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Patrick J. GEARY – Novos bárbaros, novos romanos OBJETIVOS: •Busca compreender a etnogênese de bárbaros e romanos, ou seja, busca compreender as novas identidades étnicas, assim como o ressurgimento das já reconhecidas TESE: A identidade entre os romanos era uma categoria constitucional e não étnica. Determinada por diferenças regionais, de classe, e especialmente entre cidadãos livres e não livres. Já bárbaro era uma categoria inventada, projetada em uma variedade de povos com todos os preconceitos e pressuposições de séculos de etnografia clássica e imperialismo. As identidades étnicas são marcadas pela fragilidade e resiliência durante as invasões bárbaras. RESULTADOS: •Observa que a estrutura sociopolítica europeia se transformou de forma decisiva entre os séculos IV e V. •Não houve sucessão e/ou continuidade entre as unidades políticas. Alguns grupos, como os godos ressurgiram como reinos, impérios como o Huno e o Reino Vândalo desapareceram em poucas gerações e povos mais obscuros, como anglos e francos fundaram unidades duradouras. •Entre os romanos, as disparidades contempladas pelo Império, foram, em grande parte, motivo de sua transformação. • Os nomes representam a continuidade em meio a descontinuidade radical evidente. •De todos esses povos, os Francos foram os que mais se destacaram. No ´seculo III eram o grupo menos significativo, já por volta do século VI, o nome franco havia ofuscado “godos”, “vândalo”, “suevo” e mesmo “romano”. HUNOS •Exotismo aos olhos de romanos e demais vizinhos; •Confederação nômade das estepes centro asiática (proximidades do Mar Negro); •Formadas por pequeno núcleo guerreiro que incorporava combatentes nômades derrotados; •As vitórias atraiam novos guerreiros, formando um exército e um exército só conseguia sobreviver caso conquistasse outro grupo. •Legitimidade: tornavam-se povo na imposição de um estrutura legal e institucional e às vezes pela sanção divina, buscando a restauração de uma tradição antiga. Resultado: estabelecimento de reinos bárbaros na parte ocidental do Império. Deflagrando mudanças na etnogênese de bárbaros e romanos, que impulsionados pelas invasões hunas passaram a resignificar suas categorias de análise, visões de mundo e de si. CONFEDERAÇÃO DOS HUNOS •Ocupavam vastos territórios, por isso a centralização efetiva era sempre efêmera – exceção: Átila (444 – 453). •Formavam um império altamente móvel mutável: “(...) formados por grupos dispares de bandos guerreiros que compartilhavam uma cultura nômade comum, uma tradição militar de cavalaria e uma extraordinária habilidade para incorporar os povos conquistados às suas confederações” (p. 115). •Essa habilidade de conquista fez com que as confederações bárbaras se unissem (ou fosse forçada à unir-se) aos hunos. •A adesão a confederação huna era uma consequência para esses bárbaros, pois não havia imposição cultural.: um bom guerreiro , fosse gótico, franco, vândalo ou até mesmo romano podia ascender a rapidamente a hierarquia huna. Porém, a assimilação completa só se aplicava aos guerreiros, a população era deixada em uma condição subserviente, caso contrário não preencheria as necessidades básicas de seu exército. •o exotismo, do ponto de vista de outros povos, era na verdade, a contemplação de uma diversidade cultural, apesar da destruição das instituições políticas centrais e também da cooptação dos líderes, em troca de sobrevivência dos grupos, tanto para que servissem em seu exército como para que fizessem trabalhos que eles não queriam; •A confederação dependia, por sua unidade heterogênea, do sucesso das operações militares na obtenção de riquezas; •Esse fluxo de riquezas era mantido com a pilhagem ao território imperial ou por meio de serviços prestados ao imperador (combate aos inimigos do império em troca de subsídios anuais. •Após a morte de Teodósio II (401 – 450), Marciano recusou-se a manter os subsídios e tratamento dado aos hunos. Sem sua principal fonte de renda e sem condições para atacar o Império do Oriente, Átila voltou-se para o Ocidente em 2 grandes ataques, cujo objetivo era pilhagem e não a conquista. •Com a morte de Átila, a confederação enfraqueceu-se: novos grupos surgiram e muitos dos antigos confederados tornaram-se parte desses grupos. CONFEDERAÇÃO DOS HUNOS ETNOGÊNESE BÁRBARA NO IMPÉRIO •Os bárbaros que não se uniram a Confederação dos Hunos (uma minoria) refugiou- se nos limes (conjunto de fortificações fronteiriças). •Inicialmente estabeleceram-se como refugiados. Tratados com desprezo, os godos iniciaram uma ofensiva que infringiu inúmeras derrotas ao império, forçando o império a aceitá-los como federados. •FEDERADOS (foederatti): tratado de associação, mas que não garantia cidadania, mas que obrigava o fornecimento de soldados ao exército. Após a derrota de Valente