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Processo Civil IV 1 AULA 1 – 06/02/2017 AÇÃO MONITÓRIA A partir do art. 700, CPC Existem algumas demandas que possuem, por uma escolha do legislador, procedimento específico: os chamados procedimentos especiais. A ação monitória é uma dessas ações que seguem um procedimento próprio, que está previsto a partir do art. 700 do CPC. Todas as ações que possuem procedimentos especiais seguem regras procedimentais próprias, e utilizam subsidiariamente o procedimento comum, previsto no CPC. Imagine que foi proposta uma ação monitória e determinado ato processual precisa ser realizado, o operador do direito recorrerá aos artigos correspondentes ao procedimento da monitória. Se houver regra específica a respeito do procedimento, esta será utilizada. Se inexistir regra específica, recorrer-se-á ao procedimento comum, utilizado subsidiariamente. O procedimento comum, por ser o básico, irradia os seus efeitos em todo o sistema processual. O art. 700 prevê a ação monitória: Art. 700. A ação monitória pode ser proposta por aquele que afirmar, com base em prova escrita sem eficácia de título executivo, ter direito de exigir do devedor capaz: (...) O NCPC avançou muito em relação ao CPC/73. No código antigo, o cabimento da ação monitória se restringia a obrigações de pagar e obrigações de dar coisa, desde que a coisa fosse fungível. O legislador de 2015 ampliou o cabimento, de modo que a ação monitória poderá ser proposta por aquele que tem uma prova escrita sem eficácia executiva, consignando na prova qualquer tipo de obrigação, podendo ser de pagar, dar (fungível ou infungível), fazer ou não fazer. Se o credor dispõe de título executivo, deverá ajuizar a ação de execução. Se o título executivo é judicial, significa dizer que ele já passou por uma fase de conhecimento. Se ele tem título executivo extrajudicial, poderá desde logo ingressar com ação de execução. Portanto, para a monitória, é necessária a presença de um documento escrito que não seja título executivo. Alguns exemplos de documentos que podem instruir ações monitórias: Processo Civil IV 2 Um documento assinado por credor e devedor no qual o devedor reconhece que deve. Esse mesmo documento teria eficácia executiva se duas testemunhas assinassem o documento, de modo que o credor poderia ir diretamente para a execução. Sem as assinaturas das testemunhas há uma prova documental que embasa uma ação de conhecimento (monitória), mas que não pode embasar uma ação de execução. Quando se pede um cartão de crédito, geralmente o cliente preenche um formulário, manda para a operadora de cartão de crédito e aguarda a verificação. Quando a proposta é acolhida pela administradora, o cartão é mandado pelo correio. O documento assinado para a solicitação do cartão de crédito não é um título executivo, pois não é considerado um contrato. É considerado, para fins legais, uma proposta de solicitação, até porque muitas vezes quem pede não tem acolhido o seu pedido. Aquele documento pode instruir ação monitória, pois é uma prova escrita. Outro exemplo é a troca de e-mails, pois pode ficar delimitada a obrigação de dar e a obrigação de pagar. No caso de conversas no Whatsapp há prova eletrônica. Não se pode pura e simplesmente imprimir os prints do Whatsapp e usar como prova. Pode, contudo, levar o celular para um tabelião no cartório, a fim de que ele lavre uma ata notarial, que é um documento escrito, no qual há, inclusive, presunção de veracidade, por conta da fé pública do tabelião. O tabelião afirmará que, analisando um aparelho de celular iPhone, visualizou o Whatsapp e pôde constatar a ocorrência de conversa nos determinados dias e horários. Assim, a conversa no Whatsapp foi transformada em prova documental. A SKY pode cobrar com base na fatura mensal, que é prova escrita ensejadora de ação monitória. Cheque prescrito pode instruir monitória, pois o valor que consta no cheque não deixou de ser devido. Processo Civil IV 3 AULA 2 – 08/02/2017 AÇÃO MONITÓRIA A partir do art. 700, CPC Diante do rito especial, é possível a constituição do título executivo de uma forma muito mais rápida do que acontece se fosse ajuizada ação de cobrança, que seguiria o rito comum. A lei prevê que o juiz, ao receber a petição inicial, se estiver convencido do documento escrito apresentado pelo requerente, existe a possibilidade de deferimento de mandado imediato de pagamento. Trata-se, portanto, de acolhimento da petição inicial com a determinação de um mandado de injunção, para que o réu pague, entregue, faça ou deixe de fazer, dependendo do tipo de obrigação. Dentro dessa perspectiva, se o réu, uma vez citado, pagar, fizer, deixar de fazer ou entregar a coisa objeto do litígio, a pretensão do autor já estará satisfeita, sem que haja a necessidade de passar por todo o procedimento. A ação monitória é extremamente vantajosa, porque com base em prova escrita apresentada pelo autor, antes mesmo do réu se manifestar, já há a possibilidade de mandado de injunção. A escolha entre a ação monitória e a ação de cobrança pelo rito comum compete ao autor, pois o autor pode optar pela propositura de ação de rito comum. É uma ação de conhecimento que possui procedimento mais célere que o procedimento comum estudado anteriormente. O art. 700 aduz: Art. 700. A ação monitória pode ser proposta por aquele que afirmar, com base em prova escrita sem eficácia de título executivo, ter direito de exigir do devedor capaz: I - o pagamento de quantia em dinheiro; II - a entrega de coisa fungível ou infungível ou de bem móvel ou imóvel; III - o adimplemento de obrigação de fazer ou de não fazer. A ação monitória com base no NCPC tem cabimento bem mais amplo do que com base no CPC/73. Cabe ação monitória, por exemplo, se o cheque estiver prescrito. Se o prazo de 6 meses vencer, a dívida continua existindo, mas não pode ser objeto de Processo Civil IV 4 cobrança via execução. Portanto, há o dever de pagar e prova escrita. Essa prova escrita goza de liquidez, exigibilidade e há como identificar quem é credor e quem é devedor. Legitimidade O legitimado ativo é um suposto credor, que seja portador de uma prova escrita sem eficácia executiva. É possível a formação de um litisconsórcio entre credores? Sim, se todos estiverem constantes na prova escrita. No tocante à legitimidade passiva, o caput do art. 700 exige que o devedor seja capaz. A legitimidade passiva, portanto, para a ação monitória é restrita a devedores capazes. Incapazes, apesar de devedores, não podem ser réus na ação monitória. Como o mandado expedido na ação monitória é para pagamento, entrega, fazer ou desfazer algo, o incapaz não pode agir por conta própria dessa forma, dependendo de representação ou assistência. Não há expedição de mandado para comparecimento em audiência de conciliação. Na monitória o mandado é injuntivo e o incapaz não tem condições de, por iniciativa própria, agir de tal maneira. Injunção substantivo feminino 1. ato de injungir, de ordenar expressamente uma coisa; ordem precisa e formal. 2. influência coercitiva de leis, regras, costumes ou circunstâncias; imposição, exigência, pressão. Com base na prova escrita apresentada pelo autor, o juiz está convencido de que o autor tem que cumprir o requerido. Isso equivale a uma tutela de evidência. Por uma questão de eficácia do mandado injuntivo, as ações monitórias somente podem ser propostas contra devedores capazes. A lei fala devedor capaz, mas não se deve ter a impressão de que oréu da ação monitória necessariamente tem que ser uma pessoa física. Se for pessoa física, tem que ser capaz, mas não significa dizer que pessoas jurídicas não possam ser rés em ações monitórias. Portanto, pessoa jurídica e fazenda pública podem ser rés de ações monitórias. O principal requisito para a propositura de ação rescisória é a presença de uma prova escrita sem eficácia executiva, na qual conste uma obrigação de pagar, fazer, não fazer ou dar. Processo Civil IV 5 É possível que na mesma prova escrita constem duas ou mais obrigações, inclusive de naturezas diferentes. Em uma só prova escrita podem constar, por exemplo, uma obrigação de fazer e uma obrigação de não fazer. Nesse caso, não haverá a necessidade de propositura de duas ações monitórias, poderá ser proposta somente uma monitória e serão expedidos dois mandados: um para cada obrigação constante na mesma prova escrita. Se forem duas provas escritas contra a mesma pessoa (mesmo credor e mesmo devedor), por exemplo, também poderá ser proposta somente uma monitória. Ações monitórias não podem ser ajuizadas nos juizados especiais cíveis, pois seriam dois procedimentos especiais. Se quiser demandar no juizado especial cível, deverá respeitar o procedimento do JEC: citação para audiência de conciliação e assim por diante. O art. 700, §1º aduz o seguinte: § 1o A prova escrita pode consistir em prova oral documentada, produzida antecipadamente nos termos do art. 381. Bruna pediu dinheiro emprestado a Michel e duas testemunhas presenciaram o ato. Se Michel ajuizar uma ação monitória cobrando o dinheiro emprestado e pura e simplesmente arrolar as testemunhas, a inicial será indeferida liminarmente, em razão da ausência de prova escrita, pois Michel quer produzir provas para