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Apresentação: formação sócio-histórica do Brasil § Estudaremos os seguintes autores: § Unidade I: Gilberto Freyre, com a obra “Casa-Grande & Senzala”; Darcy Ribeiro, “O Povo Brasileiro”. § Unidade II: Raymundo Faoro e a ideologia do estamento; Celso Furtado e seu pensamento. § Unidade III: Otavio Ianni e Marilena Chaui, “Brasil: Mito Fundador e Sociedade Autoritária”. § Destaque para as obras que trataram da construção da cultura e da identidade nacional. Apresentação: formação sócio-histórica do Brasil § Principal obra: “Casa-Grande & Senzala”. § Estudos relativos à vida nos engenhos de cana-de-açúcar do Brasil. § Discussão sobre a nossa formação social: § Herança portuguesa; § Herança indígena; § Herança africana. Visão antropológica da formação do Brasil: Gilberto Freyre § Gilberto Freyre estudou nos EUA, em Columbia, com aulas de Franz Boas. § Abordagem de elementos inovadores na discussão, como cultura e raça, sob o aspecto antropológico, ou seja, cultura, herança cultural, costumes, hábitos e crenças. § Questão da mestiçagem: § Portugal mestiço e sua mestiçagem teriam diminuído preconceitos. § Em seu pensamento, o problema não era ser o Brasil mestiço, mas sim a escravidão e a mentalidade que se desenvolveu com isso. § Questão fundamental da colonização e escravidão no Brasil. Visão antropológica da formação do Brasil: Gilberto Freyre § Segundo Gilberto Freyre: § “Quando, em 1532, se organizou econômica e civilmente a sociedade brasileira, já foi depois de um século inteiro de contato dos portugueses com os trópicos; de demonstrada na Índia e na África sua aptidão para a vida tropical. Formou-se na América tropical uma sociedade agrária na estrutura, escravocrata na técnica de exploração econômica, híbrida de índio, e mais tarde de negro, na composição” (FREYRE, 2003, p. 65). § “Durante quase todo o século XVI, a colônia esteve escancarada a estrangeiros (...) essa solidariedade manteve-se entre nós (...) em nossa formação colonial” (FREYRE, 2003, p. 91). Visão antropológica da formação do Brasil: Gilberto Freyre § “Casa-Grande & Senzala” é de 1933 e revolucionou o entendimento do Brasil. § Antropologia e fontes pesquisadas. § Vida dos senhores de engenho e nas plantações. § Relações sexuais entre diversos grupos e cruzamento das três raças que formaram o Brasil: os índios, os africanos e os portugueses. “Casa-Grande & Senzala” está dividido em cinco capítulos que: § descrevem a colonização portuguesa no Brasil, com a construção de uma sociedade agrária e escravocrata, e as formas de interação entre o índio, o negro e o português. Visão antropológica da formação do Brasil: Gilberto Freyre § A motivação original de Freyre teria sido a de descobrir suas próprias origens: § “Casa-Grande & Senzala” foi a resposta à seguinte indagação que eu fazia a mim próprio: o que é ser brasileiro? E a minha principal fonte de informação fui eu próprio, o que eu era como brasileiro, como eu respondia a certos estímulos (FREYRE,1983). § Na Bahia, pesquisou as coleções do Museu Afro-Brasileiro Nina Rodrigues. § Observou que a culinária baiana derivava da cozinha das casas-grandes. § Na África e em Portugal, examinou os documentos que serviram de base para “Casa-Grande & Senzala”. § Nos EUA, viajou pelo Sul do país para comparar o que tinha sido a experiência escravocrata americana com a brasileira. Visão antropológica da formação do Brasil: Gilberto Freyre Nos EUA, percebeu que havia semelhanças: § Eu venho procurando redescobrir o Brasil. Eu sou rival de Pedro Álvares Cabral. Pedro Álvares Cabral, a caminho das Índias, desviou-se dessa rota, parece já baseado em estudos portugueses, e identificou uma terra que ficou sendo conhecida como Brasil. Mas essa terra não foi imediatamente autoconhecida. Vinham sendo acumulados estudos sobre ela... mas faltava um estudo convergente, que além de ser histórico, geográfico, geológico, fosse... um estudo social, psicológico, uma interpretação. Creio que a primeira grande tentativa nesse sentido representou um serviço de minha parte ao Brasil (FREYRE, 2003). § Além de “ser histórico, geográfico, geológico, fosse... um estudo social, psicológico, uma interpretação”. § Gilberto Freyre: § Perspectiva de homem branco e senhor. § Mesmo tendo enaltecido a presença do negro, sua nostalgia pela cultura patriarcal faz transparecer sua posição social. § Sua tese propõe que a casa-grande foi o centro de coesão da sociedade: completada pela senzala, ela representava o centro do sistema econômico, social, político, religioso e sexual do país. § A miscigenação que ocorria diminuiu a distância social entre negros e brancos no Brasil. Gilberto Freyre: pensador da miscigenação § Freyre constrói um argumento que utiliza a ideia econômica como base da estrutura social. § Força patriarcal fundada na riqueza trazida pelo açúcar e no trabalho escravo. A casa-grande parecia uma fortaleza, pois servia tanto de cofre como de cemitério. Lá viviam os filhos do senhor de engenho, o padre e as mulheres brancas, que representavam a colonização portuguesa no Brasil (FREYRE, 2003). § Segundo Freyre (2003), a Igreja incentivava o casamento dos portugueses brancos com as mulheres indígenas, mas não com as negras. § O ambiente em que começou a vida brasileira foi de grande intoxicação sexual. Gilberto Freyre: pensador da miscigenação § Influências dos indígenas: § “Da cunhã é que nos veio o melhor da cultura indígena. O asseio pessoal. A higiene do corpo. O milho. O caju. O mingau. O brasileiro de hoje, amante do banho e sempre de pente no bolso, o cabelo brilhante de loção ou de óleo de coco, reflete a influência de tão remotas avós. Ela nos deu, ainda, a rede em que se embalaria o sono ou a volúpia do brasileiro” (FREYRE, 2003, p. 163). § A união do português com a índia havia gerado os mamelucos. § A sociedade brasileira, até meados do século XX, fazia distinção entre mamelucos, cafuzos e mulatos (depois pardos). Gilberto Freyre: pensador da miscigenação § Nas palavras de Freyre, o português daquela época era uma: § “Figura vaga, falta-lhe o contorno ou a cor que a individualize entre os imperialistas modernos. Assemelha-se uns à do inglês; noutros, à do espanhol. Um espanhol sem a flama guerreira nem a ortodoxia dramática do conquistador do México e do Peru; um inglês sem as duras linhas puritanas. O tipo do contemporizador. Nem ideias absolutas, nem preconceitos inflexíveis. [...] Um rio que vai correndo muito calmo e de repente se precipita em quedas de água [...]” (FREYRE, 2003, p. 265). Gilberto Freyre: pensador da miscigenação § A visão de Gilberto Freyre é eminentemente machista. § Mesmo que sua pesquisa histórica identifique corretamente determinados comportamentos, uma obra original de 1933 revela a ideologia predominante de quando foi escrito. § Violência na sociedade originada nas relações entre senhores e escravos. Gilberto Freyre: pensador da miscigenação Fonte: http://museudalinguaportuguesa.org.br/memoria/exposicoestemporarias/gilberto-freyre-interprete-do-brasil/ Como narra Freyre (2003, p. 110): § “Costuma dizer-se que a civilização e a sifilização andam juntas. O Brasil, entretanto, parece ter-se sifilizado antes. Assim, os filhos bastardos e os escravos mais próximos ao senhor conseguiam adotar o sobrenome dos brancos. O mais interessante é que muitos nomes ilustres de senhores brancos vinham dos apelidos indígenas e africanos das propriedades rurais. Portanto, a terra ajudou a abrasileirar os nomes dos proprietários portugueses.” Gilberto Freyre: pensador da miscigenação § A língua portuguesa também sofria modificações. § Mistura das falas da casa-grande, que era habitada pelas mulheres negras em suas funções de mães negras e mucamas, e foi adotado pelos filhos e pelas mulheres brancas do senhor de engenho. O modo nordestino apresenta também as formas diminutivas “benzinho”, “nézinho” ou “inhozinho”, que têm essa origem (FREYRE, 2003). § Culinária:comidas portuguesas e indígenas foram modificadas pelas técnicas culinárias africanas. § As religiões do senhor e do escravo conviviam. Os padres sabiam que estavam concedendo aos negros o direito de manter suas tradições nas