas.	Não	há	um	consenso	
de	quem	precisa	mais,	para	que	as	práticas	nesse	universo	sejam	realizadas	de	 forma	
consensual	e	em	preservação	do	bem	comum.	Pelo	contrário,	existe	uma	rivalidade	de	
interesses	para	que	a	vontade	de	uns	se	realize	independente	da	necessidade	de	um	ou	
de	outro	ser	maior.
A	administração	pública,	com	certeza,	está	na	esfera	do	universalismo,	e	é	por	isso	que	
ela	existe	e	é	dessa	forma	que	ela	deve	servir	aos	cidadãos.	Mas	o	servidor	público,	que	é	o	
condutor	da	prática	do	serviço	público,	poderá	se	encontrar	na	polaridade	da	escolha	entre	
universalismo	e	o	particularismo,	em	pequenas	atitudes	do	seu	cotidiano.
3.3	MORAL,	AMORAL	E	IMORAL
No	item	anterior	foi	possível	diferenciar	fatos	morais	de	fatos	sociais,	e	dissemos	ainda	
que	um	fato	moral	pudesse	afetar	positivamente	ou	negativamente	outrem.	Então	fato	moral	se	
divide	em	moral,	quando	positivo,	e	imoral	quando	negativo.	E	fato	social	seria	o	que	alguns	
autores	chamam	amoral.
Então,	o	que	é	agir	conforme	a	moral?	O	que	é	o	agir	imoralmente?	Ou	o	que	é	uma	
atitude	amoral?	Como	podemos	diferenciá-los?	De	forma	bem	resumida	pode-se	dizer	que:
●	 Moral	–	é	agir	conforme	os	valores	da	sua	organização	ou	sociedade	sem	prejudicar	os	
outros.
●	 Imoral	–	é	uma	atitude	que	vai	contra	as	normas	e	valores	de	uma	organização	ou	sociedade	
e	que	prejudica	os	outros.
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●	 Amoral	–	quando	uma	atitude	não	influi	nem	positiva	e	nem	negativamente,	ou	seja,	é	uma	
ação	neutra.
Pode-se	concluir	que	uma	atitude	moral	é	uma	ação	positiva,	uma	atitude	imoral	é	uma	
ação	negativa	e	uma	atitude	amoral	é	uma	ação	neutra.	Dessa	forma,	o	âmbito	da	moral	é	
decidir	como	agir,	é	uma	questão	da	prática,	enquanto	que	o	âmbito	da	ética	é	refletir	sobre	
essas	ações	e	suas	implicações	na	felicidade	humana.
4 CONCEPÇÕES DOUTRINAIS DA GRÉCIA 
 ANTIGA À CONTEMPORANEIDADE
O	conceito	 de	 ética	 visto	 anteriormente,	 bem	 como	 sua	 relação	 com	a	 filosofia,	
com	a	moral,	nos	mostrou	a	grande	contribuição	e	 importância	da	corrente	filosófica	ao	
mundo	da	ética	e	da	moral.	Neste	ponto	sobre	concepções	doutrinais	da	Grécia	antiga	
à	contemporaneidade,	vamos	apresentar	as	principais	doutrinas	éticas	de	acordo	com	o	
seu	tempo.
4.1	IDADE	ANTIGA
A	Idade	Antiga	é	representada	pelos	filósofos	Sócrates,	Platão	e	Aristóteles,	e	é	nessa	
época	que	a	ética	adquire	extremo	valor.	Esses	filósofos	se	preocupavam	com	o	ser	no	mundo	
físico,	voltados	aos	problemas	sociais	e	morais.	Embora	não	haja	propriamente	coesão	no	
pensamento	e	doutrina	dos	três,	ainda	assim	suas	ideias	tornam-se	próximas	no	sentido	da	
reflexão	acerca	do	homem	e	da	cidade.	
O	 estudo	 da	Ética,	 se	 pode	 dizer,	 teve	 início	 com	os	 filósofos	Sócrates,	 Platão	 e	
Aristóteles.	O	livro	Ética	a	Nicômaco	é	uma	obra	de	referência,	em	que	a	ética	vai	determinar	
que	a	finalidade	suprema	é	a	felicidade	(eudaimonia).
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Eudaimonia quer dizer felicidade para a filosofia. “Em geral, estado 
de satisfação de alguém com sua situação no mundo”. 
FONTE: Abbagnano (2007, p. 455-505)
Nessa	época,	a	questão	da	ética	era	o	bem	supremo	da	vida	humana	e,	de	acordo	com	
Passos	(2004,	p.	32),	“não	deviaconsistir	em	ter	a	sorte	ou	ser	rico,	por	exemplo,	e	sim	em	
proceder	e	ter	uma	alma	boa”.
Para	Socrátes,	a	questão	ética	era	o	que	bastava	o	homem	saber,	ter	bondade	para	ser	
bom.	O	conhecimento,	para	Sócrates,	era	uma	virtude,	porque	pensava	que	com	o	conhecimento	
o	homem	conseguia	ser	bom	e	ter	a	felicidade.	Por	esse	motivo	é	que	há	um	entrelaçamento	
entre	bondade,	conhecimento	e	felicidade.
Para	Platão,	o	conceito	de	cidade	(polis)	perfeita	estava	baseado	em	valores	éticos	e	
morais.	Platão	aborda	que	os	conceitos	da	mente	humana	não	são	reais,	mas	sim	imagens	
reflexas.	Diferente	de	Socrátes,	Platão	considerava	que	a	moral	é	a	arte	de	preparar	o	indivíduo	
para	a	felicidade	que	não	se	encontra	na	vida	terrena.
Em	Aristóteles,	a	felicidade,	finalidade	suprema	da	ética,	só	pode	ser	alcançada	se	o	
homem	fosse	capaz	de	moderar	suas	paixões.	Aristóteles	preocupou-se	com	a	forma	como	
as	pessoas	viviam	na	sociedade	e	contribuiu	muito	para	o	entendimento	da	ética	e	a	busca	
da	felicidade	individual	e	coletiva.	De	acordo	com	Passos	(2004,	p.	34),	Aristóteles	propunha	
uma	ética	finalista:
no	sentido	de	visar	um	fim,	no	caso,	que	o	ser	humano	pudesse	alcançar	a	feli-
cidade.	Entendia	a	moral	como	um	conjunto	de	qualidades	que	definia	a	forma	
de	viver	e	de	conviver	das	pessoas,	uma	espécie	de	segunda	natureza	que	
guiaria	o	homem	para	a	felicidade,	considerada	a	aspiração	da	vida	humana.
Sócrates	 foi	 considerado	 um	marco	 da	 filosofia,	 de	modo	 que	 todos	 os	 filósofos	
que	antecederam	a	época	dos	filósofos	citados	são	conhecidos	por	pré-socráticos.	Os	pré-
socráticos	também	eram	conhecidos	como	naturalistas,	ou	filósofos	da	natureza.	Esses	filósofos	
preocupavam-se	mais	em	entender	as	coisas,	em	dar	explicação	para	a	natureza	e	para	o	
mundo.
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FIGURA	5	–	SER	UM	FILÓSOFO
FONTE:	Disponível	em:	<http://www.umsabadoqualquer.com/category/socrates/>.	Acesso	em:	27	
maio	2013.
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Sócrates (469-399 a. C.) – é responsável pelo método da 
indagação, o que se restringe ao homem, sem interesse na 
natureza. “Identificação entre ciência e virtude, no sentido de que 
só é possível ensinar e aprender a virtude, e não é possível praticar 
o bem sem conhecê-lo”. (ABBAGNANO, 2007, p. 1085).
Platão (427-347 a. C.) – responsável pela doutrina das ideias, 
sabedoria e dialética. (ABBAGNANO, 2007, p. 892).
Aristóteles (394-322 a. C.) – responsável pelo conceito da 
metafísica, da lógica, inspirou várias outras tendências do mundo 
medieval e moderno. 
