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S u m á r i o
SOBRE O NEGÓCIO PROCESSUAL, PREVISTO NO CPC/2015 - Luiz R. WambieR ....................................................................................... 01
COOPERAÇÃO NO NOVO CPC (PRIMEIRA PARTE): OS DEVERES DO JUIZ - eduaRdo TaLamini ............................................................ 04
ALGUMAS LINHAS SOBRE AS DIFERENÇAS ENTRE A TUTELA CAUTELAR
E A ANTECIPAÇÃO DE TUTELA NO CPC/2015- andRé Luiz bäumL TesseR .......................................................................................... 06
continua na página 2
Nº 58 - Ma io 2015
Série especial | Novo CPC
SOBRE O NEGÓCIO 
PROCESSUAL, PREVISTO 
NO CPC/2015
Luiz R. WambieR
Advogado inscrito na OAB/PR sob o nº 7.295, 
Doutor em Direito Processual Civil pela PUC-SP
Professor de Direito Processual Civil no 
Programa de Mestrado da UNIPAR
Em primeiro lugar, neste despretensioso texto, me parece relevante estabelecer necessária premissa, que diz respeito à função do proce-
dimento. O procedimento, na verdade, nada mais é 
do que uma tessitura, uma costura cronológica dos 
atos processuais. É preciso dar ao movimento da 
relação jurídica processual um certo método, que se 
caracteriza por essa sucessão de atos processuais ao 
longo do tempo do processo. 
O legislador de 2015, diferentemente do que 
fez o legislador do código de 1973, ora vigente, 
simplificou a questão procedimental e escolheu um 
número menor de procedimentos, para serem espe-
ciais, guardando fidelidade com o que se pode ler na 
exposição de motivos do Anteprojeto. Se no CPC de 
1973 temos os procedimentos ordinário, sumário, su-
maríssimo (que depois ficou entregue à competência 
do JEC) e uma série de procedimentos especiais, no 
2
1 ADROALDO FURTADO FABRÍCIO, num de seus preciosos textos, enumera causas que poderiam ter exercido certa influência no legislador no 
momento de definir que matérias de direito material contemplaria com procedimentos especiais. Diz o autor: “O peso da tradição histórica, com as 
complicações e incongruências decorrentes de múltiplas fontes de influência, nem sempre coevas e entre si coerentes; a eventual interpenetração, em 
um mesmo processo, de elementos de diversas modalidades de tutela jurisdicional (de cognição, de execução e de cautela); razões de conveniência 
momentânea e local, com caráter meramente emergencial; até mesmo a simples impaciência do legislador frente à morosidade do aparelhamento 
judiciário em contraste com a pressão da demanda social – tudo influi no sentido de retirar da vala comum do rito ordinário um número crescente de 
´ações`”, disponível em ADROALDO FURTADO FABRÍCIO, Justificação teórica dos procedimentos especiais. Disponível em: http://www.abdpc.
org.br/abdpc/artigos/Adroaldo%20Furtado%20Fabr%C3%ADcio(3)formatado.pdf, acesso em 5 de novembro de 2011.
2 A que optei por chamar de negócio jurídico processual complexo, embora há quem prefira chamá-lo de negócio jurídico plurilateral (cf. Paula Sarno 
Braga. Primeiras reflexões sobre uma teoria do fato jurídico processual: plano da existência. Revista de Processo. São Paulo: RT, n. 148, jun. 2007). 
3 Sobre privatização do procedimento, cf. BarBoSa Moreira, Privatização do Processo?, Temas de Direito Processual, Sétima Série, São Paulo: Saraiva, 
2001, p. 7; e O neoprivatismo no processo civil, Temas de Direito Processual, Nona Série, São Paulo: Saraiva, 2007, p. 87.
4 Em 13 de dezembro de 1963, o Supremo Tribunal Federal editou a Súmula nº 335, com o seguinte teor: “É válida a cláusula de eleição de foro 
para os processos oriundos do contrato”.
