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* Desenvolvimento humano e educação: dois temas, um desafio sob o olhar de Piaget. Luciene Regina Paulino Tognetta * A história de um gênio... Em 1907 – aos onze anos: publicação do primeiro artigo. 1919 – Trabalhando com Binet: se interessa pelas respostas erradas: o que levaria essas crianças ao erro? * Interessa-se por estudar psicologia para elaborar uma “epistemologia biológica” * Por que tantos títulos honoris causa ? * A busca pelas explicações... Piaget distancia-se da filosofia buscando as explicações para o fenômeno do conhecimento por meio do que chamou de “base experimental e empírica (comprovada): ele queria comprovar com dados de pesquisa suas hipóteses. * O primeiro tema: O desenvolvimento humano * O desenvolvimento Consiste em um processo espontâneo e que pode ser entendido como o próprio processo de formação dos conhecimentos, durante o qual o “sujeito se torna progressivamente capaz de conhecer os objetos adequadamente, isto é, como ele se torna capaz de alcançar o conhecimento objetivo”. (Piaget, 1977) * E ainda... O desenvolvimento: “provém de processos que podem ser utilizados e acelerados pela educação familiar ou escolar, mas que não derivam delas, constituindo, pelo contrário, a condição prévia e necessária da eficiência de todo ensino” (Piaget, 1977) * ELE ESTUDA O DESENVOLVIMENTO DA INTELIGÊNCIA... MAS O QUE É INTELIGÊNCIA??? * O que é: Inteligência ? Quais as funções cognitivas para aprender? É diferente do que é percepção? O que Gabriela sabe sobre “artigos” (está no artigo do jornal). Por que Bruno acha que bife e minhoca são de origem mineral? * As novidades ouvidas e repetidas por Bruno se inserem na sua organização cognitiva? Ver o exemplo de Seber – Bruno realmente “aprendeu” sobre o descobrimento do Brasil? Por quê? * Então, inteligência... É a capacidade de adaptação do Homem. (ao cessar a adaptação, não temos mais o homem). Nem teses empiristas, nem teses inatistas/aprioristas: S M “A inteligência é essencialmente descoberta, invenção e não simples reprodução de informações transmitidas por outrem” Seber, 1997, p. 43. * Como o sujeito conhece: Os mecanismos da adaptação: Assimilação Acomodação Que geram uma organização do sistema e um novo equilíbrio. * Assim...Assimilação A cenoura se transforma em coelho ... Mas ele tem outros alimentos dentro dele... * Acomodação Incorporar um piano de caudas na sua sala de estar gera uma modificação e novo conhecimento. ACOMODAÇÃO * Então, por que olhar para o desenvolvimento? Um novo conhecimento depende de estruturas anteriores: a carga genética e as oportunidades do meio (interação S e M): Por que são construções cognitivas? São progressivas? Dependem dos intercâmbios cognitivos? * Para Piaget, a tomada de consciência, começa pela ação A lógica procede das coordenações gerais das ações e é anterior à aquisição da linguagem. Se a lógica procede das ações é preciso que a ação seja do próprio sujeito que a constrói: ação física ou mental. * Mas, como tudo começa? Por que a explicação biológica do conhecimento? De onde vem a inteligência dos bebês? Onde começa? Se o conhecimento se dá na interação e é progressiva, tem estágios integradores. * Como explicar a gênese? A inteligência do bebê Os reflexos – como o reconhecimento e as generalizações são elementares- quem ensinou o bebê a mamar? Como se transformam em esquemas de ação? A coordenação de reflexos. As regularidades de sequencias cíclicas do começo da inteligência Ex. passar de uma mão para outra. e os processos cinéticos. * Os esquemas de ação se transformam em estruturas que classificam, ordenam, quantificam. Móbiles no berço do bebê – classificar o que é possível pegar e o que não é. Puxa a toalha para ter o objeto – ordem – coordena meios e fins. Imitar os gestos – correspondência. Depois: distribuir bolachas para todos . * A inteligência ou as formas de conhecer e se adaptar ao mundo... Centração em si do ponto de vista cognitivo Inteligência Sensório Motora Pensamento 0 a 3 anos 3 a ... Pré-operatório Operatório concreto Operatório formal Por que uma explicação biológica? * O segundo tema A educação * O que tem sido prioridade na escola: educar a partir do desenvolvimento ou da aprendizagem? A escola tem dado muito mais ênfase à aprendizagem (no sentido scricto senso) do que ao desenvolvimento: experiência perceptiva. * Do ponto de vista cognitivo... * Trabalha-se a construção da inteligência? Alguns dados do Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional (Inaf), do Instituto Paulo Montenegro: Apenas 26% da população brasileira de 15 a 64 anos é plenamente alfabetizada (conseguem ler e entender algo maior do que uma notinha ou texto curto e simples). 74% da nossa população não seriam capazes de ler e compreender um texto ou artigo de revista - funcionalmente analfabeta Na matemática só 23% conseguem resolver um problema matemático que envolva mais de uma operação e apenas esse mesmo grupo tem capacidade para entender gráficos e tabelas * Diferentes pesquisas* em Psicologia atestam que as estruturas lógicas do pensamento não são aprendidas. Mantovani de Assis relata as angústias de professores por ensinar num ano uma “operação de adição” e no outro ter que repetir. Há um processo de esquecimento por parte do aluno. Inhelder, Bovet e Sinclair (1977), Macedo (1973), Mantovani de Assis (1976/2002) E ainda... * Por quê? Se não levamos em conta o desenvolvimento e ensinamos, “por conseqüência, coisas aprendidas podem ser esquecidas ou substituídas por outras”. (Macedo, 1994) Ex. prova de diagnóstico do comportamento operatório: noção de conservação de quantidades – (coca-cola). * Teimamos em alfabetizar uma criança a partir do que seria o fim e não o começo: Ensinamos a convenção C + A = CA V+ A = VA L + O = LO CA+ VA+ LO CAVALO – um conjunto de signos indistintos para o sujeito (qualquer idade) no início de seu processo de alfabetização. (ex. SOM do cavalo) * O processo de construção de um signo (letra) é decorrente da capacidade de representação: há uma hipótese pelo sujeito que se alfabetiza de que as palavras correspondem aos objetos ou guardam deles alguma característica (pensamento pré-lógico preso aos observáveis do objeto). Como a criança começa a entender a escrita? A partir de seu significado. (ex.de Verônica 10 anos) – artigo e substantivo – Artigo é palavra? Ex. de Felipe (6 anos) PORTA E PORTINHA: algum pedaço parecido? * O Exemplo de Bruno (11 anos): Não há inclusão de classes. * O exemplo das frações : Uma criança na sexta série, questionada: quem tem mais - eu, que tenho uma pizza inteira ou você que tem 2/3 dela? A resposta: EU TENHO MAIS, TENHO 2 PEDAÇOS. Um número fracionado é parte de um todo – exige um pensamento operatório reversível em que as partes de conservem mesmo modificando-se a disposição. * Algumas considerações: * Perigos em entender a teoria piagetiana como: Um risco de “psicologização”*: os professores se utilizam de meias-verdades, de explicações do senso comum e atribuem tais crenças ao pensamento científico . Parecem preocupados em encontrar na Psicologia explicações que justifiquem suas próprias crenças. Procuram no pensamento científico, por exemplo, justificativas para a periodicização que estabelecem na escola. *Rego, 1996; Rose, 2003; Rebello de Souza, 2007, Oliveira, 2002 * Para Piaget: “A preparação dos