FONTE: Abbagnano (2007, p. 90)
A	ideia	da	polis	(cidade)	é	muito	importante,	porque	é	referência	na	organização	social	
da	sociedade	em	prol	do	bem	comum.	É	que	os	homens	se	reuniam	e	decidiam	o	melhor	para	
todos,	assim	como	aborda	Passos	(2004,	p.	32):
O	surgimento	da	polis	fez	com	que	o	centro	da	cidade	passasse	a	ser	a	praça	
pública,	a	ágora.	Nela	aconteciam	as	discussões	e	era	permitida	a	participação	
de	todos	os	cidadãos,	quais	sejam:	os	homens	adultos,	excetuando-se	os	es-
cravos	e	os	estrangeiros.	Nessa	nova	forma	de	organização	social	e	política,	a	
democracia,	o	logos,	ou	seja,	a	razão,	a	palavra	e	o	discurso	tornaram-se	mais	
importantes	do	que	a	condição	social	e	econômica	do	indivíduo.	Isso	porque	
se	entendia	que	os	assuntos	públicos	dependiam	do	poder	de	argumentação.
Outro	autor	importante	a	que	podemos	recorrer	é	Passos	(2004),	que	em	seu	livro	“Ética	
nas	organizações”,	 discorre	e	elucida	 resumidamente	 sobre	as	principais	doutrinas	éticas,	
apresentando	como	principais	filósofos:
●	 Sócrates	(469-399	a.	C.):
dedicou-se	à	busca	da	verdade,	que	deveria	ser	uma	forma	de	juízo	universal,	
capaz	de	dirigir	a	vida	das	pessoas,	no	plano	pessoal	e	político”.	Para	Sócra-
tes,	“as	questões	morais	não	são	puramente	convenções	influenciadas	pelas	
circunstâncias,	mas	problemas	que	devem	ser	 resolvidos	à	 luz	da	 razão”.	
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(PASSOS,	2004,	p.	32-33).
●	 Platão	(427-347	a.	C.):	sua	teoria	ética	relaciona-se	com	a	política	e	a	razão	(prudência),	
sua	maior	contribuição	foi	vislumbrar	a	cidade	perfeita	guiada	pelos	princípios	morais.
●	 Aristóteles	(384-322	a.	C):	“O	bem	moral	consistia	em	agir	de	forma	equilibrada	e	sob	a	
orientação	da	razão.	O	‘meio-termo’,	o	ponto	justo,	levaria	à	felicidade,	a	uma	vida	‘boa	e	
bela’,	não	como	privilégio	individual	e	sim	coletivo”.	(PASSOS,	2004,	p.	35).
●	 Epicuro	(341-270	a.	C):	teve	sua	filosofia	dividida	em	três	partes:	canônica,	física	e	ética;	
“uma	vida	feliz	é	impossível	sem	a	sabedoria,	a	honestidade	e	a	justiça,	e	estas,	por	sua	
vez,	são	inseparáveis	de	uma	vida	feliz”.	(CARBISIER	apud	PASSOS,	2004,	p.	35).
●	 Zenão	(324-263	a.	C.):	doutrina	do	estoicismo,	que	é	uma	ética,	uma	forma	de	viver	em	que	
a	natureza	consistia	na	orientação	central,	que	significava	viver	conforme	a	virtude.
Vistos	os	principais	nomes	da	filosofia	da	Idade	Antiga,	é	interessante	o	seu	estudo	e	sua	
contribuição	à	ética,	na	medida	em	que	o	pensamento	filosófico,	também	como	os	costumes,	se	
embebe	de	novas	fontes,	contudo	sem	perder	o	fio	condutor	em	relação	à	sua	reflexão	quanto	
aos	aspectos	morais	e	às	virtudes.	Vamos	para	o	próximo	período,	a	Idade	Média.
4.2	IDADE	MÉDIA
A	Idade	Média	é	identificada	muito	fortemente	pelo	Renascimento,	que	foi	considerado	
um	movimento	literário,	artístico	e	filosófico	que	teve	duração	entre	o	fim	do	século	XIV	ao	
fim	do	século	XVI.	Suas	características	principais	foram	o	humanismo,	a	renovação	religiosa,	
a	renovação	das	concepções	políticas	e	o	naturalismo	(novo	interesse	pela	investigação	da	
natureza).
Nessa	época,	a	situação	política	e	social	era	mais	complexa,	por	esse	motivo	não	se	
podia	pretender	a	mesma	harmonia	da	polis.	De	acordo	com	Passos	(2004,	p.	37),	“também	por	
questões	ideológicas	houve	o	predomínio	da	teoria	sobre	a	prática”,	e	o	cristianismo	tornou-se	
a	religião	oficial,	o	que	influenciou	as	condutas	morais.
As	concepções	filosóficas	destacadas	por	Passos	(2004),	ou	seja,	os	principais	filósofos	
deste	período,	foram:
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●	 Santo	Agostinho	(354-430):	‘compreender	para	crer,	crer	para	compreender’.	Para	Agostinho,	
o	dom	divino	era	o	único	capaz	de	resgatar	o	homem	de	seus	pecados.	Nesse	sentido,	a	
ética	estava	ligada	aos	valores	da	moral	cristã.
●	 Tomás	de	Aquino	(1225-1274):	a	ética	consiste	em	agir	de	acordo	com	a	ordem	natural,	o	
homem	tem	livre-arbítrio	e,	orientado	pela	consciência,	tem	uma	capacidade	de	captar,	pela	
intuição,	a	ordem	moral	–	‘faz	o	bem	e	evita	o	mal’.
DIC
AS!
Na Idade Média, a ética tem sua base na moral cristã. Veremos 
mais detalhadamente esta questão e os dois grandes expoentes – 
Agostinho e Tomás de Aquino na próxima unidade.
De	acordo	com	Passos	(2004,	p.	39),	a	Idade	Média	inaugura	uma	novidade	na	questão	
da moral:
ao	deslocar	o	eixo	fim	último	da	vida	humana,	de	um	valor	bom	em	si	mesmo	
para	um	bem	que	está	em	Deus.	Se,	para	as	concepções	anteriores,	a	felicidade	
era	atingida	no	próprio	ser,	agora	ele	se	encontra	no	plano	transcendental,	e	
atingi-la	requer	apreender	o	fim	último	que	se	encontra	em	Deus.
A	ética	 na	 Idade	Média,	 portanto,	 foi	 considerada	 a	 fase	da	era	 cristã,	 em	que	os	
desígnios	morais	do	cristianismo	tornavam-se	os	ditames	do	comportamento	moral.	Na	Idade	
Média,	portanto,	o	conceito	de	 felicidade	não	pode	ser	atingido	nem	pela	 razão,	nem	pela	
filosofia,	mas	pela	fé	cristã.
4.3	IDADE	MODERNA
Como	estudamos	a	ética,	na	Idade	Antiga,	era	explicada	pela	perspectiva	da	natureza.	
Vamos	ainda	estudar	de	modo	mais	demorado	no	Tópico	1	da	Unidade	2,a	perspectiva	
cristã	da	ética	com	Agostinho	e	Tomás	de	Aquino,	em	que	tudo	vinha	da	natureza	ou	de	
Deus.	Na	Idade	Moderna	essa	perspectiva	muda	e	traz	o	homem	como	responsável	pelas	
suas	ações.
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Nesta	perspectiva,	nossa	primeira	dificuldade	está	na	demarcação	temporal	daquilo	
que	nomeamos	de	modernidade.	Partindo	de	uma	visão	histórica,	pautada	numa	lógica	linear,	
podemos	estabelecer	as	fronteiras	temporais	da	modernidade	do	século	XVI	ao	século	XX,	
mas	 tendo	presente	que	estas	datações	 têm	um	significativo	caráter	de	arbitrariedade	em	
relação	aos	acontecimentos	culturais,	políticos,	econômicos.	Porém,	se	buscarmos	estabelecer	
uma	demarcação	dos	primórdios	 da	modernidade	a	 partir	 de	 ideias	 norteadoras,	 também	
encontraremos	algumas	dificuldades,	na	medida	em	que	a	modernidade	assume	prerrogativas	
medievais	em	sua	constituição,	perpassando	o	pensamento	de	filósofos	e	influenciando	nossa	
forma	de	ser	e	estar	no	mundo	até	a	contemporaneidade.
Portanto,	 tendo	em	vista	os	 limites	históricos	e	conceituais	da	modernidade,	nosso	
esforço	 será	 o	 de	 destacar	 alguns	 pressupostos	 que	 consideramos	 fundamentais	 para	 a	
discussão	das	propostas	éticas	que	se	constituirão	no	desenvolvimento	do	mundo	moderno.
