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1 PROTOCOLO DE AÇÕES BÁSICAS DE SAÚDE GUIA CLÍNICO Autoria: Sergio de Carvalho Weyne Co-autores: Inger Campos Tuñas; Katlin Darlen Maia; Mariana dos Passos Ribeiro Pinto Basílio de Oliveira; Rodrigo Jan Arkader. Colaboração: Camila Barros ETAPAS DO ATENDIMENTO CLÍNICO CENTRADO NA PROMOÇÃO DE SAÚDE 1ª - Exames para diagnóstico e plano terapêutico (de tratamento) 2ª - Controle das causas de doenças bucais prevalentes (atividade de cárie e gengivite) 3ª - Exames para avaliação do controle da atividade dessas doenças 4ª - Encaminhamento para tratamento das necessidades reabilitadoras (restauradoras e/ou outras) 5ª - Manutenção Periódica Programada 1ª ETAPA: EXAMES CLÍNICOS PARA DIAGNÓSTICO Identificação dos fatores em desequilíbrio Conhecimento da situação do paciente Elaboração de proposta de intervenção Anamnese, aferição da Pressão Arterial (PA) e Glicemia (pacientes adultos) Exame estomatológico Avaliação de exposição ao açúcar adicionado & relação com a sacarose (IEA) Coleta de saliva para determinação do fluxo salivar (FS) Determinação do Índice de Biofilme Lingual simplificado (IBLs) Determinação do Índice de Biofilmes Visíveis (IBV) Determinação do Índice de Sangramento Gengival (ISG) Instrução de Higiene Oral (IHO) / controle mecânico de biofilme Profilaxia profissional Exame de arcada (determinação de CPOS-ampliado e/ou ceos-ampliado) Complementação com exames radiográficos Aplicação tópica de fluoretos COLETA DE SALIVA PARA DETERMINAÇÃO DO FLUXO SALIVAR (FS) 1. Paciente mastiga um pedaço de lençol de borracha (plástico) e/ou de parafina esterilizada . 2. Contar o tempo de coleta (o procedimento deve durar 3 minutos) 3. Paciente deve despejar a produção de saliva em um pote de plástico (pode ser um copinho de café ou de medicamento graduado) – ao longo dos 3 minutos. 4. Usar uma seringa de 5 mL para aspirar todo o líquido produzido. 5. Dividir a quantidade de saliva produzida por três (correspondente aos três minutos de coleta de saliva). 2 6. A medida do fluxo será dada em mL/min. ATENÇÃO PARA MEDICAMENTOS QUE PODEM CAUSAR HIPOSSALIVAÇÃO e PRESENÇA DE DOENÇAS RELACIONADAS!!!!! ÍNDICE DE BIOFILME LINGUAL SIMPLIFICADO (IBLs) 1. Fotografar a língua do paciente. 2. Dividir a língua em sextantes. 3. Valor de IBLs é determinado pelo somatório dos escores 4. Pontuar a quantidade de biofilme de acordo com a região afetada (como na imagem) 0 = nenhum biofilme 1 = pouco biofilme 2 = muito biofilme ÍNDICE DE BIOFILMES VISÍVEIS (IBV) % de superfícies com biofilmes visíveis (espessos) Avaliação da qualidade do biofilme NC/C Objetivos do exame Evidenciar áreas de maior dificuldade de limpeza (apesar do esforço que geralmente precede a visita ao dentista). Avaliar destreza / psicomotricidade do paciente. Reavaliação longitudinal nas consultas de manutenção periódica programada. Passo-a-passo 1. Posicionar o paciente de forma ergonômica (uma posição favorável para quem está atendendo). 2. Fazer o isolamento relativo da cavidade oral (rolete de algodão e sugador). 3. Secar levemente a superfície dentária (evitando que o biofilme se espalhe). 