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Teatro Espontâneo

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Universidade Positivo 
Psicologia Humanista II 
 
 
Beatriz Feijó 
Charlie Lucas 
Ivana Mesquita 
Matheus Castro 
Matheus Hennig 
Thalita Chruczeski 
 
 
 
 
Psicodrama e o Teatro Espontâneo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Curitiba 
2019 
 
1 
Universidade Positivo 
Psicologia Humanista II 
 
 
Beatriz Feijó 
Charlie Lucas 
Ivana Mesquita 
Matheus Castro 
Matheus Hennig 
Thalita Chruczeski 
 
 
 
 
Psicodrama e o Teatro Espontâneo 
 
 
Trabalho realizado no curso de Psicologia da Universidade 
Positivo durante o ano de 2019 para obtenção de nota 
parcial bimestral, sob supervisão da professora Rosângela 
Cardoso. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Curitiba 
2019 
 
2 
Introdução 
O Psicodrama teve como principal iniciador Jacob Levy Moreno. No começo, 
seu pretexto era ser uma abordagem sócio-psicoterápica (RAMALHO, 2010). A 
preocupação social e política levou Moreno a trabalhar com crianças e prostitutas 
nas ruas de Viena, e foi nesse contexto que se deu início ao desenvolvimento do 
teatro espontâneo e por consequência, a criação do Psicodrama (ARAÚJO; 
OLIVEIRA, 2012). Afirma-se que o psicodrama é uma abordagem que se estabelece 
entre a arte e a ciência, tendo o melhor dos dois mundos (RAMALHO, 2010). Nesse 
contexto, pode-se afirmar ser uma reação de métodos individuais os quais 
privilegiou o estudo dos indivíduos, do homem como um ser bio - psico - social e 
transcendente, sendo importante assim, um estudo sobre o tema. 
 Para o criador do Psicodrama, a espontaneidade é o núcleo de toda sua 
teoria. Sua fonte é a própria espontaneidade cuja necessidade de expressá-la é 
dado em um estado apropriado: o estado do aquecimento (RAMALHO, 2010). De 
acordo com Moreno (1984), o teatro da espontaneidade consiste numa quebra 
radical das tradições dramáticas e apresenta uma maneira revolucionária de fazer 
teatro, e para isso, foram necessárias quatro modificações estruturais: eliminação 
do dramaturgo, do texto teatral escrito e da separação entre palco e plateia e a 
criação do palco-espaço. Dessa forma, no teatro espontâneo, todos podem 
interpretar e a ênfase da prática está na improvisação, presente nas palavras, 
encontros, ações e resolução de conflitos . 
A criação do teatro espontâneo teve origem no princípio do século XX, em 
Viena, por Jacob Moreno e também no ​Playback Theatre , por Jonathan Fox e Jo 1
Salas, em 1975 (FÁVERO, 2007). Tem como um de seus objetivos levar o público 
ao palco, dissolvendo a separação entre palco e plateia e rompendo com a estrutura 
tradicional do teatro, que considera somente a “conserva cultural” (ARAÚJO; 
OLIVEIRA, 2012). Em uma proposta de que, naquele momento de ação, por uma 
forma de expressão do indivíduo, o mesmo tornar-se-ia o próprio autor e criador de 
sua história, para assim, transformá-la (GONÇALVES; WOLFF; ALMEIDA, 1988). 
1 Esta modalidade, criada sem conhecer o trabalho de Moreno, é uma forma de contar histórias de 
maneira dramática. O narrador traz a história e é representada imediatamente pelos atores e/ou 
outros membros da platéia (FÁVERO, 2007). 
3 
Tendo em vista esse cenário, não são utilizados elementos “já acabados do 
drama”, os diálogos e as cenas terão que ser construídos, evitando que as atrizes e 
os atores se tornem reféns da memorização e estimulando a criatividade. O palco 
aberto permite que a plateia tenha uma visão integral de tudo o que está sendo 
performado , não existem cortinas nem coxias e o aquecimento e espontaneidade 
são fundamentais para a prática do teatro espontâneo (ARAÚJO; OLIVEIRA, 2012). 
Segundo Moreno, o teatro da espontaneidade é constituído de produções 
poéticas e sociais: 
“Todas as questões concretas que excitavam o 
público naquele momento, os julgamentos ou 
debates no congresso, podem ser trazidos para o 
auditório do teatro e reexperenciados “ (1984, p. 93) 
Portanto, notícias do dia podem se tornar dramatizações, ao assumir uma 
exposição espontânea no palco, o ator ou atriz pode utilizar de técnicas de 
