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ECONOMIA BRASILEIRA Professora Me. Ariane Maria Machado de Oliveira Professor Me. Jair Júnior Sanches Sabes Professor Me. Silvio Silvestre Barczsz GRADUAÇÃO UNICESUMAR Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de EAD Willian Victor Kendrick de Matos Silva Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - Núcleo de Educação a Distância Direção Operacional de Ensino Kátia Coelho Direção de Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha Direção de Operações Chrystiano Mincoff Direção de Mercado Hilton Pereira Direção de Polos Próprios James Prestes Direção de Desenvolvimento Dayane Almeida Direção de Relacionamento Alessandra Baron Head de Produção de Conteúdos Rodolfo Encinas de Encarnação Pinelli Gerência de Produção de Conteúdos Gabriel Araújo Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo Supervisão de Projetos Especiais Daniel F. Hey Coordenador de Conteúdo Silvio Silvestre Barczsz Design Educacional Fernando Henrique Mendes Rossana Costa Giani Projeto Gráfico Jaime de Marchi Junior José Jhonny Coelho Editoração Daniel Fuverki Hey Revisão Textual Jaquelina Kutsunugi, Keren Pardini, Maria Fernanda Canova Vasconcelos, Nayara Valenciano, Rhaysa Ricci Correa e Susana Inácio Ilustração Humberto Garcia da Silva C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; OLIVEIRA, Ariane Maria Machado de; BARCZSZ, Silvio Silvestre; SABES, Jair Júnior Sanches. Economia brasileira. Ariane Maria Machado de Oliveira, Silvio Silvestre Barczsz, Jair Júnior Sanches Sabes. Reimpressão Maringá-Pr.: UniCesumar, 2018. 178 p. “Graduação - EaD”. 1. Agronegócio. 2. Economia brasileira. 3. EaD. I. Título. ISBN 978-85-8084-539-6 CDD - 22 ed. 338.1 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualidade, novas habilidades para liderança e so- lução de problemas com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no mundo do trabalho. Cada um de nós tem uma grande responsabilida- de: as escolhas que fizermos por nós e pelos nos- sos fará grande diferença no futuro. Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar – assume o compromisso de democratizar o conhe- cimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros. No cumprimento de sua missão – “promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária” –, o Centro Universi- tário Cesumar busca a integração do ensino-pes- quisa-extensão com as demandas institucionais e sociais; a realização de uma prática acadêmica que contribua para o desenvolvimento da consci- ência social e política e, por fim, a democratização do conhecimento acadêmico com a articulação e a integração com a sociedade. Diante disso, o Centro Universitário Cesumar al- meja ser reconhecida como uma instituição uni- versitária de referência regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisição de competências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; con- solidação da extensão universitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação da comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica e administrati- va; compromisso social de inclusão; processos de cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relaciona- mento permanente com os egressos, incentivan- do a educação continuada. Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quan- do investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequente- mente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capa- zes de alcançar um nível de desenvolvimento compa- tível com os desafios que surgem no mundo contem- porâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialó- gica e encontram-se integrados à proposta pedagó- gica, contribuindo no processo educacional, comple- mentando sua formação profissional, desenvolvendo competências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inse- ri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproxi- mação entre você e o conteúdo”, desta forma possi- bilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pes- soal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de cres- cimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos peda- gógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possi- bilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e en- quetes, assista às aulas ao vivo e participe das discus- sões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui- lidade e segurança sua trajetória acadêmica. Diretoria Operacional de Ensino Diretoria de Planejamento de Ensino Professora Me. Ariane Maria Machado de Oliveira Mestre em Teoria Econômica pela Universidade Estadual de Maringá - UEM, graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Londrina - UEL. Leciona nas áreas de Economia e Finanças. Professor Me. Silvio Silvestre Barczsz Mestre em Agronegócios pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS, pós-graduação Lato Sensu em Economia e Gestão do Agronegócio pela Universidade Estadual de Maringá - UEM e graduação em Ciências Econômicas com concentração em Economia do Agronegócio pela Universidade Estadual de Maringá - UEM. Coordenador do curso Superior de Tecnologia em Agronegócio e do curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental do Núcleo de Educação a Distância do Unicesumar. A U TO RE S Professor Me. Jair Júnior Sanches Sabes Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de São Carlos - UFSCar, pós-graduação (Especialista) em Economia e Gestão do Agronegócio pela Universidade Estadual de Maringá - UEM; graduação em Administração pela Universidade Estadual de Maringá - UEM. SEJA BEM-VINDO(A)! Distinto(a) acadêmico(a)! É com muito orgulho que apresento a você o livro que fará parte da disciplina de Eco- nomia Brasileira. Sou a Professora Me. Ariane Maria Machado de Oliveira e, juntamente com os Professores Me. Silvio Silvestre Barczsz e Me. Jair Júnior Sanches Sabes, elaborei com muito afeto e responsabilidade este material para que você, caro(a) aluno(a), co- nheça mais sobre a relação existente entre o Agronegócio e a Economia Brasileira. Para tal, devemos refletir sobre um debate antigo, mas de grande importância: quem gera o desenvolvimento do país? É o setor agrícola ou é o setor industrial? Estamos acostumados a ouvir alguns dizerem que o Brasil é um país eminentemente agrícola. Outros dizem que é exatamente devido aos atrasos de nossa agricultura que não somos um país desenvolvido. Alguns radicalizam ainda mais ao dizer que o retró- grado setor agrícola brasileiroteria sido o impedimento fundamental ao desenvolvi- mento do país. Quem está com a razão? Apesar de suas particularidades, a agricultura é dependente do que acontece na eco- nomia mundial como um todo. Para entender as mudanças pelas quais passa, deve-se considerar, além da ação do Estado e das políticas públicas, a forma como o desenvol- vimento tecnológico e o capital se recolocam em nível mundial. A própria análise do desenvolvimento da agricultura familiar deve ser entendida nesse contexto. Veremos, portanto, ao longo deste livro, caro(a) acadêmico(a), aspectos relacionados à evolução histórica da agricultura, passando pelos conceitos de agronegócio, cadeias e sistemas agroindustriais, especificidades do agronegócio no Brasil, a competitividade em sistemas agroindustriais, as transformações na economia brasileira e no meio rural brasileiro durante a segunda metade do século XX, para então abordarmos as megaten- dências mundiais e seus impactos no panorama global do setor agrícola. A dimensão que assumiu o agronegócio brasileiro, a sua importância estratégica para reprodução do capitalismo nacional e garantia da estabilidade social no campo e nos centros urbanos, e a percepção de suas particularidades intrínsecas, são aspectos que determinam um tratamento diferenciado para este setor, prática recorrente na maioria dos países. Portanto, caro(a) acadêmico (a), a Unidade I foi desenvolvida para que você, futuro ges- tor(a) do agronegócio, compreenda a evolução, as particularidades inerentes aos seus produtos, os agentes econômicos envolvidos e as formas de inter-relação entre tais agentes do agronegócio. Na agricultura prevalece o tipo de mercado concorrencial, em que há um número muito grande de produtores e a entrada ou saída de novos concorrentes não altera basica- mente a formação de preços. Por este motivo, os negócios agrícolas têm que perseguir indefinidamente melhores índices de produtividade e redução de custos, ou seja, maior competitividade. APRESENTAÇÃO ECONOMIA BRASILEIRA A Unidade II apresenta uma revisão de literatura sobre gestão e competitividade em nível de sistemas agroindustriais. Aspectos importantes sobre gerenciamento e vanta- gem competitiva são apresentados como ferramentas importantes para o êxito de um sistema de produção agroindustrial. Prezado(a) acadêmico(a), a Unidade II também lhe proporcionará conhecer as principais aplicações da noção de cadeia produtiva agroindustrial (CPA), apresentando, para tanto, como está constituída a cadeia produtiva agroindustrial do amendoim e seus derivados no Brasil. Para finalizar a Unidade, veremos as análises de competitividade conduzidas em nível de sistemas agroindustriais. As transformações ocorridas não apenas no setor agrícola, mas também na economia global devem ser levadas em conta para compreendermos o panorama atual do agro- negócio. A Unidade III vem então apresentar a você, prezado(a) acadêmico(a), uma re- flexão sobre a economia brasileira agroexportadora e as transformações no meio rural brasileiro ao longo do século XX. Algumas características da economia cafeeira serão apresentadas, visto que esta contri- buiu grandemente para o processo de evolução do agronegócio brasileiro. Entender as transformações ocorridas no cenário rural brasileiro, abordando os reflexos das trans- formações demográficas entre o campo e a cidade, nos auxiliará na compreensão do contexto atual do agronegócio. Prezado(a) aluno(a), veremos na Unidade IV como ocorre a ruptura do modelo econômi- co brasileiro e como esse passa a se desenvolver. O modelo agroexportador é paulatina- mente afastado e ocorre a industrialização a partir da crise dos anos 30. Explanaremos então como ocorreu a chamada industrialização substituidora de importações. Ao longo desta Unidade, serão abordadas particularidades das políticas econômicas voltadas à industrialização, ao desenvolvimento e à estabilização econômica adotadas na segunda metade do século XX. Analisaremos também o período crítico de altos índi- ces inflacionários, as tentativas de estabilização da moeda e seus reflexos na atividade econômica, destacando o setor agrícola. Para finalizarmos o objetivo proposto por este material didático, a Unidade V apresenta algumas megatendências mundiais que impactaram no cenário atual do agronegócio no mundo. Dentre elas, destacam-se a globalização e a importância da inovação e do conhecimento na nova realidade econômica. Portanto, querido(a) aluno(a), findamos o presente livro expondo o posicionamento do Brasil frente ao mercado global por meio de indicadores sobre a evolução da Balança Comercial brasileira, e fazendo uma análise sobre a situação atual da economia brasilei- ra e algumas tendências para o agronegócio. Aproveite seus estudos, se dedique, leia! O material auxiliará você, querido(a) aluno(a), a ultrapassar mais uma etapa em sua vida. Utilize as dicas de leitura, saiba mais, indicação de livros e links, para enriquecer mais seus conhecimentos! Bons Estudos Prof.ª Ariane Maria Machado de Oliveira 9 APRESENTAÇÃO SUMÁRIO 9 UNIDADE I NOÇÕES GERAIS DE AGRONEGÓCIO E AGRONEGÓCIO NO BRASIL 15 Introdução 16 Evolução Histórica da Agricultura 19 Da Agricultura ao Agronegócio: Definição, Agentes e Inter-relações 29 Especifidades do Agronegócio 31 O Agronegócio no Brasil 36 Tendências para o Agronegócio 48 Considerações Finais UNIDADE II GESTÃO E COMPETITIVIDADE EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAIS: CONCEITOS E DEFINIÇÕES 55 Introdução 55 Retomando Conceitos de Agronegócio e Commodity System Approach (Csa) 57 Cadeias Produtivas Agroindustriais 62 Gerenciando com Eficiência e Eficácia em Nível de Sistema Agroindustrial 67 Noção de Competitividade 75 Considerações Finais SUMÁRIO 11 UNIDADE III A ECONOMIA BRASILEIRA E O SETOR AGRÍCOLA 81 Introdução 90 Contexto Histórico das Transformações no Meio Rural 93 Os Reflexos na Agricultura 98 Considerações Finais UNIDADE IV A EVOLUÇÃO DA ECONOMIA BRASILEIRA: POLÍTICAS ECONÔMICAS E SEUS REFLEXOS NO SETOR AGRÍCOLA 103 Introdução 104 O Processo de Substituição de Importações 105 A Crise do PSI e as Reformas Institucionais no PAEG – 1962/67 109 Plano Cruzado 115 Plano Collor 120 Plano Real 127 Volatilidade do Crescimento 135 Considerações Finais SUMÁRIO 11 UNIDADE V A AGRICULTURA BRASILEIRA E AS MEGATENDÊNCIAS MUNDIAIS 141 Introdução 142 A Agricultura Brasileira e as Megatendências Mundiais 150 O Agronegócio no Mundo 167 Perspectivas para o Agronegócio 170 Considerações Finais 173 CONCLUSÃO 175 REFERÊNCIAS U N ID A D E I Professor Me. Silvio Silvestre Barczsz NOÇÕES GERAIS DE AGRONEGÓCIO E AGRONEGÓCIO NO BRASIL Objetivos de Aprendizagem ■ Conhecer o processo de evolução do agronegócio, bem como suas especificidades. ■ Entender os diferentes tipos de agentes econômicos envolvidos no agronegócio e suas inter-relações. ■ Conhecer o desenvolvimento e a evolução do agronegócio no Brasil. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ A definição de agronegócio e sua evolução ■ Os agentes envolvidos no agronegócio ■ As inter-relações entre os diferentes agentes, considerando as cadeias de produção, os Sistemas Agroindustriais e as redes (netchains) ■ As particularidades do agronegócio ■ A importância do agronegócio para a economia brasileira ■ Os principais produtos do agronegócio brasileiro ■ A evolução do agronegócio no Brasil, em termos de produtos, produção e consumo ■ As principais tendências na produção (orgânicos, comércio justo e solidário, ambientalmente corretos etc.) INTRODUÇÃO Nos últimos anos, muito se ouve falar de agronegócio.Jornais, revistas e notici- ários do mundo inteiro comentam o desempenho e a evolução do agronegócio no mundo, nas diferentes regiões econômicas – tais como a União Europeia e o Mercosul, e nos diversos países. Fala-se muito em barreiras protecionistas para produtos do agronegócio, balança comercial, relações de compra e venda entre países, inserção de novos produtos na pauta de discussão das negociações internacionais entre outros temas. Pode ser até mesmo que você tenha se inte- ressado pelo curso de agronegócio por ter lido ou ouvido falar de algum dos temas acima listados. No entanto, nem todos sabem exatamente o que quer dizer agronegócio. Fazer um curso em agronegócio implica necessariamente em compreendê-lo. Mais do que pensar que agronegócio é a tradução do termo em inglês agribusiness, é importante entender o que realmente constitui o chamado agronegócio. Para tanto, é preciso que se compreenda sua evolução, as particularidades inerentes aos seus produtos, os agentes econômicos envolvidos e as formas de inter-rela- ção entres esses agentes. É esse o intuito desta primeira unidade: levá-lo a compreender, de uma maneira geral, o que é agronegócio. A unidade está dividida em quatro seções. A primeira é a introdução, que acabamos de ver. Em seguida, trataremos de iden- tificar a evolução histórica da agricultura, para entendermos como chegamos ao agronegócio. Depois, na terceira seção, vamos definir agronegócio e as inter-re- lações entre os diferentes agentes envolvidos, considerando as noções de cadeias de produção, Sistemas Agroindustriais e redes (netchains). Nessa seção também será realizada breve descrição dos diferentes agentes envolvidos no agronegócio. Por fim, na quarta seção, serão expostas algumas particularidades, que fazem do agronegócio um setor “especial” e o levam a ser estudado separadamente. Bom estudo! Professor Silvio Silvestre Barczsz Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 15 NOÇÕES GERAIS DE AGRONEGÓCIO E AGRONEGÓCIO NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E16 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA AGRICULTURA A AGRICULTURA NO MUNDO A agricultura no mundo, até meados do século passado, era basicamente depen- dente da evolução que havia alcançado com a Primeira Revolução Agrícola. Esta revolução, que teve origem na Europa dos séculos XVIII e XIX, constituiu-se basicamente: (a) na intensificação da adoção de sistemas de rotação de culturas com plantas forrageiras (capim e leguminosas), (b) no uso de adubação orgânica (estercos animais), (c) na introdução de novas máquinas e instrumentos mecâ- nicos de tração animal, caracterizando a integração das atividades de pecuária e agricultura (Mazoyer, 1988). A Segunda Revolução Agrícola, por sua vez, iniciou-se com a descoberta dos adubos químicos em fins do século XIX, mas foi intensamente divulgada a partir de meados do século passado. O período pós-guerra, principalmente nos paí- ses capitalistas desenvolvidos, foi marcado pela melhoria das condições sociais e econômicas, e ficou conhecido como Anos Dourados. Dentre as mudanças ocorridas nesse período, o aumento da produção em massa de alimentos pode ser destacado como fator importante na determinação do crescimento mundial da população. O crescimento da produção de alimentos, no geral, foi maior que o aumento da população. De fato, nas duas décadas que correspondem ao perí- odo de 1970 a 1990, o total de alimento disponível per capita no mundo, ou seja, Evolução Histórica da Agricultura Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 17 já levando em conta o considerável aumento populacional da época, aumentou em 11% (Rosset; Collins; Lappé, 2000). Esse aumento da produção agrícola nos países desenvolvidos foi estimulado pelos altos subsídios à produção e à expor- tação dados aos produtores. A evolução da tecnologia no pós-guerra, impulsionada primeiramente pela necessidade bélica, possibilitou uma grande revolução tecnológica. Tal revolução foi expressiva no desenvolvimento do período em questão, permitindo avanços não só na indústria como também na agricultura. Nesse último setor, especifi- camente, ela possibilitou o aumento da produtividade por meio de: ■ Uso intensivo de capital com o desenvolvimento da motorização e da mecanização, em muitos casos levando à substituição de mão de obra nas lavouras. ■ Adubação química com macronutrientes, levando a acreditar em um melhor aproveitamento dos solos. ■ Aumento da resistência das culturas às pragas e aos fatores climáticos, com a intensificação do uso de defensivos, pesticidas e agrotóxicos e com melhoramento genético das sementes (sementes híbridas). Esse novo sistema agrário tende a se impor a outras partes do mundo, sendo assim introduzido nos países em desenvolvimento. O pacote tecnológico conhecido como “Revolução Verde” tratou da introdução sistemática nesses países, dessas novas variedades de culturas de alta produtividade, principalmente a partir da década de 1960. É nesse ponto que começamos a falar do Brasil. AGRICULTURA NO BRASIL No passado, o Brasil assumiu na economia mundial o papel de país agrário exportador, predominando aqui o extrativismo e a monocultura. Exemplos disso são os ciclos do pau-brasil, da cana-de-açúcar e do café (PAULILLO, 2007). O Brasil dependia da economia dos países desenvolvidos, não só porque estes compravam seus produtos agrícolas, mas também porque eram eles os for- necedores de produtos industrializados para o consumo interno. As crises NOÇÕES GERAIS DE AGRONEGÓCIO E AGRONEGÓCIO NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E18 mundiais afetavam diretamente a economia brasileira. Assim, o modelo primário-exportador utilizado no Brasil até início do século XX começou a ruir, devido principalmente à crise de 1929. A partir de meados da década de 50, o desempenho da agricultura nova- mente entrou em queda. A diminuição do ritmo de crescimento da produção doméstica de alimentos e as consequentes crises de abastecimento; a elevação dos preços agrícolas; a insuficiente geração de divisas para suprir o processo de acumulação de capital; as tensões sociais, tudo isso contribuiu para colocar em xeque a funcionalidade da agricultura e seu desempenho (BUAINAIN, 1999). Diante disso, o Governo reage. O Plano de Metas e o processo de substituição das importações, desencadeados no Governo JK, começam a refletir na econo- mia brasileira e na agricultura nacional. No Brasil, as décadas de 60 e 70 são marcadas pela intensificação do uso de maquinário e produtos químicos na agricultura. Tais objetivos deveriam ser alcançados via modernização da base técnica, integração intersetorial e fortale- cimento da agroindústria, e expansão da fronteira agrícola. Foi a partir daí que a “Revolução Verde” ocorreu no país. Diante do exposto, percebe-se que a agricultura no Brasil e no mundo pas- sou por grandes transformações nos últimos cem anos. No caso do Brasil, tanto o processo de substituição das importações quanto a modernização da base téc- nica representaram os primeiros passos para a transformação dos complexos rurais e complexos agroindustriais. Entre as décadas de 50 e 70, observou-se a unificação dos capitais agrícola, comercial, industrial e financeiro, e o início da agroindustrialização no Brasil (PAULILLO, 2007). A agricultura se insere no contexto industrial, seja por estar ligada à indústriade insumos, seja por forne- cer matéria-prima para a crescente indústria de transformação industrial. Mas o que “agroindustrialização” ou “complexos agroindustriais” tem a ver com agronegócio, tema deste curso? É que vamos entender na próxima seção. Da Agricultura ao Agronegócio: Definição, Agentes e Inter-relações Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 19 DA AGRICULTURA AO AGRONEGÓCIO: DEFINIÇÃO, AGENTES E INTER-RELAÇÕES O QUE É AGRONEGÓCIO? As ideias iniciais do que hoje entendemos por agronegócio, embora possam parecer recentes, surgiram há algumas décadas. Em 1957, dois estudiosos nor- te-americanos, John Davis e Ray Goldberg, definiram agribusiness como: [...] a soma de todas as operações associadas à produção e distribuição de insumos agrícolas, operações realizadas nas unidades agrícolas bem como as ações de estocagem, processamento e distribuição dos produ- tos, e também dos produtos derivados (DAVIS; GOLDBERG, 1957, p. 85 apud ZYLBERSZTAJN, 1995, p. 107). Ou seja, o agronegócio pode ser entendido como o conjunto de atividades téc- nicas e produtivas necessárias para que produtos provenientes da agropecuária cheguem até o consumidor final. Isso envolve agentes dos diferentes setores – agricultura, indústria e serviços. Considerando o contexto histórico e a definição de agronegócio, pode-se afirmar que a produção rural deixou de ser vista isoladamente, pois: (1) depen- dia de insumos fornecidos por outros (não utilizava mais os insumos produzidos internamente); (2) era mais especializada e tecnificada; e (3) tinha atividades de distribuição, armazenagem e transporte muito complexas para serem realiza- das internamente (ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000). Por isso, passou-se a falar em agroindústria e complexos agroindustriais (junção dos termos “agricultura” e “indústria”). Mas como será que as relações entre os agentes envolvidos no agronegócio ocorrem? É o que vamos ver a seguir. NOÇÕES GERAIS DE AGRONEGÓCIO E AGRONEGÓCIO NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E20 INTER-RELAÇÕES ENTRE OS AGENTES Você já parou para pensar que em qualquer sistema social, biológico ou econô- mico, ninguém vive sozinho? Num sistema social, precisamos nos relacionar uns com os outros, a não ser que decidamos nos tornar eremitas. O próprio sur- gimento da linguagem se deu pela necessidade de relação e comunicação com outros indivíduos. Ao estudarmos biologia, aprendemos que o leão precisa da zebra para se alimentar; a zebra precisa da vegetação; a vegetação precisa da luz solar e de nutrientes do solo. E, no fim das contas, as bactérias e/ou os urubus se alimentam do leão quando este morre. Nesse caso, o que se mostrou foi um breve exemplo de cadeia alimentar: nutrientes + luz solar => vegetação => zebra => leão => bactérias e urubus. Percebem que se trata de uma sequência? Pode-se dizer que cada um desses seres representa um elo da cadeia. Se tirarmos um desses elos, a cadeia não mais funciona. Por exemplo: se a vegetação desaparece, a zebra não tem do que se ali- mentar e, assim, não pode servir de alimento para o leão. Na economia, por sua vez, para que haja uma transação econômica, é preciso que exista pelo menos dois agentes: um interessado em comprar e outro interes- sado em vender algum bem. Essa relação cliente–fornecedor é importante no agronegócio, pois influencia o desempenho econômico de vários agentes. É por isso que tanto se fala em coordenação entre os agentes. CADEIAS DE PRODUÇÃO Considerando que o agronegócio é representado por uma sequência de operações entre diferentes agentes econômicos – da produção de insumos até o consumi- dor final, alguns estudiosos pesquisaram a relação entre eles. Nesse texto, são abordadas duas correntes: a dos norte-americanos e a da escola francesa de eco- nomia industrial. No primeiro grupo de estudos, Davis e Goldberg mostraram a existência de interdependência entre os diferentes setores da economia – agricultura, indús- tria e serviços, e passaram a tratá-los de forma inter-relacionada. Para eles, as Da Agricultura ao Agronegócio: Definição, Agentes e Inter-relações Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 21 atividades agrícolas faziam parte de uma rede de agentes econômicos, que iam desde a produção de insumos agropecuários até a distribuição dos produtos finais. Afirmaram, então, que os estudos deveriam seguir um recorte vertical, como mostrado na Figura 1, a partir de uma matéria-prima da agropecuária. Nesse momento, surge o conceito de Commodity System Approach (CSA). Por essa ideia, pode-se falar em CSA da laranja, do leite, do café etc. (BATALHA; SILVA, 2007). Figura 1: O recorte vertical para análise de CSA Fonte: Batalha e Silva (2007) Estudiosos franceses de economia industrial também abordaram a inter-relação entre os setores da economia, ao definirem o conceito de cadeia de produção, ou cadeia produtiva, agroindustrial (filière, em francês) (MORVAN, 1991). Para eles, uma cadeia de produção é uma sequência de operações produtivas, relações comerciais e financeiras, representada por um fluxo de trocas entre fornecedo- res e clientes, até se chegar a um produto final. Uma cadeia de produção pode ser dividida em três grandes segmentos: (1) comercialização – no qual inclui-se logística e distribuição; (2) industrialização, no qual se inserem as empresas de transformação; e (3) produção de matérias- -primas, no qual está a produção rural. O foco de análise, na análise de filière, é o produto final, e não a matéria-prima (BATALHA; SILVA, 2007). Assim, ao invés de se falar em CSA do boi, fala-se em cadeia da carne, cadeia do couro etc. Apesar das muitas discussões teóricas comparando os estudos dos norte-a- mericanos com os dos franceses, para fins de compreensão do agronegócio, é NOÇÕES GERAIS DE AGRONEGÓCIO E AGRONEGÓCIO NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E22 aceitável que aqui se abandonem as diferenças entre as duas visões. Na verdade, há muitas similaridades nas definições de CSA e de filière, como pôde ser visto anteriormente. Em especial, duas semelhanças são relevantes para estudo do agronegócio. A primeira é que ambas tratam da análise econômica a partir da interdependência e inter-relação entre agentes dos diferentes setores da economia, integrando agricultura, indústria e serviços. A outra é que os dois enfoques priorizam uma visão sistêmica. Ou seja, levam em conta que os agen- tes estão inseridos em um ambiente, e que o mesmo está em constante mudança, influenciando os agentes econômicos (BATALHA; SILVA, 2007). Assim, faz sen- tido afirmar que nós, como agentes econômicos, fazemos parte de um sistema. Por convenção, daqui por diante será utilizado o termo “cadeia de produção”. Um complexo agroindustrial, por sua vez, pode ser formado por várias cadeias produtivas com a existência de agentes em comum. Assim, pode-se falar no com- plexo sucroalcooleiro, formado pelas cadeias do açúcar e do álcool. Nesse caso, os elos de produção rural e industrialização podem ser formados por agentes em comum. No caso do complexo de carnes, que inclui as cadeias de produção de carne bovina, suína e de frango, os agentes em comum podem estar na etapa de industrialização, pois frigoríficos podem processar mais de um tipo de animal. Para análise de uma cadeia de produção, deve-se considerar os diferentes “elos” que a compõem. Esses elosnada mais são do que os grupos de agentes econômicos envolvidos em cada uma das etapas. Nesse caso, faz-se uma analo- gia à ideia de corrente composta por elos interligados. As cadeias de produção agroindustrial podem ser classificadas como alimen- tares ou não alimentares. No primeiro caso, incluem-se aqueles agentes envolvidos na produção de alimentos, tais como leite, café, carnes e sucos. No segundo, des- tacam-se as produções de calçados (cadeia de couros e peles), móveis (cadeia da madeira) e vestuário (cadeia do algodão). De uma maneira geral, pode-se afirmar que uma cadeia produtiva é com- posta pelos seguintes elos: ■ Insumos agropecuários: inclui agentes responsáveis pela produção e dis- tribuição de insumos para a produção rural. Incluem-se aqui empresas de fertilizantes, pesticidas, sementes, rações, medicamentos entre outras. ©photos Da Agricultura ao Agronegócio: Definição, Agentes e Inter-relações Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 23 ■ Produção rural: são agentes envolvidos com a produção agrícola e pecuária. ■ Indústria de transformação: são as empresas responsáveis pelo proces- samento dos produtos agropecuários. Esse elo pode ser subdividido em mais etapas, caracterizando: 1ª transformação, 2ª transformação e assim por diante. No caso da soja, por exemplo, após a produção rural, pode- se observar a indústria de 1ª transformação, que processa óleo bruto, e a indústria de 2ª transformação, que transforma óleo bruto em óleo refi- nado. A subdivisão desse elo é conveniente quando as etapas do processo nem sempre são realizadas pelo mesmo grupo de agentes. ■ Atacado: neste elo, incluem-se as empresas atacadistas, ou seja, que adqui- rem os produtos das empresas processadora e distribuem em grandes quantidades. Dada a concentração de mercado e o aumento de poder das grandes redes supermercadistas, esse elo tem, em muitos casos, desapa- recido das cadeias de produtos alimentares, pois os supermercados têm adquirido os produtos diretamente da indústria. ■ Varejo: são aqueles responsáveis pela venda dos produtos ao consumi- dor final. Incluem desde pequenas lojas especializadas até grandes redes supermercadistas. ■ Consumidor final: trata-se do elo mais relevante da cadeia. De fato, a eficácia e eficiência de uma cadeia de produção está associada ao aten- dimento das necessidades do mercado, ou seja, do consumidor. Assim, muitas análises de cadeias produtivas partem do estudo do mercado con- sumidor de seus produtos. A figura 2 ilustra um esquema típico de cadeia de produção. As setas indicam os flu- xos existentes entre os elos: da esquerda para a direita, observa-se fluxo de mercadorias, serviços e informações entre os agentes. Ou seja, é o caminho percorrido pelo produto. No sentido inverso, o que é passado de um elo a outro são informações e dinheiro. NOÇÕES GERAIS DE AGRONEGÓCIO E AGRONEGÓCIO NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E24 Figura 2: Esquema genérico de uma cadeia de produção Fonte: Adaptado de Batalha e Silva (2007) Para melhor compreender uma cadeia de produção, observe o exemplo abaixo: ■ Para que o jeans que você está usando agora tenha sido comprado por você, uma série de atividades produtivas foram necessárias. Insumos agrí- colas (fertilizantes, inseticidas etc.) foram utilizados por produtores rurais de algodão. O algodão que eles produziram foi colhido, beneficiado por uma algodoeira e vendido para empresas do setor têxtil. Estas foram res- ponsáveis pela fiação e tecelagem, fabricando o tecido. Uma fábrica do setor de vestuário, por sua vez, comprou o tecido e confeccionou, dentre outras peças, a sua calça. Essa empresa vendeu mercadorias para empre- sas do setor atacadista, como aquelas de grandes shoppings atacadistas de vestuário. Um desses atacadistas vendeu a calça jeans que você usa agora para uma empresa de varejo. Por fim, você foi até essa loja de confecções e comprou a calça. Veja na figura 3 o caminho que acabou de ser traçado. Para ter uma visão divertida de cadeias de produção agroindustriais, veja os episódios “de onde vem o ovo?” e “de onde vem o pão?”, do programa “De onde vem?”, da TV Cultura. Para isso, basta clicar nos links abaixo: Cadeia do ovo: <http://www.youtube.com/watch?v=oTBjZsjq_O0&playnext=1&list=PL- 021B0F940D4E8CA3&feature=results_video>. Cadeia do pão: <http://www.youtube.com/watch?v=eFARyfWCgkM&playnext=1&list=PL- 021B0F940D4E8CA3&feature=results_main>. Fonte: Fundação Padre Anchieta, 2008. Quando se fala em agronegócio, quase sempre se imagina mega empreen- dimentos e operações gigantescas, como observado na figura. Fonte: <http://en.mercopress.com/2009/04/13/the-success-of-brazilian-far- ming-and-argentinas-disarray> No entanto, é errôneo pensar que o agronegócio inclui apenas a produção em alta escala, realizada em grandes fazendas altamente tecnificadas. A agricultura familiar e a pequena produção também fazem parte do agrone- gócio, e têm grande relevância para a economia de muitos países. As produ- ções de leite e de hortaliças, por exemplo, são desenvolvidas principalmen- te por pequenos produtores rurais. A mesma ideia também é válida para os outros elos da cadeia (transformação e distribuição, por exemplo). Da Agricultura ao Agronegócio: Definição, Agentes e Inter-relações Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 25 Figura 3: Esquema simplificado da cadeia de produção do algodão Fonte: Adaptado de Buainain e Batalha (2007) No exemplo acima, é possível identificar a participação de vários agentes econômi- cos, desde a produção e distribuição de insumos agrícolas até o consumidor final. A delimitação de uma cadeia de produção vai depender das transações e dos NOÇÕES GERAIS DE AGRONEGÓCIO E AGRONEGÓCIO NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E26 agentes que se pretende estudar. É por isso que hoje não se leva tanto em consi- deração o fato de se partir de um produto final ou de uma matéria-prima para definir uma cadeia. É óbvio que cada cadeia vai ter suas particularidades, apresentando mais ou menos elos, e até mesmo a inclusão de agentes intermediários entre os elos. Isso vai depender não só do produto, mas também das características dos agentes, do mercado, da região e do ambiente no qual os agentes estão inseridos. Assim, estamos nos referindo ao sistema. SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS Pensando no sistema, alguns estudiosos trabalharam com a noção de Sistemas Agroindustriais (SAI ou SAG) (BATALHA; SILVA, 2007; ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000). Nesse caso, a visão é mais ampla. Para análise de Sistemas Agroindustriais, consideram-se não somente os agentes diretamente envolvi- dos na cadeia de produção, mas também outros agentes e fatores que influenciam o desempenho da cadeia. São eles: ■ Ambiente institucional: caracteriza-se pelas regras formais e informais que ditam e guiam a conduta dos agentes da cadeia. Inclui o sistema legal, as tradições e costumes, as regulamentações, e as políticas macroeconômi- cas e setoriais públicas. A taxa de câmbio, por exemplo, é um fator que faz parte desse ambiente e influencia o desempenho dos agentes e da cadeia como um todo (o câmbio elevado é favorável às exportações, mas preju- dica as importações de insumos e bens de capital para o setor). ■ Ambiente organizacional: é formado pelas associações, sindicatos e outras entidades de classe,além de políticas setoriais privadas. O Conseleite, no Paraná, por exemplo, faz parte do ambiente institucional do SAI do leite no estado, pois é uma organização que define preços de referência para venda do leite de produtores rurais para a indústria. Para saber mais sobre o Conseleite acesse: <http://www.conseleitepr.com.br/site/>. Da Agricultura ao Agronegócio: Definição, Agentes e Inter-relações Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 27 ■ Ambiente tecnológico: trata-se das características e da evolução tecnoló- gica de uma cadeia. O desenvolvimento da soja transgênica, por exemplo, foi uma mudança tecnológica que influenciou e tem influenciado a cadeia da soja no Brasil e no mundo. ■ Indústria e serviços de apoio: são os agentes que não estão inseridos na cadeia produtiva propriamente dita, mas que colaboram para o desem- penho da mesma. Tratam-se das empresas de embalagens, aditivos, máquinas e equipamentos para a indústria, logística, estocagem e trans- porte, marketing entre outros. No caso do leite, por exemplo, a chegada do leite UHT (“de caixinha”) no mercado brasileiro só foi possível devido à existência de fornecedores de equipamentos industriais e de embala- gens para acondicionamento do produto. Caso contrário, a indústria não poderia produzir esse leite, e não teriam ocorrido grandes mudan- ças estruturais nessa cadeia. Deve-se lembrar que o SAI, por ser um sistema, sofre mudanças ao longo do tempo, ou seja, não é estático. A figura 4 ilustra a visão de Sistema Agroindustrial. Observa-se que a cadeia de produção faz parte de um SAI. Figura 4: Representação dos Sistemas Agroindustriais Fonte: ZYLBERSZTAJN e NEVES (2000) NOÇÕES GERAIS DE AGRONEGÓCIO E AGRONEGÓCIO NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E28 REDES (NETCHAINS) Por fim, uma visão mais recente do agronegócio tem levado muitos estudiosos a considerarem a noção de redes de empresas (do inglês, network ou netchain). Por uma rede, entende-se um conjunto de relacionamentos entre diferentes agen- tes, que não necessariamente ocorrem de maneira linear. Retomando a visão de cadeias, as relações – representadas pelas setas na figura 4, seguem uma linha reta. É como se as únicas relações a serem estudadas fossem aquelas apontadas pelas setas. Na abordagem de redes, adota-se a ideia de que, para que um produto che- gue até um consumidor final, as relações a serem estudadas (relações tanto de cooperação quanto de conflito, comerciais e não comerciais) não são somente aquelas entre os agentes da cadeia. Deve-se considerar a atuação de outros agentes, pois as relações não ocorrem em um único sentido (LAZZARINI; CHADDAD; COOK, 2001). Agentes de diferentes cadeias produtivas, por exemplo, podem se relacionar; agentes de um mesmo elo, também. Assim, a visão passa a ser tridi- mensional. A figura 5 ilustra uma netchain. Os pontos representam os diferentes agentes e as linhas representam as relações. Figura 5: A visão de rede (netchain) Fonte: Lazzarini, Chaddad e Cook (2001) Especifidades do Agronegócio Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 29 ESPECIFIDADES DO AGRONEGÓCIO Por que o agronegócio merece ser estudado separadamente? O que leva mui- tos estudiosos a focarem seus trabalhos em agronegócio? O que faz dele algo tão especial? O tratamento individual que se dá ao agronegócio deve-se, entre outros moti- vos, ao fato de que ele tem características específicas, que fazem com que sua gestão não seja igual a de outros setores produtivos (BATALHA; SCARPELLI, 2005). Dentre as principais especificidades – ou particularidades – do agrone- gócio, podem-se listar: 1. Sazonalidade da produção agropecuária: grande parte dos produtos agropecuários está sujeita a períodos de safras e entressafras, tais como a soja, o milho e o café. Isso influencia a cadeia como um todo, pois vai definir o período em que a indústria vai receber a matéria-prima. Isso pode influenciar as necessidades de capacidade de processamento e de armazenagem, por exemplo, além de influenciar a disponibilidade e o preço do produto ao consumidor. Todos sabemos das variações do preço do leite ao longo do ano por conta dos períodos de seca, de chuva e da consequente variação na quantidade produzida. No caso do café, por exemplo, agentes da cadeia costumam trabalhar com estoques de café verde, abrindo espaço inclusive para agentes intermediários. 2. Variações da qualidade do produto agropecuário: a qualidade da maté- ria-prima agropecuária é influenciada pelas condições edafoclimáticas1 e técnico-produtivas do segmento rural. Isso quer dizer que, dependendo do solo e clima em que se planta ou se cria, e dependendo das técnicas empregadas, pode-se obter produtos com características diferentes. Isso, por sua vez, vai influenciar a qualidade do produto final. 3. Perecibilidade da matéria-prima: produtos agropecuários, principal- mente alimentares, são perecíveis, ou seja, deterioram em curto espaço de tempo. Isso dificulta a estocagem por longos períodos e o transporte por longos percursos, e obriga a indústria a processar a matéria-prima que chega rapidamente, sob pena de perdê-la. Assim, deve-se existir um bom planejamento para que o sistema funcione eficientemente. 1 Condições edafoclimáticas são aquelas referentes a características de solo e clima. NOÇÕES GERAIS DE AGRONEGÓCIO E AGRONEGÓCIO NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E30 4. Sazonalidade do consumo: o consumo de produtos agropecuários, prin- cipalmente alimentos, também está sujeito a períodos de pico ou recessão. A demanda por chocolate na Páscoa, por sopas prontas no inverno, por cerveja no verão, entre outros, obriga as respectivas cadeias desses pro- dutos a se programarem, oferecendo produtos no momento certo. Vale lembrar ainda que a sazonalidade do consumo nem sempre coincide com a sazonalidade da produção agropecuária. 5. Perecibilidade do produto final: mesmo depois de processados, muitos produtos agropecuários continuam perecíveis (derivados lácteos, car- nes, pães etc.). Assim, as empresas devem fazer com que estes produtos cheguem rapidamente ao mercado para serem consumidos. Além disso, dada a dificuldade de estocagem por longos períodos, a produção deve ser adequadamente planejada para que não haja perdas. 6. Qualidade e questões sanitárias: os alimentos estão sujeitos à vigilância sanitária. Se consumidos em condições inaceitáveis (contaminados, por exemplo), podem causar problemas de saúde. Assim, as empresas inse- ridas nos sistemas produtivos de alimentos devem estar atentas a essa questão e operarem de acordo com as exigências legais (estamos falando aqui do ambiente institucional). A comercialização de produtos de ori- gem animal, por exemplo, só pode ocorrer se seu processamento ocorrer sob normas do Sistema de Inspeção (Federal, Estadual ou Municipal). 7. Aspectos ambientais: os sistemas agropecuários têm forte relação com o meio ambiente. Existem, então, exigências legais específicas à agrope- cuária, que devem ser observadas e seguidas pelos agentes envolvidos nas cadeias. Exemplos de tais exigências são o tratamento de resíduos e a manutenção de áreas de preservação permanentes nas propriedades rurais. 8. Aspectos sociais do consumo: por fim, deve-se considerar que o con- sumo de alimentos está ligado a questões culturais e sociais. Os hindus não consomem carnebovina; os muçulmanos não comem carne suína; os consumidores europeus procuram mais produtos orgânicos; o consumo de erva-mate é maior na região Sul; aumentou o consumo de produtos light no mundo, pois as pessoas querem ficar “em forma”. Esses exemplos mos- tram que questões sociais e culturais influenciam as cadeias de produção agroindustriais. Assim, os agentes devem estar atentos a tais especifici- dades e a mudanças nos padrões de consumo para serem competitivos. O Agronegócio no Brasil Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 31 Dessa forma, é possível perceber que o agronegócio, ainda que complexo, trata- se de um tema atual, relevante e em constante mudança, e merece ser estudado de maneira aprofundada. O AGRONEGÓCIO NO BRASIL Sabe-se que o agronegócio brasileiro tem grande destaque no cenário mundial. Ouve-se que o Brasil tem um rebanho bovino maior que sua população; que a área de cultivo do país é imensa; que o Brasil vai se destacar mundialmente com a produção de biocombustíveis; que o Brasil é o celeiro do mundo. Também é sabido que boa parte das riquezas geradas no país origina-se do agronegócio. O Brasil é reconhecidamente um grande produtor de produ- tos agroindustriais. E é também um grande consumidor desses produtos. Dessa forma, o intuito desse item é caracterizar o agronegócio brasileiro, identificando seu peso na economia nacional e os principais produtos. Mais do que isso, pensando na noção de cadeia produtiva, deve-se tomar ©photos NOÇÕES GERAIS DE AGRONEGÓCIO E AGRONEGÓCIO NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E32 conhecimento do peso de cada elo na geração de riquezas, bem como identi- ficar a evolução do consumo dos principais produtos do agronegócio no país. Assim, a próxima seção tratará de contextualizar o agronegócio na economia nacional, bem como de identificar os principais produtos. Será traçada também a evolução da produção. A seção seguinte vai tratar da participação dos dife- rentes elos da cadeia na geração de riquezas do agronegócio. Por fim, na última seção, serão abordadas tendências gerais para o agronegócio. PRINCIPAIS PRODUTOS DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO O Brasil vem se destacando mundialmente como um dos maiores produtores e fornecedores de produtos do agronegócio. Deve-se destacar que seu bom desem- penho pode ser atribuído a uma série de fatores: o espírito empreendedor dos agentes; os investimentos em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos, a tecnologia, a qualidade dos produtos, o clima favorável e sua grande extensão territorial (MAPA, 2007). Esses fatores auxiliam no alcance de eficiên- cia técnica e alta produtividade no setor. Com relação à área, o Brasil possui área total de 851 milhões de hectares. O Quadro 1 mostra como está distribuído esse total, segundo seu uso e finalidade. As áreas atualmente utilizadas para agri- cultura correspondem a pastagens, culturas anuais e culturas permanentes, totalizando 282 milhões de hectares. As áreas que não podem ser utilizadas para a agricultura no Brasil correspondem a 54% da extensão total do país (Floresta Amazônica, áreas protegidas, florestas cultivadas, cidades, lagos, estra- das e outros usos), num total de 463 milhões de hectares. Fazendo as contas, chega-se à conclusão que 106 dos 851 milhões de hec- tares ainda estão disponíveis para agricultura no país. Isso quer dizer que, além do crescente aumento de produtividade, o potencial do Brasil para expansão da O Agronegócio no Brasil Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 33 produção é aumentado pela vasta disponibilidade de terras ainda não utilizadas. Floresta Amazônica 345 Pastagens 220 Áreas protegidas 55 Culturas anuais 47 Culturas permanentes 15 Cidades, lagos, estradas 20 Florestas cultivadas 5 Sub-total 707 Outros usos 38 Áreas não exploradas, ainda disponíveis para a agricultura 106 TOTAL 851 Quadro 1: Disponibilidade de terras, segundo seu uso e finalidade (em milhões de hectares) Fonte: Elaborado a partir de MAPA (2007) Com relação aos recursos hídricos, importante fator para a produção agropecu- ária, o Brasil também se encontra em posição favorável. Segundo a FAO (2008), a disponibilidade interna de água proveniente de fontes renováveis no país é de 5,418 trilhões de m3 por ano. Apenas para se ter uma ideia, na Argentina, esse valor é de 276 bilhões; na Austrália, 492 bilhões; nos Estados Unidos, 2,8 tri- lhões; na China, 2,8 trilhões; na Índia, 1,26 trilhões e na França, 178 bilhões. Em termos monetários, o agronegócio brasileiro também vem apresentando maiores ganhos. No ano de 2012, o Valor Bruto da Produção (VBP) agropecu- ária será de R$ 351,73 bilhões de reais, segundo estimativas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, 93,10% maior que em 2003 (MAPA, 2012). Em 2012, a agricultura será responsável por 58,41% do VBP agropecuário, e a pecuária deve representar os outros 41,59%. O VBP gerado pela agricultura passou de R$ 114,59 bilhões, em 2003, para R$ 205,43 bilhões em 2012, o que representa um aumento de 79,3%. Já a pecuária neste mesmo período obteve um crescimento de 116,50% (MAPA, 2012). Nesse contexto, destaca-se a soja, como mostra a tabela 1. O valor da produção NOÇÕES GERAIS DE AGRONEGÓCIO E AGRONEGÓCIO NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E34 de soja em 2012 é de R$ 45,00 bilhões de reais, que corresponde a cerca de 12,79% do VBP agropecuário total. Em seguida, observa-se a carne bovina, com quase R$ 60,16 bilhões (17,10% do total). Além disso, pode-se afirmar que há forte concentração em poucos produtos: os sete itens listados representam 77,10% do VBP gerado na agropecuária em 2012. PRODUTO VBP (R$ BILHÕES) VARIAÇÃO (%) 2003 2012 * 1 Soja 36,89 45,00 21,98% 2 Carne Bovina 30,87 60,16 94,88% 3 Milho 17,29 27,85 61,08% 4 Frango 15,98 40,78 155,19% 5 Cana-de-açúcar 13,49 46,39 243,88% 6 Leite 11,85 28,55 140,93% 7 Café beneficiado 5,77 22,44 288,91% Outros 50,02 80,56 61,06% Total 182,16 351,73 93,09% Tabela 1: Valor Bruto da Produção agropecuária, por produto Fonte: Elaborado a partir de MAPA (2012) * : Projeção. Com relação ao Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio, este foi de R$ 917,65 bilhões em 2011, contra R$ 648,21 bilhões em 1994. Em 2011, o PIB do agronegócio correspondeu a 22,15% do PIB brasileiro (CEPEA, 2012). Assim como o VBP, o PIB do agronegócio também tem apresentado cresci- mento no longo prazo. De 1994 a 2011, o crescimento foi de 41,6%, como pode ser visto no gráfico 1. O gráfico também deixa claro que a maior parte desse PIB é proveniente da agricultura. No ano de 2011, este segmento foi responsável por mais de 70% do PIB do agronegócio. O Agronegócio no Brasil Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 35 Gráfico 1: O PIB do Agronegócio Brasileiro (Bilhões R$) Fonte: Elaborado a partir de CEPEA (2012) PARTICIPAÇÃO DOS DIFERENTES ELOS NO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO Como já afirmado, o agronegócio brasileiro não é representado unicamente pela produção rural. Agentes de outros segmentos também fazem parte do agribusi- ness e devem, portanto, ser considerados. Assim, é importante que se verifique a participaçãode outros elos da cadeia na geração de riquezas no agronegócio. Para tanto, vamos analisar a participação dos elos de insumos, agropecuária, indústria e distribuição (atacado e varejo) na composição do PIB do agronegócio. Em 2011, o setor de insumos correspondeu a 11,81% desse PIB; a agropecuária, 28,80%; a indústria foi responsável por 28,53%; e o elo de distribuição, 30,87 % (CEPEA, 2012). Isso mostra a importância dos outros elos na composição do agronegócio, principalmente daqueles mais próximos do consumidor final na cadeia (indústria e distribuição). Pensando na evolução da participação dos diferentes elos na geração de riquezas, é interessante se observar o gráfico 2. Pelo gráfico, observa-se que a NOÇÕES GERAIS DE AGRONEGÓCIO E AGRONEGÓCIO NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E36 distribuição tem sido mais ou menos constante no período observado. Ou seja, nenhum elo aumentou consideravelmente sua participação relativa no PIB do agronegócio. Além disso, o gráfico deixa mais claro a importância dos elos de distribuição e industrialização, que correspondem juntos a 59,39% desse PIB. Isso pode ser explicado pela agregação de valor que ocorre ao longo da cadeia, até chegarem ao consumidor final. Conforme os produtos vão “caminhando” de um elo para outro, mais atividades são realizadas e, portanto, mais valor se agrega ao bem. Assim, o produto acaba sendo vendido por um preço mais alto, e isso gera mais riqueza. Gráfico 2: Distribuição do PIB do agronegócio Fonte: Elaborado a partir de CEPEA (2012) TENDÊNCIAS PARA O AGRONEGÓCIO Você acredita que o futuro do agronegócio no Brasil e no mundo está relacio- nado somente ao aumento contínuo da produção? Pense bem... Tendências para o Agronegócio Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 37 Mudanças climáticas globais têm sido discutidas por líderes políticos do mundo; observa-se a busca por combustíveis menos poluentes; as relações sociais desiguais entre agentes do agronegócio são colocadas em pauta (por ex.: explora- ção de pequenos produtores por grandes empresas processadoras e distribuidoras); a introdução de produtos geneticamente modificados no mercado (os transgê- nicos) tem causado grandes discussões nas negociações entre países. Isso mostra que o agronegócio deve passar por mudanças nos próximos anos. Assim, o intuito desse item é mostrar algumas das principais tendências do agronegócio, falando de produtos e de processos produtivos. Nesse contexto, inserem-se questões sociais, econômicas e ambientais, como será visto a seguir. Ainda que você não trabalhe ou não tenha tido contato com os assuntos a serem abordados, eles devem ser estudados por aqueles que desejam aproveitar opor- tunidades futuras no agronegócio. E AGORA, PARA ONDE VAI O AGRONEGÓCIO? Nesta seção, busca-se discutir algumas tendências do agronegócio mundial e brasileiro. Os tópicos a serem discutidos são os seguintes: agregação de valor; tecnologia no agronegócio; sustentabilidade; regionalização e certificações. É importante ressaltar que tais tendências não existem isoladamente. Elas estão inter-relacionadas, e a ação em um determinado aspecto pode trazer resultados em outros sentidos. Por exemplo: a produção de produtos orgânicos, em um primeiro momento, pode estar ligada à busca por agregação de valor. Entretanto, essa prática também traz resultados em termos ambientais e sociais e está ligada à certificação. Assim, a discussão em tópicos ocorre meramente para estruturar o assunto e facilitar o ensino. Entretanto, na prática, essa separação muitas vezes torna- se impossível. NOÇÕES GERAIS DE AGRONEGÓCIO E AGRONEGÓCIO NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E38 AGREGAÇÃO DE VALOR AOS PRODUTOS Na economia, diz-se que a demanda por produtos básicos (commodities) não tem alta elasticidade-renda. Ou seja, você não come mais arroz porque seu salá- rio aumentou, a não ser que antes você tivesse renda muito baixa e faltasse arroz em suas refeições. Entretanto, você pode consumir mais quantidade de produ- tos elaborados (pizzas, por exemplo) com um aumento de salário. Num mundo em que a renda per capita cresce a cada ano, a procura por pro- dutos diferenciados tem aumentado. É lógico que ainda há espaço para aumento das vendas de commodities, até porque uma boa parcela da população mundial não tem alimento em quantidade suficiente. Entretanto, nos países de renda mais elevada, tais como os países desenvolvidos, as cadeias produtivas do agronegócio têm buscado agregar valor aos produtos, como forma de aumentar seus ganhos. A diferenciação também pode ser voltada para atender a nichos de mercado, ou seja, grupos específicos de consumidores, com determinadas características em comum (atletas, “naturebas”, solteiros, executivos etc.). A busca por agregação de valor e diferenciação dos produtos do agronegócio não ocorre somente via processamento de produtos. A agregação de valor pode ocorrer por meio de embalagens, de seleção, do uso de marcas, de práticas de qualidade ou ambientais, de rastreabilidade entre outros. Mais do que isso, a agre- gação de valor pode depender de vários agentes de um dado SAI. Por exemplo: Um produto orgânico é um produto diferenciado, certo? Para que ele possa ser reconhecido como um produto de maior valor agregado e vendido como Tendências para o Agronegócio Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 39 orgânico, os insumos utilizados na produção rural foram específicos a esse tipo de produção. As técnicas de manejo e produção na área rural também exigiram atividades específicas dos agentes envolvidos (aqui, depende--se da boa atua- ção do elo da produção rural); a certificação, por meio de um selo, é dada por organizações independentes, inseridas no ambiente organizacional do SAI; a distribuição deve ser feita de maneira adequada, em pontos de varejo que sejam capazes de alcançar o público-alvo. A produção de cafés especiais exige o cultivo em áreas apropriadas, que permitam a obtenção de grãos com a qualidade requerida. Além disso, deve- se escolher a variedade do café a ser cultivada, o que depende do fornecedor de mudas. As práticas de plantio, manejo, colheita, seleção, secagem e armazena- gem do café na propriedade rural também devem ser adequadas e específicas ao produto. As processadoras (torrefadoras) devem possuir sistemas produtivos adequados, desde a seleção dos grãos até o empacotamento. Por fim, a distribui- ção também deve estar de acordo com o produto, tais como lojas especializadas. Uma boa coordenação da cadeia exige que os vários agentes envolvidos par- ticipem e se comprometam, para que o valor não se “perca” ao longo da cadeia. Uma das formas de se agregar valor é a produção de produtos de quali- dade mais elevada. Nesse sentido, a produção de cacau fino, de cafés especiais, de vinhos finos, de queijos finos e de carnes premium ou rastreada pode ser um caminho para a diferenciação. No caso dos cafés de alta qualidade (gourmets), por exemplo, esse mercado no Brasil cresce cerca de 20% ao ano, enquanto o crescimento anual do mercado de cafés como um todo é de 5% (NERY, 2007). TECNOLOGIA NO AGRONEGÓCIO O uso de tecnologia no agronegócio tem permitido aos agentes ganhos de produ- tividade, redução de custos, aumento da coordenação e inovações de produtos. Dentro do tema tecnologia, pode-se destacar o uso de ferramentaspara gestão e troca de informações, a agricultura de precisão e a biotecnologia. Atualmente, a aplicação de ferramentas de gestão e informação no agrone- gócio é imprescindível para o sucesso das cadeias produtivas. A globalização fez NOÇÕES GERAIS DE AGRONEGÓCIO E AGRONEGÓCIO NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E40 Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. com que cadeias fossem formadas por agentes de diferentes partes do mundo, o que torna as relações mais complexas. Assim, a eficácia e eficiência na troca de informações se tornam essenciais. Além disso, as cadeias devem ser geren- ciadas eficientemente, o que leva à necessidade de ferramentas para gestão das atividades. Nesse sentido, destaca-se desde o uso de simples programas compu- tacionais para gestão de custos na propriedade rural até sistemas integrados de gestão, tais como o ERP (Entreprise Resources Planning). A tecnologia também tem auxiliado no desenvolvimento da agricultura de precisão. Trata-se da busca por maior precisão no manejo e cultivo agropecuário, por meio de um conjunto de ações de gestão dos sistemas de produção, conside- rando a variabilidade espacial das lavouras. Ou seja, ela considera as diferenças de solo, clima e relevo. A análise de solo para correção precisa; o uso de senso- res térmicos nos aviários e o uso de monitoramento por satélite são exemplos da agricultura de precisão. Por fim, a biotecnologia tem sido amplamente empregada no agronegócio. Trata-se da tecnologia associada à biologia. Na pecuária, ela pode ser represen- tada pelo melhoramento genético animal, pela clonagem e pela transferência de embriões. Na agricultura, podem-se destacar as espécies resistentes a pragas e doenças e os alimentos com maior valor nutricional com o desenvolvimento de plantas transgênicas (Organismos Geneticamente Modificados - OGM) (CIB, 2008). 41 CIENTISTAS PESQUISAM CANA-DE-AÇÚCAR GM COM MAIOR TEOR DE SACAROSE A cana-de-açúcar transgênica, modificada para produzir maior teor de açúcar e etanol, poderá ser cultivada, no Brasil, em um prazo de três a cinco anos. Os cientistas estão realizando testes de campo com varieda- des de cana GM com maiores quantidades de sacarose em relação às plantas conven- cionais. “Nesse ponto, (a cana GM) é mais uma questão de regulamentação que uma questão científica”, afirma Paulo Arruda, diretor científico de uma empresa da área de biotecnologia e responsável pelo desen- volvimento de uma variedade de cana que está em teste. Aguardam aprovação pela CTNBio varie- dades de cana-de-açúcar geneticamente modificada para terem maior rendimento de sacarose e também com aumento da biomassa, resistência a insetos e tolerân- cia a herbicida e à seca. “A maior parte das novas áreas para a cana no Brasil são pastagens degradadas, onde os níveis pluviométricos são inferiores aos das áreas tradicionalmente produtoras de cana”, disse Arruda, explicando a impor- tância de variedades tolerantes à seca. “Esperamos que a tecnologia permita rendi- mentos de 10% a 15% mais elevados”, disse. O Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) também vê os aspectos regulatórios, e não os aspectos técnicos, como os principais obstáculos para o progresso da cana GM no Brasil. “De três a cinco anos seria pos- sível termos variedades disponíveis (se a regulamentação estiver ok)” explica Jaime Finguerut, gerente estratégico de desen- volvimento industrial da CTC. (...) Fonte: Agência Reuters Disponível em: <http://cib.org.br/em-dia-com-a-ciencia/noticias/cientistas-pesquisam-ca- na-de-acucar-gm-com-maior-teor-de-sacarose/>. Acesso em: 04 set. 2012. COMENTÁRIO CRÍTICO Apesar das vantagens dos transgênicos, principalmente para os agentes produtores, a discussão acerca da segurança dos transgênicos é ampla. Ambientalistas, pequenos produtores, consumidores e alguns cientistas afirmam que o consumo de OGMs pode trazer riscos para a saúde, além de prejudicar o meio ambiente. Acrescenta-se a isso uma questão socioeconômica: pequenos produtores podem ficar dependentes de grandes multinacionais fornecedoras de sementes. São vários os argumentos contra os transgê- nicos, o que indica que o assunto não está encerrado na pauta mundial. Para mais informações sobre os OGMs, leia o guia “Transgênicos: você tem direito de conhe- cer”, acessando o link <http://www.cib.org.br/> . Para uma visão contrária, acesse o site do Greenpeace <www.greenpeace.org/brasil/trans- genicos>. Leia o texto de José Carlos Pereira de Freitas, Sustentabilidade nos Agronegócios, no link: <http://www.portaldoagronegocio.com.br/conteudo.php?id=25744>. NOÇÕES GERAIS DE AGRONEGÓCIO E AGRONEGÓCIO NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E42 SUSTENTABILIDADE Falar em sustentabilidade no agronegócio significa pensar em sistemas de pro- dução que sejam sustentáveis no longo prazo. Isso envolve não somente questões ambientais como também questões de ordem social. Assim, a sustentabilidade busca, por exemplo: ■ a diversificação dos sistemas produtivos, por meio de consórcios, sis- temas integrados e rotações de culturas (veja o quadro com a leitura complementar); ■ a conservação da biodiversidade; ■ o uso de técnicas para proteção do solo, como o plantio direto; ■ o plantio e o manejo de espécies adaptadas às condições edafoclimáti- cas locais; ■ o uso de fontes limpas de energia, tais como biodiesel e biodigestores; ■ o respeito às características socioeconômicas regionais, buscando o pla- nejamento e ocupação do espaço rural e a manutenção digna do homem no campo. Plantio integrado é alternativa para agricultura na Amazônia A opção permite, simultaneamente e no mesmo terreno, atividades em su- cessão e o sistema de plantio direto, que preserva ao máximo a integridade do solo. Para amenizar os custos e permitir a reutilização de áreas degradadas na Amazônia, pesquisadores da Embrapa estão propondo a adoção do sistema integração lavoura-pecuária-silvicultura (ILPS). A opção permite, simultane- amente e no mesmo terreno, atividades em sucessão e o sistema de plantio direto, que preserva ao máximo a integridade do solo. De acordo com o pesquisador Paulo Campos Fernandes, da Embrapa Ama- zônia Oriental, é inviável economicamente a recuperação de solos de pas- tagens usando adubos. O mecanismo mais oportuno é a integração com a agricultura. “Isso acontece porque as atividades pecuárias tornam o solo mais compacto, impossibilita a drenagem e a conseqüente fixação de nu- trientes”, explica. Com o sistema é possível exercer a agricultura clássica do plantio de grãos como milho, soja, sorgo e feijão, ao mesmo tempo em que é desenvolvida a pecuária. Segundo o pesquisador, já existem empresas com êxito na adoção desse sistema. “Essas iniciativas, monitoradas pela Embrapa, são referências de sis- temas que funcionam e dão certo”, ressaltou. Fonte: Portal do Agronegócio, 24 de outubro de 2008. Disponível em: <www.portaldoagronegocio.com.br> ou pela revista do Globo Rural <http://revistagloborural.globo.com/GloboRural/0,6993,EEC1690588-1935,00. html>. Tendências para o Agronegócio Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 43 No Brasil, alguns exemplos de práticas ambientais sustentáveis podem ser apon- tados. Primeiramente, destaca-se que o Brasil é o campeão em descarte adequado de embalagens de agrotóxicos no mundo (MAPA, 2007). Além disso, a utiliza- ção de resíduos da indústria sucroalcooleira, citrícola, madeireira e de carnesé exemplo de práticas ambientalmente corretas. Como é possível perceber, nesse contexto enquadra-se também a agricultura orgânica. Do ponto de vista da sustentabilidade social, destaca-se a importância de se combater o trabalho escravo e o trabalho infantil nas empresas, principalmente Informe-se sobre o desempenho de várias empresas em aspectos sociais, ambientais e trabalhistas no site da Organização “Observatório Social” – <http://www.observatoriosocial.org.br/portal/>. NOÇÕES GERAIS DE AGRONEGÓCIO E AGRONEGÓCIO NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E44 no elo da produção rural. Este é inclusive ponto de discussão nas negociações, pois muitos países alegam que os produtos brasileiros são competitivos no mer- cado externo por utilizarem mão de obra escrava. Considerando cadeias produtivas, a sustentabilidade está ligada ao desenvol- vimento de sistemas produtivos que permitam a manutenção dos agentes em condições de equidade. Sabe-se que muitas vezes o elo mais fraco – o produtor rural – é explorado dentro da cadeia, recebendo pouco pelo produto e pagando muito por seus insumos. É a chamada “tesoura de preços”: o produtor, por um lado, fica sujeito aos preços ditados por seus fornecedores de insumos, geralmente grandes empresas multinacionais – Monsanto, Cargill e Bunge, por exemplo. De outro lado, não pode repassar os preços aos seus compradores, pois são também grandes empresas do segmento de transformação ou distribuição, e possuem maior poder de mercado. Além disso, os produtores normalmente têm que cum- prir grandes exigências de seus compradores. Muitos mercados consumidores têm enxergado tal situação como explora- tória, e têm evitado a compra de produtos provenientes de cadeias com essas características. Assim, as novas tendências do agronegócio trazem consigo um aspecto social relevante: um novo espaço para o pequeno agricultor e à agricul- tura familiar nas cadeias produtivas. Nesse aspecto, uma linha de gestão de cadeias é a do comércio justo (do inglês, fairtrade). Trata-se de um conjunto de práticas que preconiza relações entre produtores rurais e demais elos da cadeia em condições de equidade, par- ceria, confiança e interesses compartilhados. O intuito é prover condições mais justas para produtores marginalizados. Assim, busca-se promover o acesso a mercados para esses produtores, principalmente da agricultura familiar e a dis- tribuição dos ganhos ao longo da cadeia. Em termos internacionais, essa linha é relevante por buscar condições mais Para ter uma noção da evolução dos preços pagos aos produtores de vários produtos do comércio justo ao longo dos últimos dez anos, clique no link: <http://www.fairtrade.net/producers.html>. Tendências para o Agronegócio Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 45 justas entre economias de países pobres e em desenvolvimento (fornecedores de matérias-primas) e países desenvolvidos (processadores e distribuidores de produtos finais). Além disso, ao garantir preços mínimos aos produtores rurais, esse tipo de comércio reduz a instabilidade de preços, tão comum em alguns produtos agrícolas com o café. REGIONALIZAÇÃO Na contramão da globalização, dos megaempreendimentos rurais e da produ- ção em alta escala, observa-se, principalmente em países desenvolvidos, a volta de sistemas tradicionais de produção e do peso da “agricultura local”. Trata-se de uma forma de fugir do modelo de produção de commodities predominante no mundo, com a inserção de pequenos produtores que não têm condições de produção em alta escala e a baixos custos. É impulsionado pela existência de um mercado consumidor (nicho) que se preocupa com questões sociais relativas ao campo e que gosta de saber exatamente a origem e a quali- dade dos produtos que consome. No sistema convencional, quando você compra um frango, você não sabe em que condições ele foi criado, quais os medicamentos que foram utilizados nele, se ele se alimentou de ração de soja transgênica e se os produtores rurais foram economicamente explo- rados pelos grandes frigoríficos e redes varejistas. Na agricultura tradicional, o frango é produzido sob as mesmas condições de anos atrás, de forma artesanal, com apelo para a tradição e a história. Isso agrega valor ao produto. NOÇÕES GERAIS DE AGRONEGÓCIO E AGRONEGÓCIO NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E46 Aqui também se encontra o apelo social: a regionalização permite a fixação do produtor em determinadas áreas. Além disso, lhe confere condições de pro- duzir seu produto da maneira mais adequada às características culturais e da região, não sendo preciso se adequar aos modelos impostos pelos sistemas con- vencionais. Assim, remete-se à questão da sustentabilidade. Em alguns países, tem-se percebido o surgimento de barreiras mercadoló- gicas decorrentes da regionalização. Empresas varejistas têm destacado o fato de venderem produtos da região ou do país onde estão localizadas, o que desen- volve no consumidor uma tendência a consumir tais produtos em detrimento daqueles vindos de outras regiões. Em alguns casos, a própria postura dos con- sumidores, como os franceses, por exemplo, já se encarrega de criar essa barreira aos produtos externos. Mas o Brasil também pode se aproveitar dessa tendência para o agronegó- cio. Primeiramente, pela introdução desses produtos no mercado interno (vinho do Sul, café de Minas etc.). Além disso, buscando a inserção de produtos com a “marca” do Brasil no mercado externo, como é feito no caso do café (selo “cafés do Brasil”). Por falar em selos, vamos para o último tópico desta unidade: as certificações. CERTIFICAÇÕES Também como forma de garantir aos consumidores a procedência, a qualidade e as formas de produção dos produtos consumidos, cada vez mais se tem feito uso de certificações no agronegócio. Tais certificações são geralmente represen- tadas por selos nos produtos e têm como objetivo garantir alguma característica em específico. O uso de selos nos produtos também é uma forma de agregação de valor, pois ao garantir alguma especificação, permite que o produto seja vendido a pre- ços mais altos que um similar sem certificação. Podemos inserir neste tópico também a rastreabilidade. Dadas as ocorrên- cias de contaminações em vários produtos alimentícios, como a “doença da vaca louca” e a “gripe aviária”, a rastreabilidade tem sido utilizada para garantir ao Tendências para o Agronegócio Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 47 consumidor um produto seguro e saudável, por meio de registro e controle em todas as etapas de produção, “do pasto ao prato”. Os selos servem para garantir ao consumidor algumas das característi- cas já discutidas anteriormente, como a agricultura orgânica e o comércio justo. Relacionada à regionalização, a certificação de “Denominação de Origem Controlada - DOC” tem sido utilizada para garantir a procedência geográfica de um produto. Tal selo é bastante utilizado para vinhos e queijos, principalmente na Europa. Para conseguir uma DOC, o produto deve ter características físicas, de produção e organolépticas que o associe ao meio geográfico no qual é pro- duzido. O quadro 3 mostra alguns exemplos de certificações. CERTIFICAÇÃO PRODUTOS CERTIFICADORA OBJETIVO Ecologicamente corretos Produtos florestais (madeira, papel e celulose e comés- ticos).FSC – Conselho de Manejo Florestal Garantir que os produ- tos são provenientes de florestas plantadas ou mata nativa de manejo controlado. Comércio Justo Diversos, tais como algodão, café, açú- car e chá. FLO – Fair Trade Labelling Atestar que o produto garantiu uma remune- ração adequada aos produtores rurais. Orgânicos Diversos produtos agropecuários (hor- taliças, frutas, carnes etc.). No Brasil, Instituto Biodinâmico – IBD Garante o cultivo sem uso de agroquímicos. Rastreabilidade Diversos produtos (carnes, frutas etc.). No Brasil, 56 em- presas autorizadas pelo MAPA Registrar o “caminho” percorrido pelo produ- to, desde a produção rural até chegar à mesa do consumidor. Denominação de origem con- trolada (DOC) Vários produtos, tais como vinhos, queijos e cafés. No Brasil, o Ins- tituto Nacional da Propriedade Industrial - INPI Garantir a procedên- cia geográfica de um produto, bem como as características de produção intrínsecas à região. Quadro 3: Exemplos de certificações no Brasil Fonte: O Estado de São Paulo, MAPA, IBD e INPI NOÇÕES GERAIS DE AGRONEGÓCIO E AGRONEGÓCIO NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E48 Mais uma vez, enfatiza-se a importância de coordenação entre os agentes da cadeia, pois, na maioria dos casos, vários elos são envolvidos na certificação de um produto. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao invés de se concluir com um simples apanhado geral do que foi escrito ante- riormente, a proposta é continuar o raciocínio, e levantar alguns pontos a serem pensados por você. Um tópico de “considerações finais”, mais do que concluir algo, deve levar o leitor a querer saber mais sobre o assunto. E isso é essencial para o aprendizado. Estudar o agronegócio envolve mais do que saber superficialmente sobre alguns produtos em destaque no mundo e no Brasil. Estudar o agronegócio significa saber que ele é composto de diferentes agentes econômicos, nas mais diversas atividades. É compreender as relações entre esses agentes. É entender que agentes externos podem influenciar o desempenho de uma cadeia. É saber que o que é verdade hoje, pode não ser amanhã, pois o mundo do agronegócio passa por grandes polêmicas e mudanças. É reconhecer a necessidade de coo- peração entre os agentes de uma cadeia, pois todos trabalham para um mesmo fim: vender o produto de forma competitiva. Você, como estudioso(a) do agronegócio, deve estar atento(a) ao seu panorama atual, mas também saber qual “a bola da vez” para o futuro. Independentemente do segmento ou do complexo que mais lhe interesse, a melhoria da competitivi- dade dos SAIs é sempre algo almejado. E tais melhorias nem sempre são obtidas por meio da solução de problemas técnicos. Muitas vezes, o melhor desempe- nho depende de relações mais eficientes entre os agentes. Assim, não se pode mais pensar em competição entre os agentes, e sim em competição entre cadeias: cadeias de diferentes lugares do mundo (cadeia do frango no Brasil e nos EUA disputando mercado entre si), e cadeias de diferentes produtos (cadeia do frango disputando mercado com a cadeia da carne bovina). Considerações Finais Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 49 Nesse sentido, mecanismos de coordenação entre agentes do agronegócio devem ser desenvolvidos. Deve-se buscar formas de se melhorar a relação entre eles, e de levar a cadeia ao seu melhor desempenho. É nesse sentido que mui- tos trabalham, por exemplo, com a Gestão da Cadeia de Suprimentos (Supply Chain Management) ou com estudo dos contratos dentro de cadeias produtivas. A partir desse ponto, você é o responsável por melhorar a competitividade do agronegócio nacional. Como uma “formiguinha”, você deve buscar aplicar seus conhecimentos e trazer melhores resultados para o seu “formigueiro” – seu país, sua empresa, a cadeia da qual ela faz parte, ou qualquer outro meio que deseje considerar. 51 1. Discorra sobre as diferenças e semelhanças entre cadeias de produção, sistemas agroindustriais e redes. 2. Esboce a cadeia produtiva para um produto do agronegócio. 3. Por que é importante estudar as relações entre os agentes de uma cadeia de produção? 4. Aponte alguns números que mostrem a importância do agronegócio para a eco- nomia brasileira. 5. Aponte alguns números e fatos que mostrem a importância do agronegócio brasileiro no contexto mundial, tanto como produtor como consumidor de pro- dutos do agronegócio. Agronegócio do Brasil NEVES, M. F. ZYLBERSZTAJN, D. NEVES, E. M Editora: Saraiva Sinopse: Para saber mais sobre o agronegócio brasileiro, leia o livro “Agronegócio do Brasil”, escrito por renomados profissionais da área. Fundamentos de Agronegócios Massilon J. Araújo. Editora: Atlas Sinopse: Outro livro importante para quem busca conceitos sobre agronegócio é “Fundamentos de Agronegócios” . Material Complementar 51 MATERIAL COMPLEMENTAR U N ID A D E II Professor Me. Jair Júnior Sanches Sabes GESTÃO E COMPETITIVIDADE EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAIS: CONCEITOS E DEFINIÇÕES Objetivos de Aprendizagem ■ Entender as definições conceituais dos principais níveis de análise existentes dentro da área do agronegócio. ■ Compreender as principais aplicações da noção de cadeia produtiva agroindustrial (CPA). ■ Entender a importância da gestão e competitividade para o êxito de um sistema de produção agroindustrial qualquer, independentemente de suas características ou especificidades. ■ Entender como está constituída a cadeia produtiva agroindustrial do amendoim e seus derivados no Brasil. ■ Entender como se pode analisar a competitividade de uma cadeia produtiva agroindustrial. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ Níveis de análise do sistema agroindustrial ■ Cadeias produtivas agroindustriais ■ Principais aplicações da noção de cadeia produtiva agroindustrial ■ Gerenciando com eficiência e eficácia em nível de sistema agroindustrial ■ Cadeia produtiva do amendoim e seus derivados: um exemplo de cadeia produtiva agroindustrial (CPA) ■ Noção de competitividade ■ Competitividade em nível de sistema agroindustrial ■ Analisando a competitividade em sistemas agroindustriais: procedimentos metodológicos INTRODUÇÃO Os termos gerenciamento e vantagem competitiva devem ultrapassar os limites da empresa e serem aplicados no âmbito do sistema de produção agroindustrial. Diante disto, buscando avançar nesse sentido, esta revisão de literatura apresenta um quadro teórico sobre gestão e competitividade em nível de sistemas agroin- dustriais. Na realidade, a correta aplicação dos conceitos dessas duas áreas pode garantir eficiência e eficácia na coordenação, assim como maior poder de com- petição do conjunto da cadeia agroindustrial. Nesta Unidade, faremos então uma revisão de literatura sobre gestão e com- petitividade em nível de sistemas agroindustriais. Aspectos importantes sobre gerenciamento e vantagem competitiva são apresentados como ferramentas importantes para o êxito de um sistema de produção agroindustrial. Prezado(a) acadêmico(a), a Unidade II também lhe proporcionará conhe- cer as principais aplicações da noção de cadeia produtiva agroindustrial (CPA), apresentando, para tanto, como está constituída a cadeia produtiva agroindus- trial do amendoim e seus derivados no Brasil. Para finalizar a Unidade, veremos as análises de competitividade conduzidasem nível de sistemas agroindustriais. RETOMANDO CONCEITOS DE AGRONEGÓCIO E COMMODITY SYSTEM APPROACH (CSA) Para dar continuidade aos nossos estudos, vamos retomar o conceito de agro- negócio, já discutido na Unidade I. De acordo com John Davis e Ray Goldberg, pesquisadores da Universidade de Harvard, o conceito de agronegócio (em inglês: agribusiness) pode ser definido da seguinte maneira: O agronegócio é a soma das operações de produção e distribuição de suprimentos agrícolas, das operações de produção nas unidades agrí- colas, do armazenamento, processamento e distribuição dos produtos agrícolas e itens produzidos a partir deles (DAVIS; GOLDBERG, 1957 apud BATALHA; SILVA, 2007, p. 5). Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 55 GESTÃO E COMPETITIVIDADE EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAIS: CONCEITOS E DEFINIÇÕES Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E56 Segundo Davis e Goldberg, a agricultura já não podia mais ser vista como um setor não conectado aos outros segmentos econômicos responsáveis pelas ativida- des que asseguram a produção, industrialização, distribuição e consumo de bens alimentícios. Esses estudiosos imaginavam a agricultura dentro de uma ampla rede de agentes econômicos que vão desde a produção de insumos, processa- mento, até a armazenagem e comercialização de produtos agrícolas e derivados (DAVIS; GOLDBERG, 1957 apud BATALHA; SILVA, 2007). Já a noção de commodity system approach (CSA) foi utilizada por Ray Goldberg, em 1968, para estudar o funcionamento dos sistemas produtivos da laranja, trigo e soja nos Estados Unidos da América. Essa aplicação acabou obtendo êxito devido à simplicidade e coerência do seu aparato teórico e ao ele- vado grau de acerto nas suas predições. Na verdade, Goldberg realizou um corte vertical na economia que teve como ponto de partida da análise uma matéria- -prima agrícola específica (trigo, soja e laranja). Todavia, é importante ressaltar que o conceito de commodity system approach (CSA) acaba renunciando o aporte teórico da matriz insumo--produto de Leontieff para utilizar conceitos e instrumentos analíticos da economia industrial – estrutura → conduta → desem- penho (GOLDBERG, 1968 apud BATALHA; SILVA, 2007, p. 6). NÍVEIS DE ANÁLISE DO SISTEMA AGROINDUSTRIAL As expressões sistema agroindustrial, complexo agroindustrial e agronegócio são costumeiramente confundidas e apresentadas como sinônimos em alguns textos da área agroindustrial. No entanto, elas representam espaços analíticos diferentes e servem a objetivos distintos. A definição conceitual de cada um desses níveis de análise do sistema agroindustrial pode ser vista logo abaixo (BATALHA; SCARPELLI, 2005, pp. 11-12; MALASSIS, 1979 apud BATALHA; SILVA, 2007, p. 10; BATALHA; SILVA, 2007, p. 14): ■ Sistema agroindustrial: os contornos de análise em cada situação devem ser determinados com base na descrição das matérias-primas, produtos e operações agroindustriais pertinentes, assim como o ambiente que os envolve. A utilização desse termo subentende a ideia de “conjuntos de Cadeias Produtivas Agroindustriais Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 57 componentes em contínua interação”, em que a conduta dos elementos pode originar respostas sinérgicas ou opostas, fazendo com que o todo res- ponda de modo inesperado no que tange ao comportamento previsto de suas partes. Portanto, esse nível de análise beneficia a resultante final das interações. Na verdade, a expressão sistema agroindustrial é mais gené- rica e menos específica do que cadeia ou complexo agroindustrial, bem como pode ser aplicada a qualquer recorte das atividades do agronegó- cio. Além disso, o sistema agroindustrial é fundamentalmente constituído por seis grupos de atores, são eles: agricultura, pecuária, pesca; indústrias agroalimentares; distribuição agrícola e alimentar; comércio internacio- nal; consumidor; indústrias e serviços de apoio. ■ Complexo agroindustrial: o espaço analítico estruturado com base no conjunto de todas as cadeias agroindustriais associadas aos produtos de uma matéria-prima agrícola de base (soja, milho, carne etc.) é chamado de complexo agroindustrial. Ele é mais amplo do que a cadeia produtiva agroindustrial ou cadeia agroindustrial. Geralmente, esse nível de aná- lise é usado para o estabelecimento de estratégias empresariais e políticas governamentais setoriais. ■ Agronegócio: o termo agronegócio segue o mesmo raciocínio da ter- minologia sistema agroindustrial, e somente pode ser utilizado caso seja classificado de forma apropriada. Enfim, o enfoque pode ser mais glo- bal ou mais específico: agronegócio brasileiro ou agronegócio do suco de laranja concentrado congelado. CADEIAS PRODUTIVAS AGROINDUSTRIAIS A cadeia produtiva diz respeito a uma série de operações técnicas responsáveis pelo processamento da matéria-prima em produto acabado, seguido da dis- tribuição e comercialização em uma sequência de atividades. Ela expressa um conjunto de ações econômicas que procura adicionar valor em cada etapa garan- tida pela sistematização das operações realizadas. A forma organizacional vista nas cadeias produtivas diverge por causa dos distintos padrões tecnológicos GESTÃO E COMPETITIVIDADE EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAIS: CONCEITOS E DEFINIÇÕES Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E58 adotados e noções organizacionais e gerenciais. Às vezes, essas diferenças não são identificadas com facilidade (PEREIRA; SOUZA; CÁRIO, 2009). Contudo, as transações características e a influência dos ambientes institu- cional, organizacional, tecnológico e competitivo tendem a ser comuns em todas as cadeias. Logo, as empresas, inseridas em cada segmento da cadeia, também têm o seu potencial competitivo subordinado ao ambiente, o que quer dizer que a fronteira da concorrência se amplia e as estratégias corporativas podem levar em conta as estratégias da cadeia e os diversos mercados pertinentes a ela (PEREIRA; SOUZA; CÁRIO, 2009). O estudo das cadeias produtivas procura compreender as relações horizontais (empresas do mesmo segmento) e verticais (empresas de segmentos diferentes), assim como as ligações e os fluxos de bens e informações. Além disso, a produ- ção flexível cada vez mais lança mão da logística, haja vista que a infraestrutura de transporte e comunicação torna-se essencial para aumentar a competitivi- dade (PEREIRA; SOUZA; CÁRIO, 2009). Geralmente, as cadeias produtivas agroindustriais apresentam a forma linear (vertical), e a partir de uma matéria-prima agrícola específica, passa a ser possí- vel a produção de um conjunto de produtos. No entanto, também pode ocorrer relação horizontal entre as empresas de um mesmo setor da cadeia (PEREIRA; SOUZA; CÁRIO, 2009). Segundo Farina e Zylbersztajn (1992, p. 191 apud PEREIRA; SOUZA; CÁRIO, 2009), “a cadeia produtiva pode ser definida como um recorte dentro do sistema agroindustrial mais amplo, privilegiando as rela- ções entre agropecuária, indústria de transformação e distribuição, em torno de um produto principal”. Nessa estrutura, quatro mercados com características dife- rentes, ao menos, podem ser identificados, quais sejam (BATALHA, 1995 apud PEREIRA; SOUZA; CÁRIO, 2009): mercado entre os produtores de insumo e os produtores rurais, mercado entre os produtores rurais e a agroindústria, mer- cado entre a agroindústria e os distribuidores ou outras agroindústriase, por fim, mercado entre os distribuidores e os consumidores finais. Com base nesses relacionamentos, e à medida que as cadeias produ- tivas manifestam relações econômicas e sociais em seus elos, admite-se a compreensão das alterações técnicas e organizacionais no sistema que exer- cem forte efeito a montante e a jusante do segmento central. No entanto, Cadeias Produtivas Agroindustriais Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 59 para conseguir a total competitividade do sistema produtivo, faz-se necessário um ambiente institucional organizado e indutor de governança e coor- denação em seus diversos setores (PEREIRA; SOUZA; CÁRIO, 2009). PRINCIPAIS APLICAÇÕES DA NOÇÃO DE CADEIA PRODUTIVA AGROINDUSTRIAL Yves Morvan (1988 apud BATALHA; SILVA, 2007, p. 21) determina um conjunto contendo as seis principais aplicações do termo cadeia de produção. São elas: ■ Metodologia de divisão setorial do sistema produtivo: esta abordagem usa instrumentação estatística para explanar a constituição dos segmentos dentro do sistema produtivo. Na verdade, a condição para a composição dos complexos é elementar: as cadeias produtivas inerentes a um com- plexo agroindustrial mantêm relacionamentos econômicos mais próximos do que as que não são ligadas a ele. ■ Ferramenta de análise e formulação de políticas públicas e privadas: este enfoque procura determinar os setores fracos de uma cadeia de pro- dução e estimulá-los a partir de uma política apropriada. Diante disto, uma cadeia produtiva agroindustrial bem-sucedida é consequência da boa organização de todos os seus membros. Desta forma, na determinação de políticas de desenvolvimento regional, uma das tarefas do especialista seria detectar os elos do sistema que sejam complementares aos ramos já estabelecidos no território e fomentar seu desenvolvimento por meio de mecanismos públicos. Enfim, a noção de cadeia de produção possibilita a visualização total do sistema, que mostra a relevância da articulação entre os atores privados, o estado e os anseios dos consumidores dos bens e serviços finais da cadeia. ■ Ferramenta de descrição técnico-econômica: a cadeia produtiva vista como uma sequência ordenada de operações técnicas é a definição concei- tual mais conhecida. Esta abordagem resume-se na descrição do complexo de meios responsável pela modificação da matéria-prima em produto semiacabado ou acabado. Deste modo, a cadeia de produção manifesta-se como uma série ordenada de operações técnicas produtivas. No entanto, GESTÃO E COMPETITIVIDADE EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAIS: CONCEITOS E DEFINIÇÕES Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E60 um método que complementa esta “análise técnica” é também conceber o conceito de cadeia de produção como instrumento de análise econômica. Sendo assim, também há o cuidado de estudar as transações comerciais realizadas entre os membros da cadeia. Na realidade, esses dois enfoques de cadeia de produção se complementam (GUIDAT, 1984; KLIEMANN NETO, 1985 apud BATALHA; SILVA, 2007, p. 22). Logo, o estudo da cadeia de produção deveria ocorrer em duas esferas: a esfera técnica e a esfera econômica. ■ Metodologia de análise da estratégia das firmas: os agentes que com- põem uma cadeia produtiva agem de modo a conseguir o lucro máximo de seus negócios, e simultaneamente procuram apossar-se da lucrativi- dade dos demais membros. Esta dinâmica ilustra a essência da estratégia empresarial. Logo, “a definição de uma estratégia em face da concorrên- cia tem por objetivo posicionar a firma na melhor situação possível para se defender contra as forças da concorrência ou transformá-las a seu favor” (BATALHA; SILVA, 2007, p. 23). A ligação da empresa com o seu ambiente concorrencial é uma pré-condição para definir uma estratégia. Certamente, esta é uma das forças do enfoque analítico de cadeia de pro- dução que procura examinar relacionamentos tanto de ordem tecnológica quanto de ordem econômica. Com base na lógica mesoanalítica é possível justificar o processo de diversificação por meio de estratégias apoiadas na noção de cadeia produtiva (KOULYTCHIZKY, 1985; LORENZI; TRUEL, 1981 apud BATALHA; SILVA, 2007, p. 24). Na verdade, este enfoque leva em conta as inter-relações imediatas entre os atores e o conjunto de liga- ções que estabelecem o sistema. Esta abordagem mostra com clareza as sinergias tecnológicas e econômicas entre os diversos segmentos da cadeia. Nesse caso, a estratégia de diversificação de uma firma pode nortear-se conforme dois critérios distintos: diversificação dentro dos setores liga- dos às atividades existentes e diversificação via penetração em uma cadeia de produção na qual a empresa está ausente (BATALHA; SILVA, 2007). ■ Ferramenta de análise das inovações tecnológicas e apoio à tomada de decisão tecnológica: o estudo das inovações tecnológicas guia-se de acordo com duas direções diferentes. A primeira dá ênfase para os estudos empíricos e se fundamenta na apreciação de vários “fatos” para sugerir uma generalização de métodos e resultados com base nestas apreciações. A segunda, com um quadro teórico mais preciso, firma-se na explicação do esboço conceitual, no estudo detalhado do Cadeias Produtivas Agroindustriais Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 61 processo inovativo e na valorização da tecnologia como forma de vanta- gem competitiva. Este último enfoque oferece um esquema teórico global que procura agrupar as análises que unem os métodos de gestão à tecno- logia. Este esquema teórico é essencialmente representado pelos estudos de Joseph Schumpeter e de outros estudiosos que buscaram explicar de modo sensato os procedimentos ligados aos processos de inovação tec- nológica (SCHUMPETER, 1943; SCHUMPETER, 1939; SCHUMPETER, 1934; FREEMAN, 1982; TIRALAP, 1990; NELSON; WINTER, 1982; DOSI, 1982 apud BATALHA; SILVA, 2007, p. 27). O conceito de cadeia produtiva é usado por diversos estudiosos para examinar o processo de inovação tecnológica. A inovação tecnológica pode ser visualizada como algo capaz de ativar a competição na cadeia de produção (GARROUSTE, 1984; BATALHA, 1993; FLORIOT; OVERNEY, 1986 apud BATALHA; SILVA, 2007, p. 27). Na realidade, a noção de cadeia de produção enqua- dra-se perfeitamente como instrumento de análise para apresentar as perturbações geradas tanto a montante quanto a jusante da inovação tecnológica inicial. Nesse caso, ele busca avaliar os efeitos da inovação na cadeia produtiva demarcada como espaço de análise inicial (análise vertical), assim como as consequências junto às demais cadeias de pro- dução interligadas a ela, usando, desta forma, a ideia de “operações-nó”. Entretanto, a maioria das inovações tecnológicas da cadeia agroindustrial é concebida por firmas (fabricantes de sementes, defensivos agropecuá- rios, nutrição animal, máquinas e equipamentos agrícolas, embalagens, máquinas e equipamentos agroindustriais, aditivos, softwares e hardwares etc.) que não estão imediatamente envolvidas com o fluxo de processa- mento da matéria-prima agrícola em produto final. Assim sendo, estudos empíricos, a respeito das inovações tecnológicas na área agroindustrial, devem focalizar os agentes pertencentes às indústrias de suporte. ■ Ferramenta de análise de competitividade: no agronegócio, há uma série de peculiaridades que concebe um espaço analítico distinto dos aceitos em estudos de competitividade. Ele é chamado de cadeia produtiva agroindus- trial.Na perspectiva de cadeia de produção, a área de análise é delimitada mediante um corte vertical no sistema econômico. Na verdade, o desem- penho competitivo de uma cadeia agroindustrial não é produto do mero somatório da competitividade de cada uma das firmas que a compõem. Diante disto, há vantagens do conceito de coordenação que devem ser levadas em conta na análise de competitividade da cadeia produtiva como GESTÃO E COMPETITIVIDADE EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAIS: CONCEITOS E DEFINIÇÕES Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E62 um todo. Enfim, qualquer abordagem teórico-metodológica apropriada para analisar o potencial competitivo de sistemas produtivos do agrone- gócio considera os possíveis benefícios de uma eficiente coordenação. GERENCIANDO COM EFICIÊNCIA E EFICÁCIA EM NÍVEL DE SISTEMA AGROINDUSTRIAL O gerenciamento do sistema agroindustrial deve ser orientado pelos concei- tos de eficiência e eficácia. Na verdade, a eficácia do sistema pode significar a competência que ele tem para atender os anseios e desejos do consumidor final. Por isso, é fundamental que os membros que o constituem tenham noção sobre os atributos de qualidade que os consumidores procuram nos bens e serviços ofertados pelo sistema. Diante disto, a pesquisa de mercado vem a ser uma fer- ramenta poderosa para mapear as características dos produtos e serviços mais valorizados pelos consumidores do sistema produtivo (BATALHA; SILVA, 2007). No entanto, o equilíbrio de um sistema agroindustrial não é apenas obtido mediante a oferta de bens e serviços que respondam às necessidades dos con- sumidores. Além disso, ele também deve ser dotado de eficiência. Esta pode ser vista como a consequência de dois diferentes conjuntos de fatores. O primeiro deles refere-se à administração interna das empresas que consistem o arranjo produtivo. Na realidade, ele tem que possuir a capacidade de disponibilizar uma variedade de ofertas que tenha tanto qualidade quanto preço competitivo. Contudo, para atingir estes objetivos, é crucial que os agentes econômicos do sis- tema apliquem práticas de gestão modernas e adaptadas para os seus negócios. Enfim, as funções gerenciais dessas firmas devem ser administradas de maneira eficiente (BATALHA; SILVA, 2007). A segunda área de interferência de atuações gerenciais que conduzam à efi- ciência do sistema refere-se às transações comerciais realizadas entre os seus componentes. Todavia, a sua eficiência depende de uma orquestração adequada das ações efetuadas por seus membros. Segundo Batalha e Silva (2007, p. 39), Gerenciando com Eficiência e Eficácia em Nível de Sistema Agroindustrial Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 63 a literatura que versa sobre gestão agroindustrial enfatiza a relevância dos pro- cessos de coordenação no êxito dos agentes produtivos do sistema. De modo gradual, a competição vai migrando de uma concorrência entre empresas para uma concorrência entre sistemas produtivos (BATALHA; SILVA, 2007). Portanto, o grande desafio é conseguir uma gestão eficiente tanto no âmbito da firma individual quanto no âmbito do sistema. O nível de competitividade das unidades socioeconômicas de produção (USEPs) do sistema agroindustrial vai estar relacionado, em grande medida, com a habilidade de articulação entre elas para estruturar um sistema produtivo desenvolvido e competitivo. Contudo, cabe destacar que todos esses condicionantes para atingir padrões de eficiên- cia (coordenação e eficiência interna dos agentes) e eficácia (atendimento das necessidades do consumidor) satisfatórios se desenvolvem em um ambiente mais abrangente que envolve aspectos políticos, legais, culturais, tecnológicos, sociais e econômicos. Na verdade, estes fatores podem revelar ameaças e opor- tunidades importantes para os objetivos dos sistemas (BATALHA; SILVA, 2007). CADEIA PRODUTIVA DO AMENDOIM E SEUS DERIVADOS: UM EXEMPLO DE CADEIA PRODUTIVA AGROINDUSTRIAL (CPA) A cadeia produtiva agroindustrial (CPA) do amendoim é configurada pelos seguintes agentes econômicos: indústria de insumos/serviços ▶ produção agrí- cola ▶ indústria processadora ▶ distribuição (atacado e varejo) ▶ consumidor final (Figura 6)1. 1 O valor movimentado pela cadeia produtiva agroindustrial do amendoim e seus derivados no Brasil, no ano de 2005, pode ser considerado um tanto quanto significativo haja vista que foi da ordem de R$ 1,6 bilhão. A indústria transformadora do amendoim produziu algo próximo de 127 mil toneladas de produtos derivados da oleaginosa, como, por exemplo: paçoca, pé de moleque, pasta/manteiga de amendoim etc. (ZEPPER, 2006). GESTÃO E COMPETITIVIDADE EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAIS: CONCEITOS E DEFINIÇÕES Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E64 Figura 6: Cadeia produtiva agroindustrial (CPA) do amendoim e seus derivados Fonte: elaborado e adaptado por Sabes (2007), com base em Zylbersztajn (1995) O segmento de produção de insumos/serviços é muito importante, pois o sucesso da cadeia produtiva agroindustrial do amendoim depende de tecnologia que propicie um cultivar de amendoim (ou uma variedade de amendoim) que tenha boa produtividade e qualidade. No entanto, esse setor não tem dirigido esforços de pesquisa e desenvolvimento (P&D) para a geração de inovação tecnoló- gica (insumos/serviços inovadores) no agronegócio do amendoim do Brasil (MACHADO, 2006). O processamento dessa commodity agrícola está dividido em dois estágios: processamento primário; e processamento secundário. O processamento primário Gerenciando com Eficiência e Eficácia em Nível de Sistema Agroindustrial Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 65 compreende tarefas de limpeza e secagem do produto. Esse estágio é, basicamente, implementado pelos seguintes atores: atacadistas, cooperativas agrícolas/agroin- dustriais e empresários rurais. Quanto ao processamento secundário, o mesmo é executado pela indústria agroalimentar que utiliza o amendoim como maté- ria-prima (MP) no processo de fabricação dos seguintes produtos: amendoim salgado; doces; confeitos; pasta/creme de amendoim; amendoim in natura etc. (Quadro 2) (MACHADO, 2006). CATEGORIAS DE PRODUTOS CONFEITOS DE AMENDOIM SNACKS DE AMENDOIM (CONDIMENTADO) DOCES DE AMENDOIM OUTROS TIPOS Tipos de produtos à base de amendoim amendoim colorido; amendoim tipo japonês; paçoca; crocantes granulados de amendoim; amendoim de chocolate; amendoim frito com pele; paçoca rolha; pasta de amen- doim torrado; amendoim branco. amendoim frito sem pele; pé-de-moleque; recheio cremo- so de amen- doim; amendoim salgado tempe- rado; doce de amendoim gibi. amendoim cru (in natura). amendoim torrado com casca; amendoim torrado bijú; salgadinho de amendoim; ovinhos de amendoim; amendoim doce pralinê. Quadro 2: Produtos industrializados à base de amendoi Fonte: elaborado e adaptado por Sabes (2007), com base em Machado (2006) GESTÃO E COMPETITIVIDADE EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAIS: CONCEITOS E DEFINIÇÕES Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E66 Saindo da indústria de alimentos, a produção segue em direção a dois destinos: atacado e intermediário (leia-se empacotador). Os produtos são distribuídos ao mercado atacadista, quando o mercado édoméstico, que o redistribui ao mercado varejista, onde ficam, prontamente, disponibilizados para a venda ao consumidor final nas inúmeras modalidades de equipamentos de varejo (leia-se supermercado, padaria, mercearia, doceiro, vendedor ambulante etc.). O agente econômico denominado empacotador executa o seguinte papel nessa cadeia pro- dutiva, adquire a produção de várias micro e pequenas empresas (MPEs), que mantêm seus empreendimentos econômicos instalados em localidades rurais, embalando-as, novamente, sob uma grife diferente (marca própria do empaco- tador), em porções diferentes. Depois, esses produtos seguem direto ao varejo, em um raio de operação com limites restritos (MACHADO, 2006). O consumidor final é um ator econômico, extremamente importante e ativo da cadeia produtiva agroindustrial (CPA) do amendoim. Alguns estudiosos e pesquisadores pontuam a sazonalidade (leia-se oscilação) de preços, a ausência de contratos e os comportamentos oportunistas como os principais desafios à competitividade da CPA do amendoim (FARIA JR., 2001; FREITAS; AMARAL, 2002; MARCELINO et al., 2003). Outro desafio para a competitividade da cadeia produtiva agroindustrial (CPA) do amendoim é o baixo nível tecnológico empregado na sua produção agrícola. Isso gera problemas ligados à segurança do ali- mento (food safety). Por exemplo, a contaminação por aflatoxina impede o consumo do amendoim nas formas in natura e processada. Tais fatores e aspectos denigrem e corroem a reputação dos agentes econômicos inseridos na cadeia agroindustrial do amendoim e seus derivados (MACHADO, 2006). A conjunção desses desafios e fatores somados a uma forte concorrência pressionam de modo significativo a indústria do amendoim e seus derivados, que se mantém em atividade, basicamente, devido à venda de produtos com perfil mais popular, sendo que a venda desses produtos populares está, principalmente, concentrada nas zonas periféricas dos grandes centros urbanos brasileiros. No entanto, os atores que compõem o mercado do Noção de Competitividade Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 67 amendoim e seus derivados já visualizaram uma janela de negócios para o setor, os mesmos buscarão explorar e atender um mercado consumidor diferenciado do autosserviço (MACHADO, 2006). Por isso, o segmento industrial da cadeia produtiva agroindustrial do amen- doim tem investindo no layout e no design das embalagens dos produtos. Tal linha de produtos presenciou um declínio no volume de transações comer- ciais, alguns dos motivos é a acirrada competição com outros tipos de produtos que apresentam preços competitivos, bem como a falta de um planejamento de marketing com perfil mais ofensivo, que contemple o desenvolvimento de ino- vações e o pronto atendimento dos desejos e dos anseios do consumidor final (SALGUEIRO, 2005). Atualmente, empresas que não se relacionam diretamente com seus mercados consumidores e fornecedor, têm amargado desempenhos insatisfatórios (SOBRINHO; PRADO, 1999). NOÇÃO DE COMPETITIVIDADE O conceito de competitividade pode ser entendido pelo “desempenho” de uma empresa