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Desafios Contemporâneos: Cidadania e Sociedade

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25/06/2019 Desafios Contemporâneos
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DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS
CAPÍTULO 1 – SOMOS TODOS
CIDADÃOS?
Luísa Maria Silva Dantas
INICIAR
Introdução
25/06/2019 Desafios Contemporâneos
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Ao ouvir as palavras cidadão e cidadania, é comum nos remetermos às ideias de
cidade e de participação dos indivíduos em sua sociedade. Além disso, cidadania
também está associada à concepção de direitos que conformam uma vida digna,
ou seja, o cidadão vive em uma coletividade, a sociedade, participa dela e possui
direitos e deveres que lhe garantem uma vida digna. Essa poderia ser uma
maneira de definir o que é cidadania, ligada à um coletivo de pessoas que atuam
na sociedade de forma democrática e igualitária. Contudo, ao olhar ao nosso
redor, será mesmo que todos os indivíduos de nossa sociedade participam
ativamente das decisões que envolvem suas cidades, estados e a nação brasileira?
Ou ainda, todas essas pessoas, que poderiam ser consideradas cidadãos, exercem
de fato a cidadania? Em outras palavras, possuem as condições necessárias a uma
vida digna? A igualdade, tão clamada e defendida pela sociedade moderna está de
fato sendo defendida e praticada em nossa sociedade?
Neste capítulo, vamos estudar as origens dessas ideias que parecem tão
naturalizadas em nosso dia a dia, entender como foram instituídas e quais são os
principais desafios para uma sociedade justa e igualitária na contemporaneidade.
Acompanhe esse capítulo com atenção e bons estudos! 
1.1 Construção da Cidadania
A palavra cidadania ou o que ela representa, nem sempre existiu ou teve o mesmo
significado em diferentes lugares e ao longo do tempo. A concepção de cidadania
a qual nos referimos é localizada no mundo ocidental e teve sua consolidação com
o surgimento do mundo moderno, pautado nos ideais da razão, da ciência e da
ampliação da participação política, que motivaram importantes revoluções,
inicialmente, no contexto europeu, nos séculos XVIII, XIX e XX.
Outra ideia e valor importante, também surgido na modernidade, é o próprio
conceito de indivíduo, entendido enquanto um sujeito de direitos e envolto aos
ideais de igualdade e liberdade que configuraram os Estados democráticos e
capitalistas, com a formação da sociedade civil e a proteção da propriedade
privada. O antropólogo francês Louis Dumont (1911-1998) identifica o
individualismo como a ideologia da modernidade, ou seja, o conjunto de ideias
em que o indivíduo é colocado como um valor central, posto que a ideologia é o
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modo como diferentes grupos sociais atribuem sentido às suas experiências no
mundo. Vamos, a seguir, apresentar uma breve história da cidadania no contexto
mundial. 
1.1.1 Breve história da cidadania
As possíveis origens da cidadania remetem à antiguidade e aos contextos de Roma
e Grécia, posto que nas cidades-estados desses países foram identificadas as
primeiras formas de participação da população nas decisões da cidade. Apesar de
cada integrante ter direito de voz e voto, apenas os considerados como cidadãos
tinham este privilégio. Cidadãos eram apenas os homens, livres e com
propriedades. Mulheres, escravos, artesãos e comerciantes estavam excluídos
dessa classificação.
Contudo, um conjunto de transformações ocorridas desde o século XV com a
Expansão Marítima, Reforma Protestante no século XVI, além da Revolução
Científica (século XVII),  Independência dos Estados Unidos (1776),  Revolução
Francesa (1789),  Revolução Industrial (final do século XVIII) e urbanização do
mundo ocidental, provocaram mudanças profundas que promoveram o fim da
Idade Média e o advento da Modernidade.
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O momento que instaura a modernidade pode ser caracterizado pela consolidação
da burguesia enquanto grupo central, pois além do poder econômico acumulado
com a expansão marítima e a posterior compra de fábricas, este grupo também
conquistou o poder político, antes concentrado na aristocracia rural e na igreja
católica. A mudança de gestão e organização política trouxe o surgimento do
Estado Moderno, que concentrou o aparato administrativo, jurídico e de segurança
das novas Nações. E também os ideais de liberdade e igualdade para todos os
indivíduos inseridos em cada território.
Figura 1 - Revolução Francesa, quando burgueses e camponeses uniram-se para depor o Estado
Absolutista. Fonte: Oleg Golovnev, Shutterstock, 2018.
VOCÊ O CONHECE?
Deslize sobre a imagem para Zoom
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Os filósofos ingleses Thomas Hobbes (1588-1679) e John Locke (1632-1704), e o franco-suíço Jean-
Jacques Rousseau (1712-1778) são conhecidos como contratualistas por defenderem que o surgimento
do Estado Moderno é resultado de um contrato social, em que os homens viveriam em um estado de
natureza e decidiram abrir mão de sua total liberdade para a constituição da sociedade civil. Contudo,
estes filósofos divergiam quanto ao estado de natureza e a função do Estado. Para Hobbes, esta
instituição viria para evitar uma guerra de todos contra todos; para Locke, atuaria como um juiz, já para
Rousseau foi a instituição da propriedade privada que provocou o surgimento do Estado, posto que o
estado de natureza seria o Éden, da felicidade plena.
