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Este m anual foi disponibilizado em sua versão digitai a fim de proporcionar acesso à pessoas com deficiência visual, possibilitando a leitura por m eio de aplicativos T T S (Text to Speech), que convertem texto em voz hum ana. P ara dispositivos m óveis recom endam os Voxdox (www.voxdox.net). L E I N° 9.610, D E 19 D E F E V E R E IR O D E 1998.(Legislação de D ireitos Autorais) Art. 46. Não constitui ofensa aos direitos autorais: I - a reprodução: d) de obras literárias, artísticas ou científicas, para uso exclusivo de deficientes visuais, sem pre que a reprodução, sem fins comerciais, seja feita m ediante o sistem a Braille ou outro procedim ento em qualquer suporte para esses destinatários; h ttp ://w w w .p lanalto .gov .br/cciv il_03/le is/L 9610.h tm http ://w w w 2.cam ara.leg .br/legin/fed/lei/1998/lei-9610-19-fevereiro-1998-365399-norm aatualizada-pl.htm l A DEFINIÇÃO DA PSICOLOGIA FRED S. KELLER A DEFINIÇÃO DA PSICOLOGIA Uma introdução aos sistemas psicológicos Tradução brasileira de RODOLPHO AZZI EDITÔRA HERDER SÃO PAULO 1 9 7 0 Versão brasileira do original inglês: The Dejinilion oj Psycfiologry, publicado peia D. Apple toa- Cen tu r y Company, Inc., New York. 1965. © Editôra Herder — São Paalo — 1970 Impresso na República Federativa do Brasil Printed in lhe Federative Republic oj Brazil Í N D I C E PREFÁCIO .............................................................. 1 Cap. I — A história do problem a ......................... 3 Cap. 11 — A fundação da psicologia moderna . . . 25 Cap. III — Titchener e o estruturalismo............... 33 Cap. IV — Os Estados Unidos e o funcionalismo 55 Cap. V — Watson e o behaviorismo..................... 73 Cap. VI — A Alemanha e a gestalt . . ................... 105 Cap. VII — O problema da definição ................... 132 REFERÊNCIAS ...................................................... 143 ÍNDICE DE ASSUNTOS E DE AUTORES . . . . 145 > PREFÁCIO Êste livro é o resultado parcial de minhas tentati vas, durante os últimos seis anos, de prover um curso in trodutório que servisse ao mesmo tempo de orientação para os que esperam prosseguir neste campo e de ex posição para os que desejam dedicar-se a outros. O material apresentado aqui foi escolhido com o objetivo de conduzir o principiante ao longo de parte da estrada percorrida pelos precursores e fundadores em direção aos problemas modernos de definição e sistematização da ciência. Na minha experiência pessoal de ensino, este material tem constituído a primeira parte de um curso que é regularmente acompanhado de um tratamen to sumário dos quatro campos principais — animal, de senvolvimento, diferencial e patológico — para os quais um texto se acha agora em preparação. Esta maneira de iniciação se prende a minha convicção de que os textos comuns para principiantes deixam de fornecer uma concepção adequada de aspectos de constituição desta província do saber e da amplitude e variedade da investigação dentro dela. Será difícil poder retribuir ao Dr. B. F. Skinner da Universidade de Minnesota, ao Professor Clarence W. 1 Young da Universidade de Colgate e à minha espôsa Frances, o encorajamento e auxílio que me deram quan do da composição destes capítulos. Sem as críticas amis tosas que fizeram e sem os comentários editoriais do Professor Elliott, muito mais defeitos seriam encontra dos no presente retrato do que os agora expostos. Às seguintes editoras: Harcourt, Brace and Company, Henry Holt and Company, J. B. Lippincott Company, Liveright Publishing Corporation, Longmans, Green and Company, The Macmillan Company, W. W. Norton and Company e Charles Scribner’s Sons meus agradecimentos por terem permitido citações de passagens de livros que publioem. Hamilton, Nova York, 1937 Fred S. Keller CAPITULO I A história do problema Muito antes que a psicologia viesse a ser tratada como uma ciência experimental havia homens interes sados nestes assuntos que hoje seriam chamados psico lógicos. A influência dêstes homens sôbre as gerações posteriores foi bem grande e não é demais que se deva abordar a questão de definir a psicologia moderna pela menção de suas opiniões e descobertas. Na verdade, é só assim fazendo que se pode apreciar as dificuldades em definir a psicologia e avaliar o tremendo avanço dos últimos anos. Embora nossa preparação histórica tenha de ser li mitada a mera meia dúzia de nomes, na realidade houve centenas — talvez milhares — que poderiam ser consi derados precursores da psicologia atual. Nenhuma ciên cia progride aos trancos e barrancos, como uma excur são inicial pela sua história parece indicar. O pro gresso é lento, fato que deve ser encorajador para o es tudioso que aspire adicionar o seu quinhão às realiza ções do passado. 3 Ao tratar aqui de algumas crenças de antigas figu ras representativas, não pretendo sugerir que as subscre vo, nem as cito como autoridades. Algumas seriam hoje consideradas fantásticas — e mesmo tôlas — e a maio ria só tem importância histórica. Hm regra, que tives sem sido sustentadas serviu apenas para que êste ou aquêle problema fôsse trazido para o foco da atenção, e não para resolvê-lo a contento de todos. Quão longe no passado deveremos recuar para en contrar os fios históricos? Não é questão fácil de res ponder. Poderíamos começar com as opiniões “psicoló gicas” do homem primitivo, especialmente com a cren ça das “almas-sombras”; mas o embasamento factual não seria muito seguro a esta distância. Ou se poderia começar em uma época mais “consciente” — com Aris tóteles (382-322 a. C.), o verdadeiro pai de toda a psi cologia; ou com Claudius Galeno (c. 130-199 d. C.), mé dico grego cuja classificação dos temperamentos e loca lização da razão no cérebro antecipam muita pesquisa e doutrina moderna ou com Tomás de Aquino (1224-1275), santo que foi a voz da igreja medieval em muita ques tão de psicologia. Nenhum dêles, entretanto, está tão direta e imediatamente alinhado com as preocupações atuais quanto o filósofo e matemático francês René Des cartes (1596-1650) — figura tão sedutora intelectual e pessoalmente, como se possa encontrar virando as pá ginas de um livro de história. Nascido na pequena nobreza, estudante de um co légio jesuíta, soldado por certo tempo (segundo alguns, culpado mesmo de “excessos da juventude”) e, final- 4 mente, erudito de alta categoria e opiniões radicais — a história da vida dêste homem poderia facilmente des- viar-nos de nossa principal rota de interesses. Devemos, por isso, contentar-nos aqui com uma breve exposição das razões que sobejamente o autorizam a ser denomi nado o pai da psicologia moderna. René Descartes foi o primeiro grande “dualista” dentre os filósofos do mundo. Foi o primeiro a fazer uma nítida distinção entre “corpo” e “mente” — distin ção que, desde então, tem dado não pouco trabalho aos psicólogos, até mesmo hoje. Além disso, foi dos dua listas que se costuma chamar “interacionistas” — isto é, acreditava que a mente podia afetar o corpo e o corpo, a mente. As opiniões de Descartes eram quase idênticas às do “bom senso” da maioria das pessoas que possivel mente lerão este relato — prova bastante convincente de sua influência sôbre o pensar das gerações que o se guiram. A “mente”, para Descartes, era o que “pensa”; a principal sede de sua atividade estava na cabeça; e não poderia ocupar nenhum espaço físico. O “corpo”, de outro lado, era uma “substância extensa” claramente objetiva, mecânica na sua ação e obediente a tôdas as leis da natureza inanimada. Os animais eram, na ver dade, não tendo mente nem alma (êstes dois têrmos eram sinônimos para Descartes), considerados nada mais do que máquinas. A hipótese adiantada por Descartespara explicar a interação mente e corpo era, se inacurada, pelo menos engenhosa e algo de acordo com o que se sabe hoje das 5 funções do sistema nervoso. Como ilustração podemos examinar um aspecto de suas especulações — o que concerne à maneira pela qual a mente influencia o corpo. Os nervos sensoriais do corpo eram comparados por Descartes às cordas de sino que transmitiam a in fluência do mundo externo à caverna central ou ventrí culo do cérebro; e os nervos motores eram tidos como pequenos tubos pelos quais os “espíritos animais” ou vapores do sangue surgidos do coração passavam da ca verna do cérebro para os músculos e aí causavam os mo vimentos do corpol . Assim a excitação de certo ór gão dos sentidos produzirá um puxão na corda de sino, que, na sua terminação central é capaz de abrir minús culas válvulas nas extremidades dos nervos motores pró ximos, permitindo o subseqüente fluxo dos espíritos até os músculos apropriados e provocando, finalmente, as ações. É uma visão extremamente mecânica do sistema nervoso, e, ao mesmo tempo, uma antecipação de outras que, sendo muito mais modernas, são muito menos vi síveis. Mas, e a influência da mente? A resposta de Des cartes é direta, senão plausível. O argumento é o de que sendo a alma (ou mente) unitária, deve influenciar o corpo que tem* duas metades simétricas, através de uma estrutura única compartilhada pelas duas metades. 1) “Sensoriais” e “motores”, como o leitor deve saber, são têrmos aplicados respectivamente aos nervos que conduzem impulsos dos órgãos dos sentidos para o cérebro ou para a medula e do cérebro ou da medula para os órgãos motores, por exemplo, os músculos. 