ou um produto. Nesta vertente, os resultados dos exercícios analíticos apresentam a forma de uma competitividade revelada. O principal indicador de competitividade revelada está relacionado com o grau de lucratividade refe- rente à participação de mercado (market share) de uma empresa ou um produto (FERRAZ; KUPFER; HAGUENAUER, 1996 apud BATALHA; SOUZA FILHO, 2009). A medida de competitividade denominada market share é considerada a contribuição mais útil da teoria econômica neoclássica para a área de competi- tividade. De acordo com este enfoque, o mercado pode confirmar e regular as decisões estratégicas tomadas pelos agentes econômicos. Além disso, a participa- ção das exportações de uma indústria no mercado mundial pode ser apresentada como um indicador de competitividade internacional. Neste caso, a competi- tividade acaba sendo o resultado da competitividade individual dos agentes de GESTÃO E COMPETITIVIDADE EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAIS: CONCEITOS E DEFINIÇÕES Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E68 uma nação, região ou indústria (FERRAZ; KUPFER; HAGUENAUER, 1996 apud BATALHA; SOUZA FILHO, 2009). Por outro lado, a competitividade também é compreendida como “eficiência”, deste modo, trata-se de mensurar a competitividade potencial de uma indústria ou uma empresa. Esta medida de desempenho competitivo pode ser realizada por meio da determinação das alternativas estratégicas adotadas pelos agentes econô- micos diante de suas restrições (gerencial, financeira, tecnológica, organizacional etc.). Desta forma, pode haver uma relação causal entre a conduta estratégica da empresa e o seu desempenho eficiente. Logo, esta forma de análise está relacio- nada ao modelo da organização industrial (estrutura → conduta → desempenho). Geralmente, os conceitos originados da organização industrial são utilizados em grande medida para realizar análises de competitividade (FERRAZ; KUPFER; HAGUENAUER, 1996 apud BATALHA; SOUZA FILHO, 2009). COMPETITIVIDADE EM NÍVEL DE SISTEMA AGROINDUSTRIAL As análises de competitividade conduzidas em nível de sistemas agroindus- triais geralmente consideram os ganhos virtuais de um gerenciamento eficiente e eficaz, por conseguinte, as metodologias analíticas precisam tomar como refe- rência o enfoque sistêmico de produto (Commodity Systems Approach – CSA). Segundo Staatz (1997), o enfoque sistêmico de produto é orientado por cinco definições-chave: ■ Verticalidade: significa que as condições em um estágio são provavel- mente influenciadas pelas condições em outras etapas do sistema. Vídeo Mercado & Cia de 19/09/12 - Reportagem sobre Competitividade do mercado de grãos. Confira a reportagem sobre Competitividade do mercado de grãos, em uma fazenda no município de Illinois, nos EUA. Essa reportagem foi produzida pela equipe do programa Mercado & Cia 2ª Edição, com apresentação de João Batista Olivi. Ao término do vídeo você vai entender como a infraestrutura das fazendas trazem diferencial de competitividade para o agronegócio norte-americano. <http://www.youtube.com/watch?v=JMXaxkiknIo>. Noção de Competitividade Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 69 ■ Orientação por demanda: significa que a demanda gera informações que determinam os fluxos de produtos e serviços ao longo do sistema. ■ Coordenação dentro dos canais: significa os relacionamentos de natu- reza vertical que ocorrem nos canais de comercialização, aqui pode ser incluído o estudo dos tipos alternativos de comercialização (contratos, mercado aberto etc.). ■ Competição entre os canais: significa que um sistema pode englobar mais de um canal (exportação e mercado doméstico), restando à análise sistêmica de produto buscar compreender a competição entre os canais e apreciar como alguns canais podem ser criados ou alterados para incre- mentar o desempenho. ■ Alavancagem: significa que a análise sistêmica procura detectar pon- tos-chave na sequência produção-consumo onde ações e esforços colaborativos podem contribuir para uma melhor eficiência dos parti- cipantes da cadeia. A característica essencial do enfoque sistêmico é que o sistema não se constitui na mera soma das partes de um todo. Nesse enfoque, as propriedades relacionais não são meramente reduzidas a propriedades atomísticas. O sistema agroin- dustrial é formatadoa partir de interações padronizadas entre os vários agentes socioeconômicos das cadeias agroindustriais e não simplesmente da agregação de propriedades desses componentes. Em suma, o enfoque sistêmico de produto oferece a estrutura teórica necessária para compreender o funcionamento da cadeia e sugere as variáveis que influenciam o desempenho do sistema (SILVA; BATALHA, 1999). A competitividade em nível do sistema agroindustrial não depende somente de identificar a competitividade em cada um dos segmentos que a compõem. Quanto mais adequada for a coordenação entre os distintos membros-chave do sistema, menores tenderão a ser os custos de cada um deles, mais rápida será a adequação às alterações de ambiente e menos dispendiosos serão os conflitos pertinentes aos relacionamentos cliente-fornecedor (FARINA, 1999). Deste modo, a análise da competitividade agroindustrial deve levar em conta a inserção das firmas nas respectivas cadeias agroindustriais, em termos de enca- deamento entre criação, pulverização e apropriação de tecnologias inovadoras, GESTÃO E COMPETITIVIDADE EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAIS: CONCEITOS E DEFINIÇÕES Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E70 complementaridade de mercado e geração de postos de trabalho. A capacidade de sistematizar configurações hierárquicas eficientes e eficazes, associada aos arranjos institucionais e organizacionais, é característica elementar no estabeleci- mento da competitividade de uma determinada cadeia agroindustrial (FARINA; ZYLBERSZTAJN, 1994). A competitividade de um sistema resulta da conjunção de diversos fato- res. Tais fatores são chamados direcionadores de competitividade. Logo, para realizar a análise da competitividade de uma cadeia, é necessário detectar esses direcionadores e avaliar de que modo eles contribuem, positivamente ou nega- tivamente, com a situação verificada (SILVA; SOUZA FILHO, 2007). Silva e Souza Filho (2007) identificaram seis direcionadores de compe- titividade que impactam de forma significativa o desempenho de cadeias agroindustriais. Eles são os seguintes, a saber: ■ Ambiente macroeconômico: o ambiente macroeconômico consiste de políticas, instituições e serviços de apoio sobre os quais as empresas ou as cadeias produtivas são criadas e operadas. O ambiente macroeconômico é importante para o desempenho de uma cadeia produtiva e sua relevância varia de acordo com a empresa ou a cadeia que está sob estudo ou análise. ■ Tecnologia: tecnologias relacionadas à produção, ao processamento e à distribuição de produtos agrícolas são fatores determinantes de competi- tividade. A falta de acesso a essas tecnologias pode se tornar uma barreira à competitividade, isto é, pode impactar de maneira negativa o desempe- nho de uma cadeia produtiva. ■ Estrutura de mercado: o exame da estrutura de mercado pode revelar a existência de mercados competitivos ou concentrados. Existe uma forte correlação entre a estrutura de mercado e o desempenho das empresas (ou cadeias produtivas). Para alguns, os mercados em que a concorrência é preservada incentivam constantemente a busca por inovação e melhoria de desempenho, o que influencia de modo positivo a competitividade das empresas ou das cadeias produtivas. Para outros, a concentração de mer- cado permite economias de escala e aplicações em tecnologia, logística, administração e outros determinantes da competitividade dos agentes econômicos. Destarte, a análise da estrutura do mercado não precisa levar em conta Noção de Competitividade Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 71 somente os típicos indicadores quantitativos, tais como índices de concen- tração de mercado, mas também indicadores qualitativos, como questões relativas à existência de barreiras à entrada ou à distribuição do poder entre as empresas ou atores da cadeia. A concorrência e a governança entre membros de uma cadeia produtiva, ou mesmo entre cadeias produ- tivas distintas, verticalmente ou horizontalmente, influenciam os preços, as economias de escala, a eficiência das operações produtivas, a adoção e a difusão de inovações tecnológicas. ■ Coordenação e relações de mercado: a coordenação refere-se à harmo- nização dos fluxos de produtos, de recursos financeiros e de informação ao longo das cadeias produtivas. Uma gestão adequada facilita o pla- nejamento e a sincronização de tais fluxos, além da interação entre os diferentes níveis de uma cadeia, fomentando dessa forma a eficiência e eficácia de caráter organizacional. Isso tende a implicar em custos mais baixos e em um melhor feedback às demandas dos consumidores, o que beneficia, positivamente, a competitividade. A coordenação também é impactada por governos e organizações que podem determinar ou influenciar na determinação de políticas públi- cas e privadas que disciplinam a dinâmica de funcionamento da cadeia. A avaliação da coordenação pode se fundamentar nos mecanismos de transação entre os componentes da cadeia em estudo e no sucesso (ou insucesso) desses mecanismos fomentarem a orquestração da cadeia. ■ Gestão das firmas: a capacidade das empresas para alocar eficientemente os recursos para investir, responder aos anseios e desejos dos consumi- dores e adequar--se às alterações do mercado se deve prioritariamente ao desempenho gerencial. Bons procedimentos de gestão permitem às empre- sas monitorar a produção e os processos financeiros, detectar gargalos no processo, tomar decisões abaixo dos riscos e incertezas, arquitetar estra- tégias de longo prazo, ter acesso a mercados, reduzir custos etc. A maior parte do ferramental gerencial é bem conhecida, porém, não é possível fazer generalização da utilização para qualquer cadeia. Exis- tem especificidades que necessitam ser respeitadas. Esse fator, o custo relativamente elevado e a “tradição familiar” costumeiramente tendem a impedir um uso mais disseminado das ferramentas e práticas de ges- tão, em especial por parte de pequenas e médias empresas, o que impacta negativamente a competitividade das mesmas e, consequentemente, a GESTÃO E COMPETITIVIDADE EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAIS: CONCEITOS E DEFINIÇÕES Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E72 competitividade das cadeias produtivas às quais pertencem. ■ Insumos: a disponibilidade e os custos dos principais fatores de produção (mão de obra, defensivos, suplementos, fertilizantes etc.), nos diferentes elos de uma cadeia, impactam de forma direta o seu desempenho. Baixo custo, em função da larga oferta de insumos e recursos de qualidade, pode ser visto como uma vantagem competitiva de uma cadeia produtiva. Nesse caso, pode-se apreciar a estabilidade do suprimento dos principais insu- mos consumidos pela cadeia em análise. Contudo, torna-se necessário fazer algumas considerações a respeito dos direcio- nadores de competitividade, ressaltando que eles não são variáveis definidas de maneira precisa. Na verdade, eles assumem a forma de “dimensões” (ambiente macroeconômico, tecnologia, estrutura de mercado, coordenação e relações de mercado, gestão das firmas e insumos), que envolvem a competitividade de uma cadeia agroindustrial. Futuramente, tais dimensões poderão ser desdobradas em níveis – dimensão (ou meta-variável) → parâmetros → elementos – que permi- tam listar, com confiabilidade, as variáveis que influenciam a competitividade de uma cadeia agroindustrial – isso poderá contribuir com o aperfeiçoamento dos estudos e pesquisas da área de gestão de sistemas agroindustriais. ANALISANDO A COMPETITIVIDADE EM SISTEMASAGROINDUSTRIAIS: PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS A análise da competitividade de arranjos agroindustriais utiliza informações secundárias, obtidas junto a órgãos do governo, institutos de pesquisa, bancos de dados de empresas privadas e associações de classe, bancos de dados de dis- sertações e teses de instituições de ensino superior, além de dados primários obtidos por meio da aplicação de questionários semiestruturados junto a agen- tes-chave de uma cadeia agroindustrial. O rapid rural appraisal é um enfoque metodológico que tem sido amplamente utilizado em análises de sistemas agroindustriais. Tal enfoque metodológico é um tanto quanto pragmático e utiliza, de forma combinada, métodos de coleta de informações convencionais, no qual o rigor estatístico é flexibilizado em favor Noção de Competitividade Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 73 da eficiência operacional. Ademais, essa abordagem metodológica gera rapi- damente uma documentação que visa apreciar os aspectos mais importantes a considerar (FAO, 1997). O rapid rural appraisal caracteriza-se por três elementos principais (SOUZA FILHO; BUAINAIN; GUANZIROLLI, 2007): ■ O uso maximizado de informações de fontes secundárias. ■ A condução de entrevistas informais e semiestruturadas com atores-chave da cadeia em análise. ■ A observação direta dos estágios que a compõem. A metodologia é iniciada a partir de detalhada busca de informações já dispo- nibilizadas no formato de fontes secundárias. Sendo assim, existe a necessidade de acesso a anuários estatísticos, a estudos e pesquisas anteriores, a artigos acadêmicos, a artigos de imprensa, a relatórios governamentais, a análises de associações de classe, de organismos internacionais e outras fontes. Informações gerais de natureza quantitativa e qualitativa também são obtidas, o que permite um pré-diagnóstico do sistema produtivo logo nas fases iniciais da análise. O pré-diagnóstico pode revelar eventuais lacunas de informações, que são preen- chidas por meio de coleta primária (SILVA; SOUZA FILHO, 2007). Além disso, a identificação dos principais agentes vem a ser uma atividade muito importante no desenvolvimento da análise da competitividade, haja vista que os mesmos podem auxiliar na compreensão da dinâmica competitiva da cadeia e, dessa forma, fornecer informações valiosas para o estudo. Este conjunto de atores é constituído por agentes econômicos privados e públicos. Fazem parte deste conjunto: fornecedores de insumos, produtores, empresas processadoras, bem como outras instituições e/ou indivíduos que atuam na cadeia. Esses agen- tes são identificados para a condução de entrevistas semiestruturadas (SOUZA FILHO; BUAINAIN; GUANZIROLLI, 2007). Com base nas atividades precedentes, torna-se possível a definição de rotei- ros de entrevista e os agentes a serem entrevistados. É importante ressaltar que são elaborados diferentes roteiros de entrevista e que estes devem estar alinha- dos ao perfil do entrevistado e/ou segmento da cadeia agroindustrial no qual ele está inserido. O arranjo de informações deve servir de orientação, pois ele GESTÃO E COMPETITIVIDADE EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAIS: CONCEITOS E DEFINIÇÕES Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E74 indica o conjunto de informações que não são obtidas em fontes secundárias e, por conseguinte, devem ser conseguidas a partir de entrevistas. Os guias de entrevista dão uma atenção especial na consideração da natureza estratégica de algumas informações, devendo o entrevistador ter a autonomia para dialogar sobre temas pertinentes que não foram inicialmente considerados nos roteiros (SOUZA FILHO; BUAINAIN; GUANZIROLLI, 2007). A pesquisa de campo busca coletar informações acerca da realidade da cadeia analisada. Para a operacionalização da pesquisa de campo, são utilizados os guias de entrevista mencionados anteriormente. Nos trabalhos de pesquisa de campo, durante a condução de entrevistas, podem ser observados in loco as operações (técnicas, logísticas, comerciais) e fluxos (insumos, produtos, infor- mações) característicos da cadeia agroindustrial estudada. Estes exames, além de possibilitarem a implementação de um trabalho de “sintonia fina” das informa- ções obtidas por meio de entrevistas, possibilitam a melhoria do conhecimento sobre a dinâmica de funcionamento da cadeia estudada, o que resulta em análi- ses de melhor qualidade (SOUZA FILHO; BUAINAIN; GUANZIROLLI, 2007). Em seguida, utiliza-se o método de análise denominado SWOT (em inglês: strengths, weaknesses, opportunities and threats; em português: forças, fraque- zas, oportunidades e ameaças) com a intenção de detectar os pontos fortes e fracos da cadeia agroindustrial sob análise. O método analítico SWOT é útil no que diz respeito à identificação de fatores que afetam sobremaneira a competiti- vidade da cadeia agroindustrial (SILVA; SOUZA FILHO, 2007). Para Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), a análise SWOT refere-se ao processo de avaliação dos pontos fortes e fracos de um determinado negócio (leia-se: empresa, cadeia produtiva etc.) à luz das oportunidades e ameaças existentes em seu ambiente. Desta forma, iniciando pela identificação e análise dos indicadores de compe- titividade, torna-se possível nomear os pontos fortes e fracos, hierarquizando-os de acordo com o seu poder de influenciar a competitividade de uma cadeia agroindustrial. O rol de pontos fortes e fracos, bem como a sua hierarquiza- ção, deve ser validado próximo aos principais membros da cadeia em questão. Posteriormente, uma matriz SWOT é desenvolvida, aferindo cada ponto forte e fraco com a oportunidade que deva haver no mercado mundial. Ademais, apre- senta-se um quadro de políticas governamentais e estratégias privadas com foco Considerações Finais Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 75 no aumento da competitividade da cadeia agroindustrial. Cada proposta de inter- venção é formulada com o intento de reduzir os pontos fracos significantes e/ou para suplantar ainda mais os pontos fortes, buscando sempre apontar propos- tas de intervenção que determinem o que pode ser feito em termos de políticas públicas e estratégias privadas (SILVA; SOUZA FILHO, 2007). CONSIDERAÇÕES FINAIS O mercado mundial torna-se cada vez mais concorrido, deste modo, a dinâmica de funcionamento do atual contexto acaba condicionando à qual direção devem seguir os agentes econômicos que participam de uma dada cadeia de produção agroindustrial. Desta forma, torna-se fundamental iniciar um processo de indu- ção que possa conduzir os agentes da cadeia produtiva a alcançar maior grau de competitividade, sendo esta aperfeiçoada constantemente a partir do aprimo- ramento das dimensões gerencial, econômica e tecnológica. Logo, o sistema agroindustrial que não se alinhar a esse novo contexto que influencia intensa e diretamente na maneira de produzir e distribuir da cadeia de produção, poderá correr o risco de ser penalizado pelo mercado consumi- dor doméstico e internacional. Além disso, perderá a chance de explorar novas oportunidades comerciais vantajosas. Diante disto, nos últimos anos, os atores têm buscado alternativas e implementado ações articuladas com o objetivo de incrementar de modo sustentável a coordenação e a competitividade do con- junto do sistema. Portanto, a adoção de conceitos e métodos de gestão modernos e a aplica- ção de metodologias de análise que avaliam o nível de competitividade vêm aser imperativas para identificar as forças e fraquezas, bem como para poder estabe- lecer um quadro de políticas governamentais e estratégias privadas no formato de uma agenda que leve de fato ao aumento do desempenho competitivo de toda a cadeia produtiva agroindustrial. 77 1. Como pode ser definida uma cadeia produtiva agroindustrial (CPA)? 2. Como a noção de cadeia produtiva agroindustrial (CPA) pode ser empregada para estudar ou analisar a competitividade no agronegócio? 3. Qual é a relevância da gestão na manutenção e no aumento da competitividade de uma cadeia de produção agroindustrial qualquer? Cadeias Produtivas e o Desenvolvimento Endógeno - Casos do Noroeste Gaúcho Argemiro Luis Brum Editora: UNIJUI Material Complementar 77 MATERIAL COMPLEMENTAR U N ID A D E III Professora Me. Ariane Maria Machado de Oliveira A ECONOMIA BRASILEIRA E O SETOR AGRÍCOLA Objetivos de Aprendizagem ■ Apresentar uma revisão histórica sobre a economia brasileira agroexportadora. ■ Analisar as transformações ocorridas no cenário rural brasileiro ao longo do século XX. ■ Abordar alguns reflexos que as transformações demográficas entre o campo e a cidade causaram na Agricultura. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ A economia agroexportadora e as transformações do meio rural ■ Características da economia cafeeira ■ Contexto histórico das transformações do meio rural e seus reflexos diretos no setor agrícola INTRODUÇÃO Olá, caro(a) aluno(a)! Nesta unidade você estudará um assunto muito interessante que contribuirá para sua compreensão sobre o panorama atual do setor agrícola brasileiro. O objetivo da presente unidade é analisarmos o cenário da economia brasileira ao século XV até os anos 1930, enquanto a economia brasileira era agroexportadora, enfatizando características do setor cafeeiro, que se destacava. Veremos também ao longo desta Unidade algumas estatísticas do século XX publicadas pelo IBGE, indicando que o Brasil iniciou o século com uma econo- mia agrário-exportadora recém--saída de um regime escravista de trabalho, e se transformou em uma economia industrial apoiada no trabalho assalariado e com um significativo grau de urbanização. Devemos levar em consideração, ao estudarmos esta Unidade, alguns fatores de destaque na história econômica do Brasil. No começo do século XX, a ocu- pação das terras no Brasil não formava propriamente um sistema econômico, pois as conexões comerciais entre as regiões eram difíceis, como por exemplo, as ligações entre o Norte e o Nordeste com o Centro-Sul que dependiam de uma frágil navegação de cabotagem. Poderemos observar que a única região que dependia do mercado interno era o extremo-sul pecuário. Mas, caro(a) aluno(a), esse quadro se modificaria com a forte expansão do café no altiplano paulista e a extração de borracha na região amazônica. Nestes dois casos, houve importantes deslocações de popu- lações. Mas a estruturação de um sistema econômico nacional só viria a ocorrer nos primeiros decênios do século XX, com o avanço da industrialização. Não podemos deixar de destacar outro elemento importante em nosso contexto histórico, o fenômeno da urbanização e do crescimento demográ- fico das últimas décadas. O mundo rural abrigava um considerável excedente de população submetida a formas extremas de exploração. Poderemos observar então, que por motivos diversos, essa população deslocou-se para as zonas urbanas. A partir dos anos 70 do século passado, o avanço tecno- lógico, submetido à crescente concorrência internacional, ocasionou um forte declínio na criação de emprego, como veremos a seguir. Para finalizarmos os objetivos de aprendizagem desta unidade, você verá os Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 81 A ECONOMIA BRASILEIRA E O SETOR AGRÍCOLA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E82 efeitos e as consequências das mudanças que ocorreram na estrutura ocupacio- nal da população ativa ao longo do século XX, sobre o setor agrícola. Economia Agroexportadora (Século Xv até 1930) e as Transformações do meio Rural Caro(a) aluno(a), as regras da política mercantilista durante o período colo- nial determinavam que não pudessem ser desenvolvidas no Brasil atividades produtivas que viessem a competir com as da metrópole ou que prejudicassem seus interesses comerciais. Portanto, subordinado à lógica do Mercantilismo e organizado à base da “Plantation”, o Brasil de economia agroexportadora e monocultora teve sua história econômica marcada por ciclos econômicos com predomínio da exploração de certa cultura. No período pré-colonização, a atividade econômica mais importante foi a exploração do pau--brasil. Os índios eram os fornecedores de mão de obra, e o faziam em troca de bugigangas. Notamos que na economia brasileira colonial, cada período foi marcado por um produto que era determinante para o comér- cio internacional e para a economia, ou seja, um setor era sempre privilegiado em detrimento de outros, o que provocou sucessivas mudanças sociais, popula- cionais, políticas e culturais dentro da sociedade brasileira. No início do século passado, produzíamos algumas commodities agríco- las, e o bom desempenho da economia brasileira dependia do mercado externo e do preço de tais commodities. O principal produto exportado era o café, que juntamente com o algodão e a borracha, chegava a representar 80% do total de exportações brasileiras, caracterizando a economia como agroexportadora. A dependência do mercado externo prejudicava a econo- mia brasileira, principalmente em épocas de crises interna- cionais. O Brasil entrava em recessão sempre que os preços das commodities caiam, reve- lando a alta vulnerabilidade que os países exportadores de pro- dutos primários enfrentam. Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 83 É importante ressaltar que na segunda metade do século XVIII, o governo português chega a proibir formalmente em 1785 o funcionamento de fábricas na colônia, para não atrapalhar a venda de tecidos e roupas, adquiridos na Inglaterra e comercializados por portugueses no Brasil. No final do século XIX e início do século XX, mesmo com o investimento de parte da renda do café e da borracha, as indústrias brasileiras em geral ainda não passam de pequenas oficinas, marcenarias, tecelagens, chapelarias, serrarias, moinhos de trigo, fiações e fábricas de bebida e de conserva. O país importa os bens de produção, matérias-primas, máquinas e equipamentos e grande parte dos bens de consumo. Observe, prezado(a), que o setor agrícola perde sua parti- cipação no PIB ao longo do século. Em 1900, a agropecuária contribuía com 45% do PIB; a indústria com 11%, e os serviços, com 44%. Em 2000, essa distribuição passou a ser de 11% para a agropecuária, 28% da indústria e 61% para os servi- ços. No ano de 2011, dados do IBGE mostraram que essa distribuição passou a ser de 5,8% para a agropecuária, 26,9% para a indústria e 67,3% para os serviços. A economia brasileira agroexportadora foi se transformando ao longo do século. Os resultados das exportações nesse período também se devem ao fato de que em 1900, a economia brasileira era pesadamente protegida por uma tarifa de importação alta, em parte viabilizada pela posição preeminente do Brasil no mercado mundial de café, pois podia compensar ao menosparcialmente os efei- tos indesejáveis do protecionismo. Depois de 1930, e até o final dos anos de 1980, o acesso ao mercado brasileiro foi muito limitado, seja por controle quantitativo de importações, seja por tarifas muito altas. Do ponto de vista da infraestrutura, as mudanças no século XX foram radi- cais. O Brasil, em 1900, dependia essencialmente de transporte ferroviário, suprido por empresas estrangeiras, bem como de transporte marítimo de cabo- tagem. As empresas estrangeiras foram estatizadas logo após a virada do século e após a Segunda Guerra Mundial. A partir da década de 1920, ganhou terreno o transporte rodoviário que viria a ser dominante no final do século, a menos das ferrovias associadas a empreendimentos minerais que mantiveram posição importante na movimentação de cargas. Também no que diz respeito à energia, as mudanças foram significativas. No começo do século XX, o suprimento energético dependia crucialmente da A ECONOMIA BRASILEIRA E O SETOR AGRÍCOLA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E84 queima de lenha e apenas lentamente empresas estrangeiras supridoras de energia elétrica ganharam importância. Estas tenderam a ser estatizadas após a Segunda Guerra Mundial. No final do século, o Brasil quase que completamente indepen- dente da lenha, é singular na sua dependência de energia hídrica, mesmo que a tendência no final dos anos de 1990 seja rumo a uma crescente importância da termoeletricidade. A dependência de importações de petróleo, inicialmente na forma de derivados, foi quase total até a década de 1950 e ainda da ordem de 80% do consumo de petróleo no início dos anos de 1970 tem sido reduzida sig- nificativamente, sendo da ordem de 35% no final do século. Querido(a) aluno(a), historiadores destacam que os primeiros esforços impor- tantes para a industrialização vêm do Império. Durante o Segundo Reinado, empresários brasileiros como Irineu Evangelista de Souza, o Visconde de Mauá e grupos estrangeiros, principalmente ingleses, investem em estradas de ferro, estaleiros, empresas de transporte urbano e gás, bancos e seguradoras. A polí- tica econômica oficial, porém, continua a privilegiar a agricultura exportadora. O regime cambial dominante no Brasil pré 1930 foi o de taxa cambial única flutuante, embora em dois períodos, 1907-1914 e 1927-1930, as autoridades brasileiras tivessem aproveitado a facilidade de acesso ao mercado financeiro internacional para adotar o padrão-ouro. Entre 1930 e 1964, o Brasil viveu diver- sos regimes cambiais, sempre com forte intervenção governamental, inclusive com controles cambiais, e quase sempre com taxas múltiplas e consequente O processo de industrialização da década de 1920 se dividiu em duas etapas: a primeira até 1924, coincidindo com a terceira valorização do café (1921- 24), quando foram realizados importantes investimentos em maquinaria que levaram à modernização da indústria; a segunda, de 1924 até 1929, quando ocorreu um processo de desaceleração na produção industrial, em virtude da retomada do fluxo de importações graças a uma taxa de câmbio que tornava mais barato a produção do estrangeiro. Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 85 cunha cambial entre taxas médias de compra e venda de câmbio, bastante rele- vante como fonte de receitas públicas. Paiva (2006) relata que em diversos momentos, a partir da década de 1970, foram adotados instrumentos tais como depósitos prévios relacionados a impor- tações e gastos com turismo, taxa de câmbio financeira entre outros. Efetivamente o crescimento do setor exportador, representado no século XIX e no período anterior à Revolução de 1930 pelo setor cafeeiro, implicou um processo de urbanização da sociedade brasileira. Portanto, ao pensar na origem da indústria no Brasil, tem que se incluir necessariamente a economia cafeeira desenvolvida no país durante o século XlX e boa parte do XX, pois foi ela quem deu as bases para o surgimento da indústria no país, que começou a ocorrer ainda na Segunda metade do século XlX. Dentre as contribuições da economia cafeeira para a industrialização, podemos mencionar: a. Acumulação de capital necessário para o processo. b. Criação de infraestrutura. c. Formação de mercado de consumo. d. Mão de obra utilizada, especialmente os migrantes europeus não portu- gueses, como os italianos. Mas devemos destacar, caro(a) aluno(a), que o processo de urbanização da socie- dade brasileira não foi semelhante ao que se verificou na Europa e em outras partes do mundo. Na Europa, a urbanização decorreu da criação de um mercado de trabalho muito intenso nas cidades, que absorveu o excedente de população rural, transformando o continente ao longo dos anos. Segundo Furtado (2006), no Brasil, o processo migratório do campo para a cidade ocorreu de forma distinta: houve uma fase, na metade do século XX, em que se criou muito emprego no setor industrial, mas nos últimos 30 anos o emprego industrial já não cresceu. O crescimento da população urbana inchou as cidades, mas nelas não se criou emprego suficiente para absorver toda essa gente, daí as taxas de desemprego crescentes, a marginalidade. Para analisarmos o contexto histórico das transformações do meio rural, pri- meiramente veremos algumas características do setor cafeeiro, um dos principais A ECONOMIA BRASILEIRA E O SETOR AGRÍCOLA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E86 impulsionadores do processo de industrialização e urbanização do Brasil. CARACTERÍSTICAS DA ECONOMIA CAFEEIRA O café encontrou no Brasil um ambiente muito favorável para o seu desenvolvi- mento. Segundo Eslebão (2007), entre os vários fatores que contribuíram para isso pode-se destacar o aumento na demanda mundial do produto; a crise na econo- mia mineira, que possibilitou a liberação de mão de obra para outras atividades; a fertilidade natural da terra nos arredores do Rio de Janeiro; e a transferência da Corte para este local. A economia cafeeira foi obra do capital mercantil nacional que vinha se desenvol- vendo aos poucos e ganhou notável impulso com a abertura dos portos, a transferência da corte para o Brasil e, mais tarde, com a Independência. Utilizado no consumo doméstico, o café chegou ao Rio de Janeiro por volta de 1760, misturando-se aos pequenos cultivos de pomares e hortas da capital da Colônia. Foi, porém no Vale do Paraíba que se reuniram as Como o setor exportador cafeeiro era o setor mais produtivo e de maior di- namismo, existia uma elevada concentração dos recursos naturais e de ca- pital. Essa concentração causava uma elevada desigualdade na distribuição de renda. Desigualdade essa característica do modelo agroexportador. Leia mais em: <http://portal-adm.blogspot.com.br/2010/09/economia-agroexportadora- ciclo-do-cafe.html>.. Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 87 condições para sua primeira grande expansão em níveis comerciais. Estudiosos descrevem que a área era conhecida e cortada por alguns caminhos e trilhas que se dirigiam a Minas Gerais, onde existia terra virgem disponível e clima favorável. Além disso, a proximidade do porto do Rio de Janeiro facilitava o escoamento. No século XIX, o café foi o principal produto de exportação brasileiro e isso trouxe muitas mudanças econômicas e sociais para o país. Um novo grupo eco- nômico ascendeu socialmente, a oligarquia cafeeira.Você pode estar se perguntando agora qual era o panorama da mão de obra neste período, visto que se trata de um recurso de produção essencial para qualquer segmento. A implantação se deu pela forma tradicional da Plantation, como emprego da força de trabalho escrava. A lavoura de café no início do século passado não enfrentou nenhuma crise mais séria de escassez de mão de obra, o mercado de trabalho para a produção funcionava adequadamente, pois a questão fora resolvida a partir da década de 1870, com a abundante imigração europeia. Outro fator de produção importante para a expansão da produção cafeeira era a terra, que também não constituía obstáculo devido às vastas regiões do Estado de São Paulo que se encontravam desocupadas. Sendo assim, a produ- ção de café possuía amplas condições de crescimento. A grande propriedade se impôs nesse processo. A história da ocupação das terras seguiu um padrão que vinha do passado e iria se repetir ao longo da his- tória do Brasil: havia uma total indefinição dos limites das propriedades e muitas terras inexploradas. Os títulos de propriedade eram raros quando não se sobre- punham a outros. Para enfrentar a crise no setor cafeeiro, cafeicultores e Governo, adotaram diversas medidas. Uma delas foi o Convênio de Taubaté. Saiba mais aces- sando o link: A ECONOMIA BRASILEIRA E O SETOR AGRÍCOLA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E88 Querido(a) aluno(a), naturalmente prevaleceu a lei do mais forte: quem tinha mais condições para manter-se na terra, desalojar posseiros destituídos de recur- sos, contratar bons advogados, influenciar juízes e legalizar a posse da terra. Para implantar uma fazenda de café, o fazendeiro tinha de fazer investi- mentos significativos, que incluíam a derrubada da mata, o preparo da terra, o plantio, as instalações e compra de escravos. O Convênio de Taubaté Em Fevereiro de 1906 foi firmado o chamado Convênio de Taubaté (na cida- de paulista de mesmo nome), conhecido como política de “valorização do café”. Segundo Furtado (1964), os principais pontos dessa política eram os seguintes: “a) com o fim de restabelecer o equilíbrio entre oferta e procura de café, o governo interviria no mercado para comprar os excedentes; b) o financiamento dessas compras se faria com empréstimos estrangeiros; c) o serviço desses empréstimos seria coberto com um novo imposto cobrado em ouro sobre cada saca de café exportada; d) a fim de solucionar o pro- blema a mais longo prazo, os governos dos estados produtores deveriam desencorajar a expansão das plantações”. A política de valorização acordada pelo Convênio de Taubaté fez com que os preços se mantivessem num patamar interessante para os produtores. Com isso, os lucros continuavam elevados, o que fazia com que novos inves- timentos continuassem a ser feitos na produção, ocasionando uma pressão cada vez maior sobre a oferta de café. Esse mecanismo de defesa da econo- mia cafeeira transfere o problema para o futuro, pois a política de desestí- mulo era impraticável sem a criação de alternativas. O desequilíbrio máximo aconteceu então em 1929, quando o valor dos estoques ultrapassou 10% do Produto Interno Bruto (FURTADO,1964). Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 89 O avanço da produção caminhou lado a lado com a ampliação do hábito de con- sumir café entre a classe média cada vez mais numerosa nos EUA e os países da Europa. Os Estados Unidos tornaram-se o principal consumidor do café bra- sileiro, exportado também para Alemanha, os Países Baixos e a Escandinávia. Podemos observar na Tabela 2, a seguir, a importância do café para o comér- cio internacional. DECÊNIO TOTAL CAFÉ AÇÚCAR CACAU ERVA- MATE FUMO ALGODÃO BORRACHA COUROS E PELES 1821-1830 85,8 18,4 30,1 0,5 - 2,5 20,6 0,1 13,6 1831-1840 89,8 43,8 24,0 0,6 0,5 1,9 10,8 0,3 7,9 1841-1850 88,2 41,4 26,7 1,0 0,9 1,8 7,5 0,4 8,5 1851-1860 90,6 48,8 21,2 1,0 1,6 2,6 6,2 2,3 7,2 1861- 870 90,3 45,5 12,3 0,9 1,2 3,0 18,3 3,1 6,0 1871-1880 95,1 56,6 11,8 1,2 1,5 3,4 9,5 5,5 5,6 1881-1890 92,3 61,5 9,9 1,6 1,2 2,7 4,2 8,0 3,2 1891-1900 95,6 64,5 6,6 1,5 1,3 2,2 2,7 15,0 2,4 Tabela 2: Brasil - Exportação de Mercadorias (% sobre o valor total da exportação) Fonte: <http://www1.univap.br/~sandra/6aaula.pdf> Você sabia que as lavouras cafeeiras se desenvolveram nas sesmarias? E que a mão de obra era escravista? No período da lavoura cafeeira do Vale do Paraíba o poder dos senhores de café era medido pelo número de escravos que o mesmo possuía. Em 1850 a Lei Eusébio de Queirós provocou aumento do patrimônio dos barões de café. Também em 1850 a Lei de Terras determina que a aquisição da terra poderia ser apenas por meio da compra. Com essa lei a lavoura cafeeira es- tendeu-se para o oeste paulista. Em certa época os barões não tinham onde plantar café e não invadiam terras receando perder os investimentos feitos. Além disso, existem os pro- blemas morais. É mais ou menos nessa época que o poder dos fazendeiros passa a ser medido pelo tamanho das terras. A ECONOMIA BRASILEIRA E O SETOR AGRÍCOLA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E90 CONTEXTO HISTÓRICO DAS TRANSFORMAÇÕES NO MEIO RURAL Este tópico, caro(a) aluno(a), não se trata apenas de uma revisão histórica, mas sim de procurar entender as transformações e como elas interferem no uso do espaço rural brasileiro, com o surgimento e emergência de novas aptidões, que levam a um novo olhar sobre o rural e a uma redefinição das suas atribuições. Elesbão (2010) destaca quatro grandes acontecimentos dentre as transfor- mações no rural brasileiro ao longo do século XX: o fim do último grande ciclo econômico (ciclo do café); o processo de modernização da agricultura; a migra- ção campo/cidade; e o reconhecimento da importância da agricultura familiar. Emergem então novas atividades e novos valores no rural contemporâneo, os quais representam a diversidade de situações na teia de relações que se estabe- lecem entre o rural e o urbano. A compreensão das transformações que aconteceram e estão acontecendo no rural brasileiro passa, necessariamente, pelo estudo do processo histórico de constituição do rural enquanto espaço de produção e reprodução social de sua população. O rural, além de espaço produtivo, é lugar de vida, de interação social, condição muitas vezes colocada em segundo plano quando da sua análise. A esfera produtiva sempre esteve em destaque, seja quando da produção de produtos para exportação, o que aconteceu durante a maior parte da história eco- nômica brasileira, seja no fornecimento de matérias-primas para o surgimento e consolidação da agroindústria nacional, como também atualmente, sendo a principal responsável pelos saldos positivos na balança comercial. Ao estudarmos tais transformações, podemos notar que elas também Contexto Histórico das Transformações no Meio Rural Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 91 ocorreram no espaço rural dos países desenvolvidos, ampliando o enfoque, que antigamente recaía somente na produção de alimentos e matérias-primas, passando a também considerar a relação com as atividades não agrícolas. Estas atividades, praticadas por componentes de muitas famílias rurais, ganham impor- tância na busca da compreensão das transformações de que o rural brasileiro vem sendo palco e que se intensificaram nos últimos tempos. AS TRANSFORMAÇÕESDEMOGRÁFICAS ENTRE O CAMPO E A CIDADE Fato importante em nosso contexto histórico e que remonta às décadas ante- riores a 1960 é o fenômeno da urbanização e do crescimento demográfico das últimas décadas. Observe, caro(a) aluno(a), na Tabela 3 a inversão que ocorre entre os moradores do campo e da cidade em quarenta anos. No início dos anos 80 apenas 33% da população do país estava residindo no campo, chegando à década de 90 um percentual de apenas 20% da população vivendo no meio rural. Outro aspecto que vem somar a esta urbanização é o crescimento demo- gráfico, pois neste período, a população brasileira triplica. Nas regiões geográficas ou regiões metropolitanas, seria ainda possível encontrar dados mais destacados, uma vez que os dados acima se referem à média nacional. Os dados do IBGE nos mostram a magnitude dessa transformação: ANO HABITANTES (MILHÕES) RURAL URBANO (%) 1940 41,2 68,8 31,2 1950 51,9 63,8 36,2 1960 70,9 54,9 45,1 1970 92,3 43,9 56,1 1980 119,1 33 67 Tabela 3: Crescimento demográfico brasileiro (1940 – 1980) Fonte: FIBGE. Disponível em: <www.ibge.gov.br> A ECONOMIA BRASILEIRA E O SETOR AGRÍCOLA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E92 Neste intervalo de 40 anos, a população brasileira apresentou um cresci- mento de quase 80 milhões de habitantes. São 80 milhões de consumidores a mais para serem atendidos pela produção interna, o que chega a ser crítico em termos de equilíbrio de oferta e demanda de alimentos. Nos anos 40 e 50 havia no campo uma população que correspondia a mais de 60% do total. Podemos concluir que com esse nível de população, a ques- tão do abastecimento urbano era tarefa relativamente fácil. Bastava que cada habitante do campo produzisse para sua subsistência e um pequeno volume de excedente, que já seria o suficiente para garantir o abastecimento dos centros urbanos (pouco mais de 30% da população). A inversão demográfica que se verifica nos anos 70 e 80, quando a população urbana passa a representar de 60 a 70% do total de habitantes, leva a produção de subsistência já não ser mais suficiente para atender as necessidades da popu- lação, que dependia totalmente da produção do campo. Acrescentando agora o crescimento demográfico temos os seguintes dados: em 1940 e 1950 havia mais de dois habitantes no campo para cada um na cidade. Em 1980 esse dado se altera completamente e agora são dois habitantes na cidade dependendo da produção de cada um que ficou no campo. Se considerarmos a produção agrícola que é destinada para a exportação e para a agroindústria, vere- mos que as transformações estruturais dos últimos anos realmente representam uma pressão por inovações tecnológicas na produção rural. Essas pressões são aumentadas pelo desafio de incorporar ao processo produtivo vastas regiões até então não produtivas como os cerrados e a Região Amazônica, para as quais a tecnologia existente não representa uma solução. A modernização da agricultura brasileira foi induzida pelo processo de industrialização do país, ou seja, pela política econômica do governo entre 1950 e 1970, que favoreceu a indústria em detrimento da agricultura, o que reforçou o poder das cidades e acelerou o êxodo rural. Com efeito, a população urbana no País passou de 31,2% em 1940 para 44,7% em 1960, e de 67,6% em 1980 a 81,2% em 2000. A previsão é de uma concentração urbana populacional de 86,8% em 2010 (ALVES, 1999) Os Reflexos na Agricultura Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 93 Segundo Gonçalves Neto (1991), como consequência de toda essa transição demográfica, de urbanização e industrialização e de opção pelo desenvolvimento econômico associado, temos que a agricultura perde essa posição e passa a um plano secundário no processo. A partir daí, o compromisso do Estado com a agricultura é de mantê-la ativa e não estimulá-la como setor e unidade central do sistema. A política agrícola dos anos 60 e 70 se subordina aos interesses macroeco- nômicos de equilíbrio interno e externo da economia e, em função disso, ela não atende necessariamente aos objetivos prioritários do setor, mas sim os inte- resses da economia. OS REFLEXOS NA AGRICULTURA Durante a expansão cafeeira, as ações governamentais foram direcionadas espe- cificamente para este setor, devido não só à importância do café para a economia brasileira, mas principalmente, à influência política das elites agrárias. De acordo com Silva (1988) “a economia brasileira era o café e todas as polí- ticas do Estado brasileiro giravam em torno da política de valorização do café: compra de excedentes, financiamentos externos, impostos sobre exportação, etc.” O café ainda teve grande importância para a economia brasileira nas pri- meiras três décadas do século XX, chegando inclusive, entre os anos 1924-1929, a responder por 72,5% do valor total das exportações do país. Diante deste quadro percebemos a grande influência dos cafeicultores nas decisões políticas do país e nas medidas adotadas, voltadas para a proteção de seus interesses. População brasileira chegará a 208 milhões em 2030 Atualmente, os brasileiros somam 190 milhões. Nos anos seguintes a 2030, é esperada uma queda progressiva do número de brasileiros, que somarão 205,6 milhões em 2040. Neste ano, 152 milhões serão trabalhadores. Pesqui- sa aponta queda na taxa de natalidade, com um filho por mulher. Segundo o IBGE, Manaus tem população de 1.861.838 habitantes (Juca Queiroz) A população brasileira chegará a 208 milhões em 2030, segundo cálculo do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea). A previsão está do bole- tim Tendências Demográficas Apontadas pela Pnad 2011. Com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil atingirá a maior população em 2030, quando a força de trabalho deve chegar a 156 milhões de pessoas. Atualmente os brasileiros somam 190 milhões. Nos anos seguintes, é esperada uma queda progressiva do número de bra- sileiros, que somarão 205,6 milhões em 2040. Neste ano, 152 milhões serão trabalhadores. A pesquisadora Ana Amélia Camarano explica que o resultado reflete o en- velhecimento da população e a taxa de fecundidade nas últimas décadas, que começou a cair na década de 1990. Em 1950, a taxa era de 6,2 filhos. Hoje, o número de filhos por mulher é 1,7. “Nossa projeção vem caindo e, entre 2030 e 2040, deve se aproximar da taxa do Japão, que é um filho por mulher, abaixo do nível de reposição da popu- lação”, afirmou Ana Amélia. Segundo ela, a fecundidade tem espaço para cair entre as mulheres pobres e nas regiões no Norte e Nordeste, onde o número de filhos está em torno de dois. Fonte: <http://acritica.uol.com.br/noticias/Manaus-Amazonas-Manaus-pes- quisa_Pnad-demografia-populacao-crescimento-evolucao_0_790121034.html>. Acesso em: 29 nov. 2012. A ECONOMIA BRASILEIRA E O SETOR AGRÍCOLA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E94 Para Furtado (1964), “a economia havia desenvolvido uma série de mecanismos pelos quais a classe dirigente cafeeira lograra transferir para o conjunto da cole- tividade o peso da carga nas quedas cíclicas anteriores”. A definição estratégica dos anos 60 em favor de um desenvolvimento asso- ciado repercute na agricultura de forma decisiva. Nessa época estava em plena MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA E SEUS REFLEXOS NO ESPAÇO AGRÁRIO DO BRASIL A partir da segunda metade do século XX, especificamente a partir da déca- da de 60, o espaço agrário do Brasil passou a sofrer um forteavanço tecnoló- gico na produção agrícola com a crescente adesão de processos industriais ao campo. Foi a denominada Revolução Verde? Cujas principais caracte- rísticas eram a mecanização e tecnificação dos meios de produção com a utilização de tecnologias poupadoras de mão-de-obra, como maquinários especializados e uso de agroquímicos (fertilizantes). Leia mais em: <http://www.webartigos.com/artigos/modernizacao-da-agri- cultura-e-seus-reflexos-no-espaco-agrario-do-brasil/49005/#ixzz2BkndyVqk>. Publicado em 06 de outubro de 2010 Os Reflexos na Agricultura Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 95 discussão as alternativas para o desenvolvimento agrícola do país. Alguns auto- res defendiam a necessidade e a oportunidade de reformas estruturais, entre elas a reforma agrária, o que atendia ao apelo de amplos movimentos reivindicató- rios dos anos 60. De outro lado, havia os pensadores neoclássicos que defendiam a oportunidade de modernizar a agricultura, nos moldes do que foi feito nos Estados Unidos e em outros países do mundo. Como a opção de 1964 foi por um desenvolvimento associado, na agricul- tura vai prevalecer a opção da modernização que atende a uma conjugação de interesses ligados ao processo de industrialização, aliados agora aos grandes lati- fundiários e aos interesses do capital internacional. É nesse contexto que vai se iniciar a tecnificação da produção rural. Analisando esses aspectos nos planos de governo nas décadas de 60 e 70, Gonçalves Neto (1991) destaca o início do processo de modernização nos planos dos governos militares. A década de 80 com as suas profundas transformações é um marco dos mais importantes na análise do comportamento do agronegócio nos anos recentes. Esta década ficou conhecida como a “década perdida”, devido aos níveis erráticos A ECONOMIA BRASILEIRA E O SETOR AGRÍCOLA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E96 de crescimento da economia que vinha de duas décadas de crescimento bem elevado. Na verdade essa década é das mais importantes por diversos fatores e acontecimentos que ocorrem simultaneamente. Entre eles o esgotamento de um modelo de desenvolvimento e o surgimento de outro, que está atrelado ao novo paradigma tecnoeconômico, que começa a surgir no Japão e vai tornar- -se dominante em todo o mundo, e que afetará toda a economia nacional e terá importantes reflexos na economia regional e setorial. Para entendermos a modernização da agricultura brasileira, é importante considerarmos que esta sempre se apresentou subordinada à lógica do capital, sendo um setor de transferência de riquezas (AGRA; SANTOS, 2006). Assim sendo, dentro do seu processo de modernização, deve-se dar significado maior à sua transnacionalização e à sua inserção na divisão internacional do trabalho ou, ainda, à penetração do modo de produção capitalista no campo brasileiro (AGUIAR, 1986). Ainda segundo Agra e Santos (2006), o processo de modernização da agri- cultura brasileira está intimamente ligado ao término do processo de substituição de importações, à internalização de indústrias produtoras de bens de capital e de insumos modernos. O desenvolvimento da agricultura passa a ser direcio- nado pela dinâmica industrial, pois se transforma em um segmento industrial, que compra insumos e vende matérias-primas para outros setores. A modernização da agricultura teve um caráter imediatista, pois estava voltada para o aumento da produtividade no curto-prazo, com o objetivo de minimi- zar os riscos e maximizar o controle do homem sobre a natureza, buscando ser capaz de reproduzir, artificialmente, as condições da natureza. Com a modernização agrícola segue-se a modernização das relações de tra- balho e o assalariamento parcial e precário, ou seja, o aumento da sazonalidade do trabalho. Segundo Silva (1996, p.04), “o trabalhador passa de papel ativo e integral do artesão para o de um trabalhador parcial na manufatura, até atingir a passividade do operário, que apenas vigia a máquina”. Essas transformações não foram nada mais do que resposta às necessidades do capitalismo, uma vez que o trabalhador parcial permite ao capital maior valoriza- ção, pela intensidade do trabalho e pelo prolongamento da jornada de trabalho. O trabalhador volante tem o máximo interesse pessoal em executar as tarefas, Mauá – O imperador e o rei Gênero: drama Ano: 1999 Sinopse: O filme nacional, “Mauá, O Imperador e o Rei” (1999), com direção de Sérgio Rezende, relata a trajetória do primeiro empresário brasileiro, Irineu Evangelista de Souza, mais conhecido publicamente como Barão de Mauá. Nascido no Rio Grande do Sul, estudou em um internato em São Paulo, até seus nove anos de idade, seu primeiro emprego foi de caixeiro. Mauá teve um crescimento profissional rápido, justamente por ser extremamente persistente. Teve grande participação na Revolução Farroupilha. Tendo feito uma viajem a negócios para Inglaterra, conheceu várias fábricas, idealizando assim vários objetivos, e devido a alta dos preços do café no mercado internacional, no período da chamada tarifa Alves Branco, resolveu tornar-se um industrial. Sua primeira atitude como empresário foi de solicitar subsídios ao Governo Imperial brasileiro, este forneceu tubos de ferro para canalizar o rio Maracanã, foi ele também que criou o primeiro maior empreendimento industrial do país, produzindo navios e caldeiras, mas a prosperidade foi breve, pois com a proibição da entrada de navios fora do país, a empresa faliu. Com a promulgação da lei Eusébio de Queiros, os investimentos empregados em escravos passaram a ser destinados à empresa, gerando muitas empresas industriais, aproximadamente uns quatorze bancos, além da criação de companhias de seguros e transportes coletivos, fazendo assim, de Irineu Evangelista de Souza um homem rico, acumulando uma enorme fortuna, a qual passou a influenciar nas agências bancárias do período. Com ideais liberais e forte defensor do abolicionismo, foi contrário a Guerra do Paraguai e também tornou-se deputado pela Província do Rio Grande do Sul em diversas legislaturas. Suas idéias e o agravamento da instabilidade política da região platina, acabaram tornando o Barão de Mauá, mártir dos conservadores. Toda essa revolta, acabou falindo o Banco Mauá, ele acabou sendo obrigado a vender a maior parte das suas empresas e alguns de seus bens pessoais para saldar as suas dívidas. Irineu Evangelista de Souza possuía a mentalidade empresarial britânica e estilo altamente liberal para administrar. Sempre mostrou ousadia, asseverando a utilização da tecnologia de ponta, sempre manteve uma política salarial direcionada a talentos, sendo ele um grande reconhecedor dos mesmos. Com esse modelo de administração descentralizada e flexível o Barão de Mauá teve oito das dez maiores empresas do Brasil, foi um homem de idéias brilhantes que trouxe da Inglaterra, a Revolução Industrial para o Brasil. Os Reflexos na Agricultura Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 97 o mais rápido possível, para receber o valor correspondente, o que permite ao empresário uma elevação da intensidade do trabalho acima do normal. Além do mais, é conveniente e necessário que o trabalhador prolongue a jornada de trabalho, a fim de aumentar o salário, mesmo que, para isto, multiplique seus próprios braços com os da mulher e filhos menores (GONZÁLES; BASTOS, 1975, p.04, apud AGUIAR, 1986, p.111). A ECONOMIA BRASILEIRA E O SETOR AGRÍCOLAReprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E98 Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. CONSIDERAÇÕES FINAIS Prezado(a) aluno(a), vimos nesta unidade características que levaram o Brasil a ser uma economia eminentemente agroexportadora ao longo do século XX. Num primeiro momento, foram analisadas algumas das principais características do rural brasileiro ao longo do século XX, principalmente enfocando a forma de organização do espaço produtivo. Das grandes plantações cafeeiras da primeira metade do século, passando pelo processo de modernização da base técnica na agropecuária e chegando ao final do século, em que a categoria dos agricultores familiares e a sua pluriatividade passam a ter importância crescente nas discus- sões sobre as estratégias de desenvolvimento para o rural. Historicamente a agricultura para exportação foi privilegiada pelas políticas públicas, tendo o processo de modernização da agropecuária contribuído gran- demente para o êxodo rural. Esse processo foi marcado pela redução da mão de obra empregada no campo e pela concentração, tanto da posse da terra como da renda produzida no rural. O desenvolvimento de muitas áreas rurais brasileiras passa pela percepção da diversidade e das peculiaridades que cada uma possui. Identificar o potencial de cada local é fundamental na elaboração de políticas de desenvolvimento rural. Quando se discute o desenvolvimento econômico de um país logo se tem um primeiro debate. Quem gera o desenvolvimento do país? É o setor agrícola ou é o setor industrial? Este é um debate antigo, mas, didaticamente, é de grande importância, pois traz a relação fundamental entre agricultura e indústria na vida dos principais países do mundo. Veremos nas próximas unidades alguns aspectos da economia brasileira, enfocando as decisões de política econômica e seus impactos na agricultura. Na última unidade, abordaremos tendências da economia mundial e a participa- ção do Brasil neste cenário. 99 1. Analise o parágrafo a seguir e responda: qual o significado da frase “o café man- teve a ‘majestade’ na República”? O café continuava a reinar absoluto no cenário politico e econômico do país. A monarquia tinha acabado, mas o café manteve a majestade na República, como grande centro dinâmico da economia. F.M. Teixeira. Historia concisa do Brasil. Sao Paulo: Global, 1993. p. 213 2. Analise e contextualize a afirmação: o café favorecia a poucos e penalizava uma nação. 3. Contextualize as transformações ocorridas no meio rural, enfatizando a situação da mão de obra neste processo. 4. Quais foram os reflexos ocorridos no setor agrícola mediante as políticas estatais adotadas na primeira metade do século XX? SOCIEDADE RURAL BRASILEIRA - 90 ANOS Guilherme Wendel de Magalhães; Euzi Dognani; Arnaldo Franscisco de Sousa Editora: IMESP MATERIAL COMPLEMENTAR A ECONOMIA BRASILEIRA E O SETOR AGRÍCOLA U N ID A D E IV Professor Me. Ariane Maria Machado de Oliveira A EVOLUÇÃO DA ECONOMIA BRASILEIRA: POLÍTICAS ECONÔMICAS E SEUS REFLEXOS NO SETOR AGRÍCOLA Objetivos de Aprendizagem ■ Apresentar o processo de industrialização brasileiro. ■ Analisar o processo de substituição de importações. ■ Descrever um retrospecto das políticas econômicas mais significativas adotadas na segunda metade do século XX. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ Processo de Substituição de Importações (PSI) – 1930/61 ■ A crise do PSI e as reformas institucionais no PAEG – 1962/67 ■ Crescimento com endividamento externo ■ Milagre Econômico (1968/1973) ■ II Plano Nacional de Desenvolvimento (1974/79) e a Crise da década de 80 ■ Políticas de combate à inflação na Nova República INTRODUÇÃO Prezado(a) aluno(a), veremos agora como ocorre a ruptura do modelo econômico brasileiro e como este passa a se desenvolver. Veremos que a crise dos anos 30 foi um momento de ruptura ou transformação estrutural na Economia Brasileira. Desde esta data, o modelo agroexportador é paulatinamente afastado e ocorre a industrialização. A forma assumida pela industrialização brasileira, pelo menos entre 1930 e 1960, foi a chamada industrialização substituidora de importações. Ao longo da unidade, veremos como ocorre o deslocamento do centro dinâ- mico da economia. O período em que a determinação do nível de renda deixa de estar ligada a elementos como a demanda externa (base de uma economia agroe- xportadora) e passa a depender de elementos ligados ao mercado interno, como o consumo e o investimento doméstico. Isto ocorre basicamente na década de 30. Notamos então, caro(a) aluno(a), que a crise de 1930, iniciada nos Estados Unidos e que se repercutiu rapidamente na Europa, chegou ao Brasil com uma Crise no Balanço de Pagamentos ocasionando rápida queda na demanda por café e reversão dos fluxos de capital. Veremos que a Revolução de 30 representou no cenário político a ascensão das camadas urbanas altas e médias e de outros segmentos da sociedade. Esses setores, identificados com a acumulação urbano-industrial, passaram gradati- vamente a ganhar mais espaço político e viram suas teses desenvolvimentistas serem respaldadas por medidas de política econômica que dinamizaram o cres- cimento industrial. Ao longo da unidade, serão abordadas particularidades das políticas econômi- cas voltadas à industrialização, ao desenvolvimento e a estabilização econômica, por meio das políticas de combate à inflação. Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 103 A EVOLUÇÃO DA ECONOMIA BRASILEIRA: POLÍTICAS ECONÔMICAS E SEUS REFLEXOS NO SETOR AGRÍCOLA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E104 O PROCESSO DE SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÕES A crise dos anos 30 foi um momento de ruptura ou transformação estrutural na Economia Brasileira. A Grande Depressão reduziu de maneira drástica o comér- cio internacional, afetando intensamente a economia brasileira, que tinha uma base agrário-exportadora e dependia da demanda externa. Tal fato levou a eco- nomia brasileira a um novo modelo de desenvolvimento, chamado de Processo de Substituição de Importações por meio do incentivo à indústria nascente. A industrialização do país permitiu o desenvolvimento de uma economia diversificada e urbana. O aumento do poder de compra, aliado ao forte cres- cimento demográfico entre 1950 e 1990, estimulou a demanda por produtos alimentares a taxas anuais de até 6%, o que criou um ambiente favorável ao cres- cimento e à modernização da agricultura. Com o aumento do custo de oportunidade do trabalho a partir dos anos 70, a agricultura (de soja, milho, trigo e algodão) foi impelida a se intensificar e a se mecanizar. Além disso, a industrialização e a urbanização estabeleceram os paradigmas da transformação da agricultura, embasadas na ciência e na tecno- logia. No âmbito político, essas transformações deslocaram o centro do poder para as cidades (ALVES, 2001). Três políticas foram determinantes no processo de modernização: 1) cré- dito subsidiado, principalmente para a compra de fertilizantes e maquinaria; 2) grande extensão rural entre 1950 e 1970; 3) forte investimento em pesquisa e educação em ciências agrárias, com a criação da Embrapa (1973) e de cursos de pós-graduação (ALVES; CONTINI, 2002). A Crise do PSI e as Reformas Institucionais no PAEG – 1962/67 Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e Lei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 105 A CRISE DO PSI E AS REFORMAS INSTITUCIONAIS NO PAEG – 1962/67 No início dos anos 60 ocorre a primeira grande crise econômica do Brasil em sua fase industrial. Queda dos investimentos, ausência de mecanismos de finan- ciamento adequados, tanto para o setor público, quanto para o setor privado. O PAEG foi o primeiro plano econômico do novo governo (militar - 1964); Governo Castelo Branco lançou o PAEG – Plano de Ação Econômica do Governo. O objetivo era resolver os problemas econômicos e atuava em duas frentes: ■ Políticas conjunturais de combate à inflação. ■ Reformas estruturais para resolver as dificuldades que emperravam o crescimento econômico. Os principais focos de atenção do novo governo foram basicamente cinco: 1. A prioridade na estabilidade de preços (lembrando que estávamos em uma época de inflação galopante, que em 1964 tinha atingido quase a casa dos 03 dígitos). 2. O aumento de investimentos diretos (muitos destes investimentos tive- ram o estado como patrocinador, por meio de empresas de economia pública e em obras diretas). 3. Reformas bancárias e tributárias. 4. Acertar o déficit da balança de pagamentos. 5. A diminuição dos desequilíbrios regionais. A EVOLUÇÃO DA ECONOMIA BRASILEIRA: POLÍTICAS ECONÔMICAS E SEUS REFLEXOS NO SETOR AGRÍCOLA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E106 MEDIDAS DE COMBATE À INFLAÇÃO NO PAEG ■ Problema = Excesso de demanda. ■ Redução do déficit público. ■ Restrição do crédito e aperto monetário. ■ Política salarial (restritiva). Ano Crescimento do PIB (%) Crescimento da Produção Industrial (%) Taxa de Inflação IGP-DI (%) 1961 8,60 11,10 33,20 1962 6,60 8,10 49,40 1963 0,60 -0,20 72,80 1964 3,40 5,00 91,80 1965 2,40 -4,70 65,70 1966 6,70 11,70 41,30 1967 4,20 2,20 30,40 1968 9,80 14,20 22,00 Tabela 4: Produto e Inflação – 1961 - 1968 Fonte: Abreu (1990) em Gremaud et al. (2002, p. 385-391) PLANO DE METAS (1956 – 1960) - CRESCIMENTO COM ENDIVIDAMENTO EXTERNO O nacionalismo da era Vargas é substituído pelo desenvolvimentismo dos anos JK (governo Juscelino Kubitschek, de 1956 a 1961). Podemos dizer que foi o auge do período de industrialização brasileira. O principal objetivo do plano de metas era estabelecer as bases de uma eco- nomia industrial madura no país, introduzindo de ímpeto o setor produtor de bens de consumo duráveis. O plano pode ser dividido a partir de três objetivos principais: A Crise do PSI e as Reformas Institucionais no PAEG – 1962/67 Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 107 ■ Investimentos em infraestrutura (transporte e energia elétrica). ■ Aumento da produção de bens intermediários (aço, carvão, cimento etc.). ■ Introdução dos setores de bens de consumo duráveis e bens de capital. A industrialização consolida-se com a implantação da indústria de bens de con- sumo duráveis, sobretudo eletrodomésticos e veículos, com o efeito de multiplicar o número de fábricas de peças e componentes. No início dos anos 60, o setor industrial supera a média dos demais setores da economia brasileira. Crescimento Acelerado e Crise: década de 70 ■ Tal período pode ser dividido em 2: ■ Milagre Econômico (1968 – 73). ■ II Plano Nacional de Desenvolvimento (1974 – 79). O milagre econômico (1968 – 73) O desenvolvimento acelera-se e diversifica-se no período do chamado “milagre econômico” (1968-1974). O setor de bens de consumo duráveis foi o que mais se expandiu, conso- lidando a ideia que ficou conhecida como “milagre econômico”. O retorno ao crescimento foi facilitado pela existência de capacidade ociosa do período ante- rior, devido à nova estrutura de financiamento montada pelo PAEG, e pela disponibilidade de empréstimos estrangeiros. ANO PIB INDÚSTRIA AGRICULTURA SERVIÇOS 1968 9,8 14,2 1,4 9,9 1969 9,5 11,2 6,0 9,5 1970 10,4 11,9 5,6 10,5 1971 11,3 11,9 10,2 11,5 1972 12,1 14,0 4,0 12,1 1973 14,0 16,6 0,0 13,4 Tabela 5: Taxas de crescimento do produto e setores (1968-1973) Fonte: IBGE A EVOLUÇÃO DA ECONOMIA BRASILEIRA: POLÍTICAS ECONÔMICAS E SEUS REFLEXOS NO SETOR AGRÍCOLA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E108 Como principais fontes de crescimento do período denominado Milagre Econômico, destaca-se: a. Investimento público em infraestrutura. b. Aumento do investimento das empresas estatais. c. Demanda por bens duráveis. d. Construção civil. e. Crescimento das exportações. Caro(a) aluno(a), podemos observar a primeira onda de endividamento externo, resultado das profundas transformações do sistema financeiro internacional e ampla liquidez existente. Havia na época elevada participação e intervenção do setor público na economia. Elevada concentração de renda Considerada pelo Governo como estratégia necessária para aumentar a capaci- dade de poupança da economia. Foi a chamada “Teoria do Bolo”. Já em meados dos anos 70, a crise do petróleo e a alta internacional nos juros desaceleram a expansão industrial. Inicia-se uma crise que leva o país, na década de 80, ao desequilíbrio do balanço de pagamentos e ao descontrole da inflação. O Brasil mergulha numa longa recessão que praticamente bloqueia a industrialização. No início dos anos 90, a produção industrial é praticamente a mesma de dez anos atrás. II Plano Nacional de Desenvolvimento (1974 – 79) Milagre econômico = pleno emprego = pressões inflacionárias e desequilíbrios na balança comercial. O primeiro Plano Nacional de Desenvolvimento (1972-1974), elaborado como o segundo, sob a orientação do ministro do Planejamento Reis Velloso, esteve mais voltado para grandes projetos de integração nacional (transportes, inclusive corredores de exportação, telecomunicações), ao passo que o segundo, na presidência Geisel (1974- 1979), foi dedicado ao investimento em indústrias de base (em especial siderúrgica e petroquímica). Plano Cruzado Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 109 ANO PIB INDÚSTRIA AGRICULTURA SERVIÇOS 1974 9,0 7,8 1,0 9,7 1975 5,2 3,8 7,2 2,9 1976 9,8 12,1 2,4 8,9 1977 4,6 2,3 12,1 2,6 1978 4,8 6,1 -3,0 4,3 1979 7,2 6,9 4,9 6,7 Tabela 6: Taxas de crescimento do produto e setores (1974-1979) Fonte: IBGE Resultados obtidos II PND ■ Economia com menor crescimento (em relação ao período do milagre econômico). ■ Endividamento do Estado e investimento do setor privado inferior ao esperado (conjuntura econômica). ■ Aumento da dívida, menos recursos externos disponíveis para investi- mento e inflação (1979 – 2º segundo choque do petróleo). Políticas de Combate à Inflação Diversas foram as tentativas do Governo Brasileiro para combater a inflação. Veremos a seguir aos planos econômicos adotados e suas repercussões. PLANO CRUZADO O ano de 1981 marca a exaustão de um ciclo de crescimento, verificando-se queda de 4,2% no PIB, o qual havia se expandido em 9,2%, em 1980 (Tabela 7). A renda per capita retrocedeu 6,3% e registra-se uma erosão no nível de vida da classe média, inclusive a parcela de altos assalariados, em proporção incomum no país. A EVOLUÇÃO DA ECONOMIA BRASILEIRA: POLÍTICAS ECONÔMICAS E SEUS REFLEXOS NO SETOR AGRÍCOLA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E110 ANO PIB PER CAPITA 1978 5,02,2 1979 6,8 4,2 1980 9,2 6,7 1981 -4,2 -6,3 1982 0,8 -1,3 1983 -2,9 -5,0 1984 5,4 3,3 1985 7,8 5,7 1986 7,5 5,2 1987 3,5 1,2 Tabela 7: Brasil - Taxa de crescimento do PIB Total e Per Capita - 1978/87 (Em %) Fonte: Ipea e IBGE O Plano Cruzado foi um conjunto de medidas econômicas, lançado pelo governo brasileiro em 28 de fevereiro de 1986, com base no decreto-lei nº 2.283, de 27 de fevereiro de 1986, sendo José Sarney o presidente da República e Dilson Funaro o ministro da Fazenda. As principais medidas contidas no Plano eram: ■ Congelamento de preços de bens e serviços nos níveis do dia 27 de feve- reiro de 1986 - medida adotada para eliminar a memória inflacionária. O congelamento era fiscalizado por cidadãos que ostentavam, orgulhosos, bottons de fiscal do Sarney, depredavam estabelecimentos que aumenta- vam preços e chegaram a dar voz de prisão a gerentes de supermercados. ■ Congelamento da Taxa de Câmbio por um ano em 13,84 Cruzados = 1 Dólar e 20,58 Cruzados = 1 Libra. ■ Reforma monetária, com alteração da unidade do sistema monetário, que passou a denominar-se cruzado (Cz$), cujo valor correspondia a mil uni- dades de cruzeiro. ■ Substituição da Obrigação Reajustável do Tesouro Nacional ORTN, título da dívida pública instituído em 1964, pela Obrigação do Tesouro Nacional (OTN), cujo valor foi fixado em Cz$106,40 e congelado por um ano. Plano Cruzado Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 111 ■ Congelamento dos salários pela média de seu valor dos últimos seis meses e do salário mínimo em Cz$ 804,00, que era igual a aproximadamente a US$ 67,00 de salário mínimo. ■ Como a economia fora desindexada, institui-se uma tabela de conver- são para transformar as dívidas contraídas numa economia com inflação muito alta em dívidas contraídas em uma economia de inflação pratica- mente nula. ■ Criação de uma espécie de seguro-desemprego para aqueles que fossem dispensados sem justa causa ou em virtude do fechamento de empresas. ■ Os reajustes salariais passaram a ser realizados por um dispositivo cha- mado “gatilho salarial” ou “seguro-inflação”, que estabelecia o reajuste automático dos salários sempre que a inflação alcançasse 20%. Fonte: <http://www.numi.com.br/historiadodinheiro/P37.HTM> O SETOR AGRÍCOLA De início, o Plano Cruzado criou expectativas otimistas no setor agrícola, em decorrência da previsão de estabilidade nos custos de produção, proveniente do desaparecimento da correção monetária incidente sobre os financiamentos e do congelamento dos preços de máquinas e insumos agrícolas. Ademais, a maioria dos preços agropecuários foi congelada a níveis razoá- veis, não provocando, no princípio, angústias entre os produtores, sendo exceção mais gritante os casos do leite, carne bovina e ovos. A demanda por alimentos acompanhou a onda ascendente verificada em 113 A EVOLUÇÃO DA ECONOMIA BRASILEIRA: POLÍTICAS ECONÔMICAS E SEUS REFLEXOS NO SETOR AGRÍCOLA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E112 outras áreas, configurando um mercado ávido por bens de origem rural. A oferta imediata, contudo, refletia decisões tomadas meses antes pelo produtor rural, sendo ainda condicionada por fatores climáticos prejudiciais à safra. Portanto, não estava preparada para corresponder ao incremento do consumo após março de 1986, problema esse agravado pela sonegação de alguns produtos, como leite, carne e ovos. Surge, assim, necessidade de rápida complementação da oferta interna, via aumento das importações de alimentos. Enfim, segundo Averbug (2005), apesar de o Plano Cruzado ter sinalizado ao setor um cenário promissor, não se materializaram fatos que promoves- sem transformações modernizantes mais profundas no campo. Houve, quando muito, um incentivo ao melhor desempenho da safra seguinte. A agropecuária não foi alvo de nenhuma estratégia específica de médio e longo prazo, à seme- lhança de outras omissões na condução da política econômica à época do Plano Cruzado. Por outro lado, a prevista estabilidade nos custos da produção seto- rial não se confirmou. 