Buscar

Artigo Deficiência Intelectual

Prévia do material em texto

1 
 
Deficiência intelectual e trabalho: Percepções da família sobre a inclusão. 
 
 
Queli Luana Kuhn
*
 
Scheila Beatriz Sehnem
** 
 
 
 
Resumo 
 
A deficiência intelectual é caracterizada com um comprometimento no funcionamento geral 
mental durante o período de desenvolvimento, associado a duas ou mais áreas de conduta 
adaptativa no desempenho social: familiar, comunidade, locomoção, saúde, segurança, 
desempenho escolar, lazer e trabalho. A inclusão de pessoas com deficiência no mercado de 
trabalho passou a ser uma preocupação das empresas a partir da aprovação de leis que 
garantem esse direito ás pessoas com deficiência. O objetivo da pesquisa, caracterizada como 
quanti-qualitativa, é verificar qual é a percepção da família no processo de inclusão dos filhos 
com deficiência intelectual no mercado de trabalho, conhecer suas expectativas e dificuldades 
relacionadas á inclusão. A pesquisa se justifica pelo fato existirem poucas pesquisas 
relacionadas há deficiência intelectual e trabalho, sendo necessária maior investigação 
científica nessa área para auxiliar a inclusão dessas pessoas no mercado de trabalho. Para a 
realização, foi utilizado um questionário estruturado com perguntas abertas relacionadas ás 
percepções dos familiares sobre o processo de inclusão. Participaram da pesquisa 17 
pais/responsáveis pelos alunos matriculados nas turmas de Iniciação e Qualificação para o 
mercado de trabalho, de uma APAE – Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais do 
Meio-Oeste Catarinense. A escolha por esses alunos foi em virtude de os mesmos terem 
condições de freqüentar o mercado de trabalho e estarem desenvolvendo trabalhos na APAE 
voltados para essa inclusão. 
Palavras-chave: Deficiência Intelectual. Trabalho. Família. 
 
 
_____________ 
* Acadêmica do Curso de Especialização em Psicopatologia da Universidade do Oeste de Santa Catarina, 
Campus de Joaçaba; quelikuhn@yahoo.com.br 
** Mestre em Psicologia. Professora da Universidade do Oeste de Santa Catarina; 
scheila.sehnem@unoesc.edu.br; 
 
2 
 
1 INTRODUÇÃO 
 A inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho é um tema que tem sido 
trabalhado escolas especiais há vários anos e passou a ser uma preocupação das empresas a 
partir da aprovação de leis que garantem esse direito ás pessoas com deficiência. Segundo 
Tanaka e Manzini (2005, p. 2), a legislação sobre a inserção de pessoas com deficiência no 
mercado de trabalho chegou ao Brasil há 14 anos através das Leis nº 8.112, de 1990, que 
define em até 20% o percentual de vagas em concursos públicos, e nº 8.213, de 1991, que 
determina uma cota de vagas para a pessoa com deficiência, variando de 2 a 5 %, junto às 
empresas privadas com mais de 100 funcionários. 
 Após a promulgação das Leis e com a fiscalização do Ministério Público do Trabalho, as 
empresas passaram a aumentar o número de vagas direcionadas para as pessoas com 
deficiência, entretanto o número de pessoas com deficiência nas empresas é muito menor do 
que a cota prevê (TANAKA e MANZINI, 2005). 
 
 1.1 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL 
 
 A deficiência intelectual, segundo a Associação dos Deficientes Mentais dos EUA, se 
caracteriza como um comprometimento no funcionamento geral mental durante o período de 
desenvolvimento, associado a duas ou mais áreas de conduta adaptativa no desempenho 
social: familiar, comunidade, locomoção, saúde, segurança, desempenho escolar, lazer e 
trabalho (MORAES E INÁCIO, 2006). Essa deficiência sempre esteve inserida em sistemas 
categoriais, figurando como demência e comprometimento permanente da racionalidade e do 
controle comportamental, o que pode ter contribuído para a discriminação e preconceito 
relacionados á essas pessoas (CARVALHO e MACIEL, 2003). Os autores citam que a 
deficiência intelectual tem sido identificada como uma condição individual, inerente, restrita à 
pessoa. Essa posição encontra fundamento nas perspectivas organicistas e psicológicas, 
atribuindo-se pouca importância à influência de fatores socioculturais. 
O diagnóstico pode ser realizado por médicos, psicólogos e equipes interdisciplinares, 
tanto em hospitais, quanto em clínicas, consultórios ou centros de reabilitação, atendendo a 
propósitos educacionais, profissionais e de intervenção. Para a realização do diagnóstico, é 
3 
 
