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Paolla Barboza Ortodontia Aula 2 - Bloco 2 (2019.1) Análise da dentição mista Para entender essa aula, é importante que os conceitos de evolução da oclusão normal na dentição mista estejam bem consolidados. Relembrando rapidamente: o espaço para a irrupção dos incisivos está ligado à presença de espaços primatas e aos espaços fisiológicos (diastemas interincisais), à inclinação axial e ao crescimento transversal (crescimento ósseo na sutura palatina mediana – para o desenvolvimento por volta dos 11, 12 anos). O ajuste da chave de oclusão (transição da oclusão de topo para chave de oclusão é dado pelo Leeway Space (maior migração dos molares inferiores em comparação aos superiores, por conta da discrepância de tamanho do espaço) e pelo crescimento mandibular (maior que o maxilar). O objetivo da análise da dentição mista é avaliar o espaço disponível no arco para os dentes permanentes sucessores e para os necessários ajustes oclusais. Essa análise é essencial para o correto diagnóstico ortodôntico. Conhecimentos necessários para o correto diagnóstico: • Evolução da oclusão dentária normal • Elementos diagnósticos: o Modelos de gesso (de boa qualidade, bem copiados, vazados e recortados) o Radiografias periapicais (com a menor distorção possível; avaliar a distorção e fazer regra de 3 se necessário) o Radiografia cefalométrica em 45º (tirada paralelamente à mandíbula, o raio é perpendicular ao objeto, a distorção é mínima); conseguimos medir a soma dos diâmetros mesio-distais dos caninos e pré-molares o Tabela de previsão de tamanho dentário Histórico 1947: Nance conceituou Leeway Space utilizando a tabela de Black (1902; C e 1ºPM = 6,9 / 2ºPM = 7,1) para determinar as dimensões dos pré-molares superiores e caninos superiores permanentes não erupcionados (na época não havia radiografia); chegou à conclusão de que teria uma discrepência (entre decíduos e seus sucessores) de 1,7mm na hemiarcada inferior e 0,9mm na hemiarcada superior. 1964: Huckaba apenas modificou o método de Nance usando radiografias; avaliou os diâmetros mésio-distais (MD) de canino e pré-molares superiores e a distorção era compensada por regra de 3. 1974: Tanaka e Johnston fizeram predição do tamanho de caninos e pré-molares superiores a partir da soma dos diâmetros MD dos incisivos inferiores. 1979: Moyers fez a predição do tamanho MD de caninos e pré-molares superiores através de tabelas que utilizam a correlação de dimensões entre incisivos inferiores, pré-molares e caninos. A partir disso, estudaremos 3 métodos de análise da dentição mista: • Análise de Nance É a análise da discrepância de espaço no arco inferior – este arco serve de base para o planejamento do tratamento. Paolla Barboza Ortodontia Aula 2 - Bloco 2 (2019.1) Nance considerava que é no arco inferior que se tem os maiores problemas de espaço em ortodontia e é mais difícil de se recuperar espaço (diferente da maxila, que tem crescimento na sutura até 11 anos, a sutura da mandíbula se consolida no 1º ano após o nascimento). Se você tem espaço no arco inferior, você tem mais chances de ter espaço no arco superior (porque ele “abraça” o arco inferior). Além da questão da sutura palatina que proporciona mais espaço. o Espaço Avaliado (EA) ou Espaço Presente Base óssea disponível para o alinhamento dos dentes (não mede dente, mede o perímetro do arco). A medição é realizada entre as faces mesiais dos primeiros molares permanentes inferiores sobre a base óssea. Medição por fio de latão: Contorna-se um fio de latão passando sobre os pontos de contato na superfície oclusal e incisal dos dentes. Retifico o fio e meço com a régua milimetrada para registrar o espaço avaliado. Medição por compasso de pontas secas: Medição é realizada em 6 seções: - de mesial de primeiro molar permanente até mesial de primeiro pré-molar ou primeiro molar decíduo; - do ponto onde parou até mesial de canino; - do ponto onde parou até a linha média; Somamos as 6 distâncias e temos o Espaço Avaliado. o Espaço Requerido (ER) ou Espaço Necessário Espaço necessário para o alinhamento correto de todos os dentes (aqui não medimos mais osso, medimos dentes). Medimos o somatório do diâmetro MD de todos os dentes permanentes situados mesialmente aos primeiros molares permanentes inferiores: Incisivos inferiores; caninos