113 FATORES DE FRACASSO DO PLANO CRUZADO Congelamento e cristalização de preços relativos Segundo Sandroni (2005), o plano come- çou a fracassar exatamente porque os preços relativos da economia estavam desequilibrados. Por não equalizarem o valor presente dos preços, muitos produ- tores que corrigiam seus preços entre dia 1 a 15 do mês, ficaram com o preço tabe- lado abaixo da rentabilidade desejada ou até mesmo abaixo do custo de produção o que ou inviabilizava a venda dos produ- tos para o consumo ou levava a uma queda na qualidade dos mesmos. Empresas que haviam reajustados seus preços nos dias anteriores ao plano saíram beneficiadas. Como o congelamento não permitiu que os preços sujeitos à sazonalidade se ajustas- sem, ocorreu um desequilíbrio de preços o que provocou o desabastecimento de bens e o surgimento de ágio para compra de pro- dutos escassos, principalmente os que se encontravam na entressafra (carne e leite) e de mercados oligopolizados (automóveis). Além destes fatores alguns economistas apontam o abono concedido ao salário mínimo (aumento real de 16%) e ao fun- cionalismo público (abono de 8%) como responsável por um aumento do consumo o que pressionou ainda mais a demanda, impedida de ser contrabalanceada por um aumento de preços. Outros fatores que levaram ao fracasso do plano foi a falta de medidas econômicas por parte do governo para controlar os gas- tos públicos, o congelamento da taxa de câmbio levou o país a perder uma parcela considerável de reservas internacionais e os juros da economia estavam negativos o que desestimulava a poupança e pres- sionava o consumo. Algumas medidas corretivas ainda foram tomadas pelo governo , mas a proximidade das eleições fez com que o governo evitasse tomar medidas impopulares para garantir a sobrevivência do Plano. Após as elei- ções, onde os partidos governistas, PMDB e PFL, elegeram 22 dos 26 governadores do estado, o governo implementou medi- das impopulares como o descongelamento de preços com o intuito de tentar salvar o Cruzado. Entretanto no ano seguinte a infla- ção se reacelerou num patamar maior que o anterior ao plano. O Plano Cruzado foi considerado por muitos oposicionistas, entre eles Delfim Netto, um plano inconsistente, populista e eleitoreiro visando apenas a aumentar a popularidade do governo e seus candida- tos para vencer a eleição (SOUZA, 2007). A maioria dos candidatos do governo ven- ceu as eleições. Foi até cunhada, por isso tudo, a expressão “Estelionato Eleitoral”. Ver- dade ou não o plano naufragou de vez logo após as eleições. A população se revoltou com quebra-quebra de ônibus e invasão de supermercados. A hiperinflação se ins- talou, sem controle. O Plano Cruzado não apenas fracassou, como dele resultaram muitas ações judiciais até hoje em curso, na qual cidadãos comuns exigem de bancos e governos a reparação das perdas mone- tárias sofridas. Após o fracasso do Plano Cruzado o governo brasileiro lança o Plano Bresser. PLANO BRESSER O Plano Bresser foi um plano econômico brasileiro lançado em 16 de junho de 1987 por meio dos Decretos-Lei 2335/87, 2336/87 e 2337/87, pelo então Ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser Pereira. O plano Bresser seguiu o plano Cruzado, que havia fracassado na tentativa de contro- lar a inflação, ele objetivava, basicamente promover um choque deflacionário na eco- nomia, buscando evitar os erros do plano cruzado. “A inflação foi diagnosticada como inercial e dedemanda e, em consequen- cia, o plano foi concebido como hibrido, contendo elementos heterodoxos e orto- doxos.”(GIAMBIAGI, 2005 p.129) Um mês após a sua posse a inflação atin- giu o índice de 23,21%. O grande problema era o déficit público, pelo qual o governo gastava mais do arrecadava, sendo que nos primeiros quatro meses de 1987, já se havia acumulado um déficit projetado de 7,2% do PIB. Então, em junho de 1987, foi apresen- tado um plano econômico de emergência, o Plano Bresser, onde se instituiu o con- gelamento dos preços, dos aluguéis, dos salários e a UPR como referência mone- tária para o reajuste de preços e salários. Com o intuito de diminuir o déficit público algumas medidas foram tomadas, tais como: desativar o gatilho salarial, aumen- tar tributos, eliminar o subsídio do trigo e adiar as obras de grande porte já planeja- das, entre elas o trem-bala entre São Paulo e Rio, a Ferrovia Norte-Sul e o polo petro- químico do Rio de Janeiro. As negociações com o FMI foram retomadas, ocorrendo a suspensão da moratória. Mesmo com todas essas medidas a inflação atingiu o índice alarmante de 366% em dezembro de 1987. O Ministro Bresser Pereira demi- tiu-se do Ministério da Fazenda em 6 de janeiro de 1988 e foi substituído por Maíl- son da Nóbrega. PLANO VERÃO O Plano Verão, instituído em 16 de Janeiro de 1989, foi um plano econômico lançado pelo governo do presidente brasileiro José Sarney, realizado pelo ministro Maílson Fer- reira da Nóbrega, que havia assumido o lugar de Bresser Pereira. Devido à crise inflacionária da década de 1980, foi editada uma lei que modificava o índice de rendimento da caderneta, promo- vendo ainda o congelamento dos preços e salários, a criação de uma nova moeda, o Cruzado Novo, inicialmente atrelada em paridade com o Dólar e a extinção da OTN, importante fator de correção monetária. Assim como ocorreu no Plano Bresser, o Plano Verão também gerou grandes desa- justes às cadernetas de poupança, em que as perdas chegaram a 20,37%. Fonte: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAXh0AF/reflexoes-sobre-cenario-econo- mico-brasileiro-na-decada-1980#>. Acesso em: 29 nov. 2012 Plano Collor Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 115 Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . PLANO COLLOR O Plano Collor, como anteriormente o Plano Cruzado e o Plano Verão, ambi- cionou liquidar com a inflação de um só golpe. Ficou claro, três meses depois de editado o plano que esse objetivo não seria alcançado: inflação e provavelmente recessão estavam de volta (PEREIRA, 1990). Seria então o quarto plano de estabilização que não atingia seu objetivo: controlar a inflação. <http://g1.globo.com/economia/noticia/2012/09/planejado-contra-hipe- rinflacao-plano-collor-deu-inicio-abertura-comercial.html> 117 A teoria do plano econômico foi desenvolvida pelo economista Antônio Kandir. O pla- no efetivamente implementado foi desenvolvido pelos economistas Zélia Cardoso de Mello, Antônio Kandir, Ibrahim Eris, VeniltonTadini, Luís Otávio da Motta Veiga, Eduardo Teixeira e João Maia. Três planos separados para estabilização da inflação foram implementados durante os dois anos do governo Collor. Veremos a seguir. PLANO COLLOR I O Brasil sofreu por vários anos com a hipe- rinflação: em 1989, o ano antes da posse de Collor, a média mensal da inflação foi de 28,94%. O Plano Collor procurava estabilizar a inflação pelo “congelamento” do passivo público (tal como o débito interno) e res- tringindo o fluxo de dinheiro para parar a inflação inercial. A rápida e descontrolada remonetização da economia é tida como a causa das falhas dos planos de estabilização da inflação ado- tados anteriormente. O governo Collor teria de garantir uma remonetização “ordenada” e “lenta”, a fim de manter a inflação para baixo. Para o controle da velocidade da remonetização, poder-se-ia utilizar uma combinação de ferramentas econômicas, tais como impostos, taxas de câmbio, cré- dito e taxas de juros. Nos poucos meses que sucederam a implantação do plano, a inflação continuou a crescer. Em janeiro de 1991, nove meses após o início do plano, a inflação reduziu, atingindo a taxa de 20% por mês. O congelamento causou uma forte redu- ção no comércio e da produção industrial. Com a redução da geração de dinheiro de 30% para 9% do PIB, a taxa de inflação caiu de 81% em março para 9% em junho. O governo enfrentou duas escolhas: eles poderiam segurar o congelamento e arris- car uma recessão devido a redução dos ativos, ou remonetizar a economia atra- vés do descongelamento e correr o risco do retorno da inflação. O fracasso do Plano Collor I no controle da inflação é creditado pelos economis- tas keynesianos e monetaristas a falha do governo Collor de controlar a remo- netização da economia. O governo abriu várias “brechas” que contribuíram para o aumento do fluxo de dinheiro: os impos- tos e as contas do governo emitidos antes do congelamento podem ser pago com o velho Cruzado, criando uma forma de “brecha de liquidez”, que foi plenamente explorada pelo setor privado. Várias exce- ções aos setores individuais da economia foram abertas pelo governo, como nas poupanças de aposentados, e o “financia- mento especial” na folha de pagamento do governo. Por último, o governo foi incapaz de redu- zir despesas, reduzindo sua capacidade de usar muitas das ferramentas acima mencio- nadas. Os motivos vão desde o aumento do compartilhamento da receita de impostos federais com os estados até a cláusula de “estabilidade de emprego” para os funcio- nários públicos da Constituição brasileira de 1988, que preveniu o tamanho da redu- 117 ção tal como anunciada no começo do plano. Estes economistas vindicados como Bresser Pereira e Mário Henrique Simon- sen, ambos os ex-ministros das Finanças, que tinha previsto no início do plano que a situação fiscal do governo, tornaria impos- sível para o plano de trabalho. Fonte: <http://criticaehistoria.blogspot.com.br/2011/09/o-plano-collor.html>. Acesso em: 29 nov. 2012. Acesse também: <http://g1.globo.com/politica/impeachment-collor-20anos/platb/collor>. A EVOLUÇÃO DA ECONOMIA BRASILEIRA: POLÍTICAS ECONÔMICAS E SEUS REFLEXOS NO SETOR AGRÍCOLA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E118 MEDIDAS DO PLANO COLLOR I De acordo com Machado (2007), o plano foi anunciado em 16 de março de 1990, um dia após a posse de Collor. Suas políticas planejadas incluíam: ■ 80% de todos os depósitos do overnight, das contas correntes ou das cader- netas de poupança que excedessem a NCz$50mil (Cruzado novo) foram congelados por 18 meses, recebendo durante esse período uma rentabi- lidade equivalente à taxa de inflação mais 6% ao ano. ■ Substituição da moeda corrente, o Cruzado Novo, pelo Cruzeiro à razão de NCz$ 1,00 =Cr$ 1,00 ■ Criação do IOF, um imposto extraordinário e único sobre as operações financeiras, sobre todos os ativos financeiros, transações com ouro e ações e sobre todas as retiradas das contas de poupança. ■ Foram congelados preços e salários, sendo determinado pelo governo, posteriormente, ajustes que eram baseados na inflação esperada. ■ Eliminação de vários tipos de incentivos fiscais: para importações, expor- tações, agricultura, os incentivos fiscais das regiões Norte e Nordeste, da indústria de computadores e a criação de um imposto sobre as grandes fortunas.■ Indexação imediata dos impostos aplicados no dia posterior à transação, seguindo a inflação do período. ■ Aumento de preços dos serviços públicos. Gás, eletricidade, serviços pos- tais etc. ■ Liberação do câmbio e várias medidas para promover uma gradual aber- tura na economia brasileira em relação à concorrência externa. ■ Extinção de vários institutos governamentais e anúncio de intenção do governo de demitir cerca de 360 mil funcionários públicos, com plano para redução de mais de 300 milhões em gastos administrativos. Se o Plano Collor I não obteve êxito, que venha o segundo!! O segundo plano Collor iniciou-se em janeiro de 1991. Ele incluiu novos congelamentos de preços e a substituição de taxas de overnight com novas ferramentas fiscais que incluíam no seu cálculo as taxas de produção anteci- pada de papéis privados e federais. O plano conseguiu produzir apenas um curto prazo de queda na inflação, que retornou a subir novamente em maio de 1991. Plano Marcílio Marcílio Marques Moreira, que substituiu Zélia Cardoso de Mello no Ministé- rio da Fazenda em 10 de maio de 1991. Em 10 de maio de 1991, Zélia foi substituída no Ministério da Fazenda por Marcílio Marques Moreira, um economista formado pela Georgetown Uni- versity que era embaixador do Brasil nos Estados Unidos na época de sua nomeação. Plano Marcílio foi considerado mais gradual do que seus antecessores, utili- zando uma combinação de altas taxas de juros e uma política fiscal restriti- va. Ao mesmo tempo, os preços foras liberados e um empréstimo de US$2 bilhões do Fundo Monetário Internacional garantiram as reservas internas. As taxas de inflação durante o Plano Marcílio permaneceram nos níveis da hiperinflação. Marcílio deixou o Ministério da Fazenda ao seu sucessor, Gus- tavo Krause, em 2 de outubro de 1992. O presidente Fernando Collor de Mello já havia saído do governo devido ao impeachment pelo Congresso quatro dias antes, em 28 de setembro de 1992, por acusações de corrupção em um esquema de tráfico de influência, marcando o fim das tentativas de seu governo de acabar com a hiperinflação. Entre o fim do Plano Marcílio e o começo do próximo plano, o Plano Real, a inflação continuou a crescer, atingindo 48% em junho de 1994. Fonte: <http://pt.scribd.com/doc/70945754/Desempenho-da-economia- -Brasileira-nas-ultimas-decadas>. Acesso em: 29 nov. 2012. Plano Collor Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 119 A EVOLUÇÃO DA ECONOMIA BRASILEIRA: POLÍTICAS ECONÔMICAS E SEUS REFLEXOS NO SETOR AGRÍCOLA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E120 PLANO REAL Plano Real foi um programa brasileiro de estabilização econômica, iniciado ofi- cialmente em 27 de fevereiro de 1994 com a publicação da Medida Provisória nº 434 no Diário Oficial da União. Tal Medida Provisória instituiu a Unidade Real de Valor (URV), estabeleceu regras de conversão e uso de valores monetá- rios, iniciou a desindexação da economia e determinou o lançamento de uma nova moeda, o Real. O programa foi o mais amplo plano econômico já realizado no Brasil e tinha como objetivo principal o controle da hiperinflação que assolava o país. Utilizou-se de diversos instrumentos econômicos e políticos para a redução da inflação que chegou a 46,58% ao mês em junho de 1994, época do lançamento da nova moeda. A idealização do projeto, a elaboração das medidas do governo e a execução das reformas econômica e monetária contaram com a contribui- ção de vários economistas, reunidos pelo então Ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso. O presidente Itamar Franco, responsável pelo Plano Real, autorizou que os trabalhos se dessem de maneira irrestrita e na máxima extensão necessária ao seu êxito, o que tornou o Ministro da Fazenda o homem mais forte e poderoso de seu governo, e o seu can- didato natural à sua sucessão. Assim, Fernando Henrique Cardoso elegeu-se Presidente do Brasil em outubro do mesmo ano. ‘’Aqui jaz a moeda que acumulou, de julho de 1965 a junho de 1994, uma in- flação de 1,1 quatrilhão por cento. Sim, inflação de 16 dígitos, em três déca- das. Ou precisamente, um IGP-DI de 1.142.332.741.811.850%. Dá para deco- rar? Perdemos a noção disso porque realizamos quatro reformas monetárias no período e em cada uma delas deletamos três dígitos da moeda nacional. Um descarte de 12 dígitos no período. Caso único no mundo, desde a hipe- rinflação alemã dos anos 1920” (Joelmir Beting). Plano Real Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 121 O Plano Real mostrou-se nos meses e anos seguintes o plano de estabiliza- ção econômica mais eficaz da história, reduzindo a inflação (objetivo principal), ampliando o poder de compra da população e remodelando os setores econô- micos nacionais. HISTÓRIA DO PLANO REAL Em 19 de maio de 1993, Fernando Henrique Cardoso foi convidado ao cargo de Ministro da Fazenda pelo Presidente Itamar Franco, assumindo perante o país o compromisso de acabar com a inflação, ou pelo menos reduzi-la. Fernando Henrique era sociólogo de renome no Brasil e no exterior, e vinha ocupando o cargo de Ministro das Relações Exteriores. O novo ministro foi então recebido com entusiasmo, pois refletia uma possibilidade real de solução dos problemas, principalmente devido à sua capacidade intelectual e conhecimento social em nível global. Reuniu então um time de economistas de renome para elaborar um plano de combate a inflação. Em 1º de agosto de 1993, o ministro promoveu a sétima mudança de moeda do Brasil, de Cruzeiro para Cruzeiro Real, para efeito de ajuste de valores. A inten- ção do governo era repetir mais uma vez a prática de “cortar três zeros”, porém, no mesmo mês de lançamento do Cruzeiro Real, a inflação foi de 33,53%, e em janeiro de 1994, de 42,19%. A partir de 28 de fevereiro de 1994, como efeito da Medida Provisória nº 434, A EVOLUÇÃO DA ECONOMIA BRASILEIRA: POLÍTICAS ECONÔMICAS E SEUS REFLEXOS NO SETOR AGRÍCOLA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E122 iniciou-se a publicação dos valores diários da Unidade Real de Valor (URV) pelo Banco Central. A URV serviria como moeda escritural para todas as transações econômicas, com conversão obrigatória de valores, promovendo uma desinde- xação geral da economia. A MP nº 343 foi reeditada pelas MPs nº 482 e nº 457, e transformada posteriormente nas leis nº 8.880 e nº 9.069. A partir de 1º de março de 1994, passou a vigorar a Emenda Constitucional nº 10, que criou o Fundo Social de Emergência (FSE) considerado essencial para o êxito do plano. A emenda produziu a desvinculação de verbas do orça- mento da União, direcionando os recursos para o fundo, que daria ao governo margem para remanejar e/ou cortar gastos supérfluos. Os gastos do governo con- tribuíam grandemente para a hiperinflação, uma vez que a máquina do Estado brasileiro era grande, dispendiosa e ávida por mais gastos. Poucas horas antes, o Ministro FHC foi à televisão e, em pronunciamento oficial em rede nacio- nal, deu um ultimato ao Congresso Nacional para que aprovasse a emenda à Constituição Federal. Em 1º de julho de 1994 houve a culminância do programa de estabilização, com o lançamento da nova moeda, o Real (R$). Toda a base monetária brasi- leira foi trocada de acordo com a paridade legalmente estabelecida: CR$2.750,00 para cada R$1,00. A inflação acumulada até julho foi de 815,60%, e a primeira inflação registrada sob efeitoda nova moeda foi de 6,08%, mínima recorde em muitos anos. Devido à corrida inflacionária, entre 1967 e 1993 o Brasil teve seis moedas diferentes, a saber: Cruzeiro Novo (1967), Cruzeiro (1970), Cruzado (1986), Cruzado Novo (1989), Cruzeiro (1990) e Cruzeiro Real (1993). O total de infla- ção acumulado nesse período foi de aproximadamente 1.142.332.741.811.850% (IGP-DI). O resultado positivo do Plano Real tem influenciado a política econômica brasileira desde então. Resumo do plano O Plano Real foi um programa definitivo de combate à hiperinflação implan- tado em três etapas, a saber: Veja como viviam os brasileiros com inflação comemorada de só 46% ao mês e moeda corrente “URV” logo antes do Plano Real - esta matéria histórica mostra que o Real chegaria um mês após o previsto. <http://www.youtube.com/watch?v=UHuF6Bavyrc>. Plano Real Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 123 ■ Período de equilíbrio das contas públicas, com redução de despesas e aumento de receitas, e isto teria ocorrido nos anos de 1993 e 1994. ■ Criação da URV para preservar o poder de compra da massa salarial, evitando medidas de choque como confisco de poupança e quebra de contratos. ■ Lançamento do padrão monetário de nome Real, utilizado até os dias atuais. Após a implantação do plano, durante mais de seis anos, uma grande sequência de reformas estruturais e de gestão pública foi implantada para dar sustentação à estabilidade econômica, entre elas destacam-se: privatização de vários setores estatais, o Proer, a criação de agências reguladoras, a Lei de Responsabilidade Fiscal, a liquidação ou venda da maioria dos bancos pertencentes aos governos dos estados, a total renegociação das dívidas de estados e municípios com critérios rigorosos (dívida pública), maior abertura comercial com o exterior entre outras. Um funcionário da Casa da Moeda, responsável pelo projeto artístico da empresa, relatou a uma revista que o primeiro comunicado sobre uma outra nova moeda foi feito em novembro de 1993, e a sua produção se iniciou em janeiro de 1994, estabelecendo um recorde. O Plano Real teria sido idealizado entre setembro de 1993 (época do lançamento do Cruzeiro Real) e julho de 1994 (lançamento do Real). PRINCIPAIS MEDIDAS O programa brasileiro de estabilização econômica seguiu as seguintes linhas mestras (com efeito sinérgico): A EVOLUÇÃO DA ECONOMIA BRASILEIRA: POLÍTICAS ECONÔMICAS E SEUS REFLEXOS NO SETOR AGRÍCOLA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E124 Desindexação da economia ■ Medida Adotada: o ajuste e reajuste de preços e valores passaram a ser anualizados e obedeceriam as planilhas de custo de produção. ■ Justificativa: era necessário interromper o ciclo vicioso de corrigir valores futuros pela inflação passada, em curtos períodos de tempo. Essa atitude agravava a inflação, tornando-a cada vez maior. Era comum acontecer remarcação de preços várias vezes num mesmo dia. Privatizações ■ Medida Adotada: a troca na propriedade de grandes empresas brasilei- ras eliminou a obrigação pública de financiar investimentos (que causam inflação se forem feitos pelo governo por meio da emissão de moeda sem lastro) e possibilitou a modernização de tais empresas (sob controle esta- tal havia barreiras impeditivas para tal progresso, como burocracia e falta de recursos). ■ Justificativa: a iniciativa privada tem meios próprios de financiar os investimentos das empresas, e isto não produz inflação, e sim, desenvol- vimento, porque não envolve o orçamento do governo. Este deve alocar recursos para outras áreas importantes. E ainda, na iniciativa privada não há as regras administrativas orçamentárias e licitatórias, que prejudicam a produção das empresas e a concorrência perante o mercado. Equilíbrio fiscal ■ Medida Adotada: corte de despesas e aumento de cinco pontos percen- tuais em todos os impostos federais. ■ Justificativa: a máquina administrativa brasileira era muito grande e con- sumia muito dinheiro para funcionar. Havia somente no âmbito federal 100 autarquias, 40 fundações, 20 empresas públicas (sem contar as empre- sas estatais), além de 2 mil cargos públicos com denominações imprecisas, atribuições mal definidas e remunerações díspares. Como o país não pro- duzia o suficiente decidiu-se pelo ajuste fiscal, o que incluiu cortes em investimentos, gastos públicos e demissões. Durante o governo FHC, Plano Real Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 125 aproximadamente 20 mil funcionários foram demitidos do governo federal. Abertura econômica ■ Medida Adotada: redução gradual de tarifas de importação e facilitação da prestação de serviços internacionais. ■ Justificativa: havia temor de que o excesso de demanda por produtos e serviços causasse o desabastecimento e a remarcação de preços, pres- sionando a inflação (fato ocorrido durante o Plano Cruzado em 1986). Existia também a necessidade de forçar o aperfeiçoamento da indústria nacional, expondo-a a concorrência, o que permitiria o aumento da pro- dução no longo prazo, e essa oferta maior de produtos tenderia a acarretar uma baixa nos preços. Contingenciamento ■ Medida Adotada: manutenção do câmbio artificialmente valorizado. ■ Justificativa: com efeito da valorização do Real, esperava-se um aumento das importações, com aumento da oferta de produtos e aperfeiçoamento da indústria nacional via concorrência com produtos estrangeiros. Políticas monetárias restritivas ■ Medida Adotada: aumento da taxa básica de juros e da taxa de depósito compulsório dos bancos. ■ Justificativa: a taxa de juros teve inicialmente dois propósitos: financiar os gastos públicos excedentes até que se atingisse o equilíbrio fiscal, e reduzir a pressão por financiamentos, considerados agentes inflacioná- rios (esfriamento da economia). Os financiamentos chegaram ter o prazo de quitação regulado pelo governo. ■ O compulsório dos bancos teve o propósito de reduzir a quantidade de dinheiro disponível para empréstimos e financiamentos dos bancos, uma vez que são obrigados a recolher compulsoriamente uma parte dos valo- res ao Banco Central. A EVOLUÇÃO DA ECONOMIA BRASILEIRA: POLÍTICAS ECONÔMICAS E SEUS REFLEXOS NO SETOR AGRÍCOLA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E126 EFEITOS IMEDIATOS A força do Plano Real fez o presidente Itamar Franco eleger seu sucessor já no primeiro turno em 1994. O efeito regulador do Plano Real foi imediato e muito positivo em seu propó- sito. A inflação calculada sobre a URV nos meses de sua vigência (abril a junho) ficou em torno de 3%, enquanto que a inflação em Cruzeiros Reais (CR$) foi de cerca de 190%. Até o início da circulação do Real (R$), em 1º de julho de 1994, a inflação acumulada foi de 763,12% (no ano) e 5.153,50% (nos últimos 12 meses). A inflação que antes consumia o poder aquisitivo da população brasileira, impedindo que as pessoas permanecessem com o dinheiro por muito tempo, principalmente entre o banco e o supermercado, estava agora controlada. O efeito imediato e mais notável do Plano Real foi a aposentadoria da máquina-símbolo da inflação, a “remarcadora de preços do supermercado” presente no comércio. O consumidor de baixa renda foi o principal beneficiário. Durante muitos anos, a correção monetária foi uma salvaguarda que permi- tia aos brasileiros que tinham maior poder aquisitivo defender-se parcialmenteda corrosão do valor nominal da moeda, com aplicações bancárias de rendi- mento diário como o “overnight”. A grande maioria da população, entretanto, não tinha acesso a esses mecanismos e sofria com a desvalorização diária dos recursos recebidos como salário, aposentadoria ou pensão, sendo os maiores prejudicados com a alta inflação. Não por acaso, após a implantação do Plano Real a taxa de consumo de itens antes “elitizados” como o iogurte explodiu nas classes C e D da população. Segundo estudos da Fundação Getúlio Vargas - (FGV), houve entre 1993 e 1995 uma redução de 18,47% da população miserável do país fruto do sucesso do plano. Um dos melhores índices da história. Também se considera como efeito direto do plano a vitória do candidato do governo, Fernando Henrique (PSDB-SP), nas eleições presidenciais de 1994. A estabilidade monetária é o fator condicionante. A prosperidade econômi- ca é o fator condicionado. Volatilidade do Crescimento Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 127 EFEITOS EM LONGO PRAZO Os efeitos em longo prazo esperados à época do lançamento do Plano Real foram: Manutenção de baixas taxas inflacionárias e referências reais de valores. ■ Aumento do poder aquisitivo das famílias brasileiras. ■ Modernização do parque industrial brasileiro. ■ Crescimento econômico com geração de empregos. VOLATILIDADE DO CRESCIMENTO A volatilidade do crescimento da economia brasileira (4,5% no século), apesar de ser alta para o padrão de países industrializados, pode ser considerada baixa se comparada com outros países latino-americanos. A volatilidade diminui quando o país passa de uma economia agroexportadora e avança na industrialização. CARACTERÍSTICAS DO CRESCIMENTO BRASILEIRO: PIB SETORIAL Até anos os 30 a agricultura era o principal setor a dar a dinâmica do PIB. Entre os anos 30 e 70 - transformação industrial: cresce a participação do setor indus- trial no PIB. A EVOLUÇÃO DA ECONOMIA BRASILEIRA: POLÍTICAS ECONÔMICAS E SEUS REFLEXOS NO SETOR AGRÍCOLA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E128 MÉDIAS ANUAIS DE CRESCIMENTO DO VALOR AGREGADO BRASILEIRO: INDÚSTRIA E PIB PERÍODOS SELECIONADOS 1920 1929 1929 1945 1945 1972 1972 1981 1981 1995 1945 1995 1900- 1995 Indústria Manufatureira 3,7 6,0 8,4 6,2 1,1 6,6 6,7 PIB 6,1 3,8 7,2 7,1 2,0 5,8 5,2 Fonte: PIB IBGE; Indústria Thorp (2000 apud GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JUNIOR, 2007) Podemos analisar, no quadro a seguir, algumas etapas do Crescimento Brasileiro no século XX. ETAPAS DO CRESCIMENTO ECONÔMICO BRASILEIRO NO SÉCULO XX Período População Crescimento Econômico Modelo de Desenvolvimen- to 1900 1930 População aberta, taxas relativamente elevadas de crescimento populacional em função do processo migratório, com fim da migração taxas caem. Taxas elevadas mas instáveis de cresci- mento. Economia agroexporta- dora. 1930 1945 População fechada, início taxas baixas de cresci- mento populacional (alta natalidade mas alta morta- lidade), depois acelera com queda da mortalidade. Crescimento mais lento e mais instável (período da grande crise internacional - crescimento no Brasil maior que EUA). Deslocamento do centro dinâmico. 1945 1980 População fechada, taxas de crescimento popula- cional em forte elevação (queda das taxas de mor- talidade), risco de explosão demográfica. Forte crescimento econômico e diminui- ção da instabilidade (instabilidade cresce no fim do período). Processo de industrialização acelerado. Volatilidade do Crescimento Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 129 1980 2000 População fechada, forte diminuição das taxas de crescimento populacional (queda da taxa de natalida- de), explosão demográfica afastada. Desaceleração signifi- cativa do crescimento econômico com aumento da instabi- lidade. Crise da dívida e problemas de estabilização. Fonte: PIB IBGE; Indústria Thorp (2000 apud GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JUNIOR, 2007) CARACTERÍSTICAS DO CRESCIMENTO BRASILEIRO: A INFLAÇÃO ■ Industrialização é acompanhada pelo aumento de preços e relativa ace- leração inflacionária. ■ Aceleração inflacionária contida entre os anos 60 e 70. ■ Disparada da inflação junto com retração do crescimento econômico. ■ Década de 90, depois do Plano Real, inflação volta aos patamares de antes da industrialização. CARACTERÍSTICAS DO CRESCIMENTO BRASILEIRO: A BALANÇA COMERCIAL ■ No Brasil, a balança comercial em geral foi positiva, mas em vários momen- tos existiram déficits comerciais. ■ No início do século as exportações de produtos primários (café) ditavam o ritmo da economia. ■ Durante quase todo o século o Brasil teve uma grande dependência de poucos produtos primários na sua pauta de exportações (café, algodão, borracha, cacau). ■ Depois da década de 30 o Brasil passou por uma industrialização voltada para o mercado interno e não para exportar. A EVOLUÇÃO DA ECONOMIA BRASILEIRA: POLÍTICAS ECONÔMICAS E SEUS REFLEXOS NO SETOR AGRÍCOLA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E130 ■ Só nos anos 70 a pauta de exportações se diversifica (soja, aço etc.) dimi- nuindo a vulnerabilidade externa do Brasil em termos de sua balança comercial. CARACTERÍSTICAS DO CRESCIMENTO BRASILEIRO: O ENDIVIDAMENTO EXTERNO ■ Na segunda metade do século XX: ampliação da dívida externa brasileira. ■ O coeficiente de vulnerabilidade era crescente até os anos 30, há uma redução até o início dos anos 50, depois disto ele volta a subir. ■ Este coeficiente mede a quantidade de anos de exportação necessários para pagar a dívida externa. ■ No período recente, o coeficiente, depois de uma diminuição, voltou a subir após o Plano Real. ■ Década de 90: mudanças. Globalização. Abertura da economia. Estabilidade da moeda. Privatizações. Maior conscientização do consumidor. Portanto, caro(a) aluno(a), pode-se entender melhor o desenvolvimento econô- mico brasileiro, ao longo das últimas décadas, dividindo-as em quatro diferentes períodos, a saber: 1961-1973: o de crescimento acelerado (8% a.a.). 