6 A estrutura que escolheu foi o corpo píneal, uma pe quena glândula do cérebro projetada, para Descartes, nos turbulentos vapores da caverna central. O movimento desta estrutura, ao comando da mente, deveria ser ca paz, supunha, de modificar o fluxo dos espíritos e in terromper a seqüência de atividade de corda de sino — tubo; o desejo da alma transladava-se assim em movi mento coipóreo e a interação era conseguida. Descartes fêz outras contribuições, algumas das quais serão mencionadas em conexão com outros pro blemas e opiniões, mas nenhuma demonstrou ser tão teorèticamente exasperadora como as concepções gerais de dualismo e interacionismo. Isto se verá mais clara mente à medida que examinarmos as concepções dos “sistematizadores” modernos da psicologia. John Locke (1632-1704), o filósofo inglês, tornou -se interessado em assuntos psicológicos através de uma discussão amistosa sôbre a natureza e a aquisição do conhecimento. Nesta ocasião resolveu escrever uma bre ve dissertação de suas opiniões sôbre a questão. Vinte anos mais tarde publicou o livro que resultou desta ten tativa, um Ensaio sôbre a natureza humana — livro que pode até hoje ser uma fonte de tranqüilo deleite para o leitor desapressado. No livro encontramos desenvolvido o tema, na oca sião bastante radical, de que “tôdas as idéias provém da experiência”. Locke comparava a mente, no seu es tado virginal, a uma fôlha de papel em branco sôbre a qual a experiência escrevia. Dizia: “Imaginemos que a 7 mente seja, como dissemos, um papel branco, vazio de qualquer marca, sem nenhuma idéia; como virá a ser mobiliado?... A isto respondo em uma só palavra, pe la experiência”. Esta concepção não era na verdade, historicamente nova. Mesmo Aristóteles já tinha falado da mente como uma tabuinha inicialmente cm branco (tabula rasa). Mas o desenvolvimento desta concepção é do próprio Locke; e veio em um momento muito apropriado. Decartes e outros defenderam as idéias “ina tas” — idéias particularmente claras e pertencentes à in teligência sem o influxo do mundo exterior. Ao assumir esta posição e elaborá-la, defendendo-a a cada página de uma análise cuidadosa e firmando-se em sua própria experiência, John Locke inaugurou o movimento conhecido na filosofia como o “Empirismo Inglês”, que teve tamanha repercussão que mal reconhe cemos sua presença no nosso pensar de hoje em dia. Sem êle, entretanto, o nascimento da moderna psicologia experimental, da qual tão orgulhosos estamos, poderia ter sido retardado por muitos anos. Uma “idéia”, para Locke, era “qualquer coisa na qual ao pensar a mente se possa aplicar”. Brancura, du reza, doçura, movimento, embriaguês, elefante, exército e pensamento — tudo isso foi por êle citado, como idéias típicas, e tudo pode ser tido como oriundo de uma de duas fontes: diretamente, dos sentidos, ou indiretamente, da reflexão da mente sôbre o conhecimento vindo dos sentidos — idéias, idéias de idéias! Além disso, Locke tinha que as idéias podem ser 8 simples ou complexas, as últimas sendo na realidade com postas das primeiras e a elas redutíveis, através da aná lise cuidadosa. Assim, se à idéia de substância “fôr unida a idéia simples de uma certa côr esbranquiçada opaca, com certos graus de pêso, ductibilidade e fusi- bilidade, teremos a idéia de chumbo”, uma idéia com plexa. Dêste modo Locke lançou um pomo de discórdia longe no futuro, pois, como se verá, a possibilidade de analisar a mente humana em elementos, bem como a da natureza provável dêstes elementos, tem sido questão ar dentemente debatida em anos bastante recentes. Os su cessores imediatos de Locke levaram estas noções de aná lise e composição a extremos lamentáveis, e a reação veio vigorosa. Uma vez que Locke tem sido com freqüência ro tulado “o primeiro associacionista” pode-se bem incluir aqui menção do fato que o têrmo mais geralmente usa do para descrever a combinação e composição de idéias é “associação”. O próprio Locke empregou a frase “as sociação de idéias” como título de um capítulo do en saio, mas deixou a seus seguidores o dar-lhe a ênfase que a embebeu tão firmemente em nosso vocabulário coti diano. Outra das distinções feitas por Locke pode servir como uma boa introdução aos ensinamentos do próximo filósofo que devemos examinar em nossa lista: é a dis tinção entre o que chamava qualidades “primárias” e “secundárias” dos objetos, e que podemos tratar como diferença entre idéias. Concisamente enunciada é assim: 9 algumas idéias simples dos sentidos assemelham-se aos objetos do mundo exterior que as causam; outras idéias simples dos sentidos, embora causadas por objetos ex teriores, não se lhes assemelham. Por exemplo, idéias de solidez, figura e movimento são como os objetos ex ternos; mas idéias de côres, sons, ou sabores são des semelhantes a qualquer coisa que possa haver nos ob jetos que as provocam. Não há necessidade de ocuparmo-nos com as razões desta divisão das idéias simples dos sentidos em dois gru pos, mas deve ser indicado que está aqui o reconhe cimento por Locke de que nossas percepções do mun do, pelo menos em alguns casos, podem não ser “refle xos especulares” do próprio mundo — concepção simi lar a de um famoso fisiólogo de data mais recente, que argiiía que não temos conhecimento direto dos objetos dos sentidos, mas apenas dos nervos que estão entre os objetos e nossas mentes! Se John Locke, o inglês, acreditava que podíamos, direta ou indiretamente, conhecer o mundo exterior, esta opinião não era certamente compartilhada pelo irlandês, igualmente brilhante, cujas concepções examinaremos em seguida. George Berkeley (1685-1753), nascido em Du blin, formado no colégio da Trindade (Oxford), bispo por nomeação e filósofo por inclinação — não acreditava na existência da substância material! A crença na mente como única realidade verdadeira, embora ainda hoje refletida em algumas filosofias e dou trinas de certas seitas, não c obviamente uma caracte- 10 rística do “bom senso” moderno. As pessoas médias tendem a concordar com Byron que quando o bispoBerkeley dizia “não há matéria” e o provava — era imaterial o que dizia (*). Não obstante, esta concepção, filosoficamente, não é tão inusitada e fácil de contradizer como indicaria o seu aparente absurdo. Além disso, de uma forma ou de outra, tem sido tomada sèriamente por alguns psicólogos que procuram uma definição de sua ciência e buscam de terminai seu lugar entre as outras ciências. Como as qualidades secundárias de John Locke (co res, sons, sabores, etc.) revelavam suas duvidas sôbre a existência de certas coisas no mundo exterior — pelo menos como eram representadas na mente — pode-se dizer que o Bispo Berkeley chegou à sua posição seguin do Locke mais além do que êle tinha ido, Berkeley nega que a mente represente de alguma maneira os objetos. Um pouco de reflexão convencerá o leitor desta possi bilidade perturbadora. Pense, por um momento, que a página que está sendo lida agora pode não estar fisica mente “lá fora”, mas apenas “na mente”! O que há, com absoluta certeza, senão umas tantas sensações de qualidades visuais, auditivas ou tácteis — certos modos de experiência, por assim dizer — distinguidas umas das outras e nomeadas apenas por suas diferenças “mentais”? Outra contribuição de Berkeley, mais concreta e compreensível, é obrigatoriamente mencionada pelos his *) When Bishop Berkeley said “there was no matter”, And proved it, — ‘twas no matter what he said. 11 toriadores. Trata-se da questão de como sabemos a dis tância a que estão de nós os objetos que pertencem ao mundo da visão. Mais especificamente, como sabemos a que distância está de nós este livro, o quadro na parede, ou as árvores que se vêem pela janela? A despeito do fato de que o leitor possa nunca ter achado que haja problema na avaliação das distâncias ou da solidez dos objetos — os assim chamados aspectos tridimensionais de nossa experiência visual — isso tem sido há muito um problema psicológico bastante incômo do. Leonardo da Vinci, o artista-cientista reconheceu-o* bem como Descartes; mas foi Berkeley quem o analisou mais completamente e, por muitos anos, conclusiva mente. Berkeley sustentava que nunca percebemos a visão em profundidade ou a terceira dimensão diretamente, mas sempre através de indícios ou “critérios’’ cujo sig nificado para tais avaliações aprendemos a interpretar; pois como, poderia ter dito, como pode um objeto-ima- gem, impressionado sôbre a superfície sensitiva do ôlho, dizer-nos de quão longe vem — ou a distância que per correu antes de alcançar aquela superfície? É como um envelope postal em que o carimbo estivesse ausente ou borrado. Em sua “Nova Teoria da Visão” (1709) Berkeley descreve a natureza provável destes importantes indícios ou “carimbos”. Em primeiro lugar há a questão do ta manho relativo. A meio quilômetro de distância vemos a figura de um amigo. A imagem que se impressiona em 12 nossos olhos, pode-se concordar, é bastante pequena. Jul garíamos por isso que nosso amigo tenha encolhido? De modo nenhum! Não vemos nada estranho em seu tama nho; apenas vemo-lo à distância. E o que vale para o amigo vale para todos os outros objetos — quanto maio res mais próximos, quanto menores mais longínquos — de modo que dizemos, com Berkeley, que o tamanho re lativo dos objetos é um critério de seu afastamento. Além disso há outros fatôres. Por exemplo, esti ma-se que o objeto está mais perto se estiver parcial mente escondido por outro — c o fator “interposição”; côres desmaiadas e pouco saturadas (p. ex. o azulado das montanhas longínquas) estão freqüentemente associadas com distância — é o fator “perspectiva aérea”. Tama nho relativo, interposição e perspectiva aérea — todos foram indícios mencionados por Berkeley (em têrmos menos modernos) como auxílios de nossa avaliação da distância, e todos há séculos têm sido propriedade téc nica de todos os pintores. O critério seguinte