festas do terreiro. § Darcy Ribeiro escreveu “O Povo Brasileiro”, apresentando para a intelectualidade os resultados de sua investigação a partir da pergunta: § “Por que o Brasil não deu certo?” § Desconstrução de mitos sobre a identidade brasileira e sobre a construção da História do Brasil, em especial, sobre a miscigenação. § Dificuldade de formular uma teoria sobre o Brasil, pois isso requeria uma nova abordagem além do entendimento de um processo histórico ou um braço da história ocidental. O povo brasileiro segundo Darcy Ribeiro § Pesquisa junto aos índios. § Darcy também foi político atuante e propôs várias iniciativas sociais em suas passagens pelos diferentes governos dos quais participou. Sua visão da formação social do Brasil corrigiu em vários pontos aquilo que Gilberto Freyre tinha apenas vislumbrado. § Até porque Darcy Ribeiro pensa o povo brasileiro e não exclusivamente uma realidade localizada na região Nordeste do Brasil. § Visão excessivamente romântica ou “socialismo moreno”? O povo brasileiro segundo Darcy Ribeiro § O povo brasileiro passou a ser entendido como uma confluência da matriz portuguesa com a herança miscigenada dos índios e negros, em que cada qual trouxe suas peculiaridades para contribuir com a formação do brasileiro. § Os modos de ser brasileiro como em cinco tipos: Brasil crioulo, Brasil sertanejo, Brasil caipira, Brasil gaúcho e Brasil caboclo. § Por trás dessa unificação étnica, existiam antagonismos, contradições e disparidades. § A colonização foi um processo violento de unificação política que suprimiu toda tentativa de rompimento ou subversão da ordem vigente. O povo brasileiro segundo Darcy Ribeiro § Na sociedade brasileira, as barreiras sociais eram, de acordo com Ribeiro (1995), mais intransponíveis que as raciais, criando uma sociedade marcada por um classismo: § Constante genocídio que tem início com a escravidão. § As lutas antiescravagistas e o medo de que o povo se rebelasse continuaram como fator presente no cotidiano da sociedade. § O medo de uma rebelião das classes mais baixas era constante, o que resultou em um autoritarismo recorrente por parte da ordem vigente em garantir a sua manutenção (RIBEIRO, 1995). O povo brasileiro segundo Darcy Ribeiro § O povo brasileiro nasce de um conjunto de matrizes. § A matriz indígena, tupi, presente de forma plural, mas antagônica de forma unitária ao europeu, sofreu o primeiro ataque pelo contato biológico, o que resultou em um genocídio indireto – pragas e doenças assolaram os povos indígenas. § O europeu impôs uma política extremamente agressiva e, desde o começo, deu continuidade aos conflitos intraeuropeus no cenário intraindígena, desarmando a possibilidade de uma resistência. O povo brasileiro segundo Darcy Ribeiro: as matrizes § A miscigenação: § “Os brasilíndios foram chamados de mamelucos pelos jesuítas (...) Nenhuma designação podia ser mais apropriada. O termo originalmente se referia a uma casta de escravos que os árabes tomavam de seus pais, para criar e adestrar em suas casas-criatórios, onde desenvolviam o talento que acaso tivessem” (RIBEIRO, 1995, p. 107). § A miscigenação é o processo constante de unificação do país, pois dela advém uma unidade nacional biológica. O povo brasileiro segundo Darcy Ribeiro: as matrizes § Darcy Ribeiro (1995) indica que a construção do brasileiro vem de um espaço ambíguo, uma não identidade, deixada em aberto pela incapacidade das etnias irredutíveis em se misturar, justamente pelos papeis sociais a serem desempenhados por cada uma. § Marginalizados pelas etnias, formaram uma nova por exclusão. § O abandono dos brasilíndios, ou mamelucos, que rejeitavam a origem indígena ou negra e eram desprezados pelos pais europeus, restou um não ser, que constituía a “ninguendade” desse povo em formação. O povo brasileiro segundo Darcy Ribeiro: as matrizes § O brasileiro começa a perceber a origem de uma identidade própria, não pelo autorreconhecimento, mas pelo estranhamento do português, que o via como algo diverso. § A identidade do povo brasileiro, enquanto algo original e inexistente até