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Como ler melhor

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Como ler melhor: algumas considerações 
Parte I 
 
 
Por Rodrigo Farias 
O texto abaixo é baseado nas idéias expostas por Mortimer Adler e Charles Van Doren na excelente obra 
Como ler um livro: O guia clássico da leitura inteligente, traduzido por Luciano Trigo e publicado no Brasil 
pela editora da Univercidade.
 
 
Você sabe ler? 
Se você chegou até aqui, eu espero sinceramente que a resposta seja "Sim". É até provável que você não 
só tenha dado essa resposta mentalmente, como a tenha feito acompanhar de um sorriso desdenhoso e 
uma exclamação como "É claro!". No entanto, saiba que boa parte das pessoas que responde a tal pergunta 
com um sonoro "Sim", na verdade deveriam simplesmente dizer, "Não como poderia". E isso não tem nada 
a ver com o alfabeto. 
Praticamente todos os internautas são alfabetizados. São capazes de reconhecer palavras e frases, 
apreender-lhes o significado e pronunciá-las em voz alta. Uma parte expressiva deles pode até se dar ao 
luxo de identificar e corrigir erros gramaticais ou ortográficos daquilo que lêem. Uma parte menor ainda é 
habilitada para sintetizar o conteúdo do que lê, mesmo quando se trata de assuntos fora de alguma 
especialização que por acaso possuam. Finalmente, uma pequena minoria não só é capaz de discutir, mas 
também de fazê-lo com competência, identificando idéias principais e secundárias, a linha de argumentação 
usada para expô-las, os pontos fracos e fortes de cada argumentos, e, se for o caso, compará-los com os 
de outras fontes e assim chegar a uma conclusão. Este último grupo não apenas assimila informação, mas 
a processa, avalia e a transforma em conhecimento. 
A que grupo você pertence? 
Se é a essa pequena elite de iluminados, esse texto não é para você. Ao invés de lê-lo sem proveito, sugiro 
que escreva outro dividindo com os menos favorecidos as suas técnicas de leitura. Se elas estiverem tão 
assimiladas que você nunca sequer se deu conta delas, você pode usar o método inverso: mostrar como 
não se deve ler. Em ambos os casos, estará aplicando melhor o seu tempo do que lendo um texto que só 
vai dizer o que você já sabe. 
Agora, se você é do tipo que: 
 » chega ao fim de um livro sem conseguir lembrar do início; 
 » freqüentemente cochila durante uma leitura mais longa, mesmo quando o assunto interessa; 
 » várias vezes compra um livro aparentemente bom para descobrir, depois de quinze páginas, que ele 
não vale meia pataca; 
 » tem dificuldade para resumir as idéias principais do autor, e quando tenta acaba sempre produzindo 
resumos muito maiores que o desejável; 
 » está sempre tendo de queimar os neurônios com livros difíceis de entender, mas obrigatórios para um 
curso, trabalho ou aula; 
 » toda vez que vê um colega falar sobre uma leitura que você também fez, acaba se perguntando, 
"Como é que eu não vi isso?"... 
Este texto foi escrito pensando em você. 
1 - Informação X Esclarecimento 
1.1 - Um diagnóstico triste 
A maior parte das pessoas lê mal. Num país como o Brasil, em que a grande massa da população não 
chega sequer a completar o Ensino Fundamental, isso soa como um truísmo, mas aqui estamos nos 
referindo também aos felizardos que conseguiram chegar não apenas ao fim do Ensino Médio, mas até 
mesmo, e principalmente, ao Ensino Superior. Infelizmente, a posse de um diploma não é garantia de uma 
capacidade de leitura eficaz. Nossa estrutura educacional é falha, muito aquém do que seria preciso para 
realmente formar um cidadão, e isso vale tanto para o ensino público quanto para grande parte do 
particular. Além disso, em nossa cultura, ler ainda não é uma prioridade, o que se reflete no mercado 
editorial: a maioria dos livros têm baixas tiragens (o padrão de uma edição é 3.000 exemplares, num país de 
mais de 160 milhões) e demoram a vender, salvo um ou outro best-seller, geralmente de ficção. E como se 
não bastasse, o fato de alguém comprar um livro não significa que vá lê-lo de fato, e mesmo que o leia, não 
significa que vá entendê-lo tanto quanto a obra merece. 
