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ob jet ivo s Meta da aula Buscando dar conhecimento aos alunos das principais abor- dagens teóricas do desenvolvimento humano, apresentando a eles representantes das várias abordagens do desenvolvimento e da aprendizagem humanos (inatista, ambientalista e sócio- histórica), esta aula pretende caracterizar a teoria de Erik Erikson e destacar as suas contribuições para a formação de educadores. Principais abordagens teó- ricas do desenvolvimento humano: o ciclo epigenético de Erik Erikson A U L A Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: 1. identificar os princípios fundamentais da teoria de Erik Erikson; 2. conceituar identidade e situar a sua evolução no ciclo epigenético da vida do homem; 3. aplicar os princípios teóricos dessa abordagem à prática educacional. 10 Psicologia e Educação | Principais abordagens teóricas do desenvolvimento humano: o ciclo epigenético de Erik Erikson 130 C E D E R J C E D E R J 131130 C E D E R J C E D E R J 131 quEm foi Erik Erikson Acreditamos que, ao estudar as ideias funda- mentais, elaboradas por um teórico, o conhe- cimento de alguns dados da história de vida do mesmo possa ser muito útil. Erik Erikson (1902-1994) foi um psicanalista que fez trabalhos famosos sobre o desenvolvi- mento humano e a consolidação da identidade. Nascido na Alemanha, depois de se formar na escola, tornou-se artista. Frequentou escolas de artes e viajou pela Europa, visitando os museus mais famosos. Começou a ministrar aulas de artes e conheceu Anna Freud, que se tornou sua psicanalista e o incentivou a estudar Psicanálise. Graduou-se no Instituto Psicanalítico de Viena, especializando-se em psicanálise infantil. Começou a discordar das ideias de Freud sobre os aspectos psicossexuais do desenvolvimento. Seus estudos focalizaram os estágios críticos e criativos do desenvolvimento e a resolução de várias crises de identidade, definidas por ele como “um conflito inevitável que acompanha o crescimento do senso de identidade, durante a adolescência”. Erikson abordou a influência da cultura e da sociedade no desenvolvimento infantil, desenvolvendo pesquisas em reservas indígenas americanas. Seu pri- meiro livro, Infância e sociedade (1950), tornou-se um clássico no assunto. Então, agora que já conhecemos um pouco da história de vida de Erikson, vamos aos seus conceitos mais importantes, característicos de uma conhecida abordagem do desenvolvimento da personalidade do ser humano. ALGuns ConCEiTos imPorTAnTEs DA TEoriA DE Erik Erikson identidade Este pode ser considerado o conceito fundamental para Erikson. Em 1968, ao lançar Identidade, juventude e crise, seu clássico trabalho sobre a identidade, afirma que é “chegado o momento de proceder a uma melhor e final delimitação do que é e do que não é identidade” (ERIKSON, 1976, p. 13). inTroDuÇÃo figura 10.1: Erik Erikson. Fonte: http://www.ericberne. com/images/erikson2.jpg 130 C E D E R J C E D E R J 131130 C E D E R J C E D E R J 131 A U LA 1 0Segundo ele, a identidade pode ser vista como uma imagem men- tal relativamente estável da relação estabelecida entre o eu e o mundo social, nos vários contextos e momentos do processo de desenvolvimento humano. Erik Erikson (1998, p. 85) assim conceitua a identidade: ...uma configuração que, gradualmente, integra dados constitu- cionais, necessidades libidinais idiossincráticas, capacidades pre- feridas, identificações significativas, defesas efetivas, sublimações bem sucedidas e papéis consistentes. Tudo isso, entretanto, só pode emergir de uma mútua adaptação de potenciais individuais, visões de mundo tecnológicas e ideologias religiosas ou políticas. Segundo a psicanálise, o ser humano tem necessidades psicológicas que são diretamente associadas às funções vitais, indispensáveis para a manutenção da vida do organismo. Elas são associadas à libido, energia psíquica que direciona o indivíduo na busca de objetos que satisfaçam essas necessidades. Sublimação, segundo a psicanálise, é o mecanismo de defesa que, sob a influência do Ego, canaliza os impulsos social e pessoalmente constrange- dores, ameaçadores à estabilidade do aparelho psíquico, para uma postura socialmente útil e aceitável. Quanto ao processo de formação da identidade, o mesmo Erikson (1976, p. 21) diz: (...) formação da identidade emprega um processo de reflexão e observação simultâneas, um processo que ocorre em todos os níveis do funcionamento mental, pelo qual o indivíduo se julga a si próprio à luz daquilo que percebe ser a maneira como outros o julgam, em comparação com eles próprios e com a tipologia que é significativa para eles; enquanto que ele julga a maneira pela qual eles o julgam, à luz do modo como se percebe a si próprio em comparação com os demais e com os tipos que se tornaram importantes para ele. Este processo é (...) em sua maior parte inconsciente. O autor fala em três dimensões que constituem a identidade humana: A primeira, universal, é geneticamente determinada, constituída de um conjunto de impulsos e pulsões, e faz com que os seres humanos pareçam-se em sentimentos e motivações básicas, por exemplo. Psicologia e Educação | Principais abordagens teóricas do desenvolvimento humano: o ciclo epigenético de Erik Erikson 132 C E D E R J C E D E R J 133132 C E D E R J C E D E R J 133 A segunda é individual, caracterizando traços particulares do temperamento de cada ser humano. Há uma terceira dimensão, no entanto, que o autor chama de social, e que marca o nosso pertencimento a um grupo, engloba as ca- racterísticas que nos assemelham aos nossos pares sociais e culturais. 