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A Brincadeira segundo vygotsky

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A BRINCADEIRA SEGUNDO VYGOTSKY
Vygotsky, teve uma preocupação em produzir uma psicologia que tivesse relevância para a educação, iniciando suas pesquisas principalmente com deficientes mentais e físicos, surgindo assim a ideias de “Psicologia Educacional”
Para Vygotsky, o campo psicológico onde a relação do homem com o mundo é mediado, chamado também de zona proximal de desenvolvimento, é o espaço abstrato de desenvolvimento relacionada ao que se vê, o que é real. E os signos são formas posteriores de mediação. Assim, Vygotsky, apresentou grandes contribuições com sua pesquisa para a atividade escolar, ao relacionar desenvolvimento e aprendizagem.
De acordo com Gisela Wajskop, estudiosa das ideias de Vygotsky,
A criança desenvolve-se pela experiência social, nas interações que estabelece, desde cedo, com a experiência sócio-histórica dos adultos e do mundo por eles criado. Dessa forma, a brincadeira é uma atividade humana na qual s crianças são introduzidas constituindo-se em um modo de assimilar e recriar a experiência sócio-cultural dos adultos. (WAJSKOP, 1995, p. 25)
Para Vygotsky, o brinquedo tem um grande papel no desenvolvimento da identidade e da autonomia. A criança, desde muito cedo, pode se comunicar por meio de gestos, sons e de representar determinado papel na brincadeira, desenvolvendo sua imaginação. A imaginação é um processo psicológico, que, para a criança, representa uma forma de atividade consciente.
Nas brincadeiras, as crianças podem desenvolver algumas capacidades importantes tais como, atenção, imitação, memória, imaginação. Amadurecem também algumas capacidades de socialização, por meio da interação e da utilização e experimentação de regras e papéis.
Se o brinquedo fosse estruturado de tal maneira que não houvesse situações imaginárias, restariam apenas regras. Sempre que há uma situação imaginária no brinquedo, há regras. No faz-de-conta, as crianças aprendem a agir em função da imagem de uma pessoa, de uma personagem, de um objeto e de situações que não estão imediatamente presentes e perceptíveis para elas.
No momento em que evocam emoções, sentimentos e significados vivenciados em outras circunstâncias, brincar funciona como um cenário no qual as crianças tornam-se capazes não só de imitar a vida como também de transformá-la.
Vygotsky não agiu em suas pesquisas como mero observador, mas interagiu com as crianças para reconhecer e verificar as suas potencialidades. Devido a este aspecto de sua concepção, ainda mais nos identificamos com a relação de suas ideias.
Para Vygotsky existem dois elementos importantes nas brincadeiras infantis: a situação imaginária e as regras. Brincar é, assim, um espaço no qual se pode observar a coordenação das experiências prévias da criança e aquilo que os objetos manipulados sugerem ou provocam no momento presente. Pela repetição daquilo que já conhecem, utilizam a ativação da memória, atualizam seus conhecimentos prévios ampliando-os e transformando-os por meio da criação de uma situação imaginária. Brincar constitui-se, dessa forma, em uma atividade interna das crianças, baseada no desenvolvimento da imaginação e na interpretação da realidade.
No brinquedo, o pensamento está separado dos objetos e a ação surge das ideias e não das coisas. A ação regida por regras começa a ser determinada pelas ideias e não pelos objetos. Isso representa uma tamanha inversão da relação da criança com a situação concreta, real e imediata, que é difícil subestimar seu pleno significado. A criança não realiza esta transformação de uma só vez porque é extremamente difícil para ela separar o pensamento dos objetos.
A criação de uma situação imaginária é a primeira manifestação da emancipação da criança em relação às restrições situacionais. A capacidade imaginária da criança se “desenvolve à medida que se torna capaz de operar no campo do significado. O imaginário não é condição prévia para a criança brincar, é consequência das ações lúdicas” (SMOLKA, apud REGO, 1995, p. 71). Assim, imaginar representa a ampliação da capacidade de comunicar-se, de significar o mundo.
Outro aspecto na teoria de Vygotsky que é importante mencionar, refere-se à relação que estabelece entre o desenvolvimento das brincadeiras simbólicas e aquisição da linguagem escrita. Segundo ele, este se constitui em um sistema simbólico que representa a realidade. Deste modo, considera as brincadeiras das crianças como estágio preparatório para o desenvolvimento da língua escrita.
Vygotsky analisa a brincadeira dentro de uma perspectiva biológica, considerando-a como um elemento constituído sócio-historicamente pelo indivíduo e que se modifica, em função do meio cultural e da época em que o sujeito está inserido.
Acredita-se ser necessária uma sucinta discussão sobre o desenvolvimento humano dentro dessa concepção teórica para se entender o papel da brincadeira nesta linha de pensamento. Partindo do conceito de Vygotsky de zona de desenvolvimento proximal, buscou-se maior esclarecimentos sobre o processo de desenvolvimento humano. Tal conceito refere-se às funções emergentes – “tudo o que o sujeito ainda não é capaz de realizar sozinho, mas com a ajuda de alguém mais experiente” – e funções autônomas – “já interiorizadas, envolvendo aquilo que o sujeito realiza sozinho”.