Código de 2015, o legislador optou por simplificar, 
adotando o modelo do procedimento comum, que 
passa a abarcar todas as questões gerais; alguns 
procedimentos especiais1, para tutelar temas, no 
plano do direito material, para as quais o legislador 
resolveu conferir tratamento procedimental especial; 
e também os procedimentos a que me permito cha-
mar de especialíssimos, que derivem dos negócios 
processuais, fruto de convenção das partes, de modo 
bilateral e no plano contratual, ou das partes e juiz, 
de maneira mais complexa2, se se tratar de negócio 
que venha a ser pactuado endoprocessualmente.
Dentre as várias regras que disciplinam o ne-
gócio processual no novo código, merece destaque 
a do art. 190. De acordo com esse dispositivo, se o 
processo versar sobre direitos que admitam autocom-
posição, as partes podem, desde que capazes em sua 
plenitude, estipular mudanças no procedimento para 
ajustá-lo às especificidades da causa, isto é, àquilo 
que de especial e, portanto merecedor de destaque, 
exista na questão de direito material a ser veicula-
da no processo. As partes podem convencionar a 
respeito de ônus, poderes, faculdades e deveres. E, 
como já afirmei, podem fazer isso mesmo antes do 
processo, o que significa que podem celebrar em con-
trato negócio de natureza processual que vai muito 
além da eleição de foro. Se, no curso ou depois de 
extinta a relação jurídica, houver necessidade de ir a 
juízo, os contratantes, agora partes, irão nos moldes 
ali pactuados, do ponto de vista do procedimento. 
Estamos diante, de fato, de uma expressiva inovação. 
Há uma série de discussões a respeito, especial-
mente nesse caso da estipulação de normas de natureza 
procedimental, antes do processo. 
Há quem diga que isso resvalaria para eventual nu-
lidade, quando o pacto ocorrer no ambiente de contratos 
de adesão. Entretanto, os riscos de eventuais abusos nessa 
negociação anterior ao processo foram levados em conta 
pelo legislador. Diz a regra do parágrafo único do art. 190 
que, de ofício ou a requerimento da parte prejudicada, o 
juiz controlará a validade das convenções previstas no 
art. 190, recusando-lhes aplicação quando houver nulida-
de ou inserção abusiva na hipótese específica de contrato 
de adesão ou ainda naquelas situações em que a parte 
se encontre em manifesta situação de vulnerabilidade. 
Parece-me, portanto, que essa primeira crítica já está 
resolvida no próprio texto normativo e que o legislador, 
de algum modo, “cercou” os eventuais problemas que 
essa nova regra poderia trazer. 
Há outra crítica, de caráter ideológico, no sentido 
de que o art. 190, na verdade, estaria “privatizando” 
o procedimento3. Alguns, enfim, acabam envolvidos 
ideologicamente nessa discussão, imaginando que 
essa atividade privada das partes possa afetar o re-
sultado do processo, o que não me parece correto. 
As partes podem, sim, pactuar regras de natureza 
procedimental e algumas delas podiam ser pactuadas 
mesmo antes do Código de 1973 como, por exemplo, 
a eleição de foro4, sem que se tivesse jamais cogitado 
desta espécie de problema. 
O Código possui uma série de regras que estão 
interligadas e que demandam uma interpretação ampla 
e sistemática para que se possa entendê-lo em toda sua 
extensão. O art. 200, por exemplo, é o primeiro que 
encabeça a sessão relativa aos atos das partes e que diz 
que aqueles consistentes em declarações unilaterais 
ou bilaterais de vontade produzem imediatamente a 
constituição, a modificação ou a extinção de direitos 
processuais, o que nos permite entender, conjugando 
a leitura desse dispositivo com a art. 190, que, a partir 
do início da vigência do CPC/15, de fato haverá um 
espaço amplo para o negócio processual. 
3
5 Sobre o princípio da eficiência, cf. leonardo Carneiro da Cunha, A previsão do princípio da eficiência no projeto do Novo Código de Processo 
Civil Brasileiro, RePro, 233/65.
6 Acerca dos negócios processuais no novo CPC e do gerenciamento processual, v. huMBerto theodoro Junior, dierle nuneS, alexandre Melo 
FranCo Bahia e Flávio QuinauS Pedron, Novo CPC: fundamentos e sistematização, 2. ed., Rio de Janeiro: Forense, 2015, p. 257.