Então, desde a noção de cidadania que apenas abarcava homens abastados em
Roma e Grécia, passando por quase nenhuma incidência no período feudal, é na
modernidade, principalmente com a elaboração da Declaração de Independência
dos Estados Unidos da América (1776) e a Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão (1789), elaborada na França, que a cidadania, na forma como é pensada e
vivenciada por nós atualmente, foi inaugurada.
Juntamente às transformações políticas, a sociedade e a economia também foram
bastante abaladas com a possibilidade de participação nas decisões que
envolviam estados, regiões e países e com a industrialização e urbanização que o
mundo ocidental experimentava a partir do século XVIII. O modo de produção
capitalista, pautado pela formação de um grupo que vendia a sua mão de obra
para os donos das máquinas e fábricas em troca de um salário, gerou a classe
trabalhadora, primeiro grupo que passou a organizar-se coletivamente para a
conquista de direitos visando melhorar suas condições de vida e trabalho.
Portanto, praticando uma das dimensões da cidadania, que é a luta por direitos
civis, políticos e sociais.
O sociólogo britânico Thomas Humphrey Marshall (1893-1981), em sua obra
“Cidadania, classe social e status”, de 1950, (ARAÚJO, BRIDI e MOTIM, 2013), focada
no contexto industrial inglês, defendia que a busca pela efetivação dos direitos era
a condição principal para a cidadania, e os classificou em três grupos:
1. Direitos civis – relacionados à liberdade de expressão, de prática religiosa e
direito de propriedade;
2. Direitos políticos – relacionados à possibilidade de opinar e de ocupar cargos
políticos; 
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3. Direitos sociais – voltados para a garantia de dignidade de cidadãos à margem
da sociedade.Com isso, temos uma pequena contextualização da cidadania de modo global,
mas e quanto ao Brasil? Acompanhe no próximo tópico. 
1.1.2 Cidadania no Brasil
A cidadania no Brasil é um assunto bastante delicado, mas como em qualquer
outro contexto, é importante saber a história de nosso país e os caminhos que
foram e continuam sendo traçados a favor ou contrários à ampliação da cidadania
dos brasileiros. Diferentemente do contexto europeu, em que as revoluções
burguesas, a valorização da ciência e da razão e os movimentos operários
contribuíram para a consolidação da igualdade e participação política de sua
população desde o século XVIII, por aqui o percurso se deu posteriormente,
influenciado pelos acontecimentos do além-mar, ou seja, pela expansão marítima
europeia.
Se a cidadania diz respeito à participação popular na vida política de um Estado-
Nação e o exercício de direitos civis, políticos e sociais, nosso país esteve bastante
aquém de alcançá-la.  Primeiro, porque africanos e indígenas foram escravizados
durante pelo menos três séculos, tendo a escravidão abolida apenas um ano antes
da Proclamação da República, em 1888. Além disso, para ficarmos apenas no
exemplo de direitos políticos, no Brasil, apenas em 1934 foi permitido às mulheres
votar e somente com a Constituição de 1988 os analfabetos conquistaram este
direito.
Desde a primeira Constituição (1891) até a atual (1988), o Estado brasileiro
assumiu várias feições, de ser sustentado e ocupado apenas por ruralistas, quando
o voto era aberto e vigiado (“voto de cabresto”), passando pela Era Vargas (1930-
1945), uma iniciante democracia, 20 anos de ditatura militar (1964-1984), até
alcançarmos o retorno ao regime democrático de direito (1985). Nesse percurso,
os direitos políticos foram conquistados por grande parte da sociedade, mas os
direitos civis e sociais ainda se manifestam como um grande desafio para os
movimentos sociais e os indivíduos que defendem uma ampla cidadania como
condição para um mundo mais justo e igualitário.
Vamos tomar como exemplo a população negra. Apesar da liberdade de culto
religioso ser um direito civil garantido pela Constituição de 1988, é comum as
mídias registram casos de assassinatos e violências a líderes e casas de religião de
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matriz africana. Quanto aos direitos sociais, institutos de pesquisa, como o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgam dados que
comprovam o assassinato de grande parte da juventude, o encarceramento da
população negra e a violência contra as mulheres, principalmente negras.
VOCÊ SABIA?
Educação, saúde, moradia, trabalho, lazer, esporte e segurança são direitos
garantidos a todos os cidadãos brasileiros pela Constituição Federal de 1988.
  Ainda que na teoria isso seja de conhecimento, na prática, esses direitos estão
longe de serem garantidos pelo Estado, fazendo com que uma parcela da
população recorra aos serviços privados, e a maioria simplesmente viva
cotidianamente sem acessá-los, ainda que a existência dos impostos seja
justificada para garanti-los.
Na resistência a favor da vida e da dignidade da população excluída dos meios de
subsistência e integração social, o Brasil conta com extenso número de
movimentos sociais, sindicatos, associações e organizações não governamentais,
que atuam questionando e pressionando projetos e leis aprovados e postos em
prática pelos poderes legislativo, executivo e também judiciário, visando a
efetivação de políticas públicas e sociais que de fato reconheçam a cidadania da
maioria da população brasileira.