132 C E D E R J C E D E R J 133132 C E D E R J C E D E R J 133 A U LA 1 0Sem pretender dar primazia a uma das três, Erikson (1976) propõe que há uma articulação dinâmica entre elas e que, em determinadas fases da vida, uma pode ter maior importância do que outra. A identidade engloba, então, um sentido consciente de singula- ridade individual, um esforço inconsciente para manter a continuidade da experiência e uma solidariedade com os ideais do grupo. Os padrões básicos de identidade emergem, portanto, da afirma- ção ou do abandono das identificações infantis e da maneira pela qual o processo social e histórico da época identifica a geração jovem. Crise normativa ou conflito nuclear Segundo Erikson (1976), cada etapa da vida oferece-nos um desa- fio característico, nomeado “crise normativa ou conflito nuclear”. Esses conflitos, importantes para o desenvolvimento humano, são marcados por um evento significativo, parcialmente resolvidos e relacionados a instituições sociais e a traços característicos da personalidade na idade adulta. O uso do termo “normativa” esclarece o caráter de normalidade e não de patologia que essas crises envolvem. Segundo Osório (1989, p. 85): a expressão crise (do grego krisis – ato ou faculdade de distinguir, escolher, dividir ou resolver) já não padece, em nossos dias, do significado de catástrofe iminente, que em certo momento pareceu constituir um obstáculo à compreensão do termo. Atualmente, aceita-se que a crise designa um ponto conjuntural necessário ao desenvolvimento, tanto do indivíduo como das instituições. A adolescência, por exemplo, é uma crise vital, momento evolutivo assinalado por um processo normativo de organização das estruturas do indivíduo. A identidade e a crise têm dimensão psíquica, mas também social, fazendo parte natural do próprio desenvolvimento da pessoa. Se as crises nor- mativas não forem resolvidas nos estágios de desenvolvimento em que foram vivenciadas, no entanto,as fases seguintes podem ser comprometidas. Se o conflito é resolvido de uma maneira satisfatória, a qualidade positiva é constituída dentro do ego e pode-se verificar um desenvol- vimento subsequente, sadio. Mas se o conflito persiste ou é resolvido insatisfatoriamente, o ego em desenvolvimento é prejudicado porque a qualidade negativa se incorpora a ele (MUUS, 1976, p. 36). Psicologia e Educação | Principais abordagens teóricas do desenvolvimento humano: o ciclo epigenético de Erik Erikson 134 C E D E R J C E D E R J 135134 C E D E R J C E D E R J 135 As crises que modelam o desenvolvimento da identidade são sociais, porque essa identidade cresce dentro da comunidade à qual o indivíduo pertence e depende durante toda a vida do suporte de modelos sociais. Dependendo do grupo social, determinadas crises podem ser acentuadas, ou podem não ser sequer perceptíveis. Ciclo epigenético ou diagrama epigenético Erikson descreve o ciclo vital humano através de um diagrama ou gráfico que representa o desenvolvimento psicossocial que ocorre por meio de pontos críticos de mudança (as crises normativas ou conflitos nucleares). Segundo Erikson (1976a), a personalidade humana desenvolve-se, seguindo passos que são determinados à medida que o indivíduo torna-se capaz de perceber e interagir com um raio social crescente e que a socie- dade, pelo menos em princípio, aceita essa sucessão de potencialidades, encorajando a sequência e a razão ideal de seu desenvolvimento. O autor define o princípio epigenético, afirmando que tudo o que cresce tem um plano básico e que é a partir desse plano básico que se erguem as partes ou peças componentes, tendo cada uma delas o seu tempo de ascensão especial até que todas tenham sido levantadas para formar um todo em funcionamento (ERIKSON, 1976a). Erikson estabelece cada etapa do ciclo epigenético como uma crise, cada uma delas constituída por um plano positivo e negativo. Cada uma é mais evidente numa fase especifica do ciclo vital, aparecendo de certa forma, em todo o desenvolvimento. No que diz respeito à integração das sucessivas crises, a sua teoria encontra-se entre a teoria de Piaget e a teoria de Freud, em que cada crise é formada a partir da anterior, influenciando as seguintes. O termo e p i g e n é- t i c o existe há mais de cem anos, mas só recentemente ganhou definição mais pre- cisa. É o campo da Biologia que estuda as interações causais entre os genes e seus resultados, que são responsáveis pela produção do fenótipo. Um traço é epigenético se resulta de uma predisposição genéti- ca que se revela sob influência ambiental. Trata-se do estudo das características gené- ticas que não estão ligadas a alterações causadas na sequência do DNA. 134 C E D E R J C E D E R J 135134 C E D E R J C E D E R J 135 A U LA 1 0 1. Associe as duas colunas, colocando números nos parênteses, relacionan- do os principais conceitos da teoria de Erik Erikson às suas defi nições: 1. Identidade 2. Confl ito nuclear 3. Ciclo epigenético do desenvolvimento ( ) Diagrama ou gráfi co utilizado por Erikson para representar o desenvolvimento psicossocial, constituído por oito fases ou idades. ( ) Crise, constituída por um plano positivo e um negativo e que