embasar o que alegou, de modo que somente caberá o rito comum ou dos juizados. O §1º permite que Michel entre com uma produção antecipada de provas, pedindo para ouvir as testemunhas. As testemunhas prestam seus depoimentos, confirmando que houve a negociação e, com base nesse documento, Michel poderá seguir com uma ação monitória. Da mesma forma é possível que um tabelião lavre uma ata notarial com os depoimentos das testemunhas. A prova era inicialmente oral e foi lavrada em prova escrita. Pode-se produzir prova antecipadamente e, com base nela, seguir com a ação de rito especial. A prova será, num primeiro momento, suficiente para a expedição do mandado de injunção. No CPC/73, para pedir produção antecipada de provas, era necessário provar a urgência. Contudo, no NCPC pode produzir antecipadamente qualquer prova a qualquer título. Processo Civil IV 6 Inclusive, a produção antecipada de provas pode ser um instrumento para forçar uma conciliação. O mandado de injunção diz: pague, faça, não faça ou dê em 15 dias, ou embargue a monitória. O “embargue a monitória” equivale a uma contestação. Os embargos têm efeito suspensivo. O mandado que vai ser expedido é de pagamento, fazer, não fazer ou dar ou embargar. Portanto, o devedor tem duas alternativas: ou cumpre o mandado ou se opõe à monitória com os embargos. Se ele cumpre o mandado, acabou a ação porque a obrigação foi cumprida. Se ele não cumpre o mandado e opta por embargar, esses embargos têm efeito suspensivo, suspendendo a eficácia do mandado injuntivo, de modo que a ação monitória que estava correndo no rito especial, vira uma ação de rito comum. Quando o réu embarga a monitória, a celeridade é perdida, pois vira uma ação de rito comum. Se o réu não embarga a monitória e não cumpre o mandado, a decisão inicial que determinou o processamento da monitória com a expedição do mandado é suficiente para constituir um título executivo, tanto que a lei aduz que cabe ação rescisória da decisão inaugural que acolhe o processamento da ação. Se o réu embarga a monitória ele está dizendo para o juiz que a prova escrita não tem condições de virar título executivo. O réu tem a oportunidade, através de todas as provas admitidas, provar que não tem obrigação com o autor. A ação é proposta como monitória, na petição inicial, sinalizando para o juiz que é uma demanda de conhecimento de rito especial, mas o juiz pode ou não se convencer disso. Se o juiz não se convencer de que a prova escrita não pode embasar uma ação monitória (se ele entender que aquela prova não é um documento hábil e confiável para uma monitória), o juiz intimará o autor para que ele adapte a petição inicial para o procedimento comum. Se o juiz não se convencer, ele deverá oportunizar o autor a transformar a ação monitória em ação comum. Se o autor optar por não emendar a inicial, ele extinguirá a ação monitória. § 5o Havendo dúvida quanto à idoneidade de prova documental apresentada pelo autor, o juiz intimá-lo-á para, querendo, emendar a petição inicial, adaptando-a ao procedimento comum. Há três níveis de prova escrita: 1) prova escrita com eficácia executiva, executável, 2) prova escrita sem eficácia executiva, digna de monitória, 3) prova escrita somente para ação de conhecimento comum. § 2o Na petição inicial, incumbe ao autor explicitar, conforme o caso: I - a importância devida, instruindo-a com memória de cálculo; Processo Civil IV 7 II - o valor atual da coisa reclamada; III - o conteúdo patrimonial em discussão ou o proveito econômico perseguido. A memória de cálculo é semelhante ao que se faz em ação de execução. O conteúdo patrimonial é nas hipóteses de ação de fazer ou não fazer. Por exemplo, contratou uma empreiteira para fazer um muro e ela não fez, deverá explicitar quanto custaria o muro. Processo Civil IV 8 AULA 3 – 13/02/2017 AÇÃO MONITÓRIA A partir do art. 700, CPC Na ação monitória deverá ser instruída uma cópia ou o documento original escrito sem força executiva. É o documento escrito que garante que o autor tenha a possibilidade de demandar perante o procedimento especial da ação monitória. O §2º do art. 700 prevê que a petição inicial da monitória deverá constar a importância devida, com a memória de cálculo (semelhante ao que acontece com a demanda de execução) e, se se tratar de obrigações específicas, o autor deve demonstrar o valor atual da coisa demandada (obrigação de dar) e o conteúdo atual em discussão (obrigações de fazer ou não fazer). Se o juiz verificar que o documento apresentado pelo autor não tem credibilidade, ele pode determinar que o autor promova a emenda da petição inicial, a fim de adequá-la ao procedimento comum. Ao despachar inaugurando a monitória, o juiz deverá determinar a expedição do mandado injuntivo, que é o mandado de pagamento, fazer, não fazer ou entrega. Além disso, ao despachar a inicial, o juiz deverá determinar os honorários advocatícios, de acordo com o art. 701: Art. 701. Sendo evidente o direito do autor, o juiz deferirá a expedição de mandado de pagamento, de entrega de coisa ou para execução de obrigação de fazer ou de não fazer, concedendo ao réu prazo de 15 (quinze) dias para o cumprimento e o pagamento de honorários advocatícios de cinco por cento do valor atribuído à causa. A monitória nada mais é do que uma tutela de evidência. O CPC/73 determinava que se o réu pagasse a dívida no prazo de 15 dias, ficaria isento do pagamento de honorários e custas processuais. O NCPC manteve a isenção do pagamento de custas (art. 701, §1º), contudo, estabeleceu o pagamento de honorários em 5% do proveito econômico que está sendo buscado pelo autor. É vantajoso para o advogadoque ele celebre contrato com o cliente, estabelecendo honorários de êxito, pois o advogado receberá do cliente e o advogado será remunerado através de honorários de sucumbência pagos pelo réu e dos honorários compactuados com o cliente. Petição inicial distribuída, o juiz fará a análise prévia. Se o juiz se convencer da prova apresentada pelo autor, determinará a expedição do mandado de injunção. Processo Civil IV 9 O réu, ao invés de dar cumprimento ao mandado injuntivo, pode pretender se opor à ação monitória, perdendo, assim, os benefícios estabelecidos na lei (isenção de custas e honorários em 5%). A defesa que o réu pode apresentar na ação monitória é chamada de embargos monitórios. O prazo para apresentação dos embargos monitórios é de 15 dias. Os embargos monitórios não dependem de penhora para serem apresentados. Não há a necessidade de garantia patrimonial para apresentar os embargos e, ainda assim, os embargos monitórios terão o condão de suspender o mandado injuntivo. Os embargos à execução têm natureza de ação de conhecimento incidental, enquanto os embargos monitórios equivalem a uma contestação. As matérias de defesa que um devedor pode apresentar em uma ação de rito comum poderão ser inseridas nos embargos monitórios. A manifestação do autor aos embargos monitórios é equivalente à réplica, é chamada de impugnação aos embargos monitórios. Os 15 dias para pagamento serão contados de forma corrida, porque é prazo para satisfação do direito material. O prazo para apresentação dos embargos monitórios será contado em dias úteis, porque é prazo processual. Se o réu não cumprir o mandado de injunção e não apresentar embargos à execução, a decisão que determinou a expedição do mandado vira título executivo e, sabendo que o processo é sincrético, segue-se para a execução, expedindo o mandado de pagamento, penhora e possível expropriação. Art. 701, § 2o Constituir-se-á de pleno direito o título executivo judicial, independentemente de qualquer formalidade, se não realizado o pagamento e não apresentados os embargos previstos no art. 702, observando-se, no que couber, o Título II do Livro I da Parte Especial. Se seguir para a etapa de execução, ao apresentar impugnação à execução, o réu somente poderá alegar as matérias restritas à impugnação à execução. Imagine que o réu ofereceu os embargos monitórios, portanto, os embargos monitórios suspendem a eficácia do mandado injuntivo e transformam o rito especial em rito comum. Haverá a possibilidade de audiência de saneamento, instrução processual... Muitas vezes o réu alega que a assinatura que está no documento não é sua, então deve abrir para exame grafotécnico. Terminada a instrução processual, será prolatada sentença. Processo Civil IV 10 Se o réu não apresentar embargos, a tutela de evidência vira tutela executiva. Se houver embargos monitórios a ação monitória se transforma em procedimento comum, a fim de que o juiz prolate sentença e essa sentença será título executivo judicial. Art. 702. Independentemente de prévia segurança do juízo, o réu poderá opor, nos próprios autos, no prazo previsto no art. 701, embargos à ação monitória. § 1o Os embargos podem se fundar em matéria passível de alegação como defesa no procedimento comum. § 2o Quando o réu alegar que o autor pleiteia quantia superior à devida, cumprir-lhe-á declarar de imediato o valor que entende correto, apresentando demonstrativo discriminado e atualizado da dívida. § 3o Não apontado o valor correto ou não apresentado o demonstrativo, os embargos serão liminarmente rejeitados, se esse for o seu único fundamento, e, se houver