7 A respeito, cf.tereSa arruda alviM WaMBier, Maria lúCia linS ConCeição, leonardo FerreS da Silva riBeiroe rogerio liCaStro torreS de Mello, 
Primeiros Comentários ao Novo Código de Processo Civil: artigo por artigo. São Paulo: RT, 2015.
8 Há uma série de outros pontos que poderíamos discutir a respeito do negócio processual. Por exemplo: a possibilidade de acordo para 
ampliação do tempo de sustentação oral de um ou de outro, para a divisão do tempo de sustentação oral nos tribunais; a convenção sobre a prova, 
inclusive sobre a distribuição dinâmica do ônus da prova que as partes poderão pactuar; a renúncia ao prazo, prevista no art. 225; o acordo para 
suspensão do processo, previsto no inciso II do art. 313; a organização compartilhada (ou organização consensual do processo), prevista no art. 
357, § 2.º; a possibilidade da escolha do arbitramento como técnica de liquidação, prevista no inciso I do art. 509.
Existem ainda outros dispositivos cuja leitura é 
importante para que se possa entender todo o mecanis-
mo engendrado pelo legislador em torno do negócio 
processual. Há, por exemplo, o art. 191, que dispõe 
que juiz e partes poderão fixar calendário para a prática 
dos atos processuais. Trata-se de uma regra com nítida 
inspiração na arbitragem. 
É um avanço sem tamanho, pois, na medida em que 
esse calendário seja fixado e respeitado pelas partes e 
pelo juiz, que aliás estará vinculado ao seu cumprimento, 
a razoável duração do processo estará previamente garan-
tida. Conforme dispõe o § 1.º do art. 191, o calendário 
vincula as partes e o juiz, de modo que os prazos nele 
previstos somente podem ser modificados em casos 
excepcionais, quando devidamente justificado. 
E há um outro elemento cuja compreensão é funda-
menta, e que decorre dessa possibilidade ampla de negócio 
processual. É o § 2.º do art. 191, que diz o seguinte: tendo 
havido o pacto, o negócio que fixou um calendário que 
passa a vincular partes e juiz, ficam dispensadas todas as 
intimações das partes para a prática de ato processual ou 
para a realização de audiências cujas datas tenham sido 
designadas no calendário. A eliminação de uma série de 
atos de comunicação no curso do procedimento, além de 
simplificar o trâmite do processo, certamente provocará 
sensível redução do custo público de manejo do processo. 
A desnecessidade de atendimento a prazos de-
correntes de intimações significa, de alguma maneira, 
gerar para juiz e para partes mais conforto e menos 
pressão. Diminuindo a pressão, a qualidade aumenta. 
É intuitivo que, quanto menor a pressão, mais as partes, 
seus advogados e o juiz agirão com espontaneidade 
dentro do processo, visando ao alcance do seu efetivo 
resultado que é a declaração, em sentido amplo, do 
direito daqueles que estão litigando em juízo, daquele 
microrganismo social representado no processo pelas 
partes. São alterações extraordinariamente vantajosas.
Há quem sustente, assim como também se tem 
dito em relação à regra do julgamento por ordem 
cronológica (art. 12), que o calendário atrapalhará a 
gestão do estoque de processos, pelo juiz. Parece-me 
que, assim como na ordem cronológica, desde que 
o juiz crie um novo método de gestão, levando em 
conta todas as alterações, ele poderá, sim, gerir com 
eficiência seu estoque de processos5, atendendo tanto 
à expectativa das partes, quanto à expectativa dos ór-
gãos do tribunal, como a Corregedoria, e dos órgãos 
de controle administrativo e disciplinar, como o CNJ6. 
Trata-se de um grande avanço, que será muito útil 
para que o procedimento seja mais ágil e previsível. 