oferece ao indivíduo um desafi o característico, evidente numa fase especifi ca do ciclo vital. ( ) Imagem mental relativamente estável da re- lação estabelecida entre o eu e o mundo social, nos vários contextos e momentos do processo de desenvolvimento humano. Resposta 3 – 2 – 1. ATIVIDADEATIVIDADE A ABorDAGEm Do DEsEnVoLVimEnTo HumAno sEGunDo Erik Erikson Criador da chamada “Psicologia do Ego”, Erikson elabora uma abordagem psicossocial do desenvolvimento humano, fazendo uma revi- são dos fundamentos básicos de teorias de Freud, mas afastado das ideias freudianas, pelo foco na orientação social e cultural. Comparando a abordagem da personalidade de Erikson com a de Freud, podemos dizer que ela oferece uma visão mais global do desenvolvimento, pois focaliza todo o ciclo vital, que valoriza a instân- cia psíquica do Ego, com seus próprios objetivos, processos, forças ou virtudes; que não enfatiza os aspectos patológicos inerentes à neurose, como fez o pai da Psicanálise. Acredita na importância da infância para o desenvolvimento da personalidade mas, ao contrário de Freud, afi rma que a personalidade continua a se desenvolver depois dos cinco anos de idade, dando especial importância à adolescência. Erikson propõe oito estágios do desenvolvimento psicossocial por meio dos quais o ser humano passa da infância para a idade adulta. Psicologia e Educação | Principais abordagens teóricas do desenvolvimento humano: o ciclo epigenético de Erik Erikson 136 C E D E R J C E D E R J 137136 C E D E R J C E D E R J 137 Em cada estágio, cada sujeito depara-se e de preferência supera novos desafios ou conflitos. Cada estádio/fase do desenvolvimento da criança é importante e deve ser bem resolvido, para que a próxima fase possa ser superada sem problemas. Esses estágios não são estanques nem precisamente definidos, a pessoa encontra-se em todos os estágios, durante o tempo todo. Porém, em cada um deles há crises e conflitos próprios, bem como virtudes e valores propícios ao desenvolvimento. As oiTo iDADEs Do HomEm Nesta teoria psicossocial, o desenvolvimento humano evolui em oito estágios. Os primeiros quatro estágios decorrem no período da infância, o quinto durante a adolescência e os últimos três, na idade adulta e na velhice. Erikson apresentou os estágios em termos de uma qualidade básica do ego que surge em cada estágio, discutiu as forças do ego que surgem nos estágios sucessivos e descreveu as características peculiares de cada um. Afirmou que: (...) uma personalidade saudável domina ativamente seu meio, demonstra possuir uma certa unidade de personalidade (...). De fato, podemos dizer que a infância se define pela ausência inicial desses critérios e de seu desenvolvimento gradual em passos complexos de crescente diferenciação. Como é, pois, que uma personalidade vital cresce ou, por assim dizer, advém das fases sucessivas da crescente capacidade de adaptação às necessidades da vida – com algumas sobras de entusiasmo vital? (ERIKSON, 1976a, p. 91). Temos então os oito estágios de desenvolvimento, adaptados da obra Infância e sociedade: 136 C E D E R J C E D E R J 137136 C E D E R J C E D E R J 137 A U LA 1 01ª idade: Confiança básica x desconfiança básica Nesta idade, a criança vai aprender o sentimento de ter ou não confiança, a partir da relação entre o bebê e a mãe. A confiança básica é demonstrada pelo bebê na capacidade de dormir de forma pacífica, alimentar-se confortavelmente e de excretar a urina e as fezes de forma relaxada. Devido à confiança e à familiaridade com a mãe, adquirida por meio de situações de conforto por ela proporcionadas, a criança atinge uma realização social que consiste na aceitação de que a mãe pode ausentar-se, mas na certeza de que voltará. O bebê ganha experiência no contato com os adultos, aprendendo a confiar e a depender deles, além de confiar em si mesmo. A desconfiança básica é a parte negativa deste estágio, que é equi- librada com a segurança proporcionada pela confiança. Seus efeitos são medo, ansiedade e suspeita. A falta de atenção, tanto física como psico- lógica, da pessoa que cuida da criança, leva à desconfiança no ambiente. A confiança básica vem, segundo Erikson, do fato de que a criança “não só aprendeu a confiar na uniformidade e na continuidade dos prove- dores externos, mas tambémem si própria e na capacidade dos próprios órgãos para fazer frente aos seus impulsos e anseios” (1976a, p.102). Psicologia e Educação | Principais abordagens teóricas do desenvolvimento humano: o ciclo epigenético de Erik Erikson 138 C E D E R J C E D E R J 139138 C E D E R J C E D E R J 139 2ª idade: Autonomia x vergonha e dúvida Durante este estágio, a criança vai aprender quais os seus privilé- gios, obrigações e limitações. Surge a necessidade de autocontrole e de aceitação do controle por parte das outras pessoas, desenvolvendo-se o senso de autonomia. O polo negativo deste estágio é a vergonha e a dúvi- da, em que a criança perde o senso de autocontrole, e os pais contribuem nesse processo ao usarem a vergonha na repressão à teimosia. A virtude principal é a vontade, o poder crescente de tomar as suas próprias decisões, cujo desenvolvimento é responsável pela aceita- ção progressiva do que é permitido e necessário. Os elementos desta são progressivamente aumentados pelas experiências ao nível da consciência, manipulação, verbalização e locomoção. Como resultado futuro, a criança julga-se a si e aos outros, dife- renciando o certo do errado e as pessoas ditas diferentes, formando-se a base o n t o g e n é t i c a do preconceito humano. De um sentimento de autocontrole sem perda de autoestima, re- sulta um sentimento constante de boa vontade e orgulho; de um sentimento de perda do autocontrole e de supercontrole exterior resulta uma propensão duradoura para a dúvida e a vergonha (ERIKSON, 1976, p. 234). O termo o n t o g ê- n e s e refere-se ao desenvolvimento completo de um organismo, desde o embrião até a forma adulta e a morte. 