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Direitos humanos - Resumo aula 4

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Direitos Humanos - Aula 4 
A aplicabilidade das normas constitucionais: a classificação tradicional e a doutrina brasileira da efetividade
A eficácia tradicional das normas constitucionais: a classificação de José Afonso da Silva
Antes de estudar a clássica lição de José Afonso da Silva acerca da aplicabilidade das normas constitucionais, vale recordar os conceitos de vigência e eficácia da norma jurídica. A vigência aponta para a existência ou inserção da norma no mundo jurídico, enquanto a eficácia diz respeito à aptidão para produzir efeitos na ordem jurídica. Assim sendo, é perfeitamente possível que uma norma esteja em vigor, sem, porém, produzir efeitos, como, por exemplo, uma lei já aprovada, aguardando o período de vacatio legis. Por outro lado, vale, desde logo ressaltar que todas as normas constitucionais têm eficácia, ainda que mínima ou negativa, mas não deixam de produzir de per si efeitos na ordem jurídica.
Aplicabilidade das normas constitucionais:
Norma de eficácia plena: As normas constitucionais de eficácia plena são aquelas de aplicabilidade imediata, direta, integral, desde a entrada em vigor da Constituição, sem a necessidade de regulamentação por uma norma infraconstitucional editada posteriormente pelo poder constituinte derivado. São também chamadas de normas constitucionais preceptivas (cf. Marcelo Rebelo de Souza). 
Por exemplo: Art. 2º- são poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário (na imagem você vê uma perspectiva da Praça dos Três Poderes, em Brasília) 
 Art. 14 § 2º - Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos
Norma de eficácia contida: As normas constitucionais de eficácia contida também têm aplicabilidade imediata, desde a entrada em vigor da Constituição. Entretanto, podem ter seu alcance restringido nos casos e na forma que a lei infraconstitucional estabelecer. O legislador comum pode restringir, mas não pode ampliar o alcance da norma constitucional. Neste sentido, o poder constituinte originário deixou margem de manobra para a ação regulamentadora do legislador derivado. São também conhecidas como normas de eficácia redutível ou restringível (cf. Michel Temer) e normas de eficácia relativa restringível (cf. Maria Helena Diniz). 
Por exemplo: Art. 5º inciso XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer.
Art. 5º inciso XII- é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução penal.
Norma de eficácia limitada: As normas constitucionais de eficácia limitada têm aplicabilidade mediata e indireta na medida em que dependem de complementação de outras normas para serem aplicadas. Tais normas regulamentadoras tanto podem ser do Poder Legislativo, como também do Executivo. È errôneo afirmar que tais normas não tem eficácia, ao contrário, desde a entrada em vigor da Constituição tais normas geram o dever de legislar do Congresso Nacional e o dever de agir do Poder Executivo. Além disso, possui ainda a chamada “eficácia paralisante” contra normas precedentes incompatíveis com o que estabeleceu o legislador ordinário. As normas de eficácia limitada se dividem em normas de princípio programático e normas de princípio institutivo.
A proposta tipológica de Luís Roberto Barroso
Vale, ainda, salientar a sistematização proposta pelo autor Luís Roberto Barroso, cuja classificação das normas constitucionais enquadra-se na seguinte tipologia:
Normas constitucionais definidoras de direito: visam fixar os direitos fundamentais dos indivíduos.
Normas constitucionais de organização: são aquelas que têm por objeto organizar o exercício do poder público.
Normas constitucionais programáticas: têm por objeto traçar os fins públicos a serem alcançados pelo Estado.
Para encerrar o estudo da aplicabilidade das normas constitucionais, impende alertar ao caro aluno que a dicção constitucional do art. 5º §1º garante que os direitos e garantias fundamentais previstos pela Carta Ápice brasileira são de aplicabilidade imediata, sem necessidade de qualquer regulamentação posterior. Neste sentido, cabem, inter alia, Mandado de Segurança Coletivo, Habeas Data e Mandado de Injunção, independentemente de qualquer regulamentação.
A doutrina brasileira da efetividade
É de sabença geral que, no Brasil, a doutrina da efetividade difundiu a tese de que os direitos constitucionais, e em especial os direitos fundamentais, não podem ser restringidos a ponto de se tornarem invólucros normativos vazios de efetividade. Assim sendo, verificou-se um grande movimento de renovação jurídica da interpretação constitucional a partir das obras de José Afonso da Silva e Luís Roberto Barroso, que na verdade deram continuidade aos trabalhos de Meireles Teixeira.
Já na doutrina estrangeira, destaca-se o princípio da força normativa da Constituição de Konrad Hesse, fonte de inspiração dos autores brasileiros.
Posição compromissória da CRFB/88
Para uma melhor compreensão da doutrina da efetividade, vale começar pela análise do caráter compromissório da Constituição brasileira, cujo símbolo maior é o extenso rol de normas programáticas contidas no seu corpo normativo. Com efeito, os direitos sociais são fruto de um poder constituinte originário essencialmente bipartido, cujo produto final foi a elaboração de uma Constituição compromissória que busca, a um só tempo, homenagear as vertentes do liberalismo burguês e da social democracia. 
Daí a tendência de positivar o texto constitucional de modo amplo sem maiores detalhamentos acerca das condutas necessárias para a realização dos fins pretendidos, optando-se por fórmulas abertas que projetam “estados ideais”, cuja exegese é mais complexa, na medida em que o intérprete fica obrigado a definir a ação a tomar (Cf. Luís Roberto Barroso). 
O art. 5º, § 1º da CF/88 enquanto garantidor da aplicação imediata das normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais informa a dimensão positiva do núcleo essencial, ou seja, não importa se um direito constitucional foi insculpido na forma de uma norma de eficácia limitada ou norma programática, seu conteúdo mínimo tem aplicação imediata, sem necessidade de regulação por parte do legislador e sem necessidade de se fazer ponderação de valores com outras normas constitucionais. 
Devemos, pois distinguir a idéia de um “princípio da máxima efetividade em sentido literal” (Luís Roberto Barroso) de um “princípio da mínima efetividade em sentido material”. O primeiro projetando a idéia de que o intérprete da Constituição tem a obrigação de extrair o máximo da letra da norma constitucional, o que não se confunde com o sentido do segundo princípio que projeta a idéia de criação do conteúdo jurídico mínimo da norma constitucional pelo poder judiciário. Com a devida atenção, o aluno deve compreender que o “princípio da mínima efetividade” está no plano concreto de significação, ou seja, partindo diretamente do problema a solucionar, o juiz só está autorizado a criar direitos subjetivos ligados ao cerne constitucional intangível. Não pode criar direito que não esteja ligado ao núcleo essencial da norma constitucional.

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