necessária a utilização de instrumentos e recursos que sejam confiáveis, envolvendo a 
compreensão da combinação de quatro grupos etiológicos: biomédicos, comportamentais, 
sociais e educacionais (CARVALHO e MACIEL, 2003). 
De acordo com Luppi (2010) a “deficiência intelectual não é considerada uma doença 
ou um transtorno psiquiátrico e sim um ou mais fatores que causam um prejuízo das funções 
cognitivas que acompanham o desenvolvimento diferente do cérebro”. Segundo a autora, o 
termo o “substitui ‘deficiência mental’ em 2006, por recomendação da Organização das 
Nações Unidas (ONU), para evitar confusões com ‘doença mental’”. As causas da deficiência 
intelectual são complexas e variadas, envolvendo fatores genéticos e ambientais. 
Desde essa definição, o tema que tem sido muito estudado, principalmente por seu 
caráter de mutação e pelos avanços no desenvolvimento de pesquisas, que apresentam 
resultados satisfatórios no que diz respeito ao potencial desses indivíduos, e mudanças nos 
níveis de atraso mental, a partir do desenvolvimento de novos testes de inteligência 
associados á construção de escolas especiais. Esses novos dados têm mostrado as 
potencialidades do indivíduo com deficiência intelectual e trazendo novos conceitos sobre 
essas pessoas que durante décadas foram consideradas incapazes (MORAES E INÁCIO, 
2006). 
No decorrer dos anos, as pessoas com deficiência foram adquirindo direitos em 
diversas áreas, tais como educação, saúde e trabalho, com o objetivo de inclusão na 
sociedade. Em 2006, a Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou 
a Convenção Internacional de Direitos da Pessoa com Deficiência, sendo um documento que 
estabelece direitos quanto à saúde, educação, transporte, atendimento em caso de calamidade, 
lazer, cultura, esporte, habilitação e reabilitação, formação profissional e reafirma a ideia de 
inclusão de todas as pessoas com deficiência no trabalho, de forma digna e integral (LUPPI et 
al, 2010). 
Entretanto, alguns fatores dificultam o processo de inclusão laboral, sendo eles o alto 
índice de desemprego no país e o aumento da competitividade por uma vaga no mercado de 
trabalho, a falta de conhecimento dos empregadores quanto á capacidade da pessoa com 
deficiência e o seu nível de produtividade, o preconceito e a falta de qualificação profissional 
dessas pessoas (TANAKA e MANZINI). Os mesmos autores citam que “as instituições 
4 
 
especiais e associações assumem, em grande parte, a qualificação profissional e o 
encaminhamento de pessoas com deficiência ao mercado de trabalho”, e que as mesmas 
devem ensinar as habilidades sociais básicas para o convívio no ambiente de trabalho. 
 O gerente da Avape (Associação para valorização de pessoas com deficiência), afirma que 
a partir da fiscalização do Ministério do Trabalho, muitas empresas passaram a contratar 
pessoas com deficiência, mas poucas se preocupam em oferecer treinamentos para que as 
mesmas permaneçam. A Avape percebe que não faltam pessoas com deficiência parar 
preencher as cotas, porém faltam pessoas qualificadas para realizar o trabalho. A contratação 
de pessoas com deficiência é ainda menor quando se trata de deficiência intelectual, conforme 
cita o gerente da Avape no artigo de Luppi (et al, 2010, p. 19):Segundo a Avape, a não absorção no mercado de trabalho formal se agrava 
para as pessoas com deficiência intelectual, que apresentam alguma 
dificuldade de cognição ou de escolaridade. Dados da Organização Mundial 
da Saúde (OMS) revelam que 10% da população mundial têm algum tipo de 
deficiência. Desse total, 50% são indivíduos com deficiência intelectual. 
 