Um	dos	primeiros	pressupostos	é	o	clássico	conceito	de	“antropocentrismo”.	O	homem	
assume	a	 centralidade	do	 cosmo,	 ou	 seja,	 através	do	desenvolvimento	da	 razão	assume	
a	existência	 em	suas	próprias	mãos	 (“Cogito,	 ergo	 sum”	–	 “Penso,	 logo	existo”,	 de	René	
Descartes),	e	a	explicar	os	fenômenos,	dominar	a	natureza	(Conhecer	é	poder,	de	Francis	
Bacon),	 a	 construir	 seu	mundo	 segundo	 sua	 vontade	 e	 representação	 (Schopenhauer),	
afastando-se	assim	da	perspectiva	teocêntrica	medieval	que	o	submetia	a	uma	perspectiva	
heterônoma	diante	de	si,	dos	outros,	do	mundo.	Portanto,	o	ser	humano	moderno	passa	a	
ser	senhor	de	si,	a	afirmar	em	alto	e	bom	tom	“eu	sou”,	sou	livre	e	igual	aos	outros	homens	
por	meio	da	 razão,	da	capacidade	de	pensar,	de	 refletir	e	 intervir	no	mundo	e	modificá-lo,	
modificando-se	a	si	próprio.
Outro	pressuposto	decorrente	dos	princípios	anteriormente	expostos	é	a	ideia	de	verdade	
presente	na	modernidade.	A	verdade	já	não	é	mais	revelada	pelo	transcendente	ao	homem,	
mas	o	 resultado	do	esforço	 racional	subjetivo	de	 representação	que	o	ser	humano	 realiza	
sobre	o	mundo,	a	partir	das	relações	que	estabelece	em	sociedade.	Portanto,	algo	passa	a	
ser	verdadeiro	na	medida	em	que	pode	ser	racionalmente	objetivado	e	universalizado	entre	
os	seres	humanos.
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REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
FIGURA	6	–	IDADE	MODERNA	INDUSTRIAL
FONTE:	Disponível	em:	<http://www.historiadomundo.com.br/imagens/
idademoderna_industrial1.gif>.	Acesso	em:	15	dez.	2007.
A Imagem acima marca uma das maiores revoluções que a 
Modernidade trouxe: A Revolução Industrial. Aliada à técnica, 
fábricas se espalham na Europa primeiramente e depois no 
restante do mundo. O modelo fabril torna-se dominante. O trabalho 
assumiu função central. Produção, distribuição e consumo em larga 
escala. Ao mesmo tempo, impactos civilizacionais e ambientais 
sem precedentes. Ideais de progresso, felicidade e modernização 
fundamentam a perspectiva industrializante. O cenário acima 
denuncia essa irreversível transformação natural.
Os	desenvolvimentos	 da	 ciência	 e	 da	 tecnologia	marcam	de	 forma	 significativa	 a	
modernidade.	Com	o	desenvolvimento	do	método	científico	o	homem	moderno	aguça	seu	
olhar	investigador,	objetiva	o	mundo,	as	coisas,	a	natureza	e	a	si	próprio.	A	relação	sujeito-	
objeto	passa	a	ser	determinante	nas	relações	científicas	do	homem.	Os	avanços	da	ciência	
são	materializados	na	tecnologia,	que	contribui	significativamente	para	tornar	a	vida	do	homem	
menos	rude	e	precária	frente	às	forças	inóspitas	do	mundo	natural.	O	trabalho	é	outro	dos	
pressupostos	fundamentais	da	modernidade.	No	mundo	antigo	o	trabalho	era	visto	pelo	cidadão	
grego	como	humilhação	e,	portanto,	era	atividade	própria	de	escravos	e	estrangeiros.	O	ideal	
do	cidadão	era	a	atividade	política	nas	ágoras	públicas.	No	mundo	medieval,	o	trabalho	era	
apenas	condição	da	subsistência,	castigo	infringido	ao	homem	em	função	do	pecado	original.	
Na	modernidade	passa	a	ser	atividade	criadora	do	mundo	e	do	próprio	homem.	O	trabalho	
é	elevado	à	condição	definidora	da	subjetividade,	“sou	aquilo	que	faço”.	Mas	também	é	pelo	
trabalho	que	o	homem	modifica	a	natureza	e,	ao	modificá-la,	modifica	a	si	próprio,	assumindo	
assim	uma	ação	autocriadora.
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A	política	também	é	um	dos	pressupostos	definidores	da	modernidade.	A	modernidade	
estabelece	a	 política	 como	um	mal	 necessário.	Separa	 a	 ética	 da	política	 (Maquiavel)	 na	
medida	em	que	deixa	claro	que	é	inerente	à	ação	política	certo	grau	de	imoralidade,	em	que	
está	pressuposta	a	vontade	de	domínio	e	poder	sobre	os	outros.	Porém,	a	política	é	condição	
e	garantia	da	vida	em	sociedade.	Vamos	aprofundar	este	tema	da	política	na	próxima	unidade.
E,	por	último,	a	ideia	de	história	ganha	na	Modernidade	um	sentido	totalmente	diferente	
que	em	outras	épocas	de	nossa	civilização.	Para	os	gregos	antigos,	não	havia	a	noção	de	
história,	uma	vez	que	estavam	submetidos	ao	eterno	retorno	do	mesmo	na	dinâmica	da	physis.
Para	o	mundo	medieval	a	ideia	de	história	está	presa	à	perspectiva	teleológica	de	um	
início,	pela	obra	da	criação,	e	um	fim	necessário	que	é	Deus.	Para	a	Modernidade,	a	história	é	
processo	que	teve	início	com	o	homem,	o	que	lhe	permite	avaliar	seu	progresso,	seus	avanços	
ao	longo	de	seu	caminhar	sobre	a	face	da	mãe-terra.
Assim,	a	Idade	Moderna,	que	ocorreu	entre	os	séculos	XVI	e	XIX,	difere	das	anteriores,	
porque	passa	a	existir	 uma	complexidade	ainda	maior	 referente	aos	aspectos	econômico,	
político,	social	e	espiritual,	principalmente	em	virtude	do	capitalismo,	desenvolvimento	científico	
e	estados	centralizados.
Na	Idade	Moderna,	a	ética	passa	a	ter	uma	perspectiva	diferente,	rompe	com	essa	ideia	
suprema	de	felicidade	e	traz	para	a	ação	humana	a	responsabilidade	de	suas	ações,	e	não	
como	explicação	divina	e	abstrata,	assim	como	aprofunda	Passos	(2004,	p.	40):
A	ética	que	surge	e	vigora	nesse	período	é	de	tendência	antropocêntrica,	em	
que	o	ser	humano	é	o	seu	fim	e	fundamento,	apesar	de	ainda	consistir	na	ideia	
de	um	ser	universal	e	possuidor	de	uma	natureza	instável.	Assim	mesmo,	ele	
aparece	como	o	centro	de	tudo:	da	ciência,	da	política,	da	arte	e	da	moral.
Na	verdade,	o	período	da	Idade	Moderna	é	rico	em	teorias	sobre	a	ética,	mas	segundo	
Passos	(2004),	o	grande	pensador	a	destacar	é	Kant.
Immanuel	Kant	foi	um	dos	primeiros	pensadores	responsáveis	por	esse	rompimento.	
De	acordo	com	Guariglia	e	Vidiella	(2011,	p.	97),	“Kant	estabelece	de	maneira	categórica	a	
concepção	do	dever	como	o	centro	neurológico	da	moralidade	e	imprimindo	assim	a	ética,	ou	
seja,	a	ética	torna-se	o	fim	do	ser	humano,	que	é	a	felicidade	(ideal	de	perfeição)”.
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Immanuel Kant (1724-1804) – nasceu e morreu na Alemanha. Foi 
o grande responsável pela escola do criticismo e dentre a filosofia 
moderna e contemporânea.
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Kant	nos	apresentou	dois	imperativos	em	que	a	ética	pode	ser	compreendida:	o	hipotético	
e	o	categórico.	No	imperativo	hipotético	as	condições	são	subordinadas.	Dessa	forma,	a	ética	
não	se	explica,	porque	as	ações	humanas	são	consequências	de	um	interesse.
já	no	imperativo	categórico,em	Kant,	é	o	axioma	básico	para	o	comportamento	moral,	
em	que	se	pode	explicar	ética.	Para	Kant,	a	moralidade,	o	comportamento	moral,	vem	da	razão,	
vem	do	rigor	do	raciocínio,	é	uma	lei	inflexível,	ou	seja,	as	suas	ações	não	são	subordinadas	a	
condições,	são	desprovidas	de	interesse,	e,	portanto,	são	de	interesses	gerais,	podem	tornar-
se	leis	universais.