improviso, estruturando formas, conteúdos e personagens, e transformando notícias 
cotidianas em representações (ARAÚJO; OLIVEIRA, 2012). Esse processo da 
construção de toda a poética teatral diante do público é chamado de “ato de 
transferência pública”, e é essencial que sempre sejam obedecidas as leis da 
improvisação. 
No contexto de que o psicodrama ''é uma abordagem de transformação no 
aqui-e-agora'' (RAMALHO, 2010), ao observar o efeito terapêutico nos indivíduos 
que atuavam nas encenações, surgiu o teatro terapêutico e o psicodrama. Ambos 
se constituindo de modalidades voltadas para grupos e vivências individuais, 
entretanto, sem se desvincular de seu caráter e contexto social (ARAÚJO; 
OLIVEIRA, 2012). Moreno abandonou em partes o projeto do Teatro espontâneo 
focando na abordagem Psicodrama, na medida que toda sua linguagem é baseada 
no teatro (FÁVERO, 2007). 
As modalidades do teatro Espontâneo mais conhecidas, segundo Moreno 
(1984) são: o ​role-playing ​, o jornal vivo, o axiodrama, o p​layback theater​, a 
multiplicação dramática, a peça didática, o teatro do oprimido e o dramaterapia. 
Adiante, uma sucinta explicação sobre cada um deles. 
4 
1) Playback Theatre ou Teatro ​Playback- ​Criado por Jonathan Fox e Jo Salas, 
em 1975. Essa modalidade é uma forma de contar histórias de modo 
dramático, atuando; o narrador traz a história que é representada 
imediatamente por membros da platéia ou atores. Dessa maneira vai-se 
criando uma cadeia de histórias que elucida a relação com o outro à partir de 
sua representação, pelo lugar social e pela eficácia de suas influências, não 
apenas pelo que ''é'', no sentido de existir. ''Atualmente existe uma rede 
internacional de Teatro Playback, que reúne várias Companhias de Teatro 
Espontâneo de todo o mundo (FÁVERO, 2007, p.198). 
2) Role playing (​Jogo de papéis) - é um desempenho ou representação que 
permite uma liberdade de expressão. Consiste em lidar com o personagens, 
explorando simbolicamente suas possíveis expressões em um nível 
consciente de reflexão/representação. Acontece através da apresentação de 
uma situação-problema, uma breve discussão acerca da situação, ''​arranjo de 
uma situação análoga, desempenho do cliente em situação estruturada e 
feedback ​do terapeuta e/ou de outros participantes'' (SOUZA; ORTI; 
BOLSONI-SILVA, 2012). Essa técnica tem como origem o psicodrama, 
porém tem sido empregado por terapeutas e pesquisadores de diversas 
abordagens, dentro e fora da psicologia. 
3) Jornal vivo- Experimentada por Moreno, essa modalidade foi uma espécie de 
prova para mostrar que é viável, esteticamente, uma apresentação 
improvisada no teatro. É caracterizada, principalmente, por dramatizações de 
notícias vindo de veículos de informações, como o jornal. A encenação, 
vindo da notícia, pode ou não conter detalhes adicionados pelos atoresno 
palco, além da informação propriamente dita, isto é, há uma liberdade 
poética; pode-se também parodiar os jornais com fatos trazidos pelos 
próprios atores. ''A apresentação pode tanto esgotar-se aí como prosseguir, 
tomando-se uma das cenas como a cena embrionária de uma nova história a 
ser criada coletivamente''(MORENO, 1984). 
4) Axiodrama- É um caso particular de sociodrama. '' O Axiodrama é uma 
síntese do Psicodrama e da ciênciados valores (axiologia); dramatiza as 
aspirações morais do psiquismo individual e coletivo (justiça, beleza, 
5 
bondade, complexos, perfeição, eternidade, paz, etc.)” (MORENO, 1974, p. 
114). Axiologia é a ciência dos valores e dos merecimentos; esses valores 
são móveis e dinâmicos, antagônicos e dialéticos, além de ajudar o indivíduo 
a entender o sentido da vida. Moreno cita alguns valores a serem trabalhados 
por meio do Teatro Espontâneo, como valores utópicos, os 
valores/desvalores, limites, virtudes, valores voltados à sensibilidade, à 
civilidade, os valores/desvalores das relações humanas, valores/desvalores 
ligados ao desejo, voltados à política, e valores/desvalores religiosos. 
“Tematizado ou não, será sempre um Sociodrama, pois estará preocupado 
com o movimento sociogrupal” (ALMEIDA, 2012, pp. 90-91). 
5) Peça didática- A peça didática foi criada por Bertold Brecht, um dramaturgo 