Evangelista (2002, pag. 25) cita que a pessoa com deficiência intelectual pode ter um 
comprometimento relacionado com as habilidades para o trabalho, uma vez que o sujeito 
precisa ter conduta social e condições adequadas para a execução das atividades propostas, 
sendo necessário que tenha responsabilidades com relação á finalização das atividades, 
cumprimento de regras, horários, capacidade de pedir auxílio e condições para se locomover 
até o local de trabalho. 
Conforme os dados da OMS, os deficientes intelectuais brasileiros seriam 13,5 
milhões de pessoas, dos quais grande parte apresentam condições de trabalhar e apenas 2% 
destes estão empregados. O Ministério do Trabalho apresentou os seguintes números de 
contratação até março de 2010: 47,5% das contratações são deficientes físicos, 32,5% 
deficientes auditivos, 8,4% reabilitados, 5,8% deficientes mentais e 4,7% deficientes visuais 
(LUPPI et al, 2010). 
Além do trabalho das instituições especializadas, a família tem um papel muito 
importante no processo de inclusão, conforme cita Luppi (et al, 2010, p. 8) “A inclusão social 
começa pela família, que é a unidade e o ponto de partida para que a sociedade se 
conscientize da importância de incluir as pessoas com necessidades especiais”. A autora 
também menciona que a família é fundamental no desenvolvimento da personalidade, é o 
5 
 
meio no qual o indivíduo deve receber condições de educação e desenvolvimento e onde 
aprende as regras para o convívio social. Esse processo de educação e desenvolvimento 
começa na infância e quando a família participa desse processo de forma ativa, contribui para 
a preparação do individuo para o mercado de trabalho e para sua relação com a sociedade em 
que vive (LUPPI, 2010). 
 Quando a família discrimina e segrega, acaba aumentando as limitações do indivíduo, a 
ponto de torná-lo incapacitado para o trabalho. Segundo Parpinelli (1997, p. 61, apud Luppi et 
al, 2010, p. 41), cabe á família destacar as potencialidades do indivíduo, valorizar suas 
realizações sem compará-lo com outras pessoas, contornar suas limitações, perceber a pessoa 
na sua integridade, com características próprias e merecedor de respeito. O autor também 
destaca que a família pode demonstrar através de atitudes, gestos ou palavras que “acreditam 
sinceramente que sua deficiência não diminui, que acreditam no seu desenvolvimento e que a 
amam pelo que ela é, em primeiro lugar, e também pelo que ela faz”. 
 Dessa forma, é possível identificar que a inclusão da pessoa com deficiência intelectual no 
mercado de trabalho é um processo que envolve tanto a empresa e as instituições 
especializadas quanto a família, sendo essa muito importante no desenvolvimento e 
preparação desses indivíduos para o mercado de trabalho, proporcionando aos mesmos 
autonomia, independência e participação social. 
 
2 MÉTODO 
 A pesquisa foi realizada na APAE – Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – 
de um município do meio oeste catarinense. Foram convidados a participar da pesquisa 
todos pais/responsáveis de alunos com idade acima de 16 anos que freqüentam as turmas 
de preparação para o mercado de trabalho, bem como os pais de um aluno que 
recentemente entrou no mercado de trabalho. Também foi entregue um questionário para a 
direção da escola, referente aos dados sociodemográficos dos alunos que participaram da 
pesquisa. 
 Inicialmente foi realizado contato com a APAE para explicar os objetivos da pesquisa 
e entregar um ofício para a realização do mesmo, mediante autorização da direção e da 
presidência. Após aprovação do projeto, os questionários da pesquisa foram entregues para 
6 
 
