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ClíniCa MédiCa - VoluMe 13 56Medgrupo - CiClo 2: M.E.D Tal como a asma brônquica, a DPOC é uma doença que vem crescendo em incidência e prevalência na população ocidental. Nos EUA, já é a quarta causa de morte. Estamos vivendo o momento da ocorrência das sequelas dos fumantes das décadas de 70 e 80. A redução do tabagismo é um fenômeno atual e, se assim continuar, em cerca de 10-20 anos, as doenças relacionadas ao cigarro vão começar a reduzir a sua incidência. No nosso país, a DPOC é uma das principais patologias relacionadas às internações hospitalares, razão que torna este tema de extrema relevância. Doença pulmonar obstrutiva crônica (Dpoc) DEFINIçãO: Doença caracterizada por obs- trução crônica e parcialmente reversível das vias aéreas inferiores, com destruição progres- siva do parênquima pulmonar. EPIDEMIOLOGIA: A DPOC é uma doença comum e sua mortalidade vem aumentando. A prevalência é crescente no sexo feminino, em virtude do aumento do tabagismo entre as mulheres, mas ainda mantendo uma pro- porção maior em homens. É uma doença de adultos velhos ou de idosos, geralmente se manifestando na quinta ou na sexta década de vida. FATORES DE RISCO: Tabagismo (o mais importante), exposição ocupacional a poeira e irritantes químicos, história de infecções respiratórias de repetição, deficiência de al- fa-1-antitripsina, hiper-reatividade das vias aéreas inferiores, etc. Quais são os componentes patológicos da DPOC? Bronquite obstrutiva crônica (compo- nente brônquico), enfisema pulmonar (compo- nente parenquimatoso) e doença de pequenas vias aéreas (componente bronquiolar). DIAGNóSTICO: dado pela presença de sin- tomas compatíveis (tosse crônica, dispneia e cansaço em geral de evolução lenta e pro- gressiva) + espirometria com padrão obstrutivo (VEF1/CVF < 70%). Qual é o primeiro parâmetro espirométrico a se alterar na DPOC e nas doenças obs- trutivas em geral? A FEF 25-75%! TRATAMENTO: As drogas principais são os broncodilatadores, como os β2-agonistas inalatórios de longa ação e os anticolinérgi- cos (brometo de ipratrópio ou de tiotrópio). Se houver componente asmático ou doença grave com exacerbações muito frequentes (dois ou mais no último ano), os corticoides inalatórios estão indicados. As xantinas são atualmente consideradas drogas de última escolha. Outras medidas: interrupção obri- gatória do tabagismo, oxigenoterapia domi- ciliar quando indicada, reabilitação pulmonar, cirurgia quando indicada (pneumoplastia / transplante de pulmão). Quais medidas terapêuticas comprovada- mente reduzem a mortalidade da DPOC? (1) Interrupção do tabagismo; (2) Oxigenote- rapia nos pacientes francamente hipoxêmicos (seguindo as indicações: PaO2 ≤ 55 mmHg ou SatO2 ≤ 88% em repouso; PaO2 entre 55-60 mmHg + policitemia ou sinais clínicos de cor pulmonale); e (3) Transplante de pulmão. Condutas nas exacerbações agudas da DPOC: Iniciar nebulizações seriadas com β2-agonista inalatório de curta ação + brome- to de ipratrópio + corticoide sistêmico (oral ou intravenoso, dependendo da gravidade do quadro). Oxigênio suplementar para manter SpO2 entre 90 e 92%, com fluxo máximo de 3 L/min. Como a principal causa é a infecção respiratória, sempre pesquisar os sintomas cardinais (dispneia, aumento do volume do escarro e escarro purulento). Se houver escar- ro purulento associado a aumento do volume de escarro e/ou piora da dispneia, ou ainda necessidade de ventilação mecânica, iniciar antibiótico oral ou venoso, com cobertura para H. Influenzae, S. pneumoniae e M. catarrhalis. Avaliar indicações de ventilação não invasiva ou invasiva. epidemiologia e Fisiopatologia No Brasil não temos dados precisos, mas sabemos que a doença acomete cerca de 10 milhões de pessoas só nos EUA, sendo a 4ª causa de morte naquele país. Estima-se que, considerando a população mundial, a DPOC seja atualmente a 6ª causa de morte, ClíniCa MédiCa - VoluMe 13 57Medgrupo - CiClo 2: M.E.D devendo atingir a 3ª colocação por volta de 2020. Como definir a dPoC? É uma doença caracterizada por obstrução crônica e parcialmente reversível das vias aéreas inferiores (brônquios e bronquíolos) e destruição progressiva do parênquima pul- monar (septos alveolares), relacionada a um processo inflamatório crônico desencadeado por partículas ou substâncias tóxicas inaladas. Com a evolução da doença, a reversibilidade da obstrução vai se tornando cada vez menor, com agravamento dos sintomas. Na asma, a inflamação das vias aéreas é reversível com o tratamento e se manifesta com hiper-reatividade brônquica, justificando o caráter variável e episódico dos sintomas. Ou seja, a principal característica é a INFLA- MAÇÃO – por isso, a base do tratamento são os anti-inflamatórios (corticoides) inalatórios. Na DPOC, a inflamação das vias aéreas pos- sui um significativo componente irreversível, constituído por espessamento inflamatório e fibrose da parede dos brônquios distais e dos bronquíolos. Outra característica da DPOC, ausente na asma, é o componente de lesão do parênquima pulmonar, que caracteriza o enfisema pulmonar. Há menos inflamação e mais FIBROSE – por isso, a base do trata- mento são os broncodilatadores (agonistas beta-2) inalatórios e não os corticoides. Na asma, a inflamação é predominante- mente de eosinófilos e linfócitos T Cd4+, enquanto na dPoC, a inflamação é predo- minantemente de neutrófilos, macrófagos e linfócitos T Cd8+. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009 COMISSÃO ESTADUAL DE RESIDÊNCIA MÉDICA DO AMAZONAS – CERMAM Sobre o diagnóstico da asma, assinale a al- ternativa INCORRETA: a) A espirometria confirma a obstrução do fluxo de ar, com VEF1 e peak flow diminuídos. b) A radiografia de tórax é geralmente normal. c) O exame físico costuma ser normal entre as crises de asma. d) Os níveis de IgE costumam estar elevados. e) Assim como na doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) a obstrução das vias aéreas é irreversível na asma. A opção E, “de cara”, está incorreta: a obstrução das vias aéreas na asma é re- versível e intermitente, enquanto na DPOC tem um componente irreversível associado à fibrose de brônquios distais e bronquíolos. IMPORTANTE!!! Quais são as diferenças básicas entre asma brônquica e DPOC? Leia com atenção, pois esses dados têm implicação na diferença de tratamento entre as duas doenças! As demais estão corretas, como já foi visto no capítulo anterior. Quais são os principais fatores de risco para a DPOC? Os principais fatores de risco para a DPOC são: tabagismo (o mais importante), exposição ocupacional a poeira e irritantes químicos, his- tória de infecções respiratórias de repetição, deficiência de alfa-1-antitripsina, más condi- ções socioeconômicas, hiper-reatividade das vias aéreas inferiores... Como é a etiopatogenia da DPOC? A DPOC possui três componentes patológicos: • Bronquite obstrutiva crônica (compo- nente brônquico) • Doença de pequenas vias aéreas (com- ponente bronquiolar) • Enfisema pulmonar (componente paren- quimatoso) O predomínio de cada um desses três ele- mentos varia de um paciente para outro, mas a maioria apresenta sinais de coexistência de todos eles. 1) bronquite obstrutiva crônica É a inflamação da parede dos brônquios com lúmen > 2 mm. A bronquite obstrutiva crônica é composta por um infiltrado leucocitário misto (polimorfonucleares e mononucleares), meta- plasia de células caliciformes e uma acentuada hiperplasia das glândulas submucosas. Essas alterações, paralelamente à inflamação da pa- rede dos brônquios, resultam em diminuição do calibre, com obstrução do fluxo aéreo. Clinicamente, o paciente apresenta tosse crô- nica produtiva, com expectoração branca ou amarelada, associada a sinais de obstrução das vias aéreas. É importanteacrescentar que existe uma entidade conhecida como bronquite crônica simples, que é muito frequente em tabagistas, caracterizada por tosse crônica predominan- do pela manhã e aumento da expectoração (“tosse do fumante”). Este quadro não é uma DPOC, a não ser que exista obstrução ao fluxo aéreo associada, passando a ser bronquite obstrutiva crônica. 2) Doença de pequenas vias aéreas É a inflamação da parede dos bronquíolos (bronquiolite) e pequenos brônquios com lúmen < 2 mm. A parede das pequenas vias aéreas encontra-se espessada (FIGURA 1), contendo infiltrado inflamatório misto (poli- morfonucleares e mononucleares) e acúmulo difuso de colágeno (fibrose). ClíniCa MédiCa - VoluMe 13 58Medgrupo - CiClo 2: M.E.D Clinicamente, a doença das pequenas vias aéreas é o principal componente da obstrução ao fluxo aéreo, provocando dispneia e distúrbio da troca gasosa. 