4. Observar as superfícies dentárias com o auxílio do espelho. PARÂMETRO DE AVALIAÇÃO Hipossalivação: abaixo de 0,7 mL/min. Normal: acima de 1,0 mL/min. Atenção: entre 0,8 e 1,0 mL/min. 0 ou 1 0 ou 1 0 ou 1 0 ou 1 0 ou 1 0, 1 ou 2 PARÂMETRO DE AVALIAÇÃO IBLs ideal: 0 IBLs máximo: 7 3 As superfícies que devem ser avaliadas são: Vestibular Lingual Distal Mesial Oclusal (em dentes posteriores) 5. Pontuar as superfícies com: 1 = onde houver biofilme 0 = onde não houver biofilme Divide-se o dente em três partes para facilitar a avaliação do biofilme nas faces proximais. (Repetir a divisão na face lingual) ÍNDICE DE SANGRAMENTO GENGIVAL (ISG) % de superfícies gengivais que apresentam sangramento Objetivos do exame: Evidenciar as áreas com gengivite marginal associada à presença de biofilme. Conhecer o padrão costumeiro da remoção/controle do biofilme do cliente. Avaliar as mudanças de comportamento. Reavaliação longitudinal nas consultas de manutenção periódica programadas. Dentes anteriores: 4 faces Dentes posteriores: 5 faces PARÂMETRO DE AVALIAÇÃO É do paciente com ele mesmo. A medida aceitável é de no máximo 20% de Biofilme Visível. Vestibular Mesial Distal CÁLCULO DO IBV Total do número des faces dos dentes ------------- 100% Total de faces dos dentes com Biofilme Visível -------------- X FAZER REGRA DE 3 SIMPLES INFORMAÇÕES IMPORTANTES – BIOFILME CARIOGÊNCIO E NÃO- CARIOGÊNICO Biofilme cariogênico: espêsso, brilhoso e viscoso. Ao toque com a sonda, sensação de cola (PEC – polissacarídeo extracelular) Biofilme não cariogênico: pouco espêsso, fosco e arenoso (aspecto de areia). 4 Passo-a-passo 1. Posicionar o paciente de forma ergonômica (uma posição favorável para quem está atendendo). 2. Fazer o isolamento relativo da cavidade oral (rolete de algodão e sugador). 3. Secar bem a superfície dentária. 4. Introduzir a sonda milimetrada (no máximo 1 mm ou até isquemiar – aspecto esbranquiçado) na face distal dos dentes, e percorrer pela vestibular, até chegar a mesial. Repetir o movimento pela lingual. (MOVIMENTO DA DISTAL PARA MESIAL) Ordem dos elementos dentários a serem examinados: 18 11 28 21 38 31 48 41 As superfícies que devem ser avaliadas são: Vestibular; Lingual; Distal e Mesial. Não existe gengiva em região Oclusal! 5. Avaliar o sangramento - que pode ocorrer em diferentes momentos do exame (imediato ou mediato): Sangramento quando a sonda é introduzida. Sangramento enquanto a sonda percorre o trajeto pela cervical / margem gengival. Sangramento após o percurso (a cada três dentes, voltar para avaliar o elemento dentário). EXAMES CLÍNICOS PARA DIAGNÓSTICO - CONTINUAÇÃO Profilaxia profissional (ANTES DA PROFILAXIA, O PACIENTE DEVE USAR UM ENXAGUATÓRIO BUCAL À BASE DE CLOREXIDINA a 0.12%). Registro de CPO.S modificado (ampliado) Inclusão de lesões sem cavidade MBA (mancha branca ativa) – MBI (mancha branca inativa – seqüela /cicatriz da mancha branca ativa) Aplicação tópica de flúor com gel ou verniz fluoretado. Paciente liberado. CÁLCULO DO ISG Total das faces gengivais examinadas ------------- 100% Total de faces com sangramento gengival -------------- X FAZER REGRA DE 3 SIMPLES PARÂMETRO DE AVALIAÇÃO ISG inicial é comparado com aquele obtido na Avaliação do Controle das Doenças e posteriormente, com os das Manutenções Periódicas Programadas. Quanto menor, melhor, sendo aceitável um índice em torno de 10%. 5 PROFILAXIA PROFISSIONAL Taça de borracha – limpeza das superfícies lisas livres Escova de Robinso – limpeza das superfícies oclusais Gaze sêca ou limpador de língua – para a limpeza da língua (entrar pela lateral e puxar os resíduos para frente/região anterior da língua; removendo-os). Fio dental – para desorganizar/ remover biofilmes da região interproximal. IMPORTANTE: Em regiões de difícil acesso para o contra-ângulo, pode ser usada uma pinça envolvida em um pedaço de algodão, umidificado com pasta profilática. Observação: Não usar taça de borracha para realização de profilaxia com intenção de posterior de exame de arcada (CPO.s ampliado), pois esta provoca polimento na superfície dentária, dificultando a identificação de atividade de cárie - Mancha Branca Ativa (MBA). NESTE CASO, SUBSTITUIR A TAÇA DE BORRACHA POR ESCOVA DE ROBINSON. Passo-a-passo 1. Paciente faz um bochecho com solução à base de clorexidina (0.12%). 