outro fundamento, os embargos serão processados, mas o juiz deixará de examinar a alegação de excesso. § 4o A oposição dos embargos suspende a eficácia da decisão referida no caput do art. 701 até o julgamento em primeiro grau. § 5o O autor será intimado para responder aos embargos no prazo de 15 (quinze) dias. § 6o Na ação monitória admite-se a reconvenção, sendo vedado o oferecimento de reconvenção à reconvenção. § 7o A critério do juiz, os embargos serão autuados em apartado, se parciais, constituindo-se de pleno direito o título executivo judicial em relação à parcela incontroversa. § 8o Rejeitados os embargos, constituir-se-á de pleno direito o título executivo judicial, prosseguindo-se o processo em observância ao disposto no Título II do Livro I da Parte Especial, no que for cabível. § 9o Cabe apelação contra a sentença que acolhe ou rejeita os embargos. § 10. O juiz condenará o autor de ação monitória proposta indevidamente e de má-fé ao pagamento, em favor do réu, de multa de até dez por cento sobre o valor da causa. § 11. O juiz condenará o réu que de má-fé opuser embargos à ação monitória ao pagamento de multa de até dez por cento sobre o valor atribuído à causa, em favor do autor. Se houver o oferecimento de embargos monitórios, transforma-se em procedimento comum, que será finalizado com a prolação de sentença e, evidentemente, o recurso cabível é a apelação. Há uma dúvida que ainda não foi efetivamente respondida pela doutrina: a sentença que julga a ação monitória é recorrível por apelação. O recurso de apelação, em regra, é recebido no efeito suspensivo, o que impede a instalação do módulo executivo. Contudo, o art. 1.012 (artigo que trata da apelação) prevê que naqueles incisos do 1.012 eventual apelação não terá efeito suspensivo, permitindo eventual execução provisória. Processo Civil IV 11 Art. 1.012. A apelação terá efeito suspensivo. § 1o Além de outras hipóteses previstas em lei, começa a produzir efeitos imediatamente após a sua publicação a sentença que: III - extingue sem resolução do mérito ou julga improcedentes os embargos do executado; Esse inciso III não pode ser interpretado de maneira ampla, em outras palavras, não se pode imaginar que porque os embargos à execução, quando julgados improcedentes, atacados pela apelação, tal recurso não terá efeito suspensivo, isso não se aplicará aos embargos monitórios. Nota-se que não há previsão específica para os embargos monitórios. Entretanto, o § que enumera os incisos aduz: além de outras hipóteses previstas em lei. A redação do § provoca problemas, porque essa afirmação deixa claro que o rol não é taxativo. Remete-se o leitor aos artigos da ação monitória, em especial o art. 702, §4º, que prevê o seguinte: § 4o A oposição dos embargos suspende a eficácia da decisão referida no caput do art. 701 até o julgamento em primeiro grau. Pode-se defender que uma eventual apelação contra a sentença dos embargos monitórios não teria efeito suspensivo, pois o § supramencionado aduz que será suspensa a eficácia da decisão até o julgamento em 1º grau. Outro ramo da doutrina sustenta o contrário, pois uma vez julgado, é preciso aguardar os 15 dias da apelação, lembrando que a sentença nasce com condição de suspensividade. Se interposta a apelação, para esse entendimento, continua o efeito suspensivo. Decisões interlocutórias deverão ser impugnadas ou em preliminar da apelação, ou via agravo de instrumento, de acordo com o cabimento do art. 1.015. Eventuais decisões omissas, contraditórias, obscuras ou com erro material deverão ser impugnadas por embargos de declaração. Ação monitória e a Fazenda Pública Quando a fazenda é devedora de obrigações de fazer, não fazer ou dar, o procedimento executivo contra ela será igual ao contra particulares. Em obrigações de pagar, há a necessidade de um procedimento de conhecimento prévio, com a sua condenação e o pagamento será por precatório. A fazenda pode ser devedora de títuloextrajudicial e o pagamento será por precatório também. Processo Civil IV 12 Como pode a ação monitória, que é ação de conhecimento, ser proposta contra a fazenda pública se ainda não há contra ela um título executivo? Pode se impor à fazenda pública pagar algo em 15 dias, se o precatório leva 1 ano? Pode. A fazenda pública pode pagar o que deve voluntariamente. Art. 700, § 6o É admissível ação monitória em face da Fazenda Pública. Para a fazenda pública cumprir com as suas obrigações, ela não precisa ser condenada a pagar. Ora, se a fazenda é demandada em uma ação monitória e entende que deve pagar, ela pode pagar. Somente se necessita de precatório quando há condenação. Se a fazenda não pagou a conta de energia de um órgão público, ela pode pagar, se perceber que está errada, assim como pode optar por oferecer embargos monitórios. Se a fazenda opta por apresentar embargos monitórios, haverá a necessidade de uma sentença condenatória lhe impondo uma obrigação. Art. 701, § 4o Sendo a ré Fazenda Pública, não apresentados os embargos previstos no art. 702, aplicar-se-á o disposto no art. 496, observando-se, a seguir, no que couber, o Título II do Livro I da Parte Especial. Esse § faz referência à remessa necessária, disposta no art. 496. Processo Civil IV 13 AULA 4 – 15/02/2017 JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS Lei 9.099/95 Como é cediço, a Lei nº 9.099/95 regulamenta o procedimento sumaríssimo nos Juizados Especiais Cíveis. Além dos JECs, existem os Juizados Fazendários: Fazendas Públicas Federais, Estaduais e Municipais. Esses juizados fazendários são regulamentados por outras duas leis, posteriores à 9.099/95. Essas três leis dos juizados especiais compõem um sistema à parte do regulamentado no CPC, de modo que as ações tramitadas nos juizados, as leis que deverão ser aplicadas prioritariamente são as específicas e, em caso de omissão legislativa, o CPC poderá ser utilizado de maneira subsidiária. A expressão juizado de pequenas causas não é correta e deve ser evitada porque dá a falsa impressão de que as causas que tramitam nos juizados são de pouca importância. As ações que são de competência dos JECs não são pequenas ações, são somente ações com menor complexidade, que não dependem de ampla instrução processual, podendo ser resolvidas com uma instrução processual mais limitada, diferentemente do que acontece com as ações que tramitam pelo procedimento comum. A instrução processual do rito sumaríssimo é mais enxuta, dada a menor complexidade daquela causa. Além disso, somente ações cujo proveito econômico pretendido seja de até 40 salários mínimos são de competência dos JECs. Princípios que regem os JECs: Os princípios informativos do procedimento sumaríssimo dos JECs estão previstos nos artigos 1º e 2º da Lei nº 9.099/95. Art. 1º Os Juizados Especiais Cíveis e Criminais, órgãos da Justiça Ordinária, serão criados pela União, no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para conciliação, processo, julgamento e execução, nas causas de sua competência. Art. 2º O processo orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação ou a transação. É princípio fundamental dos juizados a conciliação, vez que a tentativa de conciliação é obrigatória. No procedimento sumaríssimo dos juizados, desde 1995 Processo Civil IV 14 (quando foi promulgada a lei), cita-se o réu para comparecimento na audiência de conciliação. O NCPC, seguindo a tendência conciliadora que começou com a Lei nº 9.099/95, alterou o procedimento comum, a fim de citar o réu para a audiência de conciliação. Essa audiência de tentativa de conciliação não pode ser realizada somente com o propósito de respeitar o que diz a Lei nº 9.099/95, isto é, deve-se demonstrar para as partes as vantagens da conciliação. No procedimento comum, as partes podem optar por não realizar a audiência de conciliação, na petição inicial e na contestação. No procedimento sumaríssimo, contudo, isso não é possível, as partes são obrigadas a comparecer na audiência de conciliação. No procedimento comum, se a parte não comparecer à audiência de conciliação, ela será multada, pois significa ato atentatório à dignidade da justiça. No procedimento sumaríssimo, se o autor não comparecer à audiência de conciliação, o processo será arquivado. A ausência do réu, por sua vez, provoca a sua revelia. O autor não pode abdicar da audiência de conciliação, porque estaria abdicando de um dos principais princípios dos juizados. Pode-se designar também a audiência UNA, que é de conciliação, instrução e julgamento. Se a audiência é só de conciliação, basta o comparecimento do réu, ao passo que se a audiência é UNA, o réu deve levar a contestação, sob pena de decretação de sua revelia. Através do princípio da oralidade, os principais atos do procedimento sumaríssimo podem ser orais. O requerimento inicial (petição inicial), por exemplo, pode ser oral. Se a causa tiver pretensão inferior a 20 salários mínimos, não há a necessidade de advogado. Do mesmo modo, a contestação pode ser oral, na audiência de instrução e julgamento. A economia processual é outro princípio do procedimento sumaríssimo, o qual deve ser visto sob duas perspectivas: 1) até o primeiro grau haverá gratuidade da justiça (apenas a partir do recurso é que as custas são devidas), o mesmo