não é, entretanto, tão óbvio. Ber keley chamava-o “apreciação da distância entre as pu pilas dos olhos” e nós, de “convergência binocular”. Quando “fixamos ou focalizamos” um objeto próximo, os dois olhos convergem (em casos extremos “vesgueiam”), e uma avaliação desta convergência em têrmos dc sen sação dos músculos dos olhos, nos diz da distância do objeto fixado — assim, quanto maior a convergência, mais próximo está o objeto e vice-versa. O critério final é o que chamamos agora “acomoda ção” e se explica pela mudança na forma das lentes dos 13 olhos em resposta à contração dos pequenos músculos presos a elas. Objetos muito próximos do ôlho reque rem grande contração dêstes músculos; os que estão me tro ou metro e meio além, requerem muito pouco. Em bora pouco familiarizado com êstes detalhes, Berkeley chegou a reconhecer a influência destas sensações e tra- tou-as como outra fonte de informação relativa à distân cia dos objetos olhados. Esta contribuição altamente especializada está tal vez mais próxima dos estudos contemporâneos de psi cologia do que qualquer outra que eu tenha citado antes. Tivesse Berkeley tentado de uma forma qualquer verifi car sua teoria pelo recurso a técnicas experimentais mais objetivas e controladas, pela medida das condições em que os critérios que propôs funcionam em um grupo de pessoas, e poderíamos considerá-lo hoje o pai da psicologia experimental. Mas se o tivesse feito, isso te ria sido uma exceção ao vagaroso desenrolar do curso da história, e não se pode pedir tanto de um homem — especialmente quando seus interêsses eram mais filosó ficos do que científicos. O surpreendente é que George Berkeley, um “idealista subjetivo” entre os filósofos, te nha chegado tão perto quanto o fêz da solução de um problema científico que ainda nos ocupa. Assim como a inclusão do nome de um conviva muitas vêzes requer a inclusão de outros, da mesma for ma a tentação é grande de acrescentar muitos nomes em nossa lista dos homens que foram de algum modo res ponsáveis pela natureza de nossas definições de psico logia. 14 Talvez, pois, eu seja perdoado se devotar uma ou duas sentenças a cada um de uns poucos mais, principal mente filósofos, que ajudaram a montar o palco psico lógico. David Hume (1711-1776), filósofo escocês, his toriador e estadista fêz com Berkeley o que êste tinha feito com Locke. Para citar uma recente resenha das contribuições de Hume à psicologia: “Locke tinha eliminado da experiência tudo menos as impressões dos sentidos e suas combinações. Ainda aceitava a existência de objetos que fôssem semelhantes às nossas idéias. Berkeley foi um passo além, negando a própria existência dos objetos. Justificava as idéias pelo fato que Deus era quem as dava e garantia.. . Hume deu o óbvio passo seguinte questionando a exis tência de Deus e da alma. Não ficava nada de real ex ceto as sensações e idéias” 2. Além disso, Hume fêz uma nítida distinção, ainda predominante, entre sensações (Hume dizia “impressões”) e idéias (dizemos “imagens”); e tratava o que encara mos como “causa e efeito” no nosso mundo diário como mera seqüência de eventos mentais ocorrendo com re gularidade tal e tal ordem que nos dá a ilusão de que há uma conexão necessária entre duas coisas quaisquer no mundo objetivo. A significação destas idéias tornar- -se-á aparente quando chegarmos ao exame de opiniões bastante recentes sôbre o verdadeiro assunto da psico logia. 2) W. B. PILLSBURY, The History of Psychology, pp. 92-93. 15 A David Hartley (1705-1757), médico inglês e eru dito da geração de Hume, atribui-se o desenvolvimento de dois conceitos, ambos tratados num livro trazendo o comezinho título de “Observações sôbre o Homem, Seu Enquadramento, Seus Deveres e Suas Expectativas”. O primeiro foi o de “associação” (já considerado por Locke, Berkeley e Hume) e que Hartley amplioupara incluir não só idéias mas também sensações e ações, e que usava para explicar a natureza da memória, imaginação, emo ção e outros estados mentais complexos — mesmo aquê- les atinentes à moral. O segundo conceito é o que hoje chamamos “paralelismo psicofísico”, segundo o qual sen sações, idéias e outros eventos mentais correm paralelos, mas não afetados pelos eventos de natureza corporal — especificamente, modificações físicas no cérebro e nos nervos. (Expressão anterior desta opinião comparava a mente e o corpo a dois relógios, colocados um de cos* tas para o outro, andando exatamente ao mesmo tempo um com o outro, mas sem nenhuma influência recíproca). Hartley, como Descartes era um dualista, mas paralelista em vez de interacionista. Das duas concepções, ao con trário do que se poderia esperar, a de Hartley foi a mais aceita pela maioria dos psicólogos mais modernos. James Mill (1773-1836), filho de um remendão es cocês, foi o descendente intelectual de Hartley. Fêz da “associação de idéias” uso extremo na explicação da vi da mental. Começando da maneira usual com sensa ções e suas cópias, as idéias, indicou em grande porme nor como as últimas poderiam estar logicamente ligadas e compostas. De acôrdo com suas concepções, sumaria 16 das por um bem conhecido historiador, “Toda a experiência se resolve em sensações e idéias, combinadas em grupos, ou sucedendo-se temporalmente pelo processo singular da associação; e o próprio princí pio da associação se reduz a seus têrmos mais simples — a tendência das idéias a se agruparem ou sucederem se gundo a maneira de seus originais” 3. John Stuart Mill (1806-1873) concordava com seu pai James Mill, ao dar grande importância ao princípio da associação na explicação das idéias complexas, mas, ao contrário do pai, apelava mais para a experiência do que para a lógica em suas análises. Para James Mill, uma idéia complexa — a de “casa” por exemplo — devia na realidade consistir de muitas idéias simples (idéias de “assoalho” “paredes”, “janelas”, e assim por diante), mesmo quando tais idéias pudessem escapar ao escrutínio mais cuidadoso. John Stuart Mill dizia sim plesmente que idéias mais complexas são definitiva mente mais do que a mera soma de componentes simples. Por causa desta diferença entre as opiniões de pai e filho, as concepções do primeiro têm sido freqüentemente cha madas de “mecânica mental” e as do último de “química mental”. Cada um deles supunha que as unidades fun damentais da mente fôssem as sensações (bem como suas cópias: as idéias) e que estas fôssem unidas de acôrdo com certas leis prescritas de associações; mas John Stuart 3) H. C. WARREN, A History of the Association Psy chology, (Charles Scribner’s Sons, 1921) p. 94. 17 Mill estava menos interessado no que deveria ser um complexo de idéias do que no que poderia ser encon trado. Onde diferiu de seu pai, mais se aproximou das doutrinas modernas. Já agora, talvez, uma certa tendência no desenvol vimento dêste esbôço, seja aparente ao leitor. Vimos como a mente tornou-se separada do corpo; ouvimos o argumento de que as idéias tôdas vêm da experiência; fizemos a distinção entre sensações e idéias; e notamos a elaboração do conceito de “associação” para explicar a formação de idéias complexas e cadeias de idéias. Além disso, demos uma olhada em uma teoria psicológica da “causalidade” (Hume); foram dadas duas ou três res postas diferentes à questão “mente-corpo” — interacio- nismo (Descartes), idealismo (Berkeley) e paralelismo (Hartley); e vimos uma ou duas aproximações especí ficas à pesquisa e teorização contemporâneas. No entanto não seria justo deixar a Inglaterra sem alguma referência a outro conceito teórico que estava destinado a figurar proeminentemente na origem da psi cologia norte-americana. É a famosa teoria da evolução. Dois nomes merecem menção especial em conexão com a evolução: Charles Darwin (1809-1882) e Herbert Spen- cer (1820-1903). Descartes, pode-se dizer, tirou a alma dos animais; Charles Darwin devolveu-a com juros. Na opinião de Descartes só o homem possuía alma. Para Darwin, a al ma humana difere da animal só em grau, não em espé cie, e esta forma mais elevada era um desenvolvimento evolucionário direto da inferior. Êste é um aspecto algo 18 negligenciado dos ensinamentos de Darwin, mas muito importante para o psicólogo. Qualquer que seja o status atual da “mente” em psicologia, devemos consi derar o seu desenvolvimento bem como sua natureza; e foi Darwin quem, mais do que ninguém nos fêz reconhe cer esta obrigação. Veremos isto particularmente no de senvolvimento do movimento popular na psicologia nor te-americana conhecido como “funcionalismo” ; mas a influência não ficou confinada a uma dada escola. Mes mo o folhear mais casual de qualquer texto psicológico trará à luz algum vestígio desta doutrina darwiniana. Nos escritos de Herbert Spencer, filósofo e cientista inglês, o princípio evolucionista assumiu uma perspectiva diferente. Spencer foi um associacionista em psicologia que empreendeu reconciliar a noção de “algo inato” com a noção de “tudo da experiência” e nos deu assim a concepção do “associacionismo evolucionário”. O cer ne desta concepção é que a mente humana é o que é através da experiência racial tanto quanto da individual. Associações muito repetidas através de muitas gerações geram “conexões psíquicas automáticas” que têm tôdas as marcas de idéias inatas mas que podem ser na verda de retraçadas até à experiência ancestral. Esta doutrina da “herança das associações adquiridas” não é tomada muito a sério, mas encontra eco na questão moderna do que é aprendido e do que não é aprendido, ou dado, na conduta humana. Não se deve concluir muito rapidamente que o pro blema de definir a psicologia atual tenha se originado ùnicamente na