3) enfisema pulmonar O enfisema pulmonar é uma doença dos “áci- nos”, que são as unidades funcionais de troca gasosa dos pulmões. O ácino é uma estrutura esférica contendo em seu centro dois ou três bronquíolos respiratórios e na sua periferia ductos e sacos alveolares. É formado pelas estruturas que contêm os alvéolos, por isso, fazem parte do parênquima pulmonar. o que acontece no enfisema? Há uma des- truição progressiva dos septos alveolares e/ou paredes dos bronquíolos respiratórios, levan- do à formação de grandes espaços aéreos com reduzido poder de troca gasosa (FIGURA 1). Além disso, a degradação do tecido elástico do parênquima pulmonar reduz a capacidade de sustentação dos bronquíolos durante a expiração. Como essas pequenas vias aé- reas não possuem cartilagem, elas tendem a colabar na expiração, quando a pressão intrapleural torna-se menos negativa ou positiva. Isso explica por que o enfisema contribui para a obstrução na DPOC, embora com intensidade muito menor que a doença das pequenas vias aéreas (bronquiolite). Existem dois tipos principais de enfisema pul- monar (FIGURA 2): Enfisema centroacinar (típico do taba- gismo): A destruição começa e predomina nos bronquíolos respiratórios, no centro do ácino. Este enfisema predomina nos lobos superiores, mas tende a progredir para re- giões mais inferiores dos pulmões e para a periferia dos ácinos. Enfisema panacinar (típico da deficiência de alfa-1-antitripsina): A destruição já come- ça em todo ácino, destruindo tanto a periferia (ductos e sacos alveolares) como o centro (bronquíolos respiratórios). Predomina nos lobos inferiores e tende a progredir para regiões mais superiores. Embora a patogênese da DPOC ainda não seja totalmente conhecida, sabe-se que 90% dos casos têm total relação com o taba- gismo (FIGURA 1). O risco de DPOC depende da carga tabágica cumulativa. Como sabemos, a carga tabágica é contada multiplicando-se o número médio de maços fumados por dia pelo número de anos em que o paciente fumou. Por exemplo, um indivíduo que fumou 2 maços de cigarro por dia durante 50 anos possui carga tabágica de 100 maços-ano. A partir de 20 maços-ano, a incidência da doen- ça aumenta bastante. Em fumantes com carga acima de 40 maços-ano, a chance de ter DPOC chega a 25%! A idade de início do tabagismo também é importante: quanto mais cedo o início do tabagismo, maior o risco de DPOC! Fig. 1 Fig. 2 Existe um componente genético da DPOC que vem sendo bastante estudado atualmente. Isso explica talvez a grande variação entre os fumantes: há fumantes de 80 maços-ano que estão com o pulmão saudável e também há fumantes de 20 maços-ano que apresentam DPOC (para saber mais sobre o assunto, veja quadro “Saiba mais” a seguir). Além do tabagismo ativo, outros tipos de ex- posição que podem contribuir para a gênese da doença são: • Tabagismo passivo; • Poluição atmosférica (dióxido de enxofre, dióxido de nitrogênio, ozônio etc.); • Poluição domiciliar (ex.: fogão à lenha); • Exposição ocupacional (vapores, irritan- tes químicos, fumos); • Infecções pulmonares de repetição. ClíniCa MédiCa - VoluMe 13 59Medgrupo - CiClo 2: M.E.D Saiba maiS: Quais os mecanismos da DPOC causada pelo tabagismo? Algumas teorias foram desenvolvidas para explicar os efeitos da fumaça do tabaco sobre as vias aéreas e alvéolos, provocando as lesões patológicas da DPOC. A fumaça do tabaco contém milhares de substâncias, algumas delas lesivas aos pulmões e outras com potencial carcinogênico. O efeito desses agentes seria estimular a produção de citoquinas pró-inflamatórias (TNF-alfa, IL-8) por macrófagos e células epiteliais. O resultado seria um acúmulo lento e progressivo de neutrófilos nas vias aéreas e nos septos alveolares. Os neutrófilos ativados liberam enzimas proteolíticas (colagenase, elastase, etc.) e radicais livres derivados do oxigênio (peróxido de hidrogênio, hidroxila), com alto poder oxidativo e lesivo. Normalmente, as enzimas proteolíticas são inativadas de imediato por antiproteases endógenas e os radicais oxidantes são depurados por mecanismos antioxidantes endógenos. Contudo, a exposição ao tabaco também reduz a atividade das antiproteases e dos mecanismos antioxidantes, além de induzir hipertrofia das glândulas submucosas, que resulta em secreção de quantidade excessiva de muco, que se acumula nas vias aéreas inferiores. Resumindo: A DPOC relacionada ao tabaco seria provocada por ativação e acúmulo de neutrófilos e um desequilíbrio entre proteases e antiproteases e entre agentes oxidantes e antioxidantes. E a deficiência de alfa-1-antitripsina? É uma causa rara de DPOC do tipo enfisema panacinar puro, ou seja, sem os outros dois componentes patológicos (bronquite e doença de pequenas vias aéreas). Esses pacientes são homozigotos para um mutante defeituoso do gene que codifica a síntese da alfa-1-antitripsina. Portanto, os níveis séricos e teciduais desta importante enzima estão bastante reduzidos. Como consequência, o mecanismo de defesa antiprotease do parênquima pulmonar está ausente, permitindo a sua destruição progressiva, e formação de grandes áreas de enfisema. A doença costuma se manifestar em crianças ou adolescentes. O ALUNO PERGUNTA... A asma brônquica aumenta o risco de DPOC?? Embora tal associação ainda seja incerta, é provável que o paciente asmático de longa data tenha risco aumentado de DPOC. Imagine que o brônquio, de tanto “inflamar e desinflamar”, vá perdendo sua complacência e fibrosando... Mas e a lesão do parênquima pulmonar (enfisema), como ocorreria nesses pacientes? Isso permanece uma dúvida... De qualquer forma, os estudos mostraram um risco duas vezes maior de DPOC em indivíduos asmáticos e mais trabalhos estão em andamento a fim de elucidar completamente a relação entre as duas doenças. A dosagem sérica da alfa-1-antitripsina está indicada nos casos de enfisema em pacientes mais jovens (< 45 anos), enfisema com predomínio nas regiões inferiores dos pulmões, ausência de fator de risco conhecido, presença de hepatopatia associada sem explicação, história familiar de enfisema e vasculite pulmonar com ANCA positivo padrão citoplasmático. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 INSTITUTO DE ASSISTÊNCIA MÉDICA AO SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL – SP É causa de doença pulmonar obstrutiva crô- nica não relacionada ao tabagismo: a) Sarcoidose. b) Deficiência de alfa-1-antitripsina. c) Exposição à sílica. d) Infecção a Necator americanos. e) Pneumonia comunitária. A deficiência de alfa -1-antitripsina afeta os pulmões, o fígado e, raramente, a pele. Nos pulmões a doença se manifesta basicamente através de enfisema, que apesar de possuir várias características em comum com o enfi- sema causado pelo tabagismo, diverge deste último por dois pontos: início em adultos jovens e predomínio nasbases pulmonares. Alterna- tiva B correta. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 CENTRO DE REABILITAÇÃO E READAPTAÇÃO – GO Homem, 38 anos, fumante dos 20 aos 30 anos, 7 cigarros/dia, apresenta dispneia aos grandes esforços. Nega tosse e expectoração. O exame físico é normal. Duas espirometrias sequenciais mostram VEF1 de 1.500 ml (64% do previsto) e relação de VEF1/CVF < 70%. O radiograma de tórax evidencia enfisema pulmonar com predomínio em bases pulmonares. Qual é a conduta diagnóstica mais recomendada? a) Avaliar níveis sorológicos de alfa-1-antitripsina. b) Solicitar ecocardiograma transesofágico. c) Avaliar concentração de CO no ar exalado. d) Solicitar estudo angiotomográfico compu- tadorizado de tórax. e) Solicitar gasometria arterial. A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) é incomum em pacientes jovens (ida- de < 50 anos), principalmente naqueles que apresentam “carga tabágica” baixa (< 20 ma- ços/ano – a carga tabágica deste paciente é de apenas 7 maços/ano). Quando um pacien- te de baixo risco apresenta indícios claros de DPOC (particularmente na forma de um enfi- sema pulmonar), temos que pensar em doen- ças associadas, com destaque para a famosa deficiência de alfa-1- antitripsina! Esta é uma condição genética autossômica recessiva, em que os níveis séricos da enzima alfa-1-anti- tripsina encontram-se abaixo de 10% do nor- mal e, por isso, o paciente fica predisposto a uma maior ação destrutiva de enzimas proteo- líticas endógenas, como a elastase secretada por macrófagos. No parênquima pulmonar, a ClíniCa MédiCa - VoluMe 13 60Medgrupo - CiClo 2: M.E.D ação da elastase, não contrabalanceada pela proteção da alfa-1-antitripsina, resulta em destruição acelerada e progressiva dos septos alveolares, justificando o surgimento muito precoce de enfisema pulmonar (fato ainda mais acelerado quando o paciente fuma). Em 10% dos casos, coexiste uma lesão hepática crônica que constitui uma causa geneticamen- te determinada de cirrose hepática. O rastreio diagnóstico deve ser feito pela dosagem dos níveis séricos de alfa-1-antitripsina em pacien- tes sob suspeita dessa doença, sendo confir- mado pela pesquisa genética. O tratamento é feito com reposição intravenosa semanal de alfa-1-antitripsina. Resposta certa: A. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA UNIVERSIDA- DE FEDERAL DE PERNAMBUCO Assinale a alternativa em que está indicada a solicitação de dosagem de alfa 1-antitripsina na prática clinica. a) Pacientes com enfisema predominando em regiões basais dos pulmões. b) Portadores de fibrosa cística. c) Pacientes com história familiar de linfangio- matose pulmonar. d) Portadores de doença hepática crônica ANCA negativos. A deficiência de alfa-1-antitripsina é uma causa rara de DPOC do tipo enfisema pana- cinar puro, ou seja, sem os outros dois com- ponentes patológicos (bronquite e doença de pequenas vias aéreas). Esses pacientes são homozigotos para um mutante defeituoso do gene que codifica a síntese da alfa-1-antitrip- sina. Portanto, os níveis séricos e teciduais desta importante enzima estão bastante redu- zidos. Como consequência, o mecanismo de defesa antiprotease do parênquima pulmonar está ausente, permitindo a sua destruição progressiva, e formação de grandes áreas de enfisema. A doença costuma se manifestar em crianças ou adolescentes. Resposta letra A. Saiba maiS! Declínio do veF1 ao longo do tempo • A partir dos 30 anos de idade, é comum, mesmo nos não fumantes, que o VEF1 se reduza em torno de 30 ml/ano. É por isso que, ao avaliar uma espirometria, os valores de referência diminuem quanto maior for a idade. Para que o indivíduo apresente algum grau de dispneia devido à queda do VEF1 este geralmente deve chegar a menos de 50% do valor normal, por isso é extremamente incomum que essa redução gradual e “fisiológica” do VEF1 tenha alguma repercussão clínica. • Nos fumantes essa velocidade de “perda” do VEF1 dobra. E em 15-20% da população tabagista, a queda do VEF1 é ainda maior, chegando a 100 ml/ano. Essa população, provavelmente, é portadora de genótipo mais sensível ao cigarro, e desenvolverá DPOC mais jovem e com menor carga tabágica. • Acompanhe pela figura acima a redução do VEF1 ao longo da idade em algumas populações. É bastante interessante observar que, quando o indivíduo abandona o tabagismo, sua velocidade de queda do VEF1 volta ao “normal”, embora o que foi perdido não seja mais recuperado. É por isso que, mesmo após parar de fumar, o paciente com DPOC continua “perdendo” VEF1, de forma lenta e inexorável. Como é a fisiopatologia da dPoC? As alterações patológicas da DPOC, descritas anteriormente, acometem o pulmão de forma heterogênea (afetam muito algumas áreas, poupando outras). Isso leva a um desequilíbrio ventilação-perfusão (distúrbio V/Q), que é o principal mecanismo da hipoxemia na fase avançada da doença. Em fases ainda mais avançadas, o agravamento do distúrbio V/Q, somado à hipoventilação crôni- ca progressiva, leva à retenção crônica de CO2. Nesse momento, a gasometria do paciente apresenta os seguintes achados: PaO2: muito baixa SatO2: muito baixa PaCO2: alta (> 45 mmHg) HCO3: alto (> 26 mEq/L) BE: alto (> +3,0 mEq/L) pH: normal ou levemente reduzido. Vamos dar um exemplo de gasometria arterial (em ar ambiente) de um pacien te com DPOC em fase bem avançada: ClíniCa MédiCa - VoluMe 13 61Medgrupo - CiClo 2: M.E.D Observe que este paciente apresenta acidose respiratória (retenção de gás carbônico), que é compensada pela retenção de bicarbonato, gerando um pH sanguíneo bem próximo do nor- mal. Veremos a importância do retentor crônico de CO2 quando formos descrever o tratamento da exacerbação aguda da DPOC... O distúrbio da troca gasosa só aparece nas fa- ses mais avançadas da DPOC. Antes disso, o paciente apresenta apenas dispneia. Essa disp- neia é provocada pela obstrução crônica das vias aéreas (aumento do trabalho respiratório), mas também é agravada pela hiperinsuflação pulmonar (mau posicionamento do diafragma). A hiperinsuflação pulmonar é um importante elemento da fisiopatologia da DPOC. A obstru- ção das vias aéreas é sempre mais acentuada na fase expiratória, pois a pressão intrapleu- ral se torna menos negativa ou até mesmo positiva, reduzindo o lúmen e eventualmente colabando as vias aéreas bronquiolares. O resultado é a síndrome do “aprisionamento de ar” (air trapping). O enfisema por si só leva à hiperinsuflação pulmonar, devido à formação de grandes es- paços aéreos. quadro clínico O primeiro sinal do efeito lesivo do tabagismo de longa data é a tosse produtiva, de predo- mínio matinal (“tosse do fumante”). Esta tosse é o representante clínico da bronquite crônica relacionada ao tabaco. O diagnóstico dessa entidade é feito apenas pela anamnese: Num fumante de longa data, o diagnóstico de bronquite crônica é firmado quando há história de tosse produtiva há mais de dois anos, durante pelo menos três meses consecutivos por ano, uma vez excluídas outras causas óbvias de tosse crônica. Vale lembrar que a bronquite crônica por si só não é uma DPOC e pode ser totalmente rever- sível com a suspensão do tabagismo. De qual- quer forma, a presença da bronquite crônica clinicamente manifesta indica um importante fator de risco para que a doença progrida para as demais alterações patológicas (doença das pequenas vias aéreas e enfisema pulmonar). Quando a doença das pequenas vias aéreas e o enfisema pulmonar começam a se insta- lar, a dispneia aos esforços é o primeiro sintoma a aparecer. O paciente ficará anos se queixando de um discreto cansaço, quando um dia ele percebe que o cansaço está cada vez pior e começa a limitar as suas atividades. Quando a doença avança,a dispneia torna- -se bem acentuada, ocorrendo aos mínimos esforços ou mesmo em repouso. Pode sur- gir também ortopneia, sendo importante o diagnóstico diferencial com a insuficiência cardíaca congestiva. A suspeita de DPOC aparece quando temos um grande fumante que refere tosse produtiva crônica + dispneia aos esforços progressiva. Na fase avançada, o exame clínico pode de- monstrar alterações típicas da DPOC: • Cianose ou eritrocianose • Aumento do diâmetro anteroposterior do tórax (tórax em tonel) • Pletora facial • Edema de membros inferiores • Murmúrio vesicular bem reduzido • Sibilância e roncos • Estertores crepitantes ou subcrepitantes • Bulhas cardíacas hipofonéticas • Hiperfonese do componente pulmonar (P2) da segunda bulha cardíaca (B2), se- cundária a hipertensão arterial pulmonar. Quais são os dois famosos estereótipos da DPOC? Foram descritos dois estereótipos da DPOC: (1) Pink Puffer e (2) Blue Bloater. Eles repre- sentam dois extremos da doença, mas, na prática, a maioria dos pacientes encontra-se num espectro clínico intermediário entre eles. 1) pink puffer (soprador róseo) Este é o estereótipo do enfisematoso, com pouco ou nenhum componente bronquítico. Estes pa- cientes são geralmente magros, com um diâme- tro anteroposterior do tórax bastante aumentado, pletora facial (“face rósea”), murmúrio vesicular universalmente reduzido, quase abolido, sem ruídos adventícios e dispneia expiratória do tipo “soprador”. O paciente “sopra” para aumentar o tempo expiratório e reduzir o fenômeno do aprisionamento de ar. O pink puffer apresenta hipoxemia leve e pode ou não ser retentor de CO2. Como a hipoxemia não costuma ser muito grave, esses pacientes raramente evoluem com hipertensão arterial pulmonar e cor pulmonale. ClíniCa MédiCa - VoluMe 13 62Medgrupo - CiClo 2: M.E.D 2) blue bloater (inchado azul) É o estereótipo do bronquítico (predomínio de bronquite crônica e intensa doença obstrutiva das pequenas vias aéreas: bronquiolite). A troca gasosa está bastante comprometida. Há hipoxemia grave e retenção crônica de CO2. O paciente, em virtude da hiperplasia das células caliciformes e das glândulas sub- mucosas, elimina bastante secreção e tem o tórax ruidoso: roncos, sibilos e estertores são frequentes à ausculta respiratória. Inter- na frequentemente no hospital com DPOC exacerbada. A hipoxemia e a hipóxia alveo- lar promovem vasoconstrição das arteríolas pulmonares, hipertensão da artéria pulmonar e a síndrome do cor pulmonale crônico. O resultado é a disfunção ventricular direita, justificando o edema de membros inferiores, além de turgência jugular, hepatomegalia e ascite. O nome “inchado azul” vem exata- mente do fato de tais doentes terem edema e cianose crônica. Não EsquECEr!!! Cor pulmonale é a insuficiência ventricular direita decorrente de pneumopatias que possam cursar com hipertensão arterial pulmonar, como é o caso da DPOC. Diagnóstico e estadiamento Pensaremos no diagnóstico de DPOC ao ava- liar um paciente com fatores de risco (tabagis- ta, ou com exposição a substâncias de risco, ou com deficiência de alfa-1-antitripsina) que apresente sintomas clássicos (dispneia, tosse crônica, aumento na produção de escarro). Como é feito o diagnóstico da DPOC? O diagnóstico é feito através da ESPIRO- METRIA (prova de função respiratória), evidenciando uma relação VEF1/CVF < 0,7 (70%) após uso de broncodilatador (por exemplo, o salbutamol 400 mcg). A relação VEF1/CVF também é conhecida como índice de Tiffeneau. A CVF pode estar normal ou reduzida, e o VEF1 está sempre mais reduzido do que a CVF. Não esqueça: o primeiro parâmetro espirométrico a se alterar na DPOC é a FEF 25-75%. Como é feito o estadiamento da DPOC? Através de critérios clínicos, gasométricos e espirométricos. A DPOC é uma doença lentamente progres- siva, especialmente quando o tabagismo não é suspenso em momento oportuno. De- pendendo da gravidade, a terapia poderá ser mais ou menos agressiva. A sobrevida média pode variar de 10 anos para a DPOC leve até meses para a DPOC muito grave. Estude atentamente a TABElA 1, que classifica a DPOC nos seus diversos estágios, de acordo com o GOLD (Global Initiative for Obstructive Lung Disease). Esta é a principal referência mun- dial para o diagnóstico e tratamento da doença. Sintomas de bronquite crônica, porém espirometria normal (estágio excluído das últi- mas atualizações do GOLD) Tiffeneau < 70% VEF1 ≥ 80% do previsto Tiffeneau < 70% VEF1 ≥ 50% e < 80% do previsto Tiffeneau < 70% VEF1 ≥ 30% e < 50% do previsto Tiffeneau < 70% VEF1 < 30% do previsto ou VEF1 < 50% do previsto + insuficiência respira- tória crônica (PaO2 < 60 mmHg ao nível do mar, acompanhada ou não por retenção de CO2) Estágio 0 (em risco): Estágio 1 (DPOC leve) Estágio 2 (DPOC moderada) Estágio 3 (DPOC grave) Estágio 4 (DPOC muito grave) tabela 1: Estadiamento da DPOC. Tranquilo o estadiamento, não? Realiza-se a espirometria, checam-se os valores do índice Tiffeneau e do VEF1 pós-broncodilatador e comparam-se os valores na tabela. Pois é... O ALUNO PERGUNTA... Devo submeter meu paciente taba- gista a espirometrias periódicas, mesmo se ele for assintomático? Está aí uma pergunta para a qual ainda não temos resposta... Um artigo publicado pelo New England Journal of Medicine em 2010 fez uma breve revisão sobre o tema e também não chegou a uma conclusão. Embora haja na literatura indicação de tratar todos os pacientes com DPOC e VEF1 < 60% do previsto, mesmo assintomáticos, os especialistas contrários à espirometria “de rastreio” afirmam que esta conduta, além de aumentar os custos, não traz impacto significativo à