a direção da escola juntamente com as orientações referentes ao preenchimento e prazo de 
devolução. Os questionários foram encaminhados na agenda dos alunos e devolvidos para 
a APAE num período de duas semanas. 
Depois do prazo estabelecido, os questionários preenchidos foram retirados na APAE 
para posterior análise e tabulação dos dados. Dos 24 familiares convidados, 17 
participaram da pesquisa, totalizando uma amostra de 70%. Um dos alunos que participou 
da pesquisa começou a trabalhar recentemente, possibilitando uma percepção diferente por 
parte dos familiares. A pesquisa se caracteriza como qualitativa, sendo que o questionário 
foi estruturado com perguntas abertas para possibilitar flexibilidade de respostas e maior 
qualidade nas respostas. 
O questionário entregue para a direção da escola responder foi direcionado para 
questões sociodemográficas das famílias, sendo que esses dados podem ser pesquisados 
nos prontuários dos alunos. Foi solicitada uma análise geral da maioria dos alunos e não os 
dados individuais, por uma questão do sigilo das informações que estão nos prontuários e 
que são restritos aos profissionais que trabalham na APAE. 
 
3. ANÁLISE DOS DADOS 
Os dados coletados na pesquisa através do questionário com perguntas abertas foram 
convertidos em três categorias que englobam as cinco perguntas. Em cada uma das categorias 
são apresentados os dados quantitativos e qualitativos obtidos através da análise das respostas. 
Os dados obtidos através do questionário respondido pela direção da escola serão 
apresentados através dos dados dos alunos e dos familiares, com o objetivo de representar o 
público que está sendo pesquisado e as principais características dos mesmos, que podem 
contribuir nos resultados objetivos. 
 
3.1 DADOS SOCIODEMOGRÁFICOS 
O nível socioeconômico das famílias que têm um filho com deficiência intelectual 
pode interferir na forma como a família vai lidar com a deficiência, bem como interferir nos 
valores que serão transmitidos para os filhos, tais como religiosidade, escolaridade, valores 
7 
 
culturais, entre outros (EVANGELISTA, 2002). As questões culturais também podem se 
caracterizar conforme a idade dos pais/responsáveis por esses alunos, variando conforme a 
geração e o período em que tiveram os filhos. 
 
3.1.1 Dados dos pais 
Segundo os dados apontados pela direção da escola, a faixa etária dos pais que 
participaram da pesquisa é de 30 a 55 anos, sendo que o nível socioeconômico da maioria dos 
pais/alunos é baixo. Para Evangelista (2002, pag. 222) “Famílias mais desfavorecidas do 
ponto de vista socioeconômico-cultural geralmente apresentam expectativas de estudos em 
relação ao filho portador de DM compatíveis com o nível que puderam atingir quando 
crianças”. O autor também menciona que muitos dos indivíduos com deficiência intelectual, 
cujos pais têm escolaridade baixa, podem chegar a um nível de escolaridade superior aos 
familiares e contribuir financeiramente no orçamento. Entretanto, existe uma questão cultural 
que pode vir a interferir nesse desenvolvimento, conforme cita Evangelista (2002, pag. 222): 
A limitação cultural da família, porém, muitas vezes dificulta o esclarecimento da 
realidade e das necessidades do filho com dificuldades intelectuais, bem como a 
orientação de como pode ser aproveitado o seu potencial cognitivo, tanto no lar 
quanto no meio social. 
Segundo o autor, esses familiares podem apresentar resistência em esclarecer aos seus 
filhos as reais possibilidades e limitações que irão encontrar por conta da deficiência, uma vez 
que os pais apresentam resistência em lidar com essas questões. 
 