Daí se deduz a pobreza do nosso país no campo da leitura. Mas problemas nessa área não são 
exclusividade do Brasil, tampouco de países pobres. Já na década de 70, Mortimer Adler -- cujas idéias 
fundamentam este textos -- já denunciava que a capacidade de leitura dos norte-americanos que não 
passava do nível do sexto ano letivo, ou seja, mais ou menos o do nosso primário ou 5.ª série. O autor cita 
um artigo que o professor James Mursell, da Escola de Professores da Universidade de Columbia, escreveu 
para a revista Atlantic Monthly, em 1939: 
"Os estudantes aprendem a ler de forma efetiva em sua língua materna? Sim e não. Até o quinto e o sexto 
ano, a leitura é de fato ensinada e bem aprendida. Neste nível nos deparamos com um progresso 
constante, mas a partir daí caminha-se para a estagnação. Não porque o indivíduo tenha chegado ao seu 
limite natural de eficiência quando ele chega ao sexto ano, porque já está mais do que provado que 
estudantes mais velhos, e até mesmo adultos, podem continuar fazendo enormes progressos com a 
orientação adequada. Tampouco isso quer dizer que todos os estudantes do sexto ano lêem 
suficientemente bem para todos os objetivos práticos. Um número considerável de alunos fracassa no curso 
secundário simplesmente porque não se mostram aptos a apreender o sentido de uma página impressa. 
Eles podem melhorar; eles precisam melhorar; mas não melhoram. 
O aluno médio das escolas secundários já leu um bocado, e se ele entrar numa universidade vai ler mais 
ainda; mas provavelmente ele ainda é um leitor fraco e incompetente (observem que isso vale para o 
estudante médio, não para aquele que recebeu um tratamento especial). Ele pode ler e apreciar um texto 
simples de ficção. Mas coloque-o diante de um ensaio escrito com rigor, diante de um argumento exposto 
de forma concisa e cuidadosa, ou uma passagem que exige alguma reflexão crítica, e ele estará perdido. Já 
foi demonstrado, por exemplo, que o estudante médio revela uma incapacidade surpreendente de indicar 
qual é o ponto central de um texto, ou os níveis de ênfase e subordinação num texto argumentativo. Para 
todos os efeitos, ele continua sendo um leitor da sexta série ao longo da universidade." 
Isso era verdade nos EUA em 1939. Em 1972, quando Adler citou esse artigo, ainda era. Alguém tem 
dúvidas de que seja também no Brasil de hoje? Pergunte a si mesmo quantos livros você já leu este ano. 
Melhor ainda, experimente fazer uma pesquisa informal entre seus conhecidos: quantos livros já lidos nos 
últimos 12 meses? 
1.2 - Leitura ativa Para entendermos o que significa dizer que alguém tem um nível de "sexta série", como 
diz o texto citado, precisamos estabelecer algumas distinções fundamentais. A primeira dela diz respeito à 
natureza da leitura. Segundo Adler, toda leitura exige um certo grau de atividade por parte do leitor, mas 
que pode variar tanto, que podemos falar, para fins didáticos, em leitura ativa e leitura passiva. 
A leitura passiva seria aquela em que predomina a mera recepção de informações. Você decodifica o 
texto, não pensa sobre ele. É ler com a postura com que geralmente costumamos ver televisão. Um caso 
extremo é quando lemos um texto de maneira superficial, "passando os olhos", sem realmente nos 
interessarmos por ele. O resultado é apenas uma memorização mais ou menos superficial do que se leu. 
Já a leitura ativa digna desse nome é aquela em que o leitor se esforça ao máximo para captar a 
mensagem que o autor tenta lhe transmitir. Ele dialoga com o texto que tem diante dos olhos, tenta 
determinar suas idéias centrais e a ligação entre elas. Enfim, o leitor verdadeiramente ativo é aquele que 
"está presente" na leitura, alerta, empenhado em compreender a mensagem do autor. Quanto mais ele é, 
mais eficaz será sua leitura. 
