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Ananindeua 2017 ESCOLA SUPERIOR MADRE CELESTE - ESMAC CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA DANILO GLENDO SANTANA GUEDES ÍSIS CRISTINA TRINDADE DOS SANTOS FERREIRA A CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO FÍSICA PRESENTE NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR DANILO GLENDO SANTANA GUEDES ÍSIS CRISTINA TRINDADE DOS SANTOS FERREIRA A CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO FÍSICA PRESENTE NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR Trabalho de Conclusão de Curso apresentado junto ao curso de Licenciatura em Educação Física da Escola Superior Madre Celeste como quesito de avaliação. Orientador: Profº. Me. Ney França Ananindeua 2017 DANILO GLENDO SANTANA GUEDES ÍSIS CRISTINA TRINDADE DOS SANTOS FERREIRA A CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO FÍSICA PRESENTE NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR Trabalho de Conclusão de Curso apresentado junto ao curso de Licenciatura em Educação Física da Escola Superior Madre Celeste como quesito de avaliação. Aprovado em:____/____/_____. Nota:_____ BANCA EXAMINADORA _________________________________________ Docente orientador: Me. Ney Ferreira França Escola Superior Madre Celeste - ESMAC _________________________________________ Docente avaliador interno: Me. Robson dos Santos Bastos Escola Superior Madre Celeste - ESMAC 3 A CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO FÍSICA PRESENTE NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR Danilo Guedes1 Ísis Trindade2 Prof. Me. Ney Ferreira França3 RESUMO Em 2014 começou um debate sobre a educação brasileira no qual pensaram em um Plano Nacional de Educação (PNE) e um dos elementos que compuseram esse plano foi a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). O objetivo desse estudo é analisar as concepções de Educação Física presente na BNCC apresentada pelo MEC. A abordagem metodológica é o Materialismo Histórico Dialético. As pesquisas utilizadas serão básica, qualitativa, exploratória e explicativa, bibliográfica e documental. Os dados serão de origem primária e secundária coletados a partir de acervos disponíveis na internet e bibliotecas. Foram analisadas como fonte de dados duas versões da BNCC, a segunda e a terceira versão, e utilizados como referenciais para análise autores como Saviani, Schultz, Martins e Duarte, Azevedo e Shigunov e Bastos, Santos Jr e Ferreira que deram fundamentação científica e embasamento teórico para que se pudesse chegar a um resultado. A BNCC apresenta uma concepção de Educação Física crítico-emancipatória, tem como base uma teoria curricular Pós – crítica, além de trazer uma lógica neoliberal de ensino/trabalho. Palavra-chave: Currículo. Educação Física. Políticas Públicas. 1 INTRODUÇÃO O interesse pelo estudo da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) surgiu primeiramente da vontade de pesquisar sobre políticas públicas relacionadas à Educação Física, então foi sugerido o tema sobre a BNCC pois é um conteúdo que está em destaque no setor educacional. Tem como importância para a formação acadêmica estar informados sobre o que se está discutindo no momento, pois esse projeto de lei para a educação brasileira 1 Discente do 7º semestre do curso de Licenciatura em Educação Física da instituição Escola Superior Madre Celeste - ESMAC, turma EF7N1, e-mail: danilogds52@gmail.com; 2 Discente do 7º semestre do curso de Licenciatura em Educação Física da instituição Escola Superior Madre Celeste - ESMAC, turma EF7N1, e-mail: isiscristinaferreira@gmail.com ; 3 Orientador, e-mail: francaney@yahoo.com.br . 4 propõe como ponto principal a mudança dos conteúdos, determinando que todas as escolas do país terão uma base comum a ser estudada. Então é importante analisar como serão as propostas direcionadas à Educação Física e como será estabelecido esse currículo comum ao que diz respeito à disciplina. Muito se tem discutido, recentemente acerca da BNCC e como se dará o seu papel dentro das escolas. Porém, especificamente na Educação Física denota-se que muitas mudanças irão ocorrer durante esse processo de instalação do projeto, então é preciso estar ciente de tudo, sabendo como será todo esse processo de elaboração do currículo e como a Educação Física deverá ser pensada nesse contexto. Então essa é uma pesquisa que se torna relevante para a sociedade como um todo, pois todos devem ter conhecimento para tratar a respeito do tema a ser desenvolvido nessa pesquisa. Para isso é necessário esclarecer os pontos que tangem a Educação Física para que sirva de base e agregue conhecimento a cada indivíduo. Para tal, busca-se compreender esse elemento do Plano Nacional de Educação (PNE) através de referências teóricas bibliográficas já elaboradas no campo destinado à pesquisa, as leis que foram modificadas por conta da BNCC, além de trazer documentos para dar fundamentação à pesquisa. A Base Nacional Comum Curricular, irá modificar a educação pondo como ponto principal a mudança curricular nos conteúdos de cada disciplina e a forma de aplicação desses conteúdos. (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2015). Outro ponto que podemos destacar é que com essa mudança a carga horária das disciplinas, com a exceção de português e matemática, serão diminuídas afetando o trabalho do professor. É importante ressaltar que nessa pesquisa serão utilizadas duas versões da BNCC, a segunda versão publicada em maio de 2016 e a terceira publicada em abril de 2017 (versão final) pelo MEC. As duas servirão como objetos de análise, pois na terceira versão não se menciona o ensino médio, são colocados apenas os ensinos infantil e fundamental, sendo que o fundamental está dividido em séries iniciais (2º ao 5º ano) e finais (6º ao 9º ano). A primeira versão não foi usada para análise de dados porque ainda não estava condessada, estavam ocorrendo muitos debates para se chegar a um resultado final. Então para que os efeitos da pesquisa pudessem ser contundentes foram utilizadas apenas as duas últimas versões. 5 O currículo da Educação Física é o ponto principal desenvolvido nessa pesquisa, para analisar quais perspectivas a BNCC promove na disciplina que é de suma importância para a formação do aluno, tanto no que diz respeito ao corpo quanto a mente. Além disso, vivemos em um momento muito oportuno para tal pesquisa, pois o currículo, em específico o componente curricular Educação Física, além de estar sendo reformado, ele também está sendo alvo de uma expressiva modificação que se trata da Medida Provisória (MP) nº 746/2016 e que determinou mudanças na lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que explicita: Seção I Das Disposições Gerais Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino fundamental e do ensino médio devem ter base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos educandos. § 2º O ensino da arte, especialmente em suas expressões regionais, constituirá componente curricular obrigatório da educação infantil e do ensino fundamental, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos. (Redação dada pela Medida Provisória nº 746, de 2016) § 3º A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular obrigatório da educação infantil e do ensinofundamental, sendo sua prática facultativa ao aluno: (Redação dada pela Medida Provisória nº 746, de 2016) I – que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a seis horas; (Incluído pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003) II – maior de trinta anos de idade; (Incluído pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003) III – que estiver prestando serviço militar inicial ou que, em situação similar, estiver obrigado à prática da educação física; (Incluído pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003) IV – amparado pelo Decreto-Lei no 1.044, de 21 de outubro de 1969; (Incluído pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003) V – (VETADO) (Incluído pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003) VI – que tenha prole. (Incluído pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003) Seção IV Do Ensino Médio 4Art. 36. O currículo do ensino médio observará o disposto na Seção I deste Capítulo e as seguintes diretrizes: Art. 36. O currículo do ensino médio será composto pela Base Nacional Comum Curricular e por itinerários formativos específicos, a serem definidos pelos sistemas de ensino, com ênfase nas seguintes áreas de conhecimento ou de atuação profissional: (Redação dada pela Medida Provisória nº 746, de 2016) I - destacará a educação tecnológica básica, a compreensão do significado da ciência, das letras e das artes; o processo histórico de transformação da sociedade e da cultura; a língua portuguesa como instrumento de comunicação, acesso ao conhecimento e exercício da cidadania; 4 Os trechos que estão tachados, são trechos da Lei nº 9.394/1996 reformulados após a medida provisória nº 746/2016 se tornar lei. 6 I - linguagens;(Redação dada pela Medida Provisória nº 746, de 2016) II - adotará metodologias de ensino e de avaliação que estimulem a iniciativa dos estudantes; II - matemática; (Redação dada pela Medida Provisória nº 746, de 