2. Posicionar o paciente de forma ergonômica (uma posição favorável para quem está atendendo). 3. Fazer a profilaxia utilizando a escova de Robinson em todas as faces dos dentes (PARA DIAGNÓSTICO). 4. Fazer a profilaxia da língua com o auxílio de uma gaze, removendo o biofilme. 5. Passar o fio dental para remover resíduos das faces interproximais. 6. Lavar bem a superfície. 7. Fazer o isolamento relativo da cavidade oral (rolete de algodão e sugador). 8. Secar bem o local a ser examinado. 9. Iniciar exame de arcada (CPO.s ampliado). OBS: O uso de fio dental pode ser antes ou após a profilaxia com escova e/ou taça de borracha. CPO.S AMPLIADO É necessário ter superfícies limpas, secas e bem iluminadas para uma avaliação eficiente. Experiência passada de cárie dentária: Dentes restaurados Dentes extraídos Dentes com indicação de extração Atividade cariosa no momento do exame (MBA). O componente cariado (C) é subdivido em: Mancha branca (C1): Ativa: fosca/rugosa. Inativa: brilhante/lisa Microcavidade/cavidade no esmalte (C2) Cavidade na dentina (C3): Ativa: amolecida, clara, úmida. Inativa: endurecida, cor escura. Cavidade atingindo a polpa dentária (C4) 6 APLICAÇÃO TÓPICA DE FLUORETOS Passo-a-passo Posicionar o paciente na cadeira em 90°. Controle da umidade da cavidade oral com isolamento relativo e sugador de saliva. Aplicar o fluoreto com um pincel (ou rolete de algodão) na superfície dos dentes. Passar o fio dental para que o flúor penetre nas faces interproximais. Deixar agir por um minuto. Remover o excesso de flúor com o algodão. Orientar o paciente a não ingerir nenhum alimento por 30 minutos. 2ª ETAPA: CONTROLE DAS CAUSAS DAS DOENÇAS CÁRIE E PERIODONTAL (GENGIVITE) Definir o diagnóstico e o plano de tratamento (terapêutico) Procedimentos para obtenção de informações sobre a origem da doença cárie (quais fatores estavam desequilibrados – causas da doença), com o objetivo PRINCIPAL de controlar a atividade dessas doenças / reequilibrar o biofilme. Exposição do caso para o paciente /responsável Como o paciente chegou (diagnóstico) e qual será o curso do tratamento proposto. CLIENTE EXECUTANDO O AUTO-CUIDADO: REEQUILÍBRIO DO BIOFILME Essa fase do tratamento possibilita ao paciente se auto-cuidar: Modificação dos hábitos que estão provocando o desequilíbrio causador da doença. Educação em saúde bucal – transversal ao processo terapêutico IHO (Instrução de Higiene Oral): Limpeza de língua, escovação e uso do fio dental – o aluno avalia e, se necessário, faz correções e adaptações na técnica/indicações de áreas críticas mostrando com o espelho na mão. Profissional avalia instrumentos utilizados na sua rotina de higienização – lembrar de solicitar ao final da consulta. Remoção dos fatores retentivos de biofilme: Remoção de cálculo supra-gengival (sub-gengival será feito na periodontia). Remoção de raízes residuais (encaminhamento para cirurgia). Pulpotomia. (encaminhar para endodontia) Fechamento (selamento) provisório das cavidades abertas na dentina. INFORMAÇÕES IMPORTANTES TIPOS DE MANCHAS BRANCAS: Fluorose: reta e em dentes homólogos, seguindo um padrão de manchamento (defeitos na odontogênese). Lesão cárie: áreas de acúmulo de biofilme (faces proximais, cervical e sulcos). Hipoplasia do esmalte: mancha ovalada, na região cervical ou na incisal dos dentes (prevalência maior em incisivos). 