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“Imperativo categórico, em analogia ao termo mandamento, indica 
a norma da razão”. (ABBAGNANO, 2007, p. 628).
Na	Idade	Moderna,	então,	se	pode	perceber	que	a	razão	ao	cumprimento	das	leis,	da	
moral,	torna-se	por	efeito	o	dever	do	cidadão.	Assim	como	destaca	Passos	(2004,	p.	41):
Enquanto	as	doutrinas	éticas	anteriores	tinham	por	objetivo	atingir	uma	felici-
dade	ou	um	bem,	esta	é	uma	moral	da	pura razão e do puro dever.	A	prática	
moral	devia	basear-se	apenas	nas	orientações	da	razão,	deixando	totalmente	
de	lado	o	mundo	empírico.	Assim,	ele	construiu	uma	moral	desinteressada,	
desprovida	de	qualquer	finalidade	e	de	qualquer	motivação,	que	não	fosse	o	
‘cumprimento	do	dever	pelo	dever’,	pois,	para	ele	(Kant),	a	única	coisa	verda-
deiramente	boa	seria,	como	dissemos,	‘uma	boa	vontade’,	a	disposição	em	
seguir	a	lei	moral	em	detrimento	de	vantagens	que	ela	pudesse	proporcionar	
ao	indivíduo.	Assim,	a	lei	moral	seria	incondicional	e	absoluta.
Então,	para	Kant,	a	felicidade	só	seria	possível	se	o	dever	se	submetesse	à	moralidade.	
Dessa	forma,	a	ética	e	a	moral	nesse	tempo	estão	relacionadas	ao	cumprimento	do	dever.
4.4	IDADE	CONTEMPORÂNEA
Chegamos	à	Idade	Contemporânea.	Este	período	é	marcado	pelo	progresso	científico	
e	pela	valorização	do	ser	humano	concreto.	Essa	época	não	busca	a	humanidade	perfeita,	ou	
seja,	a	ideia	de	cidade	(polis)	perfeita	ou	da	suprema	felicidade,	nem	tampouco	a	moral	cristã	
dá	conta	de	responder	aos	novos	anseios.
É	a	época	da	igualdade	e	liberdade,	marcada	pelos	direitos	fundamentais,	“não	pela	
imposição	 ou	 obrigação,	 com	 códigos	 a	 serem	 estabelecidos”.	 (PASSOS,	 2004,	 p.	 42).	
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Destacam-se	 três	 grandes	 concepções:	marxismo,	 pragmatismo	 e	 existencialismo,	 que	
brevemente	podemos	entender.
O	marxismo	se	refere	às	ideias	filosóficas,	políticas	e	sociais	elaboradas	por	Karl	Marx	e	
Friedrich	Engels.	O	marxismo	entende	o	homem	como	ser	social	e	histórico	e,	também,	aborda	
a	questão	da	sociedade	produtiva	e	as	lutas	de	classes.
O	pragmatismo	é	uma	doutrina	filosófica	que	adota	a	utilidade	prática.	O	pragmatismo	
está	ligado	ao	senso	prático,	em	que	a	verdade	está	relacionada	à	utilidade.
O	existencialismo	tem	como	ponto	de	partida	o	ser	humano.	O	indivíduo,	pelas	suas	
ações,	sentimentos,	então	essa	doutrina	se	preocupa	com	o	ser	humano	em	relação	ao	mundo.
Os	principais	pensadores	destacados	por	Passos	(2004)	são:
●	 Karl	Marx	(1818-1883):
Entendia	que	o	ser	humano	era	ao	mesmo	tempo	social	e	histórico,	objetivo	
e	subjetivo,	capaz	de	criar	e	de	interferir	na	realidade	e	transformá-la	à	sua	
medida.	Nesse	processo,	ele	não	só	contribuía	a	seu	mundo	concreto,	como	
também	à	sua	fundamentação	valorativa.	(PASSOS,	2004,	p.	42).
●	 Friedrich	Nietzsche	(1844-1900):	procurou	estudar	a	origem	dos	valores	e	entender	o	porquê	
da	valorização	de	uns	atos	e	não	de	outros,	ou	seja,	a	dicotomia	entre	o	bem	e	o	mal.
●	 Charles	Sanders	Peirce	(1854-1914):	apresentou	o	pragmatismo	como	um	método	e	não	
como	teoria.	A	moral	é	algo	quando	o	fim	é	bom;	nesse	sentido,	quanto	aos	valores,	são	
absolutos.	“O	que	é	bom	ou	mau	é	relativo,	variando	de	situação	para	situação.	Depende	
de	sua	utilidade	para	a	atividade	prática”.	(PASSOS,	2004,	p.	45).
●	 Habermas	(1929):	as	argumentações	morais	servem	para	que	os	conflitos	sejam	desfeitos	
pelo	consenso.	O	processo	reflexivo,	intersubjetivo,	argumentativo,	leva	os	participantes	ao	
comum	acordo.
Alguns	desses	pensadores	voltarão	a	ser	lembrados	em	nosso	caderno.	Fique	atento.
Até	o	próximo	tópico,	quando	vamos	falar	do	caminhar	próximo	entre	ética	e	moral.
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LEITURA COMPLEMENTAR
ÉTICA E MORAL
UMA REFLEXÃO SOBRE A ÉTICA E OS PADRÕES DE MORALIDADE OCIDENTAL
Israel	Alexandria
1	 A	MORALIDADE	ENQUANTO	OBjETO	DA	ÉTICA
Gosto	não	se	discute.	Correntemente	essa	frase	é	utilizada	quando	se	quer	estabelecer	
a	ideia	de	que	gosto	é	algo	radicalmente	subjetivo	e	imutável.	Ora,	a	imensa	variedade	de	
sujeitos	com	preferências	e	opiniões	distintas	entre	si	e	o	fato	de	um	mesmo	sujeito	mudar	
de	preferências	 e	 opiniões	 fazem	prova	de	que	a	 complexa	estrutura	psíquica	humana	é	
capaz	de	aprender	e	de	modificar	o	que	se	aprendeu.	SUBjETIVIDADE	não	combina	com	
IMUTABILIDADE,	logo	a	frase	em	questão	é	contraditória.
Diz-se	também	que	PERSONALIDADE	vem	da	natureza.	Quando	atribuímos	à	natureza	
a	existência	de	alguma	coisa,	estamos	simplesmente	dizendo	que	esta	coisa	não	foi	criada	
pela	cultura,	nasce-se	com	ela.	Não	há	necessidade	de	aprender	o	que	é	natural.	O	natural	é	
inato.	Essa	coisa	chamada	personalidade	é	inerente	à	pessoa.	Pessoa	e	personalidade	vêm	
da	mesma	palavra:	persona.	Ninguém	nasce	pessoa.	Ninguém	se	refere	a	um	bebê	como	
“aquela	pessoa”,	pois	se	sabe	que	personalidade	tem	a	ver	com	um	sistema	mais	ou	menos	
definido	de	gostos,	preferências	que	se	vai	adquirindo	com	o	tempo.
Embora	as	preferências	e	as	condições	que	formam	a	personalidade	sejam	tão	subjetivas	
e	mutáveis,	há	uma	constante	que	não	podemos	desprezar.	É	o	princípio	do	prazer.	Todo	ser	
dotado	de	sensibilidade	tem	a	propensão	natural	de	afastar	o	que	lhe	está	associado	à	dor	e	
buscar	o	que	lhe	é	prazeroso.	O	gato	morde	o	homem	que	lhe	pisa	a	cauda	e	o	vegetal	cresce	
em	direção	ao	sol.	Para	o	gato	é	bom	que	não	 lhe	pisem	na	cauda.	Para	a	planta,	é	bom	
crescer	em	direção	ao	sol.	O	ser	humano	não	foge	a	essa	regra.	O	bebê	humano	é	capaz	de	
manifestar	sua	percepção	de	prazer	e	dor	e	essa	capacidade	não	se	perde	com	a	idade.	O	que	
muda	é	a	forma	como	se	dá	essa	manifestação	e	o	objeto	do	prazer	ou	o	da	dor	que,	por	sua	
vez,	dependem	das	circunstâncias.	O	que	permanece	imutável	é	o	fato	dos	sujeitos	estarem	
sempre	buscando	o	que	lhes	parece	bom,	e	afastando	o	que	lhes	parece	mal.	É	sobre	esses	
dois	conceitos	que	trata	a	ética.
