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Relatorio_Professor_Romao_1854

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Relatório do Professor publico de 1as letras, José Romão Leite Prestes, 
apresentado ao Inspetor Geral da Instrucção Pública, Diogo de Mendonça Pinto em 
novembro de 1854. Arquivo do Estado de São Paulo, códice: CO4925 
 
 
 
Em observância ao 
determinado por V. Sa. 
Circular n° 119 de 5 de 
setembro do corrente anno, 
passo a responder d’ella seus 
diversos tópicos. 
Estado da Eschola 
durante o corrente anno. 
Cumprindo-me informar 
sobre o estado da Eschola, 
direi que ella não tem 
attingido o gráo de 
prosperidade desejável, com 
quanto, para isso, tenha eu 
applicado os meios a minha 
disposição. Devo atribuir isto, 
entre outros muitos motivos, a 
não poder-se adoptar um 
systema regular, escolher um 
methodo de ensino e segui-lo 
constantemente. 
 Os dias, em que na 
Eschola se apresentão 
alumnos adiantados pretendo, 
que ensino, pelo methodo 
simultâneo, confiando a cada um d’elles uma decúria; outros finalmente em que há grande encente 
na Eschola colloco um que sabe menos junto a outro, que sabe mais para o ensinar. Este ultimo 
systema, não sei bem qualificar. (...) É contudo, necessário lembrar, que este ramo d’ensino publico 
é daqueles que mais trabalho dá pela variedade de maerias que o Professor é obrigado a ensinar 
em uma mesma occasião aos seus discípulos: por exemplo; - quando um escreve, outro faz conta; 
ao passo que este pede uma explicação nesta ou naquela matéria, aquele pergunta em leitura como 
há de dizer uma palavra que encontrou, cuja pronunciação lhe é diffícil; - escrever lições – ensina-
las; - passar contas e explica-las; - advertir este ou aquelle de suas distracções; -ver como um pega 
na penna, outro traça uma letra; e, obrigado a attender a todos e a tudo ao mesmo tempo, não pode 
o Professor por mais que envide suas forças, ensinar com perfeição os seus alumnos, quando o 
numero delles é extraordinário. (...) 
A desobediência e insubordinação em alguns alumnos tem subido de pronto; chegão mesmo a 
fazer garbo da correção que soffrem e se lhes emprega, e, esgotada a acção do Professor, tomão se 
lhes mais espaços! (...) 
 
Numero de alumnos matriculados. No corrente anno, desde 7 de Janeiro até a presente data, 
matricularão-se 126 alumnos: d’estes sahirão, no correr do anno – 21; e frequenta a Eschola o 
numero de 105. Attendendo as faltas que uns e outros dão, frequenta diariamente de 75 a 90. 
 
Se houve exame no anno anterior. Já pelo excessivo numero d’alumnos que tenho a meu cargo, 
conhecerá V. Sa ser difícil senão impossível, instrui-los com grande aproveitamento pelo methodo 
individual, que os mais das vezes é necessário seguir pelas continuas faltas que dão, os Decuriões e 
mesmo porque nem sempre tenho na Eschola discípulos adiantados em circunstancias de os poder 
substituir. 
A mobia d’ella consta apenas de oito pequenos bancos que não excedem a 10 
palmos cada um, e uma mêza de 12 de comprimento e 4 de largura. É com esta escassa e 
miserável mobília que me tenho servido até hoje!..” 
Augmento de ordenado. A indeclinável necessidade de aumentar-se os ordenados 
dos Professôres públicos está acima de toda e qualquer questão que a este respecto se 
possa suspeitar, porquanto, está reconhecido por todos. Está tão comprovada esta 
necessidade, que não há empregado publico de Repartição alguma que não tenha tido 
acréscimo em seu ordenado. E como não deverão ter os Professôres quando ninguém 
ignora a exiguidade dos vencimentos que percebem e que esses vencimentos estão muito 
aquém de poder satisfazer as suas vitaes necessidades?! Não vêmos ahi mesmo na Capital, 
na Corte e em outros logares as Assembleas respectivas augmentando os ordenados dos 
empregados públicos? E porque! É por estarem convencidos de que com o ordenado com 
que podiao passar há dous annos, lhes é impossível passar hoje. E porventura seão só os 
Professores isentos dessas necessidades e porisso não merecedores que se lhes aumente o 
ordenado?! Não é possível. Exigir-se que o Professor ande decente – que ostente a posição, 
caracter e prestigio inherentes ao seu emprego, prohibir-se lhe que se applique a outra 
qualquer profissão, extranha ao ensino, poes que se elle issovera mesmo para aceder suas 
necessidades; porque se o não as tivesse preferiria gastar o tempo em distracções 
recreativas, digo, exigir-se tanto, e não se lhe devem os moços com que possa satisfaze-los, 
é o mesmo que... Abstenho-me de comparações...” (p. 23) 
 
Constituição, 6 de Novembro de 1854. 
 
José Romão Leite Prestes 
Professor publico de 1as Letras

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