2016) III - será incluída uma língua estrangeira moderna, como disciplina obrigatória, escolhida pela comunidade escolar, e uma segunda, em caráter optativo, dentro das disponibilidades da instituição. III - ciências da natureza; (Redação dada pela Medida Provisória nº 746, de 2016) IV – serão incluídas a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatórias em todas as séries do ensino médio. (Incluído pela Lei nº 11.684, de 2008) IV - ciências humanas; e (Redação dada pela Medida Provisória nº 746, de 2016) V - formação técnica e profissional. (Incluído pela Medida Provisória nº 746, de 2016) § 1º Os conteúdos, as metodologias e as formas de avaliação serão organizados de tal forma que ao final do ensino médio o educando demonstre: I - domínio dos princípios científicos e tecnológicos que presidem a produção moderna; II - conhecimento das formas contemporâneas de linguagem; III - domínio dos conhecimentos de Filosofia e de Sociologia necessários ao exercício da cidadania. § 1º Os sistemas de ensino poderão compor os seus currículos com base em mais de uma área prevista nos incisos I a V do caput. (BRASIL, Redação dada pela Medida Provisória nº 746, de 2016) As leis relacionadas ao currículo não abrangem mais todas as fases da educação básica, ou seja, algumas disciplinas agora são obrigatórias apenas no ensino infantil e no fundamental, no médio torna-se facultativa nas aulas a frequência de alunos que façam ensino técnico. Então é de suma importância analisar as propostas da BNCC na perspectiva da Educação Física, pois esse componente do Plano Nacional de Educação (PNE) vem sendo discutido e também vem provocando significantes mudanças nas leis que envolvem a educação do Brasil. Assim para efeito da pesquisa elaborou-se o seguinte problema: Qual a concepção de Educação Física está posta no documento que trata sobre a BNCC apresentada pelo MEC para educação brasileira? Para contribuir na resposta da pergunta acima formulou-se o seguinte objetivo geral: Analisar a concepção de Educação Física presente na BNCC apresentada pelo MEC. Com os objetivos específicos: a) Investigar sobre currículo e a BNCC; b) Examinar materiais publicados sobre a BNCC; c) Identificar as propostas que a BNCC apresenta para a Educação Física. 7 2 REVISÃO DA LITERATURA É de conhecimento geral que a BNCC vai ser implantada nas escolas nos próximos anos determinados pelo Plano Nacional de Educação (PNE), previsto de 2014 até 2024. Neste momento do Trabalho de Conclusão de Curso serão delineadas as fases para que entendam como se deu essa Base e qual a concepção que ela traz para a disciplina Educação Física. Além disso, serão abordadas questões de como o ser humano se difere dos outros animais por adquirir conhecimento e transformar a natureza. Como são repassados os conhecimentos a partir da cultura, as mudanças curriculares com base nos Decretos/Leis, periodização da educação e análises de algumas abordagens pedagógicas dando destaque ao currículo. E por fim, conceituar currículo dando ênfase na BNCC. 2.1 DE ONDE VEM O CONHECIMENTO? Antes de mais nada é preciso mencionar que o homem é o único animal que se difere dos outros, por conta do processo de construção cultural e da transformação da natureza. Vejamos, Lessa e Tonet (2008) afirmam a partir de estudos feitos em Marx que o trabalho é efetivado através da transformação da natureza, que por sua vez transforma o indivíduo e a sociedade por conta dos conhecimentos e habilidades adquiridas ao transformar a natureza. O exemplo utilizado na obra é a utilização de algum meio para que o sujeito pudesse abrir um coco. Por meio de uma necessidade, o ser humano através de uma prévia-ideação5, feita através da construção de um machado, alcança a objetivação6, ou seja, a abertura do coco. O trabalho é o fundamento do ser social porque transforma a natureza na base material indispensável ao mundo dos homens. Ele possibilita que, ao transformarem a natureza, os homens também se transformem. E essa articulada transformação da natureza e dos indivíduos permite a constante construção de novas situações históricas, de novas relações sociais, de novos conhecimentos e habilidades, num processo de acumulação 5 Seria antecipar ou prever o que e qual alternativa seria mais possível e provável para chegar a um determinado objetivo. 6 Seria a realização e execução do que foi pensado na fase da “prévia-ideação”. 8 constante. É esse processo de acumulação de novas situações e de novos conhecimentos – o que significa novas possibilidades de evolução – que faz com que o desenvolvimento do ser social seja ontologicamente (isto é, no plano do ser) distinto da natureza. (LESSA e TONET, 2008, p. 26) Logo, foi observado a seguinte maneira em que para o homem (em um plano geral) adquirir conhecimento é preciso que ele tenha uma interação com a natureza, ou seja, que ele possa fazer parte da transformação dela acarretando no avanço da sociedade. Isto implica no debate do ensino sistemático, ou seja, a escola, que traria para o aluno uma forma de se relacionar com a natureza, transformando-a e por consequência disso adquirindo conhecimento para si e para o seu contexto social. O que será abordado no próximo tópico, Educação Escolar: Primeiras Impressões. 2.2 EDUCAÇÃO ESCOLAR: PRIMEIRAS IMPRESSÕES É imprescindível ter o conhecimento acerca desse tema antes de começarmos a tratar sobre a essência dessa pesquisa que é o currículo da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Para isso, serão usados autores e obras clássicas, como por exemplo, Romanelli em História da Educação no Brasil (1986) e Saviani, em suas obras, História das Ideias Pedagógicas no Brasil (2011), Escola e Democracia (2015) e PedagogiaHistórico Crítica: Primeiras Aproximações (2011). Neste tópico serão abordados assuntos relacionados à educação, tais como as suas especificidades e sobre os acontecimentos históricos, delineando uma organização de ordem cronológica e debatendo o tema que cerne esta pesquisa. 2.2.1 A EDUCAÇÃO E SUAS ESPECIFICIDADES De acordo com Romanelli (1968) a educação segundo advém da cultura, pois: A forma como se origina e evolui a cultura define bem a evolução do processo educativo. [...] Traços evidentes desse processo são encontrados sob a forma de tradição cultural, dando conteúdo à escola de nossos dias. (ROMANELLI, 1968, p. 19-20) 9 Portanto, a educação tem laços com a cultura, pode-se dizer que há uma reciprocidade. Pois sem cultura não há educação e sem educação não há cultura. Pode-se citar também Baribieri, Porelli e Mello (2008) que dizem que o papel fundamental da educação consiste na transmissão do conhecimento historicamente produzido e acumulado pelo homem às novas gerações. Dessa forma, a educação atua na produção e reprodução da vida humana. (BARBIERI E PORELLI, 2008, p.224) Percebe-se uma grande troca entre educação e cultura nos dois conceitos trazidos pelos autores citados acima. Sendo assim convém abordar a cultura já que segundo estes autores, ela está presente na educação de forma atuante. Um dos autores mais plausíveis que tratam sobre o conceito antropológico de cultura é o Laraia (2001), pois segundo ele, O homem é o resultado do meio cultural em que foi socializado. Ele é um herdeiro de um longo processo acumulativo, que reflete o conhecimento e a experiência adquirida pelas numerosas gerações que o antecederam. A manipulação adequada e criativa desse patrimônio cultural permite as inovações e as invenções. (LARAIA, 2001, p.24) Dentro desse contexto faz-se necessário entender sobre a cultura e duas das vertentes englobadas por ela, ou seja, a cultura popular e a cultura erudita. A primeira (cultura popular) está presente no cotidiano das pessoas, nas heranças culturais, além dos costumes e hábitos de cada região. Já a segunda (cultura erudita) tem como característica a sistematização do ensino, sendo ele repassado através de institutos intelectuais (escolas, universidades, etc...) ou em locais que colaboram com o enriquecimento do conhecimento, por exemplo, o teatro, apresentações culturais de dança e canto. A partir destes dois referenciais de cultura, podemos colocar diferentes dimensões da cultura, como a cultura criada pelo povo (popular), que articula uma concepção do mundo em contraposição aos esquemas oficiais; a cultura erudita que é transmitida na escola e sancionada pelas instituições; (ALMEIDA E GUTIERREZ, 2004, p. 50) Sabendo desses conceitos sobre cultura, partimos do pressuposto que a cultura está inserida em todos os âmbitos da sociedade e um de seus principais vetores é o ensino escolar, pois os indivíduos que integram as escolas irão possuir a cultura de forma sistematizada, para os autores Duarte, Werneck e Cardoso (2013) 10 é preciso conhecer a cultura e a sociedade onde se encontram inseridos, conhecer o significado das coisas e do mundo à luz da cultura a que pertencem, para que se possa perceber e melhor compreender os padrões de comportamento e condutas que caracterizam os processos sociais que, de modo geral, influenciam a educação como um todo (2013, p. 208-209) Libâneo (1994, p.16-17) afirma que “A educação é um fenômeno social e universal, sendo uma atividade humana necessária à existência e funcionamento de toda a