acontece com honorários, que somente serão devidos a partir do recurso; 2) deve ser possibilitada a maior quantidade de resolução de pretensões com menor carga de trabalho por parte do judiciário. Processo Civil IV 15 Admite-se no procedimento sumaríssimo a cumulação de pedidos e de partes. Em uma mesma ação de rito sumaríssimo, pode o autor pleitear o recebimento de dano moral e dano material, sem que haja a necessidade de ajuizar duas ações. Quando houver cumulação de pedidos, a somatória deles não poderá ultrapassar 40 salários mínimos. Além disso, é possível cumular as partes, isto é, é permitido o litisconsórcio nos juizados. Em primeiro grau é permitida a ausência de advogado, contudo, se houver a necessidade de interposição de recurso ou de oferecimento de contrarrazões a um recurso, a parte deverá ter advogado. O ato de recorrer é técnico, pois existem regras da técnica recursal que somente um profissional tem conhecimento. No mais, a celeridade processual é um dos princípios dos JECs. Competência Art. 3º O Juizado Especial Cível tem competência para conciliação, processo e julgamento das causas cíveis de menor complexidade, assim consideradas: I - as causas cujo valor não exceda a quarenta vezes o salário mínimo; II - as enumeradas no art. 275, inciso II, do Código de Processo Civil; III - a ação de despejo para uso próprio; IV - as ações possessórias sobre bens imóveis de valor não excedente ao fixado no inciso I deste artigo. Os juizados têm competência para promover a execução de suas decisões. O juizado prolator da sentença, se ela não for comprida, promove-lhe a execução. Promove a execução de qualquer tipo de obrigação, inclusive. O mesmo poder de polícia que um juiz de juizado tem, é o poder de polícia do juiz de uma vara cível comum. A competência é de causas de menor complexidade, são elas: 1) proveito econômico menor de 40 salários mínimos; 2) as ações do inciso II do art. 275, que são as ações do rito sumário (antigo CPC), o procedimento sumário atendia basicamente as mesmas ações do procedimentosumaríssimo, como caiu em desuso, esse artigo perdeu o efeito, já que o rito sumário não existe mais no NCPC; 3) ação de despejo para uso próprio, se for para qualquer outra finalidade (por exemplo, comercial), não poderá ser pelo procedimento sumaríssimo; 4) ações possessórias sobre bens imóveis de valor não excedente a 40 salários mínimos. Processo Civil IV 16 É possível demandar em juizado com ações cuja pretensão seja superior a 40 salários mínimos, mas ao agir assim, o autor estará renunciando a diferença. Se demandar em pretensão de 50 salários mínimos, ele está abrindo mão dos 10 salários mínimos de diferença, exceto nos casos de conciliação. Se as partes conciliarem a condenação aos 50 salários mínimos, o juiz poderá homologar, mas não poderá, contudo, decidir condenando em 50 salários mínimos. Em casos de multa, o montante também poderá ultrapassar os 40 salários mínimos. Nas ações de despejo para uso próprio é irrelevante o valor do bem. O bem que se busca pode ser de valor superior ao de 40 salários mínimos. Se for ação de manutenção de posse, somente poderá tramitar pelo rito sumaríssimo se o bem esbulhado ou turbado for até 40 salários mínimos. A ação é abaixo de 40 salários mínimos, mas precisa da realização de uma perícia. Para tramitar em juizado, depende da complexidade da perícia. Se for uma perícia simples, há o entendimento de que pode tramitar em juizado. Se, contudo, houver a necessidade de elaboração de laudo e de trabalho complexo, não poderá tramitar em juizado. Ações monitórias não podem tramitar em juizado, porque o procedimento monitório é especial tanto quanto o sumaríssimo, de modo que haveria conflito de procedimentos. Isso não significa dizer que não se pode ajuizar no JEC ação de conhecimento com base em prova escrita. Processo Civil IV 17 AULA 5 – 20/02/2017 JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS Lei 9.099/95 Legitimidade ativa e passiva Art. 8º Não poderão ser partes, no processo instituído por esta Lei, o incapaz, o preso, as pessoas jurídicas de direito público, as empresas públicas da União, a massa falida e o insolvente civil. O artigo diz que não poderão ser partes, quer atuando como autores ou como réus, os mencionados no caput do art. 8º. O incapaz não pode ser parte por conta dos princípios que regulamentam os juizados especiais: informalidade, celeridade, simplicidade... Se fosse possível que o incapaz demandasse nos juizados, teria que ser verificado se a representação dele estava adequada, o que poderia gerar um incidente em um processo que tem que ser célere e simples. Além disso, seria complicado permitir que o incapaz fosse parte por conta do princípio conciliador dos juizados, pois o representante teria que anuir. Com relação ao preso, as partes, seja o autor ou o réu, precisam comparecer nas audiências. A audiência da parte autora em qualquer das audiências provoca o arquivamento do processo, enquanto a ausência do réu provoca a revelia. Portanto, ficaria complicado exigir que o preso estivesse presente nas audiências, pois o Estado teria que arcar com custo de deslocamento do preso até a audiência e depois o retorno dele para o presídio, fora o risco de ele conseguir escapar. As pessoas jurídicas de direito público não podem ser parte porque são rés no procedimento sumaríssimo dos juizados fazendários. Quando se pretender demandar contra a união federal, a ação deverá ser ajuizada no juizado fazendário. O mesmo vale para os estados e os municípios. Com relação à massa falida e o insolvente civil, a justificativa é de que em ambos os casos existe procedimento próprio, tanto para decretação de falência, quanto para decretação de insolvência civil. Portanto, sabendo que já são procedimentos especiais, não poderão ser feitos nos juizados, pois entrariam em conflito com o procedimento especial da Lei nº 9.099/95. Somente poderá ser autor: § 1o Somente serão admitidas a propor ação perante o Juizado Especial: I - as pessoas físicas capazes, excluídos os cessionários de direito de pessoas jurídicas; II - as pessoas enquadradas como microempreendedores individuais, microempresas e empresas de pequeno porte na forma da Lei Complementar no 123, de 14 de dezembro de 2006; Processo Civil IV 18 III - as pessoas jurídicas qualificadas como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, nos termos da Lei no 9.790, de 23 de março de 1999; IV - as sociedades de crédito ao microempreendedor, nos termos do art. 1o da Lei no 10.194, de 14 de fevereiro de 2001. Quanto ao réu, somente há restrições daqueles arrolados no caput, ou seja, não há o menor problema demandar contra grandes empresas, por exemplo. A Lei nº 9.099/95 permite a formação de litisconsórcio, seja ele necessário ou facultativo. A Lei nº 9.099/95 não permite intervenção de terceiros, em suas diversas modalidades. Art. 10. Não se admitirá, no processo, qualquer forma de intervenção de terceiro nem de assistência. Admitir-se-á o litisconsórcio. A Lei nº 9.099/95 veda a intervenção de terceiros, ocorre que o NCPC permite em sede de juizado o incidente de desconsideração da personalidade jurídica. Como o NCPC é posterior à Lei nº 9.099/95 e foi o NCPC quem trouxe essa nova modalidade de intervenção de terceiros, hoje não é mais correto se dizer que não cabe modalidade alguma de intervenção de terceiros, vez que é admitida uma modalidade de intervenção: o incidente de desconsideração da personalidade jurídica. Art. 1.062. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica aplica-se ao processo de competência dos juizados especiais. Isso faz muito sentido, uma vez que o grande cliente dos juizados é o consumidor. Um dos princípios informativos dos JECs é o da informalidade, ao lado da simplicidade, celeridade, economia. Portanto, tendo em vista a informalidade, a Lei nº 9.099/95 permite que o pedido inicial seja apresentado oralmente, bastando que o autor se dirija a um juizado e lá relate os fatos que justificariam a instauração de uma demanda. É possível, contudo, que o autor apresente pedido por escrito, evidentemente sem os rigores de uma petição inicial, nos moldes do CPC. O art. 14 da Lei nº 9.099/95 reforça a ideia da informalidade e simplicidade: Art. 14. O processo instaurar-se-á com a apresentação do pedido, escrito ou oral, à Secretaria do Juizado. § 1º Do pedido constarão, de forma simples e em linguagem acessível: Processo Civil IV 19 I - o nome, a qualificação e o endereço das partes; II - os fatos e os fundamentos, de forma sucinta; III - o objeto e seu valor. É possível que o titular do direito passe uma procuração para outra pessoa contratar um advogado, a fim de que este advogado promova uma demanda no nome do titular. Aspectos procedimentais Apresentado o requerimento inicial (oral ou escrito), o juiz determinará que se promova a citação do réu para comparecimento na audiência de conciliação ou na audiência UNA (conciliação, instrução e julgamento). Se as partes resolverem conciliar, lavra-se no termo de audiência o acordo celebrado e este será homologado por sentença. Se no acordo estiver constante obrigação de fazer, não fazer, dar ou pagar, virou um título judicial e o autor poderá requerer sua execução em caso de descumprimento. Se