1973-1979: o do primeiro choque no preço do petróleo e o de obras públi- cas de difícil justificativa (como Angra I e II, e a Ferrovia do Aço entre outras). Década de 80: novo choque no preço do petróleo, acrescido de aumento de juros internacionais e queda nos preços das commodities agrícolas, cujas con- sequências foram: recessão, queda da renda, inflação, desemprego e aumento Volatilidade do Crescimento Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 131 significativo da dívida externa. A partir dos anos 90: notadamente a partir de 1994 são os anos de efetiva mudança, principalmente para o setor privado, forçado a se adequar à abertura da economia, à globalização, à privatização, à estabilidade econômica e à cres- cente conscientização do consumidor brasileiro, que passou a ter mais opções e, portanto, a ser menos fiel. Veremos na próxima unidade algumas megatendências mundiais e o Brasil neste cenário. 133 DEZ ANOS APÓS IR A R$ 4, DÓLAR A R$ 2 REFLETE NOVO BRASIL Háexatamente dez anos, o mercado de câmbio no Brasil vivia um de seus momentos mais críticos, provavelmente o pior desde a maxidesvalorização do real, ocorrida três anos antes DA IDEIA ONLINE Temendo um calote da dívida que mergu- lhasse o país numa crise profunda caso o então candidato à Presidência da Repú- blica, Luiz Inácio Lula da Silva, fosse eleito, investidores demandaram dólares numa magnitude sem precedentes, fazendo a moeda americana disparar e bater o recorde do Plano Real, em R$ 4,00, máxima até hoje não superada. Esse cenário teve como pano de fundo um quadro já não muito propício aos emer- gentes, em meio ao impacto do pedido de concordata da gigante americana do setor de energia Enron, em dezembro de 2001, e à crise econômica na Argentina, que colo- cou a América do Sul na linha de tiro de investidores estrangeiros. Passada uma década, o quadro que se vê é bastante diferente. A volatilidade que sobrava naquele período hoje falta ao mer- cado de câmbio doméstico. O dólar não sai do intervalo entre R$ 2,00 e R$ 2,10 desde julho, a volatilidade histórica caiu a mínimas e os volumes diários no mercado à vista recuaram cerca de 15,5% no acumulado deste ano ante o mesmo período de 2011, em meio à escalada do tom do governo contra a taxa de câmbio valorizada. “A volatilidade extrema que tivemos na elei- ção do Lula decorreu, além de questões políticas, da falta de reservas e também da visão de que, se o real se desvalorizasse, o Brasil entraria numa situação fiscal compli- cada”, avalia o gestor da InvestPort Dany Rappaport. Rappaport lembra que o BC gastou boa parte das já modestas reservas internacio- nais para tentar amortecer a disparada do dólar, que iniciou o ano em cerca de R$ 2,30, superou a barreira dos R$ 3,00 no fim de julho e em outubro bateu os R$ 4,00 na máxima histórica (R$ 3,99 no fechamento), acumulando um salto nominal de quase 74% em pouco mais de dez meses. Em ter- mos reais, a alta foi de 52,7%. Vale lembrar que a inflação no período estourava a meta, acumulando entre janeiro e outubro de 2002 um salto de 6,98% e fechando o ano em 12,53%, pelo IPCA. Houve uma intensa saída de capitais do país, com oito meses seguidos de fluxo cambial negativo [entre maio e dezembro], fechando o ano com um déficit de dóla- res de US$ 12,989 bilhões, o terceiro pior de toda a série histórica do BC, iniciada em 1982. O BC começou 2002 com US$ 35,866 bilhões em reservas internacionais, segundo o conceito liquidez internacional. Ou seja, o país tinha reservas suficientes para bancar pouco mais de sete meses de importações, sendo que, pela teoria econô- mica, o mínimo deveria ser de nove meses. 133 No fim de 2002, as reservas somavam US$ 37,823 bilhões, pouco acima do valor em que se encontravam em janeiro. Apenas em outubro, a queda foi de US$ 2,5 bilhões. Pode parecer pouco, principalmente consi- derando as intervenções feitas nos últimos três anos, mas há que se considerar que a proporção das atuações sobre o “colchão de liquidez” brasileiro se situava na época em torno de 10%, o dobro da registrada entre outubro de 2008 e fevereiro de 2009, por exemplo. No fatídico dia 10 de outubro, profissionais do mercado de câmbio atribuíam a dispa- rada do dólar a uma forte demanda quase que restrita ao mercado à vista, que sofria com uma escassez acentuada de moeda. O temor de que Lula fosse eleito e afas- tasse o país das diretrizes da boa política econômica servia como justificativa para uma intensa pressão por parte do mercado ligada ao vencimento de US$ 3,67 bilhões em dívida cambial no dia 17 daquele mês. Ao longo de outubro, o BC fez diversos lei- lões de resgate antecipado e rolagem dos títulos cambiais, entre eles swaps, notas do Tesouro corrigidas pela variação da taxa de câmbio, mas fez a rolagem e o resgate antecipado de menos de 20% do volume a vencer. Como a liquidação financeira ocorreria no dia seguinte e os papéis resgatados seriam corrigidos pela variação cambial, os bancos pressionaram o dólar para cima, buscando maximizar os ganhos, movimento que contribuiu para a disparada da moeda americana. Operadores lembram que comentários feitos no dia 9, pelo então presidente do Banco Central, Arminio Fraga, também aju- daram a catapultar o dólar. A expectativa de parte do mercado era de que o presidente do BC anunciasse medidas para conter a escalada do dólar, o que não ocorreu. Na ocasião, Fraga cobrou mais clareza dos can- didatos à presidência e eximiu o governo da responsabilidade pela instabilidade.“O fato é que não havia dólares para vender. Todo mundo estava remetendo dinheiro para o exterior, temendo, por exemplo, medi- das que obrigassem o dinheiro a ficar no país. Lembro que o resultado da rolagem dos papéis cambiais chegou a ficar nega- tivo, porque você simplesmente não achava dólar”, lembra Fabio Fender, especialista em opção de juros da Icap, que na ocasião che- fiava a mesa de câmbio de outra corretora. “Os ânimos se acalmaram depois que o Lula lançou a ‘Carta ao Povo’, mas ainda assim tivemos momentos de estresse, que só diminuíram quando o mercado entendeu que o Brasil honraria seus compromissos, que não mergulharia numa sombra polí- tica”, afirma ele, referindo-se ao documento lido por Lula em junho de 2002 a uma pla- teia de empresários e jornalistas. Fender chama atenção para o fato de a intensidade da valorização do dólar em 2002 ter sido de longe superior ao movi- mento de queda nos anos seguintes. “Isso mostra que havia um sentimento de medo dominando, que se converteu nos anos seguintes em confiança. Tanto que, se você olhar a curva do dólar nesses dez anos, o gráfico é todo para baixo”, afirma, citando a estabilidade econômica alcançada pelo país e o bom momento da economia mun- dial como fatores que derrubaram o dólar nos anos seguintes, levando a moeda em 2008 e 2011 a mínimas não vistas desde 1999, pouco acima de R$ 1,50. Nesse sentido, o diretor de câmbio da Pioneer Corretora, João Medeiros, chama atenção hoje para a outra “realidade” do câmbio. “Naquela época, a volatilidade foi extrema, sendo que havíamos saído do regime de câmbio fixo poucos anos antes. Hoje, pelo visto, voltamos a ter um câmbio tabelado, embora não oficialmente, mas numa situ- ação diferente, sem fuga de capitais e com uma economia bem mais relevante”, ava- lia o diretor. Medeiros acredita que, no curto e médio prazos, o intervencionismo do governo e o quadro externo devem manter o dólar acima dos R$ 2,00, com a moeda eventu- almente testando esse patamar. Fender vai na mesma linha e destaca que o BC já deixou muito claro ao mercado qual patamar deseja para o dólar. “Ele não vai abrir mão dos R$ 2,00, acho que nem se a inflação começar a preocupar de vez, por- que existe uma preocupação muito grande do governo, e do próprio BC, com o nível da atividade”, diz o profissional. Rappaport vê o dólar nos atuais níveis no curto prazo, mas no médio e longo prazos, acredita que o real vá se depreciar, porque é uma moeda valorizada e por conta da piora nas contas externas. Fonte: <http://www.portaldoagronegocio.com.br/conteudo.php?id=82727>. Acesso em: 29 nov. 2012. Considerações Finais Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 135 Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante de todo o exposto, um fato é incontestável: a industrialização passou a ser prioridade de grandeparte dos países menos desenvolvidos, mais clara- mente na América Latina. O Brasil é um claro exemplo disso com o Governo de Juscelino Kubitschek de Oliveira e o seu famoso Plano de Metas que buscava crescer 50 anos em 5. E esse crescimento visava fundamentalmente a indústria do país, especialmente a indústria automobilística. Industrialização se tornou palavra de ordem no país e até hoje, em quase todos os municípios há um prefeito que fala em desenvolvimento e já menciona “trazer uma indústria”. O resultado é que os estados mais ricos do país são exa- tamente aqueles que têm um bom nível de indústrias, especialmente aquelas de maior sofisticação tecnológica ou maior agregação de valor. A agricultura foi o setor mais importante da economia brasileira desde a época de colônia até o início do século XX, quando o nosso forte era o setor agrá- rio-exportador. Os diferentes ciclos da nossa economia testemunham isso. No entanto, a partir dos anos trinta e mais claramente a partir dos anos 50, ela perde a hegemonia e a indústria passa a ser o setor estratégico no desenvolvimento do país. É nesse período que vão surgir as análises chamadas de funcionalistas, ou seja, aquelas que atribuem à agricultura algumas tarefas a serem desenvolvidas para que o país alcance o seu desenvolvimento. A definição estratégica dos anos 60 em favor de um desenvolvimento asso- ciado repercute na agricultura de forma decisiva. Nessa época, estava em plena discussão as alternativas para o desenvolvimento agrícola do país. Alguns auto- res defendiam a necessidade e a oportunidade de reformas estruturais, entre elas a reforma agrária, o que atendia ao apelo de amplos movimentos reivindi- catórios dos anos 60. De outro lado, havia os pensadores neoclássicos que defendiam a oportuni- dade de modernizar a agricultura, nos moldes do que foi feito nos Estados Unidos e em outros países do mundo. Como a opção de 1964 foi por um desenvolvi- mento associado na agricultura, vai prevalecer a opção da modernização que atende a uma conjugação de interesses ligados ao processo de industrialização, aliados agora aos grandes latifundiários e aos interesses do capital internacional. A EVOLUÇÃO DA ECONOMIA BRASILEIRA: POLÍTICAS ECONÔMICAS E SEUS REFLEXOS NO SETOR AGRÍCOLA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E136 Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. É nesse contexto que vai se iniciar a tecnificação da produção rural. Vale a pena destacar que esse rol de problemas leva o Estado ao abandono do sistema de planejamento de longo prazo, que dava o rumo do desenvolvimento econômico do país. Há um amplo predomínio da administração conjuntural de curtíssimo prazo. Muitas vezes os objetivos e metas que vinham sendo busca- dos há anos são abandonados e o governo trabalha em uma política de “apagar incêndios” ou “tapar buracos”. Ao longo dos anos 80 e 90, essa tendência se consolida e começa a delinear o novo modelo de desenvolvimento do país em que o aspecto tecnológico cons- titui-se uma das peças fundamentais (novo paradigma) e no qual a presença do Estado passa a ter um papel bem diferente daquele desempenhado até então. Olhando para o tema de outra ótica, seria o caso de acrescentar o surgi- mento do neoliberalismo no mundo em fins dos anos 70 e início dos anos 80. O modelo neoliberal prevê a redução da ação do Estado e o fortalecimento da iniciativa privada, ou privatização dos bens públicos. É nesse conjunto de visão que o Estado perde o seu papel condutor da economia, como vinha desempe- nhando desde 1930 (no caso brasileiro). Em suma, são três importantes movimentos simultâneos e integrados que passam a ditar os rumos da economia internacional e brasileira nesse período: o neoliberalismo, o novo paradigma tecnoeconômico e a globalização, financeira, a princípio, e depois mais ampla, integrando os mercados mundiais em uma só realidade, derrubando barreiras protecionistas, unificando políticas econômi- cas e comerciais, formando blocos como a Comunidade Econômica Europeia e assim por diante. Veremos na próxima unidade os movimentos e as consequências destes para se ter uma boa visão do conjunto e das perspectivas da economia e do agrone- gócio brasileiro. 137 1. Descreva o que foi o Processo de Substituição de Importações e quais foram suas contribuições. 2. Destaque algumas das reformas institucionais promovidas pelo Estado na se- gunda metade do século XX. 3. A inflação foi um dos grandes problemas enfrentados pela economia brasileira durante décadas. Elenque os principais planos econômicos utilizados para com- bater a inflação. 4. O crescimento econômico é fator importante para um país. Descreva o que é a volatilidade no crescimento e seus impactos. 5. Você acha que a agricultura foi muito afetada com as políticas adotadas nas úl- timas décadas? U N ID A D E V Professora Me. Ariane Maria Machado de Oliveira A AGRICULTURA BRASILEIRA E AS MEGATENDÊNCIAS MUNDIAIS Objetivos de Aprendizagem ■ Analisar algumas transformações e tendências que vêm ocorrendo na economia mundial, como a disseminação da inovação e do conhecimento. ■ Demonstrar a situação e o posicionamento do setor agrícola no mundo. ■ Expor a situação do setor agrícola nacional frente ao mercado global. ■ Discorrer sobre a evolução do comércio internacional e a participação do agronegócio. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ Megatendências Mundiais ■ O agronegócio no mundo ■ O posicionamento do Brasil frente ao mercado global ■ Balança comercial do agronegócio brasileiro: evolução e principais países envolvidos INTRODUÇÃO A seguir, analisam-se algumas especificidades da agricultura brasileira, princi- palmente no que se refere às transformações mais recentes, que vêm ocorrendo a partir do início dos anos 90: as exportações de produtos agrícolas como estí- mulo ao aumento da produção; a concentração do controle do setor em mãos de grandes empresas nacionais e transnacionais; a agricultura familiar e a competi- tividade das agroindústrias; a competitividade da agricultura familiar; a reforma agrária e, por último, a produção de biocombustíveis. Primeiramente falaremos sobre as megatendências da economia mundial, como a globalização, inovação e características da economia do conhecimento, chamada “nova economia”. Abordaremos também, caro(a) aluno(a), sobre o agronegócio no mundo, a participação do Brasil e a evolução da balança comercial brasileira nos últimos anos. As tendências e o acelerado desenvolvimento brasileiro serão abordados nos últimos tópicos. Em primeiro lugar, veremos que é uma ilusão imaginar que o Brasil prova- velmente se desenvolveu nessa escala. A verdade é que o Brasil continua sendo uma constelação de regiões de distintos níveis de desenvolvimento, com uma grande heterogeneidade social, e graves problemas sociais que preocupam a todos os brasileiros. Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 141 A AGRICULTURA BRASILEIRA E AS MEGATENDÊNCIAS MUNDIAIS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E142 A AGRICULTURA BRASILEIRA E AS MEGATENDÊNCIAS MUNDIAIS MEGATENDÊNCIAS MUNDIAIS Caro(a) aluno(a), vimos, anteriormente, alguns aspectos da economia brasileira nas últimas cinco décadas (1950-2002) no âmbito das políticas econômicas ado- tadas e seus reflexos no setor agrícola. Nesta unidade,faremos uma análise das principais transformações que vêm ocorrendo nos últimos anos, mundialmente, sob os aspectos socioeconômicos e políticos, enfatizando o posicionamento do setor agrícola diante deste cenário. Com a globalização, as fronteiras do agronegócio também têm sido derru- badas. As trocas e negociações entre países têm sido cada vez mais constantes e as discussões acerca delas têm colocado em evidência o agronegócio mundial. Tais mudanças que vamos tratar nesta unidade impactaram diretamente sobre a atividade econômica mundial, desafiando os países, especialmente aqueles em desenvolvimento, a adotarem uma nova postura para alcançarem melhor posicio- namento frente ao mercado global. Mendes (2009) descreve algumas características das principais mudanças que levaram a nova configuração que surge no panorama mundial: a) Declínio econômico relativo dos dois polos imperiais (EUA e ex-URSS), que nas décadas de 60 e 70 dominavam o mundo. Por exemplo, por volta de 1929 o PIB dos EUA representavam cerca de 42% do PIB mundial, caindo para menos de 20% desde o ano de 2007. b) Progressivo deslocamento do centro de gravidade econômico do mundo, uma vez que tem havido um redirecionamento econômico-financeiro do Atlântico (com total predominância dos Estados Unidos e da Europa) para o Pacífico (lado asiático), com destaque para a China, que vem cres- cendo a taxas elevadas, aparecendo em segundo lugar, com cerca de 14% da divisão do PIB global. c) Formação de megablocos comerciais, cujo principal objetivo é, de um A Agricultura Brasileira e as Megatendências Mundiais Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 143 lado, proteção e de outro lado, aumentar a competitividade dos países integrantes. d) Globalização dos setores financeiro, comercial, produtivo e tecnológico. e) Desequilíbrios econômicos mundiais, com marcantes déficits e con- sequente acumulação de dívidas externas, principalmente após a crise americana de 2008, onde a maioria dos países europeus revelou um cenário de déficits públicos exorbitantes e com baixa capacidade de financiamento. Ainda segundo Mendes (2009), podemos destacar três grandes transformações mundiais: redirecionamento econômico regional, megablocos e globalização. O processo de globalização marcou o setor agrícola brasileiro nos anos 90, a exemplo de toda a economia, tido aqui como mais uma saída do capital frente às diversas crises enfrentadas ao longo da sua história, que consolidou a trans- nacionalização da agricultura e sua inserção definitiva da divisão internacional do trabalho. Nesse sentido, se nos anos 60 e 70, durante a fase áurea da modernização, ocorreu a formação dos complexos agroindustriais, em tempos de economia globalizada tem-se o fortalecimento e a internacionalização dos complexos, especialmente os de carne e grãos. Com a internacionalização dos complexos agroindustriais, ocorre a padronização dos seus sistemas produtivos, no sentido de que são múltiplas as fontes de matéria-prima, a origem e o destino dos produ- tos, mas único o padrão produtivo por todo mundo. É assim que, por exemplo, o Brasil e a China produzem trigo ou soja, da mesma maneira que são produzi- dos esses produtos em todas as outras partes do mundo. Assim, por exemplo, da mesma maneira que se fala no carro mun- dial, fala-se no frango mundial, no novilho mundial. Se pegarmos, por exemplo, um suíno que é engordado na Holanda, na ração dele tem soja brasileira e trigo canadense, a gaiola é de aço indiano e os medi- camentos alemães ou são feitos em outro lugar qualquer (SILVA, 1999, p.01). No próximo tópico, faremos uma abordagem acerca das mudanças tecnológi- cas ocorridas nas últimas décadas, e seus impactos sobre a economia mundial e o agronegócio. A AGRICULTURA BRASILEIRA E AS MEGATENDÊNCIAS MUNDIAIS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E144 A NOVA REALIDADE ECONÔMICA: INOVAÇÃO E CONHECIMENTO O novo paradigma tecnológico, que surge a partir dos anos 70, com a adoção de novas técnicas de organização e automação produtiva, com ênfase na micro- eletrônica e nas tecnologias de informação, permitiu a introdução de novos produtos e processos produtivos que determinaram também mudanças impor- tantes de comportamento social. Para denominar o período atual, cunhou-se o termo “Sociedade do Conhecimento”, ou “Era da Informação”, no qual busca-se destacar o papel cru- cial que assumiu o conhecimento em nossa sociedade. Do ponto de vista econômico o papel de destaque do conhecimento é expresso na denominação “Nova Economia”, em que os bens e serviços produzidos e con- sumidos assumem cada vez mais um caráter intangível, com forte componente informacional. Drucker (1999) afirma que o conhecimento tornou-se o fator decisivo de produção, não só coexistindo, mas superando os fatores clássicos: trabalho, capital e terra. Associada a essa “revolução” técnica, nos últimos 30 anos também se observou uma maior interdependência das economias nacionais, ao qual se convencionou denominar, apesar de todas as críticas, conforme Chesnais (1996), “Mundialização”. Esse fenômeno econômico e social teve nas tecnologias de infor- mação e novas tecnologias da microeletrônica um de seus instrumentos de ação. Em termos econômicos, a globalização significou uma maior liberdade (e facili- dade) nos deslocamentos de capital para sua valorização e a localização espacial deste dependerá das condições que melhor favoreça seu desenvolvimento. O resultado deste fenômeno foi o esgarçamento do espaço econômico nacional A Agricultura Brasileira e as Megatendências Mundiais Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 145 e o dualismo entre, por um lado, o “Local” e, por outro, o “Global” (ALBAGLI, 2000). A perspectiva de Perroux (1955), Myrdal (1957) e Hirschman (1958) de que a produção de valores no capitalismo se dá de maneira espacialmente con- centrada, reforça a perspectiva do “Local” enquanto um ponto de produção e realização de valores. Por sua vez, a intensidade em que o conhecimento vem sendo usado no processo produtivo, assim como a maior integração econômica dos países, permite às diversas localidades, inclusive regiões inteiras, combinar suas potencialidades econômicas (endógenas) com as diversas possibilidades abertas pelas novas tecnologias, abrindo assim espaço num mercado cada vez mais global (PORTER, 1990). Nesta “Sociedade do Conhecimento”, a capacidade de dada localidade (ou região) de se adaptar a um ambiente econômico e social de constantes mudanças assim como suas condições para implementar inovações, definirão sua inserção no mercado (global) e, por conseguinte, sua posição na divisão (internacional) do trabalho. Essa capacidade de adaptação e inovação determina, em última instância, a manutenção ou atração de capitais para efetuarem seus respectivos processos de valorização na região (MARKUSEN, 1995). De maneira geral, a maior ou menor capacidade de adaptação e inovação das localidades, e inserção da região no mercado dependerá do quão aptos estão os agentes produtivos. Neste sentido, as considerações de Marshall (1890) sobre a constituição de “Distritos Industriais” a partir da especialização produtiva derivada da concentração de determinada atividade em dado ponto servem de base para o que Benko e Lipietz (1994) e Brandão et al. (2004) denominam de “Nova Ortodoxia” quanto aos estudos de desenvolvimento regional e orga- nização industrial. A prerrogativa fundamental,congregada no conceito de arranjos e sistemas produtivos locais, é a aglomeração produtiva de produtores rurais, especializados em determinada atividade econômica, envoltos em um ambiente de interação e aprendizagem que permite à localidade inserção no mercado global. O núcleo dinâmico será sua capacidade de absorção e introdução de inovações econômicas. Por sua vez, o realce dado ao “local” também está relacionado ao processo de reestruturação produtiva, caracterizado pela desverticalização das grandes cor- porações implementadas a partir das novas tecnologias. As grandes empresas, A AGRICULTURA BRASILEIRA E AS MEGATENDÊNCIAS MUNDIAIS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E146 em sua maioria multinacionais, descentralizam suas operações parciais, des- locando-as para as regiões que apresentem melhores condições de serem desempenhadas. Esse deslocamento deu-se ou pela constituição de filiais ou pela terceirização de suas operações a empresas subcontratadas. Neste sentido, o local torna-se relevante, pois é o espaço que se especia- liza em dada atividade econômica que integra uma rede específica controlada por uma grande corporação, agora horizontalizada (SUZIGAN et al., 2002). Conforme argumentado anteriormente, o conhecimento é fundamental também no setor agrícola para a introdução e adaptação às inovações, e o pro- cesso de aprendizagem é importante para permitir o acúmulo de conhecimento e garantir a capacidade de inovar. O aprendizado por parte dos produtores caracteriza-se enquanto esforço individual ou coletivo, no intuito de obter conhecimento e capacidades num processo cumulativo de habilidades diver- sas que permitam a produção, assim como a realização de objetivos. Fundamentalmente, a noção de que os processos de geração de conhe- cimento e de inovações são interativos e localizados destaca a importância crescente que assume a dimensão localizada do processo de aprendizado enquanto fonte de vantagem competitiva e de diferenciação de firmas e regiões. Argumenta-se que a interação criada entre os agentes localizados em um mesmo espaço favorece o processo de geração e difusão de inovações (VARGAS, 2002). O local torna-se um elemento ativo no processo de criação e difusão de inovação, a partir de mecanismos específicos de aprendizado gerados pela interação dos agentes que se veem com convergência de interesses e proximi- dade territorial. Neste sentido, constitui-se um formato institucional específico, compreendido como as convenções sociais formais e informais estabeleci- das no âmbito local (COHENDET; LLERENA, 1997 apud CASSIOLATO; LASTRES, 2003). O local em si, em boa parte, é relevante dadas essas formações insti- tucionais específicas que propiciam a convergência de interesses entre os agentes envolvidos, diluem assimetrias de informação, permitem a coor- denação de ações e facilitam a transferência de conhecimento tácito entre os agentes envolvidos. Ludvall (2002); Patrucco (2003), Albagli e Maciel (2003), ressaltam a importância do conhecimento tácito enquanto fator A Agricultura Brasileira e as Megatendências Mundiais Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 147 endógeno, enquanto fonte de inovação e competitividade da região e de seus respectivos agentes. Daí a conexão entre esse debate e noções como as de capital social e territorialidade. No contexto mundial, a existência de inúmeros sistemas de produção regionalmente concentrados demonstra que a dimensão local vem assu- mindo uma importância crescente no processo de inovação tecnológica em que o caso seminal é o da região da Terceira Itália ou do Vale do Silício nos Estados Unidos. Nesta perspectiva, experiências de fomento do desenvol- vimento regional têm por intuito constituir um ambiente institucional que estimule a interação dos agentes, visando um processo de aprendizado que proporcione o compartilhamento de conhecimentos, tácitos e codificados, junto aos agentes da localidade. A posição assumida pelo local, na perspectiva teórica apresentada, faz com que a capacidade de geração, difusão e utilização de novos conhecimentos, assim como a própria inovação, seja um processo que transcende a estrutura individual da firma, sem que isso signifique a redução da importância do pro- cesso concorrencial e da livre iniciativa. 149 O QUE É GLOBALIZAÇÃO - CONCEITO Podemos dizer que é um processo econômico e social que estabelece uma integração entre os países e as pessoas do mundo todo. Através deste processo, as pessoas, os go- vernos e as empresas trocam idéias, realizam transações financeiras e comerciais e espa- lham aspectos culturais pelos quatro cantos do planeta. O conceito de Aldeia Global se encaixa neste contexto, pois está relacionado com a cria- ção de uma rede de conexões, que deixam as distâncias cada vez mais curtas, facilitando as relações culturais e econômicas de forma rápida e eficiente. ORIGENS DA GLOBALIZAÇÃO E SUAS CARACTERÍSTICAS Muitos historiadores afirmam que este pro- cesso teve início nos séculos XV e XVI com as Grandes Navegações e Descobertas Marí- timas. Neste contexto histórico, o homem europeu entrou em contato com povos de outros continentes, estabelecendo relações comerciais e culturais. Porém, a globali- zação efetivou-se no final do século XX, logo após a queda do socialismo no leste europeu e na União Soviética. O neolibe- ralismo, que ganhou força na década de 1970, impulsionou o processo de globali- zação econômica. Com os mercados internos saturados, mui- tas empresas multinacionais buscaram conquistar novos mercados consumidores, principalmente dos países recém saídos do socialismo. A concorrência fez com que as empresas utilizassem cada vez mais recur- sos tecnológicos para baratear os preços e também para estabelecerem contatos comerciais e financeiros de forma rápida e eficiente. Neste contexto, entra a utilização da Internet, das redes de computadores, dos meios de comunicação via satélite etc. Uma outra característica importante da glo- balização é a busca pelo barateamento do processo produtivo pelas indústrias. Mui- tas delas, produzem suas mercadorias em vários países com o objetivo de reduzir os custos. Optam por países onde a mão-de- -obra, a matéria-prima e a energia são mais baratas. Um tênis, por exemplo, pode ser projetado nos Estados Unidos, produzido na China, com matéria-prima do Brasil, e comercializado em diversos países do mundo. Para facilitar as relações econômicas, as instituições financeiras (bancos, casas de câmbio, financeiras) criaram um sistema rápido e eficiente para favorecer a trans- ferência de capital e comercialização de ações em nível mundial. Investimentos, pagamentos e transferências bancárias, podem ser feitos em questões de segundos através da Internet ou de telefone celular. Bolsa de valores: tecnologia e negociações em nível mundial. 