1.3 - Finalidades da leituraTodo o mundo alguma vez já aprendeu algo que mudou sua maneira de entender o mundo, ou um aspecto 
dele. Pode ter sido por meio de uma palestra, de uma aula, de um filme, uma conversa com um amigo ou -- 
o que nos interessa aqui -- um texto escrito ou livro. É quando, mais do que uma informação nova, nos 
damos conta de que captamos algo mais essencial, uma forma de compreensão, uma espécie de 
ferramenta mental -- a lógica por trás de alguma coisa. Nessas ocasiões, nós não apenas aprendemos o 
"quê", mas também e principalmente o "como" e o "porquê". É nossa compreensão que se alarga. 
Trazendo isso para o mundo da leitura de livros (e deixando de fora aqueles voltados para o mero 
entretenimento), Adler dá um exemplo muito simples. Suponhamos que você tenha um livro que deseje ler. 
Ora, esse livro consiste de um amontoado de palavras escrito por uma pessoa com a intenção de 
comunicar algo a você. Portanto, seu sucesso na leitura vai depender do quanto você conseguirá captar da 
mensagem que o autor tentou comunicar. 
Óbvio, não? Porém, a sua relação com o livro, continua ele, pode assumir duas formas. Se você entende 
perfeitamente o que autor quis passar, então vocês dois têm mentes afins e você pode ter assimilado 
informação, mas não necessariamente compreensão. A leitura pode simplesmente ter expressado uma 
compreensão comum que ambos já tinham antes de se encontrarem. 
Agora, pode acontecer de você perceber que não está conseguindo entender tudo que o livro oferece. 
Algumas coisas fazem sentido, outras não. O livro tem mais a dizer do que aquilo que foi possível captar, de 
certa maneira ele excede o seu nível de compreensão ao lê-lo. Logo, para conseguir dar conta de tudo que 
o autor quis comunicar, é preciso alargar sua capacidade compreensiva. Como fazer isso? 
Pode-se pedir ajuda a outra pessoa, consultar outros livros. Entretanto, Adler propõe que, de maneira geral, 
isso pode ser feito, antes de mais nada, trabalhando no livro.[1] 
"Sem nada além do poder de sua própria mente, você manipula os símbolos à sua frente de tal forma que 
passe de um estado de compreender menos para um estado de compreender mais. Esse avanço, 
conquistado pela mente que trabalha num livro, corresponde a uma leitura de alto nível, o tipo de leitura que 
um livro que desafia sua compreensão merece." 
Nem sempre a distinção entre um tipo de leitura e outra é clara. Muitas vezes ela é muito tênue. Porém, 
grosso modo, podemos dizer que textos plenamente compreensíveis, como jornais, revistas, são 
essencialmente informativos. Não nos atordoam com a complexidade peculiar de quando ultrapassamos 
nossos limites. Por outro lado, sempre que lemos um texto que nos deixa, ao fim de uma leitura atenta, a 
sensação de que não entendemos tudo, ele merece ser tratado como uma leitura compreensiva. 
"Quais são as condições sob as quais esse tipo de leitura -- leitura para compreensão -- ocorre? Existem 
duas: primeira, há uma desigualdade inicial de compreensão. O autor deve ser 'superior' ao leitor em 
compreensão, e seu livro deve transmitir de uma maneira legível os conhecimentos que ele possui e que 
faltam aos seus leitores em potencial. Segunda, o leitor tem que estar habilitado a superar essa 
desigualdade em alguma medida, se não completamente, aproximando-se sempre do escritor. Na medida 
em que a igualdade é alcançada, a clareza na comunicação é atingida. 
Em resumo, só podemos aprender com nossos 'superiores', Devemos saber quem eles são e como 
aprender com eles. Quem possui esse conhecimento domina a arte da leitura no sentido que nos interessa 
neste livro. Qualquer pessoa que saiba ler provavelmente terá habilidade para, em alguma medida, ler desta 
forma.Mas todos nós, sem exceção, podemos aprender a ler melhor e, gradualmente, ganhar mais pelos 
nossos esforços, direcionando-os para textos mais recompensadores." 
Podemos resumir o que vimos até agora em uma única frase: 
 » A qualidade de uma leitura depende do esforço investido nela, pelo menos em se tratando de livros 
inicialmente acima de nossa capacidade e que por isso são capazes de nos levar à transição de um estado 
de entender menos para um estado de entender mais. 