É interessante aqui que não se confundam os 
negócios processuais relativos ao objeto litigioso 
do processo, como por exemplo, reconhecimento da 
procedência do pedido, com negócios processuais que 
tem por objeto o próprio processo na sua estrutura, na 
sua dinâmica. É desta última modalidade que tratam os 
artigos 190, 191 e 2007. Esses dispositivos não dizem 
respeito à transação, por exemplo, quanto ao objeto do 
processo, mas do próprio processo e de suas condições 
de desenvolvimento ao longo do procedimento.8
Além disso, é preciso que se tenha em mente que 
há algumas garantias que são inegociáveis, a respeito 
das quais as partes não poderão pactuar, seja antes do 
processo, no contrato, seja ao longo dele. Não se podem 
estabelecer regras que eliminem, por exemplo, garan-
tias constitucionais, mas se podem estabelecer altera-
ções procedimentais, desde que não ofendam aquelas 
garantias. São situações absolutamente distintas. 
Esta inovação certamente é capaz de dar bom ren-
dimento ao processo. Está inserida no contexto da ideia 
de cooperação, que permeia todo o Código, e que deve 
ser entendida como a necessidade de que haja esforço 
de todos os envolvidos na atividade processual para 
que resultado eficaz seja alcançado em tempo razoável. 
4
COOPERAÇÃO NO NOVO 
CPC (PRIMEIRA PARTE): 
OS DEVERES DO JUIZ
eduaRdo TaLamini
Advogado inscrito na OAB/PR sob o nº 19.920, 
Livre-docente, doutor e mestre – USP, 
Professor – UFPR
 
1. Introdução
Um dos traços marcantes do novo CPC é a 
ênfase nos princípios e garantias fundamentais do 
processo. Reafirmam-se e especificam-se vetores 
constitucionais. É nesse contexto que se insere a 
consagação do dever de cooperação.
2. Origens
A origem da formulação teórica do dever de 
cooperação remonta ao direito civil. Trata-se do 
reconhecimento da existência, nas relações obriga-
cionais, de deveres acessórios de conduta, impondo 
a cooperação entre as partes (deveres de informação, 
esclarecimento, prevenção, auxílio...). Como se vê a 
seguir, sua aplicação ao processo civil não deriva de 
um influxo do direito civil sobre o direito processual, 
mas, antes, da incidência dos mesmos valores funda-
mentais em ambas as searas.
Mesmo no processo civil a ideia de cooperação 
não é nova. É afirmada há décadas – ainda que com 
terminologias variáveis – por doutrina, jurisprudên-
cia e legislação de países como Alemanha (berço 
da formulação), Itália, França... No Brasil, textos 
de Barbosa Moreira publicados há quase quarenta 
já tratavam do tema. Na primeira metade da década 
de 1990, o princípio já estava amplamente desen-
volvido na doutrina brasileira. 
Portanto, e a rigor, já vigora no ordenamento atual.
3. Noção
Mas em que consiste? Trata-se de reconhecer que 
– em que pesem as posições antagônicas, contrapostas, 
das partes; em que pese a distinção entre a posição do 
juiz (autoridade estatal) e das partes (jurisdicionados, 
sujeitos àquela autoridade) – todos os sujeitos do pro-
cesso estão inseridos dentro de uma mesma relação 
jurídica (ou de um complexo de relações) e devem 
colaborar entre si para que essa relação, que é dinâ-
mica, desenvolva-se razoavelmente até a meta para o 
qual ela é preordenada (a resposta jurisdicional final). 
4. Fundamentos
Os fundamentos constitucionais dessa imposição 
são a boa-fé (moralidade), o contraditório e a razoabi-
lidade (inerente ao devido processo legal).
Há quem critique a incidência do dever de coope-
ração no processo civil. Impor-se às partes o dever de 
cooperar implicaria ignorar o litígio, a conflituosidade, 
a verdaderia guerra entre as partes. Dir-se-ia que “o 
processo não é um jardim florido em que as partes 
passeiam de mãos dadas”.
Mas o princípio na cooperação não é uma descri-
ção de como é o processo e sim uma prescrição de 
como ele deve ser.
Trata-se de compatibilizar a ideia do processo 
como embate (salutar, na essência, mas cuja distor-
ção conduz à ideia do “processo como jogo”) com as 
exigências constitucionais de boa-fé e razoabilidade.