sociedade”. Portanto, a educação está ligada a várias vertentes da sociedade e é parte importante da formação de uma sociedade e por consequência de uma cultura existente nela. Existem dois tipos de educação: a escolar7 e não escolar8. A educação não escolar é adquirida através da vivência em sociedade, pois o indivíduo internaliza os costumes e tradições do seu contexto, além dos meios de comunicação também fazerem parte dessa educação. Sendo mais objetivo, esta educação é adquirida fora da escola. De acordo com Biesdorf (2011, p.2) “educação informal de uma pessoa será definida pelo ambiente em que ela vive, ou seja, trata-se de uma herança cultural”. Já a educação formal é caracterizada pela sistematização do currículo que a compõe, além de ter uma estrutura relativamente específica para ensinar. A família é a principal instituição responsável pela educação informal, através da qual são ensinados os costumes humanos como falar, andar, comer, religião, cultura [...] Já a escola é a instituição responsável pela educação formal, local onde acontece a mediação dos conhecimentos científicos. (BIESDORF, 2011, p. 3) Assim pode-se afirmar que a educação informal pode ocorrer em qualquer lugar em que o indivíduo esteja inserido, sendo ela, parte de sua cultura, vivência e prática social. Porém, a educação da qual este estudo se trata é a educação formal que deve ocorrer em espaços estruturados para tal formação, ou seja, escolas, instituições superiores, entre outras. Mais adiante será tratada a história da educação formal no Brasil, da qual se trata esta pesquisa. 7 Educação formal. 8 Educação informal. 11 2.2.2 HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL A educação no Brasil passou por várias mudanças ao longo da sua história até chegar nos dias atuais e nesse tópico será abordado a periodização e sistematização do ensino formal. A partir de estudos desenvolvidos por Saviani em seu livro “História das Ideias Pedagógicas no Brasil” (2011) é observado a evolução da organização escolar em diferentes períodos e contextos sociais no Brasil, que vai de 1549 a 1996 que será esclarecido abaixo. Quadro 01 – Periodização da educação formal no Brasil. PERÍODO ANO FATOS HISTÓRICOS 1º período 1549-1759 Foi relatada a chegada dos primeiros jesuítas no Brasil liderados pelo padre Manoel da Nóbrega. É com a chegada deles que tem início a educação formal, dando ênfase a uma pedagogia tradicional religiosa. 2º período 1759-1932 Neste contexto os jesuítas foram expulsos pelo Marques de Pombal, onde foi instituída a reforma pombalina em que houve a alteração da vertente religiosa para o laicismo, ou seja, libertando a educação das influências da igreja. 3º período 1932-1947 Há um equilíbrio entre a pedagogia tradicional (em que a referência é o professor) e a pedagogia nova ou escolanovista (em que a referência era o aluno) 4º período 1947-1961 A influência da pedagogia nova/escolanovista predomina. 5º período 1961-1969 Há a crise da pedagogia nova abrindo espaço para a articulação da pedagogia tecnicista. 6º período 1969-1980 Predomínio da pedagogia tecnicista e por conseguintes manifestações contra esse modelo de educação. 12 7º período 1980-1991 Necessidade da pedagogia histórico crítica e de outras propostas alternativas. 8º período 1991-1996 Criação da Segunda LDB, produção e propostas de introdução da pedagogia crítica. FONTE: SAVIANI, 2011, p. 14-17. Este quadro nos remete às mudanças ocorridas de acordo com o tempo, sobre a construção e desenvolvimento da educação. Para entendermos o contexto educacional atual é necessário trazermos esse debate. Veremos a seguir os acontecimentos históricos que corroboraram para a consolidação da Educação Física na educação formal, através de leis e de acordo com a conjuntura de cada época vigente. 2.3 EDUCAÇÃO FÍSICA: E SUAS DIFEREINTES CONCEPÇÕES NA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA A Educação Física tem seu início obrigatório nas escolas aindacomo ginástica a partir de 17 de fevereiro de 1854 quando Luiz Pedreira do Couto Ferraz, Ministro do Império, aprova um decreto (nº 1.331-A), ou seja, uma reforma no ensino primário e secundário. Essa reforma estabelecia a ginástica como um dos elementos do currículo do ensino primário. Mais especificamente no art. 47º. [...] A geometria elementar, agrimensura, desenho linear, noções de musica e exercicios de canto, gymnastica, e hum estudo mais desenvolvido do systema de pesos e medidas, não só do municipio da Côrte, como das provincias do Imperio, e das Nações com que o Brasil tem mais relações commerciaes. (BRASIL. Decreto nº 1.331-A, de 17 de fevereiro de 1854). No art. 80º da mesma lei também aparece a ginástica, mas agora no ensino secundário, em que diz “Farão os alumnos exercicios gymnasticos, debaixo da direção de hum mestre especial” Após esse momento, houve outro decreto o de nº 7247 de 19 de abril de 1879, chamado de reforma Leôncio de Carvalho, essa reforma viria para modificar o ensino 13 primário, secundário e o superior. A ginástica aparece no decreto, primeiramente no art. 4º em que ela vem como uma das disciplinas do ensino primário do 1º grau, já que esta reforma dividiu o ensino primário em 1º e 2º grau. Já no segundo grau ela seria melhor aprofundada, juntamente com outras disciplinas. Art. 4º O ensino nas escolas primarias do 1º gráo do municipio da Côrte constará das seguintes disciplinas: [...] Gymnastica. [...] O ensino nas escolas do 2º gráo constará da continuação e desenvolvimento das disciplinas ensinadas nas do 1º gráo e mais das seguintes: [...] (BRASIL. Decreto nº 7.247, de 19 de abril de 1879) Enquanto se estava delineando o contexto escolar, foi pensado pelos intelectuais da época um sistema que pudesse resultar na formação de mais professores para o ensino primário, já que o mesmo estava com déficit de professores. Em decorrência disso surgiu as escolas normais do estado. As “escolas normais do estado” era uma espécie de ensino que formava professores para atuarem no ensino primário, o currículo dela trazia também a ginástica como uma das disciplinas obrigatórias, mais especificamente no art. 9º deste decreto estudado. A partir dessas leis a Educação Física começa a ganhar evidência, era comprovado que os corpos fortes e saudáveis adoeciam menos. Além da necessidade higienista existia também a eugenista, ou seja, um corpo saudável poderia ser um corpo nos moldes de padrão eurocentristas, transformando esse corpo para representar a raça. Entre os pareceres e leis, que de alguma maneira trataram da inclusão da Educação Física junto às escolas, destacamos a lei de nº 630/1851 por ser possível verificar nesta uma das primeiras tentativas efetivas de regulamentação da Educação Física nas escolas, revelando que, pelo menos formalmente, as condições para a docência e o ensino dessa disciplina na escola estavam dadas, principalmente por ter a seu favor o respaldo científico desenvolvido pelos médicos higienistas. Em segundo lugar, a defesa por parte dos educadores da época, que também eram eugenistas, em relação à introdução da Educação Física (ginástica) nos colégios apresenta-se como um fator de diferenciação social, no sentido de que, através de um corpo forte, vigoroso e saudável, a elite poderia vir a eleger aquele corpo como seu representante, seguindo os padrões eurocentristas. (SANTOS e SÁ, 2014, p.1) 14 O decreto de nº 2.072 de 8 de março de 1940 já aparece em um contexto industrial, pois o Brasil estava em meio a esse processo, o currículo era pautado numa educação cívica, moral e física. Por conseguinte, é atribuída à Educação Física uma finalidade ainda nos moldes higienista, porém, começava a trazer uma função de formar um corpo forte e saudável para atuar na indústria, como diz no seguinte artigo da referida lei, Art. 4º A educação física, a ser ministrada de acordo com as condições de cada sexo, por meio da ginástica e dos desportos, terá por objetivo não somente fortalecer a saúde das crianças e dos jovens, tornando-os resistentes a qualquer espécie de invasão mórbida e aptos para os esforços continuados, mas também dar-lhes ao corpo solidez, agilidade e harmonia. Parágrafo único. Buscará ainda a educação física dar às crianças e aos jovens os hábitos e as práticas higiênicas que tenham por finalidade a prevenção de toda a sorte de doenças, a conservação do bem-estar e o prolongamento da vida. Será, neste particular. Objeto de especial atenção o esclarecimento do papel que, na manutenção da saúde, desempenha a alimentação, e bem assim dos preceitos que sobre ela devam ser continuamente observados. (BRASIL. Decreto nº 2.072 de 8 de março de 1940). Dois anos depois do Decreto de nº 2.072, em 1942 é promulgada com iniciativa de Gustavo Capanema o decreto de nº 4.244 de 9 de abril de 1942 que veio como uma proposta de organizar o ensino secundário tendo como intenção servir ao novo modelo econômico e social, tendo objetivo de criar uma mão de obra qualificada, para suprir o grande avanço da industrialização no pais. O currículo continua sendo marcado pela educação cívica, moral e física. A Educação Física nesse decreto aparece de forma obrigatória até os vinte e um anos de idade, sendo ela uma disciplina que precisava de frequência para a evolução