3.1.2 Dados dos alunos 
Segundo os dados repassados pela direção da escola, a maioria dos alunos que 
participaram da pesquisa têm Deficiência Intelectual Moderada e Síndrome de Down. Através 
do questionário foram levantados outros dados de identificação, sendo eles a faixa etária na 
qual os alunos se encontram e o período de tempo em que frequentam a instituição. 
Tabela 1. Idade dos alunos 
Idade: Número de Percentil 
8 
 
respostas 
16 a 20 anos 04 22% 
21 a 30 anos 08 44% 
31 a 40 anos 03 17% 
41 a 50 anos 03 17% 
Fonte: Pesquisador 
Conforme dados apresentados na tabela, é possível observar que 04 alunos encontram-
se na faixa etária dos 16 a 20 anos, o que representa 22% da amostra. Na faixa etária dos 31 a 
45 anos, encontra-se 03 alunos, que representam 17% da amostra, e os mesmos resultados são 
apresentados na faixa dos 41 a 45 anos. A maior percentil de alunos, representando 44% da 
amostra pesquisada, estão na faixa etária de 20 a 30 anos, na qual se encontram 08 anos. 
Com base nesses dados, observa-se que a maioria dos alunos está em uma idade de 
transição da adolescência para a vida adulta, onde o foco deixa de ser a vida escolar e passa a 
ser a profissionalização. De acordo com Evangelista (2002, pag. 232) a pessoa com 
deficiência intelectual pode participar de atividades profissionalizantes, buscando uma 
colocação no mercado de trabalho ou em outra atividade ocupacional, o que vai depender do 
seu grau de maturidade e potencial cognitivo. 
Desses alunos, a maioria frequenta a APAE há mais de 16, onde receberam diferentes 
tipos de estímulos para melhorar seu potencial cognitivo, respeitando as diversas etapas do 
desenvolvimento humano, desde psicomotricidade, alfabetização e posteriormente atividades 
ocupacionais e profissionalizantes. A tabela abaixo indica a permanência dos alunos na 
instituição. 
Tabela 2. Tempo na APAE 
Anos Número de 
respostas 
Percentil 
Até 05 anos 02 11% 
06 a 10 anos 01 06% 
9 
 
11 a 15 anos 01 06% 
16 a 20 anos 04 22% 
21 a 25 anos 06 33% 
Mais de 26 anos 01 06% 
Não sabe informar 03 16% 
Fonte: Pesquisador 
Segundo os dados apresentados na tabela, 06 alunos frequentam a APAE entre 21 a 25 
anos, representando 33% da amostra. A tabela indica que somente um aluno frequenta a 
APAE em um período de até 05 anos, entre 06 e 10 anos, 11 e 15 anos e há mais de 26 anos, 
sendo que cada um deles representa 06% da amostra. Os dados apontam que outros 04 alunos 
frequentam a escola entre 16 e 20 anos, o que representa 22% da amostra, e outros 03 
familiares não souberam informar o período, representando os outros 16% da amostra. 
 Muitas vezes esses alunos conseguem desenvolver atividades ocupacionais quando 
estimulados na escola e com a família, porém a comunidade precisa oferecer recursos para 
que essa estimulação aconteça. A pessoa com deficiência intelectual pode se sentir bem ao 
realizar tarefas domésticas e, segundo Evangelista (2002, pag. 232) pode ficar menos 
resistente para desenvolver atividades profissionalizantes que exigem cumprimento de normas 
e horários. De acordo com a autora, os indivíduos podem ser treinados no lar quanto à sua 
independência pessoal e habilidades adaptativas, mesmo tendo grande comprometimento 
cognitivo. 
 
3.2 PRINCIPAIS RECEIOS DOS PAIS QUANTO AO PROCESSO DE INCLUSÃO 
 A percepção dos pais sobre as dificuldades que os filhos podem encontrar no mercado 
de trabalho interferem no processo de inclusão dos mesmos, uma vez que os pais podem se 
prender somente ás dificuldades e não permitir que o filho tenha certa autonomia e 
independência financeira. As dificuldades apontadas pelos pais são variadas, sendo 
classificadas em seis categorias diferentes, conforme dados da tabela abaixo. 
Tabela 3. Principais receios dos pais quanto ao processo de inclusão 
10 
 