então, é construída pela não identificação, uma união pela rejeição. § O processo de construção dos novos povos da América Latina é um processo de desconstrução dos velhos; o índio se desindianiza, o negro se desafricaniza e o europeu se deseuropeiza. O povo brasileiro segundo Darcy Ribeiro: as matrizes § “O processo de formação do povo brasileiro, que se fez pelo entrechoque de seus contingentes índios, negros e brancos, foi, por conseguinte, altamente conflitivo. Pode-se afirmar, mesmo, que vivemos praticamente em estado de guerra latente, que, por vezes, e com frequência, se torna cruento, sangrento” (RIBEIRO, 1995, p. 168). § O choque de culturas não foi apaziguado com a formação do Estado brasileiro. § Esse Estado foi consolidado pela cultura europeia branca, que buscava utilizá-lo como centro de opressão e manutenção de poder. Com o viés classista não foi apenas o Estado que funcionou em favor das elites locais; o próprio projeto de país como um mecanismo de manutenção das distâncias sociais impactou o funcionamento da economia interna, moldando o que o autor chama de “Empresa Brasil” (RIBEIRO, 1995). No âmbito produtivo, em quatro ordens diferentes: § A primeira foi o Brasil escravista, com mão de obra africana, suprindo a monocultura latifundiária, depois o ouro e o café. § A segunda foi a jesuíta, com os índios. § A terceira, as atividades de subsistência. § A quarta predominava sobre todas: banqueiros portuários. Darcy Ribeiro: a Empresa Brasil § Importância dos centros urbanos crescerem e os campos foram explorados e esvaziados durante todos os séculos. § Urbanização na década de 1960: § Industrialização, que teve início nas zonas urbanas e foi ampliada por Getúlio Vargas, que a consolidou com seu projeto de estatais. § Empresas; capitalismo de Estado; nacional-desenvolvimentista, outros privatistas, mas seguindo a lógica do uso da máquina pública para sustentar o acúmulo de riqueza privada. Darcy Ribeiro: a Empresa Brasil § O Brasil continuou a trabalhar alienado de sua produção, mas agora numa paisagem urbana, com uma crise de desemprego e violência. § Ribeiro (1995) elaborou dois conceitos perversos que travestiram esse processo de industrialização, uma vez que desenvolveram o país para outros do chamado Primeiro Mundo. § A modernização reflexa e a atualização histórica opuseram-se à aceleração evolutiva, impedindo a real industrialização e garantindo nossa condição subalterna na economia mundial. § Os escravos deram lugar aos homens livres, marginalizados, negros e presos às suas carências. Darcy Ribeiro: a Empresa Brasil § A interação entre as três camadas sociais exerceu uma dominação completa do homem branco sobre o negro, mas de modo algum existiu uma sincronia ou coordenação (RIBEIRO, 1995). § Na prática, o sistema autoritário e opressivo da população beneficiava toda a camada alta da sociedade, independente de sua função. § O sistema articulava-se como um todo para gerar uma unidade e um controle classista, levando em conta os movimentos políticos contrários que habitavam dentro dele. A sociedade foi, portanto, o resultado da força, e não de uma grande articulação das elites. Darcy Ribeiro: a Empresa Brasil § As classes dominantes do país não eram constituídas por um único grupo, mas por muitos grupos que aspiravam ao poder sempre autoritário. § Os movimentos que contrastam com o progresso representado pelo projeto oficial, que Darcy Ribeiro (1995) chama de anarquia, resultam em ilhas arcaicas e regiões modernizadas. As primeiras se formam pelo isolamento e pelas condições sociais, diferentemente da aparênciaconservadora que exprimem, e isso pode ser evidenciado quando o isolamento é rompido e o arcaico encontra o moderno – que somente é moderno porque sempre há quem defenda o atraso. § A modernização é também aparente porque está ligada exclusivamente à economia, não afetando os valores sociais do tradicionalismo (RIBEIRO, 1995). Darcy Ribeiro: a Empresa Brasil § O resultado pós-colonial direto é a nacionalização da classe dominante, que se transforma sem resistência, instaurando a mesma lógica