especulação de gabinete dos filósofos, es tadistas e eruditos inglêses. No continente europeu, par ticularmente na Alemanha, havia outra fonte maior de influências, de natureza mais científica, que contribuiu com o seu quinhão para o crescimento de que nos ocupa mos neste capítulo. Esta corrente, que ganhou grande volume e movi mento na primeira metade do século XIX, era de na tureza fisiológica. Compreendia o estudo dos sentidos — visão, audição, tato, olfato e paladar, bem como do recém-descoberto sentido muscular (cinestético); estudos da atividade dos nervos de homens e animais; e mesmo estudos das funções de diferentes partes do cérebro. In- cidentalmente, êstes estudos de como o cérebro trabalha tiveram seus começos na assertiva ousada da agora desa creditada frenoíogia, segundo a qual certas “faculdades” mentais, comparáveis aos modernos “traços” de perso nalidade, relacionavam-se diretamente ao desenvolvimen to de certas áreas do cérebro (e assim as várias protube râncias ou “calombos” do crânio). Sob certo aspecto êste trabalho era uma elaboração de idéias de teorizadores como Descartes e Hartley, mas foi muito além dos grosseiros esboços imaginários da estrutura e do funcionamento do organismo humano e oferecia uma base mais sólida para as especulações do futuro. Era trabalho de caráter analítico e experimen tal e indicava a importância de uma variedade de agen tes (estímulos) na excitação de órgãos sensoriais e de ner vos; a alta velocidade de transmissão do impulso nervo so; a localização específica de certas atividades simples 20 — tais como as acarretadas no uso dos sentidos e mo vimentos dos músculos — em certas porções do cérebro. Um grande número de afamados cientistas, ingleses, franceses bem como alemães, contribuíram para êste amplo movimento. Se nos confinamos aqui ao exame de um úni co representante, é apenas porque os limites de espaço e tempo proíbem a discussão dascontribuições de muitos e porque o homem escolhido representa suficientemente a combinação de crença filosófica e disciplina científica que foi tão característica da psicologia da época. Gustav Theodor Fechner (1801-1887) é mais conhe cido como o “pai da psicologia quantitativa”, e entre tanto, jamais pretendeu ser psicólogo! Nascido era uma pequena aldeia da Alemanha sudeste, filho de um pas tor luterano, educado em ambiente estudioso e formado em medicina, foi subseqüentemente matemático e físico de distinção (com certo gôsto pela composição de poe mas satíricos). Esta é a história da primeira metade da vida de Fechner. Não foi, com efeito, senão em 1850, depois de um sério e prolongado “esgotamento nervoso” que se tornou ativamente interessado na questão filo sófica das relações da mente com o corpo — questão que o conduziu em virtude de sua formação de ciência natural à psicologia experimental. Vimos o reconhecimento dêste problema corpo-men- te no trabalho de Descartes, Locke, Berkeley, Hume e Hartley, mas foi Fechner quem viu a possibilidade de atacá-lo pelo método experimental. Se com isso o re solveu é duvidoso, mas em dez anos de paciente investi- 21 gaçao fundou a ciência da “psicofísica” — o estudo quantitativo das relações entre a vida mental (Fechncr tratava com sensações) e certos aspectos do mundo fí sico (estímulos). Não é essencial examinarmos aqui em pormenor a psicofísica de Fechner. Deixou claro, uma vez por tôdas, que técnicas experimentais e procedimentos ma temáticos podiam ser aplicados a problemas psicológi cos. Os métodos de mensuração que desenvolveu são ainda hoje levados a uso, em forma ligeiramente mo dificada, sempre que se quer encontrar algo definido so bre a sensitividade do organismo humano, ou mesmo animal, às inúmeras e perturbadoras mudanças no mundo exterior. Quão brilhante deve ser uma estrela para ser vista; quão alto um som para ser ouvido; quão pesado o toque para ser sentido? Para responder estas questões e milhares de outras voltamo-nos para os métodos psi- cofísicos de Fechner. O que tem isso a ver com o problema de de finir a psicologia? A resposta é simples. O trabalho de Fechner (e outros) mostrou irrefutàvelmente que quais quer que sejam as opiniões filosóficas a respeito do pro blema corpo-mente há ainda a possibilidade de cons truir uma psicologia experimental. Algo específico acêr- ca da atividade humana (Fechner chamava-o algo men tal) podia ser medido e relacionado; de maneira exata a outra coisa (que Fechner chamava algo físico). O enor me volume de material relevante reunido não foi o re sultado de um acidente, nem foi fruto da especulação filosófica. Poucos psicólogos hoje têm conhecimento das 22 opiniões de Fechner sôbre a relação mente-corpo, mas nenhum pode ignorar suas descobertas experimentais. E assim tem sido a história desde então. Quaisquer que sejam as conclusões sôbre o verdadeiro objeto da psicologia, há sempre o formidável e crescente corpo de fatos científicos que justificam a tentativa de um trata mento sistemático. As fronteiras das ciências nunca são nitidamente definidas, e um nôvo campo de pesquisas não deve ser desprezado na base da falta temporária de uma definição universalmente satisfatória. Se esta de claração parecer obscura ao leitor, que tenha paciência; logo a neblina erguer-se-á ao tratarmos diretamente da “construção de sistemas”. 23 CAPÍTULO II A fundação da psicologia moderna Uma distinção deve ser feita entre “pais” e “funda dores” das ciências. Comparemos, um instante, uma ciência com um jardim. Os “pais” prepararão o solo e lançarão as sementes; os “fundadores” manterão o ter reno livre de ervas daninhas, aguarão as plantas, trans plantá-las-ão e cuidarão das cêrcas — tomarão conta do jardim no seu primeiro desenvolvimento. As sementes poderão ter sido lançadas por inúmeras mãos, e por mui tas delas descuradamente; daí poder haver muitos pais, cada um desconhecendo o papel que desempenhou. Mas os fundadores devem ter consciência de que se trata de um comêço de jardim, e dêles é a tarefa árdua de aten dê-lo até que outros venham ajudar. São poucos os fundadores. Chamei Aristóteles o pai da psicologia; Descartes, o pai da psicologia moderna; e Fechner, o pai da psi cologia quantitativa ou experimental. Outros candida tos a tais distinções poderiam ter sido propostos. Além disso, à medida que a especialização aparece no jardim 25 I psicológico, mais fácil é identificar a ascendência, e mais e mais podem ser apontados pais, com maior justificação. Fechner pode, por boas razões, ser chamado o fun dador da psicofísica e o pai da psicologia experimental, desenvolveu a primeira e mostrou o caminho da segun da. Ficou, entretanto, para outro alemão notável o tor nar-se o verdadeiro fundador da moderna psicologia ex perimental; e ao tratar das realizações dêste homem aproximamo-nos da solução do nosso problema de de finição. Wilhelm Wundt (1832-1920) foi, como Fechner, fi lho de pastor luterano de paróquia de aldeia e também, da mesma forma que Fechner, estudou medicina na Uni- verseidade de Heidelberg. Como Fechner, seus interêsses passaram do prático para o acadêmico durante os anos de sua educação formal. Fisiologia, filosofia, lógica e ética — todos êstes campos chamaram sua atenção em um ou outro momento, mas foi fundamen talmente um psicólogo e, ao contrário de Fechner, sabia-o. Tinha chegado o tempo para a fundação da psico logia moderna. Ao lado do legado intelectual que já dis cutimos, havia muitas contribuições de outros campos. O maior era da fisiologia. A psicologia experimental primitiva baseava-se cm técnicas e descobertas fisiológi cas. Mas, a isto e à tradição filosófica, somavam-se pro blemas transmitidos pela astronomia, antropologia e pe lo estudo do hipnotismo. Faltava só um homem do ca libre de Wundt que os tecesse no padrão de uma psicolo gia nova. 26 t Em 1873-1874, depois de pelo menos 15 anos de preparação, Wundt publicou seus Esboços de Psicolo gia Fisiológica, considerado por um historiador o “li vro mais importante na história da psicologia moderna”; em 1879, na Universidade de Leipzig estabeleceu o pri meiro laboratório psicológico do mundo; em 1881 inau gurou uma revista científica para a publicação de pes quisas psicológicas. Seu livro passou por seis edições revistas e aumentadas de um para três volumes; o labo ratório prosperou, e estudantes pesquisadores, vindos de perto e de longe, encheram a revista com relatórios de ex perimentos psicológicos. O próprio Wundt era incansável. Além do traba lho de ensinar, administrar, editar e dirigir pesquisa, es creveu copiosamente. A sua Psicologia Fisiológica será examinada em um momento, mas houve ainda ou tros livros sôbre outras fases da psicologia, bem como textos de filosofia, ética e lógica que lhe ocuparam o tempo. Estimou-se que êle publicou, em média, mais de duas páginas por dia, durante sessenta e oito anos — e nenhum dêste material é de leitura “fácil”! Na Psicologia Fisiológica Wundt nos dá a nossa pri meira psicologia “sistemática”; diz-nos o que a psicolo gia é; esboça os métodos de investigação; indica os pro blemas; e classifica os resultados obtidos até então. Da amplitude e profundidade de sua formação filosófica e científica, suplementada pelo trabalho de seu laborató rio, produz o primeiro livro de texto da nova ciência — e estabelece o padrão para o futuro. i — Keller 27 Logo mais tratarei em detalhe do sistema de psi cologia adiantado por um dos mais ilustres discípulos de Wundt. É um sistema tão semelhante ao de Wundt e tão mais fácil de resumir que não precisamos aqui de- morar-nos muito entre os pronunciamentos do fundador. Será bastante mencionarcertas características mais sa lientes