138 C E D E R J C E D E R J 139138 C E D E R J C E D E R J 139 A U LA 1 03ª idade: Iniciativa x culpa Corresponde ao estágio psicossexual genital-locomotor, caracte- rizado pela crescente destreza e responsabilidade. Nesta fase, a criança encontra-se mais avançada e mais organizada, tanto em nível físico como em nível mental. A capacidade de planejar as tarefas e metas a atingir a define como autônoma ou não. A criança continua a reafirmar a sua personalidade e a tomar a iniciativa, mas é susceptível de ser manejada ou pressionada com sen- timentos de culpa. Erikson aconselha os pais a ajudarem os filhos e a encontrarem um equilíbrio saudável entre deixá-los fazer as coisas por si mesmos e guiá-los, estabelecendo limites firmes. O jogo é uma moda- lidade importante de conduta durante esta etapa, pois permite à criança experimentar com as suas fantasias e imaginar o que gostaria de fazer ou ser. Também gostam dos seus heróis e imitam-nos. Além dos jogos físicos com os brinquedos, ela constrói também os chamados jogos mentais, tentando imitar os adultos e entrando no mundo do faz de conta. No entanto, este estágio define-se também como perigoso, pois a criança busca exaustivamente e de uma forma entusiasta atingir as suas metas que implicam fantasias genitais e o uso de meios agressivos a manipulativos para alcançar a essas metas. Valorizando esta etapa, Erikson (1976a, p. 122) diz: A indispensável contribuição da fase da iniciativa para o desen- volvimento ulterior da identidade consiste, pois, obviamente, na libertação da iniciativa e sentido de propósito da criança para as tarefas adultas que prometem (mas não podem garantir) a Psicologia e Educação | Principais abordagens teóricas do desenvolvimento humano: o ciclo epigenético de Erik Erikson 140 C E D E R J C E D E R J 141140 C E D E R J C E D E R J 141 realização plena da gama de capacidades do indivíduo. Isso é preparado na convicção firmemente estabelecida e invariavelmente crescente, não intimidada pela culpa, de que “Eu sou o que posso imaginar que serei”. Contudo, é igualmente óbvio que um desa- pontamento geral dessa convicção por uma discrepância entre os ideais infantis e a realidade adolescente só pode conduzir a um desencadeamento do ciclo de culpa e violência, tão característico do homem e, no estudo, tão perigoso para a sua própria existência (1976a, p.122). 4ª idade: Produtividade ou diligência x inferioridade Nesta fase, a criança necessita controlar a imaginação e dedicar a atenção à educação formal. Ela não só desenvolve um senso de aplicação, como aprende as recompensas da perseverança e da diligência. O prazer de brincar e o interesse pelos brinquedos são desviados para interesses mais produtivos. Também neste estágio existe um perigo: o sentimento de inferio- ridade relativamente à incapacidade de dominância das tarefas que lhe são propostas pelos pais ou professores. A virtude inerente a esse estádio é a competência, a criança sente-se pronta para conhecer, utilizar instrumentos e máquinas, e métodos para desempenhar o trabalho adulto, trabalho esse que implica responsabilidades como ir à escola, fazer as tarefas de casa, desenvolver habilidades, de modo a evitar sentimentos de inferioridade. 140 C E D E R J C E D E R J 141140 C E D E R J C E D E R J 141 A U LA 1 0(...) um senso básico de atividade competente, adaptada tanto às leis do mundo instrumental quanto às regras de cooperação em procedimentos planejados e esquematizados. (...) uma criança neste estágio aprende a amar o aprender e o brincar, e a aprender avidamente aquelas técnicas que estão de acordo com o etos da produção (ERIKSON, 1976, p. 65-66). 5ª Idade: Identidade x confusão / difusão de papéis Chegamos finalmente à adolescência, o quinto estádio que ganha contornos diferentes, devido à crise psicossocial que nele ocorre. A vertente positiva dessa crise nuclear leva o adolescente a adquirir uma identidade psicossocial, isto é, compreende a sua singularidade, o seu papel no mundo. Os adolescentes possuem novas e amplas potencialidades cogni- tivas, exploram e ensaiam estatutos e papéis sociais, tentando resolver uma tarefa principal: resolver o conflito de identidade versus confusão de identidade. A questão básica é: “Quem sou eu?” Uma definição ótima da identidade, além de promover o bem-estar, revela-se pelo “sentimento de que o corpo é como a própria casa, a ‘sensação de saber onde se dirige’ e a convicção de ser reconhecido de antemão pelas pessoas que interes- sam” (ERIKSON, 1976, p. 165). Etos o u éthos É o termo usado na Sociologia, para definir o conjunto de costumes e práticas, padrões e valores, o caráter cultural sin- gular e característico de um determinado grupo social ou socie- dade. De éthos deri- vou o termo Ética. Psicologia e Educação | Principais abordagens teóricas do