A	ética	é	uma	ciência	comprometida	com	a	busca	aprofundada	das	relações	entre	o	
homem	e	os	conceitos	de	bem	e	de	mal.	Trata-se	de	uma	ciência	da	qual	não	podemos	nos	
esquivar,	pois	o	bem	e	o	mal,	o	certo	e	o	errado	impregnam	nossa	conduta	prática.	Embora	a	
maioria	não	pense	no	assunto,	o	comportamento	humano	é	uma	contínua	resposta	às	questões	
éticas.	É	nesse	ponto	que	nasce	a	distinção	entre	ética	e	moral.
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O	dicionarista	e	pensador	Nicola	Abbagnano	(1901-1990)	afirma	que	MORAL	é	“atinente	
à	conduta”	(1982:	652),	enquanto	a	ÉTICA	é	“a	ciência	com	vistas	a	dirigir	e	disciplinar	a	mesma	
conduta”	(1982:	360).	A	moral	seriam	as	regras	práticas,	e	a	ética,	o	fundamento	teórico	da	
moral.	Diz-se	moral	aristotélica,	moral	kantiana	para	enfatizar	os	respectivos	aspectos	práticos;	
ética	aristotélica,	ética	kantiana	estariam	mais	relacionados	aos	seus	aspectos	teóricos.	Alguns	
autores,	entretanto,	ressaltam	que,	embora	haja	uma	infinidade	de	morais:	moral	cristã,	moral	
judaica,	moral	platônica,	moral	kantiana	etc.,	a	ética	seria	uma	só.	É	que,	sendo	esta	uma	
ciência,	 trabalha	 apenas	 com	conceitos	 universais.	Basicamente,	 são	 três	 os	modelos	 de	
moralidade:	aristocrático,	utilitarista	e	kantiano.
2	 A	MORAL	ARISTOCRÁTICA
A	moral	aristocrática	visa	fazer	com	que	o	indivíduo	se	aproxime,	cada	vezmais,	de	
um	homem	ideal	e	transcendente.	Nesse	sentido,	são	morais	aristocráticas	a	moral	judaica,	
baseada	no	modelo	de	homem	de	fé	(Abraão),	a	moral	cristã,	no	amor	ao	próximo	(jesus),	a	
moral	platônica,	no	ascetismo	(filósofo-rei),	a	moral	budista,	na	eliminação	dos	desejos	(Buda).	
Mas,	na	maioria	das	vezes,	esses	modelos	ideais	são	apenas	descrições	sem	referências	a	
nomes	de	personagens	históricos.	A	moral	aristocrática	propõe	que	cada	indivíduo	seja	dotado	
das	virtudes	adequadas	(a	palavra	virtude	vem	de	virtu,	que	significa	força)	para	imitar	o	modelo	
ou	um	ideal	de	vida	proposto.	A	felicidade	plena	é	obtida	quando	o	indivíduo	realiza	o	ideal	
proposto.	Quanto	mais	virtuoso	for	o	indivíduo,	maior	o	seu	grau	de	felicidade.
Sócrates	 (470-399	a.C.)	 inventou	o	 ideal	 cínico	 (palavra	derivada	de	 canino),	 cuja	
principal	virtude	é	o	desprezo	às	comodidades,	às	riquezas	e	às	convenções	sociais,	enfim	a	
tudo	aquilo	que	afasta	o	homem	da	simplicidade	natural	de	que	dão	exemplo	os	animais	(no	
caso	o	cão).	Cínico	é	aquele	que	vive	o	descaramento	da	vida	canina.	Relata-se	que	Sócrates	
caminhava	nos	mercados	apenas	para	saber	do	que	ele	não	precisava.	Outros	curiosos	relatos	
envolvendo	Diógenes,	tais	como	o	da	“visita	do	imperador”,	“a	mão	e	a	cuia”,	“a	lanterna”	etc.,	
indicam	que	este	teria	sido	o	maior	cínico	da	história.
Platão	 (428-348	a.C.)	propôs	o	 ideal	asceta.	A	prática	da	ascese	consiste	em	viver	
na	contemplação	do	mundo	das	ideias	ao	tempo	que	se	afasta	de	tudo	o	que	é	corpóreo.	“É	
evidente	que	o	trabalho	do	filósofo	consiste	em	se	ocupar	mais	particularmente	que	os	demais	
homens	em	afastar	sua	alma	do	contato	com	o	corpo”	(Platão:	Fédon,	65,	a).	O	sábio	educa-
se	para	a	morte,	ou	seja,	para	o	dia	em	que	sua	alma	se	separará	definitivamente	do	corpo,	
migrando	para	o	outro	mundo.
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FONTE:	<http://www.espiritualismo.info/filosofias.html>.
Aristóteles	(384-322	a.C.)	definia	o	homem	ideal	como	aquele	que	consegue	pôr	em	
prática	tanto	a	sua	animalidade	natural	como	a	sua	sociabilidade	natural,	pois	o	homem	é	um	
animal	social	por	natureza.	"Mesmo	quando	não	precisam	da	ajuda	dos	outros,	os	homens	
continuam	desejando	viver	em	sociedade."	(Aristóteles.	Política:	III,	6).	Reprimir	a	animalidade	
ou	a	sociabilidade	distancia	o	homem	da	felicidade.	Para	encontrar	um	termo	médio	entre	essas	
duas	naturezas,	o	homem	vale-se	da	razão.
Os	estoicos	são	outro	exemplo	de	moral	aristocrática.	No	séc.	IV	a.C.	Acredita-se	que	
o	nome	estoico	tenha	sido	inspirado	no	local	onde	Zenão	de	Cício	(335-263	a.C.)	ensinava:	os	
pórticos	(stoa,	em	grego).	Costuma-se	atribuir	a	razão	do	surgimento	dessa	doutrina	ao	fato	da	
cidade	de	Atenas	haver	perdido	sua	independência	para	os	macedônicos,	prolongada	depois	
pelo	Império	Romano.	O	estoicismo	foi	uma	espécie	de	refúgio	espiritual,	uma	via	filosófica	
para	se	conseguir	a	independência	em	nível	individual.	Não	obstante,	o	estoicismo	atravessou	
séculos,	sendo	adotado	pelos	cristãos	e	até	pelo	imperador	romano	Marco	Aurélio	(121-180	
d.C.).		Segundo	os	estoicos,	nenhum	evento	acontece	por	acaso	(teoria	da	necessidade).	Até	
mesmo	o	trajeto	de	uma	folha	que	se	desprende	da	árvore	 já	 foi	milimetricamente	traçado	
pelo	Logos,	princípio	inteligente	do	cosmos.	O	ideal	de	sabedoria	estoica	é	a	completa	apatia:	
indiferença-acomodação	diante	dos	acontecimentos	da	vida,	é	o	que	revela	Sêneca	(4	a.C.	65	
d.C.),	um	dos	expoentes	do	estoicismo.
Toda	a	vida	é	uma	escravidão.	É	preciso,	pois,	acostumar-se	à	sua	condição,	queixando-
se	o	menos	possível	e	não	deixando	escapar	nenhuma	das	vantagens	que	ela	possa	oferecer:	
nenhum	destino	é	tão	insuportável	que	uma	alma	razoável	não	encontre	qualquer	coisa	para	
consolo.	Vê-se	frequentemente	um	terreno	diminuto	prestar-se,	graças	ao	talento	do	arquiteto,	
às	mais	diversas	e	 incríveis	aplicações,	e	um	arranjo	hábil	 torna	habitável	o	menor	canto.	
Para	vencer	os	obstáculos,	apela	à	razão:	verás	abrandar-se	o	que	resistia,	alargar-se	o	que	
era	apertado	e	os	fardos	tornarem-se	mais	leves	sobre	os	ombros	que	saberão	suportá-los.	