5. A regra geral no CPC/15
O novo CPC explicita o princípio (além de for-
mular diversas regras que são clara expressão dele): 
“Art. 6º. Todos os sujeitos do processo devem coope-
rar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, 
decisão de mérito justa e efetiva.”
5
A norma impõe o dever de cooperaçãoentre to-
dos os sujeitos do processo: não só do juiz perante as 
partes; não só das partes entre si.
Neste primeiro breve texto, examinam-se os deve-
res que o princípio da cooperação impõe ao juiz. Mas 
desde já se ressalva: as partes bembém submetem-se 
a deveres de cooperação – o que será objeto de um 
segundo texto.
6. O juiz e o dever de cooperação
No que tange ao juiz, a cooperação desdobra-
-se em quatro âmbitos: esclarecimento, diálogo, 
prevenção e auxílio.
6.1. Dever de esclarecimento
Cumpre ao juiz esclarecer-se quanto às manifes-
tações das partes: questioná-las quanto a obscuridades 
em suas petições; pedir que esclareçam ou especifi-
quem requerimentos feitos em termos mais genéricos 
e assim por diante.
Um exemplo de tal dever no CPC/73 tem-se no 
despacho de especificação de provas. A despeito da 
exigência de que as provas sejam requeridas já na 
inicial e na contestação e da inexistência de previsão 
legal desse despacho, assentou-se o reconhecimento 
do dever do juiz, antes de sanear o processo, dar às 
partes tal oportunidade de esclarecimento.
No novo CPC, um dos vários exemplos é extraível 
do art. 357, § 3º (“Se a causa apresentar complexi-
dade em matéria de fato ou de direito, deverá o juiz 
designar audiência para que o saneamento seja feito 
em cooperação com as partes, oportunidade em que 
o juiz, se for o caso, convidará as partes a integrar ou 
esclarecer suas alegações”).
O dever de esclarecimento apresenta ainda uma 
segunda dimensão, nem sempre considerada sob essa 
perspectiva: o juiz deve não só buscar a clareza das 
partes, mas ser, ele mesmo, claro. É nesse contexto, 
de cooperação, que se compreende melhor o extremo 
detalhamento que o CPC/15 estabelece para o dever de 
fundamentação das decisões do juiz (art. 489, §§ 1º e 2º).
6.2. Dever de diálogo (ou de consulta)
Impõe-se ainda reconhcer o contraditório não 
apenas como garantia de embate entre as partes, mas 
também como dever de debate do juiz com as partes. 
O CPC francês de 1975 vale-se de feliz fórmula para 
expressar essa exigência: o juiz deve “ele mesmo” 
observar o contraditório.
Não se admite que o juiz surpreenda as partes 
com decisões tomadas de oficio. O dever de coopera-
ção não tolhe o poder judicial de instrução e cognição 
ex officio. Enquadram-se nesse âmbito o conheci-
mento da falta de pressupostos de admissibilidade 
da tutela jurisdicional e das nulidades processuais 
absolutas, os enquadramentos jurídicos diversos 
dos aventados pelas partes [juria novit curiam], 
objeções materiais etc. Inserem-se também aqui a 
inversão do ônus da prova e a produção de provas 
de ofício. Em todos esses casos, em vez de decidir 
diretamente, o juiz deve antes dar a oportunidade 
para as partes se manifestarem. Nos termos do art. 
9º do CPC/15: “Não se proferirá decisão contra uma 
das partes sem que ela seja previamente ouvida”. E 
o art. 10 é ainda mais explícito quanto ao dever de 
diálogo: “O juiz não pode decidir, em grau algum 
de jurisdição, com base em fundamento a respeito 
do qual não se tenha dado às partes oportunidade de 
se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a 
qual deva decidir de ofício.”
Estaria o juiz afetando sua imparcialidade, por estar 
adiantando aquilo que pretende decidir em seguida? 
Não, pelo contrário: ao permitir o debate, está refor-
çando sua imparcialidade. Mesmo porque, depois de 
ouvir as partes, pode vir a mudar sua inicial impressão.
