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FUNDAMENTOS DOS CONTRATOS

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Fundamentos dos
Contratos
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Conteúdo Programático:
Introdução
Breve Histórico
Obrigações no Direito Romano
Contrato no Direito Romano
Obrigações
Classificação das Obrigações
Enriquecimento Sem Causa
Negócio Jurídico e Contrato
Classificação dos Contratos
Elementos do Contrato
A Interpretação do Contrato
Responsabilidade Contratual
Extinção dos Contratos
Formação e Conclusão dos Contratos
Conclusão
Bibliografia/Links Recomendados
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Introdução
Introdução
O curso de noções de obrigações e contratos foi feito com o intuito de auxiliar tanto os estudantes de ciências jurídicas, quanto às pessoas que não possuem conhecimento jurídico.
O objetivo do curso é passar uma visão geral e didática dos principais elementos – aspectos históricos, elementos, fundamentos, sujeitos e tipos de obrigações e contratos.
Vivemos em um mundo em constante evolução, que o Direito tenta acompanhar sem abandonar suas raízes, pois como veremos, por trás dos contratos e das obrigações existem nada menos que 2.000 anos de história.
Quando falamos em contratos, não é comum que saibamos que por trás de um instrumento tão comum ao nosso dia a dia, exista uma história tão grande e que mantenha tantas similaridades com o nosso presente.
Os contratos estão presentes nas coisas mais simples, como comprar um pastel em uma lanchonete (contrato verbal de compra e venda), aonde você paga um valor X para receber seu pastel, e também em uma operação de compra e venda de uma grande empresa, pois além dos contratos de compra e venda, serão feitas alterações nos contratos sociais. Temos então um exemplo simples e outro mais complexo, porém ambos guardam semelhanças incríveis e que tanto para o Direito quanto para o nosso estudo terão a mesma importância.
A relevância do contrato não se mede pelo valor do bem ou serviço objeto do mesmo, mas sim por seu papel dentro da sociedade, também conhecido como a função social do contrato.
Toda esta relevância será abordada de forma clara, objetiva e didática, para que ao concluir o curso o aluno possa olhar ao seu redor e perceber qual a relação dos contratos com o seu dia a dia.
Breve Histórico
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BREVE HISTÓRICO
O contrato tem sua origem no Direito Romano, foi o Direito Romano que ofereceu às gerações futuras uma base jurídica que serviu de fundamento para o nosso atual Direito Civil.
O conhecimento da origem destes institutos jurídicos, bem como da forma como eram utilizados, nos permitirá uma compreensão mais ampla tanto do caminho percorrido quanto o de como cada uma destas evoluções contribuiu para nossa sociedade moderna.
O Império Romano tem seu marco inicial na fundação da cidade de Roma, no ano de 753 a.C., e se encerra em 565 d.C., com a morte do imperador Justiniano.
A evolução do Direito Romano é dividida em quatro fases compreendidas entre os seguintes períodos – Arcaica de 753 a.C à 130 a.C., Clássica de 130 a.C à 230 d.C., Pós-clássica de 230 d.C. à 530 d.C. e Justiniana de 530 d.C à 565 d.C.
O direito público e privado em Roma
Ulpiano foi um estudioso do Direito, prefeito pretoriano sobre o império de Alexandre Severo, Ulpiano foi o responsável pela divisão do direito, que posteriormente foi reproduzida por Justiniano.
O Direito Público tinha como principal objeto a organização da República Romana, sua instrumentalização e funcionamento. Contudo, os Romanos não deram muita importância ao Direito Público, ficando focados no Direito Privado.
O Direito Privado recebia atenção especial dos Romanos, pois organizava as relações jurídicas entre particulares, tendo sido subdividido em jus civile, o direito próprio aplicável aos cidadãos Romanos em toda a extensão territorial do império; o jus gentium, que era o direito que incidia sobre os povos colonizados; e por fim o jus naturale, que se espelha na natureza e se mantém entre todos os homens, constante e eterna.
Do jus civile, deriva o jus praetorium. Praticado pelos pretores peregrinos, que intervinham nas relações entre particulares, em atuação semelhante ao que os juízes fazem atualmente.
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A pretura peregrina foi o resultado de uma necessidade da prática forense Romana, surgida em virtude da crescente circulação de indivíduos vindos de outros lugares pelos domínios do Império Romano; e, sua função era a de solucionar conflitos entre Romanos e estrangeiros ou, entre estrangeiros.
A Realeza
Roma foi governada por sete reis – Rômulo, Pompílio, Túlio Hostílio, Anco Márcio, Tarquínio o antigo, Sérvio Túlio, e por último Tarquínio o soberbo.
Os moradores de Roma dividiam-se em três classes sociais, os patrícios, os clientes e os plebeus.
Patrícios eram homens livres e descendiam de homens livres, organizavam-se em grupos familiares patriarcais, constituíam a elite Romana, tinham poder e ocupavam os cargos mais importantes.
Clientes eram protegidos dos patrícios, principalmente pelos líderes de cada grupo familiar, tornado-se uma classe submissa à vontade dos patrícios.
Plebeus eram considerados inferiores e não tinham direitos, tampouco poderiam ocupar postos de comando, porém eram obrigados a pagar impostos e a prestar serviço militar, sua grande maioria era constituída de comerciantes.
Os escravos não eram considerados como pessoas, mas sim como coisas e podiam ser vendidos. Os estrangeiros (qualquer pessoa não nascida em Roma) se enquadravam na mesma categoria dos escravos.
Com o início do Reinado de Sério Tulio, surgem as reformas que visavam aproximar os plebeus dos direitos. O divisor de classes deixa de ser a origem, para a riqueza, ou seja, capacidade de pagar impostos.
Esta nova classe passa a poder prestar o serviço militar, bem como participa da elaboração e votação de leis por meio das centúrias.
Estas leis votadas tinham caráter mais particular, tratavam de assuntos específicos, eram semelhantes a contratos. Estas leis tinham origem nos costumes.
A República
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Em 510 a.C. uma revolução comandada por patrícios destrona Tarquínio o soberbo, dando inicio à República Romana.
Após a queda do Rei, Roma passa a ser governada por cônsules, que governavam em pares, com mandato anual, basicamente um fiscaliza o mandato do outro.
Neste período o Estado Romano começa a se instrumentalizar, para a nova realidade, ou seja, o crescimento do império, surgem então várias figuras que auxiliaram Roma na administração do Império – figuras como – os questores, os censores, os edis cures, etc...
Com as novas mudanças, os patrícios começam a lutar para não perder o poder e o respeito à sua origem nobre, já os plebeus continuam a luta pela conquista de mais direitos.
Em 462 a.C. surge a primeira lei escrita do império Romano, conhecida como Lei das Tabuas, criada por uma iniciativa do tribuno Tarentílio Arsa, a Lei das Tabuas foi uma consolidação de todo o direito conhecido na época em sete tabuas.
Esta lei consolidada serviu de base para todas seguintes, tendo influenciado inclusive ordenamentos jurídicos ocidentais.
Após a criação da Lei das Tabuas surge a figura dos prudentes ou jurisprudentes, responsáveis por auxiliar Roma na atualização das leis escritas frente às constantes mudanças sociais. Os pareceres dos prudentes tinham grande peso nas decisões dos juízes Romanos.
O Alto Império
Neste período se inicia um governo duplo, aonde de um lado temos o Príncipe e do outro o Senado.
Ao Príncipe cabia o comando das forças armadas e a responsabilidade pela manutenção e expansão dos territórios conquistados por Roma, mas o poder do Príncipe era praticamente ilimitado.
O Senado era encarregado do que se pode chamar de Judiciário, bem como a administração das províncias. O Senado também
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fazia propostas legislativas a pedido do Príncipe e muitas destas proposições eram votadas sem discussão, demonstrando um desequilíbrioentre os poderes do Senado e do Príncipe.
As crescentes evoluções do Direito e da ciência jurídica atingem o seu ápice neste período, pois todo o aparato criado por Roma para facilitar a administração do império, acabou possibilitando uma evolução extraordinária em suas leis.
Apesar da constante evolução, os pretores continuam responsáveis pela administração da Justiça. Ainda durante este período, Sálvio Juliano promoveu a consolidação e codificação de todas as decisões produzidas pelos pretores desde o fim da Republica.
Esta codificação acabou por limitar as decisões dos pretores, que passaram a somente repetir o que já havia sido decidido anteriormente. Por outro lado, esta mesma codificação faz surgir os primeiros comentários às decisões pretorianas, que foram feitas pelos jurisconsultos Ulpiano e Paulo, surgindo daí duas escolas – os Sabinianos e Proculianos. Estas escolas defendiam pontos distintos e contribuíram ainda mais para a evolução do Direito Romano.
O Baixo Império
Neste período o poder passa a ser do Príncipe, que passa a dominar completamente o império sendo esta a principal característica deste período. Esta era teve início com a morte de Dioclesiano e vê seu fim com a morte de Justiniano.
Durante pouco tempo, o império Romano se dividiu entre Ocidente e Oriente, e estes foram governados por Honório e Arcádio respectivamente. O império do Ocidente tem seu fim com a invasão de Roma por Odoacro em 476 d.C., já o do Oriente resiste até o falecimento de Justiniano em 565 d.C.
Justiniano determinou a criação de um conselho de notáveis jurisconsultos, com o fim de consolidar todas as leis Romanas vigentes em um só código. A primeira consolidação é conhecida como Código Antigo e foi publicada no ano 529 d.C., que posteriormente foi substituída por uma publicação mais recente
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no ano de 534 d.C. conhecido como Corpus Juris Civilis e também Código Novo.
