Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DIREITOS POLÍTICOS •NOÇOES GERAIS: os direitos políticos são instrumentos por meio dos quais a CF garante o exercício da soberania popular, atribuindo poderes aos cidadãos para interferirem na condução da coisa pública, seja direta, seja indiretamente. •Os regimes democráticos podem ser classificados em 3 espécies: a) democracia direta, em que o povo exerce por si o poder, sem intermediários; b) democracia representativa, na qual o povo, soberano, elege representantes, outorgando-lhes poderes, para que, em nome deles a para o povo, governem o país; c) democracia semidireta ou .... • ....participativa, um “sistema híbrido”, uma democracia representativa, com peculiaridades e atributos da democracia direta, pois permite “além da participação direta, concreta do cidadão na democracia representativa, controle popular sobre os atos estatais”. • A participação direta do povo se dá por meio plebiscito, do referendo, iniciativa popular e do ajuizamento da ação popular. • A semelhança entre o plebiscito e o referendo reside no fato de ambos serem formas de consulta ao povo para que delibere sobre matéria de alta relevância, de natureza constitucional, legislativa ou administrativa. • A diferença entre o plebiscito e o referendo, por outro lado, está no momento da consulta: no plebiscito, a consulta é prévia, sendo convocado com anterioridade ao ato legislativo ou administrativo, cabendo ao povo por meio do voto aprovar ou rejeitar o que lhe tenha sido submetido à apreciação. No referendo, primeiro se tem o ato legislativo ou administrativo, para, só então, submetê-lo à apreciação do povo, que o ratifica (confirma) ou o rejeita (afasta). • Plebiscito e referendo são convocados mediante decreto legislativo (art. 3º, lei 9709/98), por proposta de 1/3, no mínimo, dos membros que compõem qualquer das Casas do Congresso Nacional. A competência para autorizar referendo e convocar plebiscito é exclusiva do Congresso Nacional (art. 49, XV, CF/88) • Outro instrumento de participação popular, de forma direta, dá-se pela iniciativa popular, que consiste em âmbito federal, na apresentação de projeto de lei à Câmara dos Deputados, subscrito por, no mínimo, 1% do eleitorado nacional, distribuído por, pelo menos, 5 Estados, com não menos de 0,3% dos eleitores de cada um deles (art. 61, §2º, CF/88). • Finalmente, temos outra forma de participação popular, consubstanciada no ajuizamento da ação popular. SOBERANIA POPULAR, NACIONALIDADE, CIDADANIA, SUFRÁGIO, VOTO E ESCRUTÍNIO • Soberania popular, segundo Uadi L. Bulos, “... É a qualidade máximo do poder extraída da soma dos atributos de cada membro da sociedade estatal, encarregado de escolher os seus representantes no governo por meio do sufrágio universal e do voto direto, secreto e igualitário”. •Nacionalidade é o vínculo jurídico-político que liga um indivíduo a determinado Estado, fazendo com que esse indivíduo passe a integrar o povo desse Estado e, por consequência, desfrute de direitos e submeta-se a obrigações. •Cidadania tem por pressuposto a nacionalidade (que é mais ampla que a cidadania), caracterizando-se como a titularidade de direitos políticos de votar e ser votado. O cidadão, portanto, é o nacional que goza de direitos políticos. • Sufrágio é o direito de votar e ser votado. •Voto é o ato por meio do qual se exercita o sufrágio, ou seja, o direito de votar e ser votado. • Escrutínio é o modo, a maneira, a forma pela qual se exercita o voto (público ou secreto). •DIREITO POLÍTICO POSITIVO (DIREITO DE SUFRÁGIO): Como núcleo dos direitos políticos tem-se o direito ao sufrágio, que se caracteriza tanto pela capacidade eleitoral ativa (direito de votar, capacidade de ser eleitor, alistabilidade) como pela capacidade eleitoral passiva (direito de ser votado, elegibilidade). •Capacidade eleitoral ativa: o exercício do sufrágio ativo dá-se pelo voto, que pressupõe: a) alistamento eleitoral (título eleitoral); b) nacionalidade brasileira; c) idade mínima de 16 anos; d) não se conscrito (convocado, recrutado para o serviço militar obrigatório) durante o serviço militar obrigatório. • O voto é direto, secreto, universal, periódico, livre, personalíssimo e com valor igual para todos: • O voto é: a) direto, no sentido de que o cidadão vota diretamente no candidato; b) secreto, na medida em que não se dá publicidade da opção do eleitor, mantendo-a em sigilo absoluto; c) universal, visto que o seu exercício não está ligado a nenhuma condição discriminatória, como aquelas de ordem econômica (censitário) ou intelectual (capacitário); d) periódico, já que a democracia representativa prevê e exige mandatos por prazo determinado; e) livre, pois o eleitor pode escolher o seu candidato, ou, se preferir, anular o voto ou votar em branco; f) personalíssimo, pois é vetada a votação por procurador; g) com valor igual para todos, decorrente do princípio one man one vote – “um homem um voto”. • O constituinte originário elevou à categoria de cláusulas pétreas o voto direto, secreto, universal e periódico (art. 60, §4º). • O alistamento eleitoral e o voto são: obrigatórios, para os maiores de 18 anos e menores de 70 anos de idade; facultativos, para os maiores de 16 anos e menores de 18 anos, os analfabetos e os maiores de 70 anos de idade (art. 14, §1º, I e II, “a”, “b”, e “c”). •Capacidade eleitoral passiva: É a possibilidade de se eleger, concorrendo a um mandato eletivo. O direito de ser votado só se torna absoluto se o candidato preencher as condições de elegibilidade para o cargo para o qual se candidata e, ainda, não incidir em nenhum dos impedimentos previstos na CF/88 (direitos políticos negativos). • Condições de elegibilidade (art. 14, §3º): São condições de elegibilidade, na forma da lei: ➢Nacionalidade brasileira; ➢Pleno exercício dos direitos políticos; ➢Alistamento eleitoral; ➢Domicílio eleitoral na circunscrição; ➢Filiação partidária; ➢Idade mínima de acordo com o cargo ao qual se candidata. • No tocante ao requisito da idade, essa condição de elegibilidade inicia-se aos 18 anos, terminando aos 35 anos, conforme regras abaixo: ➢18 anos, para Vereador; ➢21 anos, para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e Juiz de paz; ➢30 anos, para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal; ➢35 anos, para Presidente, Vice-Presidente da República e Senador. •DIREITOS POLÍTICOS NEGATIVOS: • Definem formulações constitucionais restritivas e impeditivas das atividades político-partidárias, privando o cidadão do exercício de seus direitos políticos, bem como impedindo-os de eleger um candidato (capacidade eleitoral ativa) ou de ser eleito (capacidade eleitoral passiva). • Tem-se, assim, as inelegibilidades e as situações em que os direitos políticos ficam suspensos ou são perdidos (privação dos direitos políticos). •Inelegibilidades: São circunstâncias constitucionais ou previstas em lei complementar que impedem o cidadão do exercício total ou parcial da capacidade eleitoral passiva. Restringem, portanto, a elegibilidade do cidadão. Objetivam proteger a probidade administrativa, a moralidade para o exercício do mandato, considerada a vida pregressa do candidato e anormalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou abuso do exercício da função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta (art. 14, §9). • As inelegibilidades podem ser absolutas (impedimento eleitoral para qualquer cargo eletivo, taxativamente prevista na CF/88) ou relativas (impedimento eleitoral para algum cargo eletivo ou mandato, em função de situações em que se encontra o cidadão candidato, previstas na CF ou em lei complementar – art. 14, §§5º a 8º, e 9º), • Inelegibilidades absolutas: De acordo com o art. 14, §4º, são absolutamente inelegíveis (não podemexercer a capacidade eleitoral passiva), em relação a qualquer cargo