Dificuldade Número de 
respostas 
Percentil 
Preconceito / Maus tratos 3 18% 
Acessibilidade / Instrumentos de trabalho / Locomoção 4 22% 
Comportamento 3 18% 
Incapacidade cognitiva 2 12% 
Não teria dificuldades 2 12% 
Resistência da família 3 18% 
Fonte: Pesquisador 
Conforme os dados apresentados na tabela, 03 pais acreditam que a maior dificuldade 
dos filhos estaria relacionada com o preconceito e maus tratos que poderiam sofrer no 
ambiente de trabalho, representando 18% da amostra. Os mesmos resultados foram 
encontrados no que se refere á comportamento dos alunos e resistência da família. A 
incapacidade cognitiva foi apontada como a maior dificuldade para 02 pais, totalizando 12% 
das respostas, e outros dois acreditam que seus filhos não teriam dificuldades. A maior 
preocupação apresentada foi com relação ao ambiente de trabalho, incluindo a acessibilidade, 
o tipo de trabalho e instrumentos utilizados no mesmo, sendo a resposta de 04 pais e 
representando 22% das respostas. 
O maior receio dos familiares está relacionado com as questões físicas do local de 
trabalho, como o ambiente de trabalho, acessibilidade, meios de locomoção e tipo de 
atividades a serem desenvolvidas. Com relação á essa dificuldade, os familiares afirmam que 
“(...) Existem muitos perigos numa cidade. Por exemplo, atravessar as ruas”, (...) Ela pode se 
perder, pois não consegue pegar o ônibus”, “A dificuldade no local de trabalho”. Outra 
grande preocupação dos pais está relacionada aos maus tratos e preconceito que podem existir 
no ambiente de trabalho, conforme citam os familiares “O meu receio é o preconceito, que 
seja alvo de piada, maldade e que venha a sofrer bullying”, “As pessoas sem caráter ou que 
possam vir a fazer algo de ruim para ele”. 
As questões relacionadas com o ambiente físico podem ser modificadas e adaptadas 
conforme as necessidades de cada indivíduo, porém, as questões comportamentais são mais 
11 
 
difíceis de ser alteradas. Luppi (et al, 2010) afirma que as pessoas com deficiência continuam 
sendo vítimas de preconceito nas empresas, apesar do avanço científico e social nessa área, 
devido a uma visão distorcida por parte de algumas pessoas. Segundo a autora (2010, pag.27) 
“O trabalho mais difícil, muitas vezes, não é com o deficiente, mas com a conscientização da 
sociedade e com a quebra de preconceitos das pessoas”. 
De acordo com Collissi e Wendling (..., pag. 8), “A inclusão profissional propicia 
grandes vantagens acerca de todo desenvolvimento do individuo que resgata sua autoestima, 
com a sua força de trabalho”, reforçando a importância da atividade profissional para a pessoa 
com deficiência, e comenta ainda que “Algumas famílias preferem isolar-se da sociedade, a 
tê-la que enfrentar, perante o preconceito que a esta tem em relação à deficiência, preferindo 
ficar em casa”. Reverter essa situação vai depender de uma mudança de comportamento tanto 
no ambiente familiar, escolar e organizacional, buscando garantir que a pessoa com 
deficiência intelectual seja tratada com igualdade no diferentes espaços sociais. 
 
3.3 PERCEPÇÕES DOS PAIS QUANTO ÁS CONDIÇÕES DO FILHO PARA O 
MERCADO DE TRABAHO 
Tabela 4 Percepções dos pais quanto ás condições do filho para o mercado de trabalho 
Dificuldade Número de 
respostas 
Percentil 
Tem condições 8 47% 
Não tem condições 7 41% 
Não responderam 1 6% 
Não são favoráveis á inclusão 1 6% 
Fonte: Pesquisador 
 A tabela acima sugere que a maioria dos pais acredita que seus filhos tenham 
condições de serem inseridos no mercado de trabalho, totalizando oito respostas que 
representam 47% da amostra. Outros sete participantes acreditam que os filhos não tem 
condições de trabalhar, representando 41% da amostra. Um familiar não é favorável a 
inclusão e um não respondeu á pergunta.12 
 