O Império Bizantino
O Império Bizantino tem início com a morte de Justiniano e seu fim com a invasão turca a Cidade de Constantinopla, conhecida nos tempos antigos como Bizâncio, sendo renomeada em homenagem ao imperador Constantino.
As invasões do império Romano por povos bárbaros tiveram papel decisivo no seu declínio, que cumulada com as questões econômicas e expansionistas levaram Roma ao seu fim.
Durante este período é possível perceber claramente a influência dos povos dominados no ordenamento jurídico Romano, que dão origem a novas consolidações, prontas a adequar na realidade jurídica a nova realidade de fato.
Obrigações no Direito Romano
Obrigações no Direito Romano
A palavra "obrigação" vem do latim “obligatio” (ligação, elo) da conjunção de “ob” (para) mais “ligatio” (vincular).
Nas Institutas de Justiniano temos a definição de obrigação como um vínculo entre duas pessoas, podendo uma coagir a outra a pagar (crédito) uma determinada prestação (débito). Existiam dois tipos de obrigações, as civis (criadas por lei) e as pretorianas ou honorárias (criadas pelas decisões dos pretores).
José Cretella Junior sintetiza muito bem a definição Romana de obrigação, traduzindo-a da seguinte forma:
"Obrigação é o vínculo que liga duas pessoas de tal maneira que uma deva dar, fazer ou prestar algo à outra segundo o direito do país em que ambos vivem".
Origem das Obrigações
As obrigações têm sua origem em uma fase pré-romana, surgindo da necessidade de segurança nas relações comerciais
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entre grupos, pois em razão de desacordos comerciais, grandes guerras eram travadas e muitas vidas eram perdidas.
As obrigações só passaram a ser regulamentadas em Roma, em um primeiro momento com o devedor entregando seu próprio corpo em garantia ao credo, ficando livre até o pagamento da dívida, e no caso de não pagamento tornava-se escravo do credor.
A partir do ius civile um deslocamento da obrigação transfere a obrigações da pessoa do devedor para o seu patrimônio.
Fundamentos das Obrigações
As obrigações eram constituídas por elementos distintos, os quais foram classificados e divididos da seguinte forma:
Sujeito ativo: conhecido como credor, aquele que tinha o direito exigir a prestação (objeto da obrigação) de alguém;
Sujeito passivo: conhecido como devedor, aquele sobre o qual recaía a obrigação;
Objeto da obrigação: era o débito, algo que o sujeito passivo (devedor) deveria fazer, deixar de fazer ou entregar ao sujeito ativo (credor); quanto à obrigação de dar ou entregar, pode-se dizer que o objeto pode ainda ser coisa certa ou coisa incerta. A coisa certa pode ser identificada por sua natureza, qualidade ou quantidade, por exemplo: mil reais, um boi nelori de 15 arrobas. Já a coisa incerta não está identificada, como por exemplo: 1 saca de café, 20 quilos de açúcar.
Vínculo: era o laço que unia credor e devedor, obrigando este último a cumprir a obrigação pactuada, bem como permitia que o credor o compelisse a cumpri-la caso este não o fizesse espontaneamente.
Os Efeitos das Obrigações
Caso o devedor não cumprisse a obrigação no tempo correto, ou seja, o acordado espontaneamente entre as partes, estaria constituído em mora (atraso) o devedor. Poderia haver também a mora (atraso) do credor que, por algum motivo se recusasse a receber.
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Na época já existiam figuras que, poderiam impedir o cumprimento da obrigação como nos casos fortuitos e de força maior.
Antes de considerar as possibilidades de uso dos casos fortuitos e/ou de força maior, era preciso analisar a culpa do devedor, buscando os reais motivos que levaram o devedor a descumprir a obrigação.
O dolo pode ser intencional, ou seja, quando o devedor intencionalmente deixa de cumprir ou impede que a obrigação seja cumprida.
Nos casos de dolo intencional, Roma obrigava o devedor a responder pelo dano causado ao credor, mesmo que houvessem pactuada a exclusão de responsabilidade, pois Roma considerava a exclusão de responsabilidade como ato nulo.
Havendo dolo culposo, ou seja, não havendo intenção do devedor em frustrar o pagamento, ao pretor cabia a análise de cada caso concreto.
Nos casos fortuitos ou de força maior, o cumprimento da obrigação não estava ligado ao poder do devedor, pois este nada poderia fazer para evitar o acontecimento que frustrou o pagamento da obrigação, por exemplo: um terremoto. Neste caso a obrigação era resolvida.
As condenações pretorianas eram em sua maioria pecuniárias, e avaliavam dos quesitos, o dano patrimonial (dano causado ao patrimônio do credor) e lucro cessante (perda nos lucros ou no aumento de patrimônio do credor, que naturalmente ocorreria caso a obrigação fosse cumprida).
A Extinção das Obrigações
A obrigação nasce e tem como destino a sua própria extinção, pois esta nasce, produz efeitos jurídicos e, comumente se extingue no momento em que o credor dá quitação a mesma.
Para a quitação ou extinção da obrigação eram exigidas algumas formalidades, e estas formalidades estavam ligadas as mesmas utilizadas na criação da obrigação, portanto, se uma obrigação fosse criada por um pacto escrito, para que esta fosse extinta, deveria o credor emitir uma espécie de recibo escrito, que
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tornava extinta a obrigação. No caso das obrigações criadas verbalmente, o simples pronunciar de algumas frases servia para extinguir a obrigação, ou seja, a forma originária era sempre respeitada.
Ao credor era permitido perdoar a dívida, e isto poderia ocorrer de duas formas, pela entrega do recibo ou por um novo pacto onde o credor comprometia-se a não exigir o débito do credor.
No caso de falecimento do credor ou do devedor, a obrigação era extinta. Esta regra foi alterada pela constante evolução do direito Romano, e a extinção da obrigação pelo falecimento de uma das partes ficou limitada às obrigações resultantes de um delito.
Contrato no Direito Romano
Contrato no Direito Romano
O contrato no direito romano é mais um dos institutos que perduram até os dias de hoje, ressalvadas éclaro as diferenças atinentes à própria evolução contratual e das relações humanas.
No direito romano existiam as seguintes figuras: pacto e convenção e é importante conhecê-las. Em ambas existe um acordo de vontades entre duas pessoas, não havendo a obrigação propriamente dita e, por conseguinte não gerando efeitos jurídicos.
Pacto e convenção não se confundem com contrato, pois somente o contrato possui objeto e é revestido de formalidade, para que só então possa surgir a obrigação.
O contrato romano tem poucas semelhanças com o contrato moderno, mas em sua essência contem vários efeitos jurídicos semelhantes como veremos.
Durante o período clássico os juriconsultos reconheciam a existência de somente quatro contratos, eram eles: a venda, a locação, o mandato e a sociedade. Somente com a evolução dos contratos no período justianeu é que ocorreu o aumento no número de acordos de vontade reconhecidos, capazes de gerar obrigações. A partir de então surgem os contratos inominados.
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Formalismo Romano
O direito romano era extremamente apegado às formas, em muitos casos a formalidade se constituía na simples pronúncia de palavras sacramentais, que eram capazes de dar validade ao contrato. A simplicidade da forma não significava que esta fosse irrelevante, pois se não fosse respeitada, o contrato perderia a sua eficácia.
Eram três as formalidades no direito romano:
Bronze e balança – caracterizava-se pelo vínculo e este é considerado o mais antigo dos contratos solenes romano; (o devedor poderia vender-se ou dar-se em garantia do cumprimento da obrigação, passando o credor a ter poder sobre o devedor)
Palavras – simples palavras trocadas respeitando uma forma específica tinham o condão de constituir uma obrigação, tratando-se de uma hipótese de caráter solene; (estas palavras constituíam-se de perguntas e respostas, proferidas pelo credor e pelo devedor)
Letras – era a forma escrita da manifestação de vontade, não possuíam o condão de criar obrigação, mas podiam servir como prova da relação contratual e vínculo.
A stipulatio era a forma verbal (palavras) de constituir uma obrigação, e nela deveriam estar presentes os seguintes requisitos de validade: a oralidade, a presença das partes, a unidade do ato e a rigorosidade na elaboração das perguntas e das respostas.
Durante o fim da República a stipulatio passa a ter forma escrita, contudo este documento só servia como prova e não como ato constitutivo de obrigação. Como não era ato constitutivo de obrigação, admitia prova em contrário como, por exemplo, a testemunhal.
A stipulatio sofre mais uma alteração em 531 d.c., ficando estabelecido que a ausência de uma das partes ao ato solene poderia ser ilidida, caso houvesse prova de que a parte ausente encontrava-se fora da cidade durante o dia inteiro em que deveria ocorrer o ato.
No direito romano não se reconhecia, ou seja, não tinha efeito a estipulação feita sobre condição impossível ou inalcançável, assim como nos dias de hoje.
Somente depois da lei das tábuas é que o império romano passa a dar maior valor a escrita como forma de contrato, criando então uma presunção absoluta de que o que foi escrito é correto e foi aceito pelas partes.
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A mancipatio constituía-se em negócio jurídico bilateral e formal, onde havia a transmissão da propriedade para outrem, ou seja, a tradição, que era presenciada por pelo menos cinco pessoas.
A mancipatio, que fazia lei entre as partes e permitia a liberdade contratual, pois o alienante poderia reservar usufruto durante certo período.
Este instituto teve maior uso conforme a utilização da moeda foi se expandindo.
Contratos Reais
Contratos reais tinham como requisito de validade, a existência de um acordo de vontades entre as partes, e a efetiva entrega da coisa. Com a evolução desse contrato permitiu-se que a coisa entregue sem a transmissão da propriedade, surgindo a condição de mera detenção.