com as quais cunhou a nova psicologia. Em primeiro lugar, Wundt, como tantos outros des de o tempo de Hartley, era um paralelista psicológico em sua atitude em relação ao problema corpo-mente. De um lado havia o mundo físico, o mundo dos objetos materiais; de outro, havia o mental, o mundo da experiên cia. A psicologia devia tratar primordialmente do últi mo, e podia, por isso, ser definida como “a ciência da experiência imediata” . Por experiência Wundt incluía fenômenos como as sensações, percepções, sentimentos, emoções e que tais. O método a ser usado pelo psicólogo era chamado por Wundt “introspecção” — termo muito malbaratado mais tarde — e implicava pouco mais que o ter a expe riência. O “ter” era para ser considerado equivalente ao “observar” da consciência. O que venho até agora refe rindo como “o mundo exterior” era para Wundt mera mente tanto outra experiência ou “processo mental” ; e quando alguém o tinha, estava observado. O problema para a psicologia era na verdade o pro blema de o que fazer cientificamente a propósito desta experiência, e Wundt dava uma dupla resposta: a expe riência devia ser analisada em seus elementos; os ele mentos deviam por sua vez ser examinados com a na 28 tureza de suas conexões uns com os outros; e, finalmen te, as leis destas conexões deveriam ser determinadas. Deve ter ficado aparente ao leitor que estas no ções, especialmente as de análise e associação (“cone xões”) não são de modo nenhum novas na história do problema. Não obstante Wundt abordou-as com a men te ordenada de alguém treinado nos modos científicos de pensamento e acostumado a distinções cuidadosas e ri gidamente mantidas — em uma palavra, à técnica do fisiólogo. Há um vasto abismo entre a “idéia” experien- ciada pelo empirista inglês e o “processo” sensorial ou imagético da instrospecção wundtiana. Por exemplo, a idéia de “elefante” ou “todo” é uma espécie diferente de elemento mental que a sensação ou imagem de “verme lho” ou “Dó sustenido” e só estas últimas seriam aceitá veis para Wundt como verdadeiros elementos. Análise de “elefante” (em sensações, imagens, ou ambos) po deria ser possível — e era na verdade inevitável — gra ças a uma descrição cuidadosa da experiência, mas uma dissecção mental de uma unidade simples como “verme lho” não poderia ser feita. Wundt propunha descer aos elementos fundamentais, irredutíveis antes de empreen der a demonstração de suas relações uns com os outros em fusões e combinações da vida mental cotidiana. Monumentais estudos na fisiologia da visão, audição c de outros sentidos já tinham sido conduzidos por ho mens como Fechner, Weber (que antecipou alguns dos trabalhos de Fechner) e Helmholtz (que talvez seja mais conhecido como físico). Êstes alemães tinham feito mui to na direção de uma análise experimental, de modo que 29 não é estranho que o texto de Wundt contenha muitos dos resultados que obtiveram. Além disso, entretanto, a Psicologia Fisiológica apresentava material sôbre ima gens, sentimentos, ação, atenção e uma infinidade de ou tros processos. De fato não houve praticamente nada de psicológico que tivesse escapado ao ôlho do fundador; e não é de espantar que seu manual tenha estabelecido estilo por muitos anos a vir. Finalmente, voltemos ao paralelismo psicológico de Wundt. Acreditava que para cada processo mental hou vesse um correspondente, e concorrente processo físico. Estímulos do mundo exterior, agindo sôbre os órgãos dos sentidos, provocavam impulsos nervosos que, por sua vez, davam lugar à atividade do cérebro. Com a ativi dade do cérebro vinha a atividade mental, mas a pri meira na realidade não “causava” a segunda, nem pode ria a segunda causar a primeira. Eram duas esferas de atividade distintas, uma fisiológica e a outra psicológica; e “psicologia fisiológica” parecia a Wundt a melhor ma neira de designar o interêsse duplo da nova psicologia e a íntima relação entre as duas áreas de pesquisa. Já se pode agora começar a ver a forma e a fisiono mia da psicologia do século dezenove. Foi, antes de mais nada, um produto da união da filosofia com a fi siologia. Seu objeto era a mente (experiência, consciên cia), seu método era introspectivo, analítico e experimen tal; e seus problemas eram o descrever o conteúdo ou estrutura da mente em têrmos de elementos e suas com binações. Além disso, tratava de questões de desenvolvi mento mental e evolução, de causa e efeito, do inato e 30 do adquirido; e tinha algo a dizer sôbre a linguagem, memória, pensamento, volição e tópicos psicológicos da mesma ordem. Sua filosofia era predominantemente pa rai eli st a, e ambicionava explicar as relações da mente ao corpo pelo uso dos métodos da ciência. A influência de Wundt foi tremenda. Seus alunos e seus livros levaram seus ensinamentos às partes mais longínquas do mundo civilizado, despertando um agudo interesse no dissecar as partes da mente com os “instru mentos de latão” da fisiologia. Novos laboratórios fo ram criados em várias universidades, novos cursos dc instrução foram oferecidos, novas revistas de psicologia apareceram e novos livros de textos foram escritos. Eventualmente, é claro, vieram à luz novos sistemas de psicologia. Nossa tarefa presente teria sido muito mais simples se isso não tivesse acontecido, mas é da na tureza de uma ciência saudável crescer e mudar, rever seu programa de tempos em tempos. Diferenças de opi nião tinham de aparecer, mesmo entre os mais leais dis cípulos de Wundt, quanto ao tema, métodos e problemas da psicologia. Um sistema de psicologia, em certo sentido, nada mais é, que um quadro de referências lógico no qual possam ser encaixados os achados da ciência. Represen ta uma tentativa, geralmente de um só homem, de arran jar e coordenar os fatos da psicologia de maneira simples e inteligível. Quando o sistema ou ponto de vista de um autor é aceitável para certo número de outros, que tomam parte ativa em espalhar sua influência, o resulta do é ordinàriamente uma “escola de psicologia”. Nem 31 todos os sistemas geraram escolas, mas uma escola não pode viver sem uma profissão de fé em um sistema. Quando êste compromisso se perde, a escola se desintegra e deve ser remodelada ou suplantada. O sistema de Wundt não foi tanto suplantado como foi revisto. Foi “enchido” em vez de “esvaziado” por um dos mais distintos discípulos do fundador. Não foi atacado por um estranho sem “espírito da escola” que embotasse o gume de sua espada. A influência de Wundt, com efeito, nunca teria sido tão grande sem os labores do homem que apresentou sua própria versão revista ao mundo de língua inglêsa. 32 CAPITULO III Titchener e o estruturalismo Edward Bradford Titchener (1867-1927) era inglês por nascimento, alemão por temperamento, e norte-ame- ricano por residência. Foi a Leipzig em 1890, depois de brilhantes estudos em Oxford, a fim de aprender de primeira mão a nova psicologia. Já tinha traduzido para o jnglês a terceira edição da Psicologia Fisiológica. Em um período de dois anos doutorou-se e aceitou o chamado da América, para assumir o encargo do nôvo laboratório de psicologia experimental da Universidade de Cornell. Lá passou o resto de sua vida, trinta e cinco anos, sem se naturalizar cidadão estadunidense — nem no sentido cívico, nem no acadêmico. Em Cornell, Titchener fêz jus ao prestígio de seu mestre. Continuou a tradição wundtiana de uma ma neira wundtiana — ensinando, escrevendo e dirigindo pesquisa — e com uma habilidade extraordinária. Sua erudição era profunda; suas aulas e escritos, modelos de exposição clara e digna; sua personalidade magnética e poderosa. Os alunos afluíam às suas aulas, e doutorandos 33 ao seu laboratório.ComelI tornou-se logo o quartel ge neral e o centro de dispersão de um ramo muito impor tante da psicologia experimental nos Estados Unidos. A de Titchener pode não ter sido a única psicologia do lado de cá do Atlântico, mas por duas ou três décadas foi a melhor organizada, mais bem expressa e a mais próxima do padrão exigido por Wundt. Em nossa procura de uma definição da psicologia poderemos proveitosa mente examinar em algum pormenor este produto de Leipzig-Comell, e ver o que Titchener pensava que a psicologia era. As opiniões de Titchener modificavam-se algo dc ano para ano, mas a gente pode obter uma excelente noção de suas principais idéias sistemáticas em dois de seus textos publicados: o Manual de Psicologia (1910) e a Psicologia para principiantes (1915). Nestes livros escritos principalmente para alunos de seus cursos, encon tramos um relato mais franco do que nos delineamentos mais avançados preparados para colegas. “Psicologia é a ciência da mente”. Êste é o enun ciado geral com que Titchener começa seu relato siste mático. Mas, apressa-se a acrescentar, êste enunciado pode ser fàcilmente mal interpretado pelo “bom senso”, e passa a qualificá-lo de certos modos. “A mente de que a psicologia trata deve ser a mente que pode ser descrita em têrmos de fatos observados”; não deve ser identificada com um serzinho insubstancial dentro de nossas cabeças. A fim de aproximar uma compreensão verdadeiramente científica do têrmo, Titchener faz então uma distinção entre o mundo da física e o mundo da 34 psicologia. Leiamos mais uma vez do texto para prin cipiantes: “O mundo da física é incolor, sem som, nem frio nem quente; seus espaços têm sempre a mesma extensão; seus tempos são sempre da mesma duração, sua massa é invariável; seria exatamente o que é agora se a huma nidade fôsse varrida da face da terra. Pois que é a luz em um texto de física? — a propagação de ondas eletro- -magnéticas; e som é movimento vibratório do ar e água; e calor é