desenvolvimento humano: o ciclo epigenético de Erik Erikson 142 C E D E R J C E D E R J 143142 C E D E R J C E D E R J 143 A virtude fundamental que surge da crise de identidade é a fideli- dade, isto é, a fé e a lealdade a amigos, companheiros, grupo de valores, uma ideologia ou uma religião. A fidelidade representa o nível mais alto e desenvolvido da virtude da confiança, consiste na capacidade de confiar nos outros e em si mesmo. É necessário que o indivíduo conheça e aceite a própria identidade antes de estabelecer uma relação íntima e prolongada com outra pessoa. No estudo deste estádio, surge um importante conceito de Erikson: a moratória psicossocial. Erikson (1976 apud GALLATIN, 1978, p. 2) refere-se à adolescência: “...não como um período de tempestade e tormenta, mas como um período de crise normativa. No lugar do ideal de tormenta da adolescência, ele coloca o conceito de moratória” (GALLATIN, 1978, P. 20). Para ele, muitos adolescentes têm uma evolução incompleta por terem entrado excessivamente rápido na vida adulta,sem um amadu- recimento anterior, que só poderia ter sido possibilitado por uma boa vivência neste estádio. A possibilidade negativa da solução desta “crise” implica que o ado- lescente se sinta isolado, vazio, ansioso e indeciso, vivenciando sentimentos de confusão/difusão de quem ainda não descobriu a si próprio e não sabe o que pretende, tendo dificuldade em fazer escolhas e tomar decisões. 6ª idade: Intimidade x isolamento 142 C E D E R J C E D E R J 143142 C E D E R J C E D E R J 143 A U LA 1 0Esta fase corresponde ao adulto jovem, que deseja estabelecer relações de intimidade com os outros e adquirir a capacidade necessária para o amor íntimo. Se não for capaz ou tiver medo de fazê-lo, pode tornar-se solitário e abstraído. A capacidade para conseguir uma relação íntima, desfrutar de uma genitalidade sexual verdadeira e plena, ou construir relações de amizade verdadeiras – fundir a sua identidade com a de outros – depende do sen- tido de identidade adquirido na adolescência. Conciliação da identidade sexual com os objetivos do trabalho e da carreira. A vertente negativa deste estádio traduz-se no isolamento de quem não consegue partilhar afetos com intimidade nas relações. 7ª idade: Generatividade x estagnação Psicologia e Educação | Principais abordagens teóricas do desenvolvimento humano: o ciclo epigenético de Erik Erikson 144 C E D E R J C E D E R J 145144 C E D E R J C E D E R J 145 O conflito nuclear desta idade é o conflito entre educar, cuidar do futuro, criar e preocupar-se exclusivamente com os seus interesses e necessidades. A generatividade é a capacidade de cuidar e conduzir a geração seguinte, de ser criativo e produtivo em diversas áreas da vida, e a vir- tude deste período é o cuidado, uma obrigação crescente de cuidar das pessoas e dos produtos e ideias que tenha aprendido. Existe a preocupação com os outros, pensando no futuro, no tipo de mundo que será deixado à próxima geração. A generatividade pode também tomar a forma de produtividade, criatividade ou autogeração. A generatividade denota mais do que educar e criar os filhos, representa uma preocupação com as gerações seguintes. O oposto disso, a estagnação, é denotado pelo egocentrismo, pela preocupação quase exclusiva com o próprio bem-estar e a posse de bens materiais. 8ª idade: Integridade x desespero A última idade do desenvolvimento psicossocial é caracterizada por um olhar retrospectivo, que faz com que, ao nos aproximarmos do final vida, tenhamos a necessidade de avaliar o que fizemos dela, revendo escolhas, realizações, opções e fracassos. Erikson vê o ser humano, no final do ciclo vital, enfrentando a necessidade de aceitar o modo de vida que levou, com o objetivo de admitir a proximidade da morte. É a luta por alcançar a integridade e a coerência do vivido. 144 C E D E R J C E D E R J 145144 C E D E R J C E D E R J 145 A U LA 1 0Quem não consegue essa aceitação responsável é invadido pelo desespero, sentindo que é demasiado tarde para experimentar outras alternativas de vida. Os que têm êxito adquirem um sentido de realização e significado nas suas vidas. A virtude deste estádio é a sabedoria, a percepção de que não vivemos em vão. Ela inclui aceitar a vida que levou, a própria morte como o fim inevitável, as imperfeições de si mesmo, dos outros e da própria existência. A existência de uma nona idade do ciclo epigenético – a gerotranscendência Em 1998, após a morte de Erikson, sua esposa, Joan M. Erikson, publicou uma versão ampliada da teoria do desenvolvimento da perso- nalidade humana, incluindo um nono estádio do ciclo epigenético. Erikson considerava que a tarefa de alcançar a integridade do ego começava na meia-idade, mas que era mais importante na época da terceira idade. Para atingir isso, o adulto de terceira idade deve chegar à conclusão de quem ele é e tem sido, como viveu sua vida, quais as escolhas feitas, as oportunidades usufruídas e aquelas que foram perdidas. Envolve também a capacidade de aceitar a morte e a sua iminência (BEE, 2003, p. 571). Psicologia e Educação | Principais abordagens teóricas do desenvolvimento humano: o ciclo epigenético de Erik Erikson 146 C E D E R J C E D E R J 147146 C E D E R J C E D E R J 147 A obra traz relatos do casal sobre as vivências do final da vida, destacando a compreensão mais ampla dos sentidos de sabedoria e integridade, e