professores constitui a questão primordial de todas as reformas pedagógicas, pois, enquanto não for a mesma resolvida de forma satisfatória, será totalmente inútil organizar belos programas ou construir belas teorias a respeito do que deveria ser realizado (...) A única solução racional: uma formação universitária completa para os mestres de todos os níveis (pois, quanto mais jovens são os alunos, maiores dificuldades assume o ensino, se levado a sério) a semelhança da formação dos médicos” (Piaget, 1980) * Referências bibliográficas consultadas: AQUINO, J.; SAYÃO, R. Família: modos de usar. Campinas: Papirus, 2007. ARAUJO, U.. O ambiente escolar e o desenvolvimento do juízo moral infantil. In Lino de Macedo (org.). Cinco estudos de educação moral. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1996. ELKIND, D. Alguns equívocos sobre o modo como as crianças aprendem. In D. Elkind, Crianças e adolescentes. Ensaios interpretativos sobre Jean Piaget, Rio de Janeiro: Zahar, 1975. INHELDER, B. et all. Aprendizagem e estruturas do conhecimento. São Paulo: Saraiva, 1977. LA TAILLE, Y. Limites: três dimensões educacionais. São Paulo: Ática, 1998. LA TAILLE, Y. Moral e ética: dimensões intelectuais e afetivas. Porto Alegre: Artmed, 2006. MACEDO, L. Procedimentos de treino da noção de conservação. Psicologia, São Paulo, v.1, no. 27, 1975. MACEDO, L. Ensaios construtivistas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1994. MANTOVANI DE ASSIS, O . Z. Direito a educação e prática pedagógica. In: PROEPRE – Fundamentos teóricos para a Educação Infantil. LPG/Unicamp, 2002. MENIN, M. S. S. “Desenvolvimento Moral: Refletindo com pais e professores”. In Lino de Macedo (org.). Cinco estudos de educação moral. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1996. OLIVEIRA, M. K. de. A questão da periodização do desenvolvimento psicológico. IN: Psicologia, Educação e as temáticas da vida contemporânea. São Paulo: Moderna, 2002. * PIAGET, J & GRÉCO, Pierre. Aprendizagem e conhecimento. São Paulo, Freitas Bastos, 1974. PIAGET, J. A teoria de Jean Piaget. In: CARMICHAEL. Manual de Psicologia da criança. São Paulo: EPU, Editora da USP, 1977, vol. IV. PIAGET, J. O julgamento moral na criança. São Paulo: Moderna, 1932 PIAGET, J. Para onde vai a educação? Rio de Janeiro: José Olympio, 1980. PIAGET, J. Problemas de psicologia genética. Rio de Janeiro, Forense, 1973. REBELLO DE SOUZA, M. P. A Psicologia no imaginário da escola. Série Idéias n. 23. São Paulo: FDE, 1994, Páginas: 35-39. REGO, T.C. A indisciplina e o processo educativo: uma análise na perspectiva vygotskiana. In; AQUINO, J. Indisciplina na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus editorial, 1996. ROSE, N. “Pensar a escola como uma instituição que pelo menos garanta a manutenção das conquistas fundamentais da modernidade”. IN: COSTA, M.V. (org.) A escola tem futuro? Rio de Janeiro: DP&A, 2003, p.103-126. TOGNETTA, L.;VINHA, T. Considerações sobre as regras existentes nas classes democráticas e autocráticas. Revista Educação Unisinos. São Leopoldo: Universidade do Vale do Rio dos Sinos, volume 10, número 1, pp. 45 a 56, Janeiro/abril/2006 TOGNETTA, L.R.P. A construção da solidariedade e a educação do sentimento na escola. Campinas: Editora Mercado de Letras, 2003. TOGNETTA, L.R.P. A formação da personalidade ética: estratégias de trabalho com a afetividade na escola. Campinas: Editora Mercado de Letras, 2008 (no prelo) VINHA, T.P.. Os Conflitos Interpessoais na Relação Educativa. Tese de Doutorado, Faculdade de Educação, Unicamp. Campinas, SP, 2003. * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *
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