Mútuo
Era o contrato onde uma das partes entregava coisa a outra, transferindo-lhe a propriedade, ficando este obrigado a restituí-la por outra coisa de mesma espécie.
Os requisitos de formação do mútuo eram a tradição e invariavelmente a parte que entregava o objeto, ao transferir sua propriedade, logicamente deveria ser proprietário da coisa. O mutuário só estava obrigado a restituir coisa de mesma espécie em mesma quantidade e qualidade.
Caso a devolução da coisa não ocorresse espontaneamente, poderia o mutuante promover ação em face do mutuário conhecida como “actio certae creditae pecuniae”.
Fidúcia
Na fidúcia o fiduciário recebia do fiduciante a propriedade de coisa infungível, fazendo a guarda do bem até que fosse atingida uma condição. Este instituto não estava protegido, pelo menos no início por nenhum tipo de ação, ficando o credor somente com a confiança depositada no devedor.
Surge com o ius civili o reconhecimento da fidúcia como um contrato, sendo instrumentalizada processualmente uma ação de cobrança própria, conhecida como – actio fiduciae directa.
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Comodato
Consistia na entrega de coisa inconsumível ao comodatário, permitindo que este fizesse uso dela por algum tempo e devesse restituí-la após transcorrido esse tempo, com todos os frutos e no lugar e tempo acordados.
Assim como na fidúcia o comodato não possuía ação especifica para compelir o devedor judicialmente, mas o pretor quando constatado o dolo poderia agir contra o comodatário.
Com o surgimento do “ius civili” o comodato passa a ter força de contrato, sendo criada a ação “actio comodati directa”.
Depósito
Neste contrato o depositante entrega coisa infungível ao depositário para que este faça a custódia, restituindo o bem quando solicitado. Esse tipo de contrato surge na forma gratuita e com sua evolução atinge a forma onerosa.
Naquela época o direito romano já contemplava a nulidade da cláusula de exclusão de responsabilidade no caso de dolo ou de uso da coisa de forma divergente da pactuada.
Existiam quatro tipos de depósito, o depósito regular já mencionado acima, o depósito necessário, o irregular e o sequestro.
Necessário – alguém era compelido a tornar-se depositário contra a sua vontade, em razão de calamidade ou mesmo privado;
Irregular – o depositante transferia propriedade de coisa fungível ao depositário, que era obrigado a restituí-la, quando requerida, por coisa da mesma espécie, quantidade e qualidade que lhe fora entregue;
Sequestro – duas ou mais pessoas entregavam coisa em depósito, que deveria ser restituída, somente para aquele que alcançasse determinada condição (vencedor), neste instituto não há a transferência da propriedade.
Penhor
No penhor ocorria a transmissão da posse, podendo ser de coisa móvel ou imóvel, com intuito de garantir uma obrigação assumida anteriormente pelo devedor. O credor era obrigado a restituir a coisa quando da extinção da obrigação.
Contratos Consensuais
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Era a espécie de contrato que mais se afastava do formalismo, dando ênfase ao consenso das partes ao invés da forma. O direito romano possuiu quatro espécies de contratos consensuais, eram eles – compra e venda, mandato, sociedade e locação.
Compra e Venda
Consistia no contrato onde vendedor estava obrigado a transmitir a posse da coisa ao comprador, e este último lhe pagaria uma quantia em dinheiro. Esta quantia em dinheiro deveria ser entregue primeiro.
A princípio, tal contrato surge da troca de mercadorias (escambo), mas com a evolução e a expansão da moeda e em virtude desta facilitar as negociações criou-se a possibilidade da troca de uma coisa pelo seu equivalente em dinheiro. Este instituto permitiu também a aquisição de propriedade a prazo.
No direito romano o preço ajustado entre as partes deveria corresponder a realidade, ou aproximar-se dela, pois caso contrário o vendedor poderia exigir a rescisão da venda. Considerava-se como preço injusto aquele inferior a metade do justo.
Ao comprador era dada a chance decomplementar o valor da compra, com o fim de evitar a lesão enorme.
O vendedor estava obrigado a conservar a coisa até o momento de sua entrega, respondendo pela deterioração independentemente de dolo ou culpa. A única exceção admitida era o caso fortuito.
Comprador e vendedor podiam celebrar pactos que resultavam em direitos e obrigações, mas eram acessórios do contrato principal.
Os pactos eram os seguintes:
Lex comissoria – permitia ao vendedor anular o negocio caso o comprador não pagasse o valor acordado no prazo estipulado;
In diem adicto – era uma reserva de direito ao vendedor, que permitia que este vendesse a coisa a quem lhe fizesse melhor oferta, dentro de um prazo determinado, garantindo também o direito ao comprador de cobrir esta oferta;
Pactum displicentiae – dava o direito ao comprador de desfazer o negócio, dentro de um prazo determinado, caso não gostasse da coisa;
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Pactum retruendendo – estabelece um prazo, no qual o vendedor poderia resgatar a coisa, desde que restituísse o valor pago.
Mandato
Mandato era o contrato que incumbia alguém (mandatário) de praticar, de forma voluntária e gratuita, uma atividade, em substituição ao mandante. O mandatário devia prestar contas ao mandante, para comprovar o fiel cumprimento do mandato.
Sociedade
A sociedade era o contrato que unia duas ou mais pessoas, obrigando-as a empreender bens ou esforços com o objetivo comum de que todos obtivessem lucro.
O império romano adotava quatro espécies de sociedades, eram elas:
Societas omnium bonorum – os bens da sociedade permaneciam em condomínio;
Societas universorum quae ex questu ueniunt – os sócios somente colocavam na sociedade o fruto do seu trabalho e o rendimento dos bens, preservando os patrimônios individuais;
Societas unius rei – era a sociedade criada para um único negócio jurídico;
Societas alicuius negotiationes – tinha como objetivo diversos negócios jurídicos.
A sociedade possuía alguns requisitos de existência, como por exemplo – vontade das partes, cada sócio deveria entregar algo ou entrar com trabalho e deveria haverá a divisão equilibrada dos lucros.
Todos os sócios deveriam cuidar do patrimônio da empresa, pois todos dividiam tantos os lucros quanto as perdas, qualquer deles que agisse de forma a não respeitar a coisa da empresa como se dele fosse poderia responder pelo prejuízo causado.
A	sociedade	poderia	ser	extinta	nos	seguintes	casos:
Vontade dos sócios;
Morte de um dos sócios;
Falência de um dos sócios; Redução drástica de capital;
Deterioração do patrimônio da sociedade; Judicialmente provocada por credor;
Conclusão do negócio;
Locação
Neste instituto o locador obrigava-se a permitir que o locatário usufruísse de coisa em troca de um pagamento que geralmente ocorria em dinheiro.
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A locação podia ocorrer de três formas:
Locatio conductio rei – Era o aluguel da coisa onde o locatário pagava ao locador para poder usufruir por determinado tempo do bem, e não havia a transferência da propriedade; Locatio conductio operarum – Objeto deste contrato era o trabalho, pois o locador pagava um valor ao locatário para que ele executasse um determinado serviço em um
determinado tempo;
Locatio operis faciendi – Neste modelo o locador pagava uma quantia ao locatário para que ele executasse uma determinada obra em um determinado tempo, o locatário era o responsável técnico pela obra e poderia contratar ajudantes, ficando responsável por qualquer dano decorrente de negligência ou imperícia.
Contratos Inominados
Os contratos inominados surgem com o direto Justiniano e eram classificados em quatro espécies.
São elas:
Dou para que dês – Prestação e coisa eram vinculados a entrega de uma pela outra, ou seja, a troca;
Dou para que faças – Prestação era vinculada a entrega de uma coisa, e a contraprestação a um comportamento, ou seja, doação com encargo;
Faço para que dês – Prestação está vinculada a um comportamento, e a contraprestação a entrega de uma coisa, ou seja, situação inversa a supramencionada;
Faço para que faças – Ambas as prestações estavam ligadas a um comportamento.
Desta forma, o principal requisito dos contratos era o acordo de vontades, tendo prestação e contraprestação equivalentes.
Permuta
Era o contrato inominado mais utilizado, pois constituía a troca de uma coisa por outra coisa, e foi muito utilizado no período em que a moeda ainda não era tão utilizada.
Contrato Estimatório
Era constituído quando uma das partes entregava a outra uma ou mais mercadorias com preço estimado de venda; vendidas as mercadorias o vendedor retinha para si o que conseguisse acima do valor estimado, estando obrigado a devolver as mercadorias
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que não fossem vendidas. O lucro do vendedor estava na diferença entre o valor estimado e o valor da venda.
Precário
O contrato precário ou precarium ocorria quando uma parte cedia a outra o uso da coisa a título gratuito, obrigando o usuário a restituí-la quando lhe fosse requerido.
Transação
A transação pressupunha uma relação jurídica existente anteriormente, pois as partes constituíam a transação fazendo concessões recíprocas em forma de stipulatio. Era como um acordo, ambas as partes faziam concessões com fim de evitar uma briga judicial.
Pactos
Os pactos constituíam acessórios aos contratos, muito embora antes da existência dos contratos fossem utilizados como uma forma de contrato. Com os pactos as partes poderiam incluir ou reduzir as obrigações em um contrato preexistente.
Os pactos se dividiam da seguinte forma:
Pacto nu – No pacto nu havia uma convenção de vontades, porém esta não era feita de forma solene, ou seja, não era exteriorizada;
Pacto vestido – No pacto vestido a convenção de vontades era feita de forma solene, dando publicidade ao pacto e, por conseguinte exteriorizando as vontades das partes.
Os pactos nus não tinham força obrigacional, pois não respeitavam as solenidades exigidas para que se transformassem em pactos vestidos.