aglutinando-as no que chamaram de gerotranscendência, estágio final num processo natural rumo à maturação e à sabedoria. Esta fase seria caracterizada por “uma profunda mudança de perspectiva, de uma visão materialista e racional, para uma visão mais cósmica e transcendente, normalmente seguida por um aumento na satisfação de vida” (1998, p. 103). Para Erik e Joan Erikson (1998), na obra citada, a base que nos apoia até os últimos dias de vida é a “Confiança Básica”. Essa confiança, que tivemos durante a nossa vida, permite-nos lidar com os e l e m e n t o s d i s t ô n i c o s , que nos causam sofrimento. Podemos aprender com eles a viver com as inerentes limitações e potencialidades, características da velhice, pois temos confiança também em nós mesmos. Se tivermos vivendo e lidando com todos estes obstáculos e perdas aos noventa anos ou mais, temos um firme apoio do qual depender. Desde o início, nós somos abençoados com a confiança básica. Sem ela a vida é impossível, e com ela nós persistimos. Como uma força permanente, ela nos acompanhou e sustentou com esperança. Sejam quais forem as fontes específicas da nossa confiança básica, e independente de quão seriamente a esperança foi desafiada, ela nunca nos abandonou completamente. A vida sem ela é simplesmente impensável. Se ainda sentimos plenamente a intensidade de existir e esperar por novas graças e esclarecimen- tos, então temos razão para viver. Eu estou convencida de que, se os anciãos chegarem a um acordo com os elementos distônicos em suas experiências de vida no nono estágio, eles conseguirão avançar com sucesso no caminho que leva à gerotranscendência (ERIKSON; ERIKSON, 1998, p. 95). O termo distonia refere-se a um grupo de doenças neuroló- gicas, crônicas e inca- pacitantes, caracteri- zadas por espasmos musculares involun- tários que produzem movimentos e pos- turas anormais, atin- gindo desde pequenas partes corporais até o corpo todo. No texto, a expressão “elemen- tos distônicos” é usada para designar os aspectos negativos, que provocam mal- estar e sofrimento. 146 C E D E R J C E D E R J 147146 C E D E R J C E D E R J 147 A U LA 1 0 2. No quadro abaixo você encontra as oito idades descritas por Erikson no Ciclo Vital do desenvolvimento humano. Consultando o texto da aula escolha uma característica importante de cada etapa e anote-o, completando o quadro e realizando uma revisão do que foi aprendido. 1.ª idade (0-18 meses) Confi ança versus desconfi ança 2.ª idade (18 meses – 3 anos) Autonomia versus dúvida e vergonha 3.ª idade (3-6 anos) Iniciativa versus culpa 4.ª idade (6-12 anos) Indústria versus inferioridade 5.ª idade (12-18 anos) Identidade versus difusão ou confusão 6.ª idade (18-30 anos) Intimidade versus isolamento 7.ª idade (30-60 anos) Generatividade versus estagnação 8.ª idade (após os 65 anos) Integridade versus desespero ATIVIDADEATIVIDADE PossÍVEis APLiCAÇÕEs EDuCACionAis Dos PrinCÍPios DE Erikson Erikson é um autor que fala muito da importância da educação em seus escritos sobre o desenvolvimento humano. Destacaremos três aspectos da teoria de Erikson para a educação e o cotidiano dos processos de ensino e aprendizagem. a.A importância do grupo e do professor Psicologia e Educação | Principais abordagens teóricas do desenvolvimento humano: o ciclo epigenético de Erik Erikson 148 C E D E R J C E D E R J 149148 C E D E R J C E D E R J 149 Com a ênfase atribuída às relações interpessoais para o desen- volvimento harmonioso do ciclo epigenético da vida, Erikson (1979) atribui papel de destaque ao grupo, “palco” de experiências relativas da construção da identidade e ao professor. Afirma o autor: Bons professores, professores sadios, professores relaxados, pro- fessores que se sentem apoiados e respeitados pela comunidade, compreendem tudo isto e podem orientá-la (a criança). Sabem como alternar o jogo e o trabalho, brinquedo e estudo. Sabem como reconhecer esforços especiais, como encorajar prendas especiais. Sabem como dar tempo à criança e como lidar com aquelas crianças para as quais, por ora, a escola não é importante e apenas algo a ser suportado e não desfrutado; ou a criança para a qual, por enquanto, outras crianças são mais importantes que o professor (ERIKSON, 1979, p. 101). b. O conceito de moratória psicossocial 148 C E D E R J C E D E R J 149148 C E D E R J C E D E R J 149 A U LA 1 0Erikson é um dos autores que dá maior importância à adolescên- cia. Segundo ele, é neste estádio que se consolida a identidade humana, a partir de conflitos, vivenciados anteriormente e prenunciando outros, que serão enfrentados nas “idades” da fase adulta. A pessoa jovem, a fim de sentir a globalidade, deve experimentar uma continuidade progressiva entre aquilo que foi durante os longos anos de infância e aquilo em que promete converter-se, no futuro previsto; entre aquilo que ela se concebe ser e aquilo que ela percebe os outros verem nela e esperarem dela. Individualmente falando, a identidade inclui (mas é mais do que) a soma de todas as identificações sucessivas desses primeiros anos, quando a criança queria ser como as pessoas de quem dependia – e frequentemente era forçada a sê-lo. A identidade é um produto singular que en- frenta agora uma crise a ser exclusivamente resolvida em novas identificações com os companheiros da mesma idade e com figuras de líderes fora da família (ERIKSON, 1976, p. 86). É necessário, para que