uma dança de moléculas; e todas essas coisas são independentes do homem”. Na visão física do mundo o homem é “deixado de fora”, por assim dizer; a psicologia, de outro lado, des creve o mundo tal como é na experiência humana — encara o mundo com o homem “dentro dele”. “O mundo da psicologia contém vistas e sons e sen timentos; é o mundo do claro-escuro, de ruído e silêncio, do áspero e do liso; o espaço é algumas vêzes amplo e outras, estreito, como sabe tôda a gente que na vida adulta tenha voltado ao seu lar de infância; o tempo às vêzes é breve, às vêzes é longo; é um mundo sem invariâncias. Contém também pensamentos, emoções, memórias, imaginações e volições que são atribuídos na turalmente à mente. . . a mente é simplesmente o nome inclusivo de todos êstes fenômenos”. Destas citações não se deve concluir que haja uma diferença fundamental entre a experiência do físico e a do psicólogo. Titchener não negava que o físico tivesse experiência; meramente salientava o bem conhecido fato de que a descrição que o físico faz de seu mundo é em 35 têrmos de coisas conceituais, como ondas eletromagnéti cas, movimentos vibratórios e moléculas. Poderia ter coerentemente ido mais longe e tornar claro que o psi cólogo também descreve o seu em termos conceituais; mas êste é assunto sutil e não é necessário que nos de tenhamos aqui em discuti-lo. Titchener nos diz em seguida que no mundo físico existem objetos como os corpos humanos, com sistemas nervosos que os organizam em todos orgânicos, integra dos e singulares. Já aprendemos de uma variedade de fontes que o “fenômeno” da psicologia deve ser relacio nado a certas atividades dêstes sistemas nervosos. Por exemplo, a destruição de uma porção do ccrebro é fre qüentemente vinculada à perda de alguma forma de ex periência, digamos visual. Da mesma forma, perturbação na experiência, ou falta de experiência, pode denotar a perda de certa função cerebral. O homem “deixado den tro” é pouco mais que o próprio sistema nervoso. A psicologia poderia mesmo ser definida como o estudo dos fenômenos (experiência, mente) considerados como de pendentes de um sistema nervoso; pois onde quer que encontremos experiência ou fenômeno mental encontra mos também um sistema nervoso. Nem todos os eventos nervosos têm paralelo nos eventos mentais, mas todo o mental tem sua contrapartida em algo físico que ocorre no cérebro em resultado da estimulação dos órgãos dos sentidos ou nervos. Não deve o leitor desesperar se êste raciocínio pa rece um pouco complicado. Muito se torna claro quan do passarmos aos detalhes menos abstratos da psicologia 36 de Titchener. O que se pode observar de passagem é que está implícito em tudo isso o dualismo filosófico, uma distinção entre corpo e mente, que remonta a Wundt e mesmo antes, a Descartes, embora Titchener não tivesse subscrito o interacionismo. O método da psicologia é nosso ponto seguinte. A mente para ser estudada cientificamente, devia ser obser vada. Observação é a condição sine qua non de tôda a ciência. Titchener achava, com Wundt, que ter experiência se aproximava muito de observá-la: e acentuou o método de introspecção. Mas sua fórmula para a observação in trospectiva era mais ampla do que a de Wundt, e nos dá a base para distinguir entre observação psicológi ca e observação física. Mostra que tôda a observação científica requer três coisas: uma certa atitude em relação a própria experiência, o experienciar êle próprio, e um reiato adequado da experiência em palavras. Onde a atitude fôr a do psicólogo pode-se chamar a totalidade do processo de observação de “introspecção” ; onde é a atitude do físico que está em jôgo, chamamos o processo de inspecção — ou de simples “observação”. Ê só a diferença de atitude que distingue a observação do psicó logo da dos outros cientistas. “Introspecção” 6 uma palavra infeliz porque, gra ças a sua história e uso cotidiano, presta-se a mal-enten didos. Titchener sabia-o e insistiu em mostrar que não devia ser tomada como uma reflexão sôbre, ou con templação da própria experiência (como Descartes e os Empiristas ingleses tê-la-iam tomado) ou como uma es pécie de mórbida autopreocupação (para a qual um têr- 37 mo melhor é “introversão”). Titchener sempre estêve alerta em mostrar que os termos científicos em geral de vem sempre ser cuidadosa e univocamente usados, e fre qüentemente indicou a confusão resultante quando signi ficados do “bom senso” eram dados a palavras cien tíficas. Quando lemos a formulação de Titchener do proble ma da psicologia, vemos claramente a marca dos ensina mentos de Leipzig. O problema, mais uma vez, é triplo. Há, em primeiro lugar, a análise dos fenômenos mentais em seus elementos. A descrição de qualquer secção da experiência tende a ser uma análise, pois analisamos o que quer que descrevamos — dividimos o objeto de nossa observação em certas partes fundamentais. (Se o leitor desejar verificar a veracidade disto, tente descre ver qualquer objeto comum que esteja à mão. Analisar é uma das atividades humanas mais naturais, mas rara mente é levada tão longe quanto o necessário para se tornar suficientemente científica). A síntese, embora mais difícil que a análise, acom- panha-a pari passu. Exige o estudo das conexões entre os processos mentais elementares e é o caminho para a determinação das leis de conexão destes processos, é a segunda fase do problema e responde à pergunta “co mo?” tanto quanto a análise, à pergunta “o quê?”. O terceiro aspecto do problema vai além da descri ção da mente (e além do enunciado de Wundt dos pro blemas da psicologia) para a explicação da mente. Pre tende responder à pergunta “por quê?” e, ao fazê-lo, ape la para os eventos paralelos no sistema nervoso e órgãos 38a êle ligados; ambiciona correlacionar a mente com o sistema nervoso. Titchener negava que a atividade nervosa fôsse causa da experiência; mas afirmava que um enunciado comple to das condições ou circunstâncias sob as quais ocorrem os processos mentais exigia referência a esta atividade por razões explicativas. “O orvalho se forma em con dições de diferença de temperatura entre o ar e o solo; as idéias se formam em condições de certos processos no sistema nervoso”. Basta o que ficou dito sobre os enunciados das pre missas fundamentais do sistema de Titchener. Podemos agora examinar os resultados dêste ataque sobre a fortaleza da mente, para ver como o sistema manejava a pes quisa experimental que era a base real da nova psico logia. A análise introspectiva, dizia Titchener, traz à luz três classes de elementos mentais. (Êste número dimi nui com o desenvolvimento das idéias de Titchener; corresponde neste caso a 1910). Estas classes são sen sações, imagens e afecções (sentimentos). Podemos exa- miná-las nesta ordem. “Sensações são. . . os elementos característicos da percepção, das vistas, dos sons e experiências similares devidas ao nosso ambiente presente” . Podem ser divi didas em várias “modalidades” ou departamentos de acordo com 1) suas semelhanças introspectivas (p. ex. um tom é mais parecido com um ruído do que com um sabor); 2) os órgãos dos sentidos de cujas funções depen dem (p. ex. — há uma sensação do ôlho e uma sensa 39 ção do ouvido); ou 3) os tipos de estímulo que as de terminam, localizados quer dentro quer fora do orga nismo. Titchener dependia principalmente das diferenças introspectivas na classificação de departamentos, mas usava os outros métodos quando faltavam nomes ade quados para os grupos. As principais modalidades de elementos sensoriais são então arroladas. Encontramos sete ao todo: visual, auditivo, olfativo, gustativo, cutâneo, cinestético e or gânico. Cada um dêstes sentidos, por sua vez, pode so frer análise ulterior e subdivisão. Assim a visão produz sensações de cor e luz — cromática e acromática; audi ção, tons e ruídos; e o olfato dá uma variedade de sen sações que podem ser colocadas em grupos distintos (co mo odores fragrantes, perfumes e fedores) na base de se melhanças e diferenças. As sensações cutâneas são di visíveis em sensações de pressão (tacto verdadeiro), frio, quente e dor; a cinestética, o velho sentido “muscular”, revela conter componentes de músculos, tendões e juntas. “Orgânico” acaba sendo um têrmo geral para tôdas as sensações mal definidas provenientes dos sistemas diges tivo, urinário, circulatório, respiratório e genital. Uma palavra de cautela pode ser apropriada neste ponto. Titchener nunca descobriu estas sensações. Nem descobriu as leis de suas relações com os estímulos am bientais, de que trata longamente em seus textos. Êste trabalho de descoberta, classificação e correlação já tinha começado muito tempo atrás, mesmo nos dias de Aris tóteles, e tinha alcançado um alto grau de exatidão nos estudos dos fisiólogos do século XIX cujo trabalho já 40 mencionamos, O que Titchener fêz foi o que outros sis tematizadores tinham feito e ainda fazem; apropriou-se dêstes fatos (adicionando itens de seu próprio laboratório) e arranjou-os dentro de seu sistema — para melhor in tegração e clareza. Do ponto de vista de Titchener, as sensações eram elementos mentais comparáveis aos elementos da quími ca. Define-se um elemento químico fazendo referência a certas propriedades tais como a capacidade de refletir a luz, gravidade específica, ponto de fusão, etc. Da mes ma maneira caracterizam-se os elementos mentais pela re ferência a certas propriedades que possuam ou não. Assim chegamos à noção titcheneriana de atributos. As sensações, como unidades irredutíveis do mundo mental, possuem certas características às quais nos refe rimos quando queremos descrever estas unidades com mi núcia. Por