escolar do indivíduo. Art. 19. A educação física constituirá, nos estabelecimentos de ensino secundário, uma prática educativa obrigatória para todos os alunos, até a idade de vinte e um anos. Parágrafo único. A educação física será ministrada segundo programas organizados e expedidos na forma do artigo anterior. (BRASIL. Decreto nº 4.244 de 9 de abril de 1942) Isso se modifica no ano de 1945, em que o Decreto-Lei nº 8.347 ordena que apenas os alunos que estudavam em período diurno deveriam fazer a Educação Física, mas ainda continuava com a idade máxima de vinte e um anos. Disposto no “Art. 19. A educação física constituirá uma prática educativa obrigatória, para todos os alunos de curso diurno, até a idade de vinte e um anos. ” 15 O Decreto-Lei nº 8.530, de 2 de janeiro de 1946, elabora a organização do currículo do curso de ensino de escolas normais e a Educação Física era uma das disciplinas colocadas no currículo. A Educação Física é encontrada nesse contexto no capítulo III com o título de “curso de formação de professores primários”, mais precisamente no artigo 8º, em que a Educação Física faz parte do currículo de formação de professores que vai da 1ª à 3ª série do segundo grau. Após todos esses acontecimentos a Educação Física esteve presente também na primeira LDB (lei nº 4.024/61) em que trazia a prática obrigatória da disciplina no ensino primário e médio até os 18 anos de idade. Com interesse puramente industrial, associado ao corpo produtivo. Ou seja, emergia a Pedagogia Tecnicista. Basicamente, centravam-se no processo de industrialização do modelo econômico brasileiro, em substituição ao agrário de índole comercial- exportadora implementado nos anos 30, e apoiavam-se na necessidade da capacitação física do trabalhador ao lado daquela de natureza técnica. A necessidade do adestramento físico [...]estava associada à formatação de um corpo produtivo, portanto forte e saudável, que fosse ao mesmo tempo dócil o bastante para submeter-se à lógica do trabalho fabril sem questioná-la, portanto, obediente e disciplinado nos padrões hierárquicos da instituição militar. A extensão da obrigatoriedade de sua prática [...] até o limite de dezoito anos de idade (...), justificava-se pela compreensão de ser essa a idade na qual se dava o término do processo de instruçãoescolar e o subseqüente ingresso no mercado de trabalho, cabendo a esse último os cuidados com a manutenção da capacitação física do não mais educando e sim trabalhador. (CASTELLANI, 1998, p. 7 – 8) A Pedagogia Nova não atendia mais as necessidades do mundo capitalista, desenfreadas com o processo de industrialização crescente, sendo superada pela Pedagogia Tecnicista, considerada, agora, a pedagogia oficial. A Pedagogia Tecnicista tinha como princípio o rendimento e como fim a qualificação técnica do indivíduo para este contribuir no desenvolvimento industrial do país. (TAMIOSO e MAZO, 1991, p. 51) O ano de 1971, traz em sua reforma educacional a prática obrigatória da Educação Física independente de idade, podendo ser facultada apenas pelos seguintes motivos: os estudantes que trabalhavam 6 horas ou mais por dia; estudantes com 30 anos ou mais; aos que prestavam serviço militar; e aos alunos fisicamente incapacitados. Após 4 anos foi adicionada mais 2 alíneas sobre a facultatividade da Educação Física, a primeira aos alunos com pós-graduação e a segunda às mulheres com prole. A partir de 1985 constata-se uma tendência popular. Em 1988 é apresentado um capítulo relacionado a educação na carta magna (constituição), em que a Educação Física não vinha representada com a ideia de obrigatoriedade. Em sua segunda versão (1990) a Educação Física já vem a ser mencionada no artigo nº 36. 16 Em 1991, é aprovado o Projeto de Lei (PL) nº 1.337 que traz a integração dos esportes no currículo da Educação Física. A lei nº 8.946/94 fomenta o esporte na escola permitindo que as escolas obtivessem vínculos empresariais de patrocínio para as atividades desportivas. Em 1996, a LDB integrou a Educação Física como componente curricular da educação básica, se ajustando as idades e as condições da população, sendo facultativa no período noturno. A Educação Física pautada na tendência Popular é dominada pelos anseios operários de ascensão na sociedade. Conceitos como inclusão, participação, cooperação, afetividade, lazer e qualidade de vida passam a vigorar nos debates da disciplina. O aluno, depois de um longo período, desde a tendência pedagogicista, entre 1945 e 1964, passa a ser parte do processo, sendo ouvido, podendo sugerir e criticar. (FERREIRA E SAMPAIO, 2013) A Educação Física no ensino superior era obrigatória desde a década de 60, mas em 80 as coisas começariam a mudar no que diz respeito à extinção da Educação Física no ensino em questão. Em 1996 ainda se guiavam nesse caminho e após a USP ter tentado tirar a obrigatoriedade da disciplina terminando sem êxito, a UNICAMP traçava o mesmo caminho elaborando um texto com o título A Educação Física no Ensino Superior: A Obrigatoriedade Anacrônica. Nesse texto foi abordado o cenário da Educação Física desde o princípio trazendo como fundamentação as leis que embasaram a Educação Física. (CASTELLANI, 1998) Assim, pode-se dizer que a Educação Física atendia aos interesses da lógica hegemônica. Somente na década de 90 as coisas começaram a mudar originando em uma Educação Física contextualizada. Porém, até os dias de hoje ainda se observa que essa Educação Física contextualizada ainda não está incutida no ensino da disciplina por muitos professores. Algumas das abordagens que ficaram mais conhecidas nesse período em que emergia uma nova fase de ensino da Educação Física e que irão ser campo de disputa na definição das políticas curriculares no Brasil. a) Concepção de Aulas Abertas Essa abordagem tem o aluno como centro, onde ele tem a tomada de decisão diante dos objetivos traçados, na escolha de conteúdo, na avaliação e no método de aprendizagem. Diferentemente das aulas onde existem movimentos esportivos, nessa abordagem o aluno tem como objetivo elaboras seus próprios movimentos dentro das 17 aulas, sempre com o planejamento do professor, motivando o aluno a criticar e refletir sobre o seu meio social. O professor deve estar preparado para desenvolver autonomia no aluno, fazendo com que através de aula o aluno tome chegue a tomada de decisões ajuda no processo de ensino aprendizado. Objeto de pesquisa: O mundo do movimento. Os conteúdos são construídos por meio da definição de Temas Geradores e são desenvolvidos promovendo-se ações problematizadoras; as ações metodológicas são organizadas de forma a conduzir a um aumento no nível de complexidade dos temas tratados e realiza-se em uma ação participativa, onde professor e alunos interagem na resolução de problemas e na definição dos temas geradores; o ensino aberto exprime-se pelo estímulo à "subjetividade" dos participantes. Aqui entram as intenções do professor e os objetivos de ação dos alunos. (PALAFOX e NAZARI, 2007) b) Construtivista A abordagem construtivista visa a busca pelo conhecimento e a construção do conhecimento através da relação do sujeito com o meio em que vive. Esta abordagem faz com que o aluno reflita sobre o meio social em que vive, desenvolva seu próprio aprendizado e o professor atue como um mediador estingando o aluno à reflexão e a auto avaliação, fazendo com que o aluno se sinta à vontade em errar, em criticar, sem medo, vendo o erro não como um obstáculo, e sim, como um trampolim para a aprendizagem. Esta abordagem é contra os recursos que são usados como avalição nas escolas, uma avaliação padronizada, com isso, a escola não deveria ser regida e deixar com que o a aluno faça a sua autoavaliação e reflexão através da interação e a interpretação do seu contexto social. Objeto de pesquisa: motricidade humana ou psicomotricidade. Tem como seu conteúdo brincadeiras populares, jogo simbólico e jogo de regras. Sua finalidade é a construção do conhecimento através do resgate de conhecimento do aluno para a solução de problemas. A temática principal fica por conta da cultura popular, do jogo e do que é lúdico. (NETTO, ibid.) c) Crítico-Superadora Essa abordagem tem como ponto de partida a pedagogia histórico crítica e visa preparar o aluno para participar ativamente da sua realidade social. Essa abordagem propõe através de ciclos de escolarização a aprendizagem do aluno, fazendo o aluno um ser crítico dentro da sociedade e é papel do professor apresentar ao aluno as problematizações dentro do contexto social do aluno, fazendo com que esse aluno 18 critique e reflita, se apropriando dos conhecimentos científicos e superando os seus saberes empíricos trazidos ao logo da sua vivência dentro do seu meio. O conteúdo nessa abordagem deve ser desenvolvido dentro de uma prática pedagógica, onde os conteúdos devem ter um trato histórico, crítico, fazendo com que o aluno supere a visão alienada da sociedade em que ele vive. “Tem como seu conteúdo os conhecimentos sobre o jogo, esporte, dança e ginástica. Sua finalidade é a transformação social, para isso usam uma tematização da aula. A temática principal é a cultura corporal em uma visão holística. ” (NETTO, ibid.) Objeto de estudo: cultura corporal. d) Crítico-Emancipatória