(1973:	216)
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Não	se	interprete	indiferença	por	alienação:	um	sábio	pode	engajar-se	na	vida	política	
até	mesmo	porque	estava	escrito.	Nesse	ponto,	os	povos	muçulmanos	parecem	estar	em	
franco	acordo	com	a	doutrina	estoica,	pois	regularmente	repetem	a	expressão	maktub	(estava	
escrito),	particípio	passado	do	verbo	catab	(escrever).	A	virtude	do	sábio	é	o	controle	absoluto	
de	 suas	emoções.	Segundo	sua	parenética	 (termo	que	diz	 respeito	aos	aconselhamentos	
práticos),	quando	as	circunstâncias	tornam	impossível	o	controle	das	emoções,	é	aconselhável	
a	prática	do	suicídio.
Epicuro	de	Samos	(341-270	a.C.)	criou	o	modelo	de	sábio	epicurista:	o	homem	que	
pratica	plenamente	a	virtude	da	ataraxia	(despreocupação;	ausência	de	aborrecimentos,	de	
dores	ou	medos).	
Nem	a	posse	das	riquezas	nem	a	abundância	das	coisas	nem	a	obtenção	de	cargos	
ou	o	poder	produzem	a	felicidade	e	a	bem-aventurança;	produzem-na	a	ausência	de	dores,	a	
moderação	nos	afetos	e	a	disposição	de	espírito	que	se	mantenha	nos	limites	impostos	pela	
natureza.
FONTE:	Disponível	em:	<http://a-educologia.blogspot.com.br/2012/10/a-
sabedoria-do-epicurismo-1.html>.	Acesso	em:	15	dez.	2007.
A	ausência	de	perturbação	e	de	dor	são	prazeres	estáveis;	por	seu	turno,	o	gozo	e	
a	alegria	são	prazeres	de	movimento,	pela	sua	vivacidade.	Quando	dizemos,	então,	que	o	
prazer	é	fim,	não	queremos	referir-nos	aos	prazeres	dos	 intemperantes	ou	aos	produzidos	
pela	sensualidade,	como	creem	certos	ignorantes,	que	se	encontram	em	desacordo	conosco	
ou	não	nos	compreendem,	mas	ao	prazer	de	nos	acharmos	livres	de	sofrimentos	do	corpo	e	
de	perturbações	da	alma.	(Epicuro,1993:	25).
Efetivamente,	a	ideia	de	que	os	epicuristas	pregavam	a	volúpia	do	corpo	é	falsa.	Eles	
praticavam	uma	espécie	de	otimismo	profilático	que	se	aproxima	muito	do	famoso	"jogo	do	
contente"	da	personagem	Poliana.	Eram	iconoclastas	em	relação	aos	mitos	sobre	morte,	religião	
e	política.	Isolados	em	jardins	afastados	das	agitações	da	vida	citadina,	cultivavam	a	amizade	
(a	prática	de	viver	em	seletos	círculos	de	amigos	era	considerada	condição	fundamental	na	
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vida	do	sábio	epicurista).	O	modus	vivendi	de	Epicuro	e	seus	discípulos	foi	chamado	de	aurea	
mediocritas	(mediocridade	dourada)	por	Horácio.
3	 A	MORAL	UTILITARISTA
A	moral	utilitarista	caracteriza-se	pela	ausência	do	transcendente	e	de	modelos	a	priori	
a	serem	imitados.	Todas	as	ações	devem	ser	medidas	pelo	bem	maior	para	o	maior	número.	
Ao	definir	o	utilitarismo,	o	filósofo	irlandês	Francis	Hutcheson	(1694-1746)	assim	se	expressa:	
"a	melhor	 ação	é	aquela	 que	produz	a	maior	 felicidade	ao	maior	 número	de	pessoas."	O	
utilitarismo	é	a	moral	dos	números.
Nicolau	Maquiavel	 (1469-1527),	 pensador	 italiano,	 tem	 sobre	 si	 a	 culpa	 de	 haver	
defendido	 que	 os	 fins	 justificam	os	meios,	 embora,	 segundo	 o	Dicionário	 de	Filosofia	 de	
Abbagnano	(1962:	614),	tal	máxima	tenha	origem	jesuíta.	A	injustiça	que	recai	sobre	Maquiavel	
vem	da	dificuldade	que	se	tem	de	separar	o	mero	descrever	e	o	opinar.	Ele	 tinha	horror	a	
governos	de	ocasiões,	golpes	sucessivos,	casuísmos,	enfim	à	política	do	dia	a	dia	que	tanto	
permeava	a	agitada	vida	nos	bastidores	políticos	de	Florença.	Em	O	Príncipe	ele	 faz	uma	
descrição	em	forma	de	aconselhamento,	com	base	em	seus	conhecimentos	de	história,	da	
conduta	do	governante	que	pretende	permanecer	no	poder	porum	tempo	relativamente	longo,	
mas	chega	mesmo	a	confessar	que,	para	atingir	tal	permanência,	o	ideal	seria	que	as	coisas	
não	ocorressem	da	forma	como	a	história	demonstrara.	Não	obstante,	a	tradição	nos	legou	o	
termo	maquiavélico	como	designativo	de	um	modelo	que	se	firmou	como	um	dos	marcantes	
exemplos	de	moral	utilitarista:	a	que	visa	um	maior	número	de	dias	no	poder.
Thomas	Hobbes	(1588-1679),	filósofo	inglês,	parte	do	princípio	de	que	quanto	menor	
for	o	número	de	 invasões,	mortes	violentas	e	desapossamentos	mútuos,	mais	 feliz	será	a	
espécie	humana.	Esta	condição	só	pode	ser	arranjada	com	a	existência	de	um	contrato	social	
e	de	um	Leviatã.	Vamos	explicar	melhor:	Para	Hobbes,	o	homem	é,	naturalmente,	o	lobo	do	
homem	(homo	homini	lupus),	ou	seja,	não	é	um	ser	naturalmente	cordial	e	sociável,	não	está	
naturalmente	aparelhado	para	sentir-se	incomodado	com	a	dor	alheia	quando	sua	sobrevivência	
está	em	jogo.	"Se	dois	homens	desejam	a	mesma	coisa,	ao	mesmo	tempo	em	que	é	impossível	
ela	 ser	 gozada	 por	 ambos,	 eles	 se	 tornam	 inimigos."	 (Hobbes,	 1651:	 43).	Relegados	 ao	
estado	de	natureza,	os	homens	promovem	uma	guerra	de	todos	contra	todos	(bellum	omnium	
contra	omnes),	guerra	inútil	porque	põe	em	risco	a	própria	conservação	humana.	Os	homens,	
portanto,	perceberam	e	admitiram	entre	si	a	vantagem	em	cada	um	reprimir	sua	animalidade	
natural	em	prol	de	uma	mútua	convivência	pacífica,	bem	mais	útil,	produtiva,	confortável	e	
segura.	A	civilização	nasce	desse	contrato	social.	Essa	nova	situação,	entretanto,	só	pode	
ser	mantida	com	a	existência	de	um	Leviatã	(monstro	amedrontador	e	forte)	que	se	expressa	
preferencialmente	na	figura	de	um	rei,	comandante	autoritário	e	único	que	gera	em	todos	o	
sentimento	generalizado	de	medo	da	punição,	garantindo	assim	a	continuidade	do	Estado	civil.
A	base	da	moral	 utilitária	de	Hobbes	 sofreu	 inúmeras	 críticas,	 a	principal	 partiu	 de	
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jean-jacques	Rousseau	 (1712-1778),	 filósofo	 suíço,	 que	 via	 na	animalidade	humana	não	
lobos	e	sim	cordeiros.	Tais	quais	cordeiros	livres,	os	homens,	no	estado	de	natureza,	vivem	em	
plena	felicidade.	Foi	a	civilização	que	fez	com	que	muitos	cordeiros	se	tornassem	violentos	e	
pensassem	ser	lobos.	A	soberania	do	Leviatã	não	é	desejável	porque,	além	de	retirar	do	homem	
a	sua	liberdade	natural,	impossibilita	a	construção	de	uma	liberdade	civil,	que	só	é	possível	
quando	a	vontade	geral	é	soberana.	A	conquista	da	liberdade	civil	estaria	na	reeducação	por	
meio	de	leis	"corderiais"	que,	metaforicamente,	fizessem	com	que	os	cordeiros	reconhecessem	
que	são	cordeiros.
FONTE:	Disponível	em:	<http://informarepropagar.blogspot.com.br/2013/02/lobo-
em-pele-de-cordeiro-prefiro-viver.html>.	Acesso	em:	15	dez.	2007.