exemplo, tôdas as sensações de qualquer es pécie e de qualquer fonte possuem o atributo qualidade. Êste é o atributo em virtude do qual nomeamos as sen sações. Dó sustenido, côr-de-rosa, quente ou azêdo são qualidades tais, e servem para distinguir uma sensação da outra. Um segundo atributo de tôdas as sensações é a inten sidade. Isto se verifica sempre que consideramos a fôrça ou grau de uma sensação. Um tom pode ser alto ou baixo, a pressão leve ou pesada, um cheiro forte ou fraco; e na descrição somos auxiliados por estas características de intensidade. Incidentalmente, foi com êste atributo de intensidade que Fechner lidou na maioria de seus es tudos psicofísicos, pois se presta a proposições quanti- 41 tativas. Teoricamente, embora não pràticamente, qual quer sensação pode receber uma designação numérica em uma escala graduada do menos para o mais intenso. Qualidade e intensidade são os mais importantes atributos das sensações, mas há outros. Titchener arro la-os, em 1915, como duração, vivacidade e extensão A duração refere-se ao aspecto temporal da sensação: “é o simples prosseguir, adiantar-se, manter-se que pode ser observado em cada uma e em tôdas as sensações”. A vivacidade é difícil de descrever: “se você quiser saber com o.. . se sente a vivacidade... observe o seu processo mental agora, enquanto você se intriga com êste livro; a diferença entre primeiro plano e plano de fundo, foco e margem — entre idéias dominantes despertadas pelo que você lê, e percepções obscuras do ambiente circundante — mostrar-se-á pelo menos grosseiramente”. Extensão é o fator especial elementar na experiência tal como a du ração é o fator temporal; “é a base . . . de nossa percep ção de forma, tamanho, distância, localização e direção” ; a menor estrêla no céu vespertino, ou a gôta de chuva na mão estendida — ambas têm tamanho perceptível. Os primeiros quatro destes atributos — qualidade, intensidade, duração e vivacidade — são propriedades de tôdas as sensações; mas só os elementos cutâneos c visuais, tais como cores e pressões, possuem nitidamente um atributo extensivo, cuja remoção anularia a própria sensação. 1) Mais tarde tornaram-se respectivamente “protensity”, “attensity” e “extensity” . 42 Além disso, mesmo um atributo simples como a qualidade pode êle próprio ser a resultante de dois ou três atributos distintos, cuja detecção é o objetivo últi mo da análise introspectiva. A qualidade visual “ver melho”, por exemplo, é uma combinação de atributos tais como saturação, brilhância e tonalidade, todos quan titativos. Não é necessário, entretanto, que entremos aqui nestes assuntos mais delicados. Há outros elementos mentais, além das sensações, a serem examinados neste levantamento dos ensinamentos de Titchener. David Hume, como vimos, foi dos primeiros a dis tinguir entre sensações e imagens, chamando-as respec tivamente “impressões” e “idéias”, e imaginando as úl timas como cópias desmaiadas das primeiras. Mas Hume foi também arguto e observador o bastante para ver que é freqüentemente difícil distingui-las apenas na base da experiência: “Não é impossível mas em casos particulares podem aproximar-se bastante uma da outra. Assim no sono, na febre, na loucura ou em muitas das emoções violentas da alma, nossas idéias podem aproximar-se de nossas im pressões: como de outro lado acontece algumas vêzes, que nossas impressões sejam tão desmaiadas e fracas que não se possam distinguir de nossas idéias”. Exceto em diferenças menores de terminologia isto formula quase exatamente a posição de Titchener, cento e setenta e seis anos depois, a respeito da questão das sensações e imagens como elementos de igual dignidade e pêso. Vai alguns passos além de Hume, entretanto, quando diz, na Psicologia para Principiantes que “é 43 muito duvidosoque haja qualquer diferença entre sen sação e imagem”, mas, como Hume, recua para diferen ças não psicológicas ao definir a imagem como “um pro cesso elementar mental, parente da sensação e talvez indistinto dela, que persiste quando o estímulo sensorial desaparece (é retirado) e aparece quando o estímulo sen sorial está ausente”. Se isto parecer obscuro ao leitor, lembrc-se que a função do psicólogo, de acôrdo com Titchener, era-des crever a experiência e só a experiência. Estímulos não são processos mentais, embora possam dar origem a êstes e possam ser em relação a êstes considerados. Assim, quando diz que sensações e imagens são talvez indistintas, quer dizer que, exclusivamente na base da observação introspectiva, não podemos dizer a diferença: nada cm um processo mental êle próprio se identifica como “éu sou uma sensação” ou “sou uma imagem”. (Se Titche ner levava a sério sua própria sugestão, em outro con texto, de uma diferença “textural” introspectivamente observável entre as duas, poderá permanecer uma ques tão sem resposta). Titchener encontra uma imagem para cada sentido, com a possível exceção do cinestético e encontra-as de diferentes espécies dentro, de um mesmo sentido. Além das modalidades visual, auditiva e outras, existem tipos de imagens como as recorrentes por exemplo, uma mu- siquinha que persiste em nossa cabeça, alucinatória (ba tem à porta, mas não há ninguém), imagens oníricas, mne mónicas, etc. — a lista é longa. Estas imagens, como as sensações, têm seus atributos de qualidade, intensidade, 44 duração, e outros; e, como as sensações, vão longe ao su prir os componentes elementares da vida mental. Falta discutir a terceira classe de elementos de Tit- chener — as afecções ou simples sentimentos. Êstes se definem por contraste com o processo elementar da sen sação. Uma afecção difere de uma sensação pelo nú mero de atributos que possui; falta-lhe clareza (vivacida de) e falta-lhe extensão. Pode variar na duração do tempo que ocupa; pode ser de grau maior ou menor (intensida de); e sempre tem uma de duas qualidades — agrado e desagrado. Nunca estas duas qualidades existem ao mesmo tempo (não existem sentimentos “mistos”); e não devem nunca estas formas de sentimento serem confun didas com os “sentimentos” do vocabulário popular. Quando se diz “sinto isto liso ou enrugado”, “sinto-me bem”, “êle sente que estou certo”, estamos tentando apli car o têrmo a experiências muito mais complicadas em sua natureza e nas quais os verdadeiros sentimentos (afec ções) desempenham quando muito um papel inconside- rável. (Obviamente, não devemos confundir esta “afec ção” com a “afeição” entre filhos e pais, não importa o quanto de prazer ou desprazer possam acarretar!). No seu tratamento da afecção Titchener se afasta vigorosamente dos ensinamentos de Wundt. Êste último não se dispunha a reconhecer o status de agradável ou desagradável com qualidades de processos — elementares, e tinha dado posição igual a sentimentos tais como tensão e relaxamento, excitação e calma. Titchener examina a teoria de Wundt em detalhe, bem como os testemunhos experimentais subjacentes, e conclui pelo caráter elcmen- 45 tar apenas das afecções, sendo as outras categorias de sentimento de Wundt de caráter combinatório. Argu menta que tensão, relaxamento, excitação e calma são na realidade “sentimentos-sensoriais”, combinações de sensações orgânicas e sentimentos verdadeirosz. E chega de análise mental. Ao voltarmo-nos dos elementos do sistema de Titchener para as combinações destes elementos, vamos do simples para o complexo. Trataremos aqui das estruturas mentais como percepções, idéias e emoções; com associação, memória e pensamen to; e mesmo com coisas tão complicadas como os sen timentos e 0 “eu”. Não se pode aqui fazer justiça a to dos estes tópicos, mas certos princípios gerais podem ser esboçados e algum material ilustrativo apresentado que ajude o leitor a “sentir” o sistema de Titchener. Percepções e idéias são as primeiras coisas a con siderar. São assuntos da experiência cotidiana que se oferecem à análise. Só quando assumimos a atitude de laboratório é que compreendemos sua natureza composta. Percepção e idéias são as unidades de nossa vida men tal diária, tal como as sensações e sentimentos são as uni dades da análise psicológica. Estas percepções podem ser analisadas, pela introspecção cuidadosa, em (1) certo nú mero de sensações que são suplementadas por (2) várias imagens e (3) “moldadas pela ação de fôrças nervosas que não se mostram nem na sensação nem na imagem”. De- 2) A controvérsia entre mestre e discípulo não deve nos deter aqui. Além disso, Titchener, antes de sua morte, chegou à conclusão de que mesmo os sentimentos de agrado e desagrado seriam provàvelmente redutíveis a sensações. 46 ve-se notar que só as duas primeiras características são na realidade “experienciais”; a terceira é uma inferência, não um verdadeiro conteúdo mental mais sim algo que jaz por trás dêle. Um exemplo: o núcleo de nossa experiência de, digamos, uma árvore não é mais do que um arranjo de sensações de côr. Com estas sensações-nucleares vêm certas imagens suplementares — é a árvore que sombreia o canteiro de flores de nosso vizinho no verão, a árvore que causou uma demanda judicial, a árvore que ostenta “ninhos de pardais em seus cabelos”. Mais ainda, a árvore é automàticamente tomada como sendo uma “coisa” real, que ocupa um “espaço” real; e estas caracterizações po dem ser fundadas sobre material absolutamente não-men- tal — nem sensação nem imagem — mas devidas a uma espécie de hábito cerebral a que falta um representante na assembléia dos elementos. Tal como a percepção é algo composto em que a sensação figura predominantemente, assim a idéia típica é uma estrutura mental que possui um núcleo de imagens. “A neve do último inverno pode chegar a nós. . . como um quadro visual, um espalhamento desigual de branco, com traços de marrom-acinzentado nos picos e ao longo dos vales, intercruzado e quebrado parcialmente pelo degêlo”. Êste é o núcleo imagético — o conteúdo básico de imagens da idéia. Outras imagens podem sobrepor-se a êste núcleo: “lembramo-nos do dia em que fulano che gou com os pés molhados, ou a grande nevada daquela quinta-feira de dezembro”. Mesmo isto não é tudo. “Di ficilmente podemos pensar em chegar com os pés molha dos. . . sem algum movimento que desperte a sensação”. 