2 - Níveis de leitura 
Para Adler, existem quatro níveis de leitura. Repare que são "níveis" e não "tipos", porque os níveis mais 
altos absorvem os mais baixos. São eles, do mais baixo para o mais alto: 
 1. Leitura Elementar - corresponde ao nível ensinado na escola primária. A preocupação de quem lê 
nesse nível é com a linguagem em si, a decodificação da escrita, que com qualquer outra coisa. A pergunta 
que norteia esse nível é: "O que a frase diz?". 
 2. Leitura Averiguativa (também chamada de "pré-leitura" ou "garimpagem") - este nível é voltado 
para a melhor avaliação possível de um texto ou livro num período curto de tempo. Por exemplo, quando 
estamos de passagem por uma livraria, vemos um livro que parece interessante e precisamos saber se ele 
é bom antes de decidirmos se vamos comprá-lo. Existem alguns bons macetes para isso, dos quais 
trataremos mais adiante. Por ora, basta saber que a pergunta básica deste nível é: "Este livro é sobre o 
quê?". 
 3. Leitura Analítica - é a leitura completa, a melhor que se pode fazer, ativa por excelência. No dizer de 
Adler, "se a leitura averiguativa é a melhor que se pode fazer num determinado período de tempo, então a 
leitura analítica é a melhor leitura possível quando não existe limite de tempo". É um nível de leitura voltado 
basicamente para a compreensão, de modo que, se seu objetivo é apenas informação ou entretenimento, 
ele pode não ser necessário. 
 4. Leitura Sintópica ou Comparativa - implica a leitura de muitos livros sobre um certo tema, pondo-os 
em relação uns com os outros e com o tema. Estudantes de Ciências Humanas são obrigados a se 
familiarizar com ela. É o nível mais difícil de se alcançar, e não há pleno acordo sobre suas regras. Porém, é 
também o mais recompensador de todos os níveis. 
Por questões de espaço, aqui trataremos apenas da leitura averiguativa e de algumas sugestões para a 
leitura analítica. 
2.1 - Leitura averiguativa 
Conforme já foi dito, este nível é na verdade uma pré-leitura, uma inspeção mais ou menos rápida de um 
material de que, por limitações de tempo, você não pode dar conta por inteiro ainda. Isso não significa que 
seja pouco útil, muito pelo contrário. Pessoas que têm uma grande carga de leitura, sejam profissionais ou 
estudantes, podem se beneficiar muito com o conhecimento de técnicas simples de leitura averiguativa. 
Afinal, mais que qualquer outra coisa, ela foi feita para poupar tempo e nem todo livro merece uma leitura 
analítica. Saber separar o joio do trigo é uma necessidade cada vez mais premente no mundo de hoje. 
Aqui vai uma lista de sugestões para uma boa garimpagem, divididas em duas fases para fins didáticos. A 
primeira tem como finalidade saber se o livro merece uma leitura mais atenta; a segunda, facilitar a leitura 
de um livro difícil: 
A) Pré-leitura propriamente dita: 
 » Comece pela capa e pela folha de rosto. Muitos livros hoje têm títulos comerciais que não dizem nada 
sobre seu conteúdo, mas deixam uma pista no subtítulo. Veja o que ele diz, se houver um. Livros 
expositivos, de não-ficção, normalmente têm um. Também preste atenção ao nome do autor. Soa familiar? 
Existe alguma referência extra? Livros de autores de algum renome freqüentemente mostram ao lado do 
seu nome uma indicação do tipo "Autor de [nome de obra mais conhecida]". Também verifique a edição do 
livro; uma obra com várias edições e/ou reimpressões certamente é bem-sucedida e pode dar uma idéia da 
sua popularidade. 
 » No verso da folha de rosto costuma ficar a ficha catalográfica do livro, com a notação bibliográfica e os 
tópicos que ele aborda. Isso é muito importante, especialmente quando se trata de livrosde caráter mais 
acadêmicos. Por exemplo, na ficha catalográfica do excelente "A Educação dos Sentidos", de Peter Gay, 
editado pela Companhia das Letras, ficamos sabendo que o livro trata de: 
1. Classe média - História - século 19. 2. Sexo (Psicologia) - Aspectos sociais - século 19. 
Ou seja, em uma ou duas linhas, ficamos sabendo que o livro trata da história dos aspectos sociais e da 
psicologia do sexo das classes médias no século 19. E ainda nem lemos uma única frase que realmente 
tenha sido escrita pelo autor 
 » Agora que você já sabe do que trata o livro, em linhas gerais, podemos passar aos detalhes -- o índice. 