Ainda	a	respeito	da	dicotomia	lobo/cordeiro	há	outras	observações	curiosas.	Para	Frederich	
Nietzsche	(1844-1900),	filósofo	alemão,	a	natureza	produz	homens-lobos	e	homens-cordeiros	e	
não	podemos	ignorar	que	lobos	estão	aparelhados	para	devorar	cordeiros.	Quando	só	restarem	
lobos,	as	forças	naturais	produzirão	superlobos	que	devorarão	antigos	lobos	numa	progressão	
infinita	de	vidas	cada	vez	mais	fortes.	A	moral	nietzschiana	é	a	da	exuberância	da	força	e	do	
vitalismo	das	potências	naturais	ou	super-humanas.	É	uma	moral	que	pretende	ir	além	do	bem	
e	do	mal	(se	é	que	isso	é	possível).	Nietzsche	afirma	que	dicotomia	entre	bem	e	mal	não	passa	
de	invencionice	resultante	do	ressentimento	e	da	fraqueza	dos	cordeiros.	"Toda	moral	é	[...]	uma	
espécie	de	tirania	contra	a	'natureza'	e	também	contra	a	'razão'".	(Nietzsche,	1886:	110).
Michel	Foucault	(1926-1984)	diria	que	lobos	e	cordeiros	habitam	cada	um	de	nós	e	ambos	
teriam	desenvolvido	estratégias	de	sobrevivência	que	tornariam	extremamente	complexa	a	luta	
entre	os	dois,	uma	complexidade	tal	que	o	cordeiro,	em	determinados	momentos,	poderia	estar	
sob	a	condição	de	ataque.	Nesse	caso	a	questão	moral	só	poderia	ser	definida	dentro	de	um	
contexto	muito	específico,	onde	se	levariam	em	conta	os	sujeitos	envolvidos,	suas	estratégias,	
suas	relações	de	poder...	Foucault	é	o	criador	da	microética.
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4	 A	MORAL	KANTIANA
A	moral	kantiana	é	a	concebida	por	Immanuel	Kant	(1724-1804),	filósofo	prussiano.	
Sua	intuição	principal	foi	que	o	indivíduo	deve	estar	livre	para	agir	"não	em	virtude	de	qualquer	
outro	motivo	prático	ou	de	qualquer	vantagem	futura,	mas	em	virtude	da	ideia	de	dignidade	de	
um	ser	racional	que	não	obedece	a	outra	lei	senão	àquela	que	ele	mesmo	simultaneamente	
se	dá"	(Kant,	1785:	16).	A	ação	moral	exige	a	autonomia	do	agente.	Ser	autônomo	é	obedecer	
a	si	mesmo	ou	ao	que	vem	de	dentro.	É	o	inverso	do	heterônomo	(o	que	obedece	a	ordem	
do	outro,	obedece	ao	que	vem	de	fora).	Não	se	pode	falar	em	ética	sem	autonomia,	pois	a	
ação	heterônoma	(cuja	vontade	vem	de	fora)	não	é	uma	ação	ética.	A	moral	aristocrática	e	a	
utilitarista	não	são	eticamente	válidas	porque	dependem	de	algo	exterior:	a	primeira,	de	ideais	
transcendentes	e	a	segunda,	de	ideais	imanentes.
Para	realizar	a	autonomia,	a	ação	moral	deve	obedecer	apenas	ao	imperativo	categórico:	
o	bom	senso	interior	que	todos	nós	temos	de	perceber	que	não	somos	instrumentos	e	sim	
agentes.	Nunca	instrumentalizar	o	homem	é	a	exigência	maior	do	imperativo	categórico.	Kant	
fornece	uma	regra	para	saber	se	uma	decisão	nossa	obedece	ou	não	ao	imperativo	categórico:	
indague	a	si	mesmo	se	a	razão	que	te	faz	agir	de	determinada	maneira	pode	ser	convertida	
em	lei	universal,	válida	para	todos	os	homens.	Se	não	puder,	esta	tua	ação	não	é	digna	de	
um	ser	racional,	não	é	eticamente	boa	porque	te	falta	a	autonomia,	estás	agindo	premido	por	
circunstâncias	exteriores	a	ti.	O	bem	ético	é	um	bem	em	si	mesmo.
Ao	realçar	a	exigência	da	autonomia	da	ação	moral,	Kant	desperta	a	questão	da	liberdade	
ética.	O	conceito	de	liberdade	ética	parte	da	distinção	entre	ação	reflexa	e	ação	deliberada.	A	
ação	deliberada	é	aquela	que	resulta	de	uma	decisão,	de	uma	escolha,	é	o	mesmo	que	ação	
autônoma.	A	ação	reflexa	é	"instintiva",	independe	da	vontade	do	agente.	Apenas	as	ações	
deliberadas	podem	ser	analisadas	sob	o	ponto	de	vista	ético.	Voltemos	ao	exemplo	do	gato	que	
morde	o	homem	que	lhe	pisou	a	cauda.	O	gato	tentou	afastar	o	que	lhe	era	um	mal,	mas	não	
podemos	dizer	que	ele	escolheu	morder	o	homem.	Logo,	não	se	pode	dizer	que	o	gato	agiu	de	
forma	imoral	ou	antiética.	A	questão	da	liberdade	ética	pode	ser	assim	resumida:	Levando-se	
em	conta	que	somos	animais	e	ocasionalmente	agimos	de	forma	reflexa,	em	que	condições	
nossa	ação	pode	ser	considerada	uma	ação	deliberada?
Henri	Bergson	(1859-1941)	e	jean-Paul	Sartre	(1905-1980)	respondem	a	essa	pergunta	
de	forma	radical:	O	livre-arbítrio	é	a	qualidade	que	melhor	define	o	homem.	A	própria	condição	
humana	exige	que	todo	ato	humano	seja	um	ato	de	escolha,	seja	uma	ação	deliberada.	O	homem	
está	condenado	à	liberdade	porque	nunca	pode	decidir	não	escolher.	Diante	da	consciência	
de	que	nos	vemos	forçados	a	realizar	algo	por	imposição	exterior,	passamos	a	ter	liberdade	
de	escolher	entre	entregar-se	à	ação	ou	ir	de	encontro	a	ela.
FONTE:	ALEXANDRIA,	Israel.	Ética e moral: uma	reflexão	sobre	a	ética	e	os	padrões	de	moralidade	
ocidental.	2001.	Disponível	em:	<http://ialexandria.sites.uol.com.br/textos/israel_textos/
etica_e_moral.htm>.		Acesso	em:	20	set.	2011.
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RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico vimos que:
•	 As	principais	distinções	entre	ética	e	moral	as	aproximam	e	as	caracterizam.
•	 As	esferas	da	aplicabilidade	da	moral:	universalismo	e	particularismo.
•	 Os	aspectos	de	moral,	imoral	e	amoraltêm	suas	características	próprias.
•	 A	Idade	Antiga	foi	a	época	do	surgimento	da	ética.
•	 A	Idade	Média	determina	a	ética	pelos	princípios	da	moral	cristã.
•	 A	Idade	Moderna,	através	de	Kant,	traz	ao	homem	a	responsabilidade	de	seus	atos.
•	 A	 Idade	Contemporânea	 reflete	 sobre	 as	 novas	 formas	 de	 interação	 humana	 dentre	 a	
sua	complexidade	e	novas	 relações,	para	assim	descobrir	 novas	 formas	consensuais	e	
conceituais.
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1	 Apresente	a	distinção	entre	marxismo,	pragmatismo	e	existencialismo.
2	 Como	podemos	diferenciar	moral,	imoral	e	amoral?
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A ÉTICA E A MORAL CAMINHAM JUNTAS
1 INTRODUÇÃO
TÓPICO 2
Caro(a)	acadêmico(a)!	Nesse	 tópico	apresentaremos,	em	 linhas	gerais,	quando	há	a	
diferença	entre	ética	e	moral	que,	muitas	vezes,	causa	confusão	entre	as	pessoas.	Apresentaremos	
também	a	gênese	da	consciência	moral,	tão	importante	para	o	desenvolvimento	humano.
UNIDADE 1
2 EXISTEM DIFERENÇAS?
Com	 relação	à	 ética	 e	 à	moral,	 podemos	afirmar	 que	a	 ética	 estuda	e	 investiga	 o	
comportamento	moral	dos	seres	humanos.	E	esta	moral	é	constituída	pelos	diferentes	modos	
de	viver	e	agir	dos	homens	em	sociedade,	que	é	formada	por	suas	diretrizes	morais	da	vida	
cotidiana,	transformando-se	no	decorrer	dos	tempos.