A segunda crítica que se costuma a fazer ao dever 
de diálgo é também impertinente: ele não inviabiliza 
o curso do processo em prazo razoável. Primeiro, 
porque em muitos casos ganha-se tempo (evitando-se 
recursos, mediante decisões mais acertadas). Depois, 
mesmo que se perca tempo em outros tantos casos, é 
o preço que se paga por um processo com um contra-
ditório substancialmente mais qualificado.
6.3. Dever de prevenção
O juiz deve ainda advertir as partes sobre os riscos 
e deficiências das manifestações e estratégias por elas 
adotadas, conclamando-as a corrigir os defeitos sempre 
que possível. Tome-se como exemplo o art. 321 do 
novo CPC: “O juiz, ao verificar que a petição inicial não 
preenche os requisitos dos arts. 319 e 320 ou que apre-
senta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o 
julgamento de mérito, determinará que o autor, no prazo 
de 15 (quinze) dias, a emende ou a complete, indicando 
com precisão o que deve ser corrigido ou completado.” 
6.4. Dever de auxílio
Além disso, o juiz deve ajudar as partes, elimi-
continua na página 6
6
andRé Luiz bäumL TesseR
Advogado inscrito na OAB/PR sob o nº 29.148
Mestre em Direito pela UFPR
Doutorando em Direito pela UFPR
Professor universitário de Graduação e de Pós-Graduação
A tutela cautelar e a antecipação de tutela estão tratadas no novo Código de Processo Civil brasileiro especialmente nos artigos 294 a 
310, topograficamente inseridos no Livro V, da Parte 
ALGUMAS LINHAS SOBRE AS 
DIFERENÇAS ENTRE A TUTELA 
CAUTELAR E A ANTECIPAÇÃO 
DE TUTELA NO CPC/2015
Geral, denominado “Tutela Provisória”. Nesse parti-
cular, portanto, veja-se quer o novo Código dá novo 
tratamento à temática dos chamados “provimentos de 
urgência”, topograficamente situando a tutela cautelar 
e a antecipação de tutela em um mesmo Livro. Tal po-
sicionamento é bem diverso daquele que a legislação 
codificada de 1973 adota, mesmo após suas reformas. 
Isso porque, no CPC/1973, a tutela cautelar é vista 
como tertium genius de atividade jurisdicional, e, por 
isso é disciplinada em Livro próprio (Livro III – Do 
nando obstáculos que lhes dificultem ou impeçam o 
exercícios das faculdades processuais.
Esse é o dever mais discutível, no plano da 
cooperação. O auxílio legítimo já não estaria con-
substanciado nos demais deveres, antes mencio-
nados? O auxílio direto não deveria ser propiciado 
por outros sujeitos processuais (ministério público, 
defensor público...)?
Mas existe um campo específico de incidência do 
dever de auxílio, que nada tem a ver com assistência 
material a necessitados. Trata-se de uma intervenção 
técnica destinada a eliminar óbices ao exercício das 
garantias processuais (que podem pôr-se até contra 
litigantes de boa situação econômica).
Pense-se na distribuição dinâmica do ônus da prova 
(art. 373, § 1º: “Nos casos previstos em lei ou diante de 
peculiaridades da causa relacionadas à impossibilidade 
ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos 
termos do caput ou à maior facilidade de obtenção da 
prova do fato contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da 
prova de modo diverso, desde que o faça por decisão 
fundamentada, caso em que deverá dar à parte a oportu-
nidade de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído”)
 Considere-se ainda o poder de flexibilização 
procedimental, para a inversão da ordem das provas 
(art. 139, VI), ou ainda a ampliação de prazos, quando 
houver dificuldade para o cumprimento do prazo posto 
na lei por exemplo (art. 139, VI, e art. 437, § 2º).
7
Processo Cautelar), enquanto a antecipação de tute-
la, enquanto técnica genérica, é disciplinada no Livro 
I, do Código (Processo de Conhecimento), especial-
mente nos artigos 273 e 461, § 3º.