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Ao longo do tempo, os movimentos sociais também foram mudando sua
organização e forma de atuação. Se na metade do século XX se proliferou grande
número de sindicatos representativos da classe trabalhadora, com forte estrutura
hierárquica e práticas de panfletagem para a organização de passeatas e greves,
atualmente, com o desenvolvimento de novas tecnologias, os movimentos
encontram-se cada vez mais horizontais e abarcando maiores escalas via mídias
digitais que tem capacidade para conectar pessoas nos mais distantes lugares do
globo. As manifestações de junho de 2013, bem como outras da
contemporaneidade, foram articuladas e disseminadas de tal modo. Vamos
continuar nossos estudos com o tema direitos humanos. 
Figura 2 - Exemplo de ocupação irregular muito comum no Brasil devido à falta de moradia em
melhores condições. Fonte: De Visu, Shutterstock, 2018.
1.2 Os Direitos Humanos
Deslize sobre a imagem para Zoom
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Para entender o que são e como surgiu os direitos humanos, precisamos
contextualizar historicamente de qual momento e local estamos falando. Vimos
que o conceito de cidadão foi se transformando, pois nem sempre abarcou todas
as pessoas que compunham determinada sociedade, já que durante muito tempo
apenas eram considerados cidadãos os homens, livres e com propriedades.
A concepção de direitos humanos, que nos referimos com tanta naturalidade, foi
desenvolvida na modernidade, quando as revoluções burguesas depuseram os
regimes absolutistas e a democracia, caracterizada pela soberania popular, foi
estabelecida. O surgimento dos Estados Democráticos, a partir do século XVII no
contexto europeu, institucionalizou a sociedade civil e impulsionou o surgimento
de direitos e deveres para a manutenção e organização da sociedade. A ideia de
cidadania está atrelada a este cenário de ampliação da participação política e da
conquista de direitos: “na sua acepção mais ampla, cidadania é a expressão
concreta do exercício da democracia” (PINSKY; PINSKY, 2010, p.10).
Historicamente, os direitos foram associados e restritos aos grupos dominantes e
a ampliação para o conjunto maior da sociedade está ligada à modernidade e suas
transformações políticas, sociais e econômicas. Os direitos humanos da
contemporaneidade se pretendem universais, indivisíveis, interdependentes e
inter-relacionados.
A seguir, vamos apresentar e discutir alguns aspectos históricos e sociológicos dos
direitos humanos.
1.2.1 Aspectos históricos e sociológicos dos Direitos Humanos
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, publicada originalmente em 10 de
dezembro de 1948, pela Organização das Nações Unidas (ONU, 2009), é
considerada o marco regulatório decisivo para a implementação e fiscalização dos
direitos humanos no mundo ocidental moderno. A ONU surgiu em 1945, ano em
que terminou a Segunda Guerra Mundial, com o intuito de incentivar o diálogo
entre as nações e evitar novas catástrofes mundiais. Nesse sentido, a declaração
dos direitos humanos foi um documento importante para enfatizar o caráter
universal dos direitos, levando em consideração a pluralidade dos povos, bem
como a sub-representatividade de determinados grupos nas esferas de poder e
prestígio.
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A defesa pela igualdade e liberdade dos indivíduos foi uma das principais
bandeiras ainda nas revoluções liberais-burguesas nos séculos XVII e XVIII. Àquela
época, o grupo que conseguiu acumular renda, mas que ainda era desprovido de
poder e participação política, uniu-se ao povo, os desprovidos de privilégios, mas
obrigados a pagar altos impostos para os nobres, para o rei e para a igreja, para ter
mais forças e conseguir realizartais revoluções. Ao garantirem sua vitória, a
burguesia aos poucos foi agindo contrariamente à consolidação de direitos para o
povo, posto que não mais precisava de seu apoio, mas agora da exploração de
suas vidas e trabalho para desenvolver o sistema capitalista.
Nesse período, começaram a ser disseminadas as correntes do socialismo e do
comunismo entre a classe trabalhadora, que passou a organizar-se na forma de
partidos e sindicatos e lutar por melhores condições de trabalho A primeira
metade do século XX foi marcada então pela divisão do globo entre países
capitalistas e socialistas, culminando no surgimento de estados fascistas e
totalitários e na Segunda Guerra Mundial.
No filme Norma Rae (FRANK JR; RAVETCH, 1979), a protagonista vem de uma família com gerações de
trabalhadores da indústria têxtil e a partir do contato com um ativista passa a questionar as condições
de trabalho e propor a organização de um sindicato.
Nas práticas de colonização promovidas pela Europa na América Latina, África e
Ásia também podemos identificar a desumanização dos povos dominados, que
tiveram sua cultura, língua, economia e religião negligenciados e combatidos em
prol da ocidentalização do mundo. Outro exemplo de violência contra a
universalidade da humanidade pôde ser observada no regime nazista alemão que,
baseado em uma ideia de supremacia racial, também dizimou milhões de pessoas
e implementou os campos de concentração. 
VOCÊ QUER VER?
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VOCÊ SABIA?