Nesta	perspectiva,	apresentamos	as	suas	principais	diferenças,	a	seguir:
QUADRO	3	–	DIFERENçAS	ENTRE	ÉTICA	E	MORAL
ÉTICA MORAL
•	É	a	ciência	que	estuda	a	moral.
•	É	a	reflexão	sistemática	sobre	o	
comportamento	moral.
•	É	a	parte	da	filosofia	que	trata	da	reflexão	dos	
princípios	universais	da	humanidade.
•	São	os	valores	humanos	universais	e	
fundamentais.
•	É	a	teoria	do	comportamento	moral.
•	É	a	compreensão	subjetiva	do	ato	moral.
•	É	o	modo	de	viver	e	agir	de	cada	povo,	em	
cada	cultura.
•	É	o	conjunto	de	normas,	prescrições	e	valores	
reguladores	da	ação	cotidiana.
•	Varia	no	tempo	e	no	espaço.
•	São	os	valores	concernentes	ao	bem	e	ao	mal,	
permitindo	ou	proibindo.
•	Conjunto	de	normas	e	regras	reguladoras	da	
relação	entre	os	homens	de	uma	determinada	
comunidade.
•	Nasce	da	necessidade	de	ajudar	cada	membro	
aos	interesses	coletivos	do	grupo.
FONTE:	Tomelin	e	Tomelin	(2002,	p.	89-90)
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Hoje	em	dia,	o	avanço	na	compreensão	e	vivência	dos	direitos	humanos	confirma	que	
as	diferenças	são	essenciais	para	uma	sociedade	que	prima	pela	justiça,	pela	equidade.	Cabe	
ao	ser	humano,	constantemente,	decidir	pela	verdade	que	se	lhe	impõe	no	cotidiano	da	sua	
existência.	Vivemos	 continuamente	 tomando	decisões	que	 se	nos	apresentam	 justamente	
porque	não	vivemos	sozinhos.	A	ética	e	a	moral	estão	aí	para	nos	auxiliar	nessas	decisões.	
Vázquez	(2003,	p.	15),	no	princípio	de	seu	livro	“Ética”,	propõe	diversas	questões	práticas	
para	a	decisão	do	ser	humano,	tais	como:	“Devemos	sempre	dizer	a	verdade	ou	há	ocasiões	
em	que	devo	mentir?	Com	respeito	aos	crimes	cometidos	na	Segunda	Guerra	Mundial,	os	
soldados	que	os	executaram,	cumprindo	ordens	militares,	podem	ser	moralmente	condenados?”
O	que	o	autor	quer	alertar	é	que	 todos	esses	problemas	são	práticos	e	 reais	e	se	
apresentam	nas	relações	afetivas	dos	seres	humanos.	As	decisões	práticas	humanas	podem	
afetar	um	pequeno	ou	um	grande	grupo.
Em	várias	das	situações	que	se	apresentam	ao	ser	humano,	o	que	está	em	jogo	são	os	
problemas	morais	que	ele	deve	decidir.	Os	valores	e	as	normas	que	são	reconhecidos	numa	
sociedade	como	os	mais	corretos,	são	os	juízos	que	se	formulam	diante	das	ações	humanas.	
Os	problemas	éticos	se	diferenciam,	como	elucida	Vázquez	(2003,	p.	17):
À	diferença	dos	problemas	prático-morais,	os	éticos	são	caracterizados	pela	
sua	generalidade.	Se	na	vida	real	um	indivíduo	concreto	enfrenta	uma	deter-
minada	situação,	deverá	resolver	por	si	mesmo,	com	a	ajuda	de	uma	norma	
que	reconhece	e	aceita	internamente,	o	problema	de	como	agir	de	maneira	
que	a	sua	ação	possa	ser	boa,	isto	é,	moralmente	valiosa.	Será	inútil	recorrer	
à	ética	com	a	esperança	de	encontrar	nela	uma	norma	de	ação	para	cada	
situação	concreta.
 
Daí	surgem,	então,	os	problemas	morais	e	éticos	a	respeito	da	 legalidade	também,	
porque	o	ideal	é	que	nossas	ações	sejam	éticas,	morais	e	legais.	Mas	é	possível	agirmos	de	
forma	moral,	mas	ilegal?	Por	exemplo,	se	estamos	num	grande	centro,	às	4	horas	da	manhã,	
dirigindo	um	carro,	 o	 sinal	 fica	 vermelho,	 você	 respeita	 e	 para,	 ou,	 de	 forma	 consciente,	
verificando	se	é	possível	avançar,	você	avança	o	sinal.	Você	se	vê	no	dilema	interessante:	ou	
respeita	a	lei	e	para,	ou	se	previne	de	um	suposto	assalto	e	avança	o	sinal.
Mesmo	que	você	considere	a	atitude	avançar	o	sinal	moral,	porque	é	melhor	pagar	
uma	multa	do	que	ser	assaltado,	ainda	assim	ela	não	é	legal.	O	ideal	é	que	seja	legal,	ético	
e	moral.
O	 exemplo	 dado	 é	 de	 referência	 a	 uma	 decisão	 pessoal	 e	 que	 pode	 gerar	
consequências,	 uma	multa	 de	 trânsito,	 portanto	 essa	 ação	 é	 bem	 particular	 e	 de	
consequência	particular.
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FIGURA	7	–	MORAL	E	ÉTICA
FONTE:	Adaptado	de:	Tomelin	e	Tomelin	(2002,	p.	89-90)
Assim,	podemos	expor	que	a	moral	vem	se	constituindo	historicamente,	mudando	no	
decorrer	da	própria	evolução	do	homem	em	sociedade.	Em	que	seus	hábitos	e	costumes	são	
constituídos	por	esta	relação	social,	em	que	a	essência	humana	é	pautada	por	estes	princípios	
morais.	E	estes,	por	sua	vez,	constituem	o	ser	social	que	somos.	E	a	ética	nesta	questão	chega	
para	simplesmente	regular	e	analisar	estes	preceitos	morais.
A	 ética	 é	 precursora	 da	TRANSFORMAÇÃO SOCIAL dos	 diversos	 sistemas	 ou	
estruturas	sociais.	Sistemas	estes	que	imprimiam	suas	mudanças	sociais,	tais	como:
•	 Capitalismo.
•	 Socialismo.
Então,	podemos	dizer	que	quando	é	constituída	uma	nova	estrutura	social,	a	ética,	
os	vilões	e	princípios	morais	são	modificados	para	constituir	assim	esta	nova	concepção	de	
sociedade.	Em	outros	 termos,	o	 sistema	de	valores	morais	 se	 transforma	no	processo	de	
constituição	de	um	novo	padrão	sócio-histórico.
Mas,	nos	diversos	processos	e	projetos	de	transformações	sociais	devem	permear	os	
valores	da	solidariedade,	igualdade	e	fraternidade,	para	assim	poder	constituir	uma	sociedade	
mais	justa	e	democrática.
Quando	nos	remetemos	a	apontar	a	crise	da	ética	na	contemporaneidade,	nos	desafiamos	
a	apresentar	os	fundamentos	epistemológicos	nos	quais	se	fundamenta	esta	perspectiva	de	
análise.	Afinal,	o	caminho	seguro	seria	atribuir	as	mais	diversas	situações	a	uma	genérica	e	
obscura	crise	da	ética,	desresponsabilizando-nos	de	defini-la	e	situá-la	adequadamente	no	
contexto	civilizatório	ocidental.
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Uma	das	possibilidades	de	nos	apercebermos	que	estamos	envoltos	numa	crise	é	
quando	temos	dificuldade	de	definir	adequadamente	situações	existenciais.	Quando	nossas	
referências	a	partir	das	quais	nos	posicionamos	diante	do	mundo,	da	vida,	das	pessoas	em	
nosso	entorno	não	nos	fornecem	mais	explicações	adequadas,	ou	minimamente	satisfatórias.
Esta	dificuldade	de	reconhecer	e	estabelecer	referenciais	atinge	todas	as	dimensões	
de	nossa	vida,	perpassando	necessariamente	o	discurso	(o	logos),	as	palavras,	os	conceitos	
através	dos	quais	expressamos	em	ideias	o	mundo	construído	por	nossas	representações.
ATEN
ÇÃO!
Caro(a)

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