alemão. O formato dessa modalidade é a apresentação de um pequeno 
texto, ao grupo. Tendo um ​script, ​o grupo é convidado a lê-lo e a encená-lo 
repetidas vezes (cada vez com diferentes atores, mas entre os próprios 
participantes). O ​script ​em si é padronizado, isto é, insuscetível de ser 
alterado, entretanto, um indivíduo pode atuar como diferentes personagens e 
não apenas um (em decorrência das diversas atuações). Entre cada tentativa 
de apresentação se faz um processamento sobre tal, junto com uma 
discussão e compartilhamento. '' Antes de cada representação discutem-se 
também as hipóteses de aperfeiçoamento da encenação anterior e de novos 
ângulos pelos quais o texto pode ser encarado, o que determinaria novos 
padrões de representação (MORENO, 1984). 
6) A multiplicação dramática- O crédito da criação desta modalidade é, 
principalmente a um grupo de psicodramatistas argentinos, de tradição 
psicanalítica e com ligações ao teatro. A fundamentação estética se aproxima 
do modo que o teatro espontâneo da ''obra aberta'' de Umberto eco, 
acontece. Em uma sessão normal de psicodrama, ao invés de acontecer o 
compartilhamento verbal, pede-se para cada participante (com exceção do 
protagonista) subir ao palco e circular pelo cenário onde aconteceu a cena 
onde acabou de ser apresentada. Ao fazer a ação, deve-se identificar e reter 
uma cena que lhe venha à mente, quando sua emoção se conecta com 
aquela cena. Depois que todos tenham feito isso, abre oportunidade para 
6 
cada um contar o que lhe veio à tona. O protagonista escolhe a sequência 
que gostaria que cada cena pensada fosse dramatizada, sequência da 
representação de cada cena. Compartilha-se no final, o conjunto de 
experiências vividas. ''A importância dessa técnica é que ela potencializa o 
sentido da primeira dramatização, aprofundando-o e diversificando-o'' 
(MORENO, 1984). 
7) Teatro do oprimido- Surgiu na década de 70 em resposta às inquietações e 
experimentações de Augusto Boal, diretor do Teatro de Arena de São Paulo 
da época. É dito como uma revolução, pois o mesmo pensou em colocar os 
meios de produção teatral nas mãos de todos, um '' teatro para o povo e pelo 
povo'' (OLIVEIRA; ARAÚJO, 2012). Boal dizia que todos podem fazer teatro, 
até mesmo os atores, tirando a ideia do teatro ser uma propriedade privada - 
e sim uma linguagem a todos os seres humanos. Sua ideia foi levar os 
espectadores a não apenas espectadores, mas com participação no palco. 
8) Dramaterapia- Na década de 1920, Jacob Moreno observou que a 
dramatização e o teatro experimental possuíam uma ação em libertar os 
seres humanos através da revelação de seus pensamentos e sentimentos. A 
partir disso, Moreno começou a incorporar o drama em psicoterapia. Essa 
modalidade pode ajudar os indivíduos a encontrar, por meios criativos, 
soluções para seus problemas, utilizando do drama ou processo teatral, a fim 
de alcançar um tratamento terapêutico. Os participantes deste processo 
participam de oficinas onde se contam histórias, no sentido de resolver 
problemas, expressar seus sentimentos, criar personagens com o intuito de 
modificação do ambiente, modificar comportamentos. Todo processo com o 
objetivo de que o indivíduo se reencontre emocional e fisicamente, além de 
construir auto estima e habilidades no controle de suas emoções.Esse campo 
se expandiu para permitir várias formas de intervenção terapêutica, incluindo 
a encenação, jogos teatrais, dinâmicas em grupo, mímica, o uso de fantoches 
e outras técnicas de improviso. Essa modalidade acaba por ser utilizada não 
apenas na psicologia, mas em muitos lugares: hospitais, programas de 
recuperação, clínicas comunitárias de saúde mental, escolas, terapias com 
idosos, entre outros. 
7 
O psicodrama, sendo um método terapêutico que integra o teatro 
espontâneo como uma das técnicas de terapia disponíveis, procurou-se 
saber mais sobre o mesmo. Sendo assim, buscando alcançar mais sobre a 
história dessa técnica e compreender mais profundamente o assunto, foi 
realizada uma entrevista de um profissional atuante na área, possibilitando 
assim, uma melhor compreensão do assunto por parte dos alunos. 
 