Em verdade, a nova legislação aponta que a 
“tutela provisória” pode ser fundada com base na 
urgência ou na evidência. Insere ainda as medidas 
urgentes ora mencionadas como espécies do gênero 
tutelas provisórias de urgência. É o que se depreen-
de do seu artigo 294, que determina que: “A tutela 
provisória pode fundamentar-se em urgência ou evi-
dência. Parágrafo único. A tutela provisória de ur-
gência, cautelar ou antecipada, pode ser concedida 
em caráter antecedente ou incidental”.
Mais especificamente, aliás, no Título I, do ci-
tado Livro, denominada “Tutela de Urgência”. Em 
uma leitura sistemática, é possível dizer que a nova 
legislação adotasob o signo tutela de urgência, o 
que considerou como tutela provisória que tem por 
fundamento a existência de um perigo de dano ou 
de risco ao resultado útil do processo. Tal definição 
parece emergir de uma leitura a contrario sensu do 
artigo 311, do novo Código, que, ao estabelecer a 
chamada Tutela da Evidência a diferenciou da tute-
la de urgência justamente porque independe da de-
monstração das citadas situações de perigo.
Portanto, tutela cautelar e antecipação de tute-
la, para o novo Código de Processo Civil brasileiro 
podem ser definidas como tutelas provisórias de ur-
gência. Ou seja, tutelas jurisdicionais que não têm 
o condão de serem definitivas e que são concedidas 
com fundamento (e em razão de) um perigo de dano 
ou de risco ao resultado útil do processo.
Sobre a temática objeto desse ensaio, naturalmente 
há várias questões a serem discutidas. Todavia, opta-se 
por abordar duas perspectivas gerais importantes.
A primeira diz respeito à inexistência de dis-
tinção quanto aos requisitos gerais positivos para 
a concessão das medidas. O caput do artigo 300 
do novo Código de Processo Civil especialmente 
dispõe que: “A tutela de urgência será concedida 
quando houver elementos que evidenciem a proba-
bilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao 
resultado útil do processo”.
Assim, depreende-se de uma leitura simples do ci-
tado dispositivo legal que os pressupostos que precisam 
estar presentes para a concessão da tutela de urgência, 
seja ela de natureza antecipada ou cautelar, são os mes-
mos, quais sejam: a probabilidade do direito e o perigo 
de dano ou o risco ao resultado útil do processo1.
A outra perspectiva é a adoção de procedimentos 
diversos para cada uma daquelas espécies de tutela 
de urgência apontadas no novo Código de Proces-
so Civil, especialmente quando forem requeridas de 
forma antecedente, ou seja, na dimensão da nova le-
gislação, antes de ajuizada ação que busca a tutela 
jurisdicional definitiva.
O pedido de tutela antecipada antecedente impõe 
ao autor, quando a medida for concedida, o ônus de 
aditar a petição inicial, com a complementação da 
sua argumentação, a juntada de novos documentos 
e a confirmação do pedido de tutela final, em quinze 
dias, ou em outro prazo maior que o juiz fixar (artigo 
303, § 1º, inciso I), sendo que, o não antendimento a 
essa regra implica a extinção do processo sem reso-
luçao do mérito (artigo 303, § 3º).
Ainda, a tutela antecipada requerida em caráter 
antecedente pode tornar-se estável, se da decisão que 
a concede não for interposto o respectivo recurso 
(artigo 304, caput), salientando-se que o recurso ca-
bível contra tal decisão é o agravo de instrumento, na 
forma do artigo 1.015, inciso I, da nova legislação.
Assim, e porque o artigo 304, § 1º, determina 
que, no caso de estabilização da tutela antecipada, o 
processo será extinto, caso não haja a interposição de 
recurso contra a decisão que conceder a tutela ante-
cipada em caráter antecedente, o autor não precisará 
aditar a petição inicial, com a complementação de sua 
argumentação, na forma do artigo 303, § 1º, inciso I.