Para essa abordagem é necessário que o aluno seja capacitado para o meio em que vive e é através da comunicação professor/aluno que isso irá acontecer. É papel do professor instigar o aluno a criticar o que está acontecendo no nosso meio, principalmente no âmbito esportivo, fazendo com que o aluno atinja a emancipação, cabendo ao professor colocar tarefas que façam com que o aluno critique e reflita, trazendo para ele problematizações e assuntos que o aluno internaliza no seu dia a dia. O papel do professor é tornar o seu aluno livre, ajudar ele a se tornar alguém com autonomia intelectual e buscar a emancipação desse aluno ao longoda sua vivência. Nesta abordagem nota-se três níveis de competências, sendo elas, a objetiva, a social e a comunicativa. A primeira, visa desenvolver a autonomia dos alunos através da técnica; a segunda, se refere aos conhecimentos e esclarecimentos que os alunos devem adquirir para entender o próprio contexto sociocultural; e a terceira, assume um processo reflexivo responsável por desencadear o pensamento crítico e ocorre através da linguagem – que pode ser de caráter verbal, escrita e/ou corporal. (MATTOS, 2012) Objeto de estudo: cultura corporal de movimento. A abordagem crítico-emancipatória pretende o resgate da linguagem do movimento humano como forma de expressão do mundo social. Para tanto, busca articular uma prática do esporte condicionada a sua transformação didático-pedagógica, de tal modo que a educação contribua para a reflexão crítica e emancipatória das crianças e jovens. Pois, segundo Kunz é pelo questionamento crítico que se chega a compreender a estrutura autoritária dos processos institucionalizados da sociedade que formam as convicções, interesses e desejos. (FREITAS e RINALDI, 2008, p. 9) 19 Observa-se no quadro abaixo uma síntese das abordagens pedagógicas: Quadro 02 – Principais abordagens da Educação Física. Abordagens Pedagógicas Principais Autores Autores de Base Obras Conteúdos Concepção de Aulas Abertas (1986) Hildebrandt e Laging Hessischer Kugturminister Concepções Aberta de Ensino Visa a participação dos alunos nas decisões referentes aos objetivos, seleção dos conteúdos, metodologia e avaliação Construtivista (1989) João Batista Freire Jean Piaget; Michael Foucault Educação Física de Corpo Inteiro Objetiva construir conhecimento através da interação com o meio, resolvendo problemas Crítico Superadora (1992) Coletivo de Autores Saviani e Libâneo Metodologia do Ensino da Educação Física Os conteúdos devem partir dos conhecimentos já existentes para o aluno Crítico- Emancipatória (1994) Elenor Kunz Habermas Transformação Didático-Pedagógica do Esporte O aprendizado das modalidades esportivas e, por meio desta, contribuindo para a formação do aluno FONTE: AZEVEDO E SHIGUNOV, 2001. (adaptado: BARBIERI, PORELLI e MELLO) No quadro 02 observa-se um resumo básico para um melhor entendimento acerca das abordagens pedagógicas utilizadas na Educação Física. Levando em consideração o contexto histórico da mesma pode-se dizer que em duas décadas houve uma grande evolução no diz respeito à produção de conhecimento da área, mas que ainda há muito a se fazer, pois ainda está entranhado no ensino o modelo da aptidão física. Mediante toda essa explicação sobre as abordagens pedagógicas, faz-se necessário debatermos sobre o currículo da BNCC. Qual concepção ela pode trazer relacionada às circunstâncias explicitadas acima? Qual discurso o currículo traz a partir dessa conjuntura? Constataremos mais adiante, no tópico O Currículo na BNCC. 2.4 CURRÍCULO: UMA BASE PARA A BASE 20 Esta pesquisa discorrerá sobre currículo, que é imprescindível para o fomento do conhecimento científico acerca do tema a ser tratado. Buscando conceituar esta palavra tão abrangente e com tantos significados. Schmidt (2003, p. 3) aponta que a palavra currículo tem sentido etimológico na palavra curriculum, termo latino, que tem significado em “movimento progressivo, o andamento de uma corrida de bigas9, uma estrada a ser percorrida”. Pode-se também mencionar e conceituar currículo a partir do autor Michael Apple (2008, p. 108) que traz uma forte relação entre a construção do currículo com a questão social e econômica, ou seja, a social para manter o controle sobre a massa e econômica para a formação de mão de obra especializada e hábil para a indústria. Por meio desse conceito trazemos para a pesquisa em questão, ou seja, todas essas mudanças têm um certo teor de interesse político e econômico. Além disso, Sancristán (2000, apud Aranha 2011) enfatiza que o currículo possui duas dimensões, sendo elas: a forma e o conteúdo. Sendo o conteúdo os elementos a serem ensinados e a forma seria a organização desse método. O currículo é, antes de tudo, uma seleção de conteúdos culturais peculiarmente organizados, que estão codificados de forma singular. Os conteúdos em si e a forma ou códigos de sua organização, tipicamente escolares, são parte integrante do projeto [cultural] (SANCRISTÁN, p.35 apud. ARANHA, p.62) Pode-se mencionar também as Teorias Curriculares, que Silva (2001, p.17) categorizou em TRADICIONAIS, CRÍTICAS E PÓS-CRÍTICAS. Os conteúdos foram divididos conforme o quadro abaixo: Quadro 03 – Conteúdos das Teorias Curriculares. TEORIAS TRADICIONAIS TEORIAS CRÍTICAS TEORIAS PÓS-CRÍTICAS ensino aprendizagem avaliação metodologia didática organização planejamento eficiência Ideologia reprodução cultural e social / poder classe social capitalismo relações sociais de produção conscientização emancipação e libertação identidade, alteridade, diferença subjetividade significado e discurso saber–poder representação cultura gênero, raça, etnia 9 Uma biga é um carro de guerra de duas rodas, movido por dois cavalos. Foi usada na Antiguidade como carro de combate. 21 objetivos currículo oculto resistência sexualidade multiculturalismo FONTE: SILVA, 2001. Schmidt (2013, p. 67) aponta que o currículo tem uma relação de poder o que implica em dizer que a escolha do currículo tem um interesse implícito. Enquanto as teorias tradicionais consideram-se neutras, científicas e desinteressadas, as críticas e pós-críticas, contrariamente argumentam que não existem teorias neutras, científicas e desinteressadas, e sim implicadas em relação de poder. Outro ponto importante são os conteúdos educativos, que permeiam a Educação Física perpassando pelas dimensões de Coll ( Ano ??) que correspondem à três elementos: a) dimensão conceitual; b) dimensão atitudinal e; c) dimensão procedimental. Cada um deles corresponde as seguintes perguntas, respectivamente, “o que se deve saber?”, “como se deve ser?” e “o que se deve saber fazer?”. De acordo com Darido (2005, p. 5) o papel da Educação Física ultrapassa o ensinar esporte, ginástica, dança, jogos, atividades rítmicas, expressivas e conhecimento sobre o próprio corpo para todos, em seus fundamentos e técnicas (dimensão procedimental), mas inclui também os seus valores subjacentes, ou seja, quais atitudes os alunos devem ter nas e para as atividades corporais (dimensão atitudinal). E, finalmente, busca garantir o direito do aluno de saber porque ele está realizando este ou aquele movimento, isto é, quais conceitos estão ligados àqueles procedimentos (dimensão conceitual). Estes elementos têm relação direta com as políticas educacionais no que diz respeito à formação do aluno, uma formação plena deveria ser o direito de todos que estão incluídos no processo educacional. Anteriormente à atual BNCC as políticas educacionais apresentadas eram os DCN’s (Diretrizes Curriculares Nacionais) e PCN’s (Parâmetros Curriculares Nacionais), estas reformas curriculares que antecederam a BNCC vêm sendo implementadas desde a década de 90. Por conta do neoliberalismo se sentiu uma forte necessidade na reformulação dos conteúdos e a forma de aplicação dos mesmos para que se pudesse nortear o ensino escolar, como sempre atendendoaos interesses hegemônicos. (MEC, [s.d.]) Os DCN’s estão assegurados pela Constituição Federal, disposto no art. 22 e art. 210 de 1988. Que diz 22 Compete privativamente à União legislar sobre: (...) diretrizes e bases da educação nacional; (...) Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais. (BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil, 1988) Após a Lei nº 9.131/95 se criou o Conselho Nacional de Educação (CNE) resultando na discussão dos parâmetros curriculares. Os PCN’s foram elaborados pelo MEC ao longo de três anos (1995 – 1998), o processo de construção desta política educacional foi similar ao da BNCC. Recebeu contribuição de especialistas e também foram submetidos a debates para que pudesse ser aperfeiçoado e posteriormente aplicado. Mediante isso, busca-se relacionar a concepção de currículo e os conteúdos propostos com a Base Nacional Comum Curricular que é uma proposta que o governo está implementando nas escolas, como veremos mais à frente. 