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Análise filosófica do filme o doador de memórias

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O Doador de Memórias é um filme lançado em 2014, dirigido por Phillip 
Noyce e com roteiro adaptado do livro “O Doador” de Lois Lowry, lançado em 1993. A 
história do filme se desenvolve em uma comunidade, num futuro distópico, 
aparentemente perfeita, sem pobreza, desigualdade, sofrimento. Mas isso só se deve 
ao fato de que os moradores são manipulados constantemente, tem suas memórias 
de tempos passados apagadas e não só simples memórias, como também música, 
amor, diversão e até mesmo as cores. 
Nessa comunidade fechada, podendo ser comparada a um regime 
totalitarista, tudo é observado e controlado por um grupo de Anciãos, que tem a função 
de fazer com que as regras rígidas e as funções atribuídas a cada morador sejam 
cumpridas, para o mantimento da ordem e do modo de viver da sociedade. São os 
Anciões que determinam as “famílias”, formadas por pais e mães sem relação de afeto 
e no máximo 2 crianças, que não nascem das mães, são geradas em um Centro de 
Criação e depois entregues as famílias para que cuidem deles até chegar à idade de 
receber sua atribuição, determinado pelos Anciãos. As crianças e os jovens recebem 
treinamento para poderem se ajustar e frear os impulsos que fariam com que se 
tornassem diferentes dos outros e são observados a infância inteira para ser possível 
detectar qual atribuição será a adequada as habilidades de cada um. Os Anciãos 
também fazem os moradores tomarem injeções e pílulas que inibe sensações, 
impulsos e sexualidade, além da visualização de cores e proíbem que as pessoas que 
não sejam da mesma família se toquem. 
O filme é contado pela perspectiva de Jonas, um dos jovens da comunidade 
e começa mostrando que ele sente uma insegurança um dia antes de sua formatura, 
dia em que ele e todos os outros jovens de sua idade receberão a atribuição do que 
farão para os resto da vida, podendo ser de líder, instrutor, trabalhador, piloto dos 
drones que vigiam a sociedade, criadora ou mãe biológica. Funções que fazem com 
que a comunidade se mantenha perfeita. 
A estrutura social que existe no enredo da história se compara a sociedade 
do modelo platônico, da estrutura social, moral e política proposta no livro “A 
República” de Platão. A sociedade platônica defende a estrutura moral e política da 
pólis nos mesmos moldes do filme onde cada membro da sociedade possui uma 
habilidade para ocupar o seu lugar na polis e deve ser designado conforme a pessoa 
desenvolve suas habilidades naturais no processo educativo, pela capacidade que 
cada um tem de exercer certa função. 
No dia de sua formatura, Jonas é o último a receber sua atribuição e ao 
final da cerimônia é dito a ele pela Anciã chefe de que ele foi o selecionado para ter 
uma atribuição especial. A de Jonas era especial porque ele era diferente das outras 
pessoas e via as coisas diferentes. Foi selecionado por ter inteligência, integridade, 
coragem e a capacidade de ver além. Jonas recebe a notícia de que será o Receptor 
de Memórias e é avisado que o treinamento envolvera dor. 
Quando Jonas decide ser o Receptor das Memórias ele está respondendo 
a sua natureza. A capacidade de ver além e a coragem citados pela Anciã, remete 
Jonas a mesma natureza de um filósofo. A coragem para procurar respostas produz 
um olhar diferente para as coisas, ver além do que as demais pessoas sempre veem 
da mesma forma, que estão sempre satisfeitas, não questionam, que estão no senso 
comum. A coragem é o primeiro passo na busca de respostas e se tornar sábio. Isso 
é próprio de pessoas com uma natureza inquieta ser inconformado com a mesmice. 
Os mesmos aspectos de Sócrates de ter uma inconsciente busca e questionamento 
sobre o mundo em que vive. Isso tudo cabe ao filósofo, pela capacidade de ver além. 
É isso que o faz diferente da mesmice das outras pessoas de sua comunidade. 
Jonas então recebe as seguintes instruções de sua nova rotina: ele deveria 
se reportar diretamente ao Doador de memória para ter o treinamento; depois dos 
treinos deveria retornar diretamente para casa; a partir de agora ele estava liberado 
para fazer qualquer pergunta e mentir, o que não é permitido as outras pessoas da 
comunidade; não iria receber mais nenhuma medicação que são tomadas para inibir 
sensações e; não poderia comentar o que acontece no treinamento com ninguém. O 
Doador é o único que detém todas as memórias do passado que não são passadas 
para a comunidade, ele também é procurado pelos outros anciãos para receber 
sabedorias. Logo, o Doador pode ser comparado a figura de um filósofo também, que 
assim como Jonas, foi escolhido para ter essa função anos atrás e ganhou saberia 
por ter a natureza pela busca do conhecimento. 