Os familiares que citaram que os filhos não têm condições de serem incluídos no 
mercado afirmam que existem diversas questões poderiam interferir nesse processo, entre elas 
a dificuldade cognitiva de seus filhos, conforme os relatos dos familiares: “(...) Ela tinha 06 
anos quando comecei ensinar a arrumar a cama, limpar a casa, faz 24 anos e até agora ela não 
aprendeu (...)” e “Não, ela não tem concentração no que faz. Ela não consegue lavar uma 
louça bem limpa”. Outros aspectos citados foram as questões de acessibilidade, locomoção, 
tipo de trabalho e as condições físicas do aluno, onde um familiar afirma: “Meu filho não tem 
condições, pois não há serviço para cadeirantes”. 
Para os familiares que percebem que seus filhos teriam condições de trabalhar, um dos 
pontos que favorecem a inclusão é o comportamento dos alunos e a valorização que podem ter 
a partir da profissionalização, conforme relatos dos familiares: “Eu acho que ele teria 
condições para trabalhar, porque ele se sentiria mais valorizado”, “Sim, porque eu estou 
ajudando e incentivando ele para ser um cidadão de bem”, “Eu acredito que sim, pelo caráter 
que ele tem. Ele é muito dado com as pessoas, isso seria muito bom até pelo desenvolvimento 
da mente dele”. 
Conforme relatos dos pais, a maioria dos alunos teriam condições de se adaptar ao 
trabalho, apesar das dificuldades físicas e cognitivas, dependendo do tipo de trabalho que 
fossem realizar. Levando em consideração que o diagnóstico da maioria dos alunos é 
deficiência intelectual moderada, Evangelista (2002) afirma que esses indivíduos precisam de 
um apoio maior no que se refere a habilidades adaptativas e que se beneficiam de profissões 
que não sejam especializadas e que trabalhem com assistência, uma vez que seu desempenho 
é inferior ao esperado na população em geral. 
 
3.4 CRENÇAS E EXPECTATIVAS DOS PAIS COM RELAÇÃO AO PROCESSO DE 
INCLUSÃO 
Os pais têm muitas expectativas com relação ao futuro de seus filhos, e quando se trata 
de um filho com deficiência mental, os pais se deparam com uma realidade muito diferente 
daquela idealizada, passando por conflitos internos à medida em que se deparam com os 
valores prezados pela sociedade (EVANGELISTA, 2002). Para possibilitar uma boa 
convivência familiar, é necessário que sejam construídas novas idealizações, conforme cita 
Collissi e Wendling (pag. 2) “todo o projeto anterior dos pais e da família terá que ser 
13 
 
remanejado para adaptar-se à nova situação designada diante de uma realidade não 
planejada”. 
Junto com as expectativas surgem as crenças com relação ao futuro dos filhos, 
inicialmente no ambiente escolar e depois no ambiente de trabalho. A crença que a família 
tem com relação às mudanças que podem surgir a partir da inclusão do filho no mercado, 
pode influenciar na escolha dos mesmos. Abaixo são apresentadas as principais mudanças que 
a inclusão no trabalho proporcionaria para os filhos, de acordo com a percepção dos pais. 
Tabela 5 Crenças e expectativas dos pais com relação ao processo de inclusão 
Dificuldade Número de 
respostas 
Percentil 
Maior independência financeira 3 18% 
Melhoria da qualidade de vida 5 29% 
Mudanças na rotina familiar 3 18% 
Não seria bem aceito no trabalho 1 6% 
Não mudaria nada 3 18% 
Não respondeu 2 11% 
Fonte: Pesquisador 
Conforme os dados apresentados na tabela acima, três pessoas acreditam que a 
profissionalização possibilitaria maior independência financeira para os filhos, com um 
percentil de 18%. O mesmo percentil é apresentado por familiares que acreditam que a 
profissionalização não mudaria nada na vida familiar e outros três percebem que as principais 
mudanças estariam relacionadas com a rotina dos filhos e a própria rotina familiar. Uma 
pessoa acredita que o filho não seria bem aceito no trabalho, tendo um percentil de 6% e duas 
pessoas não responderam á pergunta, o que representa 11% da amostra. A mudança mais 
significativa apontada por cinco pais (29%) está relacionada com as melhorias na qualidade 
de vida de seus filhos, que seriam mais valorizados na sociedade e poderiam melhorar seu 
desenvolvimento. 
 As mudanças relacionadas á rotina familiar envolvem tanto o dia a dia da pessoa que 
está trabalhando quanto do familiar que precisa dar assistência para ele, como comenta um 
14 
 