2.5 BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR A Base Nacional Comum Curricular é um elemento composicional do Plano Nacional de Educação (PNE) sancionado pela presidente Dilma Rousseff em 25 de junho de 2014, previsto na Lei nº 13.005/2014 que “determina diretrizes, metas e estratégias para a política educacional dos próximos dez anos” (MEC), ou seja, de 2014 a 2024. A BNCC se trata de uma proposta curricular composta por um grupo de pesquisadores e que tem como meta instituir a matriz curricular de toda a educação do país. Nesta proposta curricular está de forma sistematizada o que cada uma das disciplinas deve ministrar nas escolas brasileiras, desde o ensino infantil ao ensino médio. A BNCC está prevista no Plano Nacional de Educação – PNE, a partir de artigos e parágrafos que apontam para ações que lhe diz respeito, tais como: 2.2) pactuar entre União, Estados, Distrito Federal e Municípios, no âmbito da instância permanente de que trata o § 5º do art. 7º desta Lei, a implantação dos direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento que configurarão a base nacional comum curricular do ensino fundamental; 3.2) o Ministério da Educação, em articulação e colaboração com os entes federados e ouvida a sociedade mediante consulta pública nacional, elaborará e encaminhará ao Conselho Nacional de Educação - CNE, até o 2o(segundo) ano de vigência deste PNE, proposta de direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento para os (as) alunos (as) de ensino médio, a serem atingidos nos tempos e etapas de organização deste nível de ensino, com vistas a garantir formação básica comum; 23 3.3) pactuar entre União, Estados, Distrito Federal e Municípios, no âmbito da instância permanente de que trata o § 5o do art. 7o desta Lei, a implantação dos direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento que configurarão a base nacional comum curricular do ensino médio; 7.1) estabelecer e implantar, mediante pactuacão interfederativa, diretrizes pedagógicas para a educação básica e a base nacional comum dos currículos, com direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento dos (as) alunos (as) para cada ano do ensino fundamental e médio, respeitada a diversidade regional, estadual e local. (CNTE, p. 4, 2015) Segundo a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), o documento ainda em processo de discursões e debates entre alguns setores ligados a educação, determina que o currículo que está sendo proposto, terá 60% de conteúdos comuns para a educação básica e 40% restantes serão implementados, configurados e determinados regionalmente a medida em que haja necessidades em cada sistema educacional (CNTE, 2015, p. 5). Mas mesmo contando com estes 40% de autonomia da escola na elaboração do currículo escolar, ele provavelmente ficará sujeito a limitações, pois acredita-se que para que haja uma emancipação do aluno/indivíduo como constituinte da sociedade os conteúdos devem receber máxima atenção, de forma a compactuar com a diversidade e pluralidade social, ou seja, a BNCC tiraria a autonomia da escola e valores da diversidade brasileira. Além disso, outros aspectos são problematizados por outras instituições ligadas a educação, em nota o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES-SN), diz-se que a BNCC está vinculada uma proposta de centralização da seleção de conteúdos e sua uniformização, baseada no argumento de autoridade dos especialistas das disciplinas. Isto desconsidera as diferenças de significado que se podem atribuir a conteúdos em variados contextos (sociais, econômicos e culturais) cuja expressão possui espaço garantido nos projetos político-pedagógicos das escolas, conforme estabelecido na LDB. (ANDES-SN, 2016, p.1) Portanto, fundamenta mais ainda a ideia de que a criação da BNCC segue uma lógica neoliberal de sociedade, pois cria estratégias para a educação, sendo o ensino profissionalizante uma forma de manter os interesses de classe, no qual poderá ser organizado na perspectiva de fomentar as ideologias voltadas para o poder hegemônico. Com isso, vale também mencionar uma afirmação sobre o ensino técnico- profissionalizante sobre MP 746/2016 de Bastos, Santos Jr e Ferreira (2017) que diz: Esta imposição do atual governo compõe o conjunto de ações políticas que retoma a um passado não muito distante, no tempo de uma educação 24 técnico-profissionalizante que tinha a perspectiva de formar escravos modernos, capital humano preparado para servir aos interesses de quem detém o domínio econômico neste país. (2017, p. 43) Faz parte dos planos hegemônicos para a manutenção do estado capitalista esta reforma do ensino médio com a ajuda da BNCC, o que provoca no mercado o aumento de mão de obra dando uma série de opções para a classe burguesa submeter a classe trabalhadora a qualquer trabalho e salário tirando a possibilidade de luta e conquista desta camada social. Isto tudo nos remete à Teoria do Capital Humano que segundo Schultz (1973 apud Mira e Romanowski 2009, p. 10209 – 10210) cita que postula que a educação é um bem de produção indispensável ao desenvolvimento econômico, tendo por função preparar as pessoas para atuar num mercado em expansão que necessita de uma força de trabalho “educada”. Então pode-se afirmar que a educação escolar tem fortes laços com o mercado de trabalho, principalmente quando se fala nesta Teoria. Pois a formação de mão de obra barata é necessária para os donos dos meios de produção. A Educação Física no Brasil sofreu muitas mudanças de acordo com contexto histórico que foi apresentado na seção 2.3. Ao longo desse processo histórico a disciplina já teve concepções como: higienista, militarista, tecnicista, esportivista, dentre outras. Grande parte da reprodução social se faz dentro da escola, a partir da educação dada as crianças desde os seus primeiros anos de vida, então o currículo com esse caráter de reproduzir ajuda a fomentar ainda mais esta ideologia mercadológica. A Educação Física em seu currículo tem se manifestado ao longo dos anos e de seus avanços contra essas ideologias, intelectuais como Saviani, Castellani, Taffarel, entre outros, pensam em uma educação com uma abordagem mais crítica. 3 MÉTODOS E MATERIAIS 3.2 ABORDAGEM METODOLÓGICA Essa pesquisa terá como método o Materialismo Histórico Dialético (MHD), que foi idealizado por Karl Marx, “o método do materialismo histórico dialético, é método de interpretação da realidade, visão de mundo e práxis” (PIRES, 1997,p. 85). Pois o 25 objetivo é investigar a essência do objeto de pesquisa para a superação do discurso fundamentado pelo senso comum. Tendo como base filosófica o marxismo pode-se dizer que o principal objeto dessa abordagem são as transformações sociais e econômicas. Essa pesquisa vem justamente tratar sobre como a BNCC vai afetar o ensino e consequentemente a sociedade, pois a relação entre ensino e sociedade é estreita. 3.3 TIPOS DE PESQUISA 3.3.1 Ponto de Vista da Natureza Do ponto de vista da natureza esta pesquisa se tratará da Pesquisa Básica, que de acordo com Gerhardt e Silveira (2009, p. 34) “objetiva gerar conhecimentos novos, úteis para o avanço da Ciência, sem aplicação prática prevista. Envolve verdades e interesses universais. ” 3.3.2 Ponto de Vista da Abordagem do Problema Neste sentido a abordagem é qualitativa que: não se preocupa com representatividade numérica, mas, sim, com o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização, etc. [...] Os pesquisadores que utilizam os métodos qualitativos buscam explicar o porquê das coisas, exprimindo o que convém ser feito, mas não quantificam os valores e as trocas simbólicas nem se submetem à prova de fatos, pois os dados analisados são não-métricos (suscitados e de interação) e se valem de diferentes abordagens. (GERHARDT; SILVEIRA, 2009, p. 31 – 32) 3.3.3 Ponto de Vista dos Objetivos Esta pesquisa é classificada como Exploratória e Explicativa, sendo respectivamente, de acordo com Gil (2002, p. 41 – 42) Pesquisas exploratórias: Estas pesquisas têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses. Pode-se dizer que estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de ideias ou a descoberta de intuições. (...) Pesquisas explicativas: Essas pesquisas têm como preocupação central identificar os fatores que determinam ou que contribuem para a ocorrência dos fenômenos. 26 3.3.4 Ponto de Vista da Técnica A pesquisa será a bibliográfica e documental, que segundo Gil (2002, p.44 - 45), “A pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado” já a pesquisa documental “vale-se de materiais que não recebem ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetos da pesquisa. ” Desenvolvida com base nos materiais que serão levantados de acervos da internet e de bibliotecas que diz respeito ao nosso objeto de pesquisa. 3.4 TIPOS DE DADOS Trata-se de dados primários e secundários, pois a análise principal se trata do documento da Base e também será feita a coleta dados bibliográficos de materiais já elaborados que fazem uma análise da Base Nacional Comum Curricular dando uma maior fundamentação à nossa pesquisa. De acordo com Fontelles et. al. (2009, p. 7), sobre os dados primários e secundários No primeiro caso, são as fontes cuja origem remonta à época que se está pesquisando, ainda não analisadas e que, frequentemente, foram produzidas pelas próprias pessoas estudadas, tais como correspondências, diários, textos literários e outros documentos mantidos em órgãos públicos e instituições privadas de qualquer natureza; no segundo, correspondem às fontes cujos trabalhos escritos se baseiam na fonte primária, e tem como característica o fato de não produzir informações originais, mas, apenas, uma análise, ampliação e comparação das informações contidas na fonte original. 