evolução da doen- ça – provavelmente porque os indivíduos com DPOC assintomática geralmente têm doença leve. Segundo a maioria dos estudos realiza- dos, neste grupo de pacientes o simples diag- nóstico de DPOC também não foi associado a maiores índices de abandono do tabagismo, como seria de se esperar... ClíniCa MédiCa - VoluMe 13 63Medgrupo - CiClo 2: M.E.D quais são as alterações na radiografia de tórax de um paciente com DPOC? A alteração principal, que você pre- cisa saber reconhecer, é a hiperinsu- flação pulmonar, caracterizada por: • Aumento dos espaços intercostais. • Visualização de mais do que 9 ou 10 arcos costais anteriores. • Retificação das hemicúpulas diafragmáticas. • Maior penetração dos raios X, com maior hipotransparência pulmonar. • Coração alongado (em “gota”). Veja as imagens a seguir e procure algumas dessas alterações: RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS – SÃO PAULO – SP Pacientes portadores de DPOC são classi- ficados como portadores da forma leve se apresentarem VEF1 pós-broncodilatador. a) “Maior ou igual a” 80%. b) > 40%. c) “Maior ou igual a” 60%. d) > 50%. e) > 70%. O diagnóstico da DPOC é feito através da espirometria evidenciando uma relação VEF1/ CVF < 0,7. Uma das principais formas de es- tadiamento da doença dá-se pelos estágios GOLD, que classifica a doença em quatro estágios de acordo com o VEF1 pós-bronco- dilatador. Como acabamos de estudar, o valor de VEF1 pós-broncodilatador de pacientes com a forma leve de DPOC é igual ou maior a 80% do previsto. Resposta: LETRA A. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 PROCESSO SELETIVO UNIFICADO – MG Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é acompanhada de desequilíbrio da ventilação- -perfusão, que resulta em hipóxia durante a respiração em ar ambiente. Em relação às ca- racterísticas dos gases arteriais dos pacientes com essa afecção é correto afirmar, EXCETO: a) Em alguns pacientes com DPOC leve, a hipóxia só aparece durante o exercício físico. b) Em pacientes comDPOC e insuficiên- cia respiratória aguda, observa-se aumento da PaCO2. c) Em pacientes com DPOC e insuficiência respiratória crônica, observa-se compensação metabólica com diminuição do excesso de base e aumento do pH. d) Os gases arteriais devem ser medidos em pacientes com saturação de oxigênio abaixo de 90% a 92% à gasometria de pulso. Os portadores de DPOC com insuficiência respiratória crônica são os retentores crônicos de CO2. Para compensar essa alteração gaso- métrica, ocorre retenção renal de bicarbonato, ou seja, há aumento de excesso de base (base excess) e não a sua diminuição com afirmava a alternativa C da questão. As demais estão corretas. Estudaremos melhor a gasometria dos pacientes com DPOC quando estudarmos a descompensação aguda da doença. Antes de passarmos ao tratamen- to, vejamos se você está atento... Observe o resultado de espiro- metria a seguir, faça os cálculos necessários e diga se o paciente é portador ou não de DPOC. Caso afirmativo, faça o estadiamento. Pré-broncodilatador Pós-broncodilatador VEF1 2,8 L (74% do previsto) 3,0 L (80% do previsto) CVF 4,0 L (80% do previsto) 4,5 L (88% do previsto) Em primeiro lugar, esqueça os valores “ba- sais” (antes do broncodilatador). O diag- nóstico de DPOC se faz com o índice de Tiffeneau (VEF1/CVF) pós-BD! Neste caso, existe uma relação menor que 0,7 (3,0/4,5 = 0,66), compatível com o diagnóstico! E o estadiamento? Observe que VEF1 maior ou igual a 80% do previsto = GOLD I. Cuidado! Com certeza muita gente estadiou como GOLD II... ClíniCa MédiCa - VoluMe 13 64Medgrupo - CiClo 2: M.E.D Saiba maiS! críticas ao “golD” e proposta de novo estadiamento – o escore boDe Uma das principais críticas ao estadiamento da gravidade da DPOC pelo GOLD é o uso de apenas um exame, a espirometria (e nos casos mais graves também a gasometria) para estadiamento da doença, sem levar em conta os sintomas apresentados pelo paciente, como a intensidade da dispneia. Sabe-se, ainda, que a perda ponderal associada à doença (como vimos há pouco nos pacientes com estereótipo pink puffer) e a tolerância ao exercício são outros fatores prognósticos desses pacientes. Dessa forma, foi proposta uma nova escala, denominada BODE (Body mass index, airflow Obstruction, Dyspnea e Exercise capacity), que vai de 0 a 10 pontos, para avaliação dos pacientes com DPOC. Você não precisa memorizá-la, já que o GOLD ainda é, de longe, a mais utilizada pelos especialistas. De qualquer maneira, é interessante conhecê-la: Pontuação 0 1 2 3 (máximo = 10 pontos) VEF1 (% da prevista) ≥ 65 50-64 36-49 ≤ 35 Distância caminhada em 6 min (metros) ≥ 350 250-349 150-249 ≤ 149 Intensidade da dispneia* 0-1 2 3 4 IMC (Peso/altura²) > 21 < 21 * 0-1 = Dispneia aos grandes esforços (exercício extenuante, subida de ladeira). * 2 = Dispneia ao caminhar no plano, necessitando parar de andar eventualmente. * 3 = Dispneia que impede o paciente de caminhar mais de 100 jardas (91 metros) sem parar. * 4 = Dispneia aos mínimos esforços (ex.: mudar de roupa) e que impede o paciente de sair de casa. sobrevida em 4 anos de acordo com a pontuação: 0-2: 80% / 3-4: 67% / 5-6: 57% / 7-10: 18%. tratamento 1) obJetivos Do tratamento • Alívio sintomático • Melhorar tolerância ao exercício REDUzIR SINTOMAS • Melhorar estado de saúde • Prevenir progressão da doença • Prevenir e tratar exacerbações REDUzIR RISCOS • Redução de mortalidade 2) tratamento farmacológico O tratamento farmacológico pode reduzir a sintomatologia, o risco e a gravidade das exacerbações, assim como melhorar o es- tado de saúde e a tolerância ao exercício. Embora, em sua definição, a DPOC seja caracterizada por um componente irre- versível de obstrução das vias aéreas, de fato existe um pequeno e variável com- ponente reversível, que pode responder aos broncodilatadores. ClíniCa MédiCa - VoluMe 13 65Medgrupo - CiClo 2: M.E.D Uma discreta broncodilatação pode trazer um grande benefício clínico ao paciente, já que ele convive com uma reserva respiratória baixa. Por isso, os broncodilatadores inalató- rios são as grandes drogas na terapia da DPOC! Os corticoides (inalatórios ou sistêmicos), tão importantes no tratamento da asma, possuem um papel limitado na terapia de manutenção da DPOC. O motivo principal é a pequena res- posta da inflamação brônquica e bronquiolar desses pacientes ao corticoide – ao contrário da asma, na qual a inflamação é plenamente reversível, na DPOC a fibrose dos brônquios distais e bronquíolos é frequente, diminuindo a resposta ao corticoide. Como veremos, o corti- coide sistêmico torna-se uma droga importan- te nas exacerbações agudas da DPOC, não sendo indicado no tratamento de manutenção. No passado, o tratamento da DPOC era prati- camente todo baseado no estágio do paciente no GOLD. Porém, como o passar do tempo, foi observado que existem fatores ainda mais importantes a considerar, como o número de exacerbações recentes e a sintomatologia do paciente. Atualmente, para fins de tratamen- to clínico, os portadores de DPOC são clas- sificados em quatro grupos (de A a D), de acordo a sintomatologia e o histórico recen- te de exacerbações. Ou seja, uma avaliação combinada de “sintomas” e “riscos”. Até 2016 o estágio GOLD fazia parte da clas- sificação em grupos da DPOC, porém foi reti- rado da mesma em 2017 a fim de evidenciar que o principal ponto para definição do trata- mento é o quadro clínico do paciente e não a espirometria. O primeiro passo é avaliar a sintomatologia do paciente, utilizando um de dois questio- nários, o mMRC e o CAT, sendo a escolha o CAT (não é necessário utilizar ambos). Ape- sar de mais fácil aplicação, o questionário mMRC apenas avalia a disfunção causada pela dispneia, enquanto o CAT abrange o im- pacto da DPOC na rotina e bem‑estar diá- rios do doente. Pacientes com CAT ≥ 10 ou mMRC ≥ 2, ou seja, os mais sintomáticos, são colocados do lado “direito” do qua- dro (grupos B e D). Após, devemos avaliar esses pacientes de acordo com o risco de exacerbações, usando o número de exacerbações clínicas no últi- mo ano. São considerados de maior risco os pacientes com duas ou mais exacerba- ções recentes, que ficam na parte de cima do quadro (grupos C e D). Na última revisão do GOLD (2017) também foram incluídos neste grupo de maior gravi- dade pacientes com uma única exacerbação recente, que tiveram necessidade de interna- ção hospitalar. Achou complicado? Não é tanto quanto pare- ce... Veja o quadro seguir. Avaliação Combinada de riscos e Sintomas Da DPOC. (C) (A) (D) (B) R IS C O mMRC 0-1 CAT < 10 mMRC ≥ 2 CAT ≥ 10 E xa ce rb aç õe s no ú lti m o an o SINTOMAS ≥ 2 1 com necessidade de hospitalização 0 ou 1 sem necessidade de internação hospitalar Por exemplo: Paciente com escore CAT = 18 e duas exacerbações no último ano pertence ao grupo D. Paciente com escore mMRC = 1 e uma exacerbação no último ano fica no grupo A. E por aí vai... Vamos treinar antes de passar adiante... Clas- sifique os pacientes a seguir: • mMRC 0, nenhuma exacerbação no últi- mo ano = grupo A • CAT 14, 1 exacerbação no último ano = grupo B • CAT 8, 2 exacerbações no último ano = grupo C • mMRC 4, 3 exacerbações no último ano = grupo D • CAT 6, 2 exacerbações no último ano = grupo C ClíniCa MédiCa - VoluMe 13 66Medgrupo - CiClo 2: M.E.D • CAT 10, 1 exacerbação no último ano com necessidade de internação hospitalar = grupo D Para fixar, preencha você mesmo o quadro a seguir: Grupo CaracterísticaExacer- bações por ano mMRC CAT A Baixo Risco Menos Sintomas 0-1 0-1 < 10 B Baixo RiscoMais Sintomas 0-1 ≥ 2 ≥ 10 C Alto Risco Menos Sintomas ≥ 2 0-1 < 10 D Alto RiscoMais Sintomas ≥ 2 ≥ 2 ≥ 10 Saiba maiS! questionários mmrc e cat na avaliação dos portadores de Dpoc Embora a maioria das questões provavel- mente já dêem o valor final do mMRC e do CAT, é interessante que você saiba defini-los, pelo menos o mMRC, que é o mais simples de ser usado na prática diária. Versão em português da escala do MRC (Medical Research Council) 0. Não sofre falta de ar. 1. Só sofre de falta de ar durante exercícios intensos. 