No Brasil foi instituída uma Comissão Nacional da Verdade (CNV), em 2011, durante
o governo de Dilma Rousseff, para investigar violações aos direitos humanos
cometidos entre 18 de setembro de 1946 e 5 de outubro de 1988, abarcando o
primeiro período democrático do país (1946-1964), a ditadura militar (1964-1984), o
retorno à democracia (1985) e a instituição da atual Constituição Federal (1988). 
Outro desafio a partir da Declaração Universal dos Direitos Humanos é de que
todos os indivíduos “são iguais perante a lei”, além de livres para expressarem
suas opiniões e cultuarem a religião que escolherem. Bom, basta olharmos
qualquer reportagem e/ou relato do cotidiano para percebermos que a justiça não
se aplica de maneira igualitária, independente da cor/etnia, classe social, gênero,
nacionalidade, orientação sexual, opção política-ideológica etc. Também temos os
casos de “prisioneiros da consciência”, ou seja, pessoas que foram presas por se
manifestarem contrariamente a governos totalitários, como durante a ditadura
militar no Brasil. E quanto à religião, casos de repressão às suas manifestações,
como o uso no véu na França por muçulmanas, que foi repreendido, ou os casos
de depredação de casas de religião de matriz africana no Brasil.
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Então, é pertinente nos determos na afirmação de John Dewey que o historiador
Marco Mondaini (2009, p. 159) nos traz à tona: “Se você quer estabelecer a
concepção de uma sociedade, descubra quem está na prisão”. Essa afirmação é
importante para que possamos avaliar se os ideais de justiça social, paz,
diversidade cultural e respeito aos direitos humanos estão sendo exercidos nos
diferentes países.
No próximo tópico, vamos discutir as assimetrias entre o Brasil de direito,
caracterizado pelas leis, e o de fato, fundamentado na prática cotidiana.
1.2.2 Brasil Legal x Brasil Real
O caminho percorrido pelos Estados Unidos, Inglaterra e França, é de conquista de
direitos civis – as liberdades individuais (século XVII e XVIII), depois direitos
políticos – igualdade política (século XIX), e direitos sociais – igualdade social
(século XX). No Brasil, houve inicialmente, alguns ganhos sociais, como a
Figura 3 - Praticante de religião de matriz africana, que apesar de estar garantida pela constituição
brasileira, continuam sofrendo violência. Fonte: Vitoriano Junior, Shutterstock, 2018.
Deslize sobre a imagem para Zoom
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consolidação das leis trabalhistas (CLT), em 1943, durante o governo de Getúlio
Vargas, para que posteriormente fossem conquistados direitos civis e políticos,
principalmente após a ditadora militar, em 1984, quando foi (re)instituído no Brasil
o Estado Democrático de Direito.
Em termos legais, o Brasil se coloca como um dos países com legislação mais
avançada da América Latina, contudo percebemos grande contradição entre o
campo “legal” e o “real”, ou seja, apesar de uma constituição e leis que garantem a
igualdade, liberdade e dignidade de todos os cidadãos, os direitos fundamentais
como saúde, moradia, segurança, transporte, lazer e educação são escassos a
ampla parcela da população.
A dinâmica social contemporânea, ainda que imbuída em um cenário de direitos e
normas jurídicas estabelecidas, se passa como se ainda vivêssemos na idade
média, quando o poder econômico e político eram determinados pelo
nascimento, já que mesmo com a igualdade presente nas leis, não há meios
adequados para que pessoas de diferentes estratos sociais alcancem os lugares
mais prestigiados da sociedade. Mesmo que a justificativa não seja mais os
“desígnios de deus”, a estratificação ou desigualdade social é uma das
características mais evidentes de nosso país.
“Quarto de Despejo – Diário de uma favelada” (JESUS, 2014) é um livro em que são editados os diários
de Carolina Maria de Jesus, uma mulher negra, migrante de Minas Gerais, papeleira e moradora de uma
favela em São Paulo, na década de 1950. O livro retrata o cotidiano de miséria, privações e a
sociabilidade da escritora, sua família e vizinhos, explicitando as trajetórias de pessoas à margem da
cidadania e dos direitos fundamentais no Brasil.
Pessoas são tratadas de forma distinta conforme os marcadores de diferença,
classe, cor e gênero, por exemplo. O aparato público é utilizado com fins privados
e o coronelismo ainda se apresenta como uma das principais práticas políticas.
Esse clientelismo que deveria ter acabado com a instituição da democracia e
ampliação da cidadania ainda não foi exterminado, já que os políticos atuais são
VOCÊ QUER LER?
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os mesmos ou, então, descendentes dos antigos coronéis. Assim, os direitos
humanos ainda não conseguiram garantir a emancipação real da maioria da
população brasileira.
No filme Quanto vale ou É por quilo?  (BIANCHI; BENAIM; CANITTO, 2005) é retratado os trâmites entre
política e filantropia, além de fazer uma analogia entre o comércio de escravos e a atual exploração da
miséria por vários agentes sociais.
É inegável que desde a abertura política já tivemos inúmeros avanços, mas
infelizmente estes também chegam acompanhados por retrocessos. A reforma
agrária que possibilitaria a permanência dos agricultores no campo, a
manutenção de identidade e cultura de quilombolas e indígenas ainda não foi
realizada. Ao mesmo tempo em que houve a universalização de crianças nas
escolas, também enfrentamos uma taxa de mais de 10 milhões de brasileiros
desempregados (GOMES, 2018). Vivemos, então, em um Brasil em que uns são
mais humanos do que outros? Enfrentar essas disparidades se constitui como um
desafio urgente para construirmos um lugar realmente plural e digno para todos,
onde a paz, a segurança coletiva, o desenvolvimento e os direitos humanos sejam
indissociáveis.