as partes não transigirem na audiência de conciliação, deverá ser designada nova data para audiência de instrução e julgamento. Na audiência de conciliação não há a necessidade de oferecimento da contestação. Nem todo juizadofraciona as audiências, existem juizados que optam pela realização de audiências UNAS, que serão de conciliação, instrução e julgamento. Se for UNA a audiência, deve-se apresentar a contestação (protocolar no sistema até antes da audiência), a menos que a parte queira fazer contestação oral. No procedimento sumaríssimo dos juizados não cabe reconvenção, mas cabe o chamado pedido contraposto. Essa discussão fica prejudicada no NCPC, porque no CPC/73 a contestação era apresentada em uma peça e a reconvenção em outra, contudo, no NCPC podem ser apresentadas conjuntamente a contestação e a reconvenção. O pedido contraposto deve ficar limitado ao teto de 40 salários mínimos. Não raro as sentenças são prolatadas em audiência de instrução e julgamento. Se a sentença for prolatada na audiência, todos estarão intimados no ato e o prazo começa a contar no dia seguinte à realização da audiência. As sentenças eletrônicas gerarão intimações eletrônicas. Há prazo para abertura do arquivo eletrônico de intimação, sob pena de considerar intimado o advogado que não abriu o arquivo. Processo Civil IV 20 Contra a sentença prolatada em juizado especial cível cabe embargos de declaração, no prazo de 5 dias. A Lei nº 9.099/95 previa que os embargos de declaração tinham efeito suspensivo do prazo nos JECs, e não interruptivo. Antigamente acontecia de apresentar os ED no 5º dia, suspendia o prazo de 10 para apresentação dos embargos, prolatada a decisão que julgou os ED, restava somente os 5 dias do resto do prazo de 10 dias para o recurso inominado. O NCPC determina que os embargos de declaração terão efeito interruptivo nos JECs. Art. 1.065. O art. 50 da Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995, passa a vigorar com a seguinte redação: (Vigência) “Art. 50. Os embargos de declaração interrompem o prazo para a interposição de recurso.” (NR) Quando os ED forem julgados, serão novos 10 dias para que o recurso inominado seja interposto. Os juizados adotam a contagem dos prazos processuais em dias corridos. O recurso cabível contra sentenças prolatadas nos juizados tem algumas peculiaridades e não pode ser confundido com o recurso de apelação. O recurso inominado tem prazo de 10 dias. Quem tem competência para julgar o recurso inominado são as turmas recursais dos juizados, compostas por juízes de primeiro grau, que continuam respondendo por suas varas e respondem pela turma recursal dos juizados. No recurso inominado, há a possibilidade de recolher as custas processuais no prazo de até 48h após a interposição do recurso. O único recurso cabível contra o acórdão que julga o recurso inominado é o recurso extraordinário, eis a razão: O art. 102, III, que trata do recurso extraordinário, aduz o seguinte: Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância, quando a decisão recorrida: Por sua vez, o art. 105, III, que trata do recurso especial, leciona: Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: Processo Civil IV 21 III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida: Nota-se que o inciso que trata do recurso especial fala que caberá especial contra decisões de tribunais, enquanto no art. 102, III, não há a necessidade da decisão ser oriunda de tribunal, e a turma recursal não é tribunal, portanto, caberá somente recurso extraordinário contra o acórdão que julgar o recurso inominado. Por fim, o juizado tem competência para executar suas decisões e o procedimento será igual ao procedimento de execução comum. Processo Civil IV 22 AULA 6 – 22/02/2017 JUIZADOS FAZENDÁRIOS Leis nº 10.259 e 12.153 Duas leis regulamentam o procedimento sumaríssimo dos juizados das fazendas públicas: Lei nº 10.259 e Lei nº 12.153. A Lei nº 10.259 regulamenta os juizados da fazenda federal, enquanto a Lei nº 12.153 regulamenta os juizados fazendários estaduais e municipais. Em ambos os casos, seja no juizado da fazenda federal, seja no juizado das fazendas estaduais e municipais, será aplicada subsidiariamente, a Lei nº 9.099/95. Naquilo que não estiver regulamentado pelas duas leis dos juizados fazendários, aplica-se subsidiariamente a Lei dos Juizados Especiais Cíveis. Art. 1o São instituídos os Juizados Especiais Cíveis e Criminais da Justiça Federal, aos quais se aplica, no que não conflitar com esta Lei, o disposto na Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995. Os mesmos princípios estudados na Lei nº 9.099/95 serão aplicados aos juizados fazendários: celeridade, simplicidade, informalidade, conciliação. A conciliação é plenamente viável nas demandas contra o poder público, pois ambas as leis claramente têm dispositivos voltados à conciliação. Deve-se verificar se a conciliação é vantajosa para o poder público e, caso positivo, não há óbice para realizar a conciliação. A advocacia geral da união tem uma série de instruções que são inerentes a determinadas demandas, colocando requisitos para algumas demandas e, se o sujeito se encaixar naqueles requisitos, a própria união apresenta acordo. Na Lei nº 9.099/95 há o princípio da opcionalidade, vez que o autor pode escolher pelo procedimento sumaríssimo ou por outros procedimentos, dentre eles, o comum. Em se tratando dos juizados fazendários, inexiste essa opção. A competência dos juizados fazendários é absoluta em ações de até 60 salários mínimos. Qualquer ação contra união, estados e municípios, se o valor pretendido for até 60 salários mínimos, serão de competência de juizados fazendários. Quando não existir juizado fazendário na comarca, o demandante deverá buscar o juizado fazendário mais próximo e ali apresentar o seu requerimento. O art. 3º, §3º da Lei nº 10.259 aduz: § 3o No foro onde estiver instalada Vara do Juizado Especial, a sua competência é absoluta. O art. 2º, §4º da Lei 12.153 aduz: Processo Civil IV 23 § 4o No foro onde estiver instalado Juizado Especial da Fazenda Pública, a sua competência é absoluta. Portanto, ambas as leis afastam o princípio da opcionalidade nos juizados fazendários. Além disso, o art. 20 da Lei nº 10.259 sustenta: Art. 20. Onde não houver Vara Federal, a causa poderá ser proposta no Juizado Especial Federal mais próximo do foro definido no art. 4o da Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995, vedada a aplicação desta Lei no juízo estadual. Competência A competência do juizado fazendário federal está no art. 3º da Lei nº 10.259: Art. 3o Compete ao Juizado Especial Federal Cível processar, conciliar e julgar causas de competência da Justiça Federal até o valor de sessenta salários mínimos, bem como executar as suas sentenças. Tem competência para conciliar, processar, julgar e executar. Demandas com valores superiores a 60 salários mínimos poderão ser ajuizadas nos juizados federais, mas a diferença do montante será renunciada. § 1o Não se incluem na competência do Juizado Especial Cível as causas: I - referidas no art. 109, incisos II, III e XI, da Constituição Federal, as ações de mandado de segurança, de desapropriação, de divisão e demarcação, populares, execuções fiscais e por improbidade administrativa e as demandas sobre direitos ou interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos; II -sobre bens imóveis da União, autarquias e fundações públicas federais; III - para a anulação ou cancelamento de ato administrativo federal, salvo o de natureza previdenciária e o de lançamento fiscal; IV - que tenham como objeto a impugnação da pena de demissão imposta a servidores públicos civis ou de sanções disciplinares aplicadas a militares. Segundo o inciso I, não competirá aos juizados fazendários julgar: Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: Processo Civil IV 24 II - as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa domiciliada ou residente no País; III - as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo internacional; XI - a disputa sobre direitos indígenas. Ações envolvendo estados estrangeiros ou organismos internacionais e municípios ou pessoas residentes no Brasil são de competência privativa das varas federais. Imagine que o Brasil firmou um tratado com a Inglaterra para transferência de conhecimento científico tecnológico. Se esse contrato não for cumprido, somente poderá tramitar o processo na vara federal. Finalmente, o inciso XI aduz que as ações que envolvam disputa sobre direitos indígenas não são de competência dos juizados fazendários. Nesse caso, não se fala de questões de direitos individuais de indígenas, mas em questões de direito coletivo de indígenas, será de competência privativa de varas federais. Não poderão tramitar nos juizados fazendários as ações de mandado de segurança (Lei nº 12.016). O mandado de segurança já possui um procedimento especial, o qual é totalmente conflitante com o procedimento especial nos juizados fazendários. Não existe em mandado de segurança audiência de conciliação, instrução processual, por exemplo. Não raro, são impetrados mandados de segurança contra decisões interlocutórias tomadas no procedimento sumaríssimo. Esse caso é diferente, porque o objeto do