Método 
Foi realizada entrevista semiestruturada com um psicodramatista, marcada 
com antecedência por dois entrevistadores. O encontro aconteceu na Associação 
Paranaense de Psicodrama, em sala reservada para tal. Os dois entrevistadores se 
posicionaram sentados lado a lado, de frente para o entrevistado, fazendo os 
registros através de anotações e gravação autorizada. Perguntas foram previamente 
selecionadas para dar direcionamento à entrevista, que ao final de 40 minutos foi 
encerrada. 
 
Sujeito 
O profissional de Psicologia entrevistado é o psicodramatista Leandro 
Carvalho de Bitencourt, graduado pela PUC (Pontifícia Universidade Católica do 
Paraná) e atualmente professor de pós-graduação na Associação Paranaense de 
Psicodrama. 
 
Instrumentos e Materiais 
Para a realização da entrevista foram utilizados um gravador, um bloco de 
notas e sete perguntas abertas preparadas de antemão (Figura 1). 
 
 Figura 1. Estrutura para entrevista do profissional. 
1. Por que você escolheu o Psicodrama como abordagem? 
 2. Como você define teatro espontâneo para o Psicodrama? 
 3 . Como se dá a parte prática do teatro espontâneo? Existem técnicas? Quais? 
 4. Qual é a relação entre o teatro espontâneo e a espontaneidade e criatividade? 
8 
 5. Por que você escolheu aprofundar os estudos acerca do teatro espontâneo?6. Existem dificuldades quando falamos de teatro espontâneo no Psicodrama ? 
7. Existe alguma dica que você gostaria de dar para alguém que está querendo se 
aprofundar na teoria do Psicodrama? 
 
Entrevista 
Toda a entrevista foi transcrita diretamente da fala do entrevistado. 
 
Por que você escolheu o Psicodrama como abordagem? 
Passava aqui na frente, a casa amarela parece que chama a gente. Na 
época tinha grupos de conversas abertas, sempre pensei vou participar, mas nunca 
vim. Aí tive contato com psicodrama na faculdade no primeiro semestre, e no sétimo 
quando tive psicodrama real. No último ano foi na clínica, com meu ex professor, 
onde eu tomei gosto e tal. Participei de uma jornada e decidi fazer a pós-graduação. 
Mas o psicodrama bate com a minha visão de homem, bate com muita coisa 
que eu já carregava, em termos de conduta, de forma de ser no mundo. O 
psicodrama então ele veio com essa forma de complementaridade e acho que por 
isso que eu to aqui. Por causa disso. A gente bate assim, numa visão de homem, 
numa visão de mundo. 
 
Como você define teatro espontâneo para o Psicodrama? 
O psicodrama não nasce como uma abordagem terapêutica, ele inicia com o 
Moreno tentando revolucionar o teatro. Ele achava o teatro muito cristalizado, onde 
o ator tem falas e gestos prontos e faltava espontaneidade. Faltava o ator poder 
fazer o movimento que poderia ser adequado no momento. Ele começa a trabalhar 
com as crianças, e depois ele vai nas praças e parques de Viena propor o teatro da 
espontaneidade. Ele chamou isso de Jornal Vivo. Vocês sabem o que é Jornal 
Vivo? Ele estava na praça com o grupo de atores, e pedia pra alguém falar uma 
notícia e os atores reproduziam a notícia no teatro da espontaneidade, e surge aí. 
Depois, com essas apresentações, tem o caso Bárbara, que era uma atriz. 
 