Agora, vamosapresentar a situação de grupos que permanecem à margem de
parte ou integralmente dos direitos humanos.
VOCÊ QUER VER?
1.3 Mulheres e Minorias
Este tópico diz respeito aos avanços, desafios e entraves para o exercício da
cidadania e do respeito aos direitos humanos de grupos subalternizados, também
chamados de minorias. O primeiro ponto que precisamos elucidar se relaciona
justamente a palavra minorias. Quando a ouvimos, a primeira ideia que nos vem a
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cabeça tem a ver com um número reduzido, ou seja, com quantidade. No entanto,
essa imagem pode gerar equívocos quando a palavra minorias está associada a
políticas públicas ou direitos humanos. Isso porque grupos compostos por
milhões de pessoas – que, muitas vezes, podem constituir a maioria em termos
numéricos da população de determinada sociedade -, mas que, contrariamente à
sua presença numérica, estão sub-representados em espaços de poder, prestígio,
educação, renda, saúde e lazer. Além disso, são hiper-representados entre o grupo
com menor poder aquisitivo, ocupando os empregos menos valorizados e
prestigiados, deficitários de saúde, educação, moradia, segurança, lazer e respeito
aos direitos humanos.
Nesse sentido, as mulheres e outros grupos como homossexuais, transexuais e
transgêneros, deficientes, idosos, jovens e crianças, são estratos da sociedade
considerados minorias justamente por estarem mais vulneráveis a violências e
carentes de respeito aos seus direitos humanos mais fundamentais. Em
contraponto às minorias, está o grupo hegemônico, provido de privilégios e
vantagens historicamente perpetuadas. Esse lugar é ocupado por homens,
brancos, heterossexuais, que moram nos lugares mais caros das cidades, ocupam
profissões bem remuneradas e respeitadas e estão menos sujeitos às violências
criminosas e institucionais, fazendo com que pessoas que não correspondem a
este perfil  sejam vistas e tratadas como não tão “humanas” assim.
Será que diferenças são o mesmo que desigualdades? É o que vamos abordar no
próximo tópico.
1.3.1. (Des)naturalização das desigualdades
Enquanto seres coletivos, vivendo em sociedade, nossa socialização desde a
infância se dá por meio de instituições sociais, como família, escola, igreja e
Estado, que, frequentemente, disseminam o modelo hegemônico sobre o que é
normal ou anormal para a contribuição da ordem social. Entretanto, nesta
“ordem”, normalmente alguns grupos são privilegiados, enquanto outros são
inferiorizados.  Portanto quem detêm o poder político e econômico não pretende
perder seus privilégios e, para isso, faze uso do aparato ideológico para manter a
estrutura social no modelo que mantém sua posição de dominação sobre outros.
Isso acontece, por exemplo, em relação ao conceito, características e significados
de mulher e homem em nossa sociedade. Somos ensinados que quem nasce com
uma vagina é do sexo feminino e devem ser socializados como mulheres,
enquanto quem nasce com pênis, devem aprender a ser homem. Essa associação,
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que durante tanto tempo foi vista como natural e disseminada pelas instituições
sociais, atualmente começa a ser tensionada por estudiosos que irão defender que
a própria biologia é uma construção cultural (MARILYN STRATHERN, 1992 apud
CARVALHO, 2012), portanto não é natural ou imutável.
Mas, seguindo o modelo sexo-gênero (GAYLE RUBIN, 1975 apud CARVALHO, 2012),
tão difundido ao longo dos tempos, a genitália determinaria o comportamento
social das pessoas e também o papel que estas deveriam desempenhar nos seus
contextos sociais. Podemos perceber que essa estrutura binária contribuiu para a
dominação masculina e a opressão das mulheres.
Alguns autores vão justificar que as mulheres estariam ligadas à natureza e à
reprodução da família e do lar, enquanto os homens estariam atrelados à cultura,
ao espaço público e ao sustento de suas famílias e lares, como se homens e
mulheres estivessem limitados a apenas um destino estabelecido pela natureza.
Várias pesquisas em diferentes sociedades (MARGARETH MEAD, 2000 apud
CARVALHO, 2012) contrapuseram este quadro, demonstrando que existem vários
modelos sobre o que é ser homem ou mulher e   nem sempre ligados à
constituição biológica dos seres. Além disso, hoje se sabe que a maneira
dicotômica de classificar o mundo em macho/fêmea, alto/baixo, mente/corpo, é
apenas uma das possibilidades de entendimento, dentre várias outras, cada vez
mais múltiplas.
Em relação especificamente às mulheres, que se constitui como uma minoria por
não gozar de plena cidadania e respeito aos direitos humanos, foi justamente
durante as revoluções liberais, que elas passaram a questionar sua ausência no
grupo dos cidadãos. A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, por
exemplo, não incluía as mulheres. Desde o início da modernidade, as mulheres
passaram a lutar por sua efetiva inserção na sociedade civil, reclamando seu
direito de voto e também de poderem assumir cargos políticos.