colonizadora que continuaria a garantir o lucro. § A independência é concedida pela Inglaterra e imposta pelo monarca. Na prática, o sistema permaneceu o mesmo, pois o povo ainda não trabalhava para si. § O Estado brasileiro, portanto, apresentou uma continuidade, e não uma ruptura, incumbindo-se da missão de sustentar seu aparelho repressivo para manter o regime antigo sob as formas do novo. Darcy Ribeiro: a Empresa Brasil § Para Ribeiro (1995), os Brasis são quadros regionais que buscam decompor os distintos e apressados processos de formação étnica que povoaram as diferentes regiões, de diferentes maneiras. § Diferentes cenários brasileiros, ao invés da tradicional historiografia una do país. § Ritmos diferentes e influenciando a indianidade circundante espalharam-se pelo território, como ilhas civilizatórias, para então estabelecer uma comunicação entre si. Três dimensões permeavam similarmente essas comunidades: § A identidade protobrasileira, a estrutura socioeconômica colonial e sua economia mercantil (RIBEIRO, 1995). Darcy Ribeiro: os Brasis § Processos separatistas no Brasil Colônia, que buscavam novas ordenações econômicas e uma fuga da tirania central e monopolizante, que era o Estado brasileiro, foram reprimidos. § Todas as revoltas separatistas foram reprimidas militarmente, e a estabilidade política ao longo da história mitigou os movimentos separatistas; mas, o ponto que atravessa todos eles é a falta de um discurso identitário, pois não há o entendimento de que um povo diferente vive dentro do território brasileiro (RIBEIRO, 1995). OS BRASIS § Crioulo § Caboclo § Sertanejo § Caipira § Gaúcho § Quadros regionais que buscam decompor os distintos e apressados processos de formação étnica que povoaram as diferentes regiões, de diferentes maneiras. Darcy Ribeiro: os Brasis § O Brasil crioulo: § O engenho foi a primeira agroindústria portuguesa. § A questão da mão de obra foi o grande impedimento de uma expansão mais acelerada dos engenhos e os senhores só perdem força com a Revolução Industrial. § “A senhorialidade do patronato açucareiro lembra, em muitos aspectos, a da aristocracia feudal, pelos poderes equivalentes que alcança sobre a população que vivia em seus domínios, pelo exercício da judicatura e pela centralização pessoal do mando” (RIBEIRO, 1995, p. 287). Darcy Ribeiro: os Brasis § O Brasil caboclo: § Observação das populações a partir da Amazônia: § Origens e mudança de territórios. § Integração forçada e violência. § Ao longo do tempo, a mudança foi drástica. § “Em nenhuma outra região brasileira a população enfrenta tão duras condições de miserabilidade quanto os núcleos caboclos dispersos pela floresta, devotados ao extrativismo vegetal e, agora, também ao extrativismo mineral do ouro § A história da Amazônia revela três classes sociais: § A primeira consistia nos índios, que, isolados, defendiam-se de todas as tentativas de serem escravizados ou de atentados contra as mulheres e as crianças das tribos. § A segunda era a população urbanizada e diversa, que tinha como língua principal o português e sustentava a colônia. § A terceira classe social era composta de índios oriundos das missões jesuítas, considerados por Ribeiro (1995) como um povo novo e original. Darcy Ribeiro: os Brasis § O Brasil sertanejo se espalha entre a caatinga e o cerrado, que apresentam uma vegetação pobre e um clima hostil. § A economia das fazendas de gado desenvolveu-se associada ao ciclo do açúcar, mas não gerou riqueza capaz de tirar a região da pobreza. § A dependência do mercado interno nunca gerou grande acumulação. Segundo Ribeiro: § “O contraste dessa condição com a vida dos engenhos açucareiros devia fazer a criação de gado mais atrativa para os brancos pobres e para os mestiços dos núcleos litorâneos” (RIBEIRO, 1995, p. 342). Darcy Ribeiro: os Brasis § O resultado dessa mistura entre pobreza e abundância populacional foi uma relação de grande deferência com o patrão, regida pela lealdade pessoal e política. § A disputa por manter boa reputação junto ao patrão criou o comportamento dos sertanejos e de suas