9 
Como se dá a parte prática do teatro espontâneo? 
O teatro espontâneo tem vários tipos. O psicodrama como método é um 
teatro espontâneo. O teatro espontâneo é um guarda-chuva mais amplo onde 
existem várias vertentes. Por exemplo PlayBack Theater, Teatro de Improvisação, o 
Psicodrama, Teatro do Oprimido, são tipos de teatro espontâneo. Quando falamos 
de Moreno não começou com o Psicodrama, o livro dele é o teatro da 
Espontaneidade. Ele divide em quatro. Teatro terapêutico, teatro criador, teatro da 
espontaneidade e teatro do conflito. Ele vai começar com o Teatro mesmo. E a 
partir do caso Bárbara ele percebe que isso poderia ser utilizado como forma de 
tratamento de relações. 
 
Como você vê essa relação do Teatro espontâneo com o processo terapêutico 
hoje em dia, depois de toda essa bagagem desde Moreno? 
A gente é o protagonista da nossa história, então quando a gente sai da 
cadeira, sai da linguagem única e verbal e da racionalização, quando a gente sai e 
se propõe a fazer algo novo, quando vai fazer a dramatização a gente perde o 
controle do que vai fazer, então muitas vezes a gente comunica o que não é 
linguagem verbal. E o psicodrama tem esse viés do que, justamente, ampliar o que 
o Moreno fala, de uma terapia única e exclusivamente verbal. Então com ela a gente 
tem acesso a toda essa realidade suplementar, uma atuação em outros níveis de 
comunicação, comunicação corporal, interação com outros personagens, a gente 
tem um ganho significativo terapêutico. 
Quando a gente trabalha num teatro espontâneo chamado psicoterapia 
psicodramática, você não vê limitação de papel que você pode atuar. Teu cliente 
traz um problema com o chefe você vai aprofundar, e de repente isso cai num 
problema com o pai, com o avô, com a mãe. Essa fluidez que a gente pode ter 
nesse tipo de dramatização, a gente pode abordar vários tipos de papéis em uma 
única sessão. Num psicodrama socioeducacional, você fica preso a um papel 
específico. Por exemplo, num grupo de orientação a pais, muitas vezes, de acordo 
com o tipo de trabalho, identificar o filho, mas isso não vai ser aprofundado porque o 
foco do trabalho é o papel de pai e mãe. Ai se ele quiser aprofundar, ele vai pra 
psicoterapia, que tem fluidez entre os papéis. 
10 
O tipo do trabalho então tem essa diferença, ele vai poder ter sua 
especificidade, como por exemplo homo afetividade, aí você pode dentro desse 
trabalho, você pode aplicar vários métodos e várias técnicas, de acordo com o 
objetivo que você tem. 
 
Quais técnicas podem ser utilizadas no teatro espontâneo? 
O teatro espontâneo como vertente, como proposta do Moreno, a gente vai 
ter as mesmas técnicas do psicodrama. Num outro tipo de teatro espontâneo, por 
exemplo playback, a gente tem uma coisa diferente, como por exemplo a escultura 
fluida, que é uma outra técnica que o criador do playback desenvolveu. 
Em um grupo de psicodrama aberto ou sociodrama temático você coloca 
uma temática que você vai trabalhar em cima, mas o teatro espontâneo é isso, você 
não tem roteiro, você propõe o tema, mas o que vem é livre. Com o teatro 
espontâneo você sabe onde começa, mas nunca sabe onde termina. Em grupo, se 
aparece demanda pessoal, a gente tem que conter no grupo para esse indivíduo 
sem adentrar muito nos aspectos pessoais, se não for num foco psicoterápico. A 
ideia é que você não necessariamente aprofunde, porque o trabalho é 
socioeducacional ou socioterápico, mas depende do tipo de objetivo que você vai 
ter. Quem vai definir o que vai ser trabalhado é o público. O público vai definindo 
aquilo que quer, que vai ser trabalhado. 
A ideia é que a gente se torne um protagonista da nossa história. Veja, eu 
proponho um teatro espontâneo, o público propõe um tema e você vai 
aprofundando, vai trabalhando a sequência de cenas, e vai acontecer de alguém 
que vai falar assim “isso bate comigo, isso me fere, eu não consigo entender, isso 
me deixa irritado”. A ideia é que eu possa de maneira espontânea e criativa, dar 
uma resposta adequada a esse momento, para que a gente possa sair daqui 
refletindo, repensando em como eu posso ser mais empático, menos agressivo, me 
conter, sem adentrar aspectos intrapsíquicos que não vêm ao contexto. 
O psicodrama é direto, não há rodeios. A ideia é de que a coisa seja direta. 
Isso também vai acontecer no teatro. Mas também não é só cutucar uma ferida e 
deixá-la aberta. A ideia é que seja possível dar uma resposta criativa adequada ao 
meio. Então, a gente entende a espontaneidade não como uma resposta impulsiva, 
11 
comportamento desorganizado ou a minha liberdade somente. A leitura que 
fazemos é de que somos seres sociais. Então, deve haver uma adequação da 
espontaneidade. Adequação a mim e ao meio social no qual estou inserido. A minha 
liberdade vai até onde começa a liberdade do outro. 
 