A zona de desenvolvimento proximal é, portanto, o encontro do individual como o social, sendo a concepção de desenvolvimento abordada não como processo interno da criança, mas como processo resultante da sua inserção em atividades socialmente compartilhadas com outros. Nas palavras de Vygotsky, “a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução e problema sob a orientação de um adulto, ou em colaboração com companheiros mais capazes”. (Vygotsky, 1984, p. 97)Nesse contexto, o conhecimento é construído através das relações interpessoais, sendo que as trocas recíprocas que se estabelecem durante toda a vida fornecem as matrizes de significações na formação do indivíduo. Nesse processo de interação, os interlocutores participam de forma ativa, constituindo-se enquanto pessoa humana e constituindo o outro, num movimento dinâmico de ação-relação, em que as representações e significados vão se construindo.
Essa concepção reconhece o papel da brincadeira para a formação do sujeito, atribuindo-lhe um espaço importante no desenvolvimento das estruturas psicológicas, destacando-o pela sua plasticidade, capaz de novas articulações em função das mudanças que ocorrem no meio e das transformações histórico-culturais. De acordo com Vygotsky, “é no brinquedo que a criança aprende a agir numa esfera cognitiva” (VYGOTSKY, 1984, p 109)
Nos referenciais teóricos sobre o assunto, desenvolvidos principalmente por Vygotsky, Elkoni e Leontiev, destaca-se que a brincadeira não é uma atividade inata, sendo, portanto, resultado de relações sociais e de condições concretas de vida; a partir delas, a criança, emerge como sujeito lúdico, sendo que a mediação tem papel fundamental nesse processo.
Outra idéia importante nessa vertente teórica é o pensamento de que o desenvolvimento da atividade lúdica segue a trajetória do jogo de papéis para jogo de regras, e que ambos são importantes para o desenvolvimento humano. A criança, na brincadeira, experimenta papéis (re)construindo sua realidade, vivenciando sentimentos, comportamentos e fazendo representações do mundo exterior. Assim, novas explorações e relacionamentos interpessoais presentificam-se. Como afirma Andrade, “as crianças brincam porque vivem em um mundo onde estas e outras relações estão presentes. Brincando elas exploram as diferentes representações que têm do mundo”. (ANDRADE, apud REGO, 1995, p. 90)Vygotsky enfatiza o fator social na brincadeira, demonstrando que, no jogo de papéis, a criança cria uma situação imaginária incorporando elementos do contexto cultural adquiridos por meio da interação e comunicação. A brincadeira constitui-se, para o autor, no elemento que irá impulsionar o desenvolvimento dentro da zona de desenvolvimentoproximal. Ao promover uma situação imaginária, a criança desenvolve a iniciativa, expressa seus desejos e internaliza as regras sociais.
Através do jogo de papéis, a criança lida com experiências que ainda não consegue realizar de imediato no mundo real; vivencia comportamentos e papéis num espaço imaginário em que a satisfação dos seus desejos pode ocorrer.No início do brinquedo, a percepção infantil é dominada pelo objeto real que determina seu comportamento; de acordo co Vygotsky (1984), a criança muito pequena na consegue separar o campo real do perceptual. Posteriormente, o significado passa a predominar, em função do brinquedo. Dessa forma, as ações no brinquedo ficam subordinadas ao significado que a criança atribui aos objetos.
Oliveira (1988) analisa a relação dialógica que há entre os indivíduos no âmbito da brincadeira simbólica e interpreta essa relação interpessoal, assumindo que nesse processo, “ao mesmo tempo em que os indivíduos recortam seu movimento segundo ma trizes histórico-culturais específicas, apresentam-se como agentes ativos construindo-se como sujeitos”. (OLIVEIRA, 1998, p. 202)Como construção social, a brincadeira é atravessada pela aprendizagem, uma vez que os brinquedos e o ato de brincar, a um só tempo, contam a história da humanidade e dela participam diretamente, sendo algo aprendido, e não uma disposição inata do ser humano. Essa aprendizagem é mais freqüente com os pares do que dependente de um ensino diretamente transgeracional. (CARVALHO, apud WAJSKOP, 1995, p. 48)
Assim, no brinquedo a criança vive a interação com seus pares na troca, no conflito e no surgimento de novas idéias na construção de novos significados, na interação e na conquista das relações sociais, o que lhe possibilita a construção de representações, com isso, as crianças – sujeitos concretos, sociais, históricos e culturais – vão se constituindo como tais, num cenário que também é concreto, social, histórico e cultural.É através do brinquedo que a imaginação, enquanto processo psicológico especialmente humano, origina-se, sendo que este processo, em gênese, relaciona-se com a capacidade de a criança lidar com o mundo, atribuindo-lhe significados, além daqueles socialmente estabelecidos; nesse sentido, conclui-se que é através do brinquedo que o homem emancipa-se dos limites do real.No desenvolvimento infantil ocorre um declínio do brinquedo, como jogo de papéis, que cede espaço para o jogo de regras. Sendo que o jogo de papéis possibilita as bases para o de regras. Dessa forma, no surgimento do jogo de regras, elementos estruturais do brinquedo são absorvidos e novas transformações ocorrem, promovendo o desenvolvimento dos processos psicológicos da criança.É relevante considerar, a partir dos postulados de Vygotsky e seus contribuintes teóricos, que essa trajetória não é linear e nem natural, mas fruto das condições histórico-sócio-culturais em que o indivíduo se encontra.

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