2. Sofre de falta de ar quando andando apres- sadamente ou subindo uma rampa leve (pon- to de corte). 3. Anda mais devagar do que pessoas da mesma idade por causa de falta de ar ou tem que parar para respirar mesmo quando an- dando devagar. 4. Para pra respirar depois de andar menos de 100 metros ou após alguns minutos. 5. Sente tanta falta de ar que não sai mais de casa, ou quando está se vestindo. (OBS.: O questionário oficial usa termos mais familiares ao paciente, como “falta de ar” em lugar de “dispneia”) Versão em português da escala CAT (COPD Assessment Test) Esse já é um pouco diferente. O paciente deve dar “notas” de 0 a 5 para cada um dos itens a seguir. Por exemplo, para o primei- ro item (tosse), zero equivale a NUNCA (no caso, “não ter tosse”) e 5 equivale a SEMPRE (no caso, “ter tosse o tempo todo”). O escore final corresponde ao somatório da pontuação de cada item (máximo = 40 pontos). Os itens são: - Tosse. - Expectoração. - Sensação de opressão torácica. - Falta de ar ao subir uma escada/ladeira. - Limitação das atividades em casa. - Confiança para sair de casa, apesar da doença. - Qualidade do sono. - Sensação de energia (disposição). Em questões anteriores a 2017 poderemos encontrar o estágio do GOLD fazendo parte da classifica- ção em grupos da DPOC, como ocorria até então. Para que você entenda e não fique perdido ao se deparar com essas questões: pacientes GOLD I e II eram classi- ficados na parte “baixa” do quadro, grupos A e B (junto aos pacientes com 0 ou 1 exacerbação no último ano) e GOLD III e IV eram classi- ficados na parte “alta” do quadro, grupos C e D (junto aos pacientes com 2 ou mais exacerbações, ou 1 exacerbação com necessidade de hospitalização). No caso de discordância entre esses dois crité- rios prevalecia o pior (ex.: GOLD III sem exacerbações recentes levava o paciente para a parte “alta” do quadro, grupos C e D). Agora a parte mais importante: é de acordo com o grupo que guiamos nosso tratamen- to inicial. Grupo A É o grupo mais “basal”, constituído por pacientes pouco sintomáticos e com baixo risco de exacerbações da doença. A base do tratamento são os broncodilatadores inalatórios “SOS”, para alívio sintomático em caso de necessidade. Pode-se começar o tratamento usando ape- nas um broncodilatador “SOS”. Nós utiliza- mos os β2-agonistas de ação curta inalató- rios (fenoterol, salbutamol, terbutalina), ou um anticolinérgico inalatório, que pode ser o brometo de ipratrópio, conforme necessá- rio (no máximo a cada 6 horas). Os beta-ago- nistas, pelo seu início de ação mais rápido, são os mais prescritos na prática. Caso o paciente permaneça sintomático como o uso de uma única droga, pode ser associada uma droga de outra classe. Por exemplo, se vinha em uso de β2-agonista, pode ser associado um anticolinérgico. Ou então, pode ser prescrita uma droga de ação mais longa, para uso regular (β2-agonista ou anticolinérgico de longa ação inalatório). Grupo B São pacientes com baixo risco de exacer- bações, à semelhança do grupo A, porém mais sintomáticos. ClíniCa MédiCa - VoluMe 13 67Medgrupo - CiClo 2: M.E.D Aqui já está indicado tratamento de manuten- ção com broncodilatador para todos os pa- cientes. Pode ser utilizado um β2-agonista de longa ação inalatório (formoterol, salme- terol a cada 12h, ou indacaterol uma dose diária), ou ainda um anticolinérgico de ação longa, como o tiotrópio (Spiriva) 1x/dia. A preferência é dada ao indacaterol ou ao tio- trópio, que têm maior efeito broncodilatador. Contudo, não há preferência de uma classe sobre a outra. Se os sintomas persistirem com uma droga, acrescenta-se ou um fármaco de outra clas- se ao tratamento. Grupo C São pacientes pouco sintomáticos, porém com alto risco de exa cer bações. Neste grupo de pacientes, o tratamento de escolha é um anticolinérgico de ação lon- ga isoladamente, ficando o beta-2-agonista como segunda opção. Nos pacientes que mantiverem exacerbações frequentes com uso de apenas uma droga, po- demos associar anticolinérgico de ação longa + beta-2-agonista de ação longa. Outra opção seria a combinação beta-2-agonista + corticoi- de inalatório. Grupo D São os pacientes de doença mais grave, muito sintomáticos e com alto risco de exacerbações. Neste grupo de pacientes, o tratamento de escolha é a combinação anticolinérgico de ação longa + beta-2-agonista de ação longa. Em pacientes que permanecem com exa- cerbações frequentes, podemos associar corticoide inalatório. Nos pacientes que mesmo em uso de três drogas permanecerem com exacerbações frequentes, temos as seguintes opções: • Adicionar roflumilast em caso de VEF1 < 50% e bronquite crônica, particularmente se o pa- ciente tiver sido hospitalizado por exacerba- ção pelo menos uma vez no ano anterior. • Adicionar macrolídeo em ex-tabagistas/ suspender corticoide inalatório (medidas controversas). Saiba maiS! observações sobre os fármacos utilizados no tratamento da Dpoc: • Nos grupos B, C e D, nos quais está indicado tratamento de manutenção, a preferências é pelos beta-agonistas e anticolinérgicos de ação longa. Drogas de ação curta só são utilizadas na indisponi- bilidade das demais. • Na última edição do GOLD são citados como opções de anticolinérgico de ação longa, além do tiotrópio 1x/dia, o aclidinium (12/12h) e o glicopirrônio (1x/dia). • A principal indicação dos corticoides inalatórios atualmente seria nos grupos C e D com exacerbações frequentes. São utilizadas as mesmas drogas prescritas para os asmáticos: budesonida, beclometasona, etc. Uma outra indicação aceita é o paciente com DPOC associada à asma, podendo ser comprovado pela história da infância e uma prova terapêutica, com prednisona 40 mg por 15 dias, promovendo um aumento em mais de 15% do VEF1. Lendo alguma edição antiga do GOLD, você pode encontrar que os corticoides inalatórios são indicados nos pacientes GOLD III-IV com exacerbações frequentes – o que, na prática, corresponde “mais ou menos” aos grupos C e D da classificação atual. • No grupo D, os portadores de bronquite crônica podem se beneficiar do uso de um inibidor da fosfodiesterase (roflumilast). • As metilxantinas (teofilina, bamifilina) são drogas de segunda linha na DPOC. Pelo seu baixo custo, podem substituir os β2-agonis- tas de longa ação em pacientes que não podem adquiri-los ou também podem ser adicionadas ao esquema broncodilatador prévio do paciente. Segundo o último con- senso, são consideradas a última opção terapêutica na DPOC, tendo em vista os efeitos adversos causados. noviDaDes... novas drogas no tratamento da Dpoc: inibidores da fosfodiesterase 4? O Roflumilast (nome comercial Daxas®) é um inibidor da PDE-4 recém-aprovado pelo FDA para o tratamento da DPOC grave. A dose é de 500 mg VO 1x/dia. Está indicado a princípio para pacientes GOLD III ou IV, com história de bronquite crônica e exacer- bações frequentes: nesta população, a dro- ga, quando associada ao tratamento conven- cional, reduziu a frequência de exacerbações e aumentou o VEF1segundo dois estudos publicados pelo Lancet em 2009. ClíniCa MédiCa - VoluMe 13 68Medgrupo - CiClo 2: M.E.D Essa droga, contudo, não é isenta de efeitos adversos. Os principais são náusea, redução do apetite, diarreia, dor abdominal, perda de peso e alteração do sono. Deve ser evitada em pacientes com baixo peso e depressão, e não pode ser administrada junto às xantinas. O ALUNO PERGUNTA... Por que o corticoide inalatório, que é tão bom para os asmáti- cos, tem uso mais restrito na DPOC? As duas doenças não são obstrutivas? A patogênese não é mais ou menos a mesma? Calma lá! Embora sejam doenças pulmonares obstrutivas, existe uma diferença fundamental na patogênese dessas duas doenças! A asma é caracterizada por inflamação crôni- ca das vias aéreas inferiores, potencialmente reversível, que acarreta hiper-reatividade da árvore traqueobrônquica a formas diversas de estímulos, causando a broncoconstricção que é marca registrada da doença. Uma vez que exista inflamação, existe substrato de ação para o corticoide inalatório (corticoide = anti-inflamatório esteroidal, lembra?). Na DPOC, a inflamação das vias aéreas pos- sui um significativo componente irreversível, constituído por espessamento inflamatório e fibrose da parede dos brônquios distais e dos bronquíolos. Outra característica da DPOC, ausente na asma, é o componente de lesão do parênquima pulmonar, que caracteriza o enfisema pulmonar. Ou seja, aqui há bem menos inflamação e mais FIBROSE, por isso o tratamento com corticoide inalatório não é tão eficaz. Assim, o uso de corticoide inala- tório em pacientes com doença mais grave e exacerbação mais frequente é justificado pelo resultado de diversos estudos que mos- traram redução da frequência de exacerba- ções nesses pacientes, sem que houvesse, contudo, diminuição (estatisticamente signifi- cativa) dos sintomas e da mortalidade. Con- siderando os efeitos adversos dessa classe de drogas (disfonia, candidíase, etc.), elas devem ser utilizadas de forma criteriosa nos pacientes com DPOC. Não existe benefício de fazer um “trial” com corticosteroide inalatório para todos os pa- cientes, pois poucos se beneficiarão e tere- mos um aumento potencial do número de complicações relacionadas ao uso da droga. Dessa forma, devemos nos ater às indica- ções da literatura. 