4 ANÁLISE E DISCUSSÃO/RESULTADOS DOS DADOS A análise se definirá por partes retiradas do documento de apresentação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e por produções textuais e referenciais teóricos já elaborados que possam dar embasamento na resposta da pergunta problema. Serão analisados dois documentos de apresentação da BNCC a segunda versão publicada em maio de 2016 e a terceira versão publicada em abril de 2017 (versão final) pelo MEC. Trazendo as mudanças que ocorreram nos conteúdos dos documentos, além de atualizar algumas informações pertinentes à pesquisa. 27 4.1 Orientações Metodológicas Gerais Um dos elementos mais importantes que se esperam do aluno de acordo a BNCC é o domínio das competências, que segundo o próprio documento em sua terceira versão diz Segundo a LDB (Artigos 32 e 35), na educação formal, os resultados das aprendizagens precisam se expressar e se apresentar como sendo a possibilidade de utilizar o conhecimento em situações que requerem aplicá- lo para tomar decisões pertinentes. A esse conhecimento mobilizado, operado e aplicado em situação se dá o nome de competência (MEC, 2017a, p. 15) Algumas das competências em moldes gerais que o documento da BNCC em sua terceira versão traz, são as seguintes: [...] a BNCC adota dez competências gerais, que se inter-relacionam e perpassam todos os componentes curriculares ao longo da Educação Básica, sobrepondo-se e interligando-se na construção de conhecimentos e habilidades e na formação de atitudes e valores, nos termos da LDB. 1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social e cultural para entender e explicar a realidade (fatos, informações, fenômenos e processos linguísticos, culturais, sociais, econômicos, científicos, tecnológicos e naturais), colaborando para a construção de uma sociedade solidária. 2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e inventar soluções com base nos conhecimentos das diferentes áreas. 3. Desenvolver o senso estético para reconhecer, valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também para participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural. 4. Utilizar conhecimentos das linguagens verbal (oral e escrita) e/ou verbo- visual (como Libras), corporal, multimodal, artística, matemática, científica, tecnológica e digital para expressar-se e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e, com eles, produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo. 5. Utilizar tecnologias digitais de comunicação e informação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas do cotidiano (incluindo as escolares) ao se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos e resolver problemas. 6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao seu projeto de vida pessoal, profissional e social, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade. 7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos e a consciência socioambiental em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta. 28 8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas e com a pressão do grupo. 9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturase potencialidades, sem preconceitos de origem, etnia, gênero, orientação sexual, idade, habilidade/necessidade, convicção religiosa ou de qualquer outra natureza, reconhecendo-se como parte de uma coletividade com a qual deve se comprometer. 10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões, com base nos conhecimentos construídos na escola, segundo princípios éticos democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários. (MEC, 2017a, p. 18-19) Analisando a 5ª competência observa-se a urgência em formar mão de obra proativa para o mercado de trabalho, pessoas que possam fazer o seu serviço e também ser útil para quaisquer outros serviços que possam aparecer, resultando na aptidão em resolver problemas que possam porventura surgir. Segundo Martins (2010, p. 21) Diante de um mundo em “constantes transformações”, mais importante que adquirir conhecimentos, posto sua “transitoriedade”, será o desenvolvimento de competências para o enfrentamento dessas. Apela-se, pois, à formação de personalidades flexíveis, criativas, autônomas, que saibam trabalhar em grupos e comunicar-se habilmente e, sobretudo, estejam aptas para os domínios da “complexidade do mundo real”. A exigência do mercado resulta na importância de se estabelecer determinantes, chamados de competências, para que a educação possa chegar ao desfecho esperado, ou seja, formar trabalhadores cujo feitio seja de dominar todas as áreas dando aos meios de produção um trabalhador que faça o trabalho de dez, gerando mais lucro para a empresa. Esse trabalhador deve ser polivalente, multifuncional (com capacidade para exercer várias funções diferentes), flexível (com capacidade de adaptar-se às mudanças do mundo do trabalho a fim de garantir sua empregabilidade). Além disso, é necessária uma formação geral que sirva de base para o desenvolvimento das atividades requeridas nesse novo modo de produção, visto que não cabe mais o treinamento em atividades específicas, como era o caso no taylorismo. (MIRA e ROMANOWSKI, 2010, 10213) Nota-se os mesmos paradigmas na 9ª e na 10ª competência, com base no que foi dito acima. Um indivíduo que possa se dar bem em seu meio de trabalho, que seja autônomo, que seja flexível, que seja perfeito aos moldes do mercado de trabalho. De acordo com o quadro 03 exposto na seção 2.4, que fala sobre as Teorias Curriculares a BNCC se encaixa na pós-crítica, pois as competências apontam um 29 referencial de identidade e cultura citadas no quadro. Principalmente a 1ª, 3ª e 6ª competência. Em relação ao currículo escolar do ensino médio que vai ser norteado pela BNCC e será obrigatório a todas as escolas públicas de ensino básico. Este currículo comum terá a carga horária de 1.800 horas englobará quatro áreas de conhecimento, serão elas: linguagens, matemática, ciências da natureza e ciências humanas e sociais aplicadas. Ainda no ensino médio o aluno teria outra possibilidade, que seria a formação técnica e profissional que ficaria à critério dele escolhê-la ou continuar com alguma das quatro áreas de conhecimento citadas anteriormente. É importante ressaltar que durante todo esse processo as disciplinas português, matemática e inglês serão obrigatórias à todas as áreas, independente da escolha que o aluno faça. (MEC, 2017b) Quanto ao ensino profissionalizante Bastos, Santos Jr e Ferreira (2017, p. 45) mencionam que seria quase certo quais tipos de alunos escolheriam tal ensino, os alunos de escolas públicas, devido a formação em um curto prazo de tempo. Este ensino traz consigo uma carga fortemente neoliberal, mesmo que não esteja explicitado no documento de apresentação da própria BNCC, pois é de interesse dele (do ensino) fazer com que os envolvidos nesse processo escolham trabalhar ao invés de estudar, para que assim possam cada vez mais contribuir para a manutenção dos interesses hegemônicos. Mantendo a distinção entre os que controlam e os que executam. Por outras palavras observa-se um descarado regresso ao tecnicismo, ou o que é chamado hoje de neotecnicismo, para Mira e Romanowski (2009, p. 10210) pode-se dizer que o elemento central da pedagogia tecnicista era a organização racional dos meios, sendo que o planejamento era o centro do processo pedagógico, elaborado pelos especialistas. O professor e os alunos eram relegados a posições secundárias; não se valorizava a relação professor-aluno, pois o aluno devia se relacionar com a tecnologia. Essa abordagem deu ênfase à reprodução do conhecimento, valorizando o treinamento e a repetição para garantir a assimilação dos conteúdos. A diferença entre o tecnicismo e o neotecnicismo é que “a tecnologia determina o nível de conhecimento e o tipo de qualificação necessário à força de trabalho” (idem, p. 10213). Ou seja, os parâmetros utilizados ainda são os mesmos, só se inclui o domínio da tecnologia para que o indivíduo possa ter visibilidade no mercado de trabalho. 30 Assim sendo, evidencia a proposta colocada pela BNCC, pois o processo escolar é o meio que esses trabalhadores irão passar para chegar ao mercado e competir pela sua vaga de emprego. O que nos remete à Teoria do Capital Humano, pois para Saviani (2011, p. 429 – 430) a “contribuição da educação para o progresso econômico-produtivo, marca distintiva da teoria do capital humano. ”. Pode-se dizer que haverá um exacerbado exército de trabalhadores reservas, o que é muito válido quando se fala em modo de produção capitalista, deixando a concorrência do mercado mais afunilada ainda, garantindo a competitividade o que é muito bom para o capitalismo. A disciplina da Educação Física nesse processo fará seu papel como formadora de corpos adestrados para servir o modo de produção capitalista, tendo em vista o neoliberalismo. Vejamos mais adiante. 