isso ocorra, que a família, a escola e a socie- dade em geral tenham certa “paciência” com os jovens e os seus conflitos, procurando entendê-los e dando-lhes oportunidade de corrigir desvios das resoluções de conflitos das etapas de desenvolvimento anteriores. É a isto que Erikson (1976, p.157) chama de “moratória”: (...) um período de espera concedido a alguém que não está pronto para enfrentar uma obrigação ou é algo imposto a alguém a quem não deveria dar-se um prazo de tempo. Assim, entendemos por moratória psicológica um compasso de espera dos compromissos adultos e, no entanto, não se trata apenas de uma espera. É um período que se caracteriza por uma tolerância seletiva por parte da sociedade e uma atividade lúdica por parte do jovem. Contudo, também conduz, frequentemente, a um empenho profundo, ainda que muitas vezes transitório por parte do jovem, e acaba numa confirmação mais ou menos cerimonial desse compromisso pela sociedade (ERIKSON, 1976, p. 157). c. O desenvolvimento da identidade e do autoconceito Já foi suficientemente destacada a importância que esta teoria dá ao desenvolvimento da identidade ao longo dos nove estádios que compõem o ciclo vital. Psicologia e Educação | Principais abordagens teóricas do desenvolvimento humano: o ciclo epigenético de Erik Erikson 150 C E D E R J C E D E R J 151150 C E D E R J C E D E R J 151 Lindahl (1988), estudando a teoria de Erikson (1976), considerou como o impacto continuado de situação de fracasso e desaprovações possivelmente favorece a essas crianças sentirem-se inferiorizadas. É como se o insucesso e as críticas constantes recebidas (como ocorre frequentemente na escola) levassem a uma formação distorcida da identidade. Destacamos três fases em especial, nesse processo de integração e desenvolvimento harmonioso da identidade do ser humano. 1. Comecemos pelo terceiro estágio, caracterizado por Erikson pelo conflito entre iniciativa e culpa. Corresponde geralmente à idade pré-escolar e é caracterizado, entre outros aspectos: • pelo processo de diminuição da dependência e cresci- mento da independência emocional e instrumental (no desempenho de atividades); • pelo interesse nos órgãos genitais, sua manipulação e a curiosidade pelas diferenças sexuais; • pelo que Erikson chama de “intrusão”: no desconhecido, pelos inúmeros porquês; nos espaços livres, pela atividade motora acentuada; no outro, pelo tom de voz elevado, pelas brincadeiras agressivas. Todas essas ações levam à iniciativa: equilibrada e sadia ou exage- rada e antissocial. A postura educativa dos pais e da escola é fundamental para o desenvolvimento da iniciativa saudável, pois cada pessoa precisa descobrir até onde sadiamente pode ir com suas iniciativas. O estilo de autoridade suave e dialógico favorece este processo, enquanto o estilo rígido, a autoridade dura e impositiva dificulta a inte- gração sadia desse padrão. 2. O segundo estágio do ciclo vital que escolhemos é o quarto (produtividade ou diligência x inferioridade), que normalmente corres- ponde à idade inicial da Educação Fundamental. 150 C E D E R J C E D E R J 151150 C E D E R J C E D E R J 151 A U LA 1 0 A criança precisa aprender a assumir tarefas e realizá-las respon- savelmente, mesmo quando surgem dificuldades. Esta idade tem impacto sobre o futuro profissional do indivíduo, sobre a própria escolha vocacional, pois o sentimento de produtividade ou diligência tem efeito na própria construção da autoestima. Estimulada para o polo positivo da resolução desta crise, a criança passa a acreditar em si mesma, ter consciência das próprias capacidades e competências, aceitar, assumir e cumprir responsabilidades e desafios. Fortifica assim o sentimento de segurança pessoal e prepara-se para a superação dos desafios das fases do desenvolvimento futuras. 3. Nosso terceiro destaque, vai para a quinta idade do homem, a adolescência, caracterizada, como já vimos, pelo conflito entre identidade e a difusão ou confusão de papéis. É na adolescência que o indivíduo desenvolverá as condições de crescimento fisiológico, maturação intelectual e responsabilidade social que irão prepará-lo para experimentar e ultrapassar a crise da identi- dade. Para Erikson (apud GALLATIN, 1978, p. 1), essa crise incorpora elementos de todas as outras, ou seja, a formação da identidade “entalha Psicologia e Educação | Principais abordagens teóricas do desenvolvimento humano: o ciclo epigenético de Erik Erikson 152 C E D E R J C E D E R J 153152 C E D E R J C E D E R J 153 um conjunto bastante complexo de relação entre os diversos estágios do desenvolvimento humano e a adolescência está assentada no meio do caminho” (p. 1). Em busca destas definições e em processo de independência cres- cente, a escola e os educadores têm grande importância e responsabili- dades. Segundo Erikson (1965, p. 24): Na juventude, as regras da dependência infantil começam a cair. Não é mais o velho que ensina ao jovem o significado individual ou coletivo da vida. É o jovem que, por meio de suas respostas e ações, diz ao adulto se a vida, da maneira como é representada pelo idoso e representada pelo jovem, tem significado. E é o jovem que carrega em si o poder de confirmar aqueles que o confirmam, de renovar e dar nova vida, ou de reformar e de se rebelar. São naturais nestaidade, portanto, os conflitos, as atitudes críticas e reivindicatórias, a alternância rápida de