7 Recontornos e repolimentos EDUCAÇÃO EM SAÚDE Diversas temáticas podem ser discutidas, transversalmente ao tratamento, de acordo com o caso clínico. Cada pessoa possuirá seu rol de temáticas. Algumas temáticas: Discutir a convivência “inteligente” com o açúcar/substitutos da sacarose a partir do inquérito da dieta. Discutir a transmissibilidade (precoce) da microbiota cariogênica nas crianças/hábitos de risco e sua “transmissão familiar” (gestantes e mulheres em período fértil) Conceituar o papel dos biofilmes odontopáticos/importância do controle dos biofilmes. Inter-relação com doenças sistêmicas / doenças bucais. Cárie dentária e/ou doença periodontal. Discutir o significado dos índices encontrados: Índice de biofilme lingual (IBL) Índice de biofilmes visíveis (IBV) Índice de sangramento gengival (ISG) Índice de exposição à sacarose Fluxo salivar Outros... 3ª ETAPA: REAVALIAÇÃO DOS INDICADORES DO PROCESSO SAÚDE-DOENÇA (ADOECIMENTO) Reavaliar os indicadores para saber se o processo está sendo reequilibrado: PA e Glicemia (pacientes adultos), FS, IBLs, IBV, ISG, reversão de MBA REEQUILÍBRIO DO BIOFILME (PROCEDIMENTO EXECUTADO PELO PROFISSIONAL) Remoção do tecido cariado com instrumentos manuais ou através de procedimentos químio-mecânicos. Selamento provisório com cimentos ionoméricos ou à base de óxido de zinco e eugenol. INFORMAÇÕES IMPORTANTES pH CRÍTICO Do esmalte na presença de flúor: 4,5 Da dentina na presença de flúor: 5,5 Do esmalte na ausência de flúor: 5,5 Da dentina na ausência de flúor: 6,5 8 4ª ETAPA: FASE RESTAURADORA E REABILITADORA Paciente começa a fase restauradora (restaurações diretas e indiretas, bem como a reabilitação protética) após o controle dos fatores estão causando o desequilíbrio. 5ª ETAPA: MANUTENÇÃO PERIÓDICA PROGRAMADA – MPP Retorno do paciente determinado por indivíduo Depende do risco de desenvolvimento de novas lesões que foi determinado no diagnóstico. De acordo com a necessidade do paciente - variável (risco e vulnerabilidade individuais). OBJETIVOS: Monitorar a aquisição/desenvolvimento da capacidade de auto-cuidado (autocontrole). Identificar precocemente novos desequilíbrios nas condições intra-orais (novos surtos da atividade da doença). Reforçar/consolidar a educação para saúde e a co-responsabilidade no processo do controle das doenças e na manutenção do estado de saúde. CONDUTAS CLÍNICA A SEREM AVALIADAS: Assiduidade Pontualidade (na entrada e na saída) Biossegurança Organização da bancada / consultório Material e instrumental Preenchimento das fichas Conteúdo teórico (domínio): arguição durante o atendimento Procedimento técnico ESTRITO RESPEITO AO PACIENTE / COLEGAS / PROFESSORES / CORPO TÉCNICO: não é permitido circular pela clínica, falar em tom alto e usar o celular (só quando autorizado para fotografias docaso clínico) BIBLIOGRAFIA Tuñas, I.C.; Maia, K.D.; Passos, M.; Arkader, R.J. e Weyne, S.C. Protocolo Clínico para Avaliação e Controle do Processo Saúde-Doença Cárie. Rev. Bras. Odontol, Rio de Janeiro, v.72, n.1/2, p 76-86, jan/jun, 2015. AUTORES Sérgio Weyne – Doutor em Odontologia pela UFRJ, Professor Titular III da FO/Unesa, ProfessorAdjunto IV da UFF Inger Campos Tuñas – Doutora em Clínica Odontológica, área de Concentração Dentística, pela Unicamp, Professora Adjunta do Departamento de Odontologia Social e Preventiva Da UFRJ Katlin Darlen Maia – Doutora em Odontologia Social pela UFF, Professora Adjunta da FO/UERJ e UNESA Mariana Passos – Mestre em Odontopediatria pela UFRJ, Doutoranda em Saúde Coletiva pela UFRJ Rodrigo Jan Arkader – Mestre em Odontopediatria pela UERJ, Professor da FO/UNESA Colaboração: Camila Barros – Graduanda em Odontologia UERJ – 2018-2
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