eletivo, o: ➢Inalistável (quem não pode ser eleitor não pode eleger-se). Os estrangeiros e, durante o serviço militar obrigatório, os conscritos não podem alistar-se como eleitores. Portanto, são considerados inalistáveis. O alistamento eleitoral é condição de elegibilidade. ➢Analfabeto (o analfabeto tem direito à alistabilidade e, portanto, direito de votar, mas não pode ser eleito, pois não possui capacidade eleitoral passiva). • Inelegibilidades relativas: O relativamente inelegível não pode se eleger para determinados cargos, ocorrendo a inelegibilidade em decorrência da função exercida, de parentesco, ou se o candidato for militar, bem como e virtude das situações previstas em lei complementar (art. 14, §9º). ❖Inelegibilidade em razão da função exercida para terceiro mandato sucessivo: O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido ou substituído no curso do mandato não poderão ser reeleitos para um terceiro mandato sucessivo. ❖Inelegibilidade relativa em razão da função para concorrer a outros cargos: O art. 14, §6º, estabelece que, para concorrer a outros cargos, o Presidente da República, os Governadores de Estado e do DF..... • .....e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até 6 meses antes do pleito. Trata-se do instrumento da desincompatibilização, por meio do qual o candidato (cidadão) se desvencilha de alguma circunstância que o impede de exercer a sua capacidade eleitoral passiva. Para o caso de reeleição, o STF entende desnecessária a desincompatibilização. ❖Inelegibilidade relativa em razão de parentesco: Essa inelegibilidade, segundo o STF, deve ser interpretada “... De maneira a dar eficácia e efetividade aos postulados republicanos e democráticos da Constituição, evitando-se a perpetuidade ou alongada presença de familiares no poder” (RE 543.117-AgR). Como regra, de acordo com o art. 14, §7º, são inelegíveis, no território da circunscrição do titular, o cônjuge e os parentes consanguíneos ..... • ...ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do: • A) Presidente da República; • B) Governador de Estado, Território ou Distrito Federal; • C) Prefeito; • D) ou quem os haja substituído dentro dos 6 meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição. • Vale citar, ainda, a Súmula Vinculante 18/2009, por meio da qual o STF pacificou: “a dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal, no curso do mandato, não afasta a inelegibilidade prevista no §7º do artigo 14 da Constituição Federal”. Busca-se evitar a possibilidade de se fraudar ou burlar a regra constitucional da inelegibilidade, em razão de separações, por vezes, fictícias. •Militares: Prevê expressamente o art. 14, §8º, que o militar alistável é elegível. Para tanto, deverá atender às seguintes condições: ❑Menos de 10 anos de serviço: deverá afastar-se da atividade. O afastamento aqui é definitivo. ❑Mais de 10 anos de serviço: será agregado pela autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade. • Inelegibilidades previstas em lei complementar: De acordo com o art. 14, §9º, da CF/88, lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de que sejam protegidos os preceitos da: a) probidade administrativa; b) moralidade para o exercício de mandato, considerada a vida pregressa do candidato; c) normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta e indireta. • Outros casos de inelegibilidades ocorrerão só por lei complementar, e elas serão relativas, já que as absolutas só se justificam quando previstas na Constituição Federal. •CANDIDATOS COM “FICHA SUJA” •A LC 135, de 04.06.2010 (Lei da Ficha Limpa) foi considerada constitucional pelo STF (ADCs 29 e 30 e ADI 4578); •Antes da LC 135, para que se caracterizasse uma das hipóteses de inelegibilidade era necessário o trânsito em julgado da sentença negativa, em razão da expressão “vida pregressa do candidato”, prevista no art. 14, §9º da CF; •Como novidade, a LC 135/2010 