intraósseos; pré-molares intraósseos (isso no geral, algum canino ou pré-molar pode ter se adiantado e já estar erupcionado, assim iremos medir diretamente no modelo, sem precisar da radiografia pra avaliar esse dente). Podemos utilizar compasso ou paquímetro para a medição dos dentes extraósseos (no modelo). Já os dentes extraósseos, medimos na radiografia cefalométrica de 45º, verificando se não estão girovertidos (o que mudaria o Essas 3 distâncias são medidas nas duas hemiarcadas. Paolla Barboza Ortodontia Aula 2 - Bloco 2 (2019.1) diâmetro, fazendo parecer maior do que realmente é). Quando isso acontece, analisamos o tamanho do contralateral e usamos essa medida. Podemos usar radiografias periapicais também, sempre lembrando de fazer a regra de 3 pra chegar ao tamanho real, compensando as distorções. Após isso, anotamos na ficha a medida de cada um dos 10 dentes. o Discrepância de Arco (DA) É a diferença entre o Espaço Avaliado e o Espaço Requerido. Com essa diferença conseguimos avaliar se há espaço sobrando, faltando ou se tem exatamente o mesmo espaço para acomodar os dentes permanentes no arco. VANTAGENS DO MÉTODO: Individualização Visualização do dente permanente Leva em consideração anomalias de tamanho e forma DESVANTAGENS DO MÉTODO: Necessidade de radiografias Distorção e magnificação da imagem radiográfica Presença de giroversões • Análise de Moyers Essa análise se baseia no somatório dos diâmetros MD dos incisivos inferiores e na aplicação de uma tabela de propabilidades para a expectativa de tamanho de pré- molares e caninos não erupcionados (tanto inferiores quanto superiores). Obs: Essa análise se contrapões à de Nance em tudo. Nance só trata o arco inferior, Moyers trata tanto do inferior quanto do superior. Nance usa radiografias, Moyers não usa radiografias. A ideia dessa análise é baseada na correlação estatística. Se tenho incisivos grandes no sentido MD, é provável que tenha pré-molares e caninos também grandes. Então, para fazer essa análise, só precisamos dos incisivos inferiores erupcionados (que é a base da análise) e a tabela de propabilidades. A seguir, a tabela de predição que consta no livro de Moyers (não precisa decorar, é apenas para dar uma ideia das relações). Moyers considera mais seguro utilizar a linha de 75%, uma vez que menos que isso seria pouco confiável e, mais que isso, seria uma estimativa muito perfeccionista. Paolla Barboza Ortodontia Aula 2 - Bloco 2 (2019.1) Com esses dados, obtemos o Espaço Necessário para os dentes erupcionarem. Agora só precisamos obter o valor do espaço Presente e fazer a diferença para saber se temos falta de espaço, ausência de espaço ou exatamente o espaço necessário. VANTAGENS DO MÉTODO: Não exige muito tempo Não necessita equipamentos especiais ou radiografias DESVANTAGENS DO MÉTODO: Sem consideração da dinâmica biológica individual Grupo populacional estudado (estudo foi feito com brancos) Não leva em consideração anomalias de tamanho e forma Superestimação • Análise de Tanaka& Johnston Utiliza uma fórmula baseada na metade da largura MD dos quatro incisivos inferiores. Metade da largura mésio-distal dos quatro incisivos inferiores permanentes + 10,5mm = Largura estimada do canino e dos pré- molares inferiores em um quadrante + 11mm = Largura estimada do canino e dos pré- molares superiores em um quadrante Paolla Barboza Ortodontia Aula 2 - Bloco 2 (2019.1) Assim, como nas anteriores, comparamos o valor que estimamos dos dentes (Espaço Requerido) com o Espaço Avaliado e obtemos a Discrepância de Arco. A importância da análise está relacionada com os procedimentos que serão adotados. Importância clínica da análise: • Oportunidade de intervenção • Decisão sobre extrações de dentes decíduos ou permanentes • Facilitar migrações dentárias • Impedir migrações • Recuperar pequenos espaços Dependendo da situação, a Discrepância de Arco pode ser Nula, Positiva ou Negativa. Detalharemos um pouco mais cada uma das possibilidades a seguir: • Discrepância de Arco POSITIVA: Ocorre quando o Espaço Avaliado é maior que o Espaço Requerido Se EA > ER e DA = EA – ER, então DA > 0 Conclusão: os dentes tem espaço para um alinhamento espontâneo (sobra espaço). Conduta clínica: observar o desenvolvimento da oclusão, sem nenhuma intervenção. Na maioria dos casos, sobra espaço do Leeway Space e