mandado de segurança não é o objeto principal da demanda. O mandado de segurança estará sendo utilizado como sucedâneo recursal, diante do fato de que decisões interlocutórias em juizados especiais cíveis são irrecorríveis. Nos juizados fazendários, as decisões interlocutórias podem ser objeto de recurso inominado. Um mandado de segurança originário não é de competência de juizado fazendário, o que pode acontecer é a necessidade de impetração de mandado de segurança contra decisão tomada por um magistrado que tem sua função atrelada a um juizado. Há um processo em curso, uma decisão irrecorrível e o mandado de segurança é usado como sucedâneo recursal. Ações de desapropriação possuem rito próprio e complexo, incompatível com a celeridade dos juizados especiais. O mesmo vale para as ações de demarcação de terras, constante no inciso II. Em ações de juizados fazendários, só quem pode ser réu é a administração pública. Nas execuções fiscais, a administração pública é a exequente credora, portanto, não podem tramitar nos juizados as execuções fiscais. Processo Civil IV 25 As ações de improbidade administrativa possuem procedimento especial. Um dos principais legitimados ativos para a ação civil pública é o MP, ao lado da defensoria. As ações civis públicas são regulamentadas por lei específica, tendo um procedimento específico. A competência dos juizados estaduais e municipais tem previsão no art. 2º da Lei nº 12.153: Art. 2o É de competência dos Juizados Especiais da Fazenda Pública processar, conciliar e julgar causas cíveis de interesse dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, até o valor de 60 (sessenta) salários mínimos. § 1o Não se incluem na competência do Juizado Especial da Fazenda Pública: I – as ações de mandado de segurança, de desapropriação, de divisão e demarcação, populares, por improbidade administrativa, execuções fiscais e as demandas sobre direitos ou interesses difusos e coletivos; II – as causas sobre bens imóveis dos Estados, Distrito Federal, Territórios e Municípios, autarquias e fundações públicas a eles vinculadas; III – as causas que tenham como objeto a impugnação da pena de demissão imposta a servidores públicos civis ou sanções disciplinares aplicadas a militares. O §1º, I, do art. 2º da Lei nº 12.153 repete o da Lei nº 10.259, exceto no que tange aos incisos do art. 109 da CF, por uma razão clara: o art. 109 fala da competência federal. Legitimidade O art. 6º da Lei nº 10.259 sustenta: Art. 6o Podem ser partes no Juizado Especial Federal Cível: I – como autores, as pessoas físicas e as microempresas e empresas de pequeno porte, assim definidas na Lei no 9.317, de 5 de dezembro de 1996; II – como rés, a União, autarquias, fundações e empresas públicas federais. As sociedades de economia mista deverão ser demandas em juizados especiais cíveis, porque seu regime jurídico é de direito privado. O art. 5º da Lei nº 12.153 aduz: Art. 5o Podem ser partes no Juizado Especial da Fazenda Pública: Processo Civil IV 26 I – como autores, as pessoas físicas e as microempresas e empresas de pequeno porte, assim definidas na Lei Complementar no 123, de 14 de dezembro de 2006; II – como réus, os Estados, o Distrito Federal, os Territórios e os Municípios, bem como autarquias, fundações e empresas públicas a eles vinculadas. Para demandar contra o Banco do Brasil, essa ação não é de competência de juizado federal, portanto, deverá ser ajuizada em juizado especial cível, porque o BB é uma sociedade de economia mista. A Caixa Econômica é uma autarquia federal, portanto, deverá ser demandada nos juizados fazendários. Para demandar contra a UFPA, a competência é dos juizados fazendários. As Leis dos juizados fazendários não falam sobre o teto para os autores sem advogado, portanto, pode-se entender pela aplicação subsidiária de 20 salários mínimos sem advogado e 60 salários mínimos com advogado. Aspectos procedimentais Nos juizados fazendários não há o benefício do prazo dobrado para o Estado. Lei nº 10.259, art. 9o Não haverá prazo diferenciado para a prática de qualquer ato processual pelas pessoas jurídicas de direito público, inclusive a interposição de recursos, devendo a citação para audiência de conciliação ser efetuada com antecedência mínima de trinta dias. Lei nº 12.153, art. 7o Não haverá prazo diferenciado para a prática de qualquer ato processual pelas pessoas jurídicas de direito público, inclusive a interposição de recursos, devendo a citação para a audiência de conciliação ser efetuada com antecedência mínima de 30 (trinta) dias. Em ações de juizados fazendários, não há remessa necessária em hipótese alguma, uma vez que o teto do juizado sequer chega ao valor necessário para a ocorrência da remessa necessária prevista no art. 496, CPC. Portanto, ou as fazendas recorrem pelo recurso inominado, ou as decisões transitam em julgado e seguem para a execução. Lei nº 10.259, art. 13. Nas causas de que trata esta Lei, não haverá reexame necessário. Lei nº 12.152, art. 11. Nas causas de que trata esta Lei, não haverá reexame necessário. Processo Civil IV 27 As audiências podem ser de conciliação ou UNAS. A defesa deverá ser apresentada de igual modo aos juizados especiais cíveis. O juiz do juizado fazendário (seja federal, estadual ou municipal) pode ver a necessidade da concessão de tutela de urgência, a qual poderá ser concedida de ofício ou mediante requerimento da parte interessada. Serão deferidas por intermédio de decisões interlocutórias. Decisões interlocutórias em juizados especiaiscíveis são decisões irrecorríveis. Nos juizados fazendários, entretanto, são recorríveis as decisões interlocutórias que concederem tutelas de urgência, dessa forma, utiliza-se o recurso inominado. Lei nº 10.259: Art. 4o O Juiz poderá, de ofício ou a requerimento das partes, deferir medidas cautelares no curso do processo, para evitar dano de difícil reparação. Art. 5o Exceto nos casos do art. 4o, somente será admitido recurso de sentença definitiva. Portanto, não é toda interlocutória que pode ser objeto de inominado, somente as que tratarem de tutela de urgência nos juizados fazendários. Decisões interlocutórias no curso de ações que tramitem em juizados fazendários não são recorríveis, contudo, se a decisão interlocutória for concessiva de tutela de urgência, caberá recurso inominado. Cabe embargos de declaração contra decisões interlocutórias em juizados. O pedido de reconsideração pode ser utilizado, mas não é recurso e, por isso, não tem a eficácia de impedir a preclusão, portanto, o prazo continuará correndo. O correto é entrar com o inominado e, com base no inominado, tentar conversar com o juiz. Só o pedido de reconsideração é deveras perigoso, porque não há nada que assegure que o magistrado vai mudar de ideia e o prazo continuará correndo. Uma decisão que julgue o juizado absolutamente incompetente também é recorrível por recurso inominado, porque é uma sentença sem resolução de mérito. O art. 489 do CPC exige que as decisões sejam fundamentadas. Esse artigo se aplica aos juizados ou há incompatibilidade com a simplicidade dos juizados? Obviamente que sim, pois a Constituição Federal elenca como garantia constitucional a fundamentação das decisões judiciais. Processo Civil IV 28 Na execução, se as obrigações forem de fazer, não fazer e dar, basta que o juiz oficie a autoridade. Obrigações específicas serão executadas de ofício com determinação apresentada à autoridade ré. Quando a obrigação é de pagar, não há como fazer a execução com penhora de bens, pois bens públicos são impenhoráveis. Nesses casos, os pagamentos serão pagos por RPV ou precatório. O RPV pode ser utilizado quando a condenação da união for de até 60 salários, dos estados for de 40 salários e dos municípios for de 30 salários. Se for acima disso, será feito o pagamento por precatório. Não pode fracionar o pagamento em RPV e precatório. Deve-se receber o RPV com renúncia do crédito remanescente, ou aguardar o pagamento por precatório. Se houver multa além da condenação, somará o valor das duas e, caso ultrapasse o limite para RPV, tudo será pago em precatório. Processo Civil IV 29 AULA 7 – 15/03/2017 TUTELAS PROVISÓRIAS Art. 294, CPC 1. Noções gerais Sofreu consideráveis modificações com o NCPC. As tutelas provisórias podem ser de urgência e de evidência. Exemplo de uma tutela de evidência é o mandado de injunção da ação monitória. O documento apresentado pelo autor demonstra de maneira satisfatória que existe uma obrigação que lhe une ao réu. 2. Tutela de urgência Não raro a parte necessita de uma resposta rápida por parte do judiciário, de modo que não há como aguardar, precisa que o judiciário dê uma resposta imediata. A parte não pode se submeter a demora, complexidade do procedimento. Situações em que as partes pleiteiam tutelas de urgência, justamente pelo fato de que não podem arcar com o tempo do processo. Por mais que exista a garantia da duração razoável do processo, mas isso é no plano abstrato, porque na realidade do plano forense, a demora acontece. Imagine que alguém tenha protestado um título que está pago e, em razão desse protesto, inúmeras restrições de crédito estão sendo provocadas ao que teve seu nome protestado, o suposto devedor daquela obrigação. Não dá para essa