VOCÊ SABIA?
A Arábia Saudita é um país em que as diferenças entre os direitos e papéis de
homens e mulheres é bastante desigual, visto sob o contexto dos direitos humanos.
As mulheres precisam da autorização de um parente masculino para viajarem,
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trabalharem ou casarem. Foi o último país no mundo a negar as mulheres o direito
de voto, conquistado apenas em 2015, e ainda assim, a representatividade das
mulheres é irrisória, apenas 1 em cada 10 eleitores.
A luta pelo direito do voto, quando da consolidação dos Estados democráticos no
ocidente, se constituiu como a “primeira onda” na história oficial do feminismo –
movimento acadêmico e ativista que atua em prol das mulheres. Posteriormente,
com a industrialização e urbanização, as mulheres também passaram a se
organizar para exercerem direitos iguais aos dos homens como o de ocupar o
emprego que lhes desse vontade e ter a mesma remuneração que seus pares
masculinos. Além disso, também passaram a questionar seus papéis sexuais
enquanto apenas esposas, mães e responsáveis pelos afazeres domésticos, e a
reivindicar por liberdade sexual, o que foi facilitado com a invenção da pílula
anticoncepcional na década de 1950, a prática sexual não mais estaria atrelada
somente à reprodução.
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Enquanto ferramenta de produção de conhecimento científico, após o conceito de
papéis sexuais, na década de 1980, a feminista estadunidense Joan Scott (1985)
introduziu o conceito de gênero para estudar o caráter cultural dos papéis de
homens e mulheres. Partindo dessa ferramenta analítica, muitas pesquisas foram
desenvolvidas, mas inicialmente apenas chamando atenção para as trajetórias
sociais e dificuldades que as mulheres enfrentavam/enfrentam em seus
cotidianos. Depois, houve o entendimento de que a categoria gênero seria
 Figura 4 - Dilma Rousseff
foi, até o momento, a primeira e única mulher presidente do Brasil (2011 a 2016). Fonte: Shutterstock,
2018.
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relacional, se trataria das relações sociais constituídas por homens e mulheres e
suas peculiaridades. Nesse momento,surgem trabalhos que também interpelam e
manifestam a existência de masculinidades e feminilidades no plural.
Isso significa que de categorias que antes foram determinadas biologicamente,
homens e mulheres passaram a ser constructos sociais e,portanto, passíveis de
mudanças, já que a cultura está em contínua transformação. 
O livro “O conto da aia” (ATWOOD, 2017), em inglês The Handmaid’s Tale, é um romance da canadense
Margaret Atwood lançado originalmente em 1985. A partir de uma cidade fictícia dos Estados Unidos, a
história retrata um golpe em que um grupo conservador toma o poder, destruindo o país e impondo
papéis sexuais para diferentes grupos de mulheres, que remetem às ideias de natureza e submissão. 
Além das recentes discussões sobre o caráter cultural da natureza, as perspectivas
de feministas afro-estadunidenses, desenvolvidas pelos menos desde os anos
1960, juntamente com as abordagens de mulheres do “terceiro mundo”, passaram
a ter maior visibilidade a partir dos anos 1990. Autoras como Angela Davis, Bel
Hooks, Kimberlé Crenshaw, Chandra Mohanty e Lélia Gonzalez chamaram atenção
para a heterogeneidade da categoria mulher, defendendo que as experiências e
opressões variam de acordo com o lugar que determinada mulher ocupa e da
sociedade em que está inserida. Desse modo, salientam que classe social,   cor, 
orientação sexual e  religião não podem ser entendidas de forma separada ou
hierarquizada, pois, muitas vezes,  atuam de forma simultânea nas trajetórias de
diferentes mulheres. Então, levantaram críticas a respeito de apenas um discurso
feminista, pautado nas experiências de mulheres, brancas, heterossexuais, norte-
americanas e europeias.
VOCÊ QUER LER?
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Para enfrentar as desigualdades e violências que diferentes mulheres ainda
enfrentam, os movimentos sociais, organizações não governamentais e partidos
sensibilizam a opinião pública por meio de campanhas e protestos, visando o
estabelecimento de leis de proteção e políticas afirmativas para que as mulheres
possam ser respeitadas em seus direitos humanos e ocupem diferentes espaços
sociais.
No Brasil, em 7 de agosto de 2006, foi sancionada a Lei Maria da Penha - Lei 11.340
(BRASIL, 2006) que visa criminalizar e punir a violência contra as mulheres. Há
também a Lei do Feminicídio – Lei 13.104 (BRASIL, 2015) – que classifica como
crime os assassinatos cometidos em razão de serem mulheres.
Qual seria o outro seguimento social que também permanece em desigualdade
em nossa sociedade? Veja a resposta no tópico a seguir. 
Figura 5 - Mulher protestando em ato público pela garantia de direitos civis, políticos e sociais. Fonte:
arindambanerjee, Shutterstock, 2018.