emoções e sentimentos. Retornamos, ao final desta aula, à reivindicação que Erikson faz para a adolescência: uma “moratória” para que se possa definir a iden- tidade e crescer, e concordamos com Santomé (2003, p. 211): Muitos adultos se queixam dos jovens, sobretudo de seu indi- vidualismo ou egoísmo, de seu isolamento na hora de resolver até mesmo seus problemas individuais. A meu ver, isto também é provocado pelo sistema educacional na medida em que esses meninos e meninas não conseguem compreender que os problemas individuais e particulares muitas vezes têm uma explicação mais coletiva, que grande parte de seus medos, angústias e problemas derivam das condições de vida que afetam os grupos humanos aos quais pertencem e que, portanto, uma das formas mais eficazes de enfrentá-los e resolvê-los passa por atuações mais coletivas, precisa da colaboração do restante da comunidade (p. 211). 152 C E D E R J C E D E R J 153152 C E D E R J C E D E R J 153 A U LA 1 0ATiViDADEs finAis Têm como objetivo identificar os príncipios fundamentais da teoria de Erik Erikson e conceituar identidade, situando a sua evolução no ciclo epigenético da vida do homem, dando relevo ao período evolutivo da adolescência. 1. A maioria dos teóricos vê a socialização como um processo inerente à transformação que ocorre nos estágios de desenvolvimento humano. Correlacione os autores a seguir com suas visões teóricas: 1) Erik Erickson 2) Jean Piaget 3) Sigmund Freud ( ) A formação da identidade infantil é marcada pela qualidade da interação entre a criança e o meio, e consiste em desafios cotidianos e crises que o indivíduo enfrenta no decorrer da vida. ( ) O conflito faz parte do processo de socialização e formação da personalidade, sobretudo, pelo fato de envolver processo conscientes e inconscientes, além de tensões entre as instâncias psíquicas. ( ) Os conteúdos relacionados à socialização são baseados no reconhecimento e nas operações com o objeto através de processos cognitivos concretos e abstratos. ( ) Considerando as limitações da mente para pensar e ensaiar alternativas, a aquisição do papel social é derivada dos estágios de atuação, do jogo e do outro generalizado. A sequência correta é: a. _, 2, 1 e 3. b. 1, 2, 3 e _. c. 3, _, 2 e 1. d. 1, 3, 2 e _. e. 3, 2, _ e 1. Psicologia e Educação | Principais abordagens teóricas do desenvolvimento humano: o ciclo epigenético de Erik Erikson 154 C E D E R J C E D E R J 155 2. Erik Erikson abriu caminho a uma nova fase na compreensão do desenvolvimento humano e possibilitou novas perspectivas à investigação na psicologia do desenvolvimento (ciclo epigenético do desenvolvimento) e da personalidade (Psicologia do Ego). a) Comente o modelo psicossocial de Erikson, a partir dos conceitos de estádio, moratória e crise. b) Caracterize o estádio da identidade versus difusão de papéis, situando-o num período do desenvolvimento humano. Respostas Comentadas 1) Resposta certa - d. 2.a) O modelo teórico de Erikson é chamado de psicossocial porque, em contrapo- sição às ideias de Freud e dos psicanalistas clássicos, dá destaque aos elementos sociais e ao seu impacto sobre o desenvolvimento humano. Assim, os estádios que compõem o ciclo vital são determinados pelos três grandes fatores que compõem a identidade humana: biológicos, sociais e individuais. Cada estádio ou etapa do ciclo vital é caracterizado por uma crise normativa ou conflito nuclear, vivenciado de forma positiva, não se constituindo em ameaça potencial ao desenvolvimento humano harmonioso. São, na realidade, desafios a serem enfrentados, pontos nodais e decisivos do ciclo vital, em que a fragilização é conjugada com um considerável aumento de potencial para a superação e o atingimento da fase posterior. A sociedade precisa dar ao indivíduo, principalmente na adolescência, um compasso de espera nos compromissos adultos, um tempo de que ele necessita para vivenciar a “crise”, envolver-se em atividades de exploração e experimentação que lhe permitam conhecer-se melhor e atingir de forma satisfatória consolidação da identidade. 2.b) O estádio da identidade versus difusão de papéis é vivenciado na adolescência e a sua tarefa fundamental é a consolidação da identidade. Resíduos das crises anteriores são vivenciados e a relação com o grupo de pares assume importância 154 C E D E R J C E D E R J 155 r E s u m o Esta aula focalizou a abordagem psicossocial do desenvolvimento humano, elaborada por Erik Erikson, psicanalista dissidente da Psicanálise clássica, freudiana. Além apresentar alguns dados biográficos de Erikson, foram destacados três conceitos importantes da sua teoria: o de identidade, o de crise normativa ou conflito nuclear e o de ciclo ou diagrama epigenético. Erikson descreveu oito idades que compõem esse ciclo, enriquecidas por uma nona, elaborada pelo teórico ao final da vida. Merecem destaque as aplicações educacionais de alguns aspectos dessa teoria: a importância do professor e da instituição escolar, a moratória psicossocial e a relação entre a identidade e a construção da autoestima do indivíduo. fundamental. Surge forte preocupação consigo mesmo e com a forma como os outros o percebem, assim como a vivência de “ritos de passagem” para a idade adulta. Nas tentativas e experiências podem surgir “identidades transitórias”, nega- tivas, confusas e circunstanciais.
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