tornou inelegível aquele que for condenado, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado da Justiça Eleitoral, por corrupção eleitoral, por captação ilícita de sufrágio, por doação, captação ou gastos ilícitos de recursos de campanha ou por conduta vedada aos agentes públicos em campanhas eleitorais que impliquem cassação do registro ou do diploma. Ou seja, em relação à decisão do órgão colegiado, não se exige o trânsito em julgado. •PERDA DOS DIREITOS POLÍTICOS (arts. 15, I e IV, e 12, §4º, II, da CF/88): ➢Cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado: em decorrência do cancelamento da naturalização, o indivíduo voltará à condição de estrangeiro. ➢Recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa (art. 5º, VIII): A maioria dos autores de direito eleitoral vem entendendo como situação de suspensão e não de perda de direitos políticos, nos termos da literalidade do art. 4º, §2º da Lei 8239/91. No entanto, na linha defendida por José Afonso da Silva, entende-se que se trata de perda, já que para readquirir os direitos políticos a pessoa precisará tomar a decisão de prestar o serviço alternativo, não sendo o vício suprimido por decurso de prazo. ➢Perda da nacionalidade brasileira em virtude de aquisição de outra. • SUSPENSÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS (arts. 15, II, III e V, e 55, II, e §1º, da CF/88; art. 17.3 do Dec. 3927/2001 c/c art. 1º, I, “b”, da LC 64/90): ➢Incapacidade civil absoluta (caso de interdição, por exemplo); ➢Condenação criminal transitada em julgado: suspensão enquanto durarem os efeitos da condenação; ➢Improbidade administrativa nos termos do art. 37, §4º: via processo judicial. ➢Exercício assegurado pela cláusula de reciprocidade (art. 12, §1º): o gozo de direitos políticos no Estado de residência importa na suspensão do exercício dos mesmos direitos no Estado da nacionalidade. ➢Art. 55, II, e §1º, c/c art. 1º, I, “b”, da LC 64/90: procedimento do Deputado ou Senador declarado incompatível com o decoro parlamentar – inelegibilidade por 8 anos. • REAQUISIÇÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS PERDIDOS OU SUSPENSOS • Perdido o direito político por cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado, a requisição só ocorrerá por meio de ação rescisória; • Na hipótese de perda por recusa de cumprir obrigação a todos impostas ou prestação alternativa, a reaquisição ocorrerá quando o indivíduo, a qualquer tempo, cumprir a obrigação devida. • Todavia, se a perda se der em virtude de aquisição de outra nacionalidade, o art. 36 da Lei 818/49 prevê a possibilidade de reaquisição por decreto presidencial, se o ex-brasileiro estiver domiciliado no Brasil, cumpridas as exigências constitucionais. • No que diz respeito à suspensão, a requisição dos direitos políticos dar-se-á quando cessarem os motivos que a determinaram. • SERVIDOR PÚBLICO E EXERCÍCIO DO MANDATO ELETIVO: • De acordo com ao art. 38 da CF/88, ao servidor público da administração direta, autárquica e fundacional, no exercício de mandato eleito, aplicam-se a seguintes disposições: ➢I - tratando-se de mandato eletivo federal, estadual ou distrital, ficará afastado de seu cargo, emprego ou função; ➢II - investido no mandato de Prefeito, será afastado do cargo, emprego ou função, sendo-lhe facultado optar pela sua remuneração; ➢III - investido no mandato de Vereador, havendo compatibilidade de horários, perceberá as vantagens de seu cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração do cargo eletivo, e, não havendo compatibilidade, será aplicada anorma do inciso anterior; ➢IV - em qualquer caso que exija o afastamento para o exercício de mandato eletivo, seu tempo de serviço será contado para todos os efeitos legais, exceto para promoção por merecimento; ➢V - para efeito de benefício previdenciário, no caso de afastamento, os valores serão determinados como se no exercício estivesse.
Compartilhar