É o mapa da estrutura do livro e há autores que se esmeram na sua confecção, especialmente quando se 
trata de ensaios e trabalhos acadêmicos. Obras antigas eram extremamente minuciosas nos seus índices, 
com títulos que chegavam a ser verdadeiras sinopses. Porém, hoje em dia, esse é um hábito que caiu em 
desuso, e os velhos índices analíticos muitas vezes dão lugar a índices com títulos misteriosos que mais 
parecem peças publicitárias. Ainda assim, você só vai saber se o índice é bom conferindo-o, então convém 
fazê-lo. 
 » Além do índice tradicional, algumas obras contêm índices onomásticos ou remissivos nas suas últimas 
páginas. Ali estarão listados nomes e temáticas de forma específica, bem como as páginas onde são 
citados. É uma boa fonte para ter um panorama dos assuntos tratados pelo autor e pode ser útil usá-lo para 
identificar passagens potencialmente interessantes e fazer uma leitura rápida. Naturalmente, a importância 
de um assunto pode ser avaliada pelo número de vezes em que é citado e se isso acontece muitas vezes é 
possível que ele seja um dos pontos centrais do livro. 
 » Leia a contracapa do livro. Algumas vezes contém trechos da introdução, em outras, como em livros 
americanos, referências elogiosas publicadas na imprensa. O mais provável, em se tratando de uma obra 
brasileira, é que você encontre uma sinopse do livro feita pela editora. 
 » Leia a orelha. Livros mais recentes costumam trazer uma breve resenha da obra, assinada por alguém 
importante na área temática em questão, ou uma sinopse mais aprofundada que a da contracapa. Também 
é comum encontrarmos uma nota biográfica do autor: onde nasceu, suas credenciais acadêmicas e/ou 
profissionais, outras obras que tenha escrito. Isso é especialmente útil em obras de não-ficção. 
 » Dê uma olhada na bibliografia, se houver. Ali você pode ter uma idéia da erudição da obra que tem em 
mãos, bem como ter referências sobre o mesmo assunto ou outros a ele relacionados. É até possível que 
encontre uma indicação que seja mais importante para o tema que o livro que tem ora em mãos. Cruzando 
os autores ali indicados com o índice onomástico, pode-se ter uma idéia de quais das obras listadas foram 
mais importantes para o autor do livro que você está examinando. 
 » O livro contém apêndices? Obras históricas ou jornalísticas, por exemplo, costumam deixar a 
reprodução mais extensa de fontes documentais ou iconográficas para essa parte do livro. Também é 
freqüente encontrar estatísticas, tabelas, e outros dados que podem ser muito pesados para serem 
transcritos no corpo da obra. Às vezes, trata-se de uma abordagem mais profunda de subtemáticas muito 
específicas. Em todo o caso, se há apêndices, dar uma olhada neles pode ser crucial para sua decisão 
sobre o livro valer ou não a pena. 
 » Folheie o livro. Leia alguns parágrafos, talvez duas ou três páginas, se o tempo permitir. Os últimos 
parágrafos de um capítulo muitas vezes contêm uma síntese do que foi abordado nos anteriores,e os do 
último capítulo -- não necessariamente o epílogo, quando existe -- podem conter uma síntese das idéias 
centrais do livro todo. 
 » E, por último mas não menos importante, ao folhear o livro, veja se a estética o agrada. Isso pode ser 
irrelevante para obras recentes, com apenas uma edição disponível, mas pode fazer muita diferença para 
aquelas mais antigas ou clássicas, disponíveis em várias edições, por várias editoras ou, no caso de 
autores estrangeiros, em várias traduções. A fonte utilizada torna a leitura agradável? A impressão é boa ou 
há falhas? A paginação está correta? A diagramação (organização dos blocos de textos na página) é bem 
feita? A encadernação é de boa qualidade ou o livro parece estar prestes a soltar páginas? No caso da 
tradução, em se tratando de obras literárias ou mais técnicas, pode ser conveniente procurar uma referência 
antes. Se toda tradução é uma traição, como dizia Voltaire, algumas traições são particularmente sórdidas e 
podem distorcer o pensamento do autor. Obras de filosofia e psicanálise vertidas do alemão, repletas de 
neologismos difíceis de traduzir para o português, por exemplo, costumam esbarrar nesse problema, como 
os leitores de Freud e Kant devem saber. A escolha da edição, nesse caso, se torna particularmente 
importante, especialmente quando algumas obras não são traduzidas do original, mas de outra tradução, 
geralmente inglesa ou francesa, e não raro antigas e "ajustadas" ao gosto da época. 