1.4 A questão étnica racial
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Para justificar a colonização, exploração e dominação de povos e países, os
europeus ancoraram-se em teorias pseudocientíficas que abalizavam diferenças
étnico-raciais enquanto desigualdades intelectuais e morais. Isto é, utilizaram a
teoria da evolução das espécies desenvolvida por Charles Darwin (1809-1882) para
explicar a manutenção e proliferação de certos tipos de animais e vegetais, e
construíram a teoria da evolução social, pautando-se pelo argumento de que
povos também deveriam passar por estágios evolutivos para progredirem.   Iriam
da selvageria, passando pela barbárie, até chegar na civilização, que seria a cultura
ocidental europeia.
Assim, o argumento moralmente defendido para a colonização era de que os
europeus iriam “civilizar” o novo mundo, enquanto uma “missão de ajuda
humanitária”. Não é preciso adivinhar que para tal intento, no caso brasileiro,
trataram como selvagens e bárbaros indígenas, africanos e seus descendentes. Era
preciso tornar inferior estes grupos, juntamente às suas culturas e religiões, para
que o projeto “civilizatório” desse certo. Com isso, foram aplicadas na sociedade
brasileira teorias raciais que surgiram na Europa desde o século XIX, e pregavam a
ideia de supremacia e pureza raciais. Então, além do genocídio da população
indígena e a escravização de africanos, também foram postos em práticas políticas
públicas para o embranquecimento da população, sob o argumento que o
desenvolvimento da nação estaria diretamente relacionado com o fim da
população negra e indígena.
O psiquiatra e filósofo martinicano, de ascendência francesa e africana, Franz Fanon (1925-1961),
escreveu sobre os efeitos do racismo na subjetividade de homens racializados e lutou pela
independência da Argélia. Suas obras “Pele negra, máscaras brancas” (1952) e “Os condenados da
terra” (1961) são referências dos estudos culturais e pós-coloniais.
Como você pode subentender, durante muitos séculos o conceito de cidadão
brasileiro não incluía a população negra ou indígena. Por serem considerados
“menos humanos” que os brancos, não eram reconhecidos como sujeitos dos
VOCÊ O CONHECE?
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direitos humanos, logo, o país vem perpetuando uma dívida com esses grupos,
que podem ser considerados minorias, e que, infelizmente, apesar de alguns
direitos já reconhecidos, continuam tendo que resistir aos efeitos da
discriminação racial que estrutura a sociedade brasileira.
Surge, então, a pergunta: como consolidar a cidadania e a democracia plena em
um país fundado na desigualdade social e no preconceito racial? A resposta passa
por uma grande revolução em todas as esferas da vida social, com a prioridade
dos direitos humanos universais. Com isso, poderemos pensar em nos
desenvolvermos e constituirmos em um povo harmônico e miscigenado de fato,
enquanto isso, ainda temos muita estrada pela frente.
Já no próximo tópico, vamos estudar a sociedade brasileira, posto que a partir da
identificação, é possível buscar soluções para os problemas.
1.4.1 Enxergando a sociedade brasileira
A década de 1930 ficou conhecida como o período em que surge a sociologia no
Brasil. O início foi marcado por perguntas que buscavam entender a sociedade e a
cultura brasileira,  “afinal, o que faz o Brasil, Brasil?”. Nesse momento, surgiram
obras importantes com o intuito de responder tal questionamento como “Casa
Grande e Senzala” (FREYRE, 1992 [1933]), do pernambucano Gilberto Freyre (1900-
1987), em que podemos perceber uma crítica à supremacia racial das teorias
raciais do século XIX.  O autor aborda a miscigenação entre europeus, africanos e
indígenas como o traço central da sociedade brasileira, mas defende o que ficou
conhecido como o “mito da democracia racial”, como se no Brasil não existisse
conflitos raciais e todos os povos vivessem com respeito, igualdade e harmonia.
Desse modo, o mito da democracia racial corresponde à ideia de que no Brasil não
existem conflitos raciais e todos os segmentos sociais tem a mesma oportunidade
de acesso a direitos, bens e serviços, ou seja, uma falácia.
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Por décadas e mesmo nos dias atuais, o mito de que no Brasil não existem
conflitos raciais ainda é disseminado quando se deseja discorrer sobre a
sociedade brasileira. O problema é que ele mascara e invisibiliza a realidade de
grupos brasileiros (negros e indígenas), contribuindo assim para a perpetuação de
violências, desigualdades e segregações.
O livro “Um defeito de cor” (GONÇALVES,2006), escrito por Ana Maria Gonçalves, é a história de uma
africana trazida à força para ser escravizada no Brasil, seus antepassados e os eventos que vivencia no
“novo mundo”. É uma obra prima que reflete o horror da escravidão e do racismo na sociedade
brasileira, mas também um documento histórico sobre resistência, solidariedade e espiritualidade.
Figura 6 - A capoeira é uma arte marcial brasileira, desenvolvida por africanos e brasileiros
escravizados e durante muito tempo sua prática foi proibida. Fonte: Val Thoermer, Shutterstock,
2018.
VOCÊ QUER LER?
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No Brasil, metade da população é negra ou não branca (SARAIVA, 2017), mas estes
estão sub-representados nos locais de prestígio e poder da sociedade e hiper-
representados nas profissões de menor valorização e remuneração, como o
trabalho doméstico, de portaria e segurança. Ocupam os bairros menos
valorizados, distantes do centro das cidades, muitas vezes, com falta de
saneamento básico e serviços. Assim como as mulheres, a população negra ou não
branca, sobretudo, mulheres negras, ganham menos que os homens brancos ao
realizarem o mesmo serviço.