pessoa aguardar o desfecho com a prolação de uma decisão final para que esse protesto seja baixado. Imagine uma situação que envolve uma pessoa que vai ao judiciário em busca de um tratamento médico, de recebimento de créditos alimentares, outra que busca ter o direito de abandonar o lar porque está sendo agredida pelo cônjuge, uma situação na qual exista uma ameaça de desmoronamento em uma construção, ou situação que envolva dano ambiental iminente. Em todos esses exemplos, a parte precisa que o judiciário intervenha de maneira imediata, porque se demorar para que a tutela jurisdicional seja prestada ao término do processo, o direito ameaçado pode perecer, de modo que a decisão final será inócua. Existem inúmeras situações que justificam a intervenção do judiciário de maneira imediata, que são as tutelas de urgência. Processo Civil IV 30 2.1. Classificação 2.1.1. Quanto à espécie Art. 294, §único As tutelas de urgência podem ser, nos termos do §único do art. 294, de natureza cautelar ou de natureza antecipada. Esta seria a classificação das tutelas de urgência quanto à espécie. A tutela cautelar é aquela que objetiva proteger o resultado útil do processo. É o que acontece quando se pede o sequestro de um bem, para que se possa discutir a propriedade desse bem em uma ação de conhecimento. Sequestra a coisa, tira das mãos do demandado, para que ela não corra o risco de perecimento. Uma vez guardada nas mãos do depositário, existirá tranquilidade para discutir quem é o titular. Portanto, a cautelar de sequestro está protegendo o resultado útil do processo. É o que acontece também quando há o arresto de bens. O credor percebe que o devedor está dilapidando seu patrimônio, portanto, não existirão bens penhoráveis se não for concedida a tutela cautelar. Apesar da possível caracterização de fraude contra credores em ação pauliana, é melhor evitar que o problema aconteça, como prevenção, através da tutela cautelar. No antigo CPC havia um processo cautelar, que, juntamente com o processo de conhecimento e o processo de execução, representava as três principais modalidades de tutela jurisdicional. No CPC/73, primeiramente a parte prejudicada teria que ajuizar uma ação cautelar, obter uma liminar e depois ajuizar o processo principal, de conhecimento ou executivo, para que a medida cautelar deferida tivesse utilidade. O CPC/2015, em que pese prever o cabimento de tutelas cautelares preventivas, simplificou, já não é mais preciso um processo cautelar, é preciso somente pedidos cautelares, que poderão ser apresentados antes de um pedido principal, ou de maneira incidental. As tutelas cautelares visam resguardar a pretensão que a parte está discutindo. Por outro lado, as tutelas antecipadas se assemelham às antigas tutelas antecipadas do CPC/73. São aquelas marcadas pela satisfatividade, não objetivam resguardar um direito, o que buscam é permitir que a parte usufrua de seus efeitos desde logo, o que nada mais é do que a tutela antecipada que havia no CPC/73. É o que acontece com alguém que vai ao judiciário pedir um tratamento médico, alegando que o plano de saúde está negando o tratamento, por uma carência, por exemplo, quando na verdade nada dessas justificativas é plausível. Processo Civil IV 31 Aqui não se busca proteger o resultado útil do processo, o que se busca é permitir que a parte já usufrua dos efeitos de uma decisão que somente virá tempos depois, quando, na verdade, o tempo é tudo o que a parte não dispõe. Tutelas cautelares visam a proteção do resultado útil do processo, é o que acontece com o arresto, o sequestro, a produção antecipada de provas. Ao passo que as tutelas antecipadas são marcadas por um objetivode satisfação. Em que pese serem tutelas de urgência, já há claramente a intenção de gozar de consequências que decorram eventualmente do deferimento de uma tutela dessa natureza. Quando se defere tutela antecipada e não há defesa em relação a ela, dependendo do que foi pedido, poderá ser entendido como pedido incontroverso, que poderá trazer consequências severas para o réu. 2.1.2. Quanto ao momento O art. 294, §único prevê que essas tutelas de urgência podem ser cautelares e antecipadas, poderão ser classificadas quanto ao momento, como tutelas antecedentes ou incidentais. Quando é antecedente, ela é apresentada antes de o requerente ter levado a conhecimento do judiciário o seu pedido principal, é o que acontece, por exemplo, nos exemplos de sequestro e arresto de um bem. Primeiramente vem a tutela de urgência antecedente e depois o requerente apresenta a sua tutela principal. Esta será a tutela de urgência antecedente. Já a tutela incidental, como o nome diz, é aquela que ocorre quando já há um processo em curso e se mostra necessária a adoção de uma providência de urgência. Incidentalmente, o pedido de urgência poderá ser formulado. É o exemplo de um divórcio litigioso em que o marido está dilapidando o patrimônio, a esposa entra com pedido de tutela de urgência cautelar e incidental. O CPC prevê que quando a cautelar é incidental, como já é apresentada no curso do processo, não há a necessidade de pagamento de custas. As custas já foram recolhidas quando o requerente apresentou o pedido originário (art. 295, CPC). 2.2. Revogabilidade Art. 296, CPC Processo Civil IV 32 Todas essas tutelas de urgência, sejam elas de urgência ou evidência, incidentais ou antecedentes, uma das características é a revogabilidade. Da mesma forma que tais tutelas podem ser preenchidas, desde que preenchidos os requisitos, pode ser que no curso do processo se constate que já não há mais justificativa para as suas manutenções. A revogação precisa ser feita de maneira motivada e provocada. Sempre tem que haver provocação, pois isto ocasionaria tremenda insegurança jurídica. As decisões sempre deverão ser reversíveis, pois pode acontecer uma modificação do status. O contraditório fica postergado. O juiz analisa a urgência e adota o procedimento cabível. O juiz pode ter se convencido da necessidade da tutela de urgência em um primeiro momento, mas tempos depois pode se convencer do contrário. Em razão disso, desde que o faça de maneira motivada, pode entender por sua revogação. As tutelas de urgência geralmente são pedidas sem que a parte contrária tenha a oportunidade de se manifestar. Inclusive, essa é uma das exceções da norma fundamental do CPC que exige que o juiz, ao decidir, ouça ambas as partes. 2.3. Necessidade de motivação Art. 298, CPC A decisão interlocutória concessiva da tutela de urgência é um dos casos de interposição de agravo de instrumento. Poderá acontecer a revogação no juízo de 2º grau ou em juízo de 1º grau (retratação da decisão). Deve dizer o motivo da revogação. O objeto do agravo de instrumento é reverter a decisão que concedeu a tutela de urgência. É possível a concessão de tutelas de urgência em grau de recurso, é a chamada tutela recursal. Pode acontecer de ter pedido a tutela de urgência em 1º grau, o juiz não ter concedido. Quem pediu a tutela entra com agravo de instrumento, reiterando o pedido, é possível que seja concedido ou negado novamente. Seja concedida a tutela recursal ou negada a tutela recursal, cabe agravo interno, para levar o julgamento à turma. Características: provisoriedade e revogabilidade. Podem ser revistas pelo juízo que as prolatou ou em grau de recurso. Processo Civil IV 33 A decisão denegatória ou de acolhimento da retratação também tem que ser motivada. A tutela provisória conserva sua eficácia na pendência do processo, isto é, enquanto não for revogada, produz seus efeitos. 2.4. Requisitos Art. 300, CPC Tutelas de urgência são deferidas com base em 2 requisitos: perigo da demora por parte do judiciário, aliado a uma alegação razoável de que existe uma ameaça a um direito que precisa de uma tutela emergencial. Isso nada mais é que o fumus boni iuris e o periculum in mora. O CPC/73 falava em verossimilhança das alegações. 2.5. Liminar ou justificação prévia Art. 300, §2º, CPC A concessão pode acontecer de maneira liminar, ou seja, inaudita altera pars. É uma das hipóteses em que a lei permite a postergação do contraditório. A tutela será deferida de modo liminar. É possível, contudo, que o juiz não se convença do preenchimento dos requisitos e, consequentemente, nos termos do art. 300, §2º, o juiz pode designar uma audiência de justificação prévia. É possível a designação de uma audiência de justificação prévia para que o autor possa convencer o magistrado do preenchimento dos requisitos do art. 300. A audiência de justificação prévia acontecerá antes da audiência de conciliação. Essa audiência é do autor, quem vai produzir provas é o requerente da tutela de urgência. Sequer há motivos para a participação do réu. Em casos de pedido de tutela incidental e o réu já está integralizado na relação processual, o réu pode participar da audiência de justificação, entretanto, não poderá se manifestar ou intervir. Não pode se manifestar na audiência de justificação porque a tutela, se deferida, é revogável e poderá ser objeto de recurso. 