149 Os tigres asiáticos (Hong Kong, Taiwan, Cingapura e Coréia do Sul) são países que souberam usufruir dos benefícios da globa- lização. Investiram muito em tecnologia e educação nas décadas de 1980 e 1990. Como resultado, conseguiram baratear custos de produção e agregar tecnologias aos produ- tos. Atualmente, são grandes exportadores e apresentam ótimos índices de desenvolvi- mento econômico e social. BLOCOS ECONÔMICOS E GLOBALIZAÇÃO Dentro deste processo econômico, mui- tos países se juntaram e formaram blocos econômicos, cujo objetivo principal é aumentar as relações comerciais entre os membros. Neste contexto, surgiram a União Européia, o Mercosul, a Comecom, o NAFTA, o Pacto Andino ea Apec. Estes blocos se fortalecem cada vez mais e já se relacio- nam entre si. Desta forma, cada país, ao fazer parte de um bloco econômico, con- segue mais força nas relações comerciais internacionais. Fonte: <http://www.suapesquisa.com/globalizacao/>. Acesso em: 29 nov. 2012. A AGRICULTURA BRASILEIRA E AS MEGATENDÊNCIAS MUNDIAIS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E150 O AGRONEGÓCIO NO MUNDO Como vimos anteriormente, a agricultura existe no mundo desde as épocas distantes, pois durante esses períodos os homens já cultivavam a terra, criavam seus animais, e por meio disso é que utilizavam a natureza para seu beneficio, pois a agricultura é a principal fonte de obter o alimento, já que é uma ativi- dade produtiva que dá lucros. Aproximadamente perto do ano 7000 a.C são utilizados alguns instrumentos agrícolas, como a pá e as enxadas. E durante o ano de 2838 a.C é que anunciam a utilização do arado. Durante esse período os índios americanos já realizavam o cultivo de: pimenta, abóbora, feijão e o milho. Os primeiros agricultores foram os nômades. Eles não tinham nenhuma técnica, nem ao menos instrumentos para grandes plantações. O solo esgota- va-se rapidamente e com isso necessitavam procurar outras regiões com solos mais férteis, e aos poucos eles foram fixando nos lugares onde a fertilização do solo era mais firme. Durante o período das grandes navegações, teve a chamada difusão inter- nacional dos produtos agrícolas, por exemplo, o fumo e o milho que pertenciam à América foram levados para a Europa, e o café que pertencia à África foi levado até à América. Os cereais são produtos agrícolas que possuem plantações em grande parte do mundo, menos nas regiões polares. Já nas zonas tropicais são cultiva- dos: o café, a cana-de-açúcar, o chá, o cacau, a banana, dentre outras frutas, o O Agronegócio no Mundo Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 151 feijão, o arroz, o milho e a mandioca também são cultivados nessas zonas. No Brasil as plantações da agricultura também possuem grande colaboração para a nossa economia. Outro sistema agrícola que possui grande empregação é o sistema das roças, pois este sistema utiliza pequenas propriedades no momento em que elas são abandonadas, e o solo perde a fertilidade. A criação dos gados em nosso país começa exatamente no período colonial. A importância do cultivo principal até nos dias de hoje, certamente é o café. E grande parte da população do Brasil depende da agricultura para a sua economia. A agricultura mundial passou, a partir da segunda guerra mundial, por uma série de transformações decorrentes do processo de modernização, conhecida como Revolução Verde. A modernização consistiu na utilização de máquinas, insumos e técnicas produtivas que permitiram aumentar a produtividade do trabalho e da terra. A Revolução Verde permitiu um pequeno aumento da oferta per capita mundial de alimentos. Esse aumento ocorreu ao mesmo tempo em que a popu- lação mundial crescia, a população rural decrescia e a área agrícola se reduzia. Segundo Nunes (2007), mesmo que a agricultura responda por um pequeno percentual do Produto Interno Bruto (PIB) dos países desenvolvidos, a União Europeia e os Estados Unidos não abrem mão dos subsídios à agricultura em virtude da pressão política do setor, por considerarem estratégico à segurança nacional e também porque a atividade contribui para movimentar outros seto- res da economia. Para isso, aplicam tarifas e cotas de importação. A AGRICULTURA BRASILEIRA E AS MEGATENDÊNCIAS MUNDIAIS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E152 Tabela 8: Evolução das Exportações do Agronegócio Brasileiro – Principais Produtos Fonte: ENAEX, 2012 Um fato novo que deve ser destacado é a redistribuição dos excedentes produtivos dos países desenvolvidos, resultando no aumento dos excedentes comercializa- dos no mercado internacional. O interessante a se destacar nesse fato é que tal distribuição se torna uma questão de relações comerciais entre as empresas trans- nacionais e suas matrizes, sem nenhuma ligação com os custos de produção do produto agrícola (SILVA, 1999). É, na realidade, o comércio de produtos entre os departamentos de uma mesma empresa, o que explica o fato do Brasil, país tropical, exportar coco da Suíça, ou seja, a matriz da empresa Nestlé vende coco à sua filial brasileira, exercendo uma concorrência desleal, que leva à desestru- turação produtiva do país. Aparecem, ainda, indícios de uma nova divisão internacional do traba- lho, com a reestruturação de plataformas exportadoras de produtos agrícolas nos países periféricos. Segundo Silva (1999 apud AGRA, 1998), essa nova divisão internacional do trabalho ainda não está clara, mas aponta para que a produção de grãos e alimentos duráveis seja repassada à periferia, ficando os países centrais com o acabamento dos produtos, que agrega mais valor. Podemos notar que os países desenvolvidos aplicam tarifas de importação altas aos produtos agrícolas, principalmente àqueles que são pouco competitivos, de forma a garantir que o produto importado chegue a um preço mais elevado do que os custos de produção naqueles países. Além das tarifas de importação, esses países utilizam um sistema de cotas, limitando uma certa quantidade de produto que poderá ser importado anualmente. É provável que as próximas reuniões da Organização Mundial do Comércio (OMC) indiquem uma redução dos subsídios agrícolas por parte dos países desenvolvidos, o que deve beneficiar a agricultura brasileira. Entretanto, também O Agronegócio no Mundo Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 153 como resultado dessas negociações e como moeda de troca, o Brasil facilitará a entrada de capital industrial, gerando prejuízos à indústria nacional, grande e pequena. Se, de um lado, o setor agrícola brasileiro é valorizado pela “van- tagem comparativa” proporcionada pela extensão dos recursos naturais e por uma menor remuneração do trabalho, de outro lado, perde-se a dinâmica que a indústria coloca à economia nacional e, com isso, o país reserva-se do direito de ampliar a exportação de commodities com baixo valor agregado (soja, açú- car, álcool, madeira, biodiesel etc.). Entre os temas mais polêmicos discutidos na OMC (Organização Mundial do Comércio) estão as reivindicações dos países subdesenvolvidos, que pedem a redução dos subsídios para a produção agrícola e o fim da proteção dos mer- cados internos dos países desenvolvidos que impõem altas tarifas de importação de alimentos. A reforma política agrícola nos países desenvolvidos é um dos pontos mais importantes para o Brasil, já que os produtos desses países perdem competitividade nesses mercados. Essas tarifas elevadas implicam nos preços dos produtos e isso deixa o con- sumidor de países desenvolvidos descontente. A elevada taxa de importação feita pelos países ricos agrava ainda mais os problemas econômicos e sociais dos paí- ses dependentes, países esses como Japão, EUA e União Europeia, que iremos discutir a seguir. POLÍTICA AGRÍCOLA NO JAPÃO A política econômica japonesa defende o seu mercado doméstico dos produtos importa- dos, a renda derivada dos impostos agrícola é convertida em subsídio para os agricul- tores japoneses. Assim, ocorre uma grande diminuição das despesas totais pagas pelo agricultor e, portanto um maior número de investimentos no setor agrícola.A AGRICULTURA BRASILEIRA E AS MEGATENDÊNCIAS MUNDIAIS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E154 O produto mais cultivado no Japão é o arroz, mas não por isso ele é o mais barato, pois assim como as frutas, legumes, carnes, laticínios e grãos, possui uma demanda muito grande e pouco espaço para se cultivar devido ao relevo do país, assim, causando um aumento dos preços internos. POLÍTICA AGRÍCOLA COMUM (PAC) DA UNIÃO EUROPEIA O PAC da Europa Unificada foi criada em 1962. Desde sua criação, se baseia no mecanismo de proteção agrícola por meio de taxas dos produtos importados e subvenção à produção comunitária e de subsídios à exportação para garantir a venda de excedentes. Com o PAC, a União Europeia pôde elevar a sua produção agrícola de forma que ficou autossuficiente nesse setor, e como é constituída por vários países e assim diversas terras e tipos climáticos, possui uma grande diversidade na sua agricultura sendo uma grande exportadora e importadora de produtos agrícolas. POLÍTICA AGRÍCOLA NOS ESTADOS UNIDOS Os EUA possuem hoje o maior índice de produtividade agrícola do planeta. Apesar de empregarem apenas 3% da sua população economicamente ativa nesse setor, são os maiores produtores e exportadores do mundo. Devido à estreita relação entre a agricultura e a indústria e à consequente intensificação do processo de mecanização do setor agrícola, os EUA conseguem fazer uma integração do setor agrícola e industrial, e é por isso que hoje são os maiores em quase tudo que fazem. Existem quatro características marcantes na agricultura dos EUA: ■ Atuação em vários países do mundo, por meio de empresas que produ- zem, distribuem e comercializam alimentos, como na América Central. ■ Forte investimento em biotecnologia, por meio de instituições de pes- quisa de novas tecnologias. O Agronegócio no Mundo Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 155 ■ Organização do espaço agrário nos cinturões agrícolas, onde predomina determinado produto, adaptado às condições de clima, solo e mercado. ■ Elevado grau de mecanização em todas as etapas do processo, do cultivo ao beneficiamento do produto. Uma das diferenças dos EUA para a União Europeia e o Japão é o fato de os EUA dar subsídios para os produtores, mas sem descontar dos cidadãos com preços altos, o que faz com que os produtores consigam exportar seus produtos e também faz com que o dinheiro circule internamente com os preços baixos, e dinheiro circulando é sinônimo de lucro. O POSICIONAMENTO DO BRASIL FRENTE AO MERCADO GLOBAL O Brasil é um grande produtor e exportador de commodities. As principais com- modities produzidas e exportadas por nosso país são: petróleo, café, suco de laranja, minério de ferro, soja e alumínio. Se por um lado o país se beneficia do comércio dessas mercadorias, por outro se torna dependente dos preços estabe- lecidos internacionalmente. Quando há alta demanda internacional, os preços sobem e as empresas produtoras lucram muito. Porém, num quadro de recessão mundial, as commodities se desvalorizam, prejudicando os lucros das empresas e o valor de suas ações negociadas em bolsa de valores. A agricultura sempre desempenhou um papel importante na geração de rique- zas no Brasil. No período mais recente, o estabelecimento da agricultura como âncora do processo de estabilização dos preços e como fonte para obtenção de divisas (via exportações) causou uma série de problemas para o setor, especial- mente para a agricultura familiar. Entre os principais problemas, pode-se citar: a elevação forçada das escalas de produção, a elevação dos custos acima das receitas, a redução dos preços recebidos, a compressão da renda agrícola, a concentração dos agentes compradores da produção agropecuária e a queda da renda da popu- lação consumidora. O aumento da produção agrícola brasileira, superior a 100% entre 1990 e 2005, foi estimulado principalmente pelas exportações em detrimento da produção ao mercado interno. Entretanto, o crescimento da produção não significou o aumento A AGRICULTURA BRASILEIRA E AS MEGATENDÊNCIAS MUNDIAIS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E156 da população ocupada na agricultura, já que a introdução de novas máquinas, equi- pamentos e também de insumos agrícolas contribuiu para continuar a ampliação da produtividade do trabalho e da terra na maioria dos cultivos agrícolas. Desde o final dos anos 1990, poucos países cresceram tanto no comércio internacional do agronegócio quanto o Brasil. O país é um dos líderes mundiais na produção e exportação de vários produtos agropecuários. Conforme dados do Ministério da Agricultura, o Brasil é o primeiro produtor e exportador de café, açúcar, etanol e suco de laranja. Além disso, lidera o ranking das vendas externas do complexo de soja (grão, farelo e óleo), que é o principal gerador de divisas cambiais. No início de 2010, um em quatro produtos do agronegócio em circulação no mundo eram brasileiros. A projeção do Ministério da Agricultura é que, até 2030, um terço dos produtos comercializados seja do Brasil, em função da cres- cente demanda dos países asiáticos. O gráfico abaixo demonstra a participação dos setores no PIB de alguns países no ano de 2011. Gráfico 4: Composição dos Setores no PIB por país em 2011 (% PIB) Fonte: CIA Fact Book Análises: Instituto ILOS A Tabela abaixo demonstra um comparativo que expõe a importante posição que o setor agrícola brasileiro tem na composição do PIB. O Agronegócio no Mundo Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 157 PAÍS PRIMÁRIO (% PIB) INDÚSTRIA (% PIB) SERVIÇOS (% PIB) Argentina 10,0% 30,7% 59,2% Brasil 5,8% 26,9% 67,3% Chile 5,1% 41,8% 53,1% Peru 10,0% 35,0% 55,0% Uruguai 9,1% 20,9% 70,0% México 3,9% 32,8% 63,4% EUA 1,2% 22,1% 76,7% Tabela 9: Composição dos Setores no PIB por país em 2011 (% PIB) Fonte: CIA Fact Book Análises: Instituto ILOS PRINCIPAIS PRODUTOS DAS LAVOURAS TEMPORÁRIAS ÁREA PLANTADA (HA) ÁREA COLHIDA (HA) QUANTIDADE PRODUZIDA (T) RENDIMENTO MÉDIO (KG/ HA) VALOR (R$=1 000) Abacaxi (1) (2) 62 868 62 481 1 576 972 25 239 1 474 382 Algodão herbáceo (em caroço) 1 405 540 1 405 135 5 070 717 3 608 7 277 574 Alho 12 930 12 928 143 293 11 083 474 489 Amendoim (em casca) 107 193 106 379 311 459 2 919 409 932 Arroz (em casca) 2 855 312 2 752 891 13 476 994 4 895 5 889 804 Aveia (em grão) 172 327 172 127 373 009 2 167 129 180 Batata doce 43 879 43 843 544 820 12 426 354 375 Batata inglesa 149 292 149 212 3 917 234 26 252 2 332 976 Cana-de-açúcar (2) 9 616 615 9 601 316 734 006 059 76 448 39 224 254 Cebola 63 481 63 481 1 523 316 23 996 900 347 Centeio (em grão) 2 341 2 341 3 519 1 503 1 700 Cevada (em grão) 88 236 88 236 303 872 3 443 136 911 Ervilha (em grão) 1 538 1 538 3 519 2 536 8 098 Fava (em grão) 37 223 37 132 303 872 449 40 324 Feijão (em grão) 3 907 926 3 673 162 3 435 366 935 5 148 769 A AGRICULTURA BRASILEIRA E AS MEGATENDÊNCIAS MUNDIAIS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E158 Fumo (em folha) 454 521 454 501 951 933 2 094 4 802 871 Girassol (em grão) 62 890 62 535 77 932 1 246 51 202 Juta (fibra) 880 855 1 054 1 232 1 303 Linho (semente) 11 190 11 190 11 046 987 8 293 Malva (fibra) 11 683 11 263 15 611 1 386 19 540 Mamona (baga) 211 022208 476 120 166 576 112 091 Mandioca (2) 1 765 705 1 741 226 25 441 653 14 611 7 182 471 Melancia 98 501 97 718 2 198 624 22 499 951 810 Melão 19 701 19 695 499 330 25 353 365 105 Milho (em grão) 13 605 381 13 218 904 55 660 415 4 210 22 229 389 Rami (fibra) 369 369 971 2 631 1 512 Soja (em grão) 24 032 410 23 968 663 74 815 447 3 121 50 369 437 Sorgo granífero (em grão) 761 844 757 410 1 931 135 2 549 544 075 Tomate 71 703 71 473 4 416 652 61 794 3 230 453 Trigo (em grão) 2 175 943 2 138 916 5 690 043 2 660 2 369 637 Triticale (em grão) 39 628 39 628 90 469 2 282 27 689 Tabela 10: Área plantada e colhida, quantidade produzida, rendimento médio e valor da produção, segundo os principais produtos das lavouras temporárias – Brasil 2011 Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Agropecuária, Produção Agrícola Municipal 2011 (1) Quantidade produzida em 1 000 frutos e rendimento médio em frutos por hectare. (2) A área plantada refere-se a área destinada à colheita no ano. O Agronegócio no Mundo Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 159 Grandes Regiões e Unidade da Federação produtoras Área destinada à colheita (ha) Área colhida (ha) Quantidade produzida (t) Rendimento médio (Kg/ha) Valor (R$ = 1 000) Abacate Brasil 10 768 10 753 160 376 14 914 85 325 Norte 348 374 2 364 6 320 2 759 Rondônia 2 2 22 11 000 32 Acre 162 162 936 5 777 2 058 Amazonas 198 188 781 4 154 239 Pará 22 22 625 28 409 429 Nordeste 989 989 9 022 9 122 4 942 Piauí 4 4 30 7 500 30 Ceará 477 477 3 985 8 354 3 423 Rio Grande do Norte 94 94 1 037 11 031 326 Paraíba 91 91 717 7 879 352 Pernambuco 308 308 3 013 16 000 630 Bahia 15 15 240 15 822 180 Sudeste 7 826 7 821 123 750 15 822 58 374 Minas Gerais 2 134 2 134 30 975 14 514 17 191 Espírito Santo 14 14 240 17 142 162 Rio de Janeiro 36 36 626 16 304 366 São Paulo 5 642 5 637 91 909 16 153 40 654 Sul 1 502 1 502 24 263 18 330 18 705 Paraná 944 944 17 304 12 512 12 047 Santa Catarina 6 6 52 8 666 27 Rio Grande do Sul 552 552 6 907 15 512 6 631 Centro-Oeste 67 67 977 14 582 542 Goiás 67 67 977 14 582 542 Algodão Arbóreo (em caroço) Brasil 351 351 250 712 277 Nordeste 351 351 250 712 277 Piauí 175 175 140 800 115 A AGRICULTURA BRASILEIRA E AS MEGATENDÊNCIAS MUNDIAIS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E160 Ceará 100 100 40 400 63 Rio Grande do Norte 14 14 6 428 7 Paraíba 32 32 34 1 062 37 Pernambuco 30 30 30 1 000 54 Tabela 11: Área destinada à colheita e colhida, quantidade produzida, rendimento médio e valor da produção, segundo os principais produtos das lavouras permanentes, – segundo as Grandes Regiões e as Unidades da Federação produtoras - 2011. Fonte: IBGE, 2011 BALANÇA COMERCIAL DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO: EVOLUÇÃO E PRINCIPAIS PAÍSES ENVOLVIDOS Historicamente, o comércio exterior brasileiro tem sido usado como instru- mento de ajuste da economia em momentos em que é preciso fortalecer a balança comercial ou quando os negócios domésticos vão mal, sendo que cruzar frontei- ras representa uma alternativa para manter as linhas de produção ativas. Foi a partir do governo Collor, em 1990, que houve uma decisão política de internacionalizar a economia brasileira, de forma contundente. Aquele governo tinha por objetivo na política econômica adotar uma gestão nas políticas cambial, fiscal, monetária e de comércio exterior para combater o processo inflacionário, considerado um obstáculo para o crescimento econômico do Brasil. A partir do final da década de 1980, teve início um processo de liberaliza- ção que aboliu os controles quantitativos de importação e reduziu as tarifas ad valorem a valores médios em torno de 15% a partir de 1993. As micro e pequenas empresas constituem 61,6% das empresas que expor- tam no Brasil. Em um amplo estudo feito pelo Sebrae e pela Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex) sobre as MPEs exportadoras - de 1998 a 2010 - apontou-se que 11.858 delas exportaram em 2010 pouco mais de US$ 2 bilhões, o que representa um aumento de 7,6% no valor das exportações em comparação a 2009. Na média, cada MPE exportou US$ 170,9 mil. • Os principais itens exportados em 2010 foram calçados, pedras preciosas, vestuário, peças para veículos e móveis. O Agronegócio no Mundo Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 161 A pauta de exportações das micro e pequenas empresas brasileiras é bastante diversificada em termos de produtos. Para se ter uma ideia, os cinco principais itens respondem por somente 14% das vendas totais. Entre as microempresas, os principais itens exportados em 2010 foram calçados, pedras preciosas, ves- tuário, peças para veículos e móveis. Já para as pequenas empresas, os itens de maior importância na pauta de exportação foram móveis, peças para veículos, obras de mármore e granito, madeira serrada ou fendida e calçados. A participação do ramo comercial e a importância dos países da América Latina como destino das vendas (25% do total das vendas das microempresas e 22% das pequenas empresas em 2010) são características marcantes das expor- tações das MPEs brasileiras. Para o coordenador da Apex-Brasil, Tiago Terra, a maior vantagem para as empresas exportarem é diversificar o mercado de clien- tes. “Além de aumentar suas opções de faturamento, as empresas também ganham em competitividade quando exportam”, explica. Das 13.127 empresas apoia- das pela agência em 2010, 9.437 (72%) são pequenas, micro e médias empresas. Porém, segundo o especialista, falta informação e qualificação para aumen- tar o quadro das companhias brasileiras exportadoras. “As empresas precisam estar preparadas para conhecer o mercado externo e se adequar às suas exigên- cias”, afirma Torres. Pesquisa do Global Entrepreneurship Monitor (GEM) aponta que o Brasil ainda tem uma das menores intenções de inserção no mercado internacional. No estudo referente a 2010, apenas 6,8% de seus empreendedores afirmaram que possuem consumidores fora do país. A média brasileira é inferior às médias de todas as categorias de países analisados. A valorização do real, a alta do preço das commodities e o fortalecimento do mercado interno são alguns dos fatores que influenciaram na menor participação das empresas brasileiras nas exportações. SITUAÇÃO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA E PERSPECTIVAS PARA O AGRONEGÓCIO Caro(a) aluno(a), o Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu para 1,5% a pre- visão de crescimento da economia brasileira em 2012. Em julho, o fundo projetava A AGRICULTURA BRASILEIRA E AS MEGATENDÊNCIAS MUNDIAIS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E162 uma expansão de 2,5%. A perspectiva é a menor entre os países do Bric: o FMI projeta alta de 3,7% no Produto Interno Bruto (PIB) da Rússia, 4,9% para Índia e 7,8% para China este ano. Segundo o FMI, a aceleração do PIB brasileiro ficou abaixo do esperado como resultado da piora no cenário externo e da demora na “transmissão” da redução da Selic ao mercado por conta do aumento da inadimplência após vários anos de rápida expansão no crédito, segundo o estudo “Global Economic Outlook”. Entre os países da América do Sul, o dado brasileiro só supera o do Paraguai, cuja econo- mia deve sofrer contração de 1,5%. O Fundo alerta, no entanto, que a alta projetada de 2,6% no PIB da Argentinaé baseado em dados oficiais do país que teve a qua- lidade de seus indicadores questionada. Para 2013, o FMI projeta um crescimento de 4% na economia brasileira, abaixo dos 4,7% no relatório divulgado em julho. O fundo também apontou que o desem- prego no país deve encerrar 2012 em 6%, elevando-se para 6,5% no ano seguinte. “O ‘boom’ do consumo no Brasil tem sido um importante componente do forte desempenho do crescimento, e a poupança interna e os investimentos se mantêm relativamente baixos”, diz o Fundo. “Gargalos na infraestrutura atrapalham o cres- cimento. Ações recentes de concessões à iniciativa privada para desenvolvimento de infraestrutura crítica de rodovias e ferrovias são bem-vindas, mas também é necessário mais investimento público”, diz o fundo no estudo. CRESCIMENTO GLOBAL O FMI também reduziu de 3,5% para 3,3%, a previsão crescimento para a econo- mia global em 2012. Para 2013, a expectativa também ficou menor, recuando de 3,9% para 3,6%. “A recuperação (econômica) sofreu novos abalos, e a incerteza pesa fortemente nas perspectivas. Um fator-chave é que as políticas nas grandes economias avança- das não recuperaram a confiança no médio prazo”, aponta o FMI. “O desemprego deve permanecer elevado em muitas partes do mundo. E as condições financei- ras permanecerão frágeis”. Segundo o fundo, a crise na zona do euro continua sendo a ameaça mais “óbvia” O Agronegócio no Mundo Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 163 às perspectivas globais. Apesar das ações tomadas para resolver o problema, “a crise na zona do euro se aprofundou e novas intervenções foram necessárias para preve- nir uma deterioração rápida da situação”. O FMI aponta que o ponto-chave é se a economia global está apenas sofrendo uma nova turbulência em meio à recuperação ou se a desaceleração econômica tem um componente mais duradouro. “A resposta depende de que a Europa e os Estados Unidos lidem proativamente com seus grandes desafios no curto prazo”. “O WEO assume que eles o farão e, portanto, a atividade global deve reacelerar ao longo de 2012”. OUTRAS PROJEÇÕES Segundo as projeções do FMI, a economia da China deve crescer 7,8% em 2012 – 0,2 ponto percentual a menos que o esperado no relatório divulgado em julho. Se confirmada, será a menor expansão desde 1999, quando o país cresceu 7,6%. Em 2013, a previsão é de alta de 8,2%. Entre os países do Bric, houve redução também nas previsões para o crescimento da Índia este ano (de 6,2% em julho para 4,9%) e Rússia (de 4% para 3,7%). Na zona do euro, a previsão é de uma contração de 0,4% na economia este ano, com uma leve retomada e crescimento de 0,2% em 2013. O PIB da Itália deve se contrair em 2,3%, e o da Espanha, em 1,5%. A Alemanha, no entanto, deve seguir com crescimento modesto, de 0,9%. Em relação aos Estados Unidos, no entanto, o FMI revisou para cima sua pre- visão de crescimento em 2012, passando de 2,1% no relatório de julho para 2,2%. Em 2013, a alta do PIB deve ficar pouco menor, em 2,1%. Os gráficos a seguir nos informam a respeito da evolução do PIB no fim de 2011 início de 2012, sobre a demanda, investimentos e poupança. A AGRICULTURA BRASILEIRA E AS MEGATENDÊNCIAS MUNDIAIS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E164 O Agronegócio no Mundo Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 165 Ministério da Agricultura disponibiliza dados em seu portal Desde o início de 2012, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimen- to (Mapa) passou a disponibilizar publicamente dados governamentais no portal <www.agricultura.gov.br/acesso-a-informacao>, cumprindo deter- minação da Lei de Acesso à Informação Pública. Para o ministério, o por- tal é mais do que combate à corrupção, possibilitando também ao cidadão acesso ao desenvolvimento, podendo dividir o progresso e conhecimento do nosso país. A criação do portal foi feita para cumprir a Lei de Acesso à Informação Pública, que estabelece acesso amplo a qualquer documento e informação específica buscada pelo cidadão. A AGRICULTURA BRASILEIRA E AS MEGATENDÊNCIAS MUNDIAIS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E166 Gráficos Disponíveis em: <http://www.valor.com.br/imprimir/noticia/2687128/brasil/2687128/economia- cresce-02-no-primeiro-trimestre-aponta-ibge>. Perspectivas para o Agronegócio Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 167 PERSPECTIVAS PARA O AGRONEGÓCIO Apesar de suas particularidades, já vimos, prezado(a) acadêmico(a), que a agri- cultura é dependente do que acontece na economia mundial como um todo. Para podermos compreender as transformações pelas quais o setor agrícola passa, devemos levar em conta, além da ação do Estado e das políticas públicas, o desenvolvimento tecnológico e o capital mundial como elementos importantes. A elasticidade-renda1 da demanda explica uma desvantagem para um país exportador de produtos agrícolas. Um aumento na renda mundial leva a um aumento na demanda por produtos inovadores e tecnologicamente avançados, em maior proporção que a demanda por produtos agrícolas. Podemos pensar então, caro(a) aluno(a), que fatores interferem na demanda por produtos agrícolas, em nível mundial e nacional? Nunes (2007) cita a urbaniza- ção, o aumento da produção e do consumo de carnes, o nível de utilização da soja na alimentação humana e animal, as tarifas de importação aplicadas pelos países e blocos econômicos, as políticas governamentais de apoio ao setor, a disponibili- dade de áreas agricultáveis, o controle exercido pelas grandes indústrias do setor alimentício que priorizam alguns produtos em detrimento de outros. Como já é de nosso conhecimento, nos países desenvolvidos a agricultura responde por um pequeno percentual do Produto Interno Bruto (PIB), mas ainda assim, a União Europeia e os Estados Unidos não abrem mão dos subsídios à agricultura por considerarem estratégicos à segurança nacional, em virtude da pressão política do setor, e também porque a atividade contribui para movimen- tar outros setores da economia. Para isso, adotam medidas protecionistas, como tarifas e cotas de importação. A tendência para a competitividade da agricultura em nível mundial se dará cada vez mais pelas condições naturais (solo, clima), diferenças na produtivi- dade do trabalho, intervenção dos Estados (políticas públicas de apoio, cotas e tarifas de importação), proximidade do mercado consumidor, compatibilidade entre os lucros da atividade agrícola e em outros setores da economia, além do nível de importância do custo da aquisição de terras. 1 Elasticidade-Renda da demanda mede a variação percentual na quantidade demandada de um bem dado uma variação percentual na renda do consumidor. 169 VALOR DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA CRESCE 27% EM 2011 Aumento do preço de produtos como soja, cana-de-açúcar e milho impulsionou alta, segundo o IBGE Estadão Conteúdo O preço da soja, que aumentou de 34,9%, em relação a 2010, foi um dos responsáveis pela alta do valor da produção agrícola O valor da produção agrícola nacional totalizou R$ 195,6 bilhões em 2011, segundo dados da pesquisa Produção Agrícola Municipal, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (26/10). O resultadorepresenta au- mento de 27,1% em relação a 2010. O estudo mostra que houve elevação dos preços dos produtos agrícolas, tanto no mercado interno quanto no exterior. Entre os itens responsáveis pelo aumento no valor da produção, destacam-se a soja, com 34,9% de expansão; a cana-de-açúcar, com au- mento de 38,6%; o milho, com crescimento de 46,4%; e o café, que subiu 40,1%. O algodão herbáceo também registrou aumento considerável, de 76,2%, o que fez o grão subiu da 10ª posição em 2010 para a 5ª no ano passado. PAM 2011: valor da produção agrícola cresce 27,1% em relação a 2010 O valor da produção agrícola alcançou R$ 195,6 bilhões em 2011, um crescimento de 27,1% em relação a 2010, impulsionado, de maneira geral, pela elevação dos preços dos produtos agrícolas tanto no mercado interno quanto externo. A área plantada ul- 169 trapassou 68,1 milhões de hectares, um crescimento de 4,3% (2,8 milhões de hectares), alavancado principalmente pela expansão da soja (3,0%), do milho (2ª safra) (54,7%) e do algodão herbáceo (69,0%). Entre os principais produtos responsáveis pelo aumento no valor da produção, desta- cam-se a soja, com 34,9% de expansão no valor da produção; a cana-de-açúcar, que au- mentou o valor em 38,6%; o milho, com crescimento de 46,4%; e o café, 40,1%. Chamou atenção também o aumento de 76,2% do algodão herbáceo, que passou da 10ª para a 5ª posição em termos de valor de produção. São Paulo manteve a liderança na participação nacional no valor da produção, mas sua contribuição caiu de 18,3% (R$ 28,0 bilhões de reais), em 2010, para 17,7% (R$ 34,6 bi- lhões) em 2011. Já Minas Gerais subiu da quarta para a segunda colocação, com uma par- ticipação de 12,7% (R$ 24,8 bilhões) em 2011. Sorriso (MT), que havia caído de primeiro para terceiro lugar em 2010, voltou a ser o mu- nicípio com maior valor de produção, gerando R$ 1,9 bilhão, um crescimento de 105,4%. São Desidério (BA) foi o segundo colocado, com R$ 1,7 bilhão e crescimento de 59,9%. Essas e outras informações estão disponíveis na pesquisa Produção Agrícola Municipal (PAM) 2011, que mede as variáveis fundamentais da safra dos 64 principais produtos de lavouras temporárias e permanentes da agricultura nacional, com detalhamento muni- cipal. A publicação completa da PAM 2011 pode ser acessada na página: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/pam/2011/default.shtm>. A AGRICULTURA BRASILEIRA E AS MEGATENDÊNCIAS MUNDIAIS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E170 Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. CONSIDERAÇÕES FINAIS Pudemos observar, caro(a) aluno(a), que o agronegócio brasileiro é moderno, eficiente, competitivo, seguro e rentável. Alguns fatores específicos fazem do Brasil um país com vocação natural para o agronegócio, como o clima diver- sificado, chuvas regulares, energia solar abundante e quase 13% de toda a água doce disponível no planeta. A presente Unidade abordou algumas das importantes transformações que vêm ocorrendo na economia mundial e que afetam direta ou indireta- mente o agronegócio. O comportamento do agronegócio brasileiro diante de tais mudanças tem sido positivo. Podemos concluir, por meio das estatísticas, que um dos mais importantes aspectos da nossa economia nos últimos anos é o dinamismo do setor agrícola, que pode ser comprovado pelo aumento da produtividade em diversos segmentos do agronegócio. Como você bem sabe, querido(a) aluno(a), a produtividade está relacionada com questões de ordem tecnológicas e inovativas, sendo que o entendimento acerca da nova ordem econômica, ou seja, da Economia do Conhecimento, torna-se imprescindível. Vimos que o processo de inovação interativa ganha destaque devido ao fato de que as fontes de informações, conhecimentos e inovação das unidades produtoras podem se localizar tanto dentro como fora dela. Então, faz-se necessário um processo interativo realizado com a contri- buição de variados agentes econômicos e sociais que possuem diferentes tipos de informações e conhecimentos. Ao longo da Unidade V, pudemos analisar características sobre o posicio- namento do agronegócio brasileiro no mercado mundial e como o Brasil tem se posicionado neste cenário. Observou-se que a participação do agronegó- cio brasileiro no comércio mundial tem sido cada vez mais expressiva, sendo que dados recentes apontam que as exportações do agronegócio respondem por cerca de 40% do total das vendas externas brasileiras. Portanto, verifica- mos a fundamental importância que tal segmento produtivo representa para a atual conjuntura econômica brasileira. 171 1. Explique a afirmação: “O Brasil só não alcança resultados ainda melhores no mer- cado externo do agronegócio pelo fato de exportar principalmente commodi- ties, pelos elevados subsídios à agricultura e à exportação em alguns países e pelas barreiras comerciais”. 2. Descreva as suas considerações sobre a situação do Brasil. 3. Qual a importância do agronegócio nas relações internacionais? 4. Cite algumas perspectivas e tendências para o setor. Economia Brasileira Contemporânea André Villela; Jennifer Hermann; Fabio Giambiagi; Lavínia Barros de Castro Editora: Elsevier - Campus 2. Ed. 2011 Sinopse: O livro é baum MATERIAL COMPLEMENTAR 173 A AGRICULTURA BRASILEIRA E AS MEGATENDÊNCIAS MUNDIAIS CONCLUSÃO 173 Neste livro, procuramos levar a você conhecimentos acerca da Economia Brasilei- ra e sua relação com o Agronegócio. Para tal, fizemos uma abordagem geral sobre a evolução histórica da agricultura. Vimos que apesar de suas particularidades, a agricultura é dependente do que acontece na economia mundial como um todo. Para entender as mudanças pelas quais passa, deve-se considerar, além da ação do Estado e das políticas públicas, o desenvolvimento tecnológico e o capital que se recolocam em nível mundial. Vimos, então, aspectos relacionados à evolução histórica da agricultura, passando pelos conceitos de agronegócio, cadeias e sistemas agroindustriais, especificidades do agronegócio no Brasil, a competitividade em sistemas agroindustriais, as trans- formações na economia brasileira e no meio rural brasileiro durante a segunda me- tade do século XX. A Unidade I buscou apresentar a você a evolução da agricultura, as particularidades inerentes aos seus produtos, os agentes econômicos envolvidos, e as formas de in- ter-relação entre tais agentes do agronegócio. Vimos que na agricultura prevalece o tipo de mercado concorrencial, em que há um número muito grande de produtores e a entrada ou saída de novos concorrentes não altera basicamente a formação de preços. Concluímos que por este motivo, os negócios agrícolas têm que perseguir indefinidamente melhores índices de produtividade e redução de custos, ou seja, maior competitividade. A Unidade II contemplou uma revisão de literatura sobre gestão e competitividade em nível de sistemas agroindustriais. Aspectos importantes sobre gerenciamento e vantagem competitiva foram expostos como ferramentas importantes para o êxito de um sistema de produção agroindustrial. Para agregar maior valor ao seu conhe- cimento, apresentamos nesta unidade a noção de cadeia produtiva agroindustrial (CPA), e como está constituída a cadeia produtiva agroindustrial do amendoim e seus derivados no Brasil. Para compreendermos o panorama atual do agronegócio, levamos em conta as transformações ocorridas não apenas no setor agrícola, mas também na economia global. A Unidade III veio então apresentar a você, prezado(a) acadêmico(a), uma reflexão sobre a economia brasileira agroexportadora e as transformações no meio rural brasileiro ao longo do século XX. Prezado(a) aluno(a), a forma como ocorreu a ruptura do modelo econômico brasi- leiro e comoeste passou a se desenvolver foi abordada na Unidade IV. Vimos como o modelo agroexportador foi paulatinamente afastado e como ocorreu a industria- lização a partir da crise dos anos 30. O período crítico de altos índices inflacionários, as tentativas de estabilização da moeda e seus reflexos na atividade econômica foram abordados na penúltima uni- dade do livro. Vimos algumas particularidades das políticas econômicas voltadas à industrialização, ao desenvolvimento e a estabilização econômica adotadas na se- gunda metade do século XX. CONCLUSÃO 175 CONCLUSÃO 175 Para finalizarmos o objetivo proposto por este material didático, a Unidade V apre- sentou algumas megatendências mundiais que impactaram no cenário atual do agronegócio no mundo. Dentre elas, destaca-se à globalização e a importância da inovação e do conhecimento na nova realidade econômica. Portanto, querido(a) aluno (a), findamos o presente livro expondo o posicionamen- to do Brasil frente ao mercado global por meio de indicadores sobre a evolução da Balança Comercial brasileira, e fizemos uma análise sobre a situação atual da econo- mia brasileira e algumas tendências para o agronegócio. É com grande satisfação que encerramos o presente material e esperamos que você, querido(a) aluno(a), tire proveito deste para sua formação profissional. Boa sorte e bons estudos. Prof.ª Ariane Maria Machado de Oliveira REFERÊNCIAS 175175 ABREU, Marcelo de Paiva. A economia brasileira 1930-1964. Departamento de Economia. Disponível em: <www.econ.puc-rio.br>. Acesso em: 18 out. 2012. AVERBUG, Marcello. Plano Cruzado: Crônica de uma Experiência. Artigo publicado na “Revista do BNDES”, N. 24, dezembro 2005. BATALHA, M. O. SCARPELLI, M. Gestão do Agronegócio: aspectos conceituais. In: BATALHA, M. O. (Coord.) Gestão do Agronegócio: textos selecionados. São Carlos: EDUFSCar, 2005. BATALHA, M. O. SILVA, A. L. Gerenciamento de sistemas agroindustriais: definições, conceitos e correntes metodológicas. In: Batalha, M. O. (Coord.) Gestão Agroindustrial. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2007. V. 1. BATALHA, M.O.; SILVA, A.L. 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