Jonas então começa a receber as memórias do Doador e a primeira é a 
memória de neve. O Doador explica a ele que a comunidade não tem memória de 
neve e o clima é controlado porque a neve pode estragar a plantação e resultar em 
escassez de comida. Logo em seguida, Jonas é introduzido as cores e comenta que 
já tinha visto no cabelo de sua amiga Fiona, que se mostrou a ele vermelho um dia 
antes de sua formatura. As cores são uma parte importante do filme, que é retratado 
a partir da visão de Jonas e começa em preto e branco. À medida que Jonas vai 
adquirindo conhecimento, as cores do filme vão se revelando também. Podemos 
interpretar que esse recuso foi usado no filme para representar que o conhecimento é 
a luz, e a ausência de luz é o preto, logo, os cidadãos não veem as cores por não 
terem conhecimento e não saberem a verdade, assim como as pessoas no mito da 
caverna de Platão, que só viam as sombras pretas projetadas dentro da caverna. Uma 
vida com conhecimento seria mais bonita e colorida. 
Aristóteles foi o primeiro a fazer um estudo das cores e para ele as cores 
mais simples seriam as dos elementos como a terra, ar, fogo e água. A cor vermelha 
que é vista primeiro por Jonas pode ser interpretado por essa cor representar o quente 
e o calor (remetendo ao fogo) de uma inquietude (de alguém que está sempre 
questionando e buscando respostas) e emoções afloradas. 
Em seguida, é dito pelo Doador que a escolha de criar a mesmice de não 
ter cores, raça e religião foi necessária para não gerar inveja, raiva ou ódio entre as 
pessoas da comunidade. 
Jonas é apresentado a música, que também é proibido para as outras 
pessoas por causar emoções. Nessa cena o doador diz que os sentimentos estão na 
superfície e as emoções são mais profundas, e no caso, as duas coisas são inibidas 
nas injeções que todos recebem todo dia e acreditam ser importante para a saúde. 
Isso remete a visão de Platão, que acreditava que o mundo dos sentidos é um mundo 
de ilusão, de erros e enganos. Quando nos submetemos aos sentimentos não 
vivemos a vida a partir da razão e sim aos nossos desejos. 
Jonas percebe algo em um de seus treinamentos quando recebe certa 
memória e o doado diz ser amor, que também é manipulado para que as pessoas não 
sintam. Sócrates via o amor como algo negativo, segundo consta no texto “Fedro” de 
Platão. Sócrates diz que a pessoa apaixonada não é dotada de razão e se torna 
possessiva, impedindo a pessoa amada de ter convivências com outras pessoas, até 
mesmo a família, o que impedira a pessoa ao progresso, logo, é melhor não se 
relacionar com quem se ama. A escolha dos anciãos em formar casais sem a 
presença de afeto/amor pode vir dessa ideia de Sócrates. 
Em certo momento quando o doador lhe mostra memórias de guerra, Jonas 
decide se recusar a continuar sabendo a verdade. Jonas tenta mostrar a verdade para 
sua amiga Fiona e pede para ela deixar de tomar as injeções matinais. No dia seguinte 
quando encontra ela, Jonas tenta levá-la a sentir o mesmo ele e, mesmo ela não tendotomado a injeção, não consegue mostrar a ela. Em seguida, Jonas vai até onde o 
Doador fica e ele lhe mostra a memória de Rosemary, que foi escolhida como 
recebedora das memórias dez anos antes de Jonas. O doador diz a ele que quando 
mostrou a perda a Rosemary ela foi até a Anciã chefe e pediu para ser dispensada. 
Quando uma pessoa pede dispensa de sua atribuição é enviada para Alhures, assim 
como as pessoas idosas, bebês que nascem gêmeos ou com alguma doença. O 
Doador mostra a Jonas o pai dele, que é cuidador, fazendo a “dispensa” de um bebê 
que era gêmeo (ele mata o bebê, mas como não conhece a morte, para ele é uma 
dispensa). Jonas fica indignado e o doador avisa para ele que sua amiga Fiona, que 
é cuidadora, também passará a fazer dispensas. Jonas acredita que Fiona não faria 
isso se soubesse e que os recebedores de memória deveriam passar essa memória 
para que os outros não cometessem mais mortes sem saber. 
O Encontro com a verdade é doloroso para Jonas, assim como a pessoa 
que consegue sair da caverna e ver o mundo real no Mito da Caverna e ao retornar 
para a caverna é tido por estranho e louco. A experiência de Jonas ao experimentar 
as memórias, sensações e frustrações, chega a provocar dor física. É terrível para 
Jonas saber que as pessoas com quem ele convivia estão fadados a ignorância e foi 
assim também para Rosemary. 