2.6. Irreversibilidade Art. 300, §3º, CPC As tutelas não podem ser deferidas quando forem irreversíveis, mas isso não deve ser interpretado de maneira absoluta. Não raro os juízes se deparam com Processo Civil IV 34 situações em que há a necessidade de se ponderar valores: uma tutela de urgência requerendo uma cirurgia. Se o juiz defere, é irreversível. No caso concreto, o juiz terá que ponderar o direito à vida do requerente e o interesse público envolvido. Existem instrumentos que podem minimizar esse risco (art. 300, §1º). Processo Civil IV 35 AULA 8 – 20/03/2017 TUTELAS PROVISÓRIAS Art. 294, CPC Responsabilidade objetiva Art. 302, CPC Responsabilidade objetiva pela apresentação de pedidos de tutela de urgência. A parte responde pelo prejuízo que a efetivação da tutela de urgência causar à parte adversa, se: a) A sentença lhe for desfavorável: a parte se valeu de tutela e a sentença lhe foi desfavorável. Se houve prejuízo patrimonial, a parte deverá arcar com a indenização correspondente. Toda a estrutura do art. 302 é baseada na ideia de responsabilidade objetiva, ou seja, independentemente da intenção de praticar o prejuízo, se as situações tiverem acontecido, somado ao possível dano sofrido pelo demandado, o dever de indenizar existirá. b) Quando obtida liminarmente a tutela em caráter antecedente, não fornecer os meios necessários para citação do requerido, no prazo de 5 dias. Quando é antecedente, num primeiro momento, o autor apresenta somente o pedido de urgência, deixando para apresentar o principal somente mais adiante (chama-se complementação da petição inicial ou formulação do pedido principal). Pode ser que num primeiro momento o autor da ação necessite apenas da tutela de urgência, como uma separação de corpos, uma busca e apreensão de um menor, alimentos provisórios, deixando para formular a sua pretensão principal em um momento posterior, no mesmo processo. Quando for formulado o pedido de tutela de urgênciaem caráter antecedente, é preciso que o réu seja integralizado à relação processual, obedecendo ao prazo de 5 dias. O autor não pode ser penalizado pela morosidade do judiciário, se o autor indicou todos os elementos necessários para a citação. c) Ocorrer a cessação da eficácia da medida em qualquer hipótese legal. Se a medida de urgência tiver seus efeitos cessados e causar prejuízo ao demandado, esses prejuízos serão apurados e lhe darão direito a indenização. d) Se o juiz acolher a alegação de decadência ou prescrição da pretensão do autor. A indenização será liquidada nos autos em que a medida tiver sido concedida, sempre que possível. Ou seja, a apuração dos danos será feita no próprio processo principal, que já está em curso, sem que haja a necessidade do demandado promover o ajuizamento de outra demanda para buscar a liquidez do seu prejuízo. Processo Civil IV 36 No tocante às modalidades de liquidação, se a obtenção do dano puder ser feita por meros cálculos aritméticos, o credor liquida. Se for algo mais complexo, será por arbitramento ou pelo procedimento comum. TUTELA CAUTELAR EM CARÁTER ANTECEDENTE Art. 305 Art. 305. A petição inicial da ação que visa à prestação de tutela cautelar em caráter antecedente indicará a lide e seu fundamento, a exposição sumária do direito que se objetiva assegurar e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo. Parágrafo único. Caso entenda que o pedido a que se refere o caput tem natureza antecipada, o juiz observará o disposto no art. 303. Quando se formula um pedido de tutela de urgência de caráter antecedente, na petição inicial apenas o pedido de urgência será formulado: é o arresto de bens, sequestro de uma coisa, busca e apreensão de alguém ou de algo, deixando-se para a apresentação do pedido principal momentos depois. Contudo, o art. 305 obriga que quando a tutela for cautelar em caráter antecedente, já se indique a pretensão principal que vai ser formulada: a lide e o seu fundamento. Por “lide e seu fundamento” deve-se vislumbrar a pretensão principal que será posteriormente apresentada. Deve-se apresentar os fundamentos de fato e de direito que justificam a apresentação do principal, do qual o cautelar será útil. Se foi apresentada uma cautelar de arresto com a justificativa de que o devedor está dilapidando o seu patrimônio, a lide e o fundamento para a concessão da tutela de urgência seria assegurar ao credor requerente o direito de em uma futura execução ter a possibilidade de penhorar bens, a fim de que tais bens possam ser devidamente utilizados como forma de satisfação. O §único do art. 305 estabelece a fungibilidade que há entre tutelas antecipadas e tutelas cautelares. Ambas as tutelas fazem parte de uma mesma base, que são as tutelas de urgência. As tutelas antecipadas têm como principal característica a satisfatividade, ao passo que a cautelar tem como principal característica a protetividade, ou seja, é utilizada para proteger o resultado útil de determinado processo. Diante do fato de que têm os mesmos requisitos e que partem de uma mesma ideia, muitas vezes elas se confundem. Não raro o autor acha que precisa de uma tutela cautelar, quando na realidade precisa de uma antecipada. Dessa forma, pode haver a fungibilidade entre as tutelas. Processo Civil IV 37 Art. 306. O réu será citado para, no prazo de 5 dias, contestar o pedido e indicar as provas que pretende produzir. Este pedido não é o pedido principal, é apenas contestar o pedido cautelar. Contestar a desnecessidade do sequestro, do arresto, da busca e apreensão... Quando o autor só formulou o pedido cautelar, o réu se manifesta somente sobre ele. O art. 307 aduz: Art. 307. Não sendo contestado o pedido, os fatos alegados pelo autor presumir-se-ão aceitos pelo réu como ocorridos, caso em que o juiz decidirá dentro de 5 dias. Parágrafo único. Contestado o pedido no prazo legal, observar-se- á o procedimento comum. Poderá ocorrer uma revelia limitada ao pedido cautelar, uma veracidade dos fatos alegados pelo autor no tocante ao pleito cautelar, o que não retira do réu o direito de contestar o pedido principal. Art. 308. Efetivada a tutela cautelar, o pedido principal terá de ser formulado pelo autor no prazo de 30 dias, caso em que será apresentado nos mesmos autos em que deduzido o pedido de tutela cautelar, não dependendo do adiantamento de novas custas processuais. A tutela cautelar poderá ser apresentada em caráter antecedente, que poderá ser apresentada sozinha. Se for apresentada sozinha, o procedimento será citar o réu para contesta-la no prazo de 5 dias. Se não se manifestar a respeito da cautelar, o pedido da cautelar passará a ser incontroverso. Por outro lado, uma vez cumprida a cautelar em caráter antecedente, deverá o autor complementar a inicial, a fim de que o pedido principal seja formulado e, uma vez formulado o pedido principal, o réu terá a oportunidade de contesta-lo. Pode acontecer da tutela cautelar ser apresentada concomitantemente com o pedido principal, ocasião em que o réu será citado para contestar tudo. De resto, terá audiência de conciliação e seguirá o procedimento comum. Se o pedido principal não for formulado no prazo de 30 dias, haverá a cessação da eficácia e, cessando a eficácia da cautelar, se o cumprimento dela tiver provocado prejuízo patrimonial, deverá ocorrer a indenização por conta da responsabilidade objetiva. Quando é incidental, não há custas. Quando é antecedente, haverá o pagamento de custas. Processo Civil IV 38 O prazo de 30 dias é em dias úteis, pois é prazo processual. Não havendo conciliação, a contestação será feita na forma do art. 335 (ou seja, normalmente). Hipóteses em que cessa a eficácia da cautelar antecedente: Art. 309. Cessa a eficácia da tutela concedida em caráter antecedente, se: I – o autor não deduzir o pedido principal no prazo legal; II – não for efetivada dentro do prazo de 30 dias; III – o juiz julgar improcedente o pedido principal formulado pelo autor ou extinguir o processo sem resolução de mérito. O inciso II fala de não ser efetivada a tutela cautelar em 30 dias, ou seja, se não for dado cumprimento a ela. Não se pode responsabilizar o autor pela morosidade judiciária, portanto, o não cessa a eficácia, porque o autor não pode ser responsabilizado. Faz-se a interpretação de que só se justifica a cessação da eficácia com base neste inciso se a culpa for do autor, por exemplo, se ele não pagou as custas. Julgado improcedente o pedido principal, não há razão para manter o pedido cautelar, sendo revogado, portanto. Se o juiz indeferiu a cautelar, nada impede que o pedido principal seja formulado. Talvez não existam motivos para concessão da tutela de urgência, mas isto não quer dizer que o autor não poderá apresentar a sua pretensão principal. Processo Civil IV 39 AULA 9 – 29/03/2017 TUTELAS PROVISÓRIAS TUTELA ANTECIPADA EM CARÁTER ANTECEDENTE Há a possibilidade de se ajuizar monitória com base em prova escrita que não contenha eficácia executiva. A partir dessa prova escrita, o autor pode optar pela propositura da monitória que, uma vez acolhida pelo órgão jurisdicional, expedirá o mandado de injunção. A expedição deste mandado é pautada em uma cognição sumária, sumariamente, com base nas alegações do autor e na prova escrita, o juiz determina a expedição do mandado monitório. Uma vez cumprido o mandado monitório, pode o réu cumprir a obrigação ou apresentar embargos monitórios e, uma vez apresentados,
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