Quais as dificuldades de se trabalhar com o TE em grupo em contextos 
socioeducativos? 
Deve haver um cuidado com relação ao tema.Às vezes surge um tema um 
pouco mais delicado e o diretor tem de ter um tato para abordar esse tema. Em 
alguns casos é possível perguntar se o grupo realmente deseja trabalhar isso. Caso 
não queiram, deve-se partir para um outro tema. O diretor deve portanto estar 
atento a questões de adequação, domínio técnico, pesquisa (no sentido de 
investigar se o grupo está interessado em trabalhar com determinado tema). Ele tem 
que ter um controle do que será abordado, os papéis que serão interpretados, tem 
que saber que ele está ali para promover um movimento espontâneo e criativo, não 
invadir o que não precisa ser invadido, sem transpor os limites dos papéis. O básico 
é o domínio das técnicas que você vai utilizar e a experiência que você adquire. É 
sempre importante lembrar também que um trabalho que começa e termina no 
mesmo dia [no caso da aplicação do TE em grupos socioeducativos], a ideia é não 
deixar as feridas abertas, pois essa pessoa vai voltar para a sociedade, para seu 
círculo de amigos e familiares. 
Quando alguém parece se exceder no papel proposto para o TE, o diretor 
deve pontuar de maneira assertiva, dizendo que compreende a complexidade da 
situação da pessoa, mas que naquele momento o trabalho está focado naquele 
papel específico e o adequado é que a pessoa leve isso a seu próprio processo 
terapêutico em um ambiente adequado. 
 
Como funciona a delegação de papéis? 
Uma das formas é solicitar às pessoas, perguntando quem está interessado 
em desempenhar determinado papel. Ou a gente pergunta para o protagonista da 
cena sobre quem ele quer que desempenhe os papéis. No caso do ​playback​, por 
12 
exemplo, a pessoa conta uma história dela, mas não está no palco. Quem estão no 
palco são os atores escolhidos por ela. 
 
Qual a distinção entre processos terapêuticos e psicoterapêuticos e a relação 
com plateia e atores? 
Às vezes uma conversa com um amigo no boteco é terapêutico, ou assistir a 
um filme que transforme a sua vida. Psicoterapêutico se refere à psicoterapia. O 
conceito dessa questão terapêutica está relacionado com o conceito de catarse que 
o Moreno vai trazer. Pode haver uma catarse do ator ou da plateia. A pessoa que 
está assistindo pode se impactar profundamente com a história da pessoa que está 
contando. Então pode estar sendo terapêutico para ela. Os membros da plateia 
estão participando da sessão. Aí entra um conceito que a gente chama hoje de 
catarse de integração. No psicodrama é o trabalho mediante uma pessoa. Não é o 
trabalho de uma pessoa mediante o grupo. Então seja no TE, no psicodrama, no 
axiodrama ou no sociodrama a ideia é que o grupo se transforme e não a pessoa 
em si. 
É um grupo que, na hora, decide quem vai ser a platéia, quem vai ser ator… 
Em grupo de teatro espontâneo pode ser. É algo mais livre, quando não 
envolve um processo terapêutico. A ideia é que o grupo crie. É um teatro mesmo. Aí 
dentro de suas ramificações há o psicodrama, que é uma vertente cujo foco é 
psicoterapia ou socioterapia. Isso não quer dizer que o teatro em si não tenha cunho 
terapêutico como a gente estava falando. O teatro pelo teatro pode transformar sua 
vida por uma cena que pode ser tão forte, tão impactante, quanto a sua 
psicoterapia. A gente não tem controle disso. Não é um desprezo à psicoterapia, 
não é esse o foco. Não dá para medir os dois. 
 