No caso da tutela antecipada antecedente, o réu 
será citado e intimado para a audiência de concilia-
ção ou de mediação na forma do art. 334, sendo que, 
1 Isso porque é possível apontar, no plano legislativo, ao menos uma distinção quanto a um requisito negativo para concessão das medidas. O novo 
Código de Processo Civil, no § 3º, do artigo 300, determina que “A tutela de urgência, de natureza antecipada, não será concedida quando houver 
perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão”. Assim, é de se dizer que o perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão é requisito negativo 
para a concessão da tutela de urgência de natureza antecipada, permitindo uma interpretação a contrario sensu de que tal pressuposto não se aplica à 
tutela de urgência de natureza cautelar. A ausência da distinção no que tange aos requisitos positivos para concessão da tutela cautelar e da antecipação 
de tutela é reforçada novo Código de Processo Civil em seus artigos 303 (que trata da tutela antecipada requerida em caráter antecedente) e 305 (que 
trata da tutela cautelar requerida em caráter antecedente).
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expediente:
se não houver autocomposição, o prazo para contes-
tação será contado na forma do art. 335, como esta-
belece o artigo 303, § 1º, inciso II.
Por outro lado, no caso de pedido de tutela cau-
telar antecedente, a efetivação da medida concedida 
imporá ao autor o ônus de formular o pedido inicial 
no prazo de 30 (trinta) dias, que será apresentado nos 
próprios autos da medida cautelar, independentemen-
te de adiantamento de novas custas processuais (ar-
tigo 305, caput). Caso o autor não formule o pedido 
principal no prazo assinalado, a medida cautelar per-
derá sua eficácia, na forma do artigo 309, inciso I2.
De se destacar, portanto que, o novo Código de 
Processo Civil não previu a estabilização da tutela 
cautelar concedida em caráter antecedente, como fez 
com a tutela antecipada de igual natureza temporal.
No procedimento da tutela cautelar antecedente, 
a nova legislação prevê que o réu será citado para, no 
prazo de cinco dias, contestar o pedido e indicar as 
provas que pretende produzir (artigo 306).
Dessa simples análise, parece que a nova legislação 
padece do mal da bipolaridade. Ao mesmo tempo em 
que indica não haver necessidade de estabelecimento da 
diferença entre a tutela cautelar e a tutela antecipada, 
no que tange aos seus requisitos positivos de concessão, 
ressalta ser muito importante a distinção entre aquilo que 
considerou espécies do gênero tutela provisória de ur-
gência, especialmente a partir da possibilidade ou não 
de estabilização dos efeitos da medida concedida e, tam-
bém, com a adoção de procedimentos diferenciados.
A título conclusivo, e a partir da análise da dis-
tinção entre tutela cautelar e tutela antecipada no 
novo Código de Processo Civil, é possível apontar 
as seguintes considerações: (i) a nova legislação re-
afirma a ideia mais antiga de que a distinção entre as 
medidas se dá a partir do resultado com ela obtido 
para o direito material, posto que a tutela cautelar 
conservará o direito material somente, ao passo que 
a tutela antecipada o realizará plenamente; (ii) em 
razão disso, a tutela cautelar e a tutela antecipada 
são apresentadas como espécies do gênero tutela 
provisória de urgência; (iii) tal concepção levou à 
ausência de distinção de requisitos positivos para a 
concessão de cada uma das medidas, sem a criterio-
sa diferenciação, inclusive, das diversas situações de 
perigo possíveis de condicionar medidas urgentes.
Assim, a nova sistemática dos provimentos de 
urgência deverá ser tratada com cuidado, especial-
mente pelos magistrados quando de sua eventual 
concessão, uma vez que a definição da natureza da 
medida a ser concedida repercutirá de forma inegá-
vel tanto no plano material (com a possibilidade ou 
não de sua estabilização) quanto no plano processual 
(com a adoção de procedimentos diferentes).
2 Também são razões para a cessação da eficácia da tutela cautelar concedida em caráter antecedente a não efetivação da medida em 30 (trinta) dias (artigo 309, inciso II) e 
o julgamento de improcedência do pedido principal formulado ou a extinção do processo sem resolução de mérito (artigo 309, inciso III). Em todos os casos de cessação da 
eficácia da tutela cautelar tratados no artigo 309, da nova legislação, fica vedada a propositura a renovação do pedido, salvo por novo fundamento (artigo307, Parágrafo Único).

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