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REAÇÕES DE OXIRREDUÇÃO Página 1 1- CONCEITO DE ATIVIDADE: Antes de passarmos para as reações de oxirredução precisamos ressaltar mais uma coisa. Todas essas expressões que utilizamos para discutir equilíbrio químico são equações aproximadas. Estivemos usando as concentrações ou as pressões parciais dos componentes na hora de escrever Q e Keq, mas na verdade a quantidade correta que deveríamos usar é a atividade. A questão é que, em alguns casos simples, a atividade apresenta valores próximos o bastante das concentrações ou pressões de modo que a substituição não implica em problemas maiores. No entanto, quando temos soluções concentradas ou partículas carregadas envolvidas, a atividade começa a se distanciar consideravelmente das grandezas que estamos acostumados a utilizar e as equações têm que ser revistas. Em eletroquímica isso é bastante comum, e devemos levar isso em conta. Mas para fazer isso, precisamos antes entender o que significa essa tal de “atividade”. A concentração e a pressão parcial são quantidades importantes porque são indicativas da quantidade relativa de espécies químicas em um sistema. Em princípio, esperamos que quanto maior a proporção de uma espécie numa mistura, maior será a probabilidade de uma de suas moléculas passar por algum tipo de processo ou transformação. Em casos de soluções diluídas ou baixas pressões essa expectativa costuma ser correspondida, uma vez que a presença das outras moléculas interfere pouco na “disponibilidade” de uma molécula para reagir. No entanto, quando REAÇÕES DE OXIRREDUÇÃO Página 2 vamos para situações de alta pressão ou alta concentração, isso não é mais necessariamente verdade. O número de interações entre as moléculas do meio aumenta, o que modifica a forma como elas se comportam. Vamos dar um exemplo de uma das coisas que podem acontecer quando a concentração em uma solução aumenta muito. Imagine que temos uma reação do tipo: CBA Várias colisões entre moléculas das espécies A e B têm que ocorrer para que algumas delas levem a formação de C. No entanto, se as moléculas da espécie A interagem mais fortemente umas com as outras do que com as moléculas de B, algumas delas podem ficar “cercadas” de moléculas de A, fazendo com que, efetivamente, elas não estejam disponíveis para reagir. Dizemos então que as espécies terão uma “concentração efetiva” na mistura, que chamamos atividade. É importante notar que esse é apenas um dos mecanismos microscópicos que pode levar a uma modificação da concentração efetiva dos componentes de uma mistura. Sempre que uma mistura para de se comportar como uma mistura ideal, devemos utilizar a atividade. Ao invés de discutirmos cada um desses mecanismos em detalhe, basta lembrarmos que, em geral, quanto maior a concentração e a interação entre as moléculas, mais importante é utilizar a atividade no lugar da concentração. Mas como ficam as nossas expressões em termos da atividade? É muito simples, REAÇÕES DE OXIRREDUÇÃO Página 3 na verdade. Por exemplo, a expressão de Q para a reação de dissociação do ácido acético teria a forma: HAc AcH a aa Q . (eq. 1) Nessa expressão, a corresponde a atividade da espécie, substituindo as concentrações na equação do quociente reacional. A expressão da constante de equilíbrio teria a mesma forma, mas usando as atividades das espécies no equilíbrio. Qualquer que seja a unidade de concentração utilizada, a atividade de uma espécie qualquer está relacionada com a concentração da seguinte maneira: 0c c a AAA (eq. 2) Onde A é chamado de coeficiente de atividade da espécie A, Ac é a concentração da espécie A e 0c é a concentração padrão, que é usualmente tomada como tendo o valor igual a 1, com a mesma unidade de Ac . O coeficiente de atividade é adimensional, fazendo com que a atividade seja, ela mesma, adimensional. O coeficiente de atividade é, de certo modo, uma medida de quanto o sistema se afasta da idealidade (ou seja, com as espécies interagindo fracamente). Quanto mais longe de 1 for o coeficiente Ac , mais o sistema está longe da idealidade. REAÇÕES DE OXIRREDUÇÃO Página 4 Considerando então 0c como 1, e substituindo a expressão (eq. 2) no quociente reacional da reação de dissociação do ácido acético dado pela expressão (eq. 1), podemos obter a equação exata do quociente reacional em termos das concentrações. HAc