47 A idéia pode, pois, incluir sensação material que adicio ne à sua complexidade. Finalmente, como na percepção, um hábito cerebral pode jazer atrás de nossa idéia como fator modelador ou determinador. Gs sentimentos (agradável e desagradável), combi nados em um nível elementar com certas sensações, prin cipalmente cinestéticas e orgânicas, dão-nos “sentimentos- -sensoriais”. Há seis espécies dêstes “sentimentos-sen- soriais”: os excitantes e os calmantes, os que provocam tensão e os que relaxam e o agradável e o desagradável, cada um dependendo da natureza peculiar da mistura sensação-sentimento. Cada um pode se combinar, por sua vez, com ulteriores processos sensoriais e imagéticos e sob certas condições produzir emoções como a alegria e o mêdo, cólera e pesar, esperança e alívio. Não há necessidade de prosseguir além com êste aspçcto da composição psicológica. Sua natureza geral e a direção que assumiu devem já agora ser claras; e há dois ou três outros assuntos que são dignos de uma revisão rápida antes de concluir nossa inspeção do edi fício que Titchener construiu. A primeira concerne à questão que foi perguntada e respondida, já em 1709, no livro Nova Teoria da Visão do bispo Berkeley,' e uma citação dos bons es critos do bispo introduzir-nos-ão ao problema: “Sentado em meu estúdio ouçouma carruagem pas sar pela rua; olho pela janela e vejo-a; saio de casa e entro nela. Assim através da linguagem comum alguém seria levado a pensar que ouvi, vi e toquei a mesma coisa, a saber, a carruagem. É não obstante certo que as idéias 48 introduzidas por cada sentido são amplamente diversas e distintas umas das outras; mas, tendo sido observado que constantemente vão juntas, fala-se delas como sendo uma e mesma coisa”. Berkeley propunha isso meramente como um exem plo da maneira pela qual a “mente” gera a “matéria” (mais especificamente “coisas” ou “objetos”) pela com binação ou associação de certas idéias. Já vimos uma ilustração da mesma espécie de raciocínio na sua teoria da percepção de distância. O estudante de história, en tretanto, pode achar nesta citação uma antecipação de uma teoria muito mais conhecida —■ a teoria do contexto do significado — de Titchener 3. Característica óbvia de nossas percepções e idéias, de acôrdo com Titchener, é que ambos têm um significado. A neve do inverno passado, a árvore do pátio, o estrépido da carruagem do bispo Berkeley — são todos eventos significativos. Mas qual é psicologicamente, isto é, in- trospectivamente, o significado? A resposta pode já ter sido dada quando discutimos a questão das percepções e idéias, mas não faz mal ampliar um pouco. 3) Poderá ajudar, nesta discussão, dar outro paralelo ao exemplo de Berkeley. Ouço o som de um latido, e digo, “eis meu cachorro”; à distância vejo um objeto de fornia familiar em movimento, digo “meu cachorro” ; sinto frio na minha orelha fora das cobertas pela manhã, “meu cachorro” ; sinto um punjente cheiro de canil e digo outra vez “meu cachorro”. O núcleo sensorial destas percepções é diferente em cada caso, vindo como vem de diferentes departamentos sensoriais; mas cada percepção significa “meu cachorro”. O porquê c assim a questão que nos ocupará a seguir. 49 Quando analisamos a mente introspectivamente des cobrimos, não significados, mas processos mentais — sensações, imagens, sentimentos e suas combinações. A árvorr de nosso exemplo, concordamos, tinha tanto de sensação, mais um acréscimo de imagens; a neve do in verso passado era afinal um tanto de imagem, mais ou tras imagens e sensação. É neste fator mais do processo mental que encontraremos a resposta da pergunta. O “significado”, diz Titchener “ . . . é sempre con texto; um processo mental é o significado de outro pro cesso mental se fôr o contexto dêste outro”. O próprio contexto não é nada senão “a fímbria de processos re lacionados que se reúne em tômo de um grupo central de sensações ou imagens”. Na percepção e na idéia há um núcleo mais um contexto, e é o último que “carre ga” o significado do primeiro, isto é, é o que se encontra quando perscrutamos a experiência na nossa busca de uma contrapartida do significado lógico cotidiano. Titchener oferece um certo número de ilustrações para mostrar a sabedoria desta distinção núcleo-contexto. O contexto pode, em certos casos, ser desnudado do núcleo — como quando repetimos alto uma palavra até que o contexto desapareça e a palavra se torne sem sen tido; o contexto pode ser adicionado ao núcleo — como quando aprendemos o significado de um desenho estra nho ou de uma palavra estrangeira; contexto e núcleo podem ser separados no tempo — como quando sabe mos o que queremos dizer mas precisamos tempo para encontrar as palavras expressivas, ou quando a graça de uma anedota só é percebida em aparência mais tarde; o 50 mesmo núcleo pode ter vários contextos — como está implícito nas nossas preocupações sôbre o verdadeiro sig nificado de uma observação casual; o mesmo contexto pode ser acrescido de diferentes núcleos — como no caso da carruagem do bispo Berkeley; etc. Não faltavam a Titchener exemplos para defender esta distinção. Sua inabilidade, entretanto, em demonstrar que o significado fôsse sempre contexto se revela na admissão de que po deria ser carregado por uma “disposição cerebral” na au sência de representação consciente — como quando o leitor traquejado aprende o significado de uma página impressa, ou uma composição musical é executada na classe apropriada, sem a presença de uma fímbria de ima gens que suplementem o núcleo da percepção. O contexto se acrescenta ao núcleo associativamente. Titchener não formulou esta afirmação explicitamente, mas é claro que não se pode entender a composição de nenhuma outra maneira. Podemos, pois, ràpidamente, inspecionar o tratamento que Titchener dá a associação como princípio psicológico, e assim ver o que aconteceu à velha doutrina inglêsa nas mãos de um experimenta lista. “Sempre que um processo sensorial ou imagético ocorre na consciência, há a tendência de aparecerem com êle (naturalmente em têrmos imagéticos) todos os proces sos sensoriais e imagéticos que ocorreram juntos com êle em qualquer presente consciente anterior”. Esta afirma ção que é a “lei” fundamental da associação, foi tomada do Manual de 1910, onde é precedida por uma exaustiva crítica do antigo assoeiacionismo e seguida de um vasto 51 conjunto de cláusulas restritivas e condicionais que não precisamos considerar aqui. A intenção é que seja uma fórmula descritiva dos fatos observados da doutrina an terior; a fórmula explicativa de Titchener apela para os eventos neurais que correm paralelos aos processos sen- soriais e imagéticos acima mencionados. A Lei da Associação torna-se muito importante no sistema de Titchener, particularmente em sua abordagem da memória e imaginação, mas o próprio Titchener com- prefendia que não era completamente suficiente para o en tendimento das conexões mentais tôdas. Isto é aparente na própria formulação da lei. Notar que diz “tendem a aparecer” (grifo meu) quando fala dos processos senso- riais e imagéticos associados. Lembrar também o uso que. fazia do “hábito-cerebral” como fator modelador e determinador na construção de percepções e idéias. Isto se resume em reconhecer que os processos mentais, bem como as ações, aparecem não só como resultado da for ça. dos vínculos associativos, mas também por causa de certas fôrças diretivas — “hábitos cerebrais”, “tendências instintivas”, “disposições nervosas”, etc. — que podem mesmo trabalhar, contra a influência de associações mui- to> repetidas. Assim, em acréscimo às tendências associa tivas, temos “tendências determinantes”. Processos sen- soriais e imagéticos que, na base de associação passada freqüente, deveriam juntar-se na mente, podem, graças à pressão de algumas tendências determinantes, manterem- rse apartados — ter apenas provável o seu aparecimento. Um simples exemplo: a palavra “prêto”, pode, em vir tude da associação, evocar “branco” na mente do leitor, 52 e “amargo” similarmente eliciar “doce”; mas que teria acontecido se se lhe tivesse dito (“disposto” ou “deter minado”) que encontrasse rimas para “prêto” e “amargo”? Nosso propósito presente não exige um retrato mais completo ou inclusivo do ponto de vista de Titchencr. Coloquei aqui, a despeito do que o especialista possa chamar trivialmente “flagrantes omissões”, um esquema razoável do sistema — o bastante, pelo menos, para pro ver um quadro de referência quando examinarmos outras concepções. Há a experiência (processo mental); deve ser analisada introspectivamente em elementos (sensa ções, imagens e sentimentos), com seus atributos (quali dade, intensidade, etc). Os elementos se fundem ou for mam padrões no espaço e tempo (associados) para dar- -nos estruturas mentais tais como a percepção, idéias, sentimentos-sensoriais, emoções e que tais. Finalmente êstes processos — tanto o simples como o complexo — são acompanhados de eventos paralelos no sistema nervoso e determinados por êles. Êste produto de
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