4.2 Conteúdos Curriculares da Educação Física na BNCC A Educação Física entra na BNCC como componente curricular da área de linguagens, juntamente com a Língua Portuguesa, Língua Estrangeira e Artes. No segundo documento da BNCC, o currículo da Educação Física está sistematizado da seguinte forma: brincadeiras e jogos; esportes; exercícios físicos; ginásticas; lutas; práticas corporais alternativas; práticas corporais de aventura; práticas corporais rítmicas. E que deverão ser trabalhados através de ciclos, organizados a partir do 1º ciclo (1º, 2º e 3º ano); 2º ciclo (4º e 5º ano); 3º ciclo (6º e 7º ano); 4º ciclo (8º e 9º ano); ao 5º ciclo (1º, 2º e 3º ano do ensino médio). No terceiro e último documento da BNCC o currículo da Educação Física está dividido entre os conteúdos: brincadeiras e jogos, danças, lutas, ginásticas, esportes e práticas corporais de aventura. Este terceiro documento não menciona o ensino médio, é colocado na cartilha apenas o currículo para o ensino infantil e séries iniciais e finais do ensino fundamental. Neste terceiro documento, em que eles dividem em séries iniciais e finais do ensino fundamental a disciplina da Educação Física. E algumas das competências gerais da disciplina que serão analisadas são as seguintes: 1. Compreender a origem da cultura corporal de movimento e seus vínculos com a organização da vida coletiva e individual. 31 2. Planejar e empregar estratégias para resolver desafios e aumentar as possibilidades de aprendizagem das práticas corporais, além de se envolver no processo de ampliação do acervo cultural nesse campo. 4. Refletir, criticamente, sobre as relações entre a realização das práticas corporais e os processos de saúde/doença, inclusive no contexto das atividades laborais. 9. Usufruir das práticas corporaisde forma autônoma para potencializar o envolvimento em contextos de lazer, ampliar as redes de sociabilidade e a promoção da saúde. (MEC, 2017a, p. 181) Observa-se relações com a abordagem crítico-emancipatória, de Elenor Kunz, no que diz respeito a 1ª competência falando sobre cultura corporal de movimento, que em quase todo o documento a Educação Física possui essa nomenclatura. Esta abordagem, mesmo que faça parte de uma Teoria Crítica, não apresenta uma forma plural de educação integral, em que tenha um intuito de uma formação omnilateral para o indivíduo quanto sujeito histórico. Seu único foco é o esporte, deixando de lado as outras modalidades. esta centrada no ensino dos esportes que foi concebida para a Educação Física Escolar. Busca uma ampla reflexão sobre a possibilidade de ensinar os esportes pela sua transformação didático-pedagógica e de tornar o ensino escolar em uma educação de crianças e jovens para a competência crítica e emancipada. (AZEVEDO E SHIGUNOV, 2011, p. 3) Na 2ª e na 9ª competência nota-se mais proximidades com a abordagem crítico-emancipatória, do que diz respeito aos níveis de competências: objetiva, social e comunicativa. Logo após, na 4ª competência eles dizem provocar o raciocínio crítico/reflexivo no aluno, porém, ao ler a BNCC não se observa em como será feita esse estímulo. Certo que seria durante as atividades realizadas, mas ao ler as habilidades de cada conteúdo, sendo ele dança, esporte, etc., não fica claro essa provocação. A concepção de Educação Física presente na BNCC inclui também uma tendência de educação esportivista. Esta tendência ainda é muito representativa dentro da Educação Física escolar, pois traz uma séria maneira de lidar com o esporte de rendimento, fazendo das aulas monótonas e sem ganho reflexivo para o aluno. Outro aspecto importante será o retorno da valorização de conteúdos técnicos-esportivos, por conta do ambiente técnico-profissionalizante que se pretende instituir nas escolas públicas, um claro retorno à proposta esportivista desenvolvida nas escolas entre as décadas de 1960 e 1980, ação pedagógica que estava em consonância com o modelo educacional objetivo e operacionalizante demandado pelo mercado de trabalho. (BASTOS, SANTOS JR E FERREIRA, 2017, p. 49) 32 Esta tendência ainda é muito valorizada e a construção e desenvolvimento da Educação Física visava acabar com ela, formando novos professores que pudessem tirar de vez essa relevância de conteúdos técnicos-esportivos. Mas irá voltar com grande força por conta do ambiente técnico-profissionalizante. A BNCC faz parte dessa nova era. Quando se analisa a BNCC tem-se uma ideia de que ela é perfeita, que não se pode haver uma melhor solução para a educação do que esta e um dos trechos que causam uma inquietação é o seguinte: A atual situação escolar e curricular do Ensino Médio evidencia, além disso, certos desafios a serem enfrentados também pela área de Linguagens, tais como: o tecnicismo; a teorização dissociada da prática; a progressão curricular linear, rígida e artificial (baseada em listas de conteúdos); a fragmentação na abordagem do ensino; o distanciamento da realidade social dos/as estudantes; a exclusão ou o uso apenas instrumental das tecnologias digitais (MEC, 2017a, p. 34) A ensino deveria ter como base uma educação politécnica, pautada na formação omnilateral do indivíduo contribuindo para um desenvolvimento do mesmo como sujeito histórico. A concepção de formação politécnica fundamenta-se no materialismo histórico-dialético, englobando, de modo indissociável, uma concepção pedagógica, uma perspectiva de trabalho e um projeto de sociedade, que garante à politecnia uma coerência entre método, concepção de mundo e práxis. (REIS, et. al., 2013, p. 52) Esta breve análise foi feita em caráter mais objetiva possível, deixando clara a concepção geral e de Educação Física que a BNCC traz para o ensino básico do país. Na falta de leitura e de análises fortemente munidas de sabedoria acaba-se levando à alienação da massa, tomando esta educação como uma educação solucionadora dos fatídicos problemas ocasionados pelo capitalismo. Que para Reis et al (2013, p. 57), o objetivo é “educar os indivíduos em conformidade com as necessidades do modo capitalista de produção da existência humana”. 5 CONCLUSÃO O objetivo desse estudo foi o de analisar a concepção presente na BNCC, contribuindo para o meio acadêmico de forma a fazer com que todos se mantenham informados sobre esta questão. 33 Buscando resolver a pergunta problema e os objetivos da pesquisa, foram analisadas a segunda e a terceira versão da BNCC, em busca das concepções que estariam presentes no documento. Ao ser analisado, foi notada uma tendência neoliberal, principalmente ao analisar a segunda versão da BNCC que delimita os parâmetros para ensino médio que introduz a área de ensino profissionalizante fazendo com que o aluno saia do ensino básico direto para o mercado de trabalho ajudando diretamente a economia do país a crescer, já que o país vive uma crise econômica, a solução do atual presidente Temer foi aprovar com emergência a BNCC. Se tratando de Educação Física, foram analisadas as competências presentes no terceiro e último documento e o estudo deste documento possibilitou encontrar a concepção presente na BNCC. O que nos remete a uma concepção critico-emancipatória, pois se encontra bastante presente na BNCC a nomenclatura cultura corporal de movimento além dos níveis de competências (objetiva, social e comunicativa) que a abordagem aponta, essa abordagem não tem como objetivo formar um aluno omnilateral visando-o como um sujeito histórico, mas sim uma forma singular de educação integral, focando apenas o esporte, deixando de lado as outras modalidades que são de suma importância para a evolução do aluno. Foi observado também uma relação com a Teoria Curricular pós-crítica que Reis (2013) categoriza. A Pós-Crítica se encaixa por ter correspondência com as competências analisadas na terceira versão da BNCC, os conteúdos dispostos fazem correlação com identidade, cultura, gênero, raça, etnia, entre outras. Conclui-se que além de uma concepção crítico-emancipatória, a proposta apresentada pela BNCC para Educação Física é criar mentes adestradas para o mercado, que ajudem no crescimento da economia do país sem fazê-los refletir e criticar o meio social em que vivem se tornando um sujeito alienado. Apresenta-se como solução, uma concepção politécnica que tem como base uma formação omnilateral do indivíduo fazendo com que o mesmo evolua como um sujeito histórico, buscando uma coerência nos seus estudos entre os métodos repassados, a concepção de mundo desse sujeito e a sua atuação prática no meio social. 34 THE CONCEPTION OF PHYSICAL EDUCATION PRESENT IN THE NATIONAL COMMON CURRICULAR BASE ABSTRACT In 2014 began a debate about Brazilian education in which they thought of a National Education Plan (PNE) and one of the elements that composed this plan was the National Curricular Common Base (BNCC). The objective of this study is to analyze the conceptions of Physical Education present in the BNCC presented by the MEC. The methodological approach is the Historical Materialism Dialectic. The research used will be basic, qualitative, exploratory and explanatory, bibliographical and documentary. The data will be of primary and secondary origin collected from collections available on the internet and libraries. Two versions of BNCC, the second and third version, were analyzed as data source, and authors such as Saviani, Schultz,
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