CASO
No Brasil, existem aproximadamente 6 milhões de trabalhadores
domésticos. Destes, mais de 95% são mulheres, e em torno de 70%
mulheres negras. Apenas 30% destas trabalhadoras possuem a carteira de
trabalho registrada e contribuem para a previdência social. Isso quer dizer
que durante décadas essas mulheres trabalharam sem a garantia de um
salário mínimo, uma jornada de trabalho estabelecida e a garantia de
aposentadoria. Somente em 2015, foi regulamentada a “lei das
domésticas”, LCP 150 (BRASIL, 2015), que visa equiparar os direitos das
trabalhadoras domésticas aos demais trabalhadores. A lei abarca somente
trabalhadoras mensalistas, enquanto cresce o número de diaristas, que
trabalham várias vezes por semana. Algumas trabalhadoras preferem o
trabalho na forma de diaristas, pois podem flexibilizar seus horários,
porém com isso apenas recebem quando estão trabalhando, além de que
os danos para a saúde a longo prazo podem ser bem maiores.
Atualmente, o Ministério do Trabalho busca fiscalizar e punir os
empregadores que não estão obedecendo a lei 150/15. Os movimentos
sociais continuam se organizando para conseguirem mais direitos para as
diaristas, que já representam aproximadamente 30% do grupo.
Os indígenas são os povos originários de nossas terras e bastantes heterogêneos,
organizados em diferentes etnias, com língua e cultura próprias. De acordo com o
censo de 2010 (BRASIL, 2012) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), existem aproximadamente 817.963 indígenas, falando 274 línguas distintas
e divididos em torno de 305 povos.
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É comum achar que eles fazem parte do passado, de uma cultura selvagem e que
vivem apenas na Floresta Amazônica. Essas ideias etnocêntricas foram
disseminadas durante a colonização justamente para colaborar com a exploração
e dizimação dos povos indígenas e, atualmente, são usadas por empresários que
visam o uso ilimitado das terras para fins privados e comerciais.
Como o número do censo em relação à diversidade nos mostra, os índios
persistem e estão cada vez mais ocupando diferentes lugares na sociedade sem
perderem suas identidades.
As culturas indígenas são parte constitutiva da sociedade brasileira, seja no
vocabulário, nas práticas alimentares ou medicinais, e suas influências estão
presentes no cotidiano de qualquer cidadão, bem como a influência das culturas
africanas, europeias e, em menor medida, asiáticas. 
Como mecanismo para promover a igualdade de segmentos sociais
historicamente discriminados, políticas públicas diferenciadas começaram a ser
desenvolvidas, de ações afirmativas, com intuito de implantar mecanismo de
Figura 7 - Exemplo do sincretismo que forma a sociedade brasileira, mulher negra performatiza uma
dança com influências indígenas. Fonte: ostill, Shutterstock, 2018.
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cotas para que os grupos minoritários possam alcançar de maneira mais rápida
igualdade de oportunidades nas sociedades.
De acordo com a antropóloga Ana Paula Comin de Carvalho (2012), citando o
etnólogo Carlos Moore Wedderburn (2005), diferentemente da ideia de que as
políticas de ação afirmativa surgiram nos Estados Unidos, na década de 1960, no
contexto da luta pelos direitos civis de afro-americanos, as ações afirmativas
teriam sido originadas na Índia, já no pós-PrimeiraGuerra Mundial, quando as
castas inferiores começaram a clamar por mais representatividade nas esferas de
poder. Esse movimento teria se intensificado após a Segunda Guerra Mundial, com
as lutas de independência dos países da África e Ásia, para então servirem como
forte instrumento em busca de igualdade pelas mulheres norte-americanas e
europeias, pelas populações negras diaspóricas (populações oriundas da África
que se estabeleceram em outros lugares do globo), e também na América Latina.
Em especial no Brasil, as políticas de ação afirmativas, que visam resgatar a
equidade de segmentos sociais de maneira rápida e eficaz, passaram a ter maior
incidência a partir dos anos 2000, quando não apenas a representação feminina
foi estimulada na esfera governamental, mas outras minorias organizaram-se na
luta pela igualdade de direitos. Desse modo, atualmente existem cotas para
diferentes grupos nas esferas da política, do trabalho e da educação. Porém, estão
em risco quando grupos conservadores põem em cheque sua importância, como
acontece em relação à política de cotas para negros e indígenas nas universidades
brasileiras.
Síntese
Concluímos a unidade introdutória aprendendo que o conceito de cidadão nem
sempre abarcou todos os indivíduos de uma determinada sociedade, assim como
a consolidação dos direitos humanos continua sendo um desafio diário,
sobretudo, para minorias sociais. 
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
aprender que a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) se
constitui como o documento de referência para a implementação dos
direitos humanos nas constituições dos mais diversos países; 
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estudar os percursos históricos para o surgimento da cidadania e a garantia
dos direitos humanos no contexto brasileiro, chamando atenção para os
desafios que persistem na consolidação da igualdade e justiça social em
nosso país. 
Bibliografia
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