Jonas volta para casa e descobre que Gabe, o bebê que estava em sua 
casa para ganhar “maturidade”, tinha o mesmo sinal na pele que ele e possivelmente 
seria um recebedor, ia ser dispensado para Alhures. Jonas sabia o que isso 
significava. Ele já tinha se apegado ao bebê e decide que quer ir até a fronteira da 
memória libertar as memórias para todos. Ele conta o seu plano para o Doador e 
questiona o porquê dele não ter feito isso antes. O Doador lhe diz que estava 
esperando alguém com a coragem de Jonas e que se Jonas conseguisse libertar as 
memórias, ele tinha que estar na comunidade para ajudá-los. 
A Anciã chefe descobre que Jonas saiu de casa fora do horário e dá ele 
como desaparecido. Ela aparece (em forma de holograma) na casa do doador para 
perguntar se ele sabia onde Jonas se encontrava. Nesta hora, Jonas estava com o 
Doador enquanto planejava com ele como ele iria até a fronteira. Jonas consegue se 
esconder e não ser visto pela Anciã e o doador diz a ela que não sabe onde Jonas 
está, mas a Anciã sente que o Doador está mentido. Jonas diz que quer ir embora 
naquela noite e quer levar Gabe com ele, então, vai atrás de Gabe no Centro de 
Criação. A Anciã chefe convoca os seguranças para capturarem Jonas por ser um 
rebelde de precisar ser detido. Jonas consegue pegar Gabe com a ajuda de Fiona e 
passar da primeira fronteira enquanto é perseguido pelos seguranças. A Anciã chefe 
contata Asher, amigo de Jonas, para encontrá-lo e sumir com ele. Asher captura Jonas 
quando o encontra, mas depois decide deixar ele ir e Jonas continua procurando a 
fronteira da memória. 
Enquanto isso, Fiona é levada para a cerimônia de dispensa para Alhures. 
O Doador tenta convencer a Anciã chefe a não fazer isso. Conta que Rosemary era 
filha dele e que a amava. Ele tenta explicar a Anciã sobre o amor e que as memórias 
valeriam ser libertadas para as outras pessoas por causa do amor. A Anciã responde 
que não pode deixar que as memórias voltem por causa das coisas que os humanos 
fazem uns aos outros, por as pessoas serem fracas e egoístas, que quando tem a 
possiblidade de escolher, escolhem errado. Com essa fala da Anciã, a liberdade é tida 
como um sofrimento. A mesmice é mantida para as pessoas da comunidade para que 
elas não tenham de fazer escolhas e existir consequências. Para que a vida seja 
relativamente boa para todos ninguém pode errar, e errar é humano. 
Ao final do filme, Jonas consegue passar da fronteira e liberar as memórias 
para todos da comunidade bem a tempo de salvar Fiona de ser “dispensada” para 
Alhures. Jonas decide que apesar de toda a negatividade que presenciou através das 
memórias, o lado do bem é capaz de compensar todo o mal, e as pessoas merecem 
a experiência única que é uma vida com sensações e sentimentos. 
O que faz do homem humano são suas complexidades, pelos sentimentos, 
emoções e pelas contradições que estes geram em cada um. Só a liberdade é capaz 
de nos gerar responsabilidade e na sociedade do filme tudo é igual, regrado e 
determinado. A mesmice imposta não permite as singularidades que torna as pessoas 
humanas. Sendo assim, as pessoas dessa comunidade são reduzidas a robôs 
controlados para obedecer a comandos e ordens. Viver, e além do que isso, existir, é 
muito mais do que apenas sobreviver como robôs. René Decartes na obra 
“Meditações Metafisicas”, lançado em 1641, constatou a evidência de que só se existe 
quando se duvida e, consequentemente, pensa. Os cidadãos da comunidade não 
duvidam e questionam, logo, não estão existindo. 
O medo nos impede de ir e ver além do trivial, do comum, que as coisas 
podem ser mais do que são, mas esse é o preço a se pagar, pois, como disse 
Montesquieu "correndo em busca do prazer, tropeça-se com a dor." Os anciãos tinham 
medo e por isso queriam controlar toda a comunidade e impedia também as pessoas 
de sentirem dor, mas dor faz parte da vida e não é por isso que devemos ser engolidos 
pelo medo. Jonas teve coragem para se arriscar e ir além. 
Para Platão existe dois mundos: o mundo sensível, das aparências e dos 
sentidos e, o mundo inteligível das ideias e da mente. O filme pode ser visto como 
uma produção alegórica deste pensamento. No Mito da Caverna que Platão usou para 
representar metaforicamente esses mundos, as pessoas ficam acorrentadas, 
acreditando em uma verdade vista nas paredes. O filme, nos mostra um local onde 
tudo é controlado e mostrado como única verdade para os moradores da comunidade, 
que permanecem presos no mundo sensível, e como no mito, alguém com uma 
inquietude tem o impulso para ver além do senso comum e conhecer a verdade no 
mundo inteligível, no filme representado pela personagem Jonas.

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