AcH Q HAc AcH . (eq. 3) Vamos olhar atentamente para essa expressão. Com um pouco de prática, podemos escrever uma expressão como essa para qualquer reação ou equilíbrio. Basta escrevermos um quociente com as concentrações e multiplicarmos por um quociente com a mesma forma, mas com os coeficientes de atividade! Como falamos acima, essa expressão não é mais a expressão aproximada do quociente reacional, mas a expressão exata, e para trabalharmos com ela vamos precisar saber não apenas as concentrações das espécies, mas também os coeficientes de atividade. Perceba, no entanto, que quando o sistema se aproximar da idealidade (por exemplo, quando as soluções forem diluídas) os coeficientes têm o valor próximo de 1. Quanto maior o desvio da idealidade, torna-se mais necessário utilizar a equação (eq. 3) em seu lugar. Toda essa discussão é igualmente válida para as expressões do equilíbrio químico. REAÇÕES DE OXIRREDUÇÃO Página 5 2- REAÇÕES DE OXIRREDUÇÃO: Para entender o que são reações de oxirredução (ou reações redox), é útil discutir algumas reações químicas simples. Se mergulharmos um objeto de ferro, como um prego, por exemplo, numa solução de sulfato de cobre (CuSO4), o prego adquire uma coloração avermelhada na superfície. Isso é uma consequência da formação de cobre metálico na superfície do prego. A equação que corresponde a essa reação química tem a forma: aqsaqs FeSOCuCuSOFe 44 Vamos olhar mais de perto essa reação. Tanto o sulfato de cobre quanto o sulfato de ferro em solução aquosa se dissociam em seus respectivos íons, de modo que poderíamos reescrever a equação acima como: 24 22 4 2 aqaqsaqaqs SOFeCuSOCuFe Percebe que o ânion sulfato não está participando da reação (pelo menos diretamente)? Ele começa e termina da mesma maneira, sem se transformar. Podemos então reescrever a reação acima como: 22 aqsaqs FeCuCuFe Essa equação descreve o processo que estamos estudando de forma mais compacta. O ferro metálico reage transferindo dois elétrons (por átomo) para os íons cobre que se encontram na solução. Os átomos de cobre formados se depositam sob a forma de um sólido, ao mesmo tempo em que os íons Fe2+ recém-formados são solvatados. Esse processo em que elétrons são REAÇÕES DE OXIRREDUÇÃO Página 6 transferidos de uma espécie para outra são chamados de transferência de elétrons. Dizemos que os átomos de ferro encontravam-se com um número de oxidação 0 (ou, NOX=0), enquanto os íons cobre encontravam-se com NOX=+2; após a reação, temos o ferro com NOX=+2, enquanto que os átomos de cobre formados estão agora com NOX=0. Dizemos que o cobre foi reduzido (ou seja, o seu NOX diminuiu), ao passo que os átomos de ferro que participaram do processo foram oxidados (tiveram o NOX aumentado). Define- se também o Fe0 como o agente redutor (ou seja, responsável pela redução do Cu2+), e o Cu2+ comoo agente oxidante (querendo dizer que ele é o responsável pela oxidação do Fe0). No final das contas, duas coisas diferentes estão acontecendo nessa reação. O ferro perdeu dois elétrons e o íon cobre ganhou dois elétrons. Claro que um processo não teria acontecido sem o outro, mas podemos escrever cada um deles como uma meia-reação. A meia-reação envolvendo o ferro é uma meia- reação de oxidação: eFeFe aqs 2 2 Enquanto que a meia-reação envolvendo o cobre é uma meia-reação de redução: saq CueCu 22 É fácil ver se uma determinada meia-reação corresponde a uma redução ou a uma oxidação. Se os elétrons estão do lado esquerdo da equação, a meia- REAÇÕES DE OXIRREDUÇÃO Página 7 reação é de redução; caso eles apareçam do lado direito, a meia-reação é de oxidação! Essa separação de reações em meias-reações é interessante porque é possível contabilizar a energia envolvida no processo inteiro a partir das meias reações. Mais a frente, veremos como fazer isso. As espécies que mudam o seu NOX numa mesma meia-reação são chamadas de par redox, e costumam ser representadas uma ao lado da outra separadas por uma barra, com a espécie mais oxidada (com maior NOX) vindo primeiro. Por exemplo, nas reações acima temos os pares redox Fe2+/Fe e Cu2+/Cu. Quando você combinar as meias-reações, é sempre necessário combinar uma meia-reação de oxidação com uma de redução. Pode ser necessário inverter uma das meias-reações para que se obtenha um par de meias-reações apropriado.
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