acontece o que vemos na figura abaixo. Esperamos, pois a tendência é que os dentes migrem na direção mesial, diminuindo o perímetro do arco, com a erupção dos segundos molares permanentes. Caso não migrem naturalmente, será necessária posterior correção, uma vez que a dentição permanente tem como característica os pontos de contato interproximais. Obs: Os pontos de contato são importantes pois a gengiva não foi feita para mastigar. Quando temos diastemas posteriores, a gengiva sofre impacção alimentar e, com o passar dos anos, surgem bolsas periodontais. • Discrepância de Arco NULA (ou ZERO): Ocorre quando o Espaço Avaliado é igual ao Espaço Requerido naquele momento. Se EA = ER e DA = EA – ER, então DA = 0 Conclusão: espaço para erupção é compatível pois o Espaço Requerido é igual ao Espaço Avaliado. Conduta clínica: manutenção de espaço. Apesar do espaço ser ideal naquele momento, quando os segundos molares decíduos esfoliarem, a tendência é de migração mesial dos primeiros molares permanentes, diminuindo o Espaço Avaliado e resultando em uma Discrepância de Arco negativa. Assim, é necessária interceptação para manter o espaço presente. Paolla Barboza Ortodontia Aula 2 - Bloco 2 (2019.1) Aproveitamento do Leeway Space para corrigir apinhamento anterior: IMPORTANTE! SÓ PODE SER FEITO EM CASO DE DISCREPÂNCIA ZERO Moyers chamou o procedimento de Supervisão de Espaço. Nele, são feitas extrações seriadas. Primeiramente, extraímos os caninos decíduos, primeiro molar decíduo e, finalmente, o segundo molar decíduo, com o objetivo de aproveitar o espaço que tem sobrando do Leeway Space. Com a extração dos caninos, os incisivos laterais de alinham praticamente espontaneamente por ação da língua. Agora, os caninos permanentes não têm espaço para erupcionar, então extraímos os primeiros molares decíduos. O canino consegue erupcionar, mas rouba o espaço para o primeiro pré-molar erupcionar. O que faremos agora é a retirada de uma fatia mesial do segundo molar decíduo. Esse slice que retiramos do segundo molar decíduo é o suficiente para acomodar o primeiro pré-molar, que é menor. Em um segundo momento, extraímos o segundo molar decíduo e colocamos um mantenedor de espaço até o segundo pré-molar erupcionar. Essa sequência é chamada de supervisão de espaço, onde guiamos a erupção em direção ao espaço que temos. Obs: Em alguns casos, a chave de oclusão pode ser comprometida, uma vez que o Leeway Space é uma grandeza responsável pela migração mesial de primeiros molares permanentes e estabelecimento da chave oclusão. Assim, podemos precisar mexer nos molares superiores, trazendo eles um pouco para distal (já que os molares permanentes inferiores não conseguem ir para frente, puxamos os superiores para trás). Paolla Barboza Ortodontia Aula 2 - Bloco 2 (2019.1) • Discrepância de Arco NEGATIVA: Ocorre quando o Espaço Avaliado é menor que o Espaço Requerido. Se EA < ER e DA = EA – ER, então DA < 0 Conclusão: espaço para erupção é insuficiente (falta espaço). Pode ser leve ou exagerada: o Discrepância leve (3 ou 4mm): Falta um pouco de espaço para a erupção adequada. Conduta clínica: recuperação de espaços, aumentando o espaço avaliado. Posterior manutenção de espaço. Ex: Foi feita a extração de um segundo molar decíduo sem manutenção de espaço, o primeiro molar permanente migrou mesialmente, tirando o espaço do segundo pré-molar. A tendência era ter espaço, mas a migração comprometeu o espaço avaliado. Recoloco o primeiro molar permanente no lugar que antes era dele, abrindo espaço para o segundo pré-molar erupcionar. o Discrepância exagerada (mais que 4mm): Falta muito espaço para a erupção adequada. Conduta clínica: necessidade de extrações de dentes permanentes e tratamento ortodôntico. Ex: extração de pré-molares para liberar espaço na arcada, desapinhar os dentes anteriores, e estabelecer uma chave de oclusão e chave de canino. Na maioria dos casos, quando extraímos na arcada inferior, extraímos na superior também pois elas estão relacionadas, temos que fazer uma correspondência de número de dentes na arcada superior e na inferior. Após as extrações, utilizamos o aparelho fixo para corrigir a oclusão. Curiosidade sobre o Invisalign: o aparelho corrige apenas leves apinhamentos, que não precisam de movimentação de molares.
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