B) Leitura superficial 
Findas essas etapas, que constituem um tipo muito ativo de leitura, você já será capaz de dizer bastante 
coisa sobre o livro que tem em mãos, e se ele vale uma leitura analítica. Se não valer, nem por isso deixará 
de saber as idéias principais do autor, que tipo de obra escreveu e ampliar sua cultura geral, quem sabe 
deixando o livro para uma consulta futura. 
Mas suponhamos que o livro valha a pena e você opte por lê-lo de fato, ou, o que é bem possível, 
simplesmente tenha de lê-lo por obrigação. Ao fim de algumas páginas atentas, você descobre que a obra é 
complexa. Muito complexa. Você chega à página 15 e se dá conta de que não está entendendo as coisas 
como deveria, e torna a ler do começo. Esbarra em algumas palavras ou frases obscuras, tenta decifrá-las e 
descobre que está perdendo muito mais tempo do que gostaria empacado nas primeiras páginas. E a leitura 
se torna uma fonte de angústias. 
Os leitores de primeira viagem de literatura clássica talvez se identifiquem com essa situação. Qualquer 
curioso mediano que, na adolescência, tenha tentado ler Shakespeare ou Camões, ou simplesmente um 
poema nas aulas de Literatura, foi sério candidato a esse tipo de frustração. Para alguns, entender a Teoria 
da Relatividade pode ser muito mais simples que o primeiro ato de "Romeu e Julieta". Nas palavras de Adler 
(grifos meus): 
"O enorme prazer que vem de ler Shakespeare, por exemplo, foi estragado para gerações de estudantes 
secundários que eram forçados a avançar em 'Júlio César', 'Como gostais' ou 'Hamlet' cena a cena, 
decifrando todas as palavras estranhas num glossário e estudando todas as notas acadêmicas de rodapé. 
O resultado disso é que eles nunca leram de fato uma peça de Shakespeare. Quando eles chegavam 
ao final, já tinham esquecido o início e já tinham perdido a visão de conjunto. Em vez de serem 
forçados a adotar essa abordagem pedante, eles deveriam ser encorajados a ler a peça de uma vez só e 
discutir o que tivessem assimilado desta primeira e rápida leitura. Só então eles estariam prontos para 
estudar a peça cuidadosamente, porque já teriam entendido o suficiente sobre ela para aprenderem mais." 
Com a experiência de quem tentou ler Shakespeare com um dicionário do lado aos 12 anos, posso dizer 
que esse é um ótimo conselho. Leia sem se angustiar pelos pontos obscuros, pelas notas de rodapé 
herméticas, pelos neologismos mal-explicados e as referências exóticas. Essa primeira leitura, aqui 
chamada de "superficial" no sentido positivo, serve para nos familiarizar com a obra em todos os seus 
aspectos: idéias centrais, estilo, vocabulário etc. Ela vai identificar os pontos mais ou menos difíceis, vai nos 
sinalizar para o tipo de ajuda de que talvez possamos precisar, vai nos preparar,enfim, para a segunda 
leitura e o alargamento de nossa compreensão -- o benefício mais duradouro de uma boa leitura. 
Pode ser que tenham nos ensinado justamente o contrário. Muitos pais e instrutores bem intencionados 
ensinam as crianças e jovens a procurar no dicionário qualquer termo obscuro, ou pesquisar sobre algum 
tema desconhecido que surja no texto. Isso não está errado, mas deve ser feito no momento certo, sem 
interromper a leitura inicial. Especialmente porque, especialmente no caso de crianças, a preocupação com 
esses detalhes e a angústia daí gerada pode fazer com que a leitura se torne uma atividade penosa demais. 
NOTAS: 
1 - Por "livro" nos referimos, naturalmente, a obras voltadas para o leitor em geral, por difíceis que sejam.

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