famílias, já que viviam ilhados nas fazendas do patronato. Entendiam que sem a proteção de um patrão, seriam jogados ao arbítrio do Estado. Darcy Ribeiro: os Brasis § O Brasil caipira: § Sul do Brasil, seguindo a costa nas regiões abaixo de São Vicente, a população estava abandonada por Portugal. § Sem conexão marítima ou uma economia importante, essa população vivia em sítios e arraiais de casebres pobres. § A miséria da população da região e sua proximidade com os índios misturavam hábitos tribais com europeus, por exemplo, usar roupa, chinelas e uma culinária mais refinada. § Falavam a língua geral, a variação do tupi escrita pelos jesuítas. § Miséria do paulista tornava-o um aventureiro em potencial. Ele também sofreu um processo deculturativo, pois perdeu a vida comunitária e a disciplina patriarcal. Darcy Ribeiro: os Brasis § Ouro: § A riqueza e a urbanidade constituíram também uma certa “classe média”, composta por mulatos, negros e brancos. § Apesar da segregação racial, a música e a culinária se desenvolveram como cultura da região. § Com o esgotamento do ouro, também a região entrou em decadência. § Os empobrecidos buscaram satisfazer suas necessidades da maneira que podiam. A sedentarização finalmente diminuiu o fluxo das pessoas, prendendo-as à terra e criando hábitos. Nascia o Brasil caipira e sua cultura. Darcy Ribeiro: os Brasis § O Brasil gaúcho: § O Sul foi muito afetado pelo povoamento do Sudeste paulista, que engoliu o território que antes era espanhol e o incorporou ao Brasil. § A cultura espanhola não deixou de influenciar a região, e sua composição étnica e econômica não permite simplificá-la etnograficamente. § Naquela região viviam lavradores de origem açoriana, os chamados gaúchos, e os gringos brasileiros, descendentes de imigrantes europeus. Darcy Ribeiro: os Brasis § Ribeiro explica o resultado dessa pluralidade: § “A coexistência e a interação desses três complexos opera ativamente no sentido de homogeneizá-los, difundindo traços e costumes de um ao outro. A distância que medeia entre os respectivos patrimônios culturais e, sobretudo, entre seus sistemas de produção agrícola - a lavoura de modelo arcaico dos matutos, o pastoreio gaúcho e a pequena propriedade explorada intensivamente dos colonos gringos - funciona, porém, como fixadora de suas diferenças” (RIBEIRO, 1995, p. 408). § Outro motivo apontado por Ribeiro para explicar o abrasileiramento dessa região é a imigração europeia. Darcy Ribeiro: os Brasis Nas palavras do autor: § “Somam-se, assim, três fatores na formação da matriz gaúcha. Primeiro, a existência do rebanho de ninguém sobre terra de ninguém; segundo, a especialização mercantil na sua exploração; terceiro, o grau de europeização de uma parcela mestiça desse contingente que a fazia carente de artigos de importação e capaz de estabelecer um sistema de intercâmbio para trocar couros por manufaturas” (RIBEIRO, 1995, p. 414). § O gado foi a principal atividade econômica. § Os conflitos fronteiriços eram intensos. § O Sul se urbanizou com um processo semelhante ao nordestino. As propriedades rurais ofereciam condições de vida miseráveis, mas tornaram-se extremamente populosas, uma vez que eram a única alternativa de subsistência da maioria do povo. As gerações mais novas não se contentavam com isso e partiampara as cidades em busca de oportunidades. As aglomerações urbanas se multiplicaram, e a região se urbanizou em decorrência de sua miséria e desigualdade. (RIBEIRO, 1995). § A rica obra de Darcy Ribeiro deve servir de base para problematizações e não ser lida como a comprovação de determinismos ou simples mecanicismos. § Seu percurso intelectual amplo buscava questionar as visões que deixavam de ver as especificidades e influências mais complexas na sociedade. § Darcy Ribeiro tem, em seus estudos, também um projeto político de um Brasil diferente das visões simplistas ou mesmo que nos pensavam como uma grande democracia racial. § Foi o Relator da LDB de 1996. § Recomendações finais – Darcy Ribeiro no Programa Roda Viva – 1995.
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