Você tem alguma mensagem para passar para o pessoal interessado no teatro 
espontâneo e no psicodrama? 
Muitas vezes as pessoas dizem que não se dão bem com o psicodrama 
porque são muito tímidas. Veja, levantar a bunda da cadeira não é fácil, nem para 
quem faz terapia há muitos anos e nem para quem está começando. A questão é 
experimentar. Acho que a gente precisa experimentar os vários métodos, as várias 
13 
formas, e depois isso vai ser um diferencial no processo de escolha. De repente 
justamente por ser tímido, você poderia fazer um teatro espontâneo para que isso 
possa te desbloquear. Acho que o grande “X” da questão é poder experimentar as 
coisas. Aí sim a gente pode dizer se gostou ou não, a gente tem um processo de 
escolha baseado em experiência, não só na visualização, uma coisa distante que a 
gente coloca um rótulo. 
 
Como que é estabelecido o tema da sessão? Quem dá o pontapé inicial? 
É o diretor. O diretor vai dizer "a gente vai fazer um teatro espontâneo, vamos 
ter que elaborar um tema, trabalhar em cima de uma cena, quem aí tem um tema?". 
Quando juntamos os temas o diretor pergunta qual deles a platéia escolhe. É uma 
escolha sociométrica que a gente fala. Tem a ver com uma maior representatividade 
do público que está ali, porque tem a ver mais com suas questões, com seu modo 
de ver, aquilo que eles querem aprofundar. 
 
Conclusão 
 
O teatro espontâneo, como citado pelo entrevistado, possui ramificações. 
Dentre elas, o Teatro Playback, que se trata de uma forma de contar histórias de 
forma dramática, e simboliza várias coisas, entre elas a criatividade, que deve surgir 
deste todo que compõe aquele evento (ALBOR, 2000). Outra ramificação trata-se 
do Teatro da Criação; nesta abordagem, as histórias são trazidas pelos narradores 
e podem ser transformadas e modificadas, podendo-se utilizar também de técnicas 
musicais. “Se considerarmos o teatro espontâneo como uma manifestação artística, 
podemos tranquilamente dizer que ele tem uma finalidade em si, da mesma forma 
que a finalidade da arte é a própria arte.” (AGUIAR, 1998). Quando o entrevistado 
foi questionado sobre o teatro espontâneo e o processo terapêutico, o mesmo 
afirma que, um dos objetivos da teoria de Moreno é sair apenas da linguagem 
verbal, procurando outras formas terapêuticas de expressão. Além disso, fala sobre 
como pode não ser limitada a representação de um papel, pois muitas vezes o 
cliente aprofunda nisso e vai trazendo outros problemas. Portanto, é importante 
deixar o sujeito livre para se expressar e deixar fluir a sessão. O entrevistado 
14 
também ressalta que é importante não apenas trazer os problemas e “deixar uma 
ferida aberta”. Transformação é a palavra-chave do teatro espontâneo. Transformar 
significa dar nova forma, ressignificar, metamorfosear, dar um movimento para além 
da forma já estabelecida. (AGUIAR, 1998). A proposta do psicodrama é direta e 
clara, quem deve desejar a transformação são as pessoas diretamente envolvidas 
no processo, da mesma forma que foi apontado pelo profissional entrevistado. 
Aqui, cabe falar sobre a pergunta feita ao profissional sobre a distinção entre 
processos terapêutico e psicoterapêuticos com os atores e a plateia. Ele responde 
que psicoterapêutico corresponde apenas a psicoterapia, porém, o terapêutico pode 
se referir a outros contextos, por exemplo, uma pessoa que está na plateia pode seidentificar com a representação, e então possivelmente se beneficiar de forma 
terapêutica com isso. O entrevistado concluiu falando que a ideia é que o grupo se 
transforme, e não a pessoa em si. 
Portanto, tendo em vista a entrevista feita com o profissional especializado no 
assunto e a pesquisa feita pelos alunos, conclui-se que o objetivo do teatro 
espontâneo é empregar o protagonista como eixo da produção dramática, 
envolvendo concomitantemente todo o grupo nesse processo. 
 
 
 
 
 
 
Referências 
 
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