familiar “Se ela fosse trabalhar eu teria que parar de trabalhar para acompanha-la até o seu 
serviço e buscá-la”. Outro familiar relata que o filho “(...) trabalharia de dia, estudaria à noite 
então teria menos tempo com a família, maior cansaço, não teria tempo para outras atividades 
de lazer”. Somente um familiar acredita que o filho não seria bem aceito no ambiente de 
trabalho, afirmando “Não sei, eu já vi alunos da APAE trabalhando, mas eles não são bem 
vindos, todos ficam olhando”. 
Outros pais acreditam que o trabalho poderia trazer mudanças positivas para o os 
filhos, tanto na questão financeira quanto no desenvolvimento do mesmo. Um familiar cita 
que com o trabalho, seu filho “Conheceria pessoas novas. Sairia de casa, faria coisas 
diferentes e ganharia o seu próprio dinheiro que ele gosta muito”. Algumas expectativas 
podem não estar adequadas com a realidade do filho, como por exemplo, “Ele poderia ficar 
mais inteligente, mudaria bastante”. 
Prado (2004, apud Collissi e Wendling..., pag. 19) cita que “A fase das famílias 
perante suas expectativas frente ao futuro dos filhos podem oscilar entre medo, insegurança, 
sentimento tanto positivos como negativos entre outros”. Conforme os filhos vão crescendo, 
novos desafios vão surgindo e os pais precisam ter capacidade para lidar com essa situação e 
aprender no dia a dia a se adaptar a esse contexto sem se prender á expectativas e planos para 
o futuro (COLLISSI e WENDLING, ... , pag. 20). As autoras comentam também que muitos 
pais tem resistência em pensar sobre o futuro de seus filhos, com medo das frustrações que 
podem ser provocadas por falsas expectativas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 
 
 
 
 
 
 
4 CONCLUSÃO 
 
 
5 REFERÊNCIAS 
CARVALHO, Erenice Natália Soares de, MACIEL, Diva Maria Moraes de Albuquerque. 
Nova concepção de deficiência mental segundo a American Association on Mental 
Retardation AAMR: sistema 2002. Temas psicol. vol.11 no.2 Ribeirão Preto dez. 2003. 
Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1413-
389X2003000200008&script=sci_arttext. Acesso em 01 jul 2013. 
EVANGELISTA, Leila Maria Da Cruz. Novas abordagens do diagnóstico psicológico da 
deficiência mental. 1ª Ed. São Paulo: Vetor, 2002. 
LUPPI, Magda Ferreira de Andrade, RIQUENA, Elizabete Aparecida, SOUZA, Rizoni Alves 
de, RODRIGUES, Aparecida Glória Pacheco. Inclusão do deficiente intelectual no 
mercado de trabalho. 2010. Disponível em: 
http://tangaradaserra.apaebrasil.org.br/arquivo.phtml?a=17062. Acesso em: 20 de março de 
2013. 
MORAES, Lígia Cristiane, INÁCIO, Wederson Honorato. A construção do significado da 
deficiência mental: Possibilidades e desafios. 2006. Disponível em: 
www.artigocientifico.com.br/uploads/artc_1165584045_57.pdf. Acesso em 20 de maço de 
2013. 
TANAKA, Eliza Dieko Oshiro, MANZINI, Eduardo José. O que os empregadores pensam 
sobre o trabalho da pessoa com deficiência. Revista Brasileira de Educação Especial. 
Marília, mai.-Ago. 2005 v.11, n.2, p.273-294. 
 
16 
 
 
Escolha e desempenho no trabalho de adultos com deficiência mental 
O SER-COM O FILHO COM DEFICIÊNCIA MENTAL – ALGUNS DESVELAMENTOS

Outros materiais

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Perguntas Recentes