3) tratamento não farmacológico 1- Parar de Fumar Todo paciente com DPOC ou em risco de desenvolver a doença deve ser forte e insis- tentemente encorajado a parar de fumar. A suspensão do tabagismo é a medida de maior eficácia para reduzir a progressão da doen- ça e melhorar os sintomas da DPOC! É uma das medidas que comprovadamente reduzem a mortalidade. • Se necessário, o médico deve orientar o pa- ciente e prescrever medicamentos antitaba- gismo, como o cloridrato de bupropriona (Zyban®) e os adesivos de nicotina. Este tema será melhor estudado na apostila de “Medicina Ambulatorial”. 2- Vacinação Todo portador de DPOC deve receber a vaci- na anti-influenza (gripe) anualmente e a vaci- na antipneumocócica polivalente, devendo-se esperar um intervalo de pelo menos cinco anos para repetição da dose. A vacina anti- -Haemophilus influenzae não está indicada (leia a questão a seguir!). isso já caiu em prova! Veja só! RESIDÊNCIA MÉDICA – 2006 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – USP Homem de 69 anos de idade, fumante, com diagnóstico de enfisema pulmonar há 10 anos, comparece a Unidade Básica de Saú- de em busca de orientação sobre vacinas. Informa ser procedente do interior de Santa Catarina, onde morou em zona rural até há três anos. Não sabe referir sobre prévia de vacinação. Aborde os imunógenos indicados para esse indivíduo. a) Anti-influenza, antipneumocócica, dupla- -adulto. b) Tríplice viral (MMR), tríplice bacteriana (DPT), hepatites A e B. c) Influenza, Haemophilos influenzae grupo B, hepatite B. d) Antiamarílica, Salk, antipneumocócica. e) BCG intradérmico, dupla-adulto, antime- ningocócica. Os portadores de DPOC devem ser vacina- dos anualmente contra gripe e a cada cinco anos com a vacina antipneumocócica poliva- lente 23. Podem, e devem, também ser vaci- nados contra tétano, difteria e hepatite B, como todos os demais indivíduos. Contudo, não há indicação para vacinação contra hemófilo, vis- to que a vacina disponível é eficaz contra o H. influenzae tipo B, capsulado, e não contra o H. influenzae não tipável (sem cápsula polissaca- rídea), o principal responsável pelas agudiza- ções nos pacientes com DPOC. A opção cor- reta é a letra A. 3- Reabilitação pulmonar Exercícios físicos programados e supervisionados por profissionais especializados demonstraram trazer um grande benefício na melhora sintomática nos pacientes com DPOC. Foram realizados estudos pequenos e de curta duração que não demonstraram redução do número de mortes. ClíniCa MédiCa - VoluMe 13 69Medgrupo - CiClo 2: M.E.D RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 HOSPITAL DAS CLÍNICAS DE PORTO ALEGRE – HCPA A reabilitação pulmonar está indicada para pacientes com doenças pulmonares crônicas que apresentem sintomas apesar de tratamen- to medicamentoso adequado. Qual dos se- guintes componentes da reabilitação pulmonar deve ser oferecido a todos estes pacientes? a) Exercícios de membros inferiores em estei- ra ou bicicleta. b) Treinamento da musculatura acessória da respiração. c) Oxigênio durante o treinamento de reabili- tação. d) Treinamento da musculatura inspiratória. e) Medicamentos anabólicos. Questão difícil, muito específica (pra não dizer infeliz), que foi tirada do GOLD. Lá é descrito o programa de reabilitação, citando os exercícios em esteira e bicicleta como de comprovado benefício. As demais alternati- vas citadas pela questão são até menciona- das no guideline, não são de benefício com- provado para todos os pacientes. Questão sem dúvida mais adequada para uma prova para fisioterapeuta do que residência médi- ca. Resposta letra A. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA – UNB Um paciente de 75 anos de idade tabagista de 50 maços por ano informa apresentar tos- se matinal desde os 50 anos de idade. Pas- sados 10 anos, começou a sentir a associação de dispneia aos esforços moderados e gripes frequentes. Tais sintomas intensificaram-se em uma frequência de pelos menos 4 meses ao longo do ano. Resolveu-se buscar assis- tência médica a partir do momento em que notou grande dificuldade para barbear-se e tomar banho sozinho. O exame físico revelou redução global do murmúrio vesicular. A ra- diografia de tórax mostrou retificação da cú- pula diafragmática. Com relação da espirome- tria, identificou-se capacidade vital forçada (CVF) a 60% do previsto, com VEF1 a 30% do previsto e índice de Tiffenau com valor de 50% sem resposta ao uso do broncodilatador. Com referência ao quadro clínico acima, julgue os itens que se seguem. Programa de reabilitação pulmonar deve ser incluído no plano terapêutico do paciente. a) CERTO. b) ERRADO. Embora não esteja claramente comprovada uma efetiva redução na frequência de interna- ções e na mortalidade, por exemplo, sabe-se que a reabilitação pulmonar melhora a quali- dade de vida do portador de DPOC, reduzindo o grau de dispneia. Correta. O grau de comprometimento da doença pode ser classificado como moderado, pois ainda não há evidências de cor pulmona- le nem a necessidade do uso do oxigênio suplementar. a) CERTO. b) ERRADO. Este paciente apresenta índice de Tiffe- neau < 70%, compatível com o diagnóstico de DPOC, e VEF1 ≥ 30% e < 50% do previs- to, caracterizando DPOC GOLD III (grave). Errada. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2007 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS – UNICAMP Homem, 54 anos, há 2 anos com falta de ar progressiva, tosse produtiva e chiados no pei- to. Antecedentes:tabagismo (40 cigarros/dia) por 30 anos, interrompido há 2 anos. Exame físico: aumento do diâmetro anteroposterior do tórax, hipersonoridade, murmúrio vesicular (MV) diminuído globalmente, estertores sub- crepitantes em bases pulmonares; hiperfone- se de 2ª bulha no foco pulmonar. Radiografia simples de tórax: pulmões hiperinsuflados. Assinale a alternativa CORRETA: a) Não há necessidade de espirometria e ga- sometria arterial para indicação de oxigenote- rapia domiciliar. b) O uso de corticosteroides está contraindicado. c) A cintilografia determinando ventilação/ perfusão é obrigatória para confirmar o diag- nóstico de doença pulmonar obstrutiva crôni- ca (DPOC). d) A reabilitação pulmonar, além de melho- rar a qualidade de vida, melhora significativa- mente a função pulmonar. e) A interrupção do tabagismo não impede a progressão de todos os sintomas e sinais. Temos no enunciado um caso clássico de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), alguém duvida? Carga tabágica elevada, aumento do diâmetro anteroposte- rior do tórax, hipersonoridade à percussão... A gasometria arterial, por determinar a PaO2, e a espirometria, por classificar os pacien- tes em estágios, são fundamentais para a indicação de oxigênio domiciliar em pacien- tes com DPOC. O corticosteroide inalatório pode ser empregado na terapia de manuten- ção do DPOC avançado, além disto, é reco- mendado nas exacerbações. A cintilografia não é método diagnóstico empregado nesta doença. Os programas de reabilitação pul- monar melhoram a qualidade de vida, mas alguns estudos têm demonstrado que o nú- mero de internações hospitalares é o mes- mo entre doentes que participam e aqueles que não participam de programas de reabili- tação, embora os primeiros tenham um tem- po de internação mais curto. Sem dúvida, a reabilitação melhora a qualidade de vida re- presentada por atenuação na dispneia e fa- diga. A expressão “significativamente” torna a alternativa D errada. A interrupção do fumo é estratégia fundamental, porém não impede totalmente a progressão da doença. Qual a resposta certa? A letra E. ClíniCa MédiCa - VoluMe 13 70Medgrupo - CiClo 2: M.E.D 4- Oxigenoterapia domiciliar Está indicada, segundo o GOLD, nos seguin- tes casos, de acordo com a gasometria em ar ambiente em pacientes clinicamente estáveis: PaO2 ≤ 55 mmHg ou SatO2 < 88% em repouso PaO2 entre 55 e 60 mmHg ou SaO2 de 89% associada a policitemia (Ht > 55%) ou cor pulmonale ou hipertensão pulmonar O uso do oxigênio a baixo fluxo (1-3L/min) durante no mínimo 15 horas por dia aumen- ta a sobrevida do paciente com DPOC que preenche pelo menos um dos critérios. Além disso, melhora a qualidade de vida, ao aliviar os sintomas do tipo cansaço, dificuldade de concentração, edema de membros inferiores e dispneia. O objetivo é manter a PaO2 ≥ 60 mmHg e a SatO2 ≥ 90%. Duvidamos que você esqueça as indicações de oxigenoterapia na dPoC! Faça um teste! RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PEDRO ER- NESTO – UERJ Com 67 anos completos, paciente é vigia no- turno aposentado há 10 anos. Desde os 20 anos, enquanto trabalhou, fumou cerca de 40 cigarros por dia. Hoje, tem dispneia aos pequenos esforços e tosse crônica, apesar de usar medicamentos prescritos. Tem diag- nóstico de doença pulmonar obstrutiva crô- nica. Em estado basal nos últimos meses, o exame físico revela aumento do diâmetro anteroposterior do tórax, murmúrio vesicular universalmente diminuído e raros sibilos. Seu hematócrito costuma ser em torno de 55% e a gasometria arterial mostra pH: 7,36, PaO2: 55 mmHg, PaCO2: 50 mmHg e SO2: 86%. A medida terapêutica de manutenção mais pro- vavelmente benéfica, no sentido de prolon- gar a sobrevida do paciente, seria: a) Corticosteroides orais. b) Corticosteroides inalatórios. c) Suplementação de oxigênio. d) β2-agonista de longa duração. De todas as ferramentas disponíveis para o manejo terapêutico de pacientes portado- res de DPOC, apenas três mostraram redu- ção da mortalidade: Abstinência ao tabagis- mo; Oxigenoterapia domiciliar nos pacientes francamente hipoxêmicos; Transplante de pulmão. Nesse contexto, existem algumas indicações de oxigenoterapia domiciliar, as quais encontram-se listadas a seguir: PaO2 ≤ 55 mmHg OU SaO2 ≤ 88% em repouso; PaO2 entre 55-60 mmHg OU SaO2 de 89% com evidências de cor pulmonale ou policitemia (Ht > 55%). Como o paciente da questão pos- sui evidências de hipoxemia grave (SaO2 de 86% e PaO2 de 55 mmHg), a terapia dentre as listadas que comprovadamente aumenta a sobrevida nesta situação é a suplementação de oxigênio. Observe que nem precisaríamos recorrer ao hematócrito, já que a SaO2 ≤ 88% por si só já indicaria a oxigenoterapia. Res- posta: Letra C. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE DE SANTA CATARINA – SC Em relação à oxigenoterapia no paciente DPOC, assinale (V) para VERDADEIRO ou (F) para FALSO para as afirmativas abaixo: ( ) Está indicado quando PaO2 entre 55 e 60 ou saturação de O2 entre 88% e 90% associados a evidências de cor pulmonale ou hematócrito inferior a 55%. ( ) Deve ser indicado considerando gasometria arterial coletada após compensação clínica. ( ) O aumento na sobrevida é proporcional ao número de horas de uso. A sequência CORRETA, de cima para baixo, é: a) F – V – F. b) V – V – F. c) F – V – V. d) V – F – V. e) V – V – V. Vamos analisar cada uma das assertivas. Assertiva 1: É falsa. Em geral, as indicações de oxigenoterapia são as seguintes: * Pa O2 ≤ 55 mmHg ou SatO2 menor ou igual a 88% ou * PaO2 de 55 a 60 mmHg ou SaO2 de 89% associada a: - Evidência de cor pulmonale; e/ ou - Hipertensão pulmonar; e/ou - Hematócri- to MAIOR (e não menor) que 55%. Assertiva 2: É verdadeira. Em geral, a gasometria deve ser coletada cerca de 48 horas após a alta hospitalar. É importante que o paciente este- ja clinicamente compensado, ou seja, “zerado” de qualquer condição que possa implicar em hipoxemia para podermos afirmar que a ne- cessidade da oxigenoterapia se faz somente pela gravidade da doença pulmonar de base. Assertiva 3: É verdadeira. Alguns estudos clí- nicos como o Nocturnal Oxygen Therapy Trial (NOTT) e o Medical Research Council (MRC) trial, demonstraram maior sobrevida naque- les pacientes que usaram oxigênio durante a maior parte das horas do dia (pelo menos 15h). Assim, a sequência correta é F – V – V (letra C). 4) tratamento cirúrgico Cirurgia de “bulectomia” A ressecção de grandes bolhas pulmonares que possam estar comprimindo o parênqui- ma subjacente, melhorando a troca gasosa e a função pulmonar. Cirurgia pneumorredutora (cirurgia de Brantigan) É a ressecção de uma porção dos lobos su- periores. O objetivo da cirurgia é reduzir o ClíniCa MédiCa - VoluMe 13 71Medgrupo - CiClo 2: M.E.D volume pulmonar, permitindo o reposiciona- mento das hemicúpulas diafragmáticas. Em- bora seja uma cirurgia de alto risco, os estu- dos recentes demonstraram que o benefício é maior que o risco para o seguinte grupo de pacientes com DPOC: • Indicação: DPOC estágio III ou IV com enfi- sema de grande predomínio em lobos supe- riores e baixa capacidade de exercício físico após 3-6 meses de reabilitação supervisio- nada. Não usar nos casos de VEF1 inferior a 20% do previsto, DLCO2 inferior a 20% do previsto e enfisema homogêneo (sem pre- domínio em lobos superiores). Transplante de pulmão É reservado aos casos de DPOC grave ou muito grave, ou escore BODE entre 7 e 10, que possuem contraindicação à cirurgia pneumorredutora, sem possibilidades tera- pêuticas clínicas ou cirúrgicas, sem comor- bidades, com idade < 65 anos e que suspen- deram comprovadamente o tabagismo (por mais de 3 meses). Quais medidas comprovadamente reduzem a mortalidade na DPOC?• Interrupção do tabagismo • Oxigenoterapia nos pacientes francamen- te hipoxêmicos (seguindo as indicações) • Transplante de pulmão RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 HOSPITAL DO CÂNCER – INSTITUTO DO CÂNCER DO CEARÁ – HC – ICC Sobre as intervenções terapêuticas em pa- cientes com doença pulmonar obstrutiva crô- nica (DPOC) assinale o INCORRETO. a) A interrupção do tabagismo não deve ser priorizada uma vez que as lesões já estão estabelecidas. b) A intervenção farmacológica que melhor pode mudar a história natural da doença é a oxigenoterapia suplementar. c) Vacinação antipneumocócica deve ser ofe- recida para um melhor controle das exacer- bações infecciosas. d) O uso de broncodilatadores (ipatrópio e simpaticomiméticos) pode ter papel no alívio dos sintomas. e) Programa de reabilitação pulmonar com exercício aeróbico deve ser encorajado. A interrupção do fumo nos portadores de DPOC é estratégia fundamental, pois, apesar de não impedir totalmente a progressão da doença, está associada a redução da mortali- dade. Portanto, opção A incorreta. As demais alternativas são corretas e autoexplicativas. abordagem das exacerbações agudas da Dpoc Como se define uma exacerbação aguda da DPOC? Entende-se por “exacerbação da DPOC” o que na prática conhecemos como “DPOC descompensada”. É, na verdade, um estado de piora aguda e sustentada dos sintomas da doença, com dispneia e alte- ração do escarro (da cor ou do volume). Os sintomas cardinais que sugerem exacer- bação aguda por infecção respiratória são: dispneia, aumento do volume do escarro e escarro purulento. A exacerbação pode ser classificada como LEVE (tratada apenas com broncodilatadores de ação curta), MODERADA (também tratada ambulatorialmente, mas requerendo também antibiótico e/ou corticoide oral) e GRAVE (re- querendo internação hospitalar e frequente- mente associada à insuficiência respiratória). Também podemos classificar as exacerba- ções de acordo com o grau de insuficiência respiratória: • Sem insuficiência respiratória: FR até 30/ min, sem uso de musculatura acessória, sem alteração do estado mental, melhora da hi- poxemia com oxigênio suplementar via más- cara de Venturi (28-35% FiO2), sem aumento da PaCO2. • Com insuficiência respiratória, sem risco de vida: FR > 30/min, uso de musculatura acessó- ria, sem alteração do estado mental, melhora da hipoxemia com oxigênio suplementar via máscara de Venturi (35-40% FiO2), hipercap- nia (PaCO2 50-60 mmHg ou elevado em rela- ção ao basal). • Com insuficiência respiratória e risco de vida: FR > 30/min, uso de musculatura acessória, alteração aguda do estado mental, sem melho- ra da hipoxemia com oxigênio suplementar via máscara de Venturi (ou necessidade de FiO2 > 40%), hipercapnia (PaCO2 > 60 mmHg ou elevado em relação ao basal) ou acidose (pH < 7,25). A causa mais comum é a infecção respiratória (alta: traqueobronquite ou baixa: pneumonia), que pode ser viral (ex.: Influenza) ou bacteria- na. As três bactérias mais incriminadas são: • Haemophilus influenzae (responsável por 50% dos casos); • Streptococcus pneumoniae (pneumococo); • Moraxella catarrhalis. Nos casos mais graves, tem-se detectado presença de gram-negativos entéricos e Pseu- domonas aeruginosa. Durante a exacerbação da DPOC as vias aé- reas tornam-se mais inflamadas, mais secre- tivas e adquirem maior tônus muscular. ClíniCa MédiCa - VoluMe 13 72Medgrupo - CiClo 2: M.E.D RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 HOSPITAL DAS CLÍNICAS DE GOIÁS – GO Na descompensação infecciosa de causa bac- teriana em portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica, os três principais agentes causais, em ordem decrescente de importân- cia, são: a) Streptococcus pneumoniae, Mycoplasma pneumoniae e Chlamydophila pneumoniae. b) Streptococcus pneumoniae, bacilos Gram- negativos e Haemophilus influenzae. c) Haemophilus influenzae, Streptococcus pneumoniae e Moraxella Cattarhalis. d) Haemophilus influenzae, Streptococcus pneumoniae e Mycoplasma pneumoniae. As infecções bacterianas respiratórias podem precipitar casos de exacerbação de DPOC, sendo o Haemophilus influenzae o principal responsável (até 50% dos casos). O Streptococcus pneumoniae e a Moraxella catarrhalis estão a seguir, isolados em até cerca de 26 e 21% dos casos, respectiva- mente. Resposta: C. Como tratar a exacerbação aguda da DPOC? É importante avaliar o paciente quanto à gravi- dade da exacerbação. Nos casos mais leves, é possível a terapia domiciliar; nos casos mais graves, a hospitalização é mandatória. Na maioria dos casos o quadro clínico do pacien- te não deixa dúvida quanto à indicação ou não de internação hospitalar. Devem ser internados pacientes que apresentem sinais de gravidade, como piora súbita da dispneia, taquipneia impor- tante, hipoxemia, confusão mental, insuficiência respiratória aguda, cianose, piora do edema periférico, que não apresentem melhora com o tratamento inicial, que apresentem comorbida- des como ICC, arritmias agudas, ou que não tenham suporte domiciliar adequado. Vejamos os principais itens terapêuticos para o controle agudo desses pacientes. 