em Adrianópolis, o exército romano tornou-se cada vez mais dependente dos federados, que criaram um Estado dentro de um Estado (apoiavam o exército, mas sob a liderança de seus próprios chefes). •Os bárbaros formaram independentemente de suas origens étnicas, uma minoria militarmente poderosa. Sustentados pelos impostos e acordos, prestaram serviços a favor e contra o império, mantendo-se simultaneamente como confederação gótica e um exército romano (enfraquecimento da identidade cívica e política de Roma no Ocidente). PROVINCIANOS ROMANOS NOS SÉCULOS V E VI •Sempre gozaram de relativo afastamento do ideal de unidade imperial. •Afetadas pelo enfraquecimento da identidade cívica e política de Roma, nos séculos IV e V. cunharam uma nova identidade étnica, ligada aos interesses locais. •Emergência de um sentimento pré-romano: para a aristocracia, tornar-se bárbaro era uma nova consciência étnica regional, já para a população pobre era uma forma de sobrevivência. •Exemplo de identidade provinciana: literatura da Gália (mesmo que artificial), demonstra um sentimento regionalista em ascensão, verificado também nos nomes tribais/vernáculos (nativos) surgidos. A nova identidade evidencia o apego a cidade natal, mas a também a permanência como romano. •Em um plano maior, o processo provincial não se difere do central, pois em ambos os bárbaros dominavam as cenas política e militar. •Entre a população pobre, o sentimento de identidade é forjado na identificação com os marginalizados (bandidos romanos e militares bárbaros). Essa população deu origem aos bandos chamados de bagaudae. •Ao contrário dos bandidos anteriores , os bagaudae incluíam uma parcela significativa da população das províncias que se sentia perseguida tanto pelo quanto pelos grandes proprietários de terras. Comportavam-se como um exército, atuando como um contra os bárbaros quando não havia tropas romanas. •Apesar de temidos, eram constantemente reprimidos pelo Império, valorizando o papel dos federados bárbaros que atuavam tanto na defesa das fronteiras quanto para protegê-lo de seus próprios habitantes. •Federados não toleravam rebeliões nem de bagaudae, nem de oficiais, pois dependiam dos impostos arrecadados. •Conclusão: nenhuma dos grupos considerava a condição romana realmente proveitosa. PROVINCIANOS ROMANOS NOS SÉCULOS V E VI NOVO TERRITÓRIO, NOVA IDENTIDADE •“Reinos” diferentes dos “povos” bárbaros = necessitavam, para isso , criar uma identidade comum. •Afastavam-se da população local, recorriam a um passado guerreiro (famílias) e em menor escala usavam a religião, além de recorrer a uma tradição legal para forjar uma nova identidade. VISIGODOS, VÂNDALOS E OSTROGODOS Mais ligados ao Império do Oriente e a Roma, portanto mais visados = combates e esfacelamento. REINO DOS FRANCOS E BRITÂNIA Mais afastados do Império do Oriente e cujas distinções haviam sido superadasa mais tempo, foram duradouros. VÂNDALOS •Norte da África. •Forte oposição do Império do Oriente e da Igreja. Haviam dominado o território sem um acordo, mas a partir do confisco de terras = ódio da aristocracia proprietária de terras e da igreja católica. •Derrotados por Justiniano (482 – 565) em 533, foram incorporados como federados e desapareceram completamente. OSTROGODOS •Itália – Teodorico (490). •Originários da desintegração do Império Huno. •Legitimidade baseada na tradição familiar (sem comprovação) e no arianismo. •Tentativa de romanização dos bárbaros (submissão à lei, costumes, e consenso, estabelecer uma “ideologia etnográfica”: romanos e bárbaros sob uma mesma autoridade, mas como comunidades separadas. Seriam governados pela lei e não pelas armas. •Resultado: confusão de identidades étnicas (romanização dos bárbaros e germanização dos romanos), perda de poder da aristocracia romana tanto aos olhos de bárbaros quanto do Império. VISIGODOS •Se aproveitaram da fraqueza do império para expandir seus domínios até o rio Loire (França), ao norte e até a Espanha ao Sul. Derrotados pelos francos em 507. REINO DOS FRANCOS e DA BRITÂNIA •Transformação mais simples, mas mais efetivas. •Eram mais afastados das tradições administrativas e culturais dos godos. Embora federados conheciam pouco do mediterrâneo, de Constantinopla e até mesmo da Itália. • •Nos dois territórios um novo conjunto baseado em elementos romanos, celtas e germânicos emergiram. •Britânia: etnogenese anglo-saxônica = fusão da população nativa com os novos grupos que chegavam. •Francos: não tentaram criar uma sociedade dualista , ao invés de estabelecer uma antiga tradição distinta de Roma, enfatizaram as características comuns. Optaram por compartilhar uma ascendência, mas também um religião comum (cristianismo). Slide 1 Slide 2 Slide 3 Slide 4 Slide 5 Slide 6 Slide 7 Slide 8 Slide 9 Slide 10 Slide 11 Slide 12
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