Doação
Na doação, como o próprio nome já diz, havia a entrega voluntária de um ou mais bens do doador ao donatário. Neste instituto não poderia haver encargos ao donatário.
Na época de Constantino a doação possuía três requisitos de validade, quais sejam: redação do ato perante testemunhas;
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entrega física do bem; e a transcrição do ato em registro publico. Justiniano alterou os requisitos, removendo a entrega da coisa física e obrigando o registro público somente para os casos onde o valor dos bens superasse os 500 sólidos.
Quase Contratos
Segundo CRETELLA, os quase contratos constituíam-se de atos voluntários que tornavam seu autor credor de outra pessoa, sem que houvesse prévio acordo entre as partes.
Existiam cinco espécies de quase contratos conhecidos na época das Institutas de Justiniano, eram elas: a gestão de negócios, a tutela, a communio incidens e o pagamento indevido.
Gestão de Negócios
Consistia num vínculo entre gestor e gerido, com o fim precípuo de evitar um dano. A gestão era feita de forma voluntária e o gerido era obrigado a ressarcir as despesas contraídas pelo gestor em seu benefício. Sempre que solicitado pelo gerido, deveria o gestor prestar contas e/ou devolver o que estivesse em seu poder incluindo seus frutos.
Tutela
No Império Romano as mulheres e os menores de idade eram considerados incapazes, portanto, tinham seus bens administrados por tutor enquanto durasse a incapacidade. O tutor era obrigado a administrar o patrimônio do tutelado de forma zelosa, podendo responder pelo dano causado a este.
Com o término da tutela o tutor deveria prestar contas ao tutelado, restituindo todos os bens deste juntamente com os seus frutos. O fim da tutela poderia se dar quando o tutelado atingia a maioridade ou a mulher se casasse, ou seja, quando cessasse a incapacidade.
Communio Incidens
Tal instituto constituía o domínio comum sobre coisamóvel ou imóvel, possuindo traços do contrato de sociedade, mas com ele não se confundindo.
Pagamento Indevido
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É o exemplo mais claro de quase contrato, pois acontecia quando alguém fazia pagamento a outra pessoa de algo que não lhe era devido. Este ato obrigava quem recebeu a restituir a coisa. Recusando-se a devolver, ficava caracterizado o enriquecimento sem causa, ou seja, sem uma relação jurídica entre as partes. Esta situação poderia ser revertida por meio da ação condictio.
Neste breve histórico, constatamos que o Direito e as Leis evoluem com o tempo, porém, esta evolução não é o simples resultado da passagem do tempo, mas sim da evolução da própria sociedade e dos costumes, aos quais, se amoldam o Direito e a Lei, tornando-se o instrumento pelo qual se pode garantir a segurança e a lisura em todas as relações.
Obrigações
Obrigações
Superada a parte histórica, passamos ao estudo das obrigações. Compreender a origem e a evolução das obrigações no tempo facilitará o estudo deste instituto nos dias de hoje. A parte histórica serve como um verdadeiro complemento, facilitando muito a compreensão.
Conceito de Obrigação
Segundo WASHINGTON DE BARROS MONTEIRO a definição mais antiga remonta às Institutas (Liv. 3°, Tít. XIII): “Obligatio est juris vinculum, quo
necessitate adstringimur alicujus solvendae rei, secundum nostrae	civitatis jura.”.
Em tradução significa “Obrigação é o vínculo jurídico que nos adstringe necessariamente a alguém, para solver alguma coisa, em consonância com o direito civil.”.
Vejamos a seguir, algumas das definições trazidas por grandes doutrinadores e estudiosos do Direito.
FABIO ULHOA COELHO conceitua:
“É o vínculo entre dois sujeitos de direito juridicamente qualificado no sentido de um deles (o sujeito ativo ou credor) titularizar o direito de receber do outro (sujeito passivo ou devedor) uma prestação.”.
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CLÓVIS BEVILÁQUA assim a define:
"Obrigação é a relação transitória de direito, que nos constrange a dar, fazer ou não fazer alguma coisa, em regra economicamente apreciável, em proveito de alguém que, por ato nosso ou de alguém conosco juridicamente relacionado, ou em virtude da lei, adquiriu o direito de exigir de nós essa ação ou omissão".
WASHINGTON DE BARROS MONTEIRO conceitua:
"Obrigação é a relação jurídica, de caráter transitório, estabelecida entre devedor e credor e cujo objeto consiste numa prestação pessoal econômica, positiva ou negativa, devida pelo primeiro ao segundo, garantindo-lhe o adimplemento através de seu patrimônio".
SILVIO DE SALVO VENOSA em apertada síntese define:
"Uma relação jurídica transitória de cunho pecuniário, unindo duas (ou mais) pessoas, devendo uma (o devedor) realizar uma prestação à outra (o credor).".
SILVIO DE SALVO VENOSA reconhece a dificuldade em se adotar um ou outro conceito de obrigação, pois quaisquer que sejam os conceitos adotados, por tratar-se de tema extremamente abrangente, cada conceito enfatizará mais uma parte da definição, cabendo sempre críticas a quaisquer definições.
O conceito moderno de obrigações é construído com os mesmos materiais Romanos caracterizados nas Institutas. Contudo, divergem os juristas sobre um ponto específico; para uns, a obrigação é caracterizada por um vínculo; para outros, é a ideia abstrata da relação jurídica; enquanto outros fazem referência à necessidade jurídica.
Utilizaremos o entendimento de que a obrigação consiste em um vinculo entre as partes.
Sendo assim, adotaremos o conceito de Leonardo Pantaleão:
“A obrigação corresponde a uma relação de natureza pessoal, de crédito e débito, de caráter transitório, cujo objeto consiste numa prestação economicamente aferível.”
Trata-se	de	um	conceito	geral	e	mais	didático	de	obrigação.
Significado da Palavra Obrigação
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A palavra “obrigação” tem duplo sentido e é comumente utilizada como sinônimo de “dever” como, por exemplo: “O locatário tem a obrigação de pagar o aluguel.” ou “Os cônjuges tem a obrigação de serem fieis”.
Esta obrigação no sentido de “dever” pode ter origem tanto na lei quanto na moral e nos costumes.
Contudo, em nosso estudo, a palavra “obrigação” terá o sentido conceitual visto anteriormente, ou seja, o vínculo ou relação, pois estudamos as obrigações pela ótica do Direito.
Direitos Reais e Direitos Pessoais
As obrigações como já vimos constituem direito pessoal, pois se caracterizam pelo vínculo entre duas ou mais pessoas. Já os direitos reais, dizem respeito ao direito de propriedade e recaem diretamente sobre as coisas. Contudo, ambos têm um caráter patrimonial.
Principais Diferenças
DIREITOS REAIS – Originam-se nas leis; recaindo sobre a coisa (bem), basicamente algo material (embora existam propriedades de bens imateriais), de modo absoluto (oponível contra qualquer pessoa), sendo normalmente inconsumíveis no tempo;
DIREITOS PESSOAIS – Originam-se nas relações humanas e das necessidades sociais; recai sobre as relações humanas (objeto principal a prestação), de modo relativo (oponível somente contra o devedor), sendo transitórios.
Segue ainda um quadro para melhor visualização das principais diferenças
Apesar das diferenças, ambos estão comumente ligados, por vezes um direito real é utilizado como garantia em uma obrigação pessoal (penhor, hipoteca), e os direitos obrigacionais são utilizados na aquisição de direitos reais (contrato de compra e venda).
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Logo, não podemos separar as classificações de forma que pareçam se repelir, quando, ambas são utilizadas mutuamente em nosso dia a dia.
Importância das Obrigações
O estudo das obrigações é de suma importância, pois a parte geral constitui a base estrutural de todas as obrigações, nelas estão fixados os princípios aos quais todas as obrigações estarão subordinadas.
A parte especial das obrigações, em específico a parte contratual, deverá respeitar os princípios fundamentais das obrigações gerais. Portanto, é de suma importância a compreensão da parte geral das obrigações, pois existem obrigações que não nascem na lei ou dos contratos mais conhecidos, tratando-se neste caso de contratos atípicos.
Os contratos típicos, ou seja, que tem sua regulamentação na lei, têm suas regras estabelecidas pela parte especial das obrigações. Ao contrário dos contratos atípicos, que deverão obedecer às regras elementares da parte geral das obrigações.
Insta mencionar que, no caso das obrigações as possibilidades são infinitas, levando-se em conta que o que determinará cada uma destas obrigações será basicamente a vontade das partes.
As obrigações se fazem presentes, desde as atividades mais banais como a compra e venda de um terreno até a fusão de grandes empresas.
Graças a elas temos a segurança jurídica necessária para o crescimento econômico e desenvolvimento social.
Elementos da Obrigação
Estando claro o conceito de obrigação, passaremos agora a análise dos elementos constitutivos da obrigação.
São eles:
O subjetivo (sujeitos) - Os sujeitos de uma obrigação são considerados os indivíduos entre os quais a relação jurídica se estabelece, denominando-se sujeito ativo (credor), e, sujeito passivo (devedor), havendo a possibilidade de ocorrer à pluralidade subjetiva em qualquer um dos polos da relação;
O objetivo (prestação) - O objeto, distinto do conteúdo da relação jurídica, constitui aquilo sobre o qual incide o direito subjetivo, ou seja, a coisa a prestar.
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O vínculo jurídico (elemento espiritual) - O vínculo jurídico é o acontecimento natural ou a ação humana que produz consequências jurídicas.
Desta forma, os elementos citados sempre estarão presentes nas obrigações.
Sujeito Ativo
A figura do sujeito ativo, também conhecido como credor, ou seja, pessoa a quem deve ser fornecida a prestação, sendo o legítimo possuidor do direito de exigi-la no caso de descumprimento.