1 – Assistência Ventilatória Nos pacientes com hipoxemia, a oxigenote- rapia a baixo fluxo é obrigatória. Deve-se manter a oximetria de pulso entre 90 e 92%, evitando sempre a hiperoxemia. A hipoxemia da DPOC responde muito bem a baixos flu- xos de oxigênio, como 1-3 litros por minuto. No paciente com nível de consciência preser- vado, mas com desconforto respiratório impor- tante (tiragem intercostal, uso de musculatura acessória), pH < 7,35 e/ou PCO2 > 45 mmHg, a ventilação não invasiva (CPAP ou BiPAP com máscara ajustada) pode trazer um gran- de alívio, evitando em muitos casos a necessi- dade de intubação e ventilação mecânica. Nos pacientes com falha à VNI, rebaixamen- to da consciência ou sinais de instabilidade Lembre que os pacientes retento- res crônicos de CO2 apresentam centro respiratório pouco sensível à hipercapnia, dependendo de níveis mais baixos de PaO2 para que ocorra estímulo respiratório pelo bulbo. Assim, se você tiver em sua enfermaria um paciente com DPOC que necessite de oxi- genoterapia, tenha sempre MUITO CUIDADO ao controlar o fluxo de O2. Aqui não vale a máxima de “ainda está um pouco dispneico, vou aumentar o fluxo de O2”! DE JEITO NENHUM! A hiperoxemia (altos fluxos de oxigênio) pode promover retenção aguda de CO2 (carbonarcose) no paciente com DPOC avançado, causando de- pressão do nível de consciência! Sempre mantenha o fluxo de O2 entre 1 e 3 litros/minuto. hemodinâmica, a intubação endotraqueal + ventilação mecânica deve ser providenciada de imediato. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014 INSTITUTO DE CARDIOLOGIA DO RIO GRANDE DO SUL – RS A melhor estratégia de ventilação mecânica inicialmente para um paciente com DPOC descompensado é: a) Ventilação não invasiva com CPAP (pressão positiva contínua nas vias aéreas) ou suporte pressórico. b) Ventilação mecânica com volume controlado. c) Ventilação na modalidade de SIMV (ventilação mandatória intermitente sincronizada). d) Ventilação mecânica com pressão controlada. e) Ventilação com volume controlado e uso de PEEP de 15 cm de H2O. A DPOC descompensada representa uma das principais indicações de VNI (ventilação mecânica não invasiva) em que o grande benefício deste método ventilatório encon- tra-se amplamente demonstrado na literatu- ra! É claro que o paciente não deve apre- sentar nenhuma CONTRAINDICAÇÃO à VNI (ex.: instabilidade hemodinâmica, rebaixa- mento do sensório, sinais de fadiga respira- tória como a “respiração paradoxal”, carac- terizada pela retração do abdome durante a inspiração – indício de hipocontratilida- de diafragmática). Se houver qualquer con- traindicação o paciente deveser intubado. Podemos afirmar que a VNI é o “melhor” método ventilatório, portanto, pelo seguinte motivo (meio óbvio, diga-se de passagem): trata-se de método não invasivo que pode evitar a necessidade de sedação e intuba- ção, o que comprovadamente aumenta o risco de complicações como a pneumonia nosocomial e o delirium, ambos aumentando os custos, a duração da internação e, prin- cipalmente, a morbimortalidade. Logo, sem- pre que possível é preferível fazer VNI nes- ses doentes. Resposta certa: A. ClíniCa MédiCa - VoluMe 13 73Medgrupo - CiClo 2: M.E.D 2 – Broncodilatadores Inalatórios Os Broncodilatadores Inalatórios estão sem- pre indicados (tal como na crise asmática)! Uti- lizam-se β2-agonistas de curta ação (fenoterol , salbutamol ou terbutalina) em conjunto com um anticolinérgico (brometo de ipratrópio). As “doses” são semelhantes às descritas para a crise asmática: • β2-agonistas de curta ação: 4-8 jatos com espaçador ou NBZ com 10-20 gotas. • Brometo de ipratrópio: 3 jatos com espaçador ou NBZ com 20-40 gotas. (o β2-agonista de curta ação e o brometo de ipratrópio podem ser colocados na mesma solu- ção de NBZ; por exemplo, 10 gotas de Berotec + 20 gotas de Atrovent + 3 ml de SF 0,9%). O esquema também recomendado pode ser: • Fazer “doses” com intervalo de 20-30 minutos na primeira hora. • Se houver boa resposta: passar os intervalos para 4/4h e depois para 6/6h. • Se não houver boa resposta, manter as “do- ses” com intervalos de 1-2h. O esquema posológico varia de acordo com a gravidade dos sintomas e a res- posta terapêutica às “doses” anteriores. Não devemos “poupar” os broncodilata- dores na crise de exacerbação da DPOC! 3 – Corticoides Os corticosteroides sistêmicos estão sem- pre indicados na exacerbação da DPOC com dispneia. Geralmente, a prednisona 40 mg/dia é suficiente, sendo classicamente prescrita du- rante 10-14 dias. Contudo, um estudo publicado no Journal of the American Medical Association (JAMA) em 2013, denominado REDUCE, com- provou que 5 dias de prednisona (dose diária de 40 mg) teriam a mesma eficácia que o curso mais longo (14 dias). Dessa forma, a nova edi- ção do GOLD já recomenda o corticoide duran- te apenas 5 dias nas exacerbações da DPOC. Nos casos mais graves, pode-se iniciar com corticoide venoso, como a metilprednisolo- na (droga de escolha) – 0,5 a 1 mg/kg/dose (ou 62,5 – 125 mg) de 6/6 ou 8/8 horas du- rante 72 horas, passando depois para o cor- ticoide oral. • Vários estudos demonstraram que a corticote- rapia sistêmica na exacerbação da DPOC ace- lera a melhora dos sintomas e reduz o tempo de internação, além de diminuir a chance de recidiva nos próximos meses, conforme alguns estudos realizados até o momento, inclusive um publicado pela revista Chest em 2015. • Não há necessidade de se manter a pred- nisona indefinidamente. A indicação de corticoide inalatório na DPOC estável já foi comentada anteriormente. 4 – Antibióticos Estão indicados? Na maioria das vezes sim! Segundo o GOLD, a indicação correta de antibioticoterapia na exacerbação da DPOC é a presença de escarro purulento associa- do a pelo menos um dos outros dois sinto- mas cardinais (piora da dispneia, aumento do volume do escarro), embora outras refe- rências admitam apenas a presença de dois sintomas cardinais quaisquer. Além disso, também é indicado para os pacientes com DPOC descompensado e necessidade de ventilação mecânica. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE GOIÁS – GO São critérios mínimos necessários para diag- nosticar-se exacerbação aguda infecciosa e iniciar antibioticoterapia, em pacientes com doenças pulmonar obstrutiva crônica: a) Leucocitose e infiltrado pulmonar na radio- grafia de tórax. b) Febre acima de 38°C e tosse. c) Hiperinsuflação pulmonar, sibilos e tosse produtiva. d) Aumento da dispneia e do volume da expec- toração, aspecto purulento à expectoração. Tem que saber! Os critérios que autorizam o início imediato de antibioticoterapia empírica no contexto de um portador de DPOC são: (1) aumento da dispneia, (2) escarro purulento, (3) aumento da tosse. É preciso ter, pelo menos, dois desses parâmetros aparecendo de forma não usual, isto é, a piora não pode ser explicada pela variação circadiana normalmente observada na DPOC (é “piora” mesmo). Resposta certa: D. Quais antibióticos devem ser escolhidos? Bem... Lembre-se das três principais bacté- rias que devem ser cobertas (H. Influenzae, S. pneumoniae, M. catarrhalis). O antibiótico depende da flora bacteriana local e da presença de fatores de risco para infecção por Pseudomonas (vide no final da tabela a se- guir). Não havendo fatores de risco (grupo A), o tratamento inicial pode ser a amoxicilina-cla- vulanato, uma tetraciclina ou um macrolídeo. Pacientes do grupo B devem ser tratados pre- ferencialmente com uma quinolona respiratória e os do grupo C com uma droga com ação an- tiPseudomonas (quinolona ou betalactâmico). Agora deve ter ficado bem claro para você! Quais são as três drogas que compõem a base do tra- tamento das exacerbações agudas da DPOC? - ATB (quando indicados – dois ou três sintomas cardinais) - Broncodilatadores - Corticoide sistêmico (oral ou IV, dependendo da gravidade) ClíniCa MédiCa - VoluMe 13 74Medgrupo - CiClo 2: M.E.D Outro ponto que deve ser lembrado é a necessidade de profilaxia para TVP/TEP nesses pa- cientes internados! tabela 2: Estratificação de pacientes com DPOC para tratamento antibiótico e potenciais micro-organismos envolvidos em cada grupo. Grupo A B C Definição Exacerbações leves; nenhum fator de risco para prognósti- co adverso* Exacerbação moderada com fator(es) de risco para prog- nóstico adverso. Exacerbação grave com fato- res de risco para infecção por Pseudomonas aeruginosa**. Micro-organismos envolvidos H. influenzae S. pneumoniae M. catarrarhalis Chlamydia pneumoniae Vírus Mesmos micro-organismos do grupo A + S. pneumoniae resistente à penicilina e Enterobacteriaceae (K. pneumoniae, E. coli, Proteus sp., Enterobacter sp., etc. Mesmos micro-organismos do Grupo B + Pseudomo- nas aeruginosa. * Fatores de risco para prognóstico adverso: presença de comorbidades, DPOC grave, exacerbações fre- quentes (> 3 por ano), uso de antibiótico nos últimos 3 meses. ** Fatores de risco para infecção por Pseudomonas aeruginosa: exacerbação grave, internação recente, uso frequente de antibiótico (4 vezes ou mais no último ano), isolamento de Pseudomonas durante exacerbação prévia, colonização prévia. Vamos agora resolver algumas questões? RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – SP Paciente de 50 anos, masculino, etilista e ta- bagista, comparece ao ambulatório trazido por familiares em cadeira de rodas, referindo tos- se sem expectoração há 20 anos e progressi- va dependência para atividades de rotina nesse período, com dispneia atualmente aos mínimos esforços. Como antecedentes pes- soais, refere que no último ano ficou internado em 4 ocasiões, sendo prescrito brometo de tiotrópio e formoterol, medicamentos que está usando regularmente. Ao exame físico, apre- senta condições ruins de higiene, incapacida- de para autossustentação e taquidispneia (FR 25 ipm), com SatO2 86%; a palpação revela frêmito tóraco-vocal diminuído; a ausculta pul- monar revela murmúrio vesicular presente diminuído difusamente, com roncos difusos. O restante do exame é normal. Os familiares trazem espirometria realizada há 1 semana, que evidencia VEF1 = 20% do previsto, com relação VEF1/CVF=50% pós-broncodilatador. A gasometria arterial colhida é a seguinte: pH 7,25; PaCO2 55mmHg; PaO2 53 mmHg; BE -6 mEq/l; BIC 18 mEq/l; SatO2 86%. Qual a hipó- tese diagnóstica
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