O sujeito ativo poderá ser qualquer pessoa, pois qualquer pessoatem qualidade para apresentar-se numa relação obrigacional.
Comportadas algumas exceções, como a dos menores que devem preencher alguns requisitos de validade para que a obrigação produza seus efeitos, como por exemplo: estar assistido ou representado pelos responsáveis legais, quando não for emancipado.
As pessoas jurídicas de qualquer natureza poderão figurar como sujeito ativo da obrigação.
O sujeito ativo poderá ser ainda simples (individual) ou coletivo (nas obrigações solidárias).
As obrigações podem existir em favor de pessoas ou entidades futuras, como no caso dos nascituros ou de pessoas jurídicas em formação.
É comum que o credor seja conhecido previamente, logo no início da obrigação, porém haverá casos aonde o credor não poderá ser determinado logo de início (títulos ao portador).
Ainda que o credor não possa ser determinado, este será conhecido no momento em que o título de crédito for apresentado ao devedor para o efetivo pagamento, momento em que o credor passará a ser determinado.
Basta então que o sujeito ativo seja determinável, não havendo obrigatoriedade de que ele seja determinado desde o início da relação obrigacional.
Desta forma, sob a ótica do credor pode-se dizer que obrigação é um direito de crédito, ou de exigência do crédito quando este não é pago espontaneamente.
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Sujeito	Passivo
Quanto ao sujeito passivo, conhecido também como devedor, pode-se dizer que observadas às reservas legais, todos poderão figurar como sujeito passivo da obrigação.
Por reservas legais, podem ser entendidas todas aquelas situações aonde a lei exija algum requisito especifico para a validação do vínculo e/ou onde haja proibição expressa.
Da mesma forma que o credor, o devedor não precisa ser determinado no início da obrigação, bastando que seja possível a sua identificação posterior.
Objeto
O objeto consiste naquilo que o devedor deverá fazer, deixar de fazer ou prestar ao credor e que este último tem o direito de exigir caso o devedor não o faça voluntariamente.
No caso dos direitos reais o objeto é uma coisa, enquanto nos direitos pessoais o objeto sempre será uma conduta humana, a ser exigida do sujeito passivo.
Este ato poderá ser lícito ou ilícito, pois uma conduta ilícita pode gerar uma obrigação de reparar, decorrente do delito praticado.
WASHINGTON DE BARROS MONTEIRO, citando BEUDANT, esclarece que:
Objeto da obrigação é aquilo que o devedor se compromete a fornecer, aquilo que o credor tem direito a exigir, em suma, a prestação devida; objeto do contrato constitui a operação que as partes visaram realizar, o interesse que o ato jurídico tem por fim regular;
Objeto da obrigação é isolado, concreto, singular; o do contrato, idêntico em todas as estipulações da mesma espécie;
Objeto da obrigação vem a ser específico, individuado; o do contrato, mais amplo e mais genérico.
Três são os requisitos de validade do negócio jurídico, o objeto precisa ser lícito, possível e determinável.
Vejamos o conteúdo do inciso II do artigo 104 do Código Civil in verbis:
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Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:
II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
O primeiro diz respeito à licitude do objeto, não pode o cumprimento da obrigação, forçar o devedor a cometer algo que é proibido por lei (obrigar o devedor a matar alguém) ou que o pagamento se dê com coisas ilícitas (pagar o débito com cocaína).
Insta mencionar que, não é preciso que haja a declaração de invalidade do negócio jurídico quando o objeto for ilícito. Portanto, o devedor não estará obrigado a cumprir o acordado.
Outrossim, não será necessariamente ilícito somente o objeto que contrariar dispositivo legal, podendo advir a ilicitude de uma conduta moral aceita por toda a sociedade, ou seja, algo que esteja diretamente ligado aos costumes e tradições de um povo.
O segundo diz respeito à possibilidade, não pode o cumprimento da obrigação, estipular algo impossível de ser cumprido, algo que ultrapasse as forças humanas. Exemplo: trazer a lua para a terra, tocar a lua com a ponta dos dedos sem tirar os pés da terra.
Por último temos a regra de que o objeto deve ser determinável, ou seja, deverá ser possível apreciar o seu valor econômico, pois caso contrário não haverá interesse no mundo jurídico. Por exemplo: a venda de um só grão de café ou algo de valor pífio.
Excluir-se-ão também, as obrigações que não tenham cunho patrimonial como, por exemplo, é o caso do dever de fidelidade do casal.
Fontes das Obrigações
Passaremos ao estudo das fontes onde se originam as obrigações.
Segundo o entendimento de SILVIO RODRIGUES:
“As obrigações sempre tem por fonte a lei, sendo que nalguns casos, embora esta apareça como fonte mediata, outros elementos despontam como causadores imediatos do vínculo.
Assim, a vontade humana ou o ato ilícito”.
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Seguindo o ponto de vista supramencionado o autor classifica as obrigações em três categorias: as que se originam da vontade humana; as que se originam do ato ilícito; e as que se originam da lei.
As obrigações que derivam da vontade humana podem ser tanto os contratos onde duas ou mais partes manifestam suas vontades, quanto as manifestações unilaterais, como por exemplo: na promessa de recompensa.
As obrigações que tem como origem o ato ilícito surgem da ação, omissão culposa ou dolosa do agente causador do dano.
SILVIO RODRIGUES entende que existem obrigações decorrentes da lei como é o caso dos alimentos. Aduz ainda que, a lei é fonte remota da obrigação, pois só haverá obrigação se o ordenamento jurídico assim o permitir.
CAIO MARIO DA SILVA PEREIRA entende que existem obrigações que decorrem exclusivamente da lei como a obrigação de votar. Contudo, acrescenta que esta obrigação não constitui verdadeira obrigação no sentido técnico, sendo apenas deveres jurídicos.
O autor supramencionado conclui que todas as obrigações emanam de duas fontes, uma é a vontade e a outra é a lei.
Vimos a opinião de dois grandes doutrinadores, demonstrando o quão abrangente é o tema das obrigações. É certo que ambas as teses têm fundamentos sólidos, não se podendo afirmar que uma é mais acertada do que a outra.
ORLANDO GOMES utiliza como exemplo a classificação do Código Italiano, que estatui duas grandes fontes, o contrato e o ato ilícito, referindo-se a uma terceira fonte, qual seja todo outro ato ou fato idôneo a produzir a obrigação de acordo com o ordenamento jurídico.
O terceiro item mencionado permite abarcar institutos como o da declaração unilateral de vontade, os atos coletivos, o pagamento indevido e o enriquecimento sem causa, o abuso de direito, bem como algumas situações de fato.
A lei é fonte imediata para o nascimento da obrigação, porém nas situações de fato, como na obrigação de alimentar, a lei exige
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que haja configurada uma situação fática, portanto não há obrigação a partir da lei no caso em tela.
Classificação das Obrigações
Espécies de Obrigações
Os romanos utilizavam o objeto como forma de classificar a obrigação, e esta se dividia em obrigação de dar, fazer ou não fazer. Anteriormente, vimos o que cada uma delas significa.
O código civil brasileiro ateve-se claramente ao modelo romano, distribuindo as obrigações em três categorias, obrigação de dar (coisa certa ou incerta), obrigação de fazer ou de não fazer.
WASHINGTON DE BARROS MONTEIRO afirma ser ambígua esta classificação, citando:
“Rigorosamente, toda obrigação de dar mistura-se e complica-se com uma obrigação de fazer ou não fazer. Muitas vezes elas andam juntas. Assim na compra e venda, o devedor tem obrigação de entregar a coisa vendida (dar) e responder pela evicção e vícios redibitórios (fazer)”.
Em códigos mais modernos esta divisão foi abandonada, pois por diversas vezes estas obrigações estão embaralhadas.
Apesar das críticas ao sistema tripartido apresentado, é inegável que a obrigação implicará sempre em um dar, fazer ou nãofazer, independentemente se de forma isolada ou conjunta.
Ainda quanto ao objeto as obrigações poderão ser simples ou conjuntas. Simples quando a prestação importar na prática de um único ato ou na entrega de uma só coisa. Conjuntas serão aquelas cuja prestação importe na prática de mais de um ato ou na entrega de mais de uma coisa.
Existem também obrigações de satisfação instantânea, ou seja, se exaurem em um único ato como, por exemplo, a entrega de um objeto. Em contrapartida, existem também as obrigações periódicas que, por sua própria natureza consistem em obrigações de médio prazo (contrato de locação).
Com relação aos sujeitos, já vimos que as obrigações podem ter vários credores ou devedores, constituindo obrigação única aquela que possui somente um credor e um devedor e obrigação
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múltipla aquela aonde se encontram mais de um credor ou mais de um devedor.
A pluralidade de credores ou devedores constitui obrigações múltiplas, que se dividem em conjuntas e solidárias. Nas conjuntas, segundo Monteiro, “cada titular só responde, ou só tem direito à respectiva quota-parte na prestação”; enquanto nas obrigações solidárias, cada credor poderá exigir a dívida por inteiro e cada devedor poderá ser obrigado a efetuar o pagamento por inteiro.
As obrigações podem ser classificadas ainda, quanto ao modo de execução, sendo elas: conjuntivas, alternativas e facultativas.
Serão simples as obrigações onde não existam cláusulas restritivas. Serão conjuntivas as obrigações ligadas por cláusulas aditivas. Serão alternativas as obrigações aonde houver cláusulas de partícula (alternativas). Serão facultativas as obrigações aonde houver facultado ao devedor a substituição do objeto.
Obrigações de Dar
Em regra a obrigação de dar terá o conteúdo de entrega de uma coisa.
Como já fora dito anteriormente, nosso sistema jurídico ateve-se a tradição romana, aonde a obrigação de dar gera apenas um crédito e não um direito real e absoluto.
Contudo, hoje em dia em nosso sistema processual existem diversas medidas constritivas e coercitivas que visam facilitar o cumprimento da obrigação, e estas medidas acabam por aproximar o direito obrigacional do direito real, tamanha são as formas de compelir o devedor a cumprir a obrigação.
Segundo melhor define VENOSA:
“a obrigação de dar é aquela em que o devedor compromete-se a entregar uma coisa móvel ou imóvel ao credor, quer para constituir novo direito, quer para restituir a mesma coisa a seu titular”.
É imperioso frisar novamente que, por vezes as obrigações de dar, fazer ou não fazer estarão diretamente ligadas.
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Obrigações de dar coisa certa
A obrigação de dar coisa certa se caracteriza por poder ser individualizada, ou seja, diferente de todas as demais de mesma espécie.
Servirá a coisa certa e determinada para o adimplemento da obrigação, vejamos o que diz o artigo 313 do código civil referente a esta obrigação:
Art. 313. O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida,
ainda que mais valiosa.
Serve este artigo como o principio básico da obrigação de dar coisa certa, porém da mesma forma que o credor não pode ser obrigado a receber pagamento diverso do acordado, não pode também o credor exigir prestação contrária ao acordado, mesmo que esta se constitua em coisa mais valiosa.
Esta regra é também conhecida como o principio do “pacta sunt servanda”.
Uma das formas de extinção das obrigações é uma coisa dada no lugar de outra, contudo esta substituição pressupõe o consentimento do credor.
O fato de o credor poder aceitar coisa diversa da contratada, não se pode confundir com uma obrigação de fazê-lo, sendo esta uma faculdade.
Aplica-se a obrigação de dar coisa certa o princípio da acessoriedade.
Vejamos a dicção do Art. 233 do Código Civil:
Art. 233. A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dela embora não mencionados, salvo se o contrário resultar do título ou das circunstâncias do caso.
Conforme se extrai do artigo supramencionado, o acessório sempre acompanhará o principal.
Existe uma exceção aonde havendo acréscimo ao valor do principal ou de seus acessórios, poderá o devedor cobrar a respectiva diferença.
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Os acessórios referidos no artigo mencionado são tanto os de natureza material quanto os de natureza imaterial.
Obrigações de dar coisa incerta
A obrigação de dar coisa incerta constitui-se na obrigação de entregar uma quantidade de um gênero.
O que fica estabelecido no Art. 243 do Código Civil, vejamos:
Art. 243. A coisa incerta será indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade.
A incerteza de que trata o artigo supramencionado, não tem o significado de indeterminação, mas sim de uma determinação genérica. Temos então o exemplo a seguir: obrigação de entregar café do tipo arábico, obrigação de entregar automóvel com determinada potência.
Após a escolha do bem conforme o contratado, a obrigação passará a ser regida pelos princípios pela obrigação de dar coisa certa, pois havendo a escolha do bem a ser entregue este passa de incerto para certo e determinado.
Conforme vimos, na obrigação de dar a coisa certa perdendo-se a coisa sem a culpa do devedor, estará resolvida a obrigação. Enquanto que, na obrigação de dar coisa incerta há uma obrigação genérica, de modo que o gênero jamais poderá perecer.
Tal regra encontra-se estabelecida no Art. 246 do Código Civil:
Art. 246. Antes da escolha, não poderá o devedor alegar perda ou deterioração da coisa, ainda que por força maior ou caso fortuito.
Desta forma, é de fácil constatação que a obrigação de dar coisa certa é específica, ao passo que a obrigação de dar coisa incerta é genérica.
O artigo supramencionado ainda faz referência à escolha, que se refere ao momento em que a coisa passa de gênero para específica, ou seja, quando o devedor separa as sacas de café para entrega.
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WASHINGTON DE BARROS MONTEIRO aduz que a simples separação não é determinante para que o devedor possa alegar a deterioração ou perda da coisa, é preciso que esta seja posta à disposição do credor, para então ocorrer a transformação da obrigação de dar coisa incerta pra a obrigação de dar coisa certa, e por consequência poderá haver a deterioração da coisa.
Vejamos:
“O devedor não poderá subtrair-se à prestação, dizendo, por exemplo: “já tinha escolhido tal saca de café, que se perdeu”, ou ainda, “queria dar tal rês, que se
extraviou, ou pereceu””.
Sendo assim, enquanto a coisa não for efetivamente entregue ou posta à disposição do credor, impossível será a sua deterioração e, por conseguinte a desoneração do devedor.
Esta escolha caberá ao devedor se não houver previsão contratual estipulada entre as partes, pois conforme estabelece o art. 244 do Código Civil na falta de disposição contratual o devedor não poderá dar a coisa pior nem ser obrigado a dar a melhor.
Vejamos o Art. 244 in verbis:
Art. 244. Nas coisas determinadas pelo gênero e pela quantidade, a escolha pertence ao devedor, se o contrário não resultar do título da obrigação; mas não poderá dar a coisa pior, nem será obrigado a prestar a melhor.
Do mesmo artigo se pode extrair ainda que, o devedor no momento da escolha não poderá optar nem pela pior nem pela melhor coisa, havendo a lei estabelecido um meio termo para o pagamento da obrigação.
Existem exceções à regra da deterioração do gênero, pois existem coisas genéricas de existência restrita ou limitada, Venosa utiliza como exemplo o caso de um vinho raro ou de automóvel que deixou de ser fabricado.
Nestes casos o devedor poderá alegar a perda ou a deterioração do gênero da coisa. Caso o referido gênero torne-se muito restrito, a obrigação passa de genérica para alternativa.
Obrigação de Fazer
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As obrigações de fazer e não fazer constitui-se em atos do devedor, ou seja, verdadeiras atividades no sentido próprio da palavra. Esta atividade poderá ser física (pintar uma casa) ou material(escrever uma obra).
Em alguns casos a obrigação de fazer poderá não ser externada, como nos negócios essencialmente jurídicos, onde não se pode ver a coisa, mas se sabe que a obrigação existe.
No caso da obrigação de fazer, o credor poderá escolher determinado devedor para cumprir a obrigação, não podendo haver substituição.
Existe no nosso ordenamento jurídico, previsão legal no sentido de obrigar aquele que se recusa a cumprir obrigação de fazer a ele imposta, a indenizar o credor por perdas e danos.
Tal instituto encontra-se no Art. 247 do Código Civil, vejamos:
Art. 247. Incorre na obrigação de indenizar perdas e danos o devedor que recusar a prestação a ele só imposta, ou só por ele exequível.
Existem situações características aonde o devedor é insubstituível (show de cantor famoso), no entanto cada caso deverá ser analisado de modo a verificar se a substituição é possível.
Obrigação de dar e de Fazer
Vejamos	como	diferenciar	os	dois	institutos	nas	palavras	de
WASHINGTON DE BARROS MONTEIRO:
“Se dar ou entregar é ou não consequência do fazer. Assim, se o devedor tem de dar ou de entregar alguma coisa, não tendo, porém, de fazê-la previamente, a obrigação é de dar; todavia, se, primeiramente, tem ele de confeccionar a coisa pra depois entrega-la, tendo de realizar algum ato, do qual será mero corolário ou de dar, tecnicamente, a obrigação é de fazer”.
MARIA HELENA DINIZ acrescenta que na obrigação de dar, a tradição é imprescindível, o que não ocorre na obrigação de fazer.
Nas obrigações de dar existem métodos de execução coativos, ao passo que, nas obrigações de fazer existem apenas formas
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indiretas de execução, pois não há interferência direta na esfera de atuação do devedor.
Obrigação de não Fazer
A obrigação de não fazer constitui-se em uma obrigação negativa, que ao contrário das obrigações de dar e fazer, positivas, pois o devedor compromete-se a deixar de praticar algum ato.
Esta obrigação poderá ou não ter seu tempo limitado, ou surgir como simples dever de tolerância. Neste tipo de obrigação o devedor compromete-se a deixar de praticar algo que poderia normalmente praticar caso não houvesse a referida obrigação.
Tais obrigações também poderão constituir fatos e atos jurídicos, ou seja, como vimos anteriormente esta obrigação poderá ser estritamente negocial, não sendo necessariamente externada de forma material.
Assim como em todas as obrigações, a obrigação de não fazer deverá respeitar os mesmos requisitos de validade inerentes a todo negócio jurídico.
Desta forma brilhantemente define SILVIO RODRIGUES:
“Será lícita sempre que não envolva restrição sensível a liberdade individual. Assim, é ilícita a obrigação de não casar, ou a de não trabalhar, ou a de não cultuar determinada religião, porque junto o Estado repugna prestigiar um vínculo obrigatório que tem por escopo alcançar resultado que colidem com os fins da sociedade. Daí por serem imorais ou antissociais, tais tipo de obrigações, o direito não lhes empresta a forma coercitiva”.
Contudo, a obrigação de não casar com determinada pessoa, não será considerada ilícita, desde que haja justificativa para tanto.
Desta forma, podemos observar que a obrigação de não fazer caracteriza-se por uma omissão autônoma do devedor, ou ligada a outra obrigação positiva.
Obrigações Pecuniarias
Pecuniária tem origem na palavra “pecus” (gado) que era muito utilizado nas transações comerciais antigas, pois na época ainda não havia dinheiro e o comércio era feito na base da troca.
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Obrigação pecuniária é aquela aonde uma parte obriga-se a pagar um débito em dinheiro. Trata-se de uma obrigação de dar coisa certa, quase sempre com objeto de valor determinado e imutável.
As partes podiam incluir cláusulas de escala móvel, que poderiam utilizar como parâmetro o preço de algum bem ou serviço no momento do pagamento, servindo como índice de correção monetária.
Obrigações Cumulativas e Alternativas
As obrigações poderão ser de objeto singular ou plural, ou seja, a prestação constituir-se-á de mais de um objeto.
Quando utilizada a preposição “e” tratar-se-á de uma obrigação cumulativa (entregar um cavalo e um imóvel).
Para estas obrigações não existe regime legal específico, sendo elas regidas pelos princípios gerais aplicados a obrigações de dar.
Quando a preposição utilizada for “ou” estaremos diante de uma obrigação alternativa (entregar um cavalo ou um imóvel).
O regime legal deste tipo de obrigação encontra-se elencado dos Art. 252 ao Art. 256 do Código Civil.
Esta obrigação tem a característica de possuir varias prestações, porém somente uma delas será realizada.
Obrigação Alternativa
Como vimos acima, na obrigação alternativa restará cumprida pela entrega ou cumprimento de qualquer uma das prestações. Neste caso específico, estabelece o Art. 252 do Código Civil que a escolha caberá ao devedor se não houver estipulação em contrário.
Segundo BORBA as obrigações alternativas possuem as seguintes características:
Seu objeto é plural ou composto;
As prestações são independentes entre si;
Concedem um direito de opção que pode estar a cargo do devedor, do credor ou de um terceiro e enquanto este direito não for exercido pesa sobre a obrigação uma incerteza acerca de seu objeto; e, feita a escolha, a obrigação concentra-se na obrigação escolhida.
Independentemente da opção de escolha recair sobre credor ou devedor, ambos não poderão exigir parte do pagamento da
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prestação em um objeto e parte em outro, devendo o pagamento ser efetuado por meio de um ou outro.
Poderá haver a pluralidade de credores ou devedores, havendo pluralidade de credores ou devedores, será necessário que estes entrem em acordo sobre a escolha, caso contrário o Código Civil determina que caberá ao juiz decidir a confusão, conforme o estabelecido no § 3º do Art. 252.
A referida escolha dar-se-á no prazo estabelecido pelo pacto, e onde não houver fixação do prazo, deverá o devedor ser notificado para a constituição da mora.
A conversão de uma obrigação alternativa em obrigação de coisa certa é conhecida como concentração. A concentração opera-se no momento da escolha.
A maior utilidade da obrigação alternativa, para nosso ordenamento jurídico, é a de possibilitar o pagamento de melhor forma para o devedor, aumentando também as garantias do credor.
	Obrigações Facultativas
	
	
	
	São
	aquelas
	que
	possuemuma
	obrigação
	principal,
	mas
	permitem
	ao
	devedorpagara
	prestação
	deforma
subsidiária (o devedor compromete-se a entregar 100 sacas de café, no entanto o contrato admite a liberação do devedor, mediante o pagamento da cotação do café em ouro).
A obrigação facultativa não pode ser confundida com obrigação de dar, pois nesta é imprescindível à concordância do credor em receber coisa diversa, enquanto que na facultativa esta prerrogativa é exclusiva do devedor.
A principal diferença entre obrigação alternativa e a facultativa reside no fato de que na obrigação alternativa o acessório não segue o principal, enquanto na facultativa havendo nulidade com relação à obrigação principal, a obrigação acessória tornar-se-á sem efeito.
Nas obrigações alternativas as prestações estão no mesmo nível, enquanto que nas facultativas a prestação facultativa é subsidiária da principal, portanto não ocupando o mesmo nível da obrigação principal.
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Como já fora dito, na obrigação facultativa a prerrogativa da escolha é exclusiva do devedor.
Segundo VENOSA, pairando dúvida acerca da existência de uma obrigação alternativa ou facultativa, conclui-se pela obrigação facultativa, por ser esta menos onerosa para o devedor, porém, segundo Washington de Barros Monteiro, tal questão não é pacífica.
Borba elenca as seguintes características das obrigações facultativas:
São obrigações de objetos plural ou composto;
As obrigações têm uma relação de dependência correspondente ao conceito de principale acessório; e
Possuem um direito de opção em benefício do devedor.
Outra característica da obrigação facultativa, que a diferencia da obrigação alternativa, é a de que não existe uma escolha da obrigação, mas sim o exercício de uma opção por parte do devedor, que poderá se dar até o efetivo cumprimento da obrigação.
Indivisibilidade e Solidariedade
Diferença
A solidariedade caracteriza-se pelo vínculo jurídico, ao passo que a indivisibilidade resulta da natureza da prestação. Na solidariedade o credor poderá exigir o pagamento integral da prestação de qualquer devedor, porque todos são responsáveis pelo total da dívida. Na indivisibilidade o credor poderá exigir a totalidade da dívida de qualquer um dos devedores, não porque sejam devedores do total, ma sim porque a natureza da prestação não permite a divisão.
A natureza da prestação refere-se a coisa dada em pagamento como por exemplo um cavalo, este não pode ser dividido, logo deverá ser exigido de um dos devedores.
Traçadas estas características, fica demonstrado que a solidariedade tem origem na técnica jurídica, enquanto a indivisibilidade tem origem material.
Outra diferença reside no fato de que na hipótese de conversão em perdas e danos da obrigação solidária, as características da solidariedade permanecem, o que não ocorre na obrigação indivisível, pois como essa tem origem na natureza da prestação,
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convertida em perdas e danos desaparece a indivisibilidade, transformando-se em uma obrigação pecuniária.
Obrigações Solidárias
Conceito
VENOSA define solidariedade da seguinte forma:
“A solidariedade é modalidade especial de obrigação que possui dois ou mais sujeitos, ativos ou passivos, e, embora possa ser divisível, pode cada credor demandar e cada devedor é obrigado a satisfazer à totalidade, com a particularidade de que o pagamento feito de um devedor a um credor extingue a obrigação quanto aos outros coobrigados”.
Fontes da Solidariedade
As únicas hipóteses aonde a solidariedade encontra seu berço, são a lei e a vontade das partes, lembrando que, a solidariedade constitui exceção, pois não havendo previsão legal ou contratual esta jamais será admitida.
Para que seja reconhecida a solidariedade contratual, não há necessidade de que esteja esta explicita no contrato, bastando que dele se possa extrair a vontade das partes no sentido de se obrigar solidariamente.
Solidariedade Ativa
As únicas hipóteses aonde a solidariedade encontra seu berço, são a lei e a vontade das partes, lembrando que, a solidariedade constitui exceção, pois não havendo previsão legal ou contratual esta jamais será admitida.
Para que seja reconhecida a solidariedade contratual, não há necessidade de que esteja esta explicita no contrato, bastando que dele se possa extrair a vontade das partes no sentido de se obrigar solidariamente.
Solidariedade Passiva
Constitui-se de uma obrigação que contém mais de um devedor, aonde todos são responsáveis pelo total da dívida.
A solidariedade passiva é sem dúvida, uma das melhores formas de garantia, pois obriga todos os devedores ao pagamento do total da dívida. Por este motivo, este instituto é utilizado de forma recorrente.
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Extinção das Obrigações
Como já vimos, a regra é de que as obrigações surjam para se extinguir. Todas as relações jurídicas estão sujeitas às intempéries da vida e das relações humanas, porém não ocorrendo nada de anormal a obrigação será extinta com o pagamento.
Entenda-se por “pagamento” toda forma de cumprimento da obrigação e por “solução” qualquer outra modalidade de cumprimento da obrigação.
Segundo	leciona	CAIO	MARIO	DA	SILVA	PEREIRA	o
“pagamento como forma de liberação do devedor, mediante da prestação do obrigado, conceito que reúne as preferências dos escritores mais modernos”.
Quando a extinção da obrigação se der por intervenção judicial, temos uma forma anormal de extinção, pois a indenização pelo não cumprimento de obrigação pactuada substitui o pagamento, mas não pode ser confundida com ele.
Prova do Pagamento
A prova constitui a demonstração material do pagamento, ou cumprimento da obrigação, ato ou negócio jurídico. Trata-se de uma manifestação do credor que dá quitação ao débito.
O direito ao comprovante de pagamento está elencado nos Arts. 319 e 320 do Código Civil, vejamos:
Art. 319. O devedor que paga tem direito a quitação regular, e pode reter o pagamento, enquanto não lhe seja dada.
Art. 320. A quitação, que sempre poderá ser dada por instrumento particular, designará o valor e a espécie da dívida quitada, o nome do devedor, ou quem por este pagou, o tempo e o lugar do pagamento, com a assinatura do credor, ou do seu representante.
Parágrafo único. Ainda sem os requisitos estabelecidos neste artigo valerá a quitação, se de seus termos ou das circunstâncias resultar haver sido paga a dívida.
Desta forma, o recibo é o único documento capaz de provar o pagamento das obrigações de dar de fazer, pois não se admite como prova de pagamento somente a prova testemunhal.
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Admite-se o pagamento parcial, porém no recibo deverá constar uma ou mais ressalvas, pois inexistindo ressalva no recibo de quitação, presume-se quitado o total da dívida.
O recibo constitui um direito do devedor, sendo dever do credor dar quitação após o recebimento da prestação.
Havendo recusa do credor a prestar a quitação, poderá a sentença substituir a quitação, porém o devedor terá que acionar judicialmente o credor.
Insta mencionar que, nas obrigações de não fazer caberá ao credor provar que o ato foi praticado.
Existem ainda os débitos representados por títulos, conhecidos também como débitos literais.
Nos casos aonde a posse do título gera a presunção de que o mesmo não foi pago, possui regulamentação no Art. 321 do Código Civil, vejamos:
Art. 321. Nos débitos, cuja quitação consista na devolução do título, perdido este, poderá o devedor exigir, retendo o pagamento, declaração do credor que inutilize o título desaparecido.
A letra do referido artigo constitui verdadeira proteção ao devedor.
Existem ainda as presunções realtivas de pagamento, que são chamadas de relativas porque admitem prova em contrário. Uma delas encontra-se no Art. 322 do Código Civil, vejamos:
Art. 322. Quando o pagamento for em quotas periódicas, a quitação da última estabelece, até prova em contrário, a presunção de estarem solvidas as anteriores.
Contudo, não deve o credor recusar-se a receber a última parcela quando não tiver sido paga a anterior, devendo receber a última com ressalva para assim evitar a presunção legal (CF.Lopes 1966, v.2:206).
Todas as despesas com o pagamento e a quitação são de responsabilidade do devedor, exceto quando houver disposição em contrário.
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Enriquecimento Sem Causa
Enriquecimento sem Causa
Enriquecimento sem causa é, o enriquecimento de uma das partes em detrimento da outra, sem motivo, fundamento ou causa jurídica. Este tipo de enriquecimento é condenado por nosso ordenamento jurídico, por ser injusto e imoral.
O que se condena no enriquecimento sem causa é justamente essa imoralidade, pois há o aumento patrimonial de uma das partes em detrimento da outra sem base jurídica, quebrando completamente o equilíbrio contratual.
São exemplos de enriquecimento sem causa – o pagamento de dívida inexistente, o pagamento de dívida a quem não é o credor, ou a benfeitoria construída sobre terreno de terceiro.
Requisitos do Enriquecimento sem causa
Segundo Venosa, haverá enriquecimento sem causa sempre que houver vantagem de cunho econômico sem justa causa em detrimento de outrem.
Este enriquecimento pode ocorrer tanto de ato jurídico quanto de negócio jurídico, podendo ocorrer inclusive por ato de terceiro.
Ainda segundo Venosa, a interpretação de “sem causa” deve ser entendida como a ausência de amparo legal, ou seja, a causa pode até existir, contudo se for injusta estará caracterizado o enriquecimento sem causa.Pagamento Indevido
O pagamento indevido é uma modalidade de enriquecimento ilícito. Curiosamente neste instituto, o pagamento que é comumente utilizado para extinguir uma dívida nos institutos já estudados, é para este caso concreto, justamente o fato gerador de uma obrigação.
Vejamos a definição de Lopes (1966, v.2:102):
“É o pagamento efetuado com a intenção de cumprir (aninus solvendi) uma obrigação inexistente (indebitum), em consequência de um erro”.
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Negócio Jurídico e Contrato
Negócio Jurídico e Contrato
VENOSA define negócio jurídico como “a manifestação de vontade com a intenção precípua de gerar efeitos jurídicos”.
Os códigos possuem uma regulamentação geral sobre os contratos, porém estas são as mesmas para os negócios jurídicos e se encontram na parte geral do Código Civil.
Princípios Gerais do Direito Contratual
Princípio da Autonomia da Vantade
Este princípio tem origem no brocardo que diz que o contrato faz lei entre as partes, pois esta teoria propõe que a vontade está no centro de todos os pactos. Contudo, sempre houve limitação legal a esta liberdade.
A referida liberdade diz respeito tanto a liberdade de contratar ou não, quanto a liberdade de escolha da modalidade contratual pelas partes, podendo estas escolherem a que mais se adequar as suas necessidades ou criarem um modelo próprio para suprir as suas necessidades, respeitando sempre os requisitos de validade e a lei.
Em nosso ordenamento jurídico existem normas que não serão afetadas pela vontade das partes, bem como as que só operarão com o silêncio dos contratantes.
O limite à liberdade de contratar encontra-se albergado no Art. 421 do Código Civil, vejamos:
Art.	421.	A liberdade	de	contratar	será	exercida	em	razão	e	nos	limites	da	função
social do contrato.
O artigo supramencionado permite a interferência do Estado na autonomia dos contratantes, podendo o juiz interferir na relação contratual, quando esta não pautar-se no que está estabelecido neste artigo, devendo haver uma utilidade social para a comunidade.
Princípio	da	Força	Obrigatória	dos	Contratos
A obrigatoriedade a que se refere esse princípio, será instrumentalizada pelo ordenamento jurídico, que deverá obrigar o contratante a cumprir o contratado ou a indenizar por perdas e
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danos a parte prejudicada. Este princípio é elementar para a segurança jurídica das relações contratuais.
Ainda que haja uma busca pelo interesse social nas relações contratuais, sempre que possível este interesse não deve contrariar a vontade ou a intenção das partes.
Princípio da Relatividade doa Contratos
O contrato gera vínculo entre aqueles que dele participam, portanto os seus efeitos não poderão prejudicar ou aproveitar a terceiros. O contrato faz parte do mundo real e pode ser percebido pelas pessoas que dele não participaram.
Contudo, ninguém estará sujeito a tornar-se credor ou devedor contra sua própria vontade. Existem é claro, exceções à regra como no caso das convenções coletivas de trabalho aonde as obrigações estendem os seus efeitos a terceiros.
Conclui-se que só haverá efeito com relação a terceiros, quando os casos forem previstos em lei. Como contratante entende-se a parte que participou diretamente da confecção do contrato e como terceiro qualquer pessoa estranha ao vínculo e aos seus efeitos finais do negócio. (Maiorca, 1981:333).
Princípio da Boa Fé nos Contratos
Constitui-se dever das partes de agir de forma correta durante toda a tratativa, o transcorrer e a finalização do contrato. Caberá ao juiz a análise de cada caso e os motivos de seu descumprimento, analisando inclusive a possível existência de má fé.
Durante a análise destes, o juiz deverá levar em consideração as condições em que o contrato foi firmado, o nível cultural dos contratantes, bem como os momentos históricos e socioeconômicos do momento em que o contrato foi celebrado. Esta análise auxiliará o magistrado na busca pela real vontade das partes no momento da celebração.
Boa Fé Objetiva
Com relação à boa fé objetiva, é necessário enfatizar que os contratantes ingressam no negócio jurídico com boa fé, sendo a má fé inicial e preexistente uma aberração e exceção do negócio jurídico, devendo ser analisada desta forma e severamente punida pelo juiz.
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A boa fé objetiva constitui uma cláusula geral, ou seja, uma verdadeira presunção de que as partes agirão de forma correta durante todo o contrato. Na boa fé subjetiva o sujeito acredita que sua conduta está correta, baseado no seu conhecimento e na sua experiência negocial.
A boa fé objetiva será sempre o ponto de partida para a interpretação contratual.
Contrato com Cláusulas Predispostas
Este tipo de contrato surge de uma nova realidade social, qual seja, a contratação em massa, motivada em sua grande maioria pelas relações de consumo. Este fenômeno torna anônima uma das partes até o momento do inadimplemento, aonde o contratante individual lesado buscará identifica-lo.
Esta nova realidade contratual não permite que haja uma individualização e contratação, pois há uma exigência de automatização da relação contratual com o intuito de facilitar e agilizar as negociações aumentando assim as vendas.
Contrato de Adesão
Trata-se do contrato que traz todas as cláusulas predispostas por uma das partes, cabendo à outra a liberdade de aceitar ou recusar-se a aderir ao contrato. Nestes contratos haverá clausulas genéricas que atingirão todos os possíveis interessados, tais cláusulas não surtirão efeito enquanto a parte aderente não firmar o contrato.
Este é o típico contrato com cláusulas predispostas, muito utilizado no âmbito consumerista. Como já fora dito, tais contratos visam tornar mais ágeis as negociações, reduzindo também os custos.
Tendo em vista a fraqueza do aderente, caberá ao juiz a ao legislador traçar parâmetros limítrofes a estas cláusulas.
Contrato Coletivo
O contrato coletivo caracteriza-se pelo acordo de vontade entre duas pessoas jurídicas de direito privado, aonde as pessoas ligadas a elas sofrerão as consequências desse acordo, mesmo que não hajam consentido.
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O contrato coletivo trata-se de um ramo mais específico do direito do trabalho, podendo ser encontrado com timidez nas relações de consumo entre associações de consumidores.
Contrato Coativo
O contrato coativo refere-se as relações contratuais entre concessionárias de serviços publico e usuários, neste modelo de contrato a empresa não poderá recusar-se a contratar com o usuário se este se sujeitar as condições impostas.
Contrato Dirigido
O contrato dirigido nada mais é do que um contrato onde o Estado impõe determinados parâmetros obrigando as partes a incluírem cláusulas ou as proibindo, acabando por limitar a vontade das partes. Tem-se como por exemplo a lei do inquilinato, pois esta visa proteger o inquilino.
Podemos verificar nas palavras de ENZO ROPPO: (1988:193)
“As normas imperativas desempenham um papel do tipo, digamos, negativo ou destrutivo: no sentido em que anulam o regulamento contrastante com as mesmas, ou então amputam-no, removendo do mesmo previsões ou disposições que as partes aí tinham introduzido”.
Resumidamente, a lei determinará o conteúdo do contrato, ou no caso, de determinada vontade de um dos contratantes.
Relações não Contratuais
Trata-se de uma nova prática empresarial, aonde as partes preferem dar maior valor a palavra empregada, abrindo mão do uso do contrato. Este instituto é também conhecido como acordo de cavalheiros, que apesar dos riscos são atrativos para alguns tipos de negócios.
Este tipo de relação não contratual, é mais utilizado em situações aonde a interferência do poder judiciário poderia causar um prejuízo maior do que o decorrente do próprio contrato, sendo mais